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Ludwig

Livre das obrigações escolares, Ludwig voltava de um infrutífero passeio pelo bairro. Ele estancou na terceira calçada, cabisbaixo, diante de uma vitrine multicolorida. Não sentia a mínima vontade de encarar sua casa coberta de trepadeiras bem aparadas e abraçar o tédio ao lado do pai que, naquela hora rotineira, certamente estaria pregado na poltrona, entornando a quinta Brahma Extra, enquanto assistia pela centésima vez os pedaços aleatórios de antigas gravações amadoras dos malditos campeonatos regionais de futebol.
Quando não estava treinando, Murilo adorava essas rodadas ao lado do…
… sogrão?
* * *
Era a época das festas, férias e presentes.
Recordando a candura de sua mãe, será que ela aceitaria a confirmação da Descoberta?
“Tenho certeza que sim”, suspirou Ludwig.
“As mães sempre sabem!”, ele confirmou sua esperança durante uma breve oração carregada de saudades.
Seu olhar cansado cintilava sob o brilho intenso de uma nada criativa decoração natalina. Focos vermelhos, esverdeados e dourados direcionado para fora do vidro limpíssimo atingiam a face ruborizada do garoto conhecido no Divino como “Alemão”.
Sufocado pelo dia cinzento, hipnotizado pela ausência materna num momento tão crucial, Ludwig abandonava a realidade e adentrava o seu vasto mundo de sonhos.
Naquele transe, imponente ao seu lado direito, a placidez da Nossa Senhora da Conceição propiciava um inusitado convite à meditação.
O garoto acompanhava com olhar curioso alguns devotos que realizavam o sinal da Cruz, em silêncio, diante da construção venerável.
Ludwig fazia troça do ritual mecânico, acreditando que os pensamentos dos transeuntes permaneciam fixos em coisas bem mais mundanas.
“Eles fazem o sinal obrigatório na frente da Santa Igreja. E, conscientes, seguem suas existências enlameados no Pecado”, Ludwig pronunciou em murmúrios desolados a alfinetar sua imaginação eletrificada.
Observando com atenção a igreja recém-retocada, Ludwig foi tomado por uma sensação de extrema tranquilidade que aos poucos invadiu seu corpo ainda sem atributos viris e sua mente repleta de pensamentos maduros.
Ludwig deixara o lado surreal para trás e conseguia sentir-se feliz, até mesmo aliviado, apesar dos pesares.
Feliz com a misteriosa certeza que dominava seus devaneios. Ele queria resolver o Grande Mistério. Precisava confirmar todos os meandros daquela alegria contagiante, libertadora, entremeada de angústia, vazio e solidão.
“Eu me aceitei através da dor. Sei que estou livre. Liberdade acima de tudo!”, refletiu orgulhoso, golpeando com socos imaginários o ar enregelado daquele final de sexta-feira.
Ludwig recordara a fantástica noite anterior, quando finalmente pôde passar tempo suficiente admirando o pretexto de sua pseudo-tosca-felicidade.
Lembrou-se da abobada mão direita a experimentar o frescor daqueles cabelos louros, sedosos, de brilho sobrenatural. Um gesto simples que o deixara orgulhoso de sua ousadia enquanto os dois garotos estudavam com afinco no quarto semiescuro de Murilo.
Recordou aquele ambiente bagunçado, onde após o apatetado primeiro gozo conjunto, ele permaneceu no terceiro céu a observar os reflexos da noite nas paredes imaculadamente brancas.
Ludwig notara na divisória à sua direita que os reflexos criavam formas mondriânicas no corpo avantajado e no rosto de traços sérios do seu anjo tão amado, que dormia um sono leve impregnado em glórias, sob a bênção da luz prateada que atravessava a janela de generosas proporções.
* * *
Ludwig retornou do mundo das alegrias passageiras.
