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Reminiscência na casa de alteire

À uma porta entalhada com traços Classicistas; à uma parede descorada com um quadro de alguma obra de Bouguereau pendurado; a um rapaz que bebe leite e não pode percorrer extensas pradarias e nem comprar milhares e milhares de potes de Häagen-Dazs. 03 de novembro de 2013.

A fumaça que saía do cigarro era rala e sumia na atmosfera sensual de meus aposentos. O marasmo atingia-me a essência, enquanto empinava o nariz e trajava-me provocantemente para sentir algum poder, escutando ao longe o burburinho das garotas que estavam sendo solicitadas para o entretenimento de algum cliente da casa de prostituição. Cansava-me facilmente de fumar o cigarro importado e largava a piteira negra com frequência entre os utensílios da espaçosa penteadeira.
Ajeitei-me confortavelmente no banco de estofado cor caramelo e passei a encarar a imagem de meu rosto no espelho, altiva. Algumas marcas de expressão podiam ser notadas na extensão da face, mas nada tão exorbitante que não pudesse ser mascarado com a maquiagem cara que sempre exigi desde a época em que me prostituía para Madame Nora. Meu habitual cabelo estilo bob – era ondulado e isso permitia-me um visual tanto infantil e assexual – estava armado, e a cor bétula ficava mais vibrante a cada ano que se passava.
Recoloquei os longos cílios postiços cor de lavanda enquanto imagens recordativas dos stags¹que filmei no cinema pornográfico – época em que estava no auge da carreira como garota de programa – lampejavam em minha mente. Estufei o peito, orgulhosa, por ter participado dessa época do avanço cinematográfico, já que esses filmes constituem-se como um dos mais rendosos produtos da indústria cultural, expondo em cena o corpo e as múltiplas possibilidades de obter prazer. Nunca dei créditos aos estilos que sucederam a evolução do cinema erótico; desprezava os nudies² e osbeavers², por achar desnecessária tamanha variedade estilística – pelo menos era o que costumava dizer, mas na verdade, nunca suportei a ideia de que outras atrizes do ramo passassem em minha frente e retirassem meu posto de mais bela e favorita.
Meu corpo voluptuoso renderam-me bons lucros; a genética fora favorável com os planos que traçara quando minha vida ruiu. Desde a mocidade, fui bem vista pelos jovens e fogosos rapazes da cidade suburbana onde nascera, despertando paixões ardentes. Mas naquela época, era uma bondosa e bem quista moça, que não pertencia a mais de um homem, por mais que fizessem-me propostas de amor eterno ou – vindas dos mais desavisados e imprudentes – sexo barato.
Comia ovos quentes no café da manhã, com o tempero caseiro que era preparado por mamãe, constituído de sal, alho batido e cominho. Bebia o leite quente que papai buscava na cidade todos os dias ao cantar do galo. Colhia os frutos da macieira do quintal de casa e inebriava-me do cheiro fresco da fruta, mordendo e deixando escorrer o suco entre meus pequeninos seios. Minha pele tinha a maciez e delicadeza de um pêssego de boa safra. Os ralos pelos costumavam arrepiarem-se quando sentiam a leve brisa da manhã. Cada milímetro de meu corpo era quente e fazia a pele de quem o tocasse, arder em chamas – uma chama positiva, com gosto de juventude precoce – e ficar marcada pelo cheiro das maçãs ou das frutas que eu apanhava dos pomares de vizinhos da família com suas devidas permissões.
Mamãe precisava trabalhar para ajudar papai nas despesas da casa, logo, nenhum dos dois podia ficar comigo. Passavam o dia fora ganhando a vida, deixando-me no lar, onde chorava desconsoladamente com medo da solidão. Mas o que poderia ser feito? Nem minhas bonecas de palha e pano faziam-me companhia. Quando tinha oportunidade de relacionar-me com outras crianças, quase sempre ficava retraída e também, temia machucados provocados por recreações bruscas. Aprendi desde cedo a ser só, passando a adolescência presa à regras e horários, tornando-me extremamente reservada. Eu nunca soube o que é trepar numa frondosa árvore, nem correr ao ar livre atrás de borboletas; mas soube perfeitamente o que é fantasiar o mundo através de livros e gravuras que eram colocados à minha frente para desenvolver o intelecto.
