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Capítulo I
CAPÍTULO I
Manchester's Monster
Diablo Ader se sentou na cadeira da cafeteria, na mesa mais afastada. Podia sentir os olhares dos outros em si; ela era bonita demais para que não chamasse a atenção. Os seus cabelos estavam pingando devido à chuva que pegara, assim como suas vestes, que estavam totalmente encharcadas. Porém, ela não sentia frio; não sentia nada, para falar a verdade.
Ela estava com os cotovelos apoiados em cima da mesa da cafeteria, enquanto analisada distraidamente o cardápio da cafeteria. Bolos, tortas, doces, salgados... Nada daquilo a atraía. Não sentia fome, além do mais. Colocou-o delicadamente sobre a mesa e observou a extensão do local.
Não era grande; pelo contrário. Devia ter no máximo uns vinte e tantos metros quadrados, sendo eles ocupados por mesas e cadeiras que raramente estavam cheias. Havia longas vidraças, que mostravam que o tempo na rua piorara; as possas d’água começavam a ficarem maiores, e os bueiros estavam começando a inundar.
A porta da lanchonete tilintou. Ela rapidamente desviou os olhos até lá e encontrou um homem vestido de preto, com um capote igual ao seu — só que bem maior, de fato. Os cabelos eram negros e lisos, caindo aos olhos devido à umidade. Seus olhos eram igualmente negros, e ele tinha um semblante sério.
Dirigiu-se até a mesa onde Diablo se encontrava. Ela esboçou um sorriso debochado, que quase sempre se encontrava em seus lábios. Ele puxou a cadeira e se sentou. Pegou o cardápio no mesmo momento que uma atendente apareceu.— Você deseja alguma coisa? — ela perguntou.
— Um expresso, por favor. — ele disse com a voz grave. A atendente anotou o pedido e saiu. Ele abaixou o cardápio e olhou para Diablo, sem sorrir. — Andou espantando as atendentes?
Ela segurou uma risada.
— Eu as fiz acreditar que eu era uma ameaça para elas, ou coisa parecida. — Diablo disse com orgulho. Ajeitou-se na cadeira, cruzando os braços sobre o peito.
— Tem que parar com os seus truques psíquicos, Diablo. Isso ainda vai lhe arranjar problemas. — ele disse com a voz baixa, para que ninguém ouvisse.
— Que tipo de problemas? — ela perguntou com um tom de deboche. — As atendentes virem com os seus bloquinhos para cima de mim? Eloistier, tenha dó, por favor.
— O que eu quero dizer — ele disse calmamente. —, é que você prometeu a Therual que não iria abusar dos seus poderes. Se ele descobrir que está usando para besteiras, Diablo, você provavelmente vai voltar para o lugar de onde veio.
Ela estremeceu.
— Tudo bem. Desembuche. — disse com rispidez.
A atendente apareceu na mesa e colocou a xícara na frente do homem. Ele agradeceu e bebericou um gole.
— Há um demônio da Quinta Legião Infernal de Malphas em Manchester. Ele está fazendo uma bela chacina por lá. Veja isto. — Eloistier tirou de dentro do capote um jornal e jogou-o sobre a mesa. A manchete era chamativa, e ao lado tinha uma foto de uma garota em seus dezesseis anos, de cabelos louros e olhos verdes, com poucas sardas no rosto. Resumindo: ela era linda. Provavelmente ela era uma líder de torcida, na visão de Diablo.
— Mas que diabos...? — Diablo murmurou ao ler a manchete.
O corpo da 18ª adolescente raptada é encontrada .Mais informações na página 8.
Diablo rapidamente folheou o jornal até a página. Começou a ler silenciosamente.
O corpo da adolescente Josey Malet (16) foi encontrado nesse último domingo (12) na Lime Bank Street, no meio dos arbustos, em Manchester — a cidade onde mora e onde fora raptada. Ela fora encontrada por George Forret (47), o homem que mora na casa ao lado do arbusto onde ela fora encontrada. “Foi horrível”, diz George, “eu estava fazendo a minha caminhada matinal naquela rua, como sempre... E de repente, eu vejo que tinha algo branco no meio dos arbustos. Eu fui ver o que era... E quando vi que se tratava de Josey, eu liguei na mesma hora para a polícia”. A polícia fora até o local investigar, e confirmaram com a família de Josey que se tratava dela mesmo. A forma de morte fora a mesma das outras dezessete adolescentes: estupro e, em seguida, espancamento até a morte. A família de Josey Malet a reconheceu por sua marca de nascença, uma estrela disforme no calcanhar. A polícia está investigando o caso dos assassinatos na pequena cidade. Quem será o Monstro de Manchester?
Diablo estava boquiaberta diante de tanta informação. Não estava ciente daqueles assassinatos, tampouco ouvira falar — estava tão entretida em destruir demônios que acabara se esquecendo de se atualizar um pouco.
— É um demônio que está fazendo isso? — ela perguntou.
— Sim. — ele disse. — Não sabemos qual deles é. Temos palpites. Um Íncubo? Talvez. Mas eles apenas entram nos sonhos das mulheres para ter relações sexuais, não vão até elas... E tampouco matam.
— Nunca se sabe, Eloi. — Diablo disse, dobrando o jornal e entregando para ele novamente. Ele o guardou dentro de seu capote. — Os Íncubos nunca se satisfazem com apenas sonhos. Esse, por exemplo, pode ter uma necessidade... Real.
— Você já está o tratando como se fosse mesmo um Íncubo.
— Não tenho dúvidas que seja. — ela disse firmemente. — Qual outro demônio estupraria uma garota e a espancaria até a morte? — ela perguntou com indignação, mas ao ver o que acabara de falar, estendeu o dedo na direção de Eloistier, que abrira a boca para soltar um comentário maldoso. — Tudo bem, tudo bem. Não responda. Mas é pouco provável. A parte do espancamento é aceitável que seja um demônio... Mas o estupro? Nem todos têm necessidade sexual.
— Você disse bem — Eloistier bebericou o seu expresso. —, nem todos.
— Ora essa, há milhões de demônios no Inferno, Eloi. — Diablo sibilou. — Quer que eu investigue a vida sexual de todos?
— Não. — ele disse simplesmente. — Apenas quero que você pegue esse desgraçado e o torne em pedacinhos. — ele levantou os olhos para ela. — Estraçalhe-o. Pegue a sua cabeça como troféu. O que ele fez é completamente imperdoável.
— Tudo o que os demônios fazem é imperdoável, Eloi.
— A maioria dos demônios mata crianças? — ele perguntou. — Porque, em minha percepção, adolescentes ainda são crianças. E eu pensando que Lilith era um verdadeiro demônio por matá-las... — Diablo se remexeu na cadeira com a menção do nome daquela mulher — E agora me aparece este! Maldito seja! — ele grunhiu.
Diablo olhou para ele, curiosa. Era a primeira vez que ele tinha uma reação dessa quando se tratava de um demônio; geralmente era coisa simples, rápida. Mate esse e ponto. Sem surtos, sem estresse. O que estava acontecendo dessa vez?
— O que você tem, Eloi? — ela perguntou com a voz baixa. — Não é normal que você aja dessa maneira. — ela parou. — O que ele fez pra você?
Os olhos negros de Eloistier contorceram-se de dor. É, ele tinha ressentimentos em relação àquele demônio em especial. Ele tomou um gole do café e colocou a xícara sobre a mesa. Levantou os olhos até Diablo, e disse, com a voz retorcida de dor:
— Ele matou Josey — ele disse. —, e Josey era minha filha.