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FICA NAS GALAXIAS!

O sequestro das palavras e o rapto do bom senso.
A triste realidade de um povo que destruiu o próprio glossário e ficou preso na fase genital.
 
Sonhei com um mundo perverso em que parte das pessoas tornou-se burra e preguiçosa o bastante a ponto de transformarem adjetivos, substantivos e até sentenças complexas em referências anais e genitais para descreverem a abundância de coisas à sua volta.
Sentimentos, emoções e termos abstratos também foram subjugados por referências fálicas.
A magia das coisas se perdeu.
Os poetas estavam mortos, os escritores adoecidos e as letras das músicas, quando não faziam referência a quicar, sentar e rebolar, falavam em trair, cornear ou se “dar bem” partindo a confiança de outrem. 
A fala criativa, propensa ao raciocínio e à lógica, foi substituída por termos jocosos que descreviam membros masculinos e femininos (de si próprios e dos outros).
Até o místico, o religioso e o sagrado, em profanação cantada, foram traduzidos por imundícies, expressões grotescas de coito e perversões do corpo e natureza humana.
A pipoquinha já não era mais um doce infantil.
Tão pouco vinha salgada ou amanteigada, como de costume.
Ela parecia querer cobrir-se de fluidos não convencionais enquanto citava palavras de baixo calão em doses repetitivas.
Impropérios contra si mesma e contra "outros doces" eram deferidos na mesma dose, enquanto agitava nos "caldeirões". 
Nesse mundo caótico, com vocabulário reduzido e cognição comprometida, a semiótica periférica saiu das sombras e ganhou espaço nos veículos de comunicação em massa.
Para obter sucesso, fama e fortuna, até alguns deuses “desceram do olimpo” para “quicar” com seus súditos, aos ritmos ocos dos pancadões.
Entre uma “rachadura” e outra, esta gente levou à falência milhares de anos de evolução da semântica de nossa espécie.
De tanto citar os orifícios como métrica padrão, o léxico de alguns tornara-se parecido com aquilo que essas frestas expelem.
Suspeita-se que o hálito dessas criaturas esteja de igual modo comprometido.
Lamentável!
Se as palavras faltavam para descrever algo, usavam-se "menções roliças" como sinônimo ao invés de buscarem um par em um bom dicionário.
Se a audiência estava em baixa, nada melhor que a decadente comunicação para atrair um público suscetível a qualquer tipo de manipulação e propósito.
Enquanto uns enchiam os ouvidos com obscenidades, outros as diziam de bom grado, pois era tudo o que possuíam em seus arcabouços.
A retroalimentação do "sucesso", como eles pensavam.
Nada de complexo valia a pena, pois a alma de muitos havia se tornado pequena.
Desse modo, o bom, o belo e o agradável eram descritos como pi-ca.
O exuberante, o estupendo e o magnífico também tornaram-se p-ica.
O forte, o potente e o encantador já não existia: em pic-a se tornou!
A beleza dos céus, o verde das florestas e a noite estrelada se foram. 
A pi-cah tomou os seus lugares!
Esse mal se alastrou e ocupou várias trends.
Humoristas com ares de retardados preferiam a pi-cka em seus roteiros a fim de parecer mais engraçado.
Perdeu-se o brilho da dedução ao “elucidar” uma piada.
Era só dizer a p-ca em qualquer circunstância que todos riam.
A “humorista estourada” não tirava a “bochecha” da boca.
Sentia-se a deusa do humor ao menosprezar-se ou referir-se às suas páreas com igual desdém.
Os “trutas” e os manos de “QI invejável", também preferiam a linguagem fálica para selar “o impacto de suas profundas conclusões”.
Um pode e outro pah!
Só não deve agir com polidez para não perder o brilho do programa.
Afinal, não se atrai varejeiras usando o cheiro das rosas!
Estupefaciente!
Já não sei onde está O É desta Coisa”!
Em angústia profunda, chamei por alguns renomados polímatas.
—Salvai-nos, por favor, todos vós zeladores da gramática, da retórica e do pensar congruente.
—Tio Rei, enviai-nos o Villa para que, junto aos Karnais, possamos nos defender dos puramente carnais.
Penso que, "de Barros", alguns deveriam encher-se até que o caminho para a própria existência fosse encontrado.
—Sir Jacques de Molay! Onde estás?
Já não se referem ao sagrado feminino com tanta elegância e discrição quanto em vossa época.
O Santo Graal agora chama-se: rachada, perereca e perseguida.
E sem nenhum pudor, perguntam cantando: tu cheira?
Se a resposta não for tão baixa quanto a pergunta, jamais podereis entrar nessa nova ordem de toupeiras.
Já não há mais honra nas atuais cruzadas.
Se com 2 ou 100 pessoas desnudas de uma só vez, isso não importa!
Cavalgando os corpos um dos outros, estes buscam prazeres que só podem ser alcançados pela Alquimia de Almas, ao invés de uma pura e simples fricção de corpos.
A terra santa agora pode ser invadida por todo e qualquer um que possa pagar pelo “trabalho” daquelas que vendem falsos amores.
Até os mendigos têm mais sorte em cortejar uma "donzela" atual do que um nobre cavaleiro de vosso tempo.
