- Drama
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Untiled
Quarta-feira, hora melancólica das cinco e meia, quando chove. Choveu úmido e frio naquela tarde antes sufocante de novembro. Ela caminhava na direção do metrô, os sapatos molhados. Pelo menos o metrô lhe parecia um progresso no meio dos tempos decadentes. Dava-lhe a sensação de estar em outro país. A decadência em torno a assustava. (Arthur da Távola. Em flagrante.Rio de Janeiro.Bluhm,2000.p.61.)
Entrou no primeiro vagão e se sentou no canto. O vagão, ainda vazio, silencioso, muito diferente da cidade que estivera ainda a pouco.Lá, o barulho da chuva ao tocar o chão, os passos apressados de quem foge desta, o choro das crianças, o barulho dos carros passando pelas ruas esburacadas, enfim, toda a confusão da cidade subdesenvolvida.No vagão, apenas os murmúrios baixos das pessoas na estação e, agora, alguns passos daqueles que chegavam para ocupa-lo.Aos poucos, o vagão foi enchendo, enchendo...até que só sobrou o lugar ao lado dela.O metrô partindo, a porta fechando.Ela olhou para trás, era mais um dia em que nada acontecia, como todos da sua vida.Como tudo que ouvia era apenas murmúrios baixos, abriu o livro que trazia na página marcada e...a porta se escancarou com um estalo alto, fazendo ela se sobressaltar e derrubar o livro que segurava.Se virou para ver o que acontecera, alguém ofegante entrara, a porta fechando em suas costas.O rapaz olhou o metrô e seguiu em sua direção.Eles se olharam por um segundo, ele olhou para o chão e ela desviou o olhar para os joelhos.Levou um susto tão grande naquela hora que se esqueceu do livro.Começou a procura-lo.Sentiu um dedo no braço.Olhou para cima intrigada.Era o homem que abriu a porta a força.
-Esse livro é seu?-Ele olhava para ela, segurando seu livro.
-Sim-Ela estendeu a mão para pega-lo, mas ele não devolveu. Virou a capa para ele e sorriu.
-É um bom livro-leu o título enquanto se sentava ao seu lado - Gosta de Psicologia?
-Um pouco - respondeu automática. Não costumava falar com estranhos.
-Ah, prazer, sou Lúcio - disse estendendo a mão.
-Luísa... - ela apertou a mão um pouco insegura.Ele devolveu o livro.
-Gosta de ler?-perguntou olhando em seus olhos.
-Sim...
Embora fosse uma conversa simples a início, terminou virando um papo descontraído e, diante das afinidades e gostos parecidos, romântico. Trocaram o telefone antes dela descer, um ponto antes dele.Ela desceu com a alma limpa, nova.Seguiu o trecho de quinze minutos até sua casa.Pegou um copo e ligou a TV no noticiário. Começou a encher o copo, mas só encheu até a metade. O copo escorregou das mãos e o sorriso sumiu. Na TV, um rosto familiar, uma morte.Chegou mais perto da tela, em frente ao sofá.Aquele rosto estava cheio de sangue, mas reconhecível.Lúcio, que ela conhecera mais cedo, fora atropelado por um carro que fugiu do local.Desabou sobre o sofá.Sua vida era horrível.O melhor que já lhe acontecera nela acabou ali, na TV.Se morresse agora não faria diferença.No dia seguinte no Jornal diriam: Mulher se suicida em casa.Resolveu.Pegou a faca, se viu refletida nela.Era isso.
Jornal do Rio do dia seguinte:
Mulher solteira morre em desabamento da própria casa
Entrou no primeiro vagão e se sentou no canto. O vagão, ainda vazio, silencioso, muito diferente da cidade que estivera ainda a pouco.Lá, o barulho da chuva ao tocar o chão, os passos apressados de quem foge desta, o choro das crianças, o barulho dos carros passando pelas ruas esburacadas, enfim, toda a confusão da cidade subdesenvolvida.No vagão, apenas os murmúrios baixos das pessoas na estação e, agora, alguns passos daqueles que chegavam para ocupa-lo.Aos poucos, o vagão foi enchendo, enchendo...até que só sobrou o lugar ao lado dela.O metrô partindo, a porta fechando.Ela olhou para trás, era mais um dia em que nada acontecia, como todos da sua vida.Como tudo que ouvia era apenas murmúrios baixos, abriu o livro que trazia na página marcada e...a porta se escancarou com um estalo alto, fazendo ela se sobressaltar e derrubar o livro que segurava.Se virou para ver o que acontecera, alguém ofegante entrara, a porta fechando em suas costas.O rapaz olhou o metrô e seguiu em sua direção.Eles se olharam por um segundo, ele olhou para o chão e ela desviou o olhar para os joelhos.Levou um susto tão grande naquela hora que se esqueceu do livro.Começou a procura-lo.Sentiu um dedo no braço.Olhou para cima intrigada.Era o homem que abriu a porta a força.
-Esse livro é seu?-Ele olhava para ela, segurando seu livro.
-Sim-Ela estendeu a mão para pega-lo, mas ele não devolveu. Virou a capa para ele e sorriu.
-É um bom livro-leu o título enquanto se sentava ao seu lado - Gosta de Psicologia?
-Um pouco - respondeu automática. Não costumava falar com estranhos.
-Ah, prazer, sou Lúcio - disse estendendo a mão.
-Luísa... - ela apertou a mão um pouco insegura.Ele devolveu o livro.
-Gosta de ler?-perguntou olhando em seus olhos.
-Sim...
Embora fosse uma conversa simples a início, terminou virando um papo descontraído e, diante das afinidades e gostos parecidos, romântico. Trocaram o telefone antes dela descer, um ponto antes dele.Ela desceu com a alma limpa, nova.Seguiu o trecho de quinze minutos até sua casa.Pegou um copo e ligou a TV no noticiário. Começou a encher o copo, mas só encheu até a metade. O copo escorregou das mãos e o sorriso sumiu. Na TV, um rosto familiar, uma morte.Chegou mais perto da tela, em frente ao sofá.Aquele rosto estava cheio de sangue, mas reconhecível.Lúcio, que ela conhecera mais cedo, fora atropelado por um carro que fugiu do local.Desabou sobre o sofá.Sua vida era horrível.O melhor que já lhe acontecera nela acabou ali, na TV.Se morresse agora não faria diferença.No dia seguinte no Jornal diriam: Mulher se suicida em casa.Resolveu.Pegou a faca, se viu refletida nela.Era isso.
Jornal do Rio do dia seguinte:
Mulher solteira morre em desabamento da própria casa
Atualizado em: Sex 2 Jan 2009
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