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UFANISMO ATOLEIMADO

Que eventos, verdadeiramente esportivos, devem ser incentivados, apoiados e até financiados, concordamos. Todavia, transformá-los em instrumentos que transcendam àquilo que de fato o são é não só má fé como crime hediondo. Desconfio que isso ocorrerá tanto com a “Copa do Mundo” como com os Jogos Olímpicos no Brasil.

O problema é que as jogatinas empresariais correm à solta, impondo seus estilos, suas culturas, suas práticas, enfim, seus modos de ser. A moeda fala mais alto e os lucros passam à categoria de deus que a tudo dirige, corrompe e ilumina. Há, posso assim dizer, uma espécie de estupidez consentida, endêmica, barulhenta, maquiando toda uma realidade.

O Brasil, infelizmente, não é o que desejamos, arquitetamos, ou melhor, não é o que idealizamos. Suas matizes são duras, são implacáveis, são agonizantes, sobretudo, são contraditórias. Por trás das cantilenas ufanistas, existem facetas de nossa realidade que nos envergonham, que nos esbofeteiam no rosto, que nos humilham impiedosamente. Afinal, os dados concretos no campo educacional não atestam uma imoralidade? Ou sermos um dos piores do mundo pouco importa? Na área de segurança pública, beiramos um estado de guerra civil permanente. No terreno da saúde, morre-se por ineficiência, incompetência e por corrupção. Mais da metade de nossa gente vive sem saneamento básico, quase sete milhões estão amontoados em favelas, outros tantos abaixo da linha de miséria.

O sistema que nos traga (Liberal Conservador) não se rende ao clarão de tochas olímpicas, aos encantos das teatralizações oníricas ou a rosários de recordes. Ao contrário, ele se serve disso fetichizando nossa realidade, tentando nos fazer acreditar num mundo ficcional no qual Deus e o diabo desfilam de mãos dadas, trabalhando um amanhã da mais pura e autêntica ataraxia. Os empresários de ilusões não brincam em serviço, com seus ideólogos, com seus profetas, com seus marqueteiros, com seus estratagemas, com seus sóis de papel, fabricam consciências ingênuas e fazem adormecer espíritos críticos. Ora, o que interessa é o lucro, não existem anjinhos, ninguém é amador. No frontispício velado do capitalismo embrutecido, vemos o lema cínico:”Me dá, me dá”.

Fora, portanto, com esse ufanismo atoleimado, que gera comoção, que faz mover lábios; mas que atrofia a inteligência, cega nossa consciência. Se somos “brasileiros, com muito orgulho, com muito amor”, há de ser porque estamos, sim, melhorando nossa caminhada rumo à cidadania plena. É porque aprendemos que nada se move fora de ações políticas, é porque sabemos que o Brasil de nossos sonhos precisa ser construído, não é dádiva de um messias, tampouco enquadramento em projetos político-eleitoreiros, em programas compensatórios que mantém tudo segundo os interesses dominantes, é porque sabemos muito bem separar o joio do trigo no universo esportivo.

Enfim, o Brasil agoniza socialmente e muitos nos querem impor um reinozinho de mentirarias, de faz-de-conta, de nhenhenhéns. Repito: um ufanismo atoleimado.

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Atualizado em: Ter 13 Out 2009

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