Durante os intervalos das aulas matutinas, forçou a conversa definitiva com um assustado Murilo completamente sem rumo.
O que nem havia começado direito, devia ser liquidado o quanto antes.
Murilo não queria aceitar o desfecho. Queria prolongar a intensidade do contato, mas somente se ambos vivessem a relação na clandestinidade, algo fora de cogitação para Ludwig.
Murilo tentou argumentar que ambos deveriam manter as aparências, arrumando garotas para os compromissos ditos “sociais”.
Revoltado com a postura do amigamante, Ludwig bateu os pés, pois queria assumir o que era e sentia. Não estava disposto a construir a primeira união alicerçada em mentiras e dissimulações.
“Jamais serei cúmplice da Hipocrisia!”, foi o mantra desferido contra o amigo enrustido.
* * *
Repentinamente, Alemão sentiu uma louca vontade de escrever. Pena não estar de posse de sua mochila escolar, acocorada na casa paterna, ao lado da mesa da cozinha.
Ele abandonou o encanto da quinta vitrine enfeitada numa das lojas da Vila Arens. As mãos cobertas de veias finas, petrificadas, percorreram os bolsos do casaco de couro marrom – propriedade do pai –, um tanto folgado demais a cobrir seu um e oitenta delgado, enquanto suas elásticas pernas de modelo atravessavam a rua e impulsionavam sua fuga pela escadaria da Conceição.
Sentou-se nas pedras frias, radiante por milagrosamente ter encontrado um toco de lápis no bolso interno, do lado direito.
Alemão caiu na risada ao se dar conta que o pai adorava rabiscar números mágicos a fim de tentar a sorte em jogos de bichos. O garoto agradeceu aos céus por não ter encontrado fragmentos nojentos de um “charutostentação”.
Faltava um pedaço de papel. Olhou à sua volta e… nada.
Paciente, aguardou, assobiando um hino depechemodeano para atrair boas vibrações. Só Martin Gore era capaz de poetizar as nuances daquele momento.
Não levou muito tempo até que uma garota de traços orientais cruzou a lateral da igreja. Ela era bonita, delicada, e aparentava retornar da última jornada escolar no Paulo Mendes.
“Doce menina”, suspirou Ludwig.
Ele desceu as escadas, desconjuntado, posicionando-se na calçada bem diante da jovem a cantarolar algum hit cuspido pela Dumont FM.
“Pode me emprestar uma folha de caderno?”, ele quase implorou, ansioso, expondo o mais belo sorriso, coçando timidamente a cabeça rodeada de fios longos, de leve espiralar, na altura da nuca.
A humilde menina, passiva diante de uma visão tão cativante, abriu com delicadeza a mochila repleta de penduricalhos que trazia nas costas.
“É claro”, ela disse, tentando retribuir o sorriso ao estonteante par de olhos esmeralda, imediatamente idealizando um sonho impossível.
“Aqui está.”
Alemão agradeceu a garota com um rápido beijo depositado em sua face esquerda, ruborizando-a de imediato.
“Valeu!”
De volta à escadaria, Ludwig posicionou a folha sobre o piso áspero. O sol já se recolhera quase por inteiro e uma noite preguiçosa começava a tingir o céu de tons avermelhados, passando em seguida para um azul-escuro profundo, acolhedor, misterioso.
Luzes artificiais explodiram de imediato, pintando a escadaria e a fachada da igreja com carregados tons dourados. Ludwig, olhando além dos anjos calcários, pressentiu um pedaço da lua crescente.
A noite impunha seus encantos e o menino pôde contemplar as amigas estrelas. Ele adorava as noites selvagens. Adorava as misteriosas amigas iluminadas. Idolatrava a vindoura Senhora Madrugada.
“Como estaria Murilo neste exato instante?”, ele sonhou, saudoso.
