- O Fazer Literatura
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Criação versus... ou mais criador?
Um dia, um amigo de literatura me perguntou: " --- Hiago, se você
não fosse da literatura, do que seria?"...
Opinião: Bem... eu poderia dar uma simples resposta de que se pode ser de tudo e da literatura ao mesmo tempo: jardineiro e escritor, pizzaiolo e escritor, etc... mas, respondi concisamente que seria de algo que distorcesse sempre o posto pelos homens.
Ele não entendeu muito de nada, mas eu já dei esta resposta pronto a explicá-la. E comecei dizendo do advogado, do jornalista e do escritor. Qual a semelhança entre eles?
A distorção do posto pelo homem!
Veja que o advogado tem uma lei qualquer, mas... pode distorcer o que esta lei quer dizer... ou seja, pode mudar 'leve e sutil, mas precisamente' o que diz fazer justiça, intervindo na penalidade e até no veredicto do condenado. E um advogado só é bom quando a isso ele consegue fazer pelos interesses de seu cliente.
Veja agora que o jornalista tem uma notícia, mas... pode distorcer esta tal notícia mostrando somente um dos lados de sua significação... e a isso pode fazer tão 'leve e sutil, mas precisamente' o que diz ser a realidade... como por exemplo: pegar o testemunho das vítimas ou dos culpados... ou melhor: o jornalista escolhe o que irá noticiar, já que é, pelas leis da Física, impossível ver duas coisas do mesmo ângulo... ele tem um carro explodindo aqui e em Bagdá... outro em Nova York e no Maranhão... e escolhe a qual carro mostrar no jornal... (ou ele ou quem nele manda).
Veja que o escritor ficcionista faz também uma distorção da realidade... mas este é claro que não usa a máscara de falar pela justiça ou pela realidade... não, este está falando somente por si... ou até pela arte, coisa que provoca ainda muitas discussões, sobretudo agora com o grande romancista José de Alencar, onde denigridamente apareceram recentemente citações por escrito de originais dele em que relata situações de racismo, mostrando "sacos de sal e negros acumulados, como um só produto"... e essas críticas fazem somente ao escritor, sem levar em conta de que ele não tem de ser nem um jornalista, que tem por obrigação noticiação da realidade nua e crua... ou do advogado, que tem de andar e fazer o caminho dentro da linha Legal... ou nem muito menos reger-se por um moralismo realista ou futuralista... não, o José de Alencar pode ter sido ou não racista... e até o texto original em que esta e outras citações aparecem podem a ele isso condenar... mas até que ponto o homem ali está, que o artista não? Será que a Literatura Provocativa pode ter uma condenação ou uma burra interpretação futuramente, ao dar o exemplo do grande José de Alencar? Será, querido leitor, ou amada leitora desta coluna, que mais para frente todos verão um escritor que escreve um romance onde o personagem principal é racista... e mesmo com o tal narrador a não dizer nada que contradiga este personagem... será que assim julgarão o compositor daquela arte como um racista?
Isso me fez refletir... e admito que tanto ainda me preocupa, já que a Literatura Provocativa tanto me interessa, pois não há em mim preconceitos e sim muito pelo contrário, onde zombo de todos eles... assim como o grande Luciano, da Grécia antiga, que zombava dos que zombavam... eu em minha literatura mostro o racista como o herói e pergunto ao leitor se ele deve ter este personagem sim ou não como o tal que pintei... isso é provocar o leitor, e não somente fazer um discurso e defender uma tese de que o racista é isso e não aquilo... é interessante e guarde estas palavras... pois, quem sabe se algum dia sou apedrejado na rua, ou até mesmo preso como racista... mesmo tendo três meio-irmãos biológicos negros e tanto amá-los.
Por último deixo o motivo de fazermos literatura por tratarmos da arte, da liberdade fictícia, mesmo que esta esteja a serviço da realidade e do moralismo... devemos fazer literatura pela arte, para contrapor os assuntos humanos em sua extensa gama... que varia de racismo à libertarismo... de homossexualismo ao homo ou femofobismo... e com isso, deixo a Tese e a Antítese... que são perguntas que ainda temos que responder:
Tese: "... muitos livros que escrevi estão fora do que hoje sou... pois o que eu acreditava quando os escrevi, hoje não mais me é importante... até quando veremos o artista como sendo a arte que ele faz... mesmo que ele nunca tenha feito duas obras semelhantes...?" [Jorge Amado, escritor; 1953]
Antítese: "... olha... se eu descrevo uma cor como sendo amarela como a inveja, você que me lê logo tratará de assimilar o que lhe expressa a cor amarela com o que lhe expressa a inveja... e tanto numa, como na outra... assim como na conclusão entre elas, nada será igual ao que eu senti e tentei expressar... tudo o que você abstratará será somente uma aproximação do que leu... e tudo o que eu escrevi foi somente uma aproximação do que eu abstraí. Assim acontece com a minha pessoa... eu, com este comentário posso estar dizendo que o leitor chega apenas perto do que eu criei... mas não... eu quero dizer que ele chega exatamente ao ponto do que eu criei... pois meu criar foi somente o seu abstrair... pois o produto desta abstração já não é de minha autoria e sim sua... sim do leitor. Até quando vão ver os artistas como o ponto final da arte, e não como sendo somente a ponte que liga a realidade ao sublime?" [Paulo Leminski, poeta; 1988]
Opinião: Bem... eu poderia dar uma simples resposta de que se pode ser de tudo e da literatura ao mesmo tempo: jardineiro e escritor, pizzaiolo e escritor, etc... mas, respondi concisamente que seria de algo que distorcesse sempre o posto pelos homens.