Quando rapazes olhavam-me com desejo por minha carne, eu não possuía malícia, sequer dava crédito ou ouvia provocações despudoradas.
– Entre. – murmurei melancólica quando deram três socos leves na porta.
– Astréa? Desculpe incomodá-la. Estou tendo problemas com Valentina. Não sei o que fazer. – Madame Nora adentrou o quarto com os olhos aflitos.
Algumas miçangas de seu vestido longo ficaram perdidas pelo assoalho. Os braços magros comprimiam-se e recostavam no corpo.
– O que ela tem? – não parei de recolocar os cílios postiços para dar crédito à Nora.
– Está estranha, não tem vontade de prestar serviço. Parece fazer por obrigação. Diversos clientes já reclamaram. Você poderia conversar com ela… – sugeriu Nora, vindo massagear meus ombros cansados.
– Isso é o que me resta, Nora? Depois de rufiar com poderosos homens durante décadas, me resta ser uma messalina aposentada que fornece conselhos para jovens estúpidas que fazem-na perder tempo ao contratá-las? – minha voz era afiada e furiosa.
– Por favor, mais condescendência, Astréa. – Nora piscou rapidamente.
– Você faz um escândalo quando suas raparigas não querem trabalhar. Mas está bem. Traga-a aqui. – suspirei e levantei-me, colocando as mãos na cintura.
– Sim. – Nora retirou-se do quarto rapidamente. Bem sabia que eu era impaciente e fria, portanto estava acostumada com a habitual rispidez.
Andei de um lado para o outro no espaçoso quarto. Observei as roupas cheias de brilho e plumas que agora estavam alcandoradas num compartimento de madeira maciça. Nunca deixei de usá-las, não estavam perdidas. Grandes espelhos com moldura classicista foram afixados em duas paredes do aposento. Em cima de uma cômoda de três gavetas, estava meu suitcase³ , onde guardava minhas preciosas joias egípcias – com aura de mistérios sinistros – usadas quando passei grandiosas noites com homens de extremo poder. Ganhara, de um deles, a célebre cruz Ankh, feita de ouro com detalhes entalhados de esmeraldas.
Metodicamente, pus a vitrola antiga para tocar meu vinil favorito de grandes composições deCharleston4, num volume baixo. Lembrei vagamente do calor que era emanado de meu corpo quando dançava animadamente para os clientes, principalmente porque aquela dança preenchia um pouco do vazio existencial e aquecia-me, pois a vida era desprovida de qualquer calor humano.
– Aqui estou. O que deseja? – entrou no quarto sem pedir.
Valentina era despeitada, magérrima e sem curva alguma – estilo de corpo ideal para as prostitutas de minha época. Os cabelos ruivos e lisos pendiam em suas costas e balançavam quando ela andava. Possuía algumas sardas em sua testa e uma cicatriz provocada por corte de arame. Usava um corselete cor sangue que sustentava a peça íntima com fitas de seda. Tinha dificuldade para equilibrar-se no salto alto. As coxas nuas estavam trêmulas.
– Sente-se na fauteiul6. – inflei as narinas com o cheiro agressivo de esperma que empestou o quarto assim que Valentina entrou.
A garota obedeceu, olhando-me de soslaio. Mordia o lábio, pungindo, e balançava as pernas cruzadas enquanto esparramava-me, autoritária, com elegância no banco de estofado caramelo que ficava defronte a penteadeira.
– O que há com você? – observei a menina de cima a baixo, rindo internamente do modo como se portava, parecia um animalzinho acuado.
– Não sei exatamente o motivo de Madame Nora ter-lhe mandado conversar comigo. – Valentina encolheu-se. – É… apenas o ambiente que me assusta. Tenho nojo dos homens daqui.
