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Sentimento Plantado

Eu não sei se isso acontece com muitas pessoas. Talvez você ache que o que eu irei falar é uma fraqueza de caráter. Ou, quem sabe, você ache que é uma desculpa minha para não aceitar a primeira vez que meu coração foi quebrado. Talvez você entenda as palavras escritas neste conto e verá que você não foi o (a) único (a). De qualquer forma, tudo que está escrito é verdade. E eu não fui o único a sentir isso.
   Tudo começou tão inocentemente, tão natural, que eu nem desconfiei. Eu tinha quinze anos e nunca tinha gostado, verdadeiramente, de uma garota. Como muitos meninos da minha geração, eu já havia ficado com meninas, e tive até um breve relacionamento, que não foi bom, mas, nenhuma, nunca, fisgou meu coração. E, um lado meu, não queria se apaixonar. Se alguém me perguntasse:
   - Garoto, você não quer namorar uma menina?
   Eu responderia:
   - Olha, eu quero... Mas quando eu for mais velho.
   Eu tinha motivos para achar isso. Eu tinha que focar nos estudos (eu nunca foquei muito, mas era uma das melhores desculpas que eu tinha). Ou, eu queria aproveitar minha solteirice. Hoje, eu não sou muito mais velho do que naquele tempo, entretanto, vejo que foi um erro dizer essas coisas.
   Eu tinha uma melhor amiga. O nome dela era Daniela. Nós éramos amigos desde o sétimo ano, ou sexta série. Naquela época, eu achava que nossa amizade seria eterna. Eu não sabia ainda, porém, eu iria aprender a primeira lição sobre sentimentos.
   Alguns meses antes do final do ensino fundamental, Dani veio me comunicar que, ao final daquele ano, a família dela iria se mudar para Fortaleza. Como éramos filhos de militar, e trocar constantemente de estado é uma rotina para quem serve ao Exército, eu sabia que, nós não íamos ficar juntos. Por uma semana, a ideia de não ter as conversas diárias com ela me deprimiu, mas, não por muito tempo.
   Os meses se passaram e chegamos a formatura do Ensino Fundamental, a ultima vez que eu vi Daniela.
   A festa foi muito boa. Eu e alguns amigos nerds dançamos, o que era completamente estranho a nós. Dançar era algo impensável para nós. Daquele grupo de seis amigos, apenas dois não tinham problemas para falar com garotas. Para provar isto, apenas eu e Fernando dançamos a valsa com garotas que além das nossas mães, ou irmãs. Eu com Daniela, e Nando com a então namorada.
    O final da festa chegou. Daniela despediu-se de parte dos amigos. Sobrou eu e Leonardo. Eu já estava pensando no que falar para Dani, quando ela me puxou de lado.
   - Preciso falar com você. Eu preciso da sua ajuda. – Daniela disse.
   Eu fiquei curioso e respondi:
   - OK. Posso tentar.
   - Eu gosto do Leonardo. É a minha ultima noite em Brasília e eu queria ficar com ele.
   Eu pensei um pouco e aceitei ajudá-la.
   Enquanto eu tentava convencer Leo, eu comecei a pensar em minha cabeça porque Daniela gostava dele. Para falar a verdade, neste exato momento em que escrevo, eu me pergunto porque ela gostou dele. Assim como a Ana, como a Natasha... Leonardo é muito inteligente, mas é magricela, branco como pipoca,e estranho. Leitor, eu sei que você está achando que estou com inveja dele, entretanto, eu digo: “Não, estou intrigado” Eu não vejo muitos motivos para apaixonar-se por ele.
   Uma segunda coisa me vem a cabeça, agora que parei para pensar. Se eu fosse um pouco mais maduro, eu veria a besteira que eu estava fazendo. Sério, eu estava tentando arrumar minha melhor amiga. Facil assim. Bizarro. Será que muitos caras fazem isso?
    Leonardo não ficou com Daniela. Ela, provavelmente, chorou na casa dela, ou não. Só sei que aquela noite foi a ultima vez que eu a vi.
   Virou o ano, e muitas coisas mudaram com a ida dela para Fortaleza. 2014 trouxe novas pessoas, como a minha atual melhor amiga, mas também, responsabilidades, planos e etc. E, claro, trouxe uma saudade inexplicável da Daniela.
   Na verdade, eu lembro o dia em que eu comecei a sentir saudades dela. Minha irmã forçou-me a assistir um filme chamado “Simplesmente acontece”. Um romance meio bobo que conta a historia dos jovens britânicos Rosie e Alex são amigos inseparáveis desde a infância, experimentando juntos os problemas amorosos, familiares e escolares. Embora exista uma atração entre eles, os dois mantêm a amizade acima de tudo. Um dia, Alex decide aceitar um convite para estudar Medicina em Harvard, nos Estados Unidos. A distância entre eles faz com que nasçam os primeiros segredos, enquanto cada um encontra outros namorados e namoradas. Mas o destino continua atraindo Rosie e Alex um ao outro.