Queria cobrir o ex-companheiro de carinhos e ofertar-lhe deliciosas massagens na altura dos ombros. Queria retirar o fardo das tensões acumuladas no corpo e na mente do seu primeiro amor, nesses dias tão agitados de estudos finais mesclados com as primeiras descobertas íntimas. Queria deixá-lo tranquilo e pronto para a nova jornada.
Ludwig escrevia por impulso, abençoado pela intuição. Os pensamentos alfinetavam as sensações, dando um baile na mão que tentava conduzir o grafite tortuoso em linhas retas.
Por alguns instantes ele abandonava a escrita, observando um Cristo de traços amulherados (resultado de um trabalho de restauração amadorístico) que continuava ajoelhado, orando ao Pai Eterno, numa postura de debochado respeito.
Incomodado com a pintura na nave à sua direita, Ludwig delirava em interessantes e pecaminosas cenas homoeróticas. Via com outros olhos aquele corpo “sarandrógino” além do aceitável.
“Mu, eu sou atrevido e aprendi a expressar e assumir tudo aquilo que sinto...”, meditou, enquanto retornava a montagem das frases.
“… e muitas vezes o faço nas noites estreladas. Sou assim mesmo. Ah, meu robusto e mimado primeiro lindo amor, não se espante comigo, nem com minhas abstratas (no seu conceito) reações. Compreendo o turbilhão de emoções e dúvidas que dilaceram o seu coração.”
As mãos alvas seguravam o papel creme com firmeza. O adolescente lia e relia cada linha como se fosse a última declaração de amor a ser escrita.
“Acredito que o conteúdo desse garrancho é exatamente o que eu gostaria de dizer encarando o seu olhar defensivo, num futuro qualquer, se houver oportunidade”, pensou, enquanto lágrimas tentavam banhar-se num prolongado contato com a brisa vinte e quarenta e cinco.
O grafite encontrava-se muito gasto, mas permitiu ao menino continuar seu desabafo em palavras beirando o legível emocional.
O que Ludwig tentava expressar no manuscrito era que realmente havia sido feliz com aquele que ele acreditava ser “o eleito”.
O maior desafio foi reconhecer que o garoto que poderia ter sido “o amado” havia se transformado somente numa fonte de inspiração passageira.
Afinal de contas, não há futuro em qualquer relação enquanto não assumimos o que somos e o que sentimos perante nós mesmos, em primeiro lugar.
Aos quinze, Ludwig já colhia os frutos de sua própria arte. Desenhar estava no sangue dos Glufke. Ele honraria o que aprendera com a avó, ainda em tenra idade, antes que ela abandonasse a Terra e retornasse ao princípio de tudo.
Ludwig sonhava em receber muitos elogios perdidos no passado. Apesar da precocidade, ele se sentia pronto para aprender e também compartilhar muitas coisas que a atual existência já havia proporcionado aos seus dons artísticos.
Descobrindo-se Militante, o alemãozinho ensinaria a Verdade Colorida ao Mundo, através de suas linhas originais e excitantes e provocadoras em carvão ou nanquim.
O delicado adolescente julgava ser alguém indicado por Deus a cumprir com sucesso uma concreta missão “iluminadoida”.
“Todos nós somos especiais”, filosofou, onde um sorriso tímido tomava forma caricata em seu rosto querubim.
“Boa noite, minha princesa!”, emocionado, ele observou o pedaço da lua que dominava o lado esquerdo do céu, em meio a um mar de difusos pontos luminosos, artificiais, decadentes.
Agradeceu o despertar, mesmo mantendo consciência de que as ilusórias horas de glória vividas no quarto do amigo não seriam expandidas da maneira que ele idealizara.
Uma insolente gota prateada formou-se logo abaixo do seu olho esquerdo. Ao longe, era possível sentir o pulsar de uma música romântica gritando em algum aparelho claudicante. Ludwig aprumou levemente o pescoço, ampliando o foco na melodia.