– Non-sens7! – zombei. – Já que tem tanto nojo, o que faz aqui, garota? – cruzei as pernas.
Eu sabia traduzir variadas expressões de diversos idiomas, desde as mais amáveis, até as mais truculentas – preferia as mais atrozes, de qualquer forma. Tinha consciência de que, às vezes, era difícil acompanhar minhas conversações, portanto tentava ser mais branda.
– Não tenho para onde ir. Meus pais expulsaram-me de casa. Mamãe fora covarde… meu pai impôs que se desfizessem de mim, e ela aceitou por medo de ser açoitada. Eles não têm o menor amor por mim, isso não se faz com um filho. – as palavras jorraram da boca de Valentina com ferocidade.
Não deixei de encará-la; notava certo tremor em sua voz. Talvez eu sentisse pena de sua situação, já que sabia o que era, por muitas vezes, ser preterida e também ser desgostosa dos rumos que a vida impunha-me a seguir. Valentina tinha idade para ser minha neta. E os Céus sabiam o quanto um dia almejei ter uma neta para adorar e aconselhar.
– Por que decidiu entregar-se à prostituição? – soei crítica.
– Era minha única alternativa. – a menina olhava as mãos. – E eu só poderia vir para cá. A casa de alteire do Sr. Donato, me disseram, é um mar perdido. De lá, nenhuma garota sai viva. Assustei-me e optei a vir para a de Madame Nora. Sou bem tratada aqui, quanto a isso não tenho o que reclamar. Observo o quanto todos falam bem de você, do quanto foi magnífica. – uma pontada de dor atingiu-me quando aquela figura miúda à minha frente dissera a palavra foi. – É um espelho para todas as garotas daqui, sei que sabe. Minha vida tomou um rumo desconexo, e não tenho oportunidade de livrar-me disso. Morrerei aqui, ah, eu morrerei aqui. Nada dói mais do que ser abandonada, largada à própria sorte, sem esperanças de um futuro melhor. E não foi isso que eu sonhei para mim.
– Sei, melhor do que você, o que é ser abandonada. – virei o rosto e busquei a piteira que estava entre os cosméticos da penteadeira. – Mas não deve dizer que morrerá aqui. As coisas podem ser diferentes para você. – soltei a fumaça do cigarro.
– Não tenho motivos para concordar, não vejo saída. – Valentina colocou as mãos nos ouvidos e balançou o corpo para frente e para trás, estava histérica.
“Biednaiaia, malenkaya8” – pensei, enquanto balançava a cabeça, cheia de pesar. Mas não sabia se realmente sentia pena daquela menina.
– Voilá9… Você faz com que eu lembre de mim mesma quando cheguei aqui na casa de alteire. – ri, sarcástica. – Levante-se e venha até mim, agora.
Seus olhos estavam atordoados enquanto suas pernas caminhavam arrastadamente até mim. Eu não poderia fazer absolutamente nada por ela, pois jamais estender-lhe-ia meu colo para consolá-la.
– Acorde para sua condição real de vida, prostituta de quinta. É bem das jovenzinhas rameiras iguais a você. São fúteis e indecisas. Já que optou por seguir essa vida imunda, aprenda a controlar suas emoções e realize seu trabalho para fazer valer o prato de comida que dão-lhe aqui. – sibilei entre dentes.
– Por que está falando dessa forma comigo, Astréa? Não deveria aconselhar-me? – soluçava.
– Non-chalance10! Fora do meu quarto! Ande! – levantei subitamente do banco e dei-lhe um tapa cheio no rosto, tragando meu cigarro em seguida.
Valentina correu e bateu a porta atrás de si. Suspirei e continuei a ouvir o disco de vinil que tocava incansavelmente. Os espelhos fixados nas paredes denunciavam minha expressão de pavor pelo que eu acabara de fazer. O que havia me tornado? Quando foi que perdi o controle? Eu sabia. Quando as portas se fecharam e deixaram de sentir falta do que nunca pude viver.
