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Serenata
- Resolvi que vou aprender a tocar violão.
- Parabéns! Trata-se de um instrumento sonoro e charmoso. Mas o que o motivou tão repentinamente?
– Acho que está no sangue?
– É mesmo? Não me consta que haja músicos em sua família.
– Engano seu. Descobri que o irmão do meu bisavô paterno tocava prato na banda da cidade.
– Parece pouco...
– Como? Você acha então que o prato não tem importância e que a banda pode passar sem ele? Você nunca se emocionou ao ver e ouvir aqueles enormes discos brilhantes vibrando nas mãos dos músicos de grandes orquestras?
– Ora então por que você não se dedica, como seu parente, a este instrumento e esquece o violão?
– Não. Eu prefiro outro que me ofereça mais flexibilidade, seja, popular e menos escandaloso.
– Não quero te desanimar, mas tem certas coisas que só se aprende quando se é jovem. Andar de bicicleta, nadar e até dirigir.
– Lá vem você novamente com seus preconceitos. Sua tese hoje em dia já está ultrapassada.
– Ok! Retiro o que eu disse. Entretanto existe algo que não se compra, nem se pega emprestado em qualquer idade: talento. Quem tem já começa a demonstrá-lo ainda de fraldas.
– Sinceramente, da minha mulher eu esperava um pouco mais de incentivo. Ao invés disso só ouço comentários negativos. Não importa! Vou te mostrar que tenho garra...
– Quero ver!
– Eu estava tão confiante que já sonhava fazer uma serenata para você, mas pelo visto terei que ir com meu violão, cantar em outra janela.
– É! Oferecer uma serenata tocando um prato certamente não daria certo. Confusão na certa!
– Por que você não e esquece este maldito prato e tenta enxergar o lado romântico da minha intensão. Depois as mulheres reclamam que os maridos não são mais os mesmos.
– Está bem. Acho que você tem razão. Mas não seja tão otimista. Aprender qualquer instrumento requer muita dedicação e persistência. Ouvi dizer que nos primeiros dias os dedos do violonista doem muito. Além disso, é melhor você se focar apenas nos solos ou acompanhamentos pois sua voz é muito desafinada. Isso não sou eu quem diz.
– O que você entende de música para me dar essas lições e fazer críticas tão severas? Na sua família, por acaso, tem alguém que toque pelo menos prato?
– Eu já havia me esquecido do prato. Você é quem está retomando o tema.
– Está bem. É melhor interromper essa discussão e jantarmos logo.
– Concordo. Toma aqui seu prato e bom apetite!