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O ultimo ato de Lola.

Lola senta na mesa de sua varanda e escreve. Com seu whisky de um lado e seus maços de cigarros do outro, ela escreve até criar calos em seus dedos. E ela chorava, como uma criança que tinha acabo de sair do leito. E tremia como se fosse seu ultimo dia, e era. Ela escrevia, suas letras tremulas, seus olhos encharcados. Com uma dor amarga no fundo do seu peito e com mais um gole quente de sua bebida, ela continuava a escrever. Colocando todos os seus últimos sentimentos em uma carta para Barbara:
“É, eu acho que se você esta lendo isso é porque tudo ocorreu como eu havia planejado. Talvez esteja doendo em você e talvez você esteja a chorar. E eu me desculpo por te causar dores, mas dessa vez foi necessário. Na verdade, talvez eu só esteja te devolvendo todas as dores que você já me causou. E esta doendo. Como uma criança que acaba de sair do leito, eu estou a chorar. Pode ter certeza que esta doendo mais aqui dentro do que ai. Dói o corpo inteiro, até a alma. E essa dor eu já sinto a muito tempo. Você sabe, sempre fui fraca, por mais que eu aparentasse não sentir. Mas eu sentia, talvez, com o sentimento de todo o mundo. E ao sentir tanto, doía com a mesma intensidade ou até mais. E você bem sabe Babi, eu sou muito fraca. Todas aquelas ligações no meio da noite, com a minhas crises psicológicas e doentias. E você, sempre calma e sempre arrancando um sorriso meu até no meio das minhas crises. Mas doía, doía muito. Você sabe, eu sempre fui de carregar os problemas do mundo. Mas na verdade, eu sempre fui o problema do mundo. Eu sou a culpa dos problemas do mundo. E eu sou seu problema também. Por isso, hoje eu estou desistindo. Estou desistindo de tudo, hoje, definitivamente, eu estou largando mão de tudo. Não quero mais te dar problema e muito menos ser o problema. Desisto. Desisto de todo esse “gostar” ou “amar” que eu sinto por você. Porque “gostar” e “amar” alguém, dói. E você não é uma das melhores pessoas para eu sentir algo. Isso tudo já me desgastou demais e por conta disso, hoje eu sou apenas restos. Restos me formam. E viver de restos dói. Ser restos é ser mais frágil, e ser mais frágil significa destruir os meus restos. Eu não quero sofrer de novo, não quero sentir tudo outra vez. E essa é a minha forma de evitar tudo. A morte.
Essa carta reflete todo o meu cansaço. Eu estou quebrada e o único motivo que antes me levantava da cama, era você. E isso se alimentou daquele pouco de esperança que eu tinha. Mas, acabou. Acho que a esperança que eu sentia  juntamente com todos aqueles sentimentos, morreram. Junto com minha alma e daqui a alguns minutos, com o meu corpo. Só sei que dói desistir de você, ainda esta doendo. Você sabe, eu nunca fui de desistir de nada e hoje, eu estou desistindo de tudo. Eu tenho que deixar ir, na verdade, eu tenho que ir. Não dá mais pra mim. E eu sei muito bem que vai ser melhor pra todo mundo. Pra mim, pra você… Eu sei que agora ao ler essa carta, esta doendo, mas vai passar. Eu poderia também pensar isso mas a dor que eu estou sentindo já dura muito tempo. E o tempo, não cura porra nenhuma. Foi isso que eu aprendi com a vida, o tempo não cura, quem cura é você. E eu não tenho forças pra curar, não mais. Eu sei que talvez eu esteja quebrando algumas promessas, me desculpe. Mas, uma delas eu irei cumprir. Eu sempre irei cuidar de você, não importa onde esteja.

Com amor e com adeus.

Lola!”

 

Suas lágrimas molhavam as folhas do seu diário, suas mãos tremulas já não conseguiam copiar mais nada. Ela, em prantos silenciosos, tentava secar toda sua dor. Sentia náuseas, ânsia. Se sentia fria e pálida, seu corpo frágil e fraco já estava pedindo arrego. Seu corpo tremia e ela já não sabia o que vagava dentro de si. Só sentia uma dor, segura e dilaceradora. E naquele momento, ela se enfraquecia cada vez mais. Lola andava de um lado para outro, tentando esquecer todas as confusões da sua cabeça, dava gritos abafados e se escondia no seu banheiro. Em um canto ela se senta, chora como uma criança, sua respiração se trava em cada soluço. Ela já não aguentava, sentia muito e já não tinha espaço pra tanto. Seu coração estava em pedaços e diminuía cada vez mais a cada pesadelo que ela tinha. Ela olha ao seu redor, com os olhos embaçados pelas suas lágrimas, por impulso, descuido ou algum movimento involuntário, ela tenta acabar com tudo.
A sua dor psicológica agora era também física. E ela chorava e vazava. Seu sangue escorria pelo seus braços até encontrar o chão. O fluxo do sangue era cada vez maior a cada minuto, a cada corte. Havia muitos.
Ela havia desistido. De tudo que tentou e deu certo, de tudo que tentou e não deu certo. De tudo que deixou de tentar por achar que não daria certo. Ela desistiu...

 

 

Lola então, abriu seus olhos cansados, indecisos e dolorosos. Ela não sabia o porque estava ali. Ela observava os gritos, mas não conseguia ouvi-los. Ela sentia o chão frio em suas costas e sentia seu sangue escorrendo pelo seu corpo. Sentia seu corpo tremer e uma lágrima descer. Mas ela não sentia dor, ela simplesmente não sentia nada. Sua respiração a falhar, todas as suas dores e os seus cansaços estavam expostos em seus braços e foram largados ao chão. Ela não sentia mais. Ela, com seus olhos semicerrados, observa tudo a sua volta e bem longe ela vê, a causa das suas dores. E a única coisa que ela era capaz de fazer era sorrir, como sempre fez. Deu um sorriso franco, cansado e morto. Em seguida seus olhos frios se apagaram, tudo a sua volta escureceu. Seus ouvidos ficaram surdos. E naquele momento, ela já não existia. Se culpou por todos os problemas das pessoas e pelos problemas do mundo. E a problema nunca foi dela.

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Atualizado em: Sáb 30 Nov 2013

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