- Literatura - Contos
- Postado em
Cacos de Vidro
A noite paira sobre as tão cansadas cabeças cheias de preocupações, alegrias, tristezas e temores e sobre os corpos exaustos do dia e que mesmo após um banho quente ainda possui em si o suor da labuta.
Na noite o vento sopra, sacode as folhas das árvores ao mesmo tempo que assovia sua melodia aguda que causa calafrios nas crianças e as faz temer as batidas repetidas nas janelas de seus quartos. Toc, Toc, Toc. A pouca luz que adentra seus aposentos torna seu reconfortante ursinho de pelúcia em um monstro com dentes afiados. E o som continua. Toc, Toc, Toc.
Pobre criança, puxa seu cobertor contra seu rosto em uma tentativa vã de se sentir segura contra os terrores noturnos que a cercam. Papai não está e mamãe dorme e o som continua. Toc, Toc, Toc.
O que antes era um assoviar agudo e distante torna-se em uma verdadeira ópera perfeitamente executada por Banshees, malditos fantasmas que sob a luz do luar cantam a insônia. Os fantasmas cantam e o som acelera. Toc, Toc, Toc, Toc, Toc...
Crash, o som cessa, os cacos se espalham, a luz neles se reflete e se apaga, o cobertor é puxado, os fantasmas se calam, tudo está em silêncio.
Orbes grandes e vermelhos surgem, levantando-se frente a cama a dois metros do chão. A luz volta, as banshees cantam novamente e a criatura sorri, seu corpo é formado pelos cacos da janela quebrada, seu corpo é negro, seu sorriso branco e seus olhos vermelhos.
Os fantasmas cantam, o quarto está vermelho, a sombra está saciada.
Atualizado em: Ter 18 Fev 2020