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OITO DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER
“Se todo dinheiro que se gasta para matar fosse gasto em fazer que as pessoas vivessem, todos os seres humanos vivos e os que vêm ao mundo viveriam muito bem e muito felizes”. (Madre Teresa de Calcutá).
Homenagem é uma ação humana. Nesse sentido, ao longo de sua existência, o homem apresenta uma via dupla - a de sujeito e a de objeto de venerações.
Assim tem sido, mudando apenas algumas maneiras, rituais e intenções. Santos, deuses/deusas, autoridades, pessoas, monumentos, instituições, animais, estão à mercê das inúmeras escolhas do preito que pode levar à satisfação/libertação/ conscientização, quanto à condição de dependência/limitação/obrigação. Necessidade, pode-se dizer, atávica, a de celebrar fixando datas.
Dia dos pais, das mães, das crianças, uma infinidade de eventos que, segundo dizem, enfeitam/justificam/celebram/homenageiam fases da vida, o tempo da morte, seus atores e mistérios. Ou condicionam, sufocando aspirações/realizações, com sérios atropelos individuais e sociais.
O dia dedicado, mundialmente, à mulher, pertence a essa ciranda, mas, traz, na sua base, significados explícitos e palpáveis, muitas vezes não compreendidos, infelizmente, por grande parte das pessoas.
A origem da data comemorativa é um forte indício de uma consciência do papel feminino na sociedade, na teia do trágico (e do cômico???!!), e que se estende, ao longo do tempo, em diversas civilizações.
Uma luta para superar dificuldades, tristezas, à procura de ventos favoráveis para abrir as velas dos anseios e das alegrias.
Ainda na primeira metade do século XIX, em Nova Iorque/EUA, operárias trabalhavam nas fábricas em condições subumanas e com uma jornada diária de 10 horas ou mais.
Visando melhorias naquele labor, nas condições do ambiente e de saúde e obtenção de salários dignos, as trabalhadoras realizaram manifestações contra o absurdo estado de coisas da época.
Revoltado com o protesto, o patrão da Fábrica Cotton trancou as portas desse estabelecimento, em 8 de março de 1857, provocando a morte de 129 mulheres, incendiadas dentro do próprio prédio.
Num congresso, realizado na Noruega, em 1910, a revolucionária Clara Zetkin propôs o 8 de março, como o Dia Internacional da Mulher, sendo comemorado a partir de 1911. Muito mais tarde, em 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A mulher, embora forças contrárias, conquistou, durante o século XX, espaços na sociedade, derrubando grilhões, preconceitos e dogmas que vinham cerceando seus desejos e expectativas.
Aos poucos, emerge uma nova mulher, diferente daquela guardada/aprisionada, numa redoma ou cativeiro, para ser a mãe/procriadora/submissa, financiada e silenciada pelo senhor da casa – pai/esposo/patrão. Diferente, também, das excluídas pelo sofrimento e miséria sociais (infelizmente, ainda hoje, uma realidade), que não tinham/têm palco para exercer o poder da voz, desprotegidas socialmente.
E continuam na luta, buscando caminhos para renovação - da saia comprida às mais curtas, às calças, às bermudas, aos biquínis e outros trajes que deixariam coradas suas antepassadas.
Das atitudes de rubor, de acanhamento e de receios, de limitadas culturalmente, passam a expor-se, a discursar, a agir, franca e corajosamente, enfrentando o domínio masculino. Na batalha, objetivando visibilidade, enquanto ser sujeito, um grande salto!!
Nas comemorações, ao longo dos últimos anos, percebem-se, com bons olhos, movimentos sempre mais conscientes em prol da liberdade feminina, muito além de saudações efusivas às colunáveis, às socialites, às figurantes de passarelas, enfim, das celebridades do vazio.
Questões sobre direitos humanos, a construção da paz/justiça, o trabalho na cidade e no campo, violências de toda ordem, políticas públicas, preconceitos/racismo, etc. têm sido a tônica de inúmeras manifestantes, por certo, apoiadas por associações de classe, ampliando consideravelmente a firmeza e a ternura do olhar feminino.
Joana D’Arc, Rosa Luxemburgo, Sojourner Truth, Patrícia Galvão, Flora Tristan, Anita Garibaldi, Joana Angélica, Maria Quitéria, Chiquinha Gonzaga, Leila Diniz, Mme.Curie, Simone de Beauvoir, Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, escrava Anastácia, Coretta S. King (viúva de Martin Luther King), são referenciais, afora outros, que marcaram época. Cada personalidade com seu ideal e dedicação à causa escolhida, possibilitando novos paradigmas.
