Geane

1 -

Em seus cinco anos de vida, Geane só havia se habituado a ver aviões no céu. Aquela era a primeira vez que via o pássaro de ferro no chão, sendo manobrado antes de voar. Dentro dele, seu pai estava indo viajar para algum lugar, resolver alguma coisa do trabalho. Eles haviam explicado tudo isso na noite anterior, mas Geane não entendeu direito. Pegaram-na para conversar justo na hora em que estava no videogame.
Aliás, aquela vinha sendo uma semana difícil. Vinte minutos antes, tinha pedido pão-de-queijo para sua mãe e ouviu como resposta que seria um assalto gastar dinheiro naquele aeroporto. Três dias antes, foram à loja de brinquedos ver o trenzinho que tanto desejava. Saíram de lá com as mãos vazias e a mãe dizendo: “Na volta, a gente compra!”

2-

Um homem com luvas e roupa de cor diferente das normais pegava um enorme saco preto de lixo e corria atrás de um caminhão, enquanto Geane observava pela janela de casa. Perguntou-se se a mãe daquele homem nunca o ensinara que “tinha que dar a mão na hora de atravessar e não podia correr!”
Seu pai ainda não havia voltado de dentro do avião. Ficou ansiosa para que ele retornasse, pois perguntaria a ele se aonde fora também tinha de correr atrás de caminhões cheios de sacos pretos.

3-

“Os aviões iam para o céu somente para pegar um frasquinho de espuma para fazer bolhas”. Geane chegou a essa conclusão depois de o pai presenteá-la com o tal frasquinho após voltar de dentro do avião. E, para além disso, ela tinha certeza de que aquelas espumas eram pedacinhos de nuvens. Desde então, soprava e contemplava montes e montes de bolhas colidirem com as paredes.
O moço do lixo passou novamente e dessa vez tocou a campainha:
- A senhora vai contribuir para a nossa caixinha de Natal? – disse ele à mãe de Geane.
Geane, então, foi até à direção do homem e lhe esticou a mão com o frasquinho de espuma:
- Toma, moço! É espuma da nuvem lá do alto!

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