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A Bailarina
De repente a música cessou e no imenso palco em que a bailarina bailava escureceu-se. Seu olhar não mais brilhava, o brilho havia se dissipado para além do infinito. Agora diante do velho teatro ela contemplava a escuridão que fazia morada em seu mais intimo ser.
A bailarina recordava-se de sua primavera que o vento espalhava pouco a pouco no ar; via também o brilho da lua refletida em uma poça de lama, fazendo-a lembrar-se dos tempos de luz agora suplantados pelas horas de trevas que estava vivendo. Trevas que foram trazidas em uma caixinha negra que continha contos e poesias com uma clareza–obscura que não agradara os olhos e ouvidos da bailarina, habituada apenas a ouvir belas sinfonias.
Com suas sapatilhas em punho, sentada na sarjeta, as recordações caminhavam em seu pensamento acompanhadas pela bela sinfonia de Beethoven ‘Pour Elise’ e se imaginava em seus movimentos espiralados, iluminando sorrisos ocultos que a contemplavam. Agora a única luz que reverberava era o reflexo da lua cheia naquela poça de lama que brilhava com os pingos de prantos que pareciam cristais entrando em estado liquido para depois enegrecerem.
Ex-trovadores que por ali passavam e que outrora se inspiravam na bailarina para compor versos amorosos, lamentavam o esfacelamento das belas rimas e o nascimento de poesias bruscas e animalescas.
O vento forte oriundo das águas do mar que ficava ali próximo trazia o olor de liberdade que a bailarina não possuía, pois a tristeza conjugada à solidão haviam-na encarcerado. Como que levada pelo som das águas batendo no rochedo, a bailarina quis dançar junto a ela lançando-se do precipício, adentrando no reino da rainha do mar.
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