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Antropofagia

    Acordei em meio a um bando de índios seminus. Seus corpos apenas estavam cobertos por rústicas pinturas de cor avermelhada. Eu estava amarrado a um tronco no centro de uma área circundada por frágeis casebres de madeira e palha. Logo diante de mim uma mesa estava posta e os índios faziam seu banquete enquanto dançavam em um ritual que eu preferia não presenciar. É que meus companheiros também caíram em combate com os índios e dois deles estavam amarrados em troncos distantes do meu, mas dentro do meu campo de vista. Encontravam-se mortos ou desmaiados a julgar pelas suas cabeças apoiadas junto ao peito. O terceiro de meus companheiros, como pude supor, servia de banquete aos índios que agora o desmembravam e compartilhavam partes do seu corpo. Aquele que eu julguei ser o líder segurava com as duas mãos a cabeça de meu companheiro. Segurou-a por sobre a sua e disse algumas palavras supostamente dirigidas a seus deuses demoníacos. Feito isso, abriu-a com uma forte pancada. Retirou o cérebro e o comeu em poucos instantes enquanto o saudavam os demais indígenas. Meu estômago se contorceu numa ânsia e, tivesse eu devidamente alimentado, devolveria cá fora tudo que contivesse em seu interior. As náuseas tomavam-me a disposição e com muito esforço me mantive acordado, embora tão fraco que somente mantinha meus olhos em um ponto à frente. Não possuía forças para rezar a Deus.
     Enquanto me debatia em minha luta pela sanidade o segundo de meus companheiros recebeu um final semelhante ao companheiro anterior, e logo após o terceiro. O tempo trazia vagarosamente a minha sina ensaiada ante meus olhos por meus companheiros e nossos anfitriões, eu procurava mais uma vez forças para encontrar Deus em meus pensamentos. Em vão foi a minha luta e agora me envolviam em suas fumaças ritualísticas numa dança a minha volta. Senti-me mais fraco e uma peça teatral se fez na minha cabeça onde as imagens encenavam os fatos de minha vida. Ali naquela hora pude me observar embarcando de Portugal com meus três companheiros agora falecidos. Aqui no litoral da Colônia Portuguesa desembarcamos em busca das riquezas dessa terra. Era a nossa missão expulsar os índios da terra, porém fomos emboscados e capturados. Mais uma vez faria eu uma viagem sobre o enorme oceano e me encontraria novamente com meus companheiros. Já eu me preparava para me entregar à morte quando um estrondo se fez retumbante dentro da aldeia. Os índios se armaram e foram mortos em combate. A aldeia foi incendiada. Eu fui desamarrado e poupado do meu trágico destino. Meu salvador disse apenas uma frase:
     – Deus nos mandou aqui para salvá-lo.
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Atualizado em: Dom 9 Nov 2014

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