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O Necromante Vermelho - Capítulo 1: Retorno
Eu sou Caesar, nascido e criado na aldeia de Nahiry. Rodeada por florestas e pequenas colinas, esta é a minha casa, uma aldeia bastante isolada do reino de Casablanca. O meu pai, Braggo, é um agricultor clássico e quase nunca fica em casa porque vai sempre à taberna depois do trabalho, e a minha mãe infelizmente faleceu. Nunca fui muito diferente, mas as outras crianças nunca gostaram muito de mim. Eu tinha uma irmã, Cassandra, que sempre me acompanhava onde quer que eu fosse. Ela me deu um colar de prata, que sempre carrego. Ela desapareceu há cinco anos. Não me lembro como aconteceu, só sei que depois disso nunca mais senti o mesmo.
Acordo com o som dos animais. Moro ao norte do centro da vila e, quando me levanto e vou para a cozinha, vejo que meu pai já saiu, deixando alguns pedaços de pão e leite frio na mesa. Eu como o pão que o diabo amassou e saio de casa com a mesma roupa. Está frio e parece que choveu ontem à noite.
São cerca de 10 minutos caminhando até o centro, 10 minutos que ando sempre pensativo. Nunca tive muitos sonhos, muitas ambições, é sempre a mesma rotina da qual sempre tento fugir. Gostaria de uma mudança de direção, uma virada de chave. Mas assim como penso todos os dias, nada acontece todos os dias. Sou evitado na rua, sem saber por quê. Sou ignorado até pelo meu próprio pai. Acredito que tudo tem um motivo, só não sei qual é.
Chego ao centro da aldeia rapidamente, como sempre. Não há ninguém lá.. Não há sequer um único pássaro, ou qualquer tipo de animal, nem pessoas. Ando um pouco pelos becos e vejo uma multidão reunida na prefeitura. Eles parecem assustados, um pouco desesperados para contar a verdade.
"O que aconteceu?" Pergunto a uma mulher que está mais perto de mim. Ela tem bochechas vermelhas, uma grande verruga logo abaixo do olho e o cabelo preso com uma fita azul.
"Eu... eu não sei", ela diz com um tremor na voz. "Mas acho que o prefeito quer ver você"
"Eu?" Eu me pergunto. Por que o prefeito iria querer me ver?
Passo no meio da multidão e vejo pessoas conversando, sussurrando. Aparentemente algo aconteceu. Subo as escadas e vejo a porta do prefeito aberta, com sons de conversas saindo de dentro da sala. Posso sentir o cheiro do álcool, ouvir os gritos e sei que algo ruim está acontecendo. Bato suavemente na porta aberta.
"Olá?"
"Entre!" grita uma voz irritada.
Entro no escritório e vejo uma figura corpulenta sentado atrás de sua mesa. Ele é um homem velho, com cabelos grisalhos e rugas profundas. O prefeito está com a mesa cheia de bebidas e de cada lado dele estão Mannuel e Sebastian, os irmãos caçadores da vila. Mannuel é jovem, na faixa dos 22 anos, bastante magro e ágil. Já seu irmão mais velho está na faixa dos 30, bastante carrancudo porém forte.
"Eu ia chamar alguém para bater na sua porta, mas aparentemente você acordou cedo hoje, né?" O prefeito diz, claramente bêbado às 7 da manhã.
"Algo está errado?" Eu pergunto, ainda hesitante.
"É melhor você se sentar, criança." Diz Mannuel, apontando para uma das cadeiras. Pego uma cadeira e me sento.
"Bom, agora podemos começar. Caesar né? Lembra do incidente de 5 anos atrás? Então, aparentemente Mannuel e Sebastian, enquanto caminhavam pela floresta ontem, viram uma figura com um colar de prata, do mesmo tipo que o seu." Diz o prefeito, um pouco desconcertado.
Mannuel e Sebastian olham em silêncio, olhando um para o outro. Percebo os seus olhares de preocupação.
"Meu colar?" respondi calmamente. O meu colar foi um presente da minha irmã, para combinar com o dela.
O prefeito suspira profundamente, toma outro gole de seu copo: "Eles viram algumas coisas estranhas, e a próxima coisa que perceberam foi que seus cavalos haviam sumido e a trilha desapareceu." Os caçadores acenam em confirmação.
"Mas... o que isso tem a ver comigo?" Eu pergunto, tentando chegar a algum raciocínio.
"Olha garoto, a última pessoa que conhecemos que era dona desse colar... foi sua irmã." Sebastian fala desta vez, preocupado.
"Ah..." eu digo. "Vocês acham que ela..."
"Ainda não sabemos, mas eles descobrirão em breve", disse o prefeito. "Mas o que a gente mais quer saber é: sua irmã, ela era... como ela era?"
"Meus irmãos sempre chamavam sua irmã de estranha." Manuel diz, sorrindo. "Mas eu nunca acreditei neles."
"Ela era muito doce." Eu respondo: "E inteligente. Ela também podia ser um pouco má, mas nunca intencionalmente. Ela tinha cabelos ruivos e sardas nas bochechas." Pelo que me lembrava da minha irmã, ela era uma pessoa doce. Ela era inteligente, sempre falava sobre coisas da vida, das estrelas e coisas assim.
"Você acha que poderia ser outra pessoa prefeito? Mas quais são as chances?" Sebastian pergunta analisando meu colar. "Você sabe onde sua irmã encontrou isso?" ele me pergunta.
"Não, nunca soube nada sobre isso", respondo. "Tudo o que sei é que ela comprou de um comerciante da vila." Os três irmãos se entreolham antes que o prefeito comece a falar novamente.
"Bons senhores, essa é uma situação complicada. Vou realizar outra reunião eventualmente mas por enquanto continuem investigando o local e juntem uma comitiva para investigarem os arredores. Se encontrarem qualquer coisa suspeita, me notifiquem." O prefeito termina a fala com um gole de uísque e os irmãos acenam com a cabeça.
"Posso ir embora também?" Pergunto, e o prefeito acena em confirmação.
"Caso queira participar da comitiva, pode nos encontrar ao meio-dia na praça central" Mannuel diz.
Os irmãos vão embora e eu vou em direção à saída também.
"Um minuto Caesar" O prefeito diz de repente. "A sua irmã deixou algum rastro antes de desaparecer? Alguma pista, alguma coisa que ainda não saibamos?"
Paro na porta um momento para responder.
"Não senhor, ela não deixou nada".
"Ok então, peço perdão pelo inconveniente. Se precisar de qualquer coisa, estarei aqui."
Antes dele terminar a frase, eu já tinha saído da sala.
Eu estava mentindo.
Atualizado em: Sex 17 Nov 2023