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Reciclagem de Palavras: Pífio, pifar, aboiar, ácrimes. Texto: Neologismo
Terminado o dia, os pensamentos, não querem mais nada com a dureza, voam como poeira levantada por ventilador. O sono querendo fechar as cortinas dos olhos, a certeza de que as horas de sono são poucas, quatro, quatro horas da manhã estarei rolando na cama de um lado pro outro, com os pensamentos se transformando em imagens. Se tivesse a certeza que iria “te ver” seria bom, mas não se tem controle sobre a alma nesta hora, os pensamentos nos mostram o que querem mostrar. Mas há outra certeza, a de que meu trabalho está atrasado. Não tenho prazo de entrega, apenas devo terminá-lo e daí outra certeza, se acordar de madrugada serei tentado a me sentar de novo para escrever, às quatro horas da manhã. E isto se repetirá, e repetirá, levando meu pífio corpo a pifar. Neste momento de cansaço mental é chegada a hora de escrever literatura, mas o melhor mesmo seria dizer transcrever, pois temos pouco controle sobre as associações mentais que vão surgindo. A gente dá um mote, uma regra, aboia os pensamentos, que vão mais ou menos em uma direção desejada. Só isto. É o que ocorreu neste dia 3 de agosto de 2011, antes de desligar deixei os versos escorrerem para os dedos que teclaram:
Sou navio e navego nave espacial vazia
vagando vazo vasos de lágrimas ácrimes.
Aí deu percebi: Àcrimes? Nasceu uma palavra!
Mas eu queria era fazer uma poesia e não analisar uma palavra, ainda menos neonatologisticamente, então continuei:
Amarga, a palavra que da lágrima
por perto passou,
buscou a raiz acre e feio ficou,
lágrimas acres,
o mes corrigiu.
Ácrimes: Licença poética?
A palavra chegou,
nem licença pediu
ne o poema ficou.
Vou corrigir:
Sou navio e navego nave espacial vazia
vagando vazo vasos de lágrimas acrimônias...
mais feio ficou!
Sou navio e navego nave espacial vazia
vagando vazo vasos de lágrimas ácrimes
...
Ah! deixa pra lá,
tenho é que levar a criança
para a pia batismal!
OS PENSAMENTOS, NÃO QUEREM MAIS NADA COM A DUREZA, VOAM...
: não falta travessão nada, o travessão é virtual e está representado pela vírgula. Primeiro, sou travessão, travesso demais ou travesso adulto; segundo, lembra goleiro e sempre fui ruim de bola, nunca chutei a gol, nem a travessão, nem a trave, eram chutes ao céu ou a lateral do gol.
PÍFIO
: adj. vulg. Baixo, vil. - Diccionario da lingua Portugueza: F - Z: Volume 2 - Página 450
books.google.com.brAntónio de Morais Silva - 1813 - 872 páginas - Visualização completa
: Usa- se como insulto quando alguém deseja mostrar força sem a ter. pífio Vem do espanho; é o lance no jogo de bilhar quando se espera uma grande jogada eo resultado é medíocre pelo erro na tacada. Dicionário brasileiro de insultos. Altair J. Aranha - 2002 - 363 páginas.
PIFAR
: (Coloq) deixar de funcionar: Eu estava ouvindo o jogo quando o rádio pifou.
"Note que eu disse escolheu pifar". Dicionário UNESP do português contemporâneo
: A doença mental não é "contraída", mas trata-se muitas vezes de um comportamento aprendido que serve a um ... No caso de Dottie, pifar foi a maneira que ela encontrou para chamar a atenção do marido. ..." - SEXO COMEÇA NA COZINHA, O - Página 97 Dr. Kevin Leman - books.google.com.br.
OBS.: Textos mais antigos? Ocorre que no temp de ph de farmácia, a letra esse era grafada como o efe de hoje, e pifar vira pisar, que vai dar noutras águas. O tempo de recreio não permite ir mais longe.
ABOIAR
: Bubúi. Diccionario Portuguez e Brasiliano (Ou Língua Geral do Brasil)José Mariano da Conceição Velloso - 1795.
-Bubúi: Interessante, né, mas não vou atrás não. O dicionário é “Obra necessaria aos ministros do altar, que emprehenderem a conversão de tantos milhares de almas que aínda se achão dispersas pelos vastos certões do brasil sem o lume da fé, e baptismo”.
