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VI MINHA MÃE

     Ouço um pequeno ruído no portão. Duas horas da tarde. 22 de julho de 2023. Um friozinho tomava conta do ambiente. Mas o sol estava radiante. Adivinhe quem chega a minha casa? Mamãe. Ela mesma. Não podia acreditar. De vestidinho branco, contendo, desenhadas, discretas flores vermelhas e amarelas. Cabelos brancos, bem penteados. Não estava de óculos. Ela mesma... Como poderia ela estar chegando se já havia 16 anos que tinha ido embora?
     Imediatamente abri o portão e, com a mão em seus ombros, conduzi-a até a sala, e pedi que se sentasse. Eu estava sozinho. Gritei minha esposa que se achava no quintal para que pudesse ver com seus próprios olhos quem acabara de chegar. Com um abraço cheio de emoção minha esposa, Fátima, recebeu minha mãe com carinho e afeto. Em seguida, meio ansioso, fui logo buscar um diálogo com a pessoa que mais amei nesse mundo.
     Oi, mamãe! Que surpresa boa! Nem imaginava que pudesse aparecer aqui. Com os olhos molhados, dou outro abraço apertado em minha mãezinha. Ela veio mesmo... Falei o quanto estava sentindo saudade dela e do papai.
     Mamãe foi logo me dizendo. Ô Luiz, como é bom ver você, meu filho. Estava aflita para te ver. Abraça-me aqui de novo, bem apertado, meu filho! Quero que me fale de todos. Primeiramente de meus outros filhos: o Zezé, o Nini, o Geraldo, o Marinho, a Aparecida. Não me esqueço de vocês, mas estou feliz. Junto com seu pai, estamos num lugar muito tranquilo. Deus reservou para nós uma morada na qual a vida é muito diferente. Sem sofrimento, sem doenças, sem dor... sem amarguras. Deus está conosco o tempo todo. Com Jesus em nossa companhia, somente há paz e harmonia. Nossa Senhora é nossa companheira inseparável. Não existe noite no paraíso. Há uma luz intensa.
     Luiz, agora me fale sobre seus meninos: o Adriano, o Gustavo, o Marcelo... Como eles estão? Respondo: - Mãe, estão bem, graças a Deus. Eles estão caminhando. Cada um cuidando de seus afazeres. O Luigi tem o Luiginho, que a senhora conheceu. O Gustavo, quatro filhos: o Gustavinho, a Marcella, o João Pedro e o Luiz Henrique. Do Gustavo, somente o Gustavinho a senhora conheceu. O Marcelo tem o Bento, já com seis anos. Quando a senhora nos deixou havia apenas dois bisnetos daqui de casa: o Gustavinho, hoje com vinte e quatro anos e o Luiginho, com vinte e um anos.
     Naquele instante, sussurrei algumas palavras nos ouvidos de mamãe. Pedi a ela que intercedesse sempre em favor de meus filhos. Não foi egoísmo de minha parte. Achei que aquele momento estava propício para isso.
     Perguntei: - Mamãe, a senhora vai ficar aqui alguns dias conosco? Ela, carinhosamente, passando as mãos em meu rosto, me diz: Não, Luiz, eu dei uma fugidinha lá do céu para vir aqui apenas por um pequeno instante. Tenho que voltar. Vamos conversar um pouco mais. Vou ter que ir embora daqui. Naquele instante meus olhos se inundaram de lágrimas. Olhando para mamãe, pude ver que ela chorava também. De seus olhos, cheios de um brilho inexplicável, carregado de uma ternura imensa, senti que irradiava um amor grande e verdadeiro. Conversamos durante mais alguns minutos. Falei com ela como fora difícil a despedida dela aqui da terra... seus últimos momentos no hospital, lá do bairro Vila da Serra, o Biocor. Disse a ela que sentimos uma tristeza enorme quando tivemos que levá-la à sepultura no Jardim das Rosas, lá no Cemitério da Colina. Foi numa tarde do dia 30 de janeiro de 2007. Havia chovido muito e o céu estava nublado. Muitas pessoas estavam naquele momento, disse-lhe. Ela se emocionou ouvindo tudo isso.
     Mamãe conversava comigo como aquele mesmo jeitinho amoroso e tranquilo. Senti que estava feliz. Ela me passava muita segurança e me trouxe carinhosamente palavras de conforto e sabedoria. Disse-me que não temesse a morte. Calmamente foi me dizendo que o “dia da morte” é realmente muito difícil. No entanto, a chegada ao paraíso e o encontro com o Pai Celestial superavam toda e qualquer tristeza da despedida. Falou-me com clareza que seu espírito estava tranquilo. Sua alma estava repousando em plena paz e harmonia.
     Claro que não poderia deixar mamãe ir embora sem fazer-lhe muitas indagações sobre o papai. Ela me respondeu calmamente: - Fiquem tranquilos. Seu pai, uma pessoa que somente soube fazer o bem, um homem bom, humilde e despojado... Por isso foi recompensado. Seu espírito está em paz. Não falei com ele que viria aqui. Certamente deve estar lá em cima procurando por mim. Se Papai do Céu permitir, vou convencê-lo a vir aqui para conversar um pouco com você e matar a saudade. Vivemos em harmonia, como lhe disse, meu filho. Não se preocupe.
     Depois de receber mamãe e conversar com ela por um tempo indeterminado, ouço a campainha tocar. Meio assustado, percebo que estava deitado em minha cama. Abro preguiçosamente os olhos e percebo que tudo o que narrei aqui se tratava apenas de um sonho. Um sonho que me trouxe saudade e sublimes recordações de minha mamãe que, em 29 de janeiro de 2007, partiu em direção à casa do Pai.
LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
 
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Atualizado em: Qui 3 Out 2024

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