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Raro

O celular tocando marca que são 5h50 da manhã. Como sempre, ela dorme mais dez minutos antes de se perguntar se vai ou não pro chuveiro. Banho, café da manhã, caminho, jornal. A manhã transcorre sem maiores riscos. A faculdade, os amigos, os papos, o transporte, tudo como deveria ser. Mas ela estava tão diferente e mesmo assim ninguém tinha percebido. As pessoas nas filas, os passos lentos rumo ao mesmo lugar, as mesmas expectativas, até o sol parecia sem graça visto do mesmo ponto de todos os dias. Todos os dias. E de repente tudo parecia tão sem graça, tão insosso. Não era nisso que ela acreditava. Não, não podia ser que antes, ela, que não cabia na vida, estava agora com vida sobrando sem saber o que fazer com ela. Atravessou a rua para olhar o céu de outro ângulo. Saiu caminhando e pensando e olhando e sentindo. Encarava as pessoas, percebia os insetos, o vento balançando os cabelos e as folhas. Andou mais lento, depois mais rápido. Percebeu seu corpo de novo. Riu sozinha. Deixou os ônibus partirem sem se importar. Sentou na grama da praça e se maravilhou com tudo. Com o mínimo de tudo, ela se encheu de uma presença infinita. Sorriu. E sentiu uma saudade imensa de si. Fora os raros momentos de epifania em que um jeito mais mágico de olhar o mundo se fundia nela, a garota havia se acostumado demais ao nada. E deciciu dar um stop. E o dia que já ia perfeito, se fez explosivo quando ela descobriu que ainda existiam seres raros, threatened with extinction. Aí ela soube que não cabia na vida de novo.
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Atualizado em: Ter 10 Mar 2009

Comentários  

#2 acsantiago 27-01-2010 19:24
Muito bom o seu texto. Meio "Borgiano", né?.
#1 acsantiago 27-01-2010 19:24
Muito bom o seu texto. Meio "Borgiano", né?.

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