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Saudades
O dia estava cinzento... O vento forte e frio que vinha do mar impactava-se contra meu corpo a cada novo sopro. Apesar dos arrepios que cortavam meu corpo, eu insistia em permanecer ali, sentada sobre as pedras onde as ondas teimavam em se quebrar. Contemplei mais uma vez as nuvens carregadas misturando-se ao profundo azul do oceano, enquanto me lembrava de cada palavra que havia sido dita, de cada movimento feito e cada momento vivido. Eu sentia uma falta imensurável dele... Há tão pouco tempo havíamos nos reencontrado e ele já tinha de partir novamente. A vida me parecia um tanto quanto injusta. Não sei por que toda vez que tudo parecia ir bem, algo tinha de dar errado. Seria assim só comigo ou todos estavam sujeitos a isso? Eu não sabia o que pensar, só sentia aquela tristeza infindável corroendo-me.
O vi a primeira vez quando tinha sete anos e ele dezoito. A diferença de idade nesta fase tornava qualquer coisa impossível, mas eu era completamente apaixonada por ele. Todo aquele encanto tinha haver com aquele mágico e puro sentimento do primeiro amor. Passamos anos sem nos ver e eu não tinha mais notícias dele... Entretanto eu sempre pensava nele e revia as fotos que tinha. Perguntava-me o que ele andava fazendo da vida esses últimos anos, se estaria casado ou se já teria filhos. Sentia uma vontade enorme de reencontrá-lo e isso aconteceu... Doze anos depois...
Reencontrá-lo foi o meu maior presente. E foi, então, que me apaixonei pela segunda vez por ele! Todo aquele encanto do passado voltara ainda mais forte, era inexplicável como uma pessoa podia ter tanto efeito sobre mim... Eu o amava como nunca amara alguém e ele demonstrava tanto amor e carinho em relação a mim, que era completamente impossível não desejá-lo em minha vida. Respondendo minhas perguntas do passado: Não... Ele não estava casado nem tinha filhos. E o mais importante, ele também gostava de mim. Começamos a namorar... Aquele amor, outrora impossível, era agora tão intenso como eu jamais imaginei que teria!
Dias mais tarde, descobrimos que ele teria de viajar a trabalho e ele foi... Noventa dias longe. A saudade, a preocupação e o amor aumentavam a cada dia que se passava. Não passamos um dia se quer sem nos falarmos. Mantínhamos contato diariamente. E finalmente ele estava de volta... Começaram-se os melhores dias da minha vida, todos ao lado dele... Todos meus problemas eram esquecidos só de ouvir aquela voz, era como se um mundo só nosso se criasse e todo o resto fosse aniquilado. Pena que essa tranquilidade toda durou apenas dois meses.
Exatamente dois meses... O único homem que amei durante toda a minha vida estava morto agora, sofrera um acidente. Não teríamos mais todo aquele futuro com o qual sonhávamos e isso me devastava. Eu o desejava mais que tudo nessa vida, ele era tudo o que eu precisava para ser feliz. Mas isso era completamente impossível! E tudo o que eu podia fazer era acostumar-me a não tê-lo mais por perto, porém acostumar-me não significa não sentir saudades ou deixar de sofrer. Afinal uma parte de mim havia se partido e jamais se reconstruiria... Eu só não sabia como contaria nossa história para nosso filho que nasceria daqui a pouco mais de sete meses e nunca conheceria a pessoa incrível que seu pai fora...