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O Efeito de Amar

Esta belíssima história, que começa se passando vinte e quatro anos antes do tempo presente da mesma, é contada por mim, Clodor, um (não tão) renomado artista de nome estranho - esse é meu nome mesmo, beleza - e que está aqui apenas para relatar esse triste e trágico conto. Mas não vamos antecipar as coisas, pois detesto spoilers e não pretendo me adiantar.
Como dito antes, a história começou no Rio de Janeiro, em 1997, quando um casal é interrompido de seu jantar ao notar que a casa deles pegava fogo, pois Cláudio Floreo, carregado de ciúmes, inveja e mágoa, provocou um incêndio naquela humilde residência. Depois das labaredas baixarem, foi conferir o estrago, na esperança de que seu plano tivesse ocorrido conforme o planejado, mas, ao adentrar os escombros, houvesse-se um choro incessante. Floreo, temeroso vai de encontro ao berreiro e se depara com uma criança com parte de seu rosto totalmente queimado, deformado pelas queimaduras; a criança chorava mas com dificuldade, pois estava muito debilitada. Horrorizado com a visão, resolve pegar o bebê e afogá-lo no rio porém é impedido pelas autoridades que depois de verem as chamas e a fumaça, vão ao socorro e, após discutir com o bispo, que o faz repensar todas as crueldades já feitas, dando-lhe a esperança de corrigir seus erros, passando a cuidar da criança como sua, Floreo concorda, contanto que a tal fique oculta da sociedade e passe a viver na Biblioteca, que está em seu nome. Batiza-a, então, de Pravus, que quer dizer aquele que possui anomalias, defeituoso, bizarro.
Vinte e quatro anos depois, Pravus é um homem exilado, feio e cheio de marcas de queimaduras que vive aprisionado entre as prateleiras de livros da Biblioteca, arrumando estantes de livros na companhia apenas de sua imaginação e da leitura. Em contrapartida, Jade é um garoto cheio de vida, carismático e de uma beleza extraordinária mas, por ter sua sexualidade considerada fora do “padrão”, é oprimido pela população pois, além de ser gay, era negro e, é claro, naquele momento, tinham a crença de que os homossexuais induziam as pessoas a cometerem atos obscenos, mas isso não o fez cessar sua curiosidade de descobrir como a Biblioteca consegue se arrumar sozinha “magicamente”. Instigado por seus instintos, entra às escondidas no estabelecimento antes que fechasse e percorre o lugar na tentativa de descobrir os mistérios, no decorrer do caminho, ouve um barulho de objetos caindo e vai de encontro ao som, que fica em uma das últimas salas, subindo a longa escadaria, e se depara com uma pessoa em cima de uma escada, arrumando os livros na estante. Ela estava coberta pela escuridão da noite mas assim que a lua aparece de trás das nuvens que a cobriam, ela ilumina o espaço e a pessoa, que na verdade era um homem, de corpo grande curvado e de feições cheias de cicatrizes e queimaduras nunca curadas, surge. Pravus se assusta com a presença de Jade e acaba por cair da escada e sai correndo, na tentativa de se esconder mas, depois de descoberto sua presença, isso seria muito difícil. Jade sai atrás dele, perguntando-lhe quem ele era, que não precisava ter medo mas, para sua surpresa, é barrado por Floreo, que nutre um ódio mas ao mesmo tempo uma obsessão pelo garoto, e o tira do lugar. Mas, para a infelicidade de Floreo, Jade consegue se desvencilhar dele e fugir, indo para a parte de trás da Biblioteca, escondido entre as colunas e por ali ficando. Entretanto, sendo observado por Pravus, que fica encantado com a beleza do menino, e com medo de Floreo voltar e machucá-lo, leva-o para dentro da propriedade em segurança.
Enquanto isso, Frederico, ou só Fred, para os mais íntimos, sobrinho e capitão da guarda a serviço de Floreo, tem de conduzir seus soldados para capturar Jade e trazê-lo para Floreo, mas o capitão sente-se atraído pelo garoto e pretende trazê-lo pacificamente.
Quando o proprietário da Biblioteca (que está apaixonado por Jade) descobre a sua fuga, procura-o por toda a cidade capturando todos os homossexuais e negros e (novamente) incendeia a cidade do Rio de Janeiro e Fred, percebendo as verdadeiras intenções do tio, recusa-se a atender as ordens do velho Cláudio e decide defender os marginalizados ao invés de executá-los. Sentindo-se traído, Floreo decide acabar com a situação e manda que os soldados matem seu sobrinho que, ao tentar fugir, é atingido por balas e deixado para morrer, fazendo Cláudio acreditar momentaneamente que o soldado morreu. Mas, por destino ou qualquer baboseira da vida, Jade, que estava com Pravus, ouve o som dos tiros e descobre que mandaram assassinar Fred e vai ao encontro do homem e o salva, que mesmo muito ferido e tendo perdido muito sangue ainda continua vivo e é levado pelo garoto com a ajuda de outro crioulo para dentro da Biblioteca para ser cuidado por Pravus. Depois disso, Jade deixa o local a fim de que Floreo não descubra que o tempo todo ele estava lá mas, infelizmente, o homem percebe uma movimentação estranha e descobre a interação entre Pravus e Jade, e captura-o.
