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toda forma de amor

seu lado da cama vazio. o berço que nem chegou a ser montado largado no chão. a infinidade de canecas de café dispostas desordenadamente na mesinha de cabeceira. o televisor ligado. os jornais amassados. as cuecas sujas. toalhas largadas em maçanetas e janelas. o armário bagunçado. o cheiro de pizza e mofo e morte lutando para anular o das rosas sobejantes. o gosto de cigarros muitos misturando-se com hálitos de madrugadas insones. a vermelhidão dos olhos. o nariz escorrendo – estou doente. a convalescênça que não vem. a saudade de casa. de mãe. a lembrança do xarope de abacaxi que só a avó do deco sabia fazer. a foto do deco rasgada. esmigalhada. meus dedos doendo. a ferida aberta em minha bochecha. os arranhões, herança da luta. a faca ao meu pé. a mancha de sangue que, rio, seguira seu curso e desaguara no tapete. a porta do banheiro entreaberta. a palma de sua mão imóvel estendida. sua quietude. seus miasmas.  a completude  do horror exposta. por isso a sensação de ser quadro. sem moldura. 
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Atualizado em: Qui 27 Jun 2013

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