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Seria Artaud esquizofrênico?

Seria Artaud esquizofrênico?

Fui procurado por jornalista da revista Veja, que necessitava de dados para citar a esquizofrenia de Artaud em reportagem sobre esquizofrenia. Minha resposta se deu em dois e-mails, que aqui condenso, e a tréplica foi: Para não haver risco, não vamos citar Artaud na reportagem sobre esquizofrenia. De fato, não há certeza absoluta de tal diagnóstico.

Há um engano no campo psi, psicologia, psicanálise e psiquiatria, de que se pode avaliar o estado mental ou de personalidade de uma pessoa pelo que ele escreve. Alguns escritos podem se prestar a isto, não todos. Volta e meia vem à baila a afirmativa ou o questionamento de que Artaud era esquizofrênico. Seria? Diagnosticar esquizofrenia pelos escritos de um surrealista é mostrar-se ignorante em psiquiatria e em literatura. Artaud era surrealista e o objetivo do movimento era, entre outros, descobrir o inconsciente e manifestar a loucura. Artaud apenas cumpriu estes objetivos, e os textos dos demais surrealistas são incomparáveis aos que nos legou. É o único surrealista de que se tem, ainda, conhecimento: quais os nomes dos demais? Quem se lembra de André Breton, o pai do surrealismo, cujo único texto que se difunde é o manifesto do movimento, assinado por ele e escrito por todos os participantes? Se alguns professores de literatura o conhecem, há enciclopédias que nem o citam. Analisar a personalidade pelo que se escreve pode ser possível dentro de determinados limites, mas, necessariamente não o será quando o texto tiver sido escrito e reescrito para se cumprir os objetivos determinados pela aderência a um movimento literário. Artaud sabia que na atividade artística, e ele era um artista na literatura, dez por cento é criatividade e noventa por cento é suor. Se os textos que escreveu sugerem a presença de uma doença mental, diagnostica-se, simplesmente, que ele cumpriu os objetivos propostos pelo surrealismo.

Não há dados claros na obra de Artaud que sejam indicadores uma doença mental. Seu psiquiatra Gastón Ferdiére o tratou durante nove anos em manicômio e não lhe deu o diagnóstico de esquizofrenia. Anos após, em “Eu tratei Antonin Artaud” diz “investigarei se será possível associá-lo com um processo esquizofrênico”. Artaud foi parar em manicômio após o episódio de Dublin, em que, fazendo o que seria depois imitado como happening, manifestou-se e um motorista de taxi lhe pôs um revólver na mão, resultando ter sido preso como desordeiro e deportado. Era praxe, na época, a polícia prender pessoas em atos não criminosos, apenas lesivos à ordem pública, e depositá-los em manicômios. Os psiquiatras aceitavam a ingerência policial da mesma forma como no século 18 aceitavam como pacientes nos manicômios mulheres cujos maridos delas precisavam se livrar. Os critérios usados por Ferdiére para diagnosticar a “psicose” de Artaud eram apenas justificavas para a prisão manicomial: “delírio crônico, violentamente anti-social, perigoso para a ordem pública e para a segurança das pessoas, confusão mental, idéias místicas, glossolalias, reconhecimentos ilusórios”.

Não há, na biografia de Artaud, registro de comportamento anti-social além do episódio de Dublin. Não há registro de manifestações surrealistas, outra característica do movimento, de subverter a ordem social, do tipo atrapalhar um conferencista de dar seu recado por interferências ruidosas, como se lê em registros da história do surrealismo. Apesar de não haver referência de que Artaud compartilhava com o grupo este comportamento, se houvesse, teria de ser valorizado apenas como sua participação no surrealismo. Na época de Artaud não se distinguiam os sintomas causados pela doença dos sintomas causados pelo tratamento, bem como não se excluía do diagnóstico pacientes com sintomas causados pelo uso de drogas. Artaud era usuário de drogas, se apresentou sintomas mentais não houve consideração se eram devidos a drogas ou a patologia mental. Artaud não foi internado com diagnóstico de toxicomania, afirma Ferdiére. Foi usuário de láudano sob receita médica a maior parte de sua vida, desde os 5 anos de idade. Era cabalístico, daí as idéias místicas. Lapsos de memória todos os psicotrópicos provocam, principalmente no tempo de Artaud em que substâncias químicas foram elevadas à categoria de medicamentos. Os eletrochoques provocam prolongadamente, até por meses, distúrbios cognitivos, inclusive lapsos de memória, e Artaud se submeteu a 65 sessões durante a internação. De confusão mental diga-se o mesmo. Reconhecimento ilusório, ou seja, confundir coisas e pessoas, é efeito colateral de medicamentos e de eletrochoques. O que são sintomas de uma doença: o que elas provocam ou os que o tratamento provoca?