Mantendo, a sociedade, uma linha de construção progressista, com inabalável fé, esperança, diálogo, ação consciente (lembrando o mestre Paulo Freire), certamente, a mulher continuará conquistando patamares dignos na sociedade, tendo em vista, hoje e sempre, a questão cidadã feminina, face à dinâmica da sociedade.
Sem dúvida, a mulher excepcional, devido ao talento e à inteligência, sempre existirá – lembrada/realçada. Mas, a data de 8 de março não pode ficar confinada nas salas e nos salões de festas e de homenagens.
O foco ‘consciencial’ não pode desviar-se das desassistidas/exploradas/violentadas, as que estão no anonimato, sofrendo no seu canto/casebre, ou nas ruas, ao relento, à margem dos direitos constitucionais, jogadas embaixo dos viadutos, nos lixões da miséria, nas marquises, no seco chão dos sertões. Por elas, sim, urge a implementação de políticas de afirmação positiva.
Chega-me, lenta/saudosamente, à lembrança, a minha avó, Alice, nascida no século XIX, em 1890, e que pariu 12 filhos, deixando o corpo físico nos anos 80, aos 93 anos de idade.
Testemunha de tantas mudanças, transeunte de ruas tranqüilas da antiga Salvador, personagem de casarões da velha cidade, viu, aos poucos, chegar: o alvoroço; o crescimento de uma metrópole com novos costumes; coisas e objetos tecnológicos revolucionários para cada geração; conflitos e guerras; gritos de paz; pensares e atitudes causando transformações na convivência interpessoal e comunitária.
O que pensava a avó, sobre todos aqueles acontecimentos??! A que síntese ela chegou??!
À mulher, ressaltando as mães sofridas pela perda de seus filhos queridos, não raras vezes, violentamente, daqui e alhures, às operárias queimadas vivas na fábrica, em Nova Iorque, às revolucionárias, às excluídas dos bens sociais e da vida, às meninas largadas nas calçadas, às violentadas pelas garras dos homens, dedico estas linhas e o meu poemeto para a avó Alice:
“Cantigas da infânciaHomenagem é uma ação humana. Nesse sentido, ao longo de sua existência, o homem apresenta uma via dupla - a de sujeito e a de objeto de venerações.
Assim tem sido, mudando apenas algumas maneiras, rituais e intenções. Santos, deuses/deusas, autoridades, pessoas, monumentos, instituições, animais, estão à mercê das inúmeras escolhas do preito que pode levar à satisfação/libertação/ conscientização, quanto à condição de dependência/limitação/obrigação. Necessidade, pode-se dizer, atávica, a de celebrar fixando datas.
Dia dos pais, das mães, das crianças, uma infinidade de eventos que, segundo dizem, enfeitam/justificam/celebram/homenageiam fases da vida, o tempo da morte, seus atores e mistérios. Ou condicionam, sufocando aspirações/realizações, com sérios atropelos individuais e sociais.
O dia dedicado, mundialmente, à mulher, pertence a essa ciranda, mas, traz, na sua base, significados explícitos e palpáveis, muitas vezes não compreendidos, infelizmente, por grande parte das pessoas.
A origem da data comemorativa é um forte indício de uma consciência do papel feminino na sociedade, na teia do trágico (e do cômico???!!), e que se estende, ao longo do tempo, em diversas civilizações.
Uma luta para superar dificuldades, tristezas, à procura de ventos favoráveis para abrir as velas dos anseios e das alegrias.
Ainda na primeira metade do século XIX, em Nova Iorque/EUA, operárias trabalhavam nas fábricas em condições subumanas e com uma jornada diária de 10 horas ou mais.
Visando melhorias naquele labor, nas condições do ambiente e de saúde e obtenção de salários dignos, as trabalhadoras realizaram manifestações contra o absurdo estado de coisas da época.
Revoltado com o protesto, o patrão da Fábrica Cotton trancou as portas desse estabelecimento, em 8 de março de 1857, provocando a morte de 129 mulheres, incendiadas dentro do próprio prédio.
Num congresso, realizado na Noruega, em 1910, a revolucionária Clara Zetkin propôs o 8 de março, como o Dia Internacional da Mulher, sendo comemorado a partir de 1911. Muito mais tarde, em 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A mulher, embora forças contrárias, conquistou, durante o século XX, espaços na sociedade, derrubando grilhões, preconceitos e dogmas que vinham cerceando seus desejos e expectativas.
Aos poucos, emerge uma nova mulher, diferente daquela guardada/aprisionada, numa redoma ou cativeiro, para ser a mãe/procriadora/submissa, financiada e silenciada pelo senhor da casa – pai/esposo/patrão. Diferente, também, das excluídas pelo sofrimento e miséria sociais (infelizmente, ainda hoje, uma realidade), que não tinham/têm palco para exercer o poder da voz, desprotegidas socialmente.