Sentiu a brisa cítrica da noite sem graças a percorrer-lhe as faces, correndo em direção ao peito delicado, apalpando a penugem ruiva no centro da linha imaginária entre os mamilos rígidos.
Ludwig fechou os olhos e se concentrou por alguns segundos. Aquela era a voz de Mariah Carey, interpretando um sucesso antigo.
Alemão não conteve uma leve e rouca gargalhada, ainda de olhos bem fechados, úmidos de sal e nostalgias. Sentiu-se apaixonado ao identificar a regravação.
Oh, céus. Murilo adorava Mariah!
Em definitivo, aquele era um instante único, mágico, revelador.
* * *
“Meu querido e agora ex-amigo. Apesar das suas propostas sem sentido, por incrível que pareça, estou sereno, focado e feliz...”, ele desabafou nas costas do papel educador. “... escrevo porque eu quero que você saiba como me sinto logo após o nosso amor curioso e a despedida temerosa de sua parte. Muitas palavras desfiguradas ainda pipocam na minha cabeça coberta de macios galhos de cenoura (seu bobo!), os quais são eternamente agradecidos pelos carinhos dos seus beijos. As aulas estão acabando. Ano que vem enfrentaremos novos desafios em cidades distantes. Ah, e não posso me esquecer de que o Esporte já te escolheu para ser o Rei. Vou vibrar com suas conquistas através da tela da tevê. Oh, sei que já não devo tomar mais seu tempo. Sou assim. Não fique espantado com minhas práticas atitudes”, Ludwig fungava copiosamente.
“Meu corpo vai conviver ao teu lado nas últimas manhãs escolares, porém meus ideais, aos poucos, devem partir e me levar ao encontro das minhas verdades. Pois já sei muito bem onde quero e devo chegar!”
Alemão chorou sem vergonhas.
Era um anjo caído, criado e educado pelos homens.
Sem se importar com os últimos passantes a invadir o santo espaço, ele continuava a escrever em letras irregulares:
“Quinze anos. É uma pena que você acredite que ainda somos jovens demais para assumir nossas decisões íntimas perante nossos pais e amigos não adiantados. Mesmo assim, sinto que um mundo de possibilidades nos aguarda, apesar de os nossos caminhos permanecerem separados. Algo me diz que o Bom vai acontecer no tempo exato. Eu sinto que vou encontrar o Grande Amor. No devido estalo… por simples merecimento”.
Alemão deu por encerrado o desabafo literário. Passou horas recostado no granito, olhando para o Nada, viajando novamente para o seu próprio futuro.
O Senhor dos Sonhos, parceiro da Madrugada, surgiu de repente e soprou-lhe na nuca o reparador aroma da alfazema. Os olhos ficaram pesados e a ardência das múltiplas saudades foi minimizada. Esgotado e invisível, o garoto adormeceu no piso não nivelado. Sonhando com a mãe compreensiva. Protegido por um Cristo afetado.
* * *
Ludwig despertou para um novo amanhecer. Atento de imediato, ele compreendeu a real situação da sua nova personalidade.
Relembrou com vívidos detalhes as fagulhas de imenso prazer e ricas descobertas que compartilhara com Murilo, há quase dois dias.
Ele tinha convicção de que a experiência fora gratificante, gravada a fogo em sua alma cristalina. Era a necessária quebra de todas as virgindades numa arrebatadora união de sexos em formação.
Com sinceridade espocando em seu espírito restaurado, admitiu a si mesmo que havia gostado de oferecer suas virgindades ao futuro campeão olímpico, durante uma noite repleta de tumultuadas carícias e sensações não previstas nesse mundo.
Ludwig aceitara que tudo fora uma competente ilusão. Sabia que não trilhariam a mesma estrada. Pois as carências e os objetivos eram, enfim, muito divergentes.
O menino conhecido como Alemão, cuja pele translúcida estava tingida de leves tons rosáceos devido à exposição na luz matinal, levantou-se em um só pique, mantendo a pose mais ereta que sua frágil coluna lhe permitia, depois das longas horas apagado no chão de concreto, acobertado pela imponente Protetora.
