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Inexistentes
Entre muros, escondido, andando sorrateiramente. Os olhos atentos, os ouvidos prestando atenção ao menor ruído possível, solidão. O barulho dos motores, a fumaça dos cigarros e os dedos finos de mãos sujas, de crianças abandonadas, moradores de rua. Jogadas a sorte, azaradas, maltratadas, mal dormidas, desnutridas, desgraçadas.
Lanternas de carros, buzinas, pé na tábua, mais uma pessoa é atropelada. Rebuliço. Era um menino, que surgiu correndo, de rosto sujo, roupa rasgada, de barriga roncando, de olhos fundos.
Pecado das ruas, das noites de silêncio e barulho de músicas mal tocadas, de copos jogados na sarjeta, de bitucas apagadas, pisadas, por pés de sapatos desamarrados, sujos. Polícia passa, não faz nada. Parece que tudo não é nada e nada não é tudo, invisíveis.
E começa mais um dia, com o sol batendo na cara, com vento varrendo tudo, inclusive a dignidade, pouca, louca, insanidade, cidade perdida, coragem. Nas calçadas, nas agências bancarias, nas portas dos comércios, tem gente dormindo. Crianças, mulheres, homens e velhos. Rostos sem sorrisos, barrigas com fome, mãos que pedem, suplicam, imploram. No peito um só desejo, uma casa, uma família, um prato cheio, o coração e a alma livre.
Nas ruas é uma batalha por dia, na verdade são varias. Luta-se pela vida, por comida, por espaço, por atenção e até por um abraço desconhecido. Carentes, de sorrisos inexistentes...
Atualizado em: Seg 24 Ago 2020