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Dengolândia: Um Grande Perigo

Dengue

 

           Sou carioca, nascido e criado no Rio de Janeiro, capital, nunca tive dengue, nunca soube no meu ciclo de amizades que alguém tenha perdido um parente ou mesmo um conhecido por dengue.

            Quando o governo, geralmente nas proximidades do verão, intensifica as campanhas de prevenção e combate ao mosquito transmissor, gastando tubos e tubos de dinheiro público, e anunciando em todas as mídias existentes, com base no que conhecemos de nosso cenário político, eu imagino logo um ralo por onde escoa todo o dinheiro público, penso realmente existir um exagero proposital e com outros fins, e que a dengue não é realmente isso tudo.

            Mudei radicalmente de opinião, ao me hospedar, no mês de dezembro, num hotel fazenda, Pousada da Tia Josefa – nome fictício - no interior de Minas Gerais, em cidade que prefiro omitir o nome, chamando-a de Dengolândia.

            Sexta-feira, pela manha, sou muito bem recepcionado na pousada, e no check-in, me passam um roteiro com diversas atividades opcionais, a primeira delas aconteceria em apenas uma hora, pontualmente as 11hs., se tratava de uma reunião com todos os funcionários, colaboradores, hospedes (opcionais), e com a líder, a própria Tia Josefa.

            Na pauta, apenas um assunto, traçar estratégias para o combate efetivo do mosquito Aedes Aegypti, como já disse, sou carioca, e descrente quanto a força deste mosquito,  moro no estado, segundo o governo, que quase todos os anos, possui  o maior numero de casos da doença. Estava cansado da viagem, e na verdade julguei ser uma grande paranóia destes mineiros, preferi não participar.

            Soube posteriormente, nos corredores da pousada, e confesso que me diverti com esta informação,  que a reunião fora muito produtiva, e que conseguiram definir coisas como: estratégias de ataque, estratégias de defesa, qual o poderio bélico seria utilizado, quem exerceria cada função neste exercito estabelecido, e o principal a que horas iriam se reunir para um ataque surpresa contra os mosquitos, seria sábado as 17hs.

            Confesso que fiquei curioso, nada marquei para este horário, permanecendo escondidinho na pousada com medo de uma possível convocação, não tenho vocação para o militarismo.

            Agora, são exatamente 16:20hs, o telefone da suíte toca, penso duas vezes em atender, poderia ser uma convocação, atendo o telefone, do outro lado uma voz masculina e muito séria, me informa que os serviços da cozinha da pousada serão interrompidos as 16:45hs. sem uma previsão de retorno, devido à guerra aos mosquitos.

            Cinco da tarde, ouço Tia Josefa, agradecendo a presença de todos, entoando alguns pequenos gritos de guerra, e informando a todos que já fora enviado o seu melhor soldado, isso mesmo ela disse soldado, ao QG dos mosquitos, um pequeno lago de águas cristalinas no interior de uma gruta de uma montanha verdinha próxima à pousada.

            Ao ouvir a palavra soldado, não contive a curiosidade, levantei-me, e fui até a janela, onde por uma pequena brecha, vi aquele pequeno exercito, apenas adultos, todos com vestimentas pesadas, e portando as mais variadas armas como: facas, inseticidas, espadas, raquetas de tênis, dentre outras. A frente do exercito a guerreira Tia Josefa.

            Devido a batalha, todos os carros foram estrategicamente estacionados no outro pátio da pousada, para permitir provavelmente uma área mais ampla para o conflito que poderia vir a acontecer, junto a este exercito, num canto mais distante apenas um veículo, que pela fresta da janela não tive como identificar, se era um tanque de guerra antigo ou um carro fumacê, destes que jogam aquele cheio forte de goiaba a 500 metros de distância.

            Imagino que a qualquer momento, irão aparecer os animadores e as crianças hospedadas na pousada, para começar as brincadeiras, destas brincadeiras que nos são oferecidas neste tipo de acomodação, mas para minha surpresa nenhum animador apareceu, e Tia Josefa, de posse de seu poderoso megafone, informa a todos que não poderão mais esperar, que provavelmente, e infelizmente seu soldado deve ter sido capturado pelos mosquitos.

            Neste momento, ouço um forte zunido, imagino ser o inicio das brincadeiras, uma poderosa aparelhagem de som imitando o som de milhares de mosquitos, da fresta desta janela não consigo ver de onde esta vindo tal zunido, corro imediatamente para a outra janela ... Caramba.