Deleuze, em Lógica do Sentido, filosofa sobre “O Esquizofrênico e a Menina”, capítulo em que analisa a leitura que Artaud fez de Jabberwock, de Lewis Carroll, e dirá que a linguagem de Artaud é a linguagem da profundidade, leia-se inconsciente. Deleuze interpreta a “tradução que Artaud fez” quando Artaud escreve “eu não fiz a tradução”. Deleuze, como filósofo, deixa de lado, também, o fato de que Artaud era surrealista e como tal procurava a linguagem do inconsciente. Recebeu Artaud o passaporte da loucura e encontrou a linguagem da profundidade, como quem encontra por procurar, não como quem procura por exercer um defeito genético esquisofrenizante. Mesmo que o louco sistematize o seu delírio, cada manifestação verbal de sua loucura é como esvaziar os intestinos, não há quem cague e recague o cagado para que a merda esteja no ponto que corresponda a seus objetivos intestinais de cagar. (É isto um exemplo da linguagem coprolálica de Artaud, que foi tomado com sintoma de doença mental.) Os textos de Artaud eram escritos e reescritos tantas vezes quantas necessárias para satisfazer seus objetivos surrealistas, portanto, textos trabalhados para se conseguir que fossem “delírios”, a manifestação da loucura. Deleuze conclui que a palavra em Artaud é uma palavra-ação, sintoma esquizofrênico. Procurar uma palavra que atue como um objeto, e não simplesmente como palavra, e consegui-lo, é objetivo procurado e alcançado.

Para refutar o diagnóstico de esquizofrenia em Artaud, a partir de seus escritos, não estando em situação confortável, pois não sou conhecedor de toda sua obra, mas tenho as Cartas de Rodez, do período em que esteve manicomizado. O diagnóstico de esquizofrenia in vitae é difícil, tendo sido estabelecidos critérios diagnósticos tabulados no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, atualmente DSM-IV, sendo que o primeiro apareceu em 1952. Para a análise se Artaud era esquizofrênico devem ser seguidos os critérios usados na época em que foi internado, 1936, portanto, basicamente os critérios de Bleuler, o “inventor da esquizofrenia”, que faleceu em 1939.

A análise dos escritos de Artaud pelos critérios de Bleuler não leva à afirmativa de ter sido esquizofrenia o problema por ele apresentado. Não há na obra de Artaud elementos que indiquem ter dificuldades do tipo divisão do afeto, “afeto separado da corrente principal da consciência, não disponível na relação com as pessoas”. O distúrbio de afeto, apresentado por Artaud era angústia, termo praticamente banido do vocabulário psiquiátrico, e banalizado por aqueles – inclusive psiquiatras - que pensam que é aquele mal-estarzinho que sentimos quando somos contrariados por algum evento da vida. Angústia não faz parte dos critérios diagnósticos de esquizofrenia e a de Artaud está demonstrada em seus textos, como se ele gritasse “viver dói e dói muito”. Era uma angústia desesperante, mas não a ponto de desejar suicidar-se, “o suicídio não é a solução”, escreverá. Não há “pensamentos acompanhados de afeto inapropriado”, tipo “estar feliz com a morte de alguém”.

O esquizofrênico teria de apresentar “divisão das associações”, em um “tipo de pensamento em que não se pode aplicar uma seqüência clara e lógica”. Como participante do movimento surrealista as palavras de ordem de Artaud eram “abaixo a lógica”, “abaixo linguagem clara que impede o vazio do pensamento”, “abaixo a cultura congelada”, “condenação de todo obstáculo ao desejo e toda a concessão ao princípio de realidade”, postura antidogmática e contra conceitos pré-estabelecidos; uso do pensamento analógico como meio de suprimir as contradições inerentes à lógica; assimilação contínua do irracional como reorganização contínua do racional; abaixo a tradição, etc.,

Artaud apresentava a “divisão da atenção” ou incapacidade para se concentrar. Demonstra um fluxo de pensamento enorme, “são mil palavras querendo sair pela boca ao mesmo tempo”, “a consciência dos mil choques interiores entre as impressões do inconsciente”. Este fluxo aumentado do pensamento não é critério diagnóstico de esquizofrenia, mas dá a impressão de falta de concentração, bem como dá a impressão de associações bizarras, pois, quando se responde, o pensamento já está a muita distância da pergunta, esta tendo atualizado as mil palavras que querem sair pela boca. Em sua obra descreve o “movimento do cheio ao vazio”, os movimentos de vazio foram entendidos por muitos comentadores como momentos em que se sentia “vazio”, momentos de grande fluxo de pensamento alternados com momentos de baixo fluