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RELAÇÃO MEIO AMARGO

— Eu sinto muito, não foi por querer — imploro pelo seu perdão, segurando seu antebraço para que ao menos olhe no meu rosto —, Eu estava muito ocupado no trabalho e cheguei tarde no planetário, posso recompensar de outra forma.
— Só saia, por favor — disse ele de costas, afastando-se ao puxar seu braço de volta.
— Natanael…
— Sai! — grita.
Mantive-me imóvel vendo-o se distanciar até adentrar no quarto e fechar a porta. Fiz novamente: como na primeira, na segunda, na terceira e assim em diante pelos últimos quatro anos juntos. Não posso pedir para que ouça minhas explicações. Prometi que não esqueceria; não aceitaria nenhuma tarefa e chegaria a tempo, porém mais uma vez não mantive a tal palavra.
Pego minha mochila que está jogada sobre o sofá. Desligo a luz da sala antes de entrar numa intensa indecisão mental: vou atrás dele ou devo de verdade ir embora? Minhas mãos estão trêmulas e sinto um excruciante aperto no coração. Viro meu rosto na direção do quarto, encarando-o por alguns minutos até finalmente decidir que neste exato momento, seria melhor deixá-lo em paz.
∞∞∞
— Por Deus, eu quero fechar o bar e ir dormir — reclama minha tia jogando um pedaço de pano velho e úmido sobre a mesa vermelha de plástico tendo o nome de alguma cerveja — São mais de duas horas da madrugada, não percebeu que você é o único aqui? — pôs as mãos na cintura.
— Eu posso fechar para você depois — digo, tomando o último gole da cerveja num copo branco descartável — Fui expulso, não posso voltar agora — senti um amargo na minha boca, mas não foi causado pela cerveja.
— Você é expulso de casa e é no meu bar que vem se lamentar? — ela tem seu cabelo cacheado de tom marrom preso em um coque baixo, veste uma camisa preta de manga curta e um short jeans escuro acima dos joelhos.. 
— A senhorita está ganhando dinheiro do seu sobrinho e mesmo assim reclama? Já vi esse bar ficar aberto até às quatro horas da manhã.
Acabei sendo pego de surpresa por um forte tapa na minha nuca, virei meu rosto para ela sem saber o que dizer pois faz anos que eu não recebia um único golpe dela — tive más recordações dessa bendita mão pesada e dedos gordos.
— Esqueça essa porcaria de cerveja e vai dormir, você tem trabalho amanhã. Coloque seus pensamentos no lugar e espere um bom momento para conversar com ele e se redimir.
— Tia, você sempre incluí que eu tenha que me desculpar, mas nunca o Natanael — ainda que tenha razão sobre.
Um segundo tapa foi me dado.
— E quem é que vive fazendo besteira? Eu já teria largado você há muito tempo se eu fosse o Nael — pega o pano úmido de volta e retorna para juntar as cadeiras e as mesas — Ele é muito paciente, eu já teria te metido a facada igual a desgramada da Rita — soltei um sorriso forçado ao ouvi-la citando a música do Tierry.
Ser paciente e cauteloso ao ponto de nunca ter jogado nada na minha cara pelas tantas vezes que quebrei minhas promessas é o que me faz sentir como um merda. Pelo menos eu saberia o quão machucado está, mas segurar tudo para si é milhares de vezes pior. 
Conheço Natanael desde a minha adolescência. Frequentamos a mesma universidade em áreas diferentes e nos graduamos no mesmo ano —, só então, tive coragem de pedi-lo em namoro. Seria impossível não despertar sentimentos por ele, conseguiu me conquistar sem fazer nenhum esforço.
Acho que eu nunca gaguejei tanto na minha vida como naquele dia. O fato dele ter rido daquela situação só me deixou mais nervoso, entretanto, eu fiquei feliz; pois além de ter me graduado na área que tanto almejei, também consegui o "sim" do Nael. Durante três anos juntos, seu comportamento nunca mudou e sequer deixou de ser o mesmo por quem me apaixonei.
Não posso dizer o mesmo sobre mim.
Quando que nosso relacionamento começou a desandar?
Até o final do meu estágio estava indo tudo bem entre a gente, sequer discutimos, tampouco quebrava minhas promessas. Então… foi quando comecei a aceitar trabalhos extras? Obviamente é isso. Acreditei que apenas amar é o suficiente para manter uma relação — conseguir dinheiro é essencial. Aceitei muitas tarefas em tais dias que eu deveria ter folgado.
Como ele deve ter se sentido por ter me esperado tanto e dado conta de que eu não apareceria? Meu peito se apertou só de imaginar a sua reação. Certamente, minha tia tem razão. Sou o único a quem devo desculpas a ele, por nunca ter sido presente nos planos em que ele sozinho preparou…
— Merda — sussurrei, sentindo minhas lágrimas escorrendo por meus lábios — Eu realmente… sinto muito.
∞∞∞
— Bom dia, Gustavo — diz minha colega de trabalho, Carolina — Sua cara tá péssima hoje.
— Bom dia — retribuo — Sim, sei disso — murmurei me aproximando da minha mesa, coloco a mochila sob ela.
Sento na cadeira e ligo meu computador. Preciso revisar um contrato para um dos clientes e firmá-lo com a seguradora. Observando a hora no meu relógio de pulso, tenho cerca de três horas para deixar tudo pronto até nos encontrarmos.
Meus pensamentos voltavam para a noite passada, o que me atrapalhou no prosseguimento da minha leitura. Bufo relaxando meu corpo no encosto acolchoado da cadeira, junto às minhas mãos entrelaçando os dedos enquanto a cena de ontem está fixada na minha mente, repetindo como um loop infinito.
— O que eu faço? — resmungo.
Inclino meu corpo a frente pressionando meus cotovelos na borda da mesa. Esfrego meus dedos nas sobrancelhas sentindo uma leve dor de cabeça. Tenho de fazer algo, mas infelizmente, nenhuma ideia boa o suficiente surgiu e somente foquei no trabalho até o horário de voltar para a casa chegar.
∞∞∞
O dia terminou bem, tirando o fato que a sensação de culpa continua me invadindo. Após pegar um Uber, pois meu carro continua na oficina há três dias, desci em frente a minha casa —, respirei fundo antes de passar pelo portão. Já que não aceitei nenhuma tarefa extra para esta noite, consegui chegar cedo.
Devo entrar? — pergunto-me mentalmente.
Não tive coragem de passar pela porta da sala. As luzes podem estar apagadas, mas o som da televisão ligada deixa claro que Natanael já está lá dentro. Respiro fundo pela segunda vez e giro a maçaneta da porta. Dando alguns passos ao entrar, vejo Nael sentado no sofá vestindo uma calça moletom cinza e camisa vermelha, assistindo a animação do Gato de botas.
— Boa noite — falo baixo.
— Boa noite — corresponde, sem ao menos olhar na minha direção.
Decidi não insistir, por agora, irei começar devagar. Entro no quarto onde deixei minha mochila, levo algumas peças de roupas comigo para o banheiro e tomo um banho frio. Passando pela sala, notei que Nael não estava mais no sofá e ouço ruídos vindo da cozinha.
Bebendo água a frente da pia
— Podemos conversar? — pergunto.
— Agora não, estou cansado — respondeu, guardando a jarra d'água na geladeira — Deixa pra amanhã, ou quando você tiver tempo.
Suas últimas palavras foram como uma faca perfurando meu coração — ainda que eu não saiba a sensação, acho que não faria nenhuma diferença. Ele passou por mim e voltou a sentar-se no sofá.
Voltei meu olhar para a cozinha caindo sobre a mesa, onde alguns chocolates foram deixados numa tigela. Ele tentou mais uma receita nos doces? As vezes quando não saem da forma que esperava, costuma trazê-los para casa. Natanael é formado em confeitaria e junto com mais dois amigos, eles abriram uma doceria.
Caminhei até eles e peguei um pedaço para experimentar. O sabor amargo tocando minha língua me fez fazer careta e mal consegui engolir. Olhando para o pequeno pedaço entre meus dedos, suspirei.
— Está amargo — balbucio. — Muito amargo.
Retorno para a entrada entre a cozinha e a sala, observando-no em silêncio.
Está cansado… ele deixa visível que não está falando de cansaço físico. Com clareza foi apenas para evitar de falar comigo. Iniciei passos curtos até o sofá e sento ao seu lado mantendo uma pequena distância de alguns centímetros. Desvio meu olhar de forma sorrateira da televisão para ele, o mesmo encarava o nada do outro lado.
[...] Na real, não sei oque dizer. Já disse tantas desculpas anteriores que isso não significa nada agora.
— Nael, eu… — ouvi resmungos vindo dele, inclinei minha cabeça para frente tentando saber o que estava acontecendo. Queria que fosse ele me amaldiçoando, mas não isto. — Você está chorando?
Não houve respostas. Pego o controle pausando a animação, me aproximo dele e no instante em que o toquei, Nael se levantou a fim de distanciar-se outra vez. Segurei seu antebraço e o puxei para meu colo, deixando-o sentado de lado.
— Tem o total direito de ficar com raiva, só não se afaste — deslizei meus dedos sob seus olhos para enxugar suas lágrimas.
— Não estou com raiva de você, Gustavo — segura minha mão distanciado do seu rosto. — Estou magoado. Morarmos juntos não é tão diferente de morar sozinho, eu mal vejo você aqui. Muito menos nas suas folgas.
Ele tem razão. Estou mais para um visitante do que morador, pois passo muito tempo no trabalho.
— No início deixei passar, mas ficou cansativo. Foram poucas vezes que você compareceu em algum planejamento que fiz para passarmos juntos.
Levantei meu rosto para olhá-lo nos olhos, a decepção está tão nítida que não aguentei e desviei para o lado. Esse olhar… é a primeira vez que o vejo em seu semblante.
— Sei que gosta do seu trabalho, fico feliz com isso, mas dinheiro não compra tudo. — Nael junta suas mãos entre as coxas, e eu, continuei ouvindo em silêncio — É muito difícil aceitar a folga e ficar em casa? Não estamos passando necessidades, o quanto devo esperar? Até quando tenho que esperar? Eu fiquei lá parado por horas e você não apareceu, tem noção de como me senti?
Não consegui pronunciar uma única palavra. Meus olhos encheram-se de lágrimas e segurei a força para que elas não caíssem e nenhum som saísse da minha boca. Nesse dia, Natanael havia marcado para nós nos encontrarmos no planetário assim que eu saísse do trabalho, mas minutos antes foi oferecida uma tarefa nada difícil. Acreditei que eu fosse terminar a tempo, mas ao chegar no local ele já não estava lá. Todavia, a tarefa não era obrigatória, me deixei levar pelo extra que eu receberia.
— Desculpa — fora tudo o que consegui dizer. — Desculpas… — me peguei chorando novamente. Abracei sua cintura pondo meu rosto sobre ela.
— Eu não quero suas desculpas, mas que tire um tempo comigo.
Queria poder voltar no tempo e ter comparecido em todas aquelas ocasiões — o que de fato nunca irá acontecer. Consigo lidar com erros no trabalho, mas se tratando dele eu nunca sei como reagir.
Eu o amo muito; tanto suas perfeições que mal sinto as imperfeições. Me sinto transbordando quando estou com ele, no entanto, devo tê-lo feito sentir-se de outra forma ao invés de usufruir da mesma sensação que ele me traz.
Senti o toque de suas mãos deslizando na minha cabeça até as minhas bochechas, fui afastado e ele elevou meu rosto e nos encaramos.
— Na sua próxima folga, você pode ficar em casa? Sem aceitar nenhuma tarefa?
— Sim… — coloquei minha mão sobre a sua e trouxe para frente da minha boca, dando um leve selinho. — Eu vou ficar em casa — fez-se uma expressão desconfiado, o que foi compreensível. — Quando você acordar de manhã na minha folga, estarei do seu lado na cama, eu prometo.
— Eu preciso de você aqui, só isso.
Puxei ele para um abraço, não consigo imaginar o quão solitário ele estava se sentindo na minha ausência. Não confessei meus sentimentos naquela época para deixá-lo magoado. Eu errei. Deveria ter sido mais presente nem que fosse apenas para ficar em casa fazendo nada. Coloquei minha profissão em primeiro lugar sem ter percebido e, deixei de lado a pessoa que sempre esteve esperando a minha volta..
Infelizmente, não tem como apagar o que já foi feito.
— Eu estarei aqui — afirmei repetidas vezes.
∞∞∞
— Soube pela minha irmã que você e o Nael discutiram outra vez — disse minha mãe, sentada na sua poltrona próxima ao rack da sala enquanto tricota um tapete.
Ela me chamou para vir pegar um casaco que tricotou para Natanael. Desde que cheguei após sair do trabalho, me mantive aqui na sala sentado à sua frente sem saber onde está o bendito casaco que disse entregar. Me sinto um adolescente sendo repreendido.
— Sim, mas já nos resolvemos — expliquei raso, coçando minha nuca.
— Trabalho outra vez?
— Eu cheguei um pouco tarde — respirei fundo e soltei o ar de uma só vez. — Onde está o casaco? Vai ficar tarde para voltar se eu demorar — levantei do sofá caminhando para outro cômodo, minha mãe veio logo atrás.
— Está no meu quarto, vou pegar.
— A senhora só fez um?
— Sim, você não está merecendo. Talvez eu faça um tapete para você colocar perto do vaso — adentra no quarto. — Não posso acreditar que você é seu pai cuspido e escarrado até nisso.
— Mãe, já falei que resolvemos isso — repito pondo minhas mãos na cintura.
— E então? Por quanto tempo vai durar até a próxima pelo mesmo motivo? Seu pai dizia sempre as mesmas palavras e não durava muito. Não é atoa que pedi pelo divórcio, por que não? Era como ter me casado com um fantasma de qualquer forma.
Ela remexeu dentro do guarda-roupa e trouxe um casaco dobrado de tom azul bebê.
— Se não consegue separar o trabalho da vida pessoal, fica solteiro. Assim evita machucar quem está do seu lado.
Fiquei encostado na parede do corredor segurando o casaco e observei minha mãe retornando para a sala. Ela pode ser tagarela e na maioria das vezes direta demais, mas admito que ela tem razão. Porém, não acho que terminar seja a solução.
Não no meu caso.
∞∞∞
A semana está passando calmamente e minha relação com Nael voltou ao normal, mas ainda tenho algo a ser feito. Falta pouco para meu horário ser encerrado e como previsto, William surgiu trazendo com ele mais uma tarefa extra.
— Gustavo, você pode resolver isso? Irá ser pago como sempre — aponta uma pasta fina contendo alguns papéis dentro.
— Desculpa William, mas irei passar dessa vez. Tenho algo importante para fazer, quem sabe na próxima.
— Não tem problema, irei pedir a outra pessoa — dito isso, ele se afastou a caminho de outros funcionários.
A princípio, imaginei que ele fosse insistir, mas foi tão fácil de aceitar minha recusa que me sinto patético por não ter feito isso antes. Continuei com meu trabalho até que terminasse por completo antes de finalmente ir embora.
∞∞∞
Eu mal lembro de quando foi a última vez que cheguei em casa primeiro. O silêncio é algo que não estou acostumado já que sempre possui algum som quando Nael está presente.
Guardei a mochila e tomei banho, entrei na cozinha para comer algo e me deparei com a cafeteira elétrica ainda ligada na tomada. Encaro ela por um tempo. Eu odeio café e qualquer coisa que seja amarga, mas nunca contei a Natanael depois que começamos a viver juntos.
E não pretendo contar nunca.
Ele está sempre bebendo esse negócio horrível e imaginei que fazer companhia não seria uma má ideia — tive de me esforçar para não fazer careta. O que ajudou a manter serenidade foi colocar bastante açúcar.
Parando pra pensar, eu fingi gostar de muitas coisas por causa dele. Percebi que eram poucas coisas que tínhamos em comum, apesar disso, não me impediu de nutrir sentimentos em relação a ele. Creio que se Nael descobrir, estarei ferrado.
Limpei a cafeteira e a guardei, fiz um lanche e fiquei pela sala assistindo televisão. Sequer me dei conta de que caí no sono e despertei pelo barulho na casa. Sentei ainda sonolento e esperei alguns segundos para me levantar.
— Por que não me acordou? — perguntei após entrar na cozinha.
— Você estava dormindo como uma pedra, não queria te acordar.
Cruzei os braços e logo coloquei a mão de frente a boca no momento em que bocejei. Fiquei no mesmo lugar observando-o fazendo café depois de pegar a cafeteira dentro do armário. Encaro o relógio quadrado na parede, apenas três horas se passaram desde que cheguei.
— Está cansado? — pergunto.
— Não, hoje não foi tão corrido.
— Você quer sair?
Natanael virou-se com uma expressão um tanto engraçada, eu queria ter rido, mas o quanto ele estava esperando por esse convite? Essa minha pergunta mental me impediu de rir. O mesmo se aproximou me dando um abraço junto com sua confirmação.
∞∞∞
Acabamos vindo no Burger King no centro da cidade, desde que abriu há pouco menos de dois anos nunca viemos aqui. Felizmente não está tão cheio pois detesto barulho em excesso — mesmo se tivesse, eu não me importaria de suportar.
— Vou escolher o lugar — avisa Nael.
— Certo, vou fazer o pedido.
Nos distanciamos e fiquei na fila que apesar de grande o que deu a entender que o lugar não estava realmente — pouco — vazio, andou rápido. Pedi por um milkshake de morango e outro de chocolate, dois… mega stacker cheddar empanado ou seja lá nome —, por que tão grande? Peguei o papel contendo o código do meu pedido e fui à procura do lugar que Nael escolheu.
Bem escondido, aliás.
Sentei de frente para ele e do nosso lado contém a vidraça dando a vista movimentada da cidade do rio de janeiro anoitecendo.
— Estou feliz que tenha me convidado, mas…
— Sei o que vai dizer, e não — interrompi. — Não estou fazendo isso só porque pediu, e sim porque eu não queria te decepcionar novamente e deixar esperando que eu compareça.
— Você nunca me decepcionou da onde tirou isso?
— Mas deveria — insinuei. — Me conta quando eu estiver passando dos limites, se fiz algo que não gostou ou qualquer coisa que eu precise melhorar, só não quero que guarde para si mesmo.
Aquela foi a primeira vez que o vi chorando de tristeza. Meu estômago parecia embrulhar pelo que causei a ele.
— Eu só fiquei muito emotivo — belisquei seu nariz vendo que ele ainda insiste em cobrir o que estava sentindo. — Merda, isso dói!
 — Estou falando sério, não vou ficar chateado se você for sincero.
Natanael estava com a mão no nariz e não pude conter o riso ao ver o vermelho se intensificando na ponta. Recebi um chute na perna e ouvi o número do meu pedido soar. Me levantei para pegar e voltei sem demora para a mesa.
Esperei que ele pegasse primeiro, observei o casaco que veste feito por minha mãe dias atrás. Serviu tão bem nele que às vezes penso que o filho verdadeiro dela é ele e não eu — a mesma se atreveu a me entregar um conjunto de tapetes para pôr no banheiro. Terminar… eu nunca me atreveria a tocar nesse assunto.
— Está me encarando por que? Não vai comer? Se demorar demais vai ficar sem — diz com a boca cheia.
— Passa fome — resmungo pegando o copo de milkshake.
Eu não bebi após colocar o canudo na boca, por algum motivo senti que não iria descer pois o gosto amargo se fazia presente na minha língua. Encarei novamente Natanael que parecia não ter comido há dias. Dei um leve sorriso e coloquei o copo de volta na mesa.
— Nael?
— Hum?
— Eu te amo — esperei que levantasse o olhar e repeti, apenas no caso dele achar que ouviu errado. — Eu te amo muito, muito mesmo.
— Eu também te amo — retribui. — Muito mesmo. — sorriu.
Finalmente senti meu coração leve, peguei o milkshake de volta e bebi sentindo o sabor doce do chocolate descer pela minha garganta. Irei me esforçar para manter esse sorriso no rosto dele, não quero sentir essa amargura no meu interior, tampouco possuir uma relação meio amargo com quem eu quero que seja apenas doce.


Fim!!


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Atualizado em: Qua 28 Jun 2023

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