            A visão é assustadora, na retaguarda do exercito de Tia Josefa, sem que haja tempo para poder lhe avisar, uma nuvem imensa e negra insiste em tampar a luz do forte sol que ainda castigava a Dengolândia, me permito o direito a não chamar mais de nuvem ou enxame de mosquitos, o que vejo é uma manada de mosquitos.

            Mosquitos, com aproximadamente um metro de altura caminham, isso mesmo caminham, a passos largos em direção ao exercito de Tia Josefa, outros poucos e  menores, voam baixo e uma terceira categoria, que acredito serem mosquitos mais graduados, apenas apreciam a uma certa altura montados em seus cavalos negros e alados.

            Vergonhosamente, devo admitir, que me acovardei diante tal visão, me restando apenas correr para a outra janela, de frente ao campo de batalhas, e assistir, ao massacre promovido pelos mosquitos em poucos minutos, não deu tempo do exercito de Tia Josefa, sequer reagir, o carro que supus ser um fumacê não fora acionado. E o soldado que fora enviado anteriormente, até o momento ainda não temos noticias, e tememos pelo pior.

            Minutos após o término do massacre, após me assegurar não estar correndo riscos, saio de minha suíte e vou ao encontro de Tia Josefa, muito envergonhado lhe questiono como poderia ajudar naquele momento, esta apenas me pede que ajude a carregar seus soldados feridos, neste momento com febre alta, dores de cabeça, e dores no corpo, para suas respectivas camas, atendo seu pedido prontamente.

            Algumas horas se passam, alguns repousam, outros se dedicam a cuidar dos soldados feridos, vou ao encontro novamente de Tia Josefa, esta se antecipa e se alegra em dizer que não houve nenhum caso fatal naquele ataque, e que todos devem se recuperar. (que pena do soldado enviado)

            Ainda muito envergonhado por ter me acovardado e não ter participado da batalha, lhe questiono como era possível existir mosquitos daquele tamanho ... Tia Josefa, esboça um pequeno sorriso e me informa, que todos os anos é a mesma coisa, ela pede reforços e ajuda ao governo, este sempre promete, mas efetivamente não encaminha nenhuma ajuda, completa dizendo que a população também não faz a sua parte, e que com isso a cada ano o mosquito se torna maior e mais forte.

            Ela prossegue falando, que já havia noticias de mosquitos ainda maiores nas proximidades de sua propriedade, algo em torno de 3 metros, que estavam inclusive transmitindo outras doenças também (Febre Chikungunya), e que aguardava a qualquer momento, ainda esta semana um ataque destes mais poderosos mosquitos.

            Esta informação final, me deixou muito assustado, como pode ser observado não sou um exemplo de coragem, resolvi abreviar minha hospedagem prevista para 10 dias, para apenas 2, fazendo imediatamente o check-out, e retornado ao Rio de Janeiro, ainda na noite de sábado.

            Mas, durante a viagem de volta, aquelas cenas, e as palavras de Tia Josefa referentes a população não saiam de minha cabeça, conclui que eu tinha que ajudar e fazer alguma coisa, mas não poderia ficar e brigar com mosquitos tão grandes e fortes, resolvi ajudar, fazer minha parte aqui no Rio de Janeiro, combatendo os mosquitos ainda menores e não tão evoluídos, mas neste momento já acredito que estes também são perigosos.

            Compro imediatamente uma raquete "elétrica", destas que a todo momento nos são oferecidas entre uma bala e um show de malabarismos nos sinais de trânsito, passo numa farmácia e acabo com seu estoque de repelentes, me coloco pronto para a batalha.

            Por onde começar, domingo pela manha, me encaminho para as margens da Lagoa Rodrigues de Freiras, cartão postal do Rio de Janeiro, imagino não haver local melhor, estarei combatendo os mosquitos e livrando este belo cartão postal destas pragas, permaneço a beira da lagoa por várias horas, e não vejo sequer um mosquito Aedes Aegypti, de certa forma momentaneamente me alegro e chego a pensar que o Rio de Janeiro erradicou a doença, mas ao chegar em casa e pesquisar tenho a triste constatação, que escolhi o local errado para iniciar minha guerra ao mosquito, pois o Aedes Aegypti só vive e reproduz em águas limpas.

E você já esta fazendo sua parte ?

 

 

"As doenças são os resultados não só de nossos atos, mas também de nossos pensamentos"

Mahatma Gandhi

Líder do Movimento de Independência da Índia


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Atualizado em: Sáb 20 Dez 2014

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