NOTA DESNECESSÁRIA: como se vê a proposta também desnecessária de se fazer os alunos compreenderem que se pode falar errado julgando e sendo julgados estarem corretos é apenas um retrosseço lingu ístico: era o modo de se usar a língua de 1795 pra trás. VER: Por uma vida pior: “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”.
Lingu ístico: minha mente pede o trema, mas tiraram-me. Quanto ao espaço, é um hífem virtual: minha mente segue o Jogo Ideal do Pensamento, em que não há vencidos ou vencedores. Jogo Ideal do Pensamento: é coisa de filosofia, aprendi de Deleuze, Lógica do Sentido; no popular está materializado no tal do "jeitinho brasileiro".
: fazer boiar
- E havendo de deter-fe nefta bahia, fe devem aboiar as amarras, e em chegando levar duas a terra, afaber, huma fobre a ponta do molhe, outra fobre a terra da banda do Forte, e nefte lugar não cabem mais que trez, ou quatro navios... Arte de navegar... a Roteiro das viagens a costas de Guiné, ... Manuel Pimentel - 1762. Deu preguiça, troque o leitor os efes por esses.
Nota: não é neste sentido o emprego feito, mas poderia ser. Os pensamentos se formam na profundidade e precisam estar boiando na superfície para que façam o jogo das associações "livres", que de livres nada têm, pois um mote uma regra dada os aboiou. O sentido é mais novo:
: Cantar dos vaqueiros ou tangerinos na sua marcha do conducção do godo em boiadas, ou á noitinha, dos campos de pastagem para os curraes da ... Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano - 1916. Revista: Volume 18,Edições 91-94.
- como em "A toada plangente do aboiar, dizem os vaqueiros, tem a propriedade de humanizar o gado, ... Acrescente-se: a sonoridade de vários aboios também torna evidente a façanha vocal do aboiador". ...Cláudia Matos, Elizabeth Travassos, Fernanda Teixeira de Medeiros - 2008.
ÁCRIMES
: o processo como me veio à mente esta palavra foi demonstrado nos versos: quis encadear lágrimas de forma a continuar o jogo consonantal iniciado. Consoante, se tiver nome, pouco importa, não é assonância, pois não são vogais. Consoante primeiro é nome de letra; segundo, é segundo, em seguida, baluarte que a beleza da Língua Portuguêsa, com a qual se pode falar “poropopô caixinha de fósforo” e todo mundo entender et cetera. ÁCRIMES pareceu-me um neologismo em um jogo de associações feitas a partir de “amargas”, lágrimas amargas, lágrimas ácrimes. Não é fácil determinar se se trata de um neologismo, contudo. No Pensamento, não há nada que se faça que já não tenha sido registrado antes no Inconsciente, seja o individual, seja o cultural. No caso da Língua e pelo processo de criação e disseminação das palavras e seus significados é preciso buscar desde as origens, no caso do Português o Latim, mas deveria ser a partir das línguas que deram origem ao Latim: a partir das onomatopéias guturais dos primeiros homens pensantes que apareceram (corrigindo: dos primeiros homens que descobriram que tinham um aparelho pensante e deram atenção a ele, iniciando o desenvolvimento da mente humanidade tal como é hoje). Existe um texto de Junito de Souza Brandão, em Mitologia Grega, Vozes, 1987, em que explica um mito de como o pensamento se fez a partir de...simplifiquemos, do processo acima descrito de associações livres que nos pega quando estamos pegando no sono, ok? O nome é Pensamento autístico.
A pesquisa de “ácrimes” na Internet nada produziu usando o mecanismo Google, exceto da percepção de que este mecanismo, nada científico, vai procurar agradar o freguês de qualquer forma: pesquisando “ácrime” aparecem páginas e páginas, centenas de milhares, com “crime”; fazendo de novo a pesquisa filtrando-se este termo (acrime -crime) tem-se milhares de centenas de páginas com o termo “acrime”, mas se referem a inglês, “um crime”. Há registros de “acrime” em italiano, mas esta dificuldade apontada não permite ir adiante na pesquisa. Cuidado com a hiperbolia: são poucas as páginas que apareceram na tela.