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O banho do beija-flor
– Sua câmera tem Zoom?
– Claro! Qualquer uma tem.
– Ótimo! Então prepara, pois quero fotografar bem de pertinho o momento em que o beija-flor entrar debaixo da água.
– Como? Qual água?
– É que todas as manhãs eu finjo que estou aguando o jardim e ele vem e se esbalda no jato da mangueira.
– Legal! Vou buscar a câmera.
– Corre, pois ele já está perto da jabuticabeira. Huhuu! Vem gracinha refrescar na chuvinha da mamãe.
– Cadê ele?
– Acho que se assustou. Tem que chegar devagarinho. É só esperar que ele volta.
– Tomara! Com esse falta de água e o racionamento iminente, eu me sinto meio desconfortável em ver esse esguicho jorrando, enquanto o colibri não muda de ideia.
– Lá vem você cortar meu barato. Estou aqui feliz, curtindo um momento romântico e você joga uma ducha de água fria.
– Eu não! Quem está desperdiçando água aqui é você!
– Tá bom! Some daqui com essa máquina que eu vou fechar o registro. Vocês homens são umas pedreiras insensíveis!
– Mas meu amor!! O que vão pensar os vizinhos?
– Cinco minutos de água jorrando não secam o Cantareira..... Já a sua frieza é que me desaponta.
– OK! Abre o registro que eu tiro a foto.
– Agora é tarde. Ele já foi embora e levou junto o meu humor. Dá vontade de pedir divórcio.
– Quer dizer então que São Pedro atrasa a chuva, o governo não administra bem os recursos hídricos, o folgadão do beija-flor fica sem banho e eu quem paga o pato?
– Sem comentários!!!
– Meu bem! Não vamos fazer tempestade com uma mangueira d’água. Dá um sorriso, vai! Olha o passarinho!!!!
– Click!
Moral da história: Aprenda com os políticos; só use a palavra “racionamento” em condições extremas.