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Porcocachorrohomem

Porcocachorrohomem
1
De vez em quando a natureza enojada do mundo oferece escarros genéticos, massa de vidas disformes.
Cachorro, porco e homem lutando covardemente no corpo de uma criatura feia além-feiura, instintiva para o prazer, hipócrita com olhos de beato. Monstro que é recorte da natureza que não conhece compaixão é o Porcocachorrohomem. Foi encontrado por uma bondosa senhora que procurava paz, ela assustou-se, mas a maternidade é a perfeita cegueira, em seus braços aquela coisa malcheirosa que o choro era a mistura de grunhido, latido e berro de bebe humano desmamado fez seu coração de mulher partir e o levou para casa.
2
O bebezinho fazia muito barulho ela não se importava, morava só. Queria amamenta-lo só que seus peitos há muito não davam leite, murchos com a velhice, murchos com a solidão pensou que o bebezinho preencheria sua vida, os monólogos estavam no fim, teria alguém, a sua casinha teria vida, ensinaria o monstrinho a amar, amar e amar para ser amada, mamãe amada!!! Com esforço incomum criou escondido o bichinho chamando-o de Miguel, anjo que salvou sua vida (do inferno da solidão). Miguel agora com dezesseis grunhia, latia, mas não falava como gente. Sua mãe secretamente gostava porque assim ele não teria curiosidade de conhecer o mundo.
3
Transformou a casa num chiqueiro e pela primeira vez sentiu alegria, estava quase se esquecendo dos pecados cometidos no passado, o motivo de isolar-se das outras pessoas escolhendo um lugar distante da realidade, escolhendo um exilio bucólico por causa da profissão que exerceu. Para muitas famílias era a salvação das moças desonradas ou esposas infiéis, maldita com seus partos reversos, odiada, mas utilizada, salvação de famílias. Fez muito dinheiro só que ninguém quer olhar para seus erros todos os dias.
Agora que tinha achado seu anjo pensou que Deus tinha dado outra chance, uma missão que era cuidar do monstrinho assim redimiria todos os pecados.
4
O Porcocachorrohomem era de 1,50m, coberto de pelos cinzentos debaixo de uma pele rosada e focinho de porco, dentes de cachorro, caninos enormes, olhos de gente má e o mais medonho era as patas de porco e as mãos humanas invertidas, andava com as mãos e as patas pequenininhas de porco não serviam para nada só um enfeite tosco dado pela natureza.
5
Chega o dia em que o filho renega o conforto do lar e quer ir além, Miguel a salvação se tornou a solução final. Expurgou os pecados maternos. A puberdade desumana começou a deixar o filho desforme fora de controle, sua maldade foi revelada quando ao meio dia ódio-libido e violência foram despejados na mãe, estuprou-a até parti-la ao meio, mordeu todo corpo murcho, despedaçou a mãe misturando seu sêmen aos restos mortais.
7
Miguel sujo de sangue melado de sêmen e remorso grunhialatiagritava, pela primeira vez saiu da boca palavras humanas – mamãe uhhhauau!!! - pegou os pedaços das tripas, pernas, mãos e a cabeça com os olhos revirados e fez um monte e pediu - fale comigo mamãe eu te amo. Descobriu que estava só aquele monte já fétido não lhe respondeu o assassino sentiu vontade de chorar, mas só veio o sorriso de satisfação. Viu a porta aberta e foi conhecer o mundo externo, pois o interno tinha matado com prazer.
8
A porta aberta, luz nos olhos um atrativo sem igual aos seres do subsolo. Miguel correu esfomeado fugiu dos restos mortais de uma semi-existência não havia o que pensar, os olhos são os órgãos mais importantes, mentir salva.
9
Fora do seu castelo-chiqueiro o Porcocachorrohomem respirou ar leve, cores novas e um lindo rio se apresentaram aos seus perversos olhos e achou que fazia parte da paisagem, andou sentindo felicidade. No meio do caminho a mulher mais bela do mundo preparava-se para tomar banho, o monstro ficou dopado por ver um ser que era o seu oposto, uma inveja libidinosa invadiu as três personalidades o que fazer? Esperou a mulher despir-se! Babou, grunhiulatiuurrou, a mulher assustou-se começou a sentir o cheiro maldito da alma do monstro- náuseas e tudo enegreceu, desmaiou.