Joguei o filtro do cigarro no cinzeiro de prata pura e pus-me a fumar outro. Apertei minhas têmporas e fui atrás de folhas. Minhas gavetas estavam reviradas, mas não demorei a encontrar folha puídas e um lápis de grafite espesso. Sentei na cadeira defronte a grande mesa e comecei a escrever. As paredes me sufocavam.
“Quando você decidiu ir embora, sem sentir nenhum remorso por isso, acabou levando tudo. Você, meu querido, nunca fora um mauvais sujet11, e por essa e outras mil coisas mais, apaixonei-me perdidamente por você e sua bondade além da compreensão humana. Nunca amei ninguém do jeito que o amei. É uma pena você não ter sabido fazer o mesmo por mim. Suas portas fechadas ensinaram-me o que é a dor do amor perdido, do orgulho ferido, da falta de oportunidade.
Aquele fora um tempo de inocência e de confidências, apesar da má sorte que assolava o país. Seu modo de cortejar era único e transcendental. Acredite, eu invejava as moças bondosas que você cortejou antes de mim – mesmo que tenham sido poucas – porque eu sabia que elas tiveram de você o que eu jamais possuiria. Vi em você o meu porto seguro, alguém que pudesse ajudar-me a esquecer os traumas de infância. Só você soube o quanto quis ser amada por um homem, o quanto quis construir uma família. E só você soube, também, do meu grande sonho de ser mãe.
Me recordo claramente do cheiro de makka12 que exalava nas dependências de sua casa, quando eu fazia visitas à sua família no período vespertino. Sua mãe preparava o melhor que eu provei em toda a minha vida.
E não há como esquecer de todos os sonhos utópicos que idealizei com você e que não pudemos realizar. Hoje percebo que não deveria ter sido tão entregue; talvez pudesse ter evitado o detrimento. E tudo o que você foi, não permiti que acontecesse de novo.
Sinto falta da garota bondosa que eu quis ter sido para você quando sua vida despenhou. Questiono-me se depois de tantos anos que se passaram, você ainda diz que afastar-se de mim fora a melhor alternativa. Saiba, essas palavras nunca me consolaram. Você não foi bom para mim, meu amor. Mas como eu o venerei apesar do teu egoísmo!
Costumavas dizer-me, com a voz cheia de sagacidade e perspicácia, que as pessoas não eram insubstituíveis. Eu balançava a cabeça numa negativa insana, você não tinha razão, eu sabia. Mas sei que soube aplicar essa teoria comigo.
Larmes, oh, douces larmes13.
Gostaria que tivesse permanecido, mas espero que esteja bom onde está. Descobri, há dezenove anos atrás, que construiu sua vida com uma mulher loura e esguia, de feições angelicais como as das personagens das obras de arte que você tanto apreciava. Ela deve ser boa no cuidado da prole, e uma boa base para você. Não sabes que andei vasculhando sua vida daqui de minha sarjeta. Sei que não deveria, mas fora inevitável. Apesar do tempo que passou, você continuou sendo insubstituível.
Em seu casamento, o buquê de sua idílica esposa fora composto porcattleyas14. São flores que, desde tempos remotos, adorei. Não sabe o quanto a invejo e o quanto meu coração a despreza. Você a ama. Ah, eu sei que a ama. Meu peito põe a esmiuçar-se quando penso no quanto ela o faz feliz. Enxergo o vermelho em minhas pálpebras cansadas quando me vem na memória que eu teria dado minha vida por você caso tivesse dado-me oportunidade de fazê-lo.
Ser esquecida continua sendo meu grande pavor. Na juventude, eu não precisa esforçar-me para que rememorassem minha sutil, mas marcante, presença. Esbravejei para tornar-me notável no mundo que decidi seguir; jamais quis ser apagada da história sem nenhum crédito. Minha obsessão por destaque destruiu minha humildade e arrancou o calor humano que tanto explodia dentro do meu corpo caloroso.