Com “uma mão no carinho e a outra no volante”, a caça vem direto ao caçador por “iluminação divina”.
Depois é só narrar tais “feitos épicos” em diferentes perfis de redes sociais e ver chover dinheiro.
Sem honra, ética, sem pudor!
Não há mais sigilos nos signos e os encantos das formas foram quebrados.
Os trouxas, os infames e os ignóbeis profanaram os lugares santificados.
A dissimulação se perdeu e já não se tentam transmutar metais em ouro fino.
Transformar homens em bestas irracionais e mulheres em fêmeas eternamente no cio:
Este parece ser a maior conquista daqueles, cuja sensatez já não existe!
Acordei do sono e logo voltei a dormir.
Mais uma vez me vi rodeado de artistas, cujo faturamento principal vinha das próprias nádegas.
Esse parecia ser o único talento que possuíam e, em torno desse peso, sacramentos, procissões e liturgias eram organizados com frequência em louvor de tanta "abundância".
Até a nossa atual Garibaldi não é apenas heroína de dois mundos, mas sim de vários!
Duzentos anos depois, e a sua luta agora é nos países baixos, segundo suas próprias cantorias.
Outra vez, me vi apelando aos antigos:
— Salvem-nos Caetano, Chico e Betânia.
— Tragam-me já uma Roupa Nova!
Só Pra Contrariar, o “novo Edson Gomes” já não fala de Jah nem da saga dos negros em busca de sua própria liberdade.
Antes, sim, este atual ilustre, vale-se da força de sua comunicação apenas para recomendar o uso de um achocolatado em detrimento de outro.
— Acudam-nos Allan Poe, Monteiro Lobato e Sir Shakespeare!
Se não encontro o Machado de Assis, lutarei com minhas próprias mãos para te defender dos Moinhos de Vento, 
— Óh, minha adorável Dulcineia!
Trocaram as Mil e Uma Noites por milhares de podcasts e a nossa Xerazade também foi silenciada.
O nosso atual “mundo de robôs” não é o mesmo descrito pelo futurista Asimov.
Estes apenas repetem tudo o que os “mitos” e os “mulas” dizem e, como lobotomizados, rezam para pneus, depredam patrimônio público e defendem o indefensável!
A inteligência artificial não nos é mais um temor.
A burrice natural de alguns é que não deve ser subestimada, pois se mostrou mais desastrosa que uma revolução cibernética.
Pergunto-me então:
— Qual foi o meu Crime e o porquê desse meu Castigo?
— Por que minha geração ficou presa em sua fase genital?
Chamem o Dostoiésvski e os Irmãos Karamazov.
Sinto-me O Idiota.
Às vezes digo em silêncio:
— Vou me embora para Pasárgada, pois lá serei amigo do rei!
Então me dou conta de que o rei estava nu.
Um sexagenário abobalhado, que, preso em sua fase anal, divertia sua claque com piadas de c*!
Se No Meio do Caminho havia uma Pedra, ela não desperta mais interesse algum, pois os viciados a fumaram e os “anarquistas” usaram-na para depredar instituições públicas de ensino superior.
Desse modo, ao invés de atentarem às leis da conservação da massa ou energia, seguirão a lei da manutenção da estupidez e das limitações da criatividade e do caráter humano.
A Fenda do Bikini já não era um termo inocente, desprovido de investigação vocabular.
Antes, sim, este local tornou-se um ambiente inóspito, onde se depositavam com frequência e de modo indiscriminado, as sementes do acaso, depois de um flerte regado a drogas, álcool e outros “ócios do ofício”, nesses casos, do Job mesmo!
As interações humanas também receberam novos significados.
Um simples bom dia para um desconhecido num chat privado (por exemplo), podia ser retribuído com uma chuva de imagens fálicas de diversas cores e tamanhos diferentes.
Demonstrar em público gentileza, educação e polidez, quando não associado a “viadagem”, eram facilmente interpretados como vindos de alguém querendo comer ou ser comido?
Dá para imaginar?
Nesse meu sonho, vi antigos egípcios, celtas, hindus e babilônios se revirando em seus túmulos ao “saberem” como insignias sagrados foram bestializados por uma geração que não tira o falo da boca enquanto rodam em círculos cheirando o próprio rabo como se fossem cães.
Amantes das “festas brancas” que transformam ritmos, cores, sabores e sensações em perversões hediondas e criminosas de dimensões globais.
Usar e abusar; jogar fora; desprezar; denegrir e diminuir os próprios semelhantes.
Acho que esta seria a melhor expressão para descrever o sentido literal das falas daqueles que trocam a magia e riqueza das palavras por meras referências sujas.
Ao despertar, agradeci por ser apenas um sonho.
Já pensou se tudo isso fosse real?
A única coisa que considero mais suja que palavras de baixo calão é o “nome santo”, usado por vigaristas para surrupiar o dinheiro do pobre, incauto e ignorante.
Ainda bem que isso também não existe!
Sendo assim, eu jamais sonharia ou discorreria sobre algo assim. Não é mesmo?
Tomara que não...
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Atualizado em: Seg 10 Fev 2025

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