Quando a beleza despertou não era mais a mesma, tinha sido deflorada, seu puro corpo destruído covarde e de forma selvagem, pedaços do rosto, da bunda direita e costas arrancadas, a mulher mais bonita do mundo tornou-se carne fora de validade o seu sexo estava condenado, desesperou-se vomitou um rio de lamentos misturou-se a terra encharcada com o próprio sangue e merda, misturou-se ao ódio, medo e culpa (a beleza também traz culpa) o Porcocachorrohomem contemplou sua obra, deliciou-se com o poder que tem de destruir, em retribuição a amada lhe presenteia com flores de desprezo, ela com medo de ter engravidado e ser mãe de um monstro se jogou no rio e morreu prazerosamente afogada, tentava purificação.
10
Tudo calmo, Miguel satisfeito caminha com as mãos na terra, encosta numa arvore se delicia com o recente êxito, dorme e sonha o sonho dos vencedores. Quando acordou logo percebeu que estava num lugar diferente, o ar estava pesado e desconfortável, lembrava um pouco sua casa se não fosse o chão frio e duro o Porcocachorrohomem foi enjaulado percebeu e grunhiulatiuchorou desesperadamente, ouviu várias vozes estava sendo exposto, um velho magro com olhos vazios que fazia a apresentação – senhoras e senhores vindo do mais profundo buraco metade porco, metade cachorro, metade macaco esse que não merece nome de batismo.
11
O escravizado não pode ter nada de semelhante com o escravizador sempre tem que estar num patamar inferior o velho sabia que Miguel tinha uma porcentagem humana, mas para não ferir a moral e os bons costumes regrediu a parcela humana a um simples símio que foi ajudado pela aparência. Ficou rico, chicoteava o monstro só para os espectadores ouvirem o grunhidolatidochoro que era muito engraçado, os velhos jogavam frutas podres, as crianças cuspiam na cara, muitos furavam o corpo do Porcocachorrohomem com espeto de churrasco gritavam dizendo que se tivessem oportunidade comeriam sua carne, o sofrimento da jaula era o retorno de suas maldades?
12
Certo dia o zelador do circo vacilou e deixou a cela aberta, rapidamente Miguel arrancou o braço e mordeu o pescoço da pobre vitima como se fosse um pedaço macio de frango e fugiu, o velho ouviu os sons de desespero ficou com medo de perder a fortuna e pegou a espingarda, como já não enxergava direito não viu o Porcocachorrohomem aproximar-se que com prazer usou os pés que eram mãos para enforcar seu algoz. Adorou ouvir o som do pescoço do velho se partir, achou a saída, era de novo livre! Andou e teve uma visão quase assustadora – viu uma casa que no topo tinha uma gigantesca cruz, ouviu gemidos de dores aproximou-se e viu lá dentro pessoas em contorções o Porcocachorrohomem não entendia como sofriam sem receber castigos corporais e resolveu aproximar-se mais ainda, entrou na casa, quando todos abriram os olhos em coro gritaram: – é o Diabo! Começaram a rezar para expulsar o ser das trevas, Miguel aproximou-se mais dos homens, começaram a gritar de pavor, os mais sensíveis vomitavam enchendo as roupas e os bancos religiosos com seus restos de comida, nesse momento Miguel sofreu uma transformação, percebeu que tinha chegado a maturidade, das suas costas nasceu asas de urubu real. O monstro era a mistura de quatro e não de três criaturas, Urubuporcocachorrohomem e seu legado é cravar em brasa o horror de sua existência nesse mundo que não compreendia e era por demais vazio.
Havia no oratório dezenas de velas acesas que um fiel em desespero deixou cair no chão o templo pegou fogo rapidamente derrubando a frágil construção nem mesmo com as asas o Urubuporcocachorrohomem conseguiu escapar, todos morreram mas o terrível monstro foi o único a sorrir porque tinha achado o sentido de sua vida, a ultima imagem que viu foi uma pena em chamas.
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Atualizado em: Sex 8 Jun 2018

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