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O triste fim de um casamento próspero

Fazia um dia lindo, o sol insistia em se fazer presente, mas sem queimar a pele daqueles que queriam admirá-lo. Miriam, em sua caminhada matinal, refletia sobre os ocorridos do dia anterior. Ela era uma mulher de meia-idade bem resolvida com a vida, havia crescido em uma família próspera e afetuosa. Talvez estivesse colhendo os frutos de uma vida passada regrada por muita compaixão e bondade de sua parte. 
Na noite anterior, esteve presente no casamento de um amigo também jornalista, era um dia igualmente belo. Se não fosse pelo detalhe da noiva ser 20 anos mais jovem que o noivo e de ter fugido. Sem a presença da noiva, naturalmente o casamento foi cancelado. Foi um dia de fortes emoções, mas mal sabia o público que o pior ainda estava por vir. 
A cerimônia foi realizada na França, num antigo château dos pais da jovem. O local estava cheio de empresários, magnatas, herdeiros e belos vestidos. Não havia sequer um resquício de penúria, a não ser o jardim afastado a cerca de 1 km do edifício, ninguém ousava se aproximar, o local era cercado por lendas e histórias macabras, era a parte feia no meio de tanta beleza, luxo e prosperidade. 
A única pessoa que ousava se aproximar era Vane, a jovem noiva. A menina de fato gostava do lugar, mesmo sendo descuidado e selvagem, dizia que a fazia lembrar de seu falecido avô, de quem tanto se afeiçoava. 
É chegado o grande momento, havia muitas expectativas para a entrada da bela noiva. Todos de pé, começa a marcha nupcial e lentamente a noiva se aproxima em seu lindo vestido branco e calda tão luxuosa como a sua própria beleza. O noivo sorri. Já na metade do caminho, uma estranha movimentação começa a tomar forma. 
Vane estava aparentemente muito perturbada, um fio vermelho escarlate começa a escorrer em seus sapatos. Constrangida, a noiva sai correndo, deixando marcas e gotas de sangue pelo caminho. O noivo a persegue, sem sucesso. Os pais sabiam para onde ela tinha ido, todos sabiam. Então, como em uma procissão eufórica não habitual daquela classe, um numeroso grupo segue em direção ao jardim. Curiosamente, o jardim denominava-se jardin du désespoir, a própria Vane havia se encarregado de dar-lhe este nome. 
Miriam, como todo bom jornalista, impulsionada pela curiosidade, liderava o grupo. Ao chegar ao local, vê-se uma cena terrivelmente perturbadora. A menina estava deitada como que em sono profundo, suas mãos estavam cheias de papoilas, flores lindas, amarelas, brancas, vermelhas, um sortido magnífico.
Ao aproximar-se, a jornalista percebe a boca de Vane cheia de papoilas, todos, simultaneamente, se apavoram. O noivo, em profunda aflição, ergue a jovem nos seus braços, a cena a seguir consegue ser ainda mais bizarra. A parte de trás do vestido estava completamente encharcada de sangue. Uma melancolia se instala pelo ambiente e o curioso público é mandado embora.
Miriam, como também tia da noiva, resolve ficar. Passam-se horas e a desgraça se conclui. Vane estava morta e havia deixado um bilhete. 
O bilhete continha detalhes sórdidos de tudo que a menina havia passado com o avô, homem com um histórico límpido, conhecido pela sua bondade e generosidade. Sua única neta havia conhecido o inferno com apenas seis anos. A jovem carregava marcas profundas em sua alma e esperou o grande dia do casamento para dar fim a todo seu sofrimento. De um jeito muito grotesco, a jovem amava o nefasto avô e deixava claro em seu bilhete. 
O jardim do desespero era frequentemente visitado pela jovem, ninguém entendia o porquê, agora todos, ou pelo menos os mais próximos, sabiam. Obviamente, toda a história foi guardada debaixo de sete chaves, restou apenas a perversão da maldade do homem marcada em cada coração presente no trágico dia.
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Atualizado em: Sex 15 Mar 2024

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