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Fluidez

“Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”. Zygmunt Bauman
Soa estranho a essa geração falar de fluidez social, pois já nasceram nesse ritmo, mas é de causar inquietação nas gerações passadas. Entretanto, a percepção do momento ainda é um desafio para uma ou para outra.
O presente é um momento de transição, sempre foi, mas, aparentemente, torna-se cada vez mais curto.
Despretensiosamente, incutem na mente social um desejo de mudança, e ainda dizem o local de chegada, só não informam que o porto é itinerante.
Retiram correntes visíveis e doutrinadoras, mas apenas as trocam por outras mais eficazes, aquelas que podemos carregar sem percebê-las, pois o algoz não tem mais um lugar fixo. Levam-nos a acreditar em uma pseudoliberdade. Somos livres escravos.
Sorria, você está sendo filmado. Trocamos a identidade de grupo por uma imposição global, enquanto nos julgamos originais, livres.
"Não há outra saída. Somos envolvidos pelo pensamento do querer e ensinados a achar que podemos ou que temos livre escolha. Aprendemos a brigar pelo bom, pelo gostoso, pelo irrelevante a vida, enquanto desvirtua-se o dom do discernimento entre salutar e supérfluo. Valorizamos o que é bom e abandonamos o que faz bem. Abraçamos o já obsoleto". Jailton Silva. "Não há outra saída. Somos... Jailton Silva - Pensador
 Somos impulsionados a viver como as pessoas do mito da caverna de Platão, visualizando sombras, mas sempre achando que somos originais, que dominamos. Aprendemos a valorizar a beleza do vaso em detrimento de seu conteúdo, porque somos guiados e vigiados como ovelhas para o matadouro.
Tudo é mais fácil, mais leve, sem vínculos, mas também instantâneo e ultrapassado.
Os pensamentos, os valores e as ideias de mundo acompanham as transformações, e enquanto para uns é natural, para outros são dificuldades que precisam ser superadas, todavia, em nenhum dos casos é algo voluntário.
Essa demanda pode incluir as agruras vividas por pessoas mais idosas, às quais presenciam as mudanças pelas quais passa o mundo. Pessoas (homens e mulheres), por exemplo, que nasceram em uma época onde os papéis na convivência eram bem definidos, porém hoje, encontram-se deslocados, como um jovem em seu primeiro emprego, desajustado.
Como está a mente de um homem nascido até a década de 60, em relação às mudanças, visto que, em sua época, o homem entendia que precisava carregar o mundo nos ombros (assim era educado), e hoje, convive com ideologias que permitem frases que questionam o seu valor, seja na sociedade ou na família, seu ponto forte.
A autoridade mantida pelos pais, atualmente é medida e ditada pelos governos, os quais criam regras que podem ser sugeridas até mesmo por alguns que nunca tiveram filhos. Famílias que anteriormente sabiam o que era melhor para suas crias, hoje oprimidas pelo sistema ideológico e econômico, ainda são culpadas pelas consequências que castigam a todo o grupo, todavia, uma vez ressaltadas essas deficiências em seus filhos, os culpados são eles, os pais.
Para aqueles que o sistema permitiu uma aproximação do mundo escolar, um alívio e até concordância com as transformações trazidas pela modernidade, mas, para os que viveram sob o jugo do trabalho mal remunerado e sem chances, isso, quando era remunerado, a acusação de machismo, violência, e, em se tratando do sexo feminino até subserviência.
Esses excluídos pelo próprio sistema, vítimas de todas as necessidades trazidas pelo mundo do capital globalizado, o qual provoca danos por vezes irreparáveis, que também salienta as diferenças que caracterizam a existência humana, desde homem/mulher, pobre/rico, patrão/empregado, escolhas e predisposições biológicas, apresentando-as como desigualdades e os colocando como antagonistas, sem a chance de perceber que todos estão sob o mesmo jugo, o jugo das ideologias que dizem libertar. Até mesmo quando essas dizem estar a serviço das ditas minorias, moldam as categorias e usam suas causas em benefício do próprio dominador.
O esquema de opressão alimenta-se da eterna luta de classes, mas culpam os já citados marginalizados. É a família que não educa seus filhos, é o macho que quer exterminar o feminino, ou o hetero que não suporta conviver com homoafetivos, ou o rico que tira do pobre, na visão imposta ao pobre.
Simples assim!! Não há mais nada a discutir, será?
O núcleo familiar já não é gerado pela união de um homem e uma mulher, hoje, dois homens, ou duas mulheres podem ter filhos, pois agora, pai é quem cria. Diferente de uma era em que se dizia tal pai tal filho, e ou, você é filho de quem.
Como está o psicológico do homem que viveu como centro do mundo, da família e na atualidade, vê seu espaço questionado e aquilo que o social e religioso pregava como sagrado lhe é retirado?
