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A Bruxa e o Lobo (Alasse & Paulo Valoto)
As noites de rituais para nós bruxas são de extrema importância para o nosso amadurecimento e o aperfeiçoamento na arte de amar, ser amada, se doar e se envolver com a beleza e a grandeza da antiga religião. Mas em meus rituais, nenhuma noite seria tão marcante em minha vida como nenhuma outra jamais foi como á que passei.
Comecei cedo. Passei o dia todo me preparando. Seria a mudança da fase da Lua Cheia em honra a Deusa Tríplice para a sua fase Sacerdotisa e Mãe.
Teci minha guirlanda com mimosas flores de laranjeiras mescladas a raminhos de azevinho e coroa de noiva. Com todo cuidado preparei minha túnica branca de um tecido semitransparente ao qual realçava as curvas do meu corpo.
A noite prometia ser um espetáculo a parte. Já no seu levantar, as estrelas enfeitaram o céu como vagalumes a colorir a noite. Uma beleza brilhando e reluzente sobre a luz escura da noite, refletindo os reflexos da luz emitida pela lua.
Banhei-me como manda a tradição. Com ervas aromáticas e óleos especiais, deixando minha pele com o perfume de mirra e com o toque da seda mais preciosa. Enfeitei o alto da minha cabeça com a guirlanda, deixando cair sobre meus ombros os cachos dourados dos meus cabelos. Peguei a cesta que continha meu altar e caminhei para o bosque próximo a minha casa ao lado do rio.
Montei meu altar com esmero, consagrando os quatro elementos á Mãe. Nesta hora ofereci a Deusa o meu corpo para que ela viesse fazer morada e assim me consagrar.
Na escuridão da noite, quando os portais se abrem para dar passagem aos seres elementais, é possível ouvi-los cantando e rindo ao nosso redor conforme a sintonia de energia que estiver com você. Eu estava em estado de sintonia com tudo. Algo em mim me motivava mais, eu me sentia muito bem neste momento. Era a sintonia com a Mãe natureza.
A neblina que antes não havia, começou a subir do rio. As arvores ao meu redor entoavam uma melodia triste e profunda ao som do vento. Algo vindo das belezas daquelas folhas das arvores mexendo com o vento e me proporcionando algo maravilhoso que tocava meu rosto e todo o meu corpo. Um sopro de um vento maravilhoso e carinhoso.
Naquele silencio em que estava, ao fundo percebo algum barulho bem longe e um som de leve entre as plumagens das arvores, parecendo algo retirando as folhas de um lado para o outro para abrir o caminho e seguir a passagem. Ouvia um uivo quebrando as notas compostas das folhas causadas pelo vento, num lamuriante choro.
Nesse instante senti todo meu corpo arrepiar-se. Senti algo presente. Não senti medo, mas senti a presença de algo físico por perto. Parecia que havia alguém me olhando nas sombras. Observando os detalhes do meu ritual.
A presença de a Deusa á me acalmar e a me acalentar a alma me acalmava, mas a sensação de estar sendo vigiada era evidente.
Eu estava calmamente preparando meu altar. E assim o terminei.
Meu altar está pronto. Sim está. Assim pensei.
Estou pronta para o meu sagrado ritual.
E que, de repente, algo me surpreende.
Meu altar estava pronto e preparado, mas, não para tal surpresa.
Ouço algo mais forte. Era aquele barulho de algo rompendo as folhas das arvores se aproximando cada vez mais. O barulho cada vez mais alto. Ouço passos de alguém correndo e se aproximando. As folhas sendo rasgadas com mais agressividade. E o barulho mais próximo.
Ouço uivos. Lamentosos mas são uivos.
- Está chorando?
- O que há?
- Por que está chorando?
Não. Ele não está chorando. Ele está uivando!
Foi nesse instante que eu o vi. Ele pulou dentro do meu circulo mágico em que eu estava. Ele pulou e entrou em meu altar. Entrou em meu altar com muita vontade e se expôs á mim.
Fiquei estática observando seus gestos e suas curvas. Um bicho feito um Lobo parecido com um cachorro preto e grande. Um corpo de um animal uivando e choramingado para mim. Com muita calma ele uiva pra mim. Olha-me e uiva muito. Olha-me e fitando em meus olhos ele uiva para mim. E como uiva! Muito lindo seus uivos! Seus uivos me chamam a atenção. Parecia uma voz de um homem, uma voz não, aquilo era um uivo maravilhoso me fitando com aqueles olhos grandes e lindos.
Seu pelo negro reluzia tal qual um manto feito pela cor do universo. Ali bem diante de mim, um belo lobo negro que me olhava e uivava muito pra mim. Que belo Lobo me fitando e olhando pra mim. Querendo algo, talvez.
Um Lobo lindo e maravilhoso. Senti meu coração bater descompassado, mas não de medo e sim de uma sensação boa, misturada a magia e á sensualidade. Aquele Lobo era muito diferente.
Eu precisava tomar uma decisão:
- Mando-o embora?
- Ou fico com ele aqui?
Consultei a Deusa Mãe:
- “Seja feliz!”.
Entendi.
Ele veio participar de meu ritual. Eu consegui. Estou consagrada.
Era chegada a hora da entrega. Foi o que decidi.
Abaixei-me já como se meu corpo não recebesse mais os comandos da minha mente e sim sendo tomado e guiado pela Deusa para conceber o altar e assim o fiz para desejar-lhe boas vindas ao meu altar e ao meu ritual.
Ele uivava com um tom extraordinário que me deixava desconsertada. Lindo! Maravilhoso! Uma canção para os meus ouvidos. Uma linda melodia eram seus uivos!
