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Cartas nunca enviadas I
Tentei te alcançar de alguma forma, mas os nossos corpos estão separados pela mesma morfologia. Minha vivência lógico-psíquica é marginal ao teu calendário cronológico: eu com vinte e três anos e tu chegando aos trinta e seis anos.
A tua paixão cientifica psicológica começou a me interessar, no entanto a mesma coisa que nos une nos separa.
À primeira vista o que me agradou em ti foi os teus olhos pesados, não o teu gênio forte ou a tua fama.
Busquei de todas as formas me distanciar de ti; ocupar os meus pensamentos, exercitar a minha escrita, mas até isso tu tirastes de mim. Tu minaste os meus pensamentos... Roubastes a minha libido e o meu instinto de prazer. O meu consolo metafísico é o de te ter apenas nos meus fodidos pensamentos, de te ver raramente e trocar miseras três palavras.
É duro constatar que os meus pensamentos possuem consolo. Resta-me saber o que eu faço com meu corpo; o que faço com este desejo carnal em ti ter?
Percebi que mergulhei em um sofrimento, numa eterna neurose desmedida.