Na contemporaneidade, há uma busca pautada em uma necessidade por valorizar o gênero feminino, mas para isso, o sistema busca um culpado e apresenta o sexo oposto como opressor, transformando a relação entre ambos em mais um campo que precisa ser doutrinado por leis, todavia, se analisarmos um pouco mais de perto, pode não ser pela promoção das mulheres.
Na contemporaneidade os benefícios que chegam à família estão sempre em nome da mulher. A violência no mundo é crescente, um aumento do esfriamento social, a ausência de demonstração de carinho entre todos os humanos é notória, mas, se a violência for do homem contra a mulher, isso vai além do visto, é Fe-mi-ni-cí-di-o. É o homem querendo exterminar o sexo oposto, como assim?
Historicamente quem consegue dominar o homem, senão uma mulher? Por que na atualidade “transformaram-se em inimigos”, como cão e gato?
A partir de que momento o homem abriu mão da mulher como companheira, amiga, confidente, ponto relevante de sua própria felicidade? Entretanto, não podemos deixar de salientar que cresce o número de violência entre homens e mulheres, mas o que há por trás desses crescentes episódios? Culpabilizar o macho não seria simplificar demais a questão da violência, fugir da questão principal?
Nos tempos atuais pode-se falar qualquer coisa agora e logo depois desdizer, se não tiver nada escrito, nada vale, contradizendo o passado onde um fio de cabelo da barba de um homem servia de garantia, imaginem o valor da palavra. Na atualidade, sua voz, mesmo gravada, para ser usada contra ou a favor, tem que obedecer aos ditames da lei. 
No presente tudo tem valor, mas ao mesmo tempo nada é valorizado, salvo se o sistema assim o quiser, pois, o mesmo sistema encontrou formas de alterar o dito. Nada é confiável.
O Sistema capitalista globalizado apresenta o sujeito como jeca, retrô, ultrapassado, isso quando for diferente do pregado pela “atualidade”. Dita um padrão de moda, de falar, de comer e de se relacionar. Fomenta em cada um o desejo de ser diferente ou de apontar diferenças, de parecer com um determinado grupo, mas quando o indivíduo se põe a caminho, vê que a estrada é longa e tudo não passa de uma miragem, pela qual humilhamos e somos humilhados, ignoramos e criamos valores efêmeros quanto o nosso próprio sorriso.
Assistimos à crescente onda de usuários de entorpecentes e ao assustador crescimento do número de pessoas com algum tipo de problema mental, onde, conforme a OMS, 9% da população brasileira, cerca de 18.6 milhões, em 2014, já sofriam com transtorno de ansiedade, será por quê? Notícia veiculada pelo Estadão em 01/2020.  https://summitsaude.estadao.com.br/
Na eterna luta entre direita e esquerda, nos acostumamos a culpar os poderes e a nos eximir dos acontecimentos, sem perceber que nossa culpa também se eterniza a cada ação.
Quantas relações mantidas num contexto de egoísmos e opressões entre pessoas comuns, não só no dia-dia conjugal, mas também em âmbitos religiosos e de trabalho, suscitam sofrimentos patológicos, os quais são imputados às políticas perversas dos governos, mas quem são os governantes, senão produto de culturas opressivas praticadas no seio popular?
A fluidez tornou-se relevante, porém, há elementos com grandes cargas desagregantes que pegam carona. O macho nunca foi fácil de lidar, todavia, trocar a direita pela esquerda, o macho pela fêmea, o sistema hetero pelo homoafetivo, como se fosse uma simples jogada de poder, é o que vai trazer humanidade aos humanos e fazê-los tratarem-se como iguais e corresponsáveis pela paz mundial?
Às leis são frias e ditadoras, mesmo assim, aqueles que buscam situações favoráveis por uma democracia, ainda se aprazem com elas, percebendo ou não, que as leis humanas devem ser escritas primeiramente no íntimo das pessoas e a posteriori registradas, como que por formalidade.
Na contramão dos discursos, somos sincronicamente progressistas e conservadores, visto que, desde o que o mundo é mundo e o homem viu-se como protagonista nesta obra de arte, a existência humana, nos submetemos a leis que punem e libertam. Tudo conforme a vontade de grupos, conquanto, ainda falamos mais delas do que da importância da reflexão e introspecção sobre o ter e o ser.
É chegada a hora de nos libertarmos das amarras que impedem de nos relacionarmos como iguais, discutirmos nossas peculiaridades desde cedo, começando pelo seio familiar, tendo como foco a identificação de nosso papel nas mudanças por nós aspiradas, a partir da ideia de humanos que somos. Discutindo melhor a velha história de que meu direito acaba quando começa o do outro.
Como dizem os manifestantes 2021, “NENHUM DIREITO A MENOS”, mas que seja assim para todos, não acha?
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Atualizado em: Seg 31 Jan 2022

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