Depois de perceber que algo estava errado e que o garoto não havia voltado, decide ir atrás de Floreo junto com Fred, que parecia ter se recuperado. Após algumas voltas, vê-se uma grande multidão abaixo de um enorme pódio usado para executar e torturar pessoas que cometeram crimes ou algo do tipo. Os dois vão ao encontro delas e perguntam a um homem o que estava acontecendo e o homem, a favor da punição e olhando feio para Pravus, diz que vão queimar um garoto negro que foi acusado de assassinar um soldado à sangue frio e depois fugir. Os dois homens ficam chocados pois não era verdade e sabiam muito bem quem estava por trás disso. Não tardaram a ver Jade ser arrastado por Floreo até o centro do pódio atado com grandes e grossas correntes de ferro. Num ato de raiva, Pravus vai para cima do senhor e o ataca, derrubando-o e soltando o garoto. A multidão se alvoroçou, pois ficaram assustados com a aparição de um “monstro” e os guardas, notando a movimentação, vão de encontro ao local mas era tarde demais, pois Pravus, carregando Jade, e Fred fogem a cavalo, aos quais roubaram de mercadores da praça, e a única coisa que encontram é o dono da Biblioteca atordoado em cima do palanque.
Então começa a caçada, os soldados atrás dos três homens, que fugiam desesperadamente para longe de toda aquela confusão, que eram liderados por ninguém menos que Cláudio Floreo. Os homens de Floreo estavam cada vez mais perto dos fugitivos e, em um ato de amor e coragem, Pravus decide atrasar os soldados. Entrega (joga) Jade para os braços de Frederico e disse:
-Leve Jade até o Porto Maravilha, o barco mais próximo vai sair às 16:00 horas. Vou fazê-los recuar. Não esperem por mim. - e ficou para trás.
Jade gritou, tentando se desvencilhar de Fred, mas o homem o impediu.
Por mais que não amasse Pravus como homem, amava-o como amigo, visto que ele o ajudou, cuidou dele, salvou-o e agora, mais uma vez, estava salvando-o; não podia deixá-lo morrer mas ele era fraco demais para conseguir resistir, apenas conseguiu gritar e chorar.
Enquanto isso, Pravus realmente conseguiu atrasar alguns dos soldados mas, porventura da vida, ficou frente a frente com, até então, seu protetor. Ele sabia da verdade: que Floreo havia matado seus pais, sempre soube, na verdade, e isso atiçou sua alma, pois queria justiça e agora o faria, defendendo a pessoa que ama e o amor dessa pessoa.
Os dois ficaram frente a frente e, sabendo que Cláudio iria jogar sujo para obter vantagem, jogou-se nele, impedindo-o de efetuar seu plano. Enforcou-o até a morte mas, infelizmente, alguns soldados que vinham atrás atiraram nele e o mataram.
Sua última lembrança foi dos lindos olhos castanhos de Jade, que eram capazes de iluminar uma cidade inteira. Por vezes se perguntou se aquele garoto era de verdade, ou apenas um sonho muito incrível, mas se fosse, não queria acordar nunca mais. Gostaria de mergulhar naquele olhar e nunca mais voltar. E foi o que fez, mas não sem antes proteger seu amado.
No fim, Jade e Fred conseguiram escapar e pegar o barco, tudo graças ao Pravus, que atrasou os soldados. Mas mesmo assim, Jade não conseguia aceitar porque o outro o deixou. Podiam ter sido felizes, não? Não entendia, de verdade.
-O amor é assim, - disse Frederico - cometemos loucuras por ele. E quando a gente ama, queremos ver o nosso amado feliz. Ele te salvou para que pudesse ser feliz, Jade, para que pudesse viver a vida que você merece. Dar a você a chance que Pravus nunca teve. Vamos fazer isso valer a pena, certo?
O garoto concordou, apesar de sentir um aperto em seu coração.
E o fim, nós já conhecemos, e apesar de não ter terminado tão bem assim, digo que foi regado de amor, sim. Jade foi feliz, Fred foi feliz e Pravus, também foi feliz, pois, apesar de toda a dor, todo o preconceito, conheceu alguém que lhe causou o efeito de... amar.
Fim.
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Atualizado em: Qui 28 Out 2021

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