Percebendo-se sozinho no seio da grande praça, ajeitou os cabelos cítricos, prendendo-os com uma delicada tira de seda vermelha.
“Não serei mais enlaçado pela Ilusão”, ele meditou, decidido.
“O que vivemos foi uma louca agitação absolutamente necessária. Um caos criado por mim-eu-mesmo, ou por nós dois, devido ao estado de ansiedade em que nos encontrávamos com a intenção de fundir nossas almas no primeiro enlace verdadeiro de nossas vidas.”
Tentando despertar em definitivo, Ludwig ainda sentia o gosto daquele primeiro beijo, recordava a mistura das salivas embebida em canela e coca-cola, ria do patético drama enfrentado para se livrar dos uniformes marrons, suspirava com ansiedade ao relembrar a textura do sexo do seu “Mu”, e seu coração bombardeava adrenalina ao sentir novamente, em acachapantes flashbacks, aquele músculo a penetrar-lhe a carne, empalando todas as antigas versões da sua alma juvenil em diversas tacadas certeiras, virtuosas, deliciosamente estúpidas.
Novas lágrimas se materializaram nos arredores das joias lapidadas, de um verde único. E dessa vez ele não fez questão alguma de eliminá-las.
Gotas peroladas criavam finas listas límpidas ao desfilar naquela face idealizada por Botticelli.
* * *
Alemão deu um jeito na roupa amassada, alinhando-se o melhor que podia.
Desgarrada do bolso da calça, a folha de caderno jazia no degrau poeirento.
Ludwig abaixou-se, pegando com delicadeza o seu primeiro testemunho de uma vida não mais embrionária. Dobrou-o em várias partes e colocou-o no bolso interno do casaco, protegendo assim o seu Novo Testamento.
O menino desceu a escadaria com certo desequilíbrio nos passos, inspirando com renovada energia o orvalho emanado do frondoso e bem cuidado jardim que circundava aquele quarteirão sagrado.
Caminhou um tanto sonolento pela praça isenta de humanos meditativos, quando um conselho foi sussurrado em sua alma, como se o seu anjo da guarda estivesse lhe fofocando um ultimato:
 
“Deseje do fundo do coração que todos possam se descobrir e aprender com as opções escolhidas, cada um à sua maneira, no seu devido tempo. O que ocorreu entre vocês foi o resultado de uma vontade conjunta. A vida continua logo à frente. Não fique triste, pois novos portões serão abertos com a chave mágica que só você possui, bem protegida, em seu coração.”
 
Ludwig sorriu; olhou adiante e finalizou com os lábios entreabertos:
“Obrigado, Murilo Oliveira, pela alegria e inspiração. Jamais vou te esquecer. Você foi o primeiro. O primeiro cheiro, o primeiro beijo, o primeiro toque, o primeiro degustar de nossas essências trocadas num desajeitado meia nove logo após o segundo tempo. De certo ângulo, tudo foi perfeito entre nós, do nosso jeito, seguindo nossas escolhas. Fizemos a Descoberta. Quebramos o lacre do medo do desconhecido. Somos crianças corajosas que ousaram embarcar nas costas da Felicidade durante o desnudar do Prazer. Só que, depois do Acontecimento, apenas o resultado dos carinhos continuará vivo em nossas lembranças.”
Era o fim das palavras. Fim do primeiro ato.
Mas tudo o que viveram, valeu. E muito!
Ludwig caminhou por alguns quarteirões, sorvendo o ar adocicado daquela manhã radiante de sábado.
Já no portão de casa, na Vila Progresso, tudo o que Alemão desejava era um banho rápido e uma solitária punheta bem demorada...
... ao som de “I Still Believe”!
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Atualizado em: Qua 12 Abr 2023

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