person_outline



search

MARIA DO BREJO

Maria do Brejo. Assim era chamada. Morava distante do vilarejo incrustrada na mata, entre paus d´alho, dracenas e açoita cavalo. A casinha era simples, mas denunciava sua antiguidade. Tão antiga quanto a moradora. Os olhos vivos e profundos em um rosto marcado abundantemente pelas rugas. Sempre de lenço na cabeça e vestidos surrados, mostrava a vida dura do campo e os sofrimentos que certamente a vida lhe proporcionara.

            Era conhecida benzedeira. Curava as crianças e adultos: mau olhado, quebranto, espinhela caída, vento virado, bicheira e tantas coisas mais. Respeitada e temida ao mesmo tempo. Sua casa tinha as paredes repletas de quadros de santos já empalidecidos e rodeados de ramos secos, fitas e breves.

            Perto dali tinha um brejo, grande, cheio de taboas e uma dezena de outras espécies se confundindo entre as águas e gerando uma aparência hostil, residência de jararacas e outros répteis peçonhentos.

            Maria do Brejo ali vivia. Solitária. Diziam que o homem que amava, quando ainda jovem e formosa, havia fugido com outra e Maria do Brejo se fechou em si mesma, refugiando-se na mata. Quando de lá saiu benzia e curava.

            Um dia Maria do Brejo sumiu. A casa estava intacta, nada levara dali. A partir daí muitos rumores surgiram, inúmeras estórias proliferaram na vila. A casa estava encantada. As estórias atiçavam a imaginação, em especial, dos mais jovens que resolviam desafiar Maria do Brejo e visitar sua casa. Retornavam sempre esbaforidos, aterrorizados, retornando às suas casas com mais estórias. Uns diziam ter visto sombras e ruídos estarrecedores, estalos e uivos. Outros anunciavam ter saído uma vaca braba de trás da casa que os perseguiu até a ponte. Outros descreviam um enorme pássaro negro pousado sobre a casa da benzedeira.

            Os jovens ansiavam e temiam chegar até a casa. E tudo transcorria num grande conto fantástico até que Vitinho, filho impúbere de Dona Carlota desapareceu. Os moradores revoltaram-se e decidiram colocar fim a estas estórias incendiando a casa do bosque. Somente foram impedidos por uma violenta tempestade. Os ventos pareciam querer arrastar tudo e o céu desabava sobre o lugar. Aponte que ligava a casa ao vilarejo foi arrastada como folha seca entre águas.

            Os moradores apavoraram-se imaginando vingança da anciã sobre todos. Velas foram acesas e o Credo foi rezado em todas as residências.

            Após a chuva Vitinho apareceu. Lamacento, cansado, riscado por galhos e espinhos. Esclareceu que havia se perdido na mata e uma velha lhe indicou o caminho. Era Maria do Brejo ! Todos estavam certos disso.

            A casa continua quieta e taciturna, isolada entre as árvores e orquestrada pelas rãs que vivem naquele brejo.            

Pin It
Atualizado em: Ter 4 Jan 2011

Deixe seu comentário
É preciso estar "logado".

Curtir no Facebook

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br