   E é aí que nasce a minha teoria do Sentimento Plantado.
   Depois de alguns dias, eu comecei a imaginar situações com a Daniela. Tudo começou com um simples beijinho. Eu pensava que não tinha problemas porque eu seria mais maduro que os personagens do filme. Antes que eu pudesse perceber, eu imaginei nós dois em um encontro, em um barraquinha perto do Cristo Redentor.
   Ao receber as mensagens da Daniela, pelo Whatsapp, eu abria um sorriso e, de uma maneira muito estranha, eu conseguia ler a mensagem imaginando a voz dela. Agora que escrevo isso, imagino meu eu de quinze anos, sentado no sofá com um sorriso bobo no rosto, e eu atualmente, apoiado na parede e olhando para a versão mais jovem, pensando na besteira que estava fazendo. Estão sentindo este cheiro no ar? É cheiro de merda.
   Eu vou parar a narrativa agora para conceituar sentimento plantado.
   Sentimento plantado é quando algo ou alguém, uma pessoa próxima ou não, te diz que ou você está apaixonado, ou você está com raiva. Você acredita e, de repente, você começa a olhar diferente para alguma menina ou você fica irritado, por exemplo.  O pior é que, quando você toma isso como uma verdade, você começa, de fato, a estar apaixonado. Aí, leitores, vocês estarão lascados, assim como o meu eu de quinze anos.
    Voltando à minha primeira decepção amorosa. Daniela veio para Brasilia em julho, que, coincidentemente, é o mês do meu aniversário. Já estava tudo combinado. O plano era perfeito. Chamaria nossos amigos para comemorar o aniversario. Iríamos nos divertir e, no fim da noite, eu ficaria com ela. Plano infalível...
   Mas, infelizmente, falhou.
   Daniela estava na casa de uma amiga, que não podia levá-la para festa, ou, pelo menos, foi o que a minha paixão disse. Eu acreditei. Comemorei o aniversario sem ela, esperando que ela fosse, no mínimo, me desejar um feliz aniversário. Eu fiquei somente na espera.
   Este foi o segundo sinal do destino para eu desistir dela. O primeiro foi, obviamente, ela pedir para eu ajudá-la a ficar com o Leo.
   A meia-noite foi, passou e o meu aniversário foi junto. Decepcionado, resolvi entrar no Facebook. Depois de ver algumas coisas que eu não lembro o que era,, eu vi uma foto da Daniela. Ela estava numa boate, com as amigas dela. Eu disse em voz baixa:
   - Talvez seja uma foto de outro dia.
    Alguma voz, muito inteligente, sussurrou na minha mente:
   - Veja a foto.
   Lá fui eu, crente que não encontraria nada, porém, não demorou muito para o terceiro sinal aparecer. No canto inferior direito da foto tinha uma data e uma hora:
   “06/07/2014 – 23h39”
   Sim. A minha melhor amiga preferiu ir numa boate ao meu aniversário. Este era o terceiro sinal. O sinal que dizia: “Ei! Não vai dar certo! Desista!” e...
   Claro que eu ignorei.
   Chamei-a para assistir um filme, “A culpa é das estrelas”. Minha ultima chance. Eu tinha que fazer valer. Mandei mensagem para ela, convidando-a, e recebi a resposta:
   - Não vai dar. Já topei de assistir com as minhas amigas.
   Quarto sinal: Ignorado, como os outros.
    Restou-me fazer a ultima besteira. Na véspera do retorno dela, comecei a conversar com ela. Pensei que, talvez, se eu falasse que eu amava-a, ela falaria que me amava e em dezembro, talvez nos tivéssemos uma chance. (CARA! QUE RAIVA DE MIM!)
     Por mensagem, a minha boca ficou seca, e o calor apareceu. Eu suava frio enquanto eu escrevia: “Eu te amo.” Respirei fundo e, graças aos três segundos de coragem, apertei enviar.
    Daniela estava digitando. Agora o tsunami chegará à costa.
    A mensagem chegou:
   - Hum.
   Um “não” pode machucar, e muito, uma pessoa. Mas pelo menos é algo definitivo. Agora, o “hum”... Ele mata, corrói, quebra, envenena, polui, destrói, e faz coisas piores com vocês. O que raios “hum” significa? Foda-se? Talvez.
   E com esta resposta, cheia de significados, eu perdi uma amiga, a esperança, e a piada. Eu lembro que depois disso, com o coração quebrado e lagrimas descendo, eu continuei a vida.
   Hoje eu não sei o que aconteceu com a Daniela. Ela me perguntou, quase um ano depois, porque eu parei de falar com ela. A vingança foi simples e curta, como uma faca com dificuldades de cortar a carne. Com muita lerdeza, respondi:
   - Hum.
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Atualizado em: Sex 29 Set 2017

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