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Perdão

A chuva obrigou nosso convívio no íntimo daquele domo alienígena.
Eu aguardava meu marido. Você, sua noiva. Ríamos por confidenciar nossa ironia perante nossos pares: eles eram viciados em levantar pesos. Eu e você preferíamos entornar boas cervas.
No decorrer da troca de currículos, de repente você, todo tímido, me lascou um milhão de questões sobre como era uma vida “homem com homem”. Minhas respostas óbvias e transparentes promoveram um turbilhão de emoções até então retesadas.
O tempo foi passando. Nós dois cada vez mais íntimos. Você encontrou em mim-eu-mesmo um amigo. Eu te aceitei como um fofo aprendiz.

* * *

Ela surgiu toda sorridente, exausta, treino pago.
Você nos apresentou.
Puxa vida. Como ela é linda!
Rolou um adeus com o batido “a gente se vê”. Mas você deu meia-volta. Retrocedeu dez passos. Abraçou-me em prantos discretos, sussurrando no meu ressabiado ouvido esquerdo um comovente “muito, muito obrigado!”. Eu, ali, paralisado diante do ato confuso. Você fez questão de alumiar minhas dúvidas:
“Há anos que não falo com meu único irmão, desde que descobri que ele é gay. Mas depois de tudo o que conversamos; depois da tua ‘aula de vida’, percebi o quanto fui um idiota das cavernas. Hoje eu vou ligar pra ele e me certificar se eu mereço o Perdão. Obrigado, mesmo, por abrir os olhos da minha alma!”.
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Atualizado em: Qua 12 Abr 2023

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