Mas aqueles uivos tinham um motivo. E eu não conseguia identificar. Ele insistia muito naqueles uivos. Um choro. Algo estranho dentro dele.
Ele queria se desfazer de algo que lhe incomodava. Algo o incomodava. Ele uivava para mim para ajudá-lo. Suplicava algo. Queria algo. Queria ajuda.
Era uma suplica!
Ele uivava me pedindo algo. E aquelo era lindo demais. Indescritível. Algo jamais ou visto por um ser humano comum. Somente uma bruxa em seu leito de ritual irá ouvir aquele uivo. Aquele uivado era divino.
O chamei para perto de mim. Ele calmamente foi se aproximando. Seu corpo era peludo e tinha cheiro forte de um animal selvagem. Em minha direção vinha calmamente caminhando de quatro como um animal selvagem uivando com certa ferocidade pra mim. Uivos altos e fortes.
Ele parou de vir no meio do caminho.
Fitou-me.
Uivou mais uma vez, bem alto. Extremamente alto. Muito alto. Estremeci. Minhas pernas ficaram bambas. Mas, percebi um uivado feliz. Acho que ele estava pressentindo algo de bom. Acho que ele queria algo. E o que ele quer? Devorar-me? Matar-me?
Aos poucos ele veio se aproximando á mim novamente, como já soubesse o que iria encontrar e á medida que chegava mais perto, a figura do lobo ia sofrendo uma metamorfose e se transformando em algo diferente.
As patas dianteiras foram lentamente se erguendo e caminhando com muita calma em minha direção ele vem se tornando algo ereto, algo esguio, algo em pé..., caminhando somente com suas patas traseiras, que neste momento já são duas pernas com aquelas coxas lindas, roliças e grossas.
Seus uivos cessaram e ele vem com muita calma e sutileza em minha direção e chega bem pertinho de mim.
Tremi! Fiquei estática!
Pensei: o que é isso?
Neste momento, já totalmente postado em minha frente, vejo um homem maduro, com cabelos grisalhos, charmoso, cheiroso, com um sorriso lindo e totalmente nu. A personificação do Deus em toda sua beleza máscula e viril despertando o desejo por todo meu corpo. Bem próximo a mim olhando, com aqueles olhos verdes, bem fundo em meus olhos, e sinicamente ele, o bandido, me diz:
- “Oi!
Cheguei.
- “Você estava me esperando”?
Nem precisei responder.
Ele chegou mais perto de mim, me tomou em seus braços e delicadamente me deitou no centro do circulo mágico. Eu estava estática. Aquilo era o meu sonho sendo realizado como uma Bruxa na contemplação de sua iniciação de sacerdotisa.
Sua boca começou a explorar o meu corpo como uma brasa intensa a queimar minha pele. Com mãos hábeis, livrou-me da túnica, me pelou todinha, fiquei como cheguei ao mundo. Sorveu o néctar que de mim emanava, sentindo o gosto e o cheiro da Deusa em mim. Aquele homem lobo sob a luz da Lua cheia me possuía com a ânsia de um amante que foi separado da mulher que ama pelo capricho do destino.
Seus movimentos fortes de um animal em pleno cio, tal qual uma dança, fizeram meu corpo delirar. Cada parte minha vibrava e buscava o máximo de prazer do corpo daquele Deus.
Seu sorriso de felicidade e seu olhar faziam promessas não escritas em lugar algum e quando já no ápice do desejo, ele me disse:
“Vem comigo”.
Fui!!!!!
Explodimos juntos.
Liberamos a energia vital do encontro de um homem e uma mulher... Uma realização maravilhosa! Divino!
Do Deus e da Deusa...
O mundo parou...
Fechei meus olhos por um instante. Estava exausta.
A sensação de o sonho se mesclou com a realidade.
Senti seu beijo em meus lábios com sabor de despedida e ao virar-me para tocá-lo.
Percebo algo estranho em seu corpo. Há algo de estranho no corpo dele. O que passa?
Olho para ele. Ele chora. Caem lágrimas de seus olhos. Aqueles olhos verdes estão ficando amarelos e encharcados de lagrimas voltam e me olhar. Aqueles olhos amarelos estão me fitando e chorando. Os olhos verdes estão indo e os amarelos vindos. É a transmutação. Ele está ficando peludo novamente e seu corpo começa a curvar-se, voltando á forma de caminhar de quatro.
Meu homem está indo embora e o lobo vai voltar.
Vejo-o novamente se transformando em um lobo e se perdendo entre a penumbra das arvores. Pude ouvir seu uivo ao longe agradecendo a Sacerdotisa da Lua. Ele uiva muito, muito alto. Muito lindo ouvir seus uivos! Ele ficou feliz! Foi embora feliz!
A manha já se fazia presente no horizonte. Vesti-me e desfiz o circulo mágico e voltei ainda flutuando entre o limiar da realidade e do sonho para casa.
Aquela noite de magia jamais será esquecida. Não sei quem era aquele Lobo, mas, sei que um dia ele voltará em forma de um homem.
Eu o procurei por diversas vezes em outros rituais sem nunca encontrá-lo.
Não preciso, eu já o encontrei.
A única coisa que sei, é que deixei que a Deusa tomasse meu corpo e se unisse ao Deus, eternos amantes, separados pelo tempo, e dessa união cósmica daqui alguns dias nascera O Fruto que no ventre estou carregando.
Obra escrita por Alasse, adaptada e corrigida por Paulo Leandro Valoto
Comentários
favoritei.****
Esse tipo de texto me encanta e prende a minha atenção. [2]
Parabéns aos dois!
a chave do cofre.
Bjs, Parabéns para ti e ao Paulo.
Parabéns Alasse e Paulo, ficou otimamente divino, ato sexual relatado com o maximo de elegância possível, 5 estrelas.