Ele não entendeu muito de nada, mas eu já dei esta resposta pronto a explicá-la. E comecei dizendo do advogado, do jornalista e do escritor. Qual a semelhança entre eles?
A distorção do posto pelo homem!
Veja que o advogado tem uma lei qualquer, mas... pode distorcer o que esta lei quer dizer... ou seja, pode mudar 'leve e sutil, mas precisamente' o que diz fazer justiça, intervindo na penalidade e até no veredicto do condenado. E um advogado só é bom quando a isso ele consegue fazer pelos interesses de seu cliente.
Veja agora que o jornalista tem uma notícia, mas... pode distorcer esta tal notícia mostrando somente um dos lados de sua significação... e a isso pode fazer tão 'leve e sutil, mas precisamente' o que diz ser a realidade... como por exemplo: pegar o testemunho das vítimas ou dos culpados... ou melhor: o jornalista escolhe o que irá noticiar, já que é, pelas leis da Física, impossível ver duas coisas do mesmo ângulo... ele tem um carro explodindo aqui e em Bagdá... outro em Nova York e no Maranhão... e escolhe a qual carro mostrar no jornal... (ou ele ou quem nele manda).
Veja que o escritor ficcionista faz também uma distorção da realidade... mas este é claro que não usa a máscara de falar pela justiça ou pela realidade... não, este está falando somente por si... ou até pela arte, coisa que provoca ainda muitas discussões, sobretudo agora com o grande romancista José de Alencar, onde denigridamente apareceram recentemente citações por escrito de originais dele em que relata situações de racismo, mostrando "sacos de sal e negros acumulados, como um só produto"... e essas críticas fazem somente ao escritor, sem levar em conta de que ele não tem de ser nem um jornalista, que tem por obrigação noticiação da realidade nua e crua... ou do advogado, que tem de andar e fazer o caminho dentro da linha Legal... ou nem muito menos reger-se por um moralismo realista ou futuralista... não, o José de Alencar pode ter sido ou não racista... e até o texto original em que esta e outras citações aparecem podem a ele isso condenar... mas até que ponto o homem ali está, que o artista não? Será que a Literatura Provocativa pode ter uma condenação ou uma burra interpretação futuramente, ao dar o exemplo do grande José de Alencar? Será, querido leitor, ou amada leitora desta coluna, que mais para frente todos verão um escritor que escreve um romance onde o personagem principal é racista... e mesmo com o tal narrador a não dizer nada que contradiga este personagem... será que assim julgarão o compositor daquela arte como um racista?
Isso me fez refletir... e admito que tanto ainda me preocupa, já que a Literatura Provocativa tanto me interessa, pois não há em mim preconceitos e sim muito pelo contrário, onde zombo de todos eles... assim como o grande Luciano, da Grécia antiga, que zombava dos que zombavam... eu em minha literatura mostro o racista como o herói e pergunto ao leitor se ele deve ter este personagem sim ou não como o tal que pintei... isso é provocar o leitor, e não somente fazer um discurso e defender uma tese de que o racista é isso e não aquilo... é interessante e guarde estas palavras... pois, quem sabe se algum dia sou apedrejado na rua, ou até mesmo preso como racista... mesmo tendo três meio-irmãos biológicos negros e tanto amá-los.
Por último deixo o motivo de fazermos literatura por tratarmos da arte, da liberdade fictícia, mesmo que esta esteja a serviço da realidade e do moralismo... devemos fazer literatura pela arte, para contrapor os assuntos humanos em sua extensa gama... que varia de racismo à libertarismo... de homossexualismo ao homo ou femofobismo... e com isso, deixo a Tese e a Antítese... que são perguntas que ainda temos que responder:
Tese: "... muitos livros que escrevi estão fora do que hoje sou... pois o que eu acreditava quando os escrevi, hoje não mais me é importante... até quando veremos o artista como sendo a arte que ele faz... mesmo que ele nunca tenha feito duas obras semelhantes...?" [Jorge Amado, escritor; 1953]
Antítese: "... olha... se eu descrevo uma cor como sendo amarela como a inveja, você que me lê logo tratará de assimilar o que lhe expressa a cor amarela com o que lhe expressa a inveja... e tanto numa, como na outra... assim como na conclusão entre elas, nada será igual ao que eu senti e tentei expressar... tudo o que você abstratará será somente uma aproximação do que leu... e tudo o que eu escrevi foi somente uma aproximação do que eu abstraí. Assim acontece com a minha pessoa... eu, com este comentário posso estar dizendo que o leitor chega apenas perto do que eu criei... mas não... eu quero dizer que ele chega exatamente ao ponto do que eu criei... pois meu criar foi somente o seu abstrair... pois o produto desta abstração já não é de minha autoria e sim sua... sim do leitor. Até quando vão ver os artistas como o ponto final da arte, e não como sendo somente a ponte que liga a realidade ao sublime?" [Paulo Leminski, poeta; 1988]
Atualizado em: Seg 8 Dez 2008