Vivias dizendo-me que eu era bondosa e incomparável, que nunca enxerguei o poder bonito que emanava de meus poros, que não notava o quanto merecia ser feliz e idolatrada. Dizia-me que não conseguiria realizar-me, pois seu egoísmo destruiria nossa relação. E nós sequer tentamos – pareço ter assustado-o com minha ganância por felicidade e proteção extrema. Você tomou decisões por mim. Sequer soube, meu bem, cuidar do muito que eu dei. Dei-lhe tanto, que não sobrou míseras migalhas para reconfortar a mim mesma. Dei-lhe mais do que para qualquer outra pessoa no mundo. Antigas cortes, nem de longe, aproximaram-se da sua.
Ninguém nunca viveu por mim. Nunca. Nenhuma oportunidade, nenhuma esperança sequer. E diziam que eu iria longe, querido. Apostaram tão alto naquela garota bondosa e repleta de sonhos coloridos com aroma de sol quente! E ela, nada pôde fazer quando a escuridão tomou conta de seus intermináveis dias.
Jamais fui suficiente para ser a razão existencial de alguém.
Enquanto você supunha que deixar-me era a melhor opção, manchas arroxeadas como hematomas pairaram no meu ego e inflamaram-me o âmago. Fui buscar distração nos braços de estranhos, trajando-me com peças curtas e sapatos de salto alto glacées15. Não tive a quem correr. Não tive motivos para continuar com minha vidinha retrógrada de moça de família.
A bela e cândida jovem, cheia de pompas, que teria um futuro brilhante pela frente, rufiava, desconsolada, com homens de alto poder aquisitivo; enquanto o homem que mais amava estava distante e desconexo daquele amor e cuidado que tanto quis dar.
Com o tempo, a arrogância e o cinismo foram agregados à minha personalidade, deixando de lado toda a bonança que você tanto elogiava. Não me tornei a mãe amorosa e basbaque; deixei de olhar as estrelas no céu infinito; parei de cantar as nossas canções – depois de você, não mais cantei apaixonada e sussurrantemente no ouvido de quem quer que fosse – e passei a odiar as flores e os dias de sol. A dança deixou de ser um refúgio de frustrações e também deixei de fazer os movimentos por amor.
No que me tornei, meu mais velho e doce amigo? Uma carcaça amarga da menina que eu costumava conhecer tão bem. Tant pis16.
Eu não me reergui depois de seu abandono. Não consegui adoecer e cair na cama porque isso seria insuficiente. Suicídio? Céus, eu não teria peito para isso. Suplício seria imaturidade. O remédio fora seguir o imundo caminho onde via-se as passadas dos desesperados, e fechar aquelas portas que eu deixei abertas por durante um tempo que me pareceu longo, para se caso você quisesse voltar. Mas você não regressou e eu as fechei em definitivo, passando a tranca velha e enferrujada.
Porque portas fechadas não dão margem para lembranças desnecessárias.
Porque portas fechadas não sentem sua falta.
Portas fechadas não podem mais sentir sua falta – mas eu ainda sinto.”
Não leria um parágrafo sequer do escrito. As reminiscências não permitiriam que o resto de minha vida fosse tranquilo, estava convicta. Meus pensamentos estavam desordenados e sentia que não havia conseguido expressar todos os meus sentimentos naquele papel. Minha alma estava condenada à solidão e à eterna sensação de insuficiência.
O diálogo com Valentina me torturava. Devia ter espancado aquele rosto inocente de menina miúda, até fazê-la entender que deveria se contentar com o rumo que decidiu seguir. Se tornaria uma velha carrancuda como eu.
Piquei a folha em pequenos pedaços e joguei os fragmentos pelo assoalho. Catei a piteira e pus-me a tragar o cigarro com uma força homicida. Estava diante das portas que fechei. Perante a todo o abandono.
E ali permaneceria diante do meu império de frieza e joias caras. O corpo usado e sujo pelos carrascos aos quais me vendi a vida inteira – sem nunca ter pertencido a um só homem e nem ter visto meu corpo inchar como um balão para conceber um filho.
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Atualizado em: Qua 9 Dez 2015

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