E continuam na luta, buscando caminhos para renovação - da saia comprida às mais curtas, às calças, às bermudas, aos biquínis e outros trajes que deixariam coradas suas antepassadas.
Das atitudes de rubor, de acanhamento e de receios, de limitadas culturalmente, passam a expor-se, a discursar, a agir, franca e corajosamente, enfrentando o domínio masculino. Na batalha, objetivando visibilidade, enquanto ser sujeito, um grande salto!!
Nas comemorações, ao longo dos últimos anos, percebem-se, com bons olhos, movimentos sempre mais conscientes em prol da liberdade feminina, muito além de saudações efusivas às colunáveis, às socialites, às figurantes de passarelas, enfim, das celebridades do vazio.
Questões sobre direitos humanos, a construção da paz/justiça, o trabalho na cidade e no campo, violências de toda ordem, políticas públicas, preconceitos/racismo, etc. têm sido a tônica de inúmeras manifestantes, por certo, apoiadas por associações de classe, ampliando consideravelmente a firmeza e a ternura do olhar feminino.
Joana D’Arc, Rosa Luxemburgo, Sojourner Truth, Patrícia Galvão, Flora Tristan, Anita Garibaldi, Joana Angélica, Maria Quitéria, Chiquinha Gonzaga, Leila Diniz, Mme.Curie, Simone de Beauvoir, Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, escrava Anastácia, Coretta S. King (viúva de Martin Luther King), são referenciais, afora outros, que marcaram época. Cada personalidade com seu ideal e dedicação à causa escolhida, possibilitando novos paradigmas.
Mantendo, a sociedade, uma linha de construção progressista, com inabalável fé, esperança, diálogo, ação consciente (lembrando o mestre Paulo Freire), certamente, a mulher continuará conquistando patamares dignos na sociedade, tendo em vista, hoje e sempre, a questão cidadã feminina, face à dinâmica da sociedade.
Sem dúvida, a mulher excepcional, devido ao talento e à inteligência, sempre existirá – lembrada/realçada. Mas, a data de 8 de março não pode ficar confinada nas salas e nos salões de festas e de homenagens.
O foco ‘consciencial’ não pode desviar-se das desassistidas/exploradas/violentadas, as que estão no anonimato, sofrendo no seu canto/casebre, ou nas ruas, ao relento, à margem dos direitos constitucionais, jogadas embaixo dos viadutos, nos lixões da miséria, nas marquises, no seco chão dos sertões. Por elas, sim, urge a implementação de políticas de afirmação positiva.
Chega-me, lenta/saudosamente, à lembrança, a minha avó, Alice, nascida no século XIX, em 1890, e que pariu 12 filhos, deixando o corpo físico nos anos 80, aos 93 anos de idade.
Testemunha de tantas mudanças, transeunte de ruas tranqüilas da antiga Salvador, personagem de casarões da velha cidade, viu, aos poucos, chegar: o alvoroço; o crescimento de uma metrópole com novos costumes; coisas e objetos tecnológicos revolucionários para cada geração; conflitos e guerras; gritos de paz; pensares e atitudes causando transformações na convivência interpessoal e comunitária.
O que pensava a avó, sobre todos aqueles acontecimentos??! A que síntese ela chegou??!
À mulher, ressaltando as mães sofridas pela perda de seus filhos queridos, não raras vezes, violentamente, daqui e alhures, às operárias queimadas vivas na fábrica, em Nova Iorque, às revolucionárias, às excluídas dos bens sociais e da vida, às meninas largadas nas calçadas, às violentadas pelas garras dos homens, dedico estas linhas e o meu poemeto para a avó Alice:
trazem distâncias
nos risos dos avós.”
Atualizado em: Sex 6 Mar 2009
Comentários
Parabéns pela linda e reflexiva homenagem a mulher. gostei de ler-te. voltarei para novas leituras. Minha net anda muito lenta e não me deixa concluir muitas tarefas.
Estou com algumas dificuldades em acertar-me no site. Onde vejo comentários?
depoímentos?
gostei muito dessa casa, até já encontrei amigos por
aqui.
Obrigada pela recepetividade!
Parabéns pela linda e reflexiva homenagem a mulher. gostei de ler-te. voltarei para novas leituras. Minha net anda muito lenta e não me deixa concluir muitas tarefas.
Estou com algumas dificuldades em acertar-me no site. Onde vejo comentários?
depoímentos?
gostei muito dessa casa, até já encontrei amigos por
aqui.
Obrigada pela recepetividade!
Que vivam as Mulheres.
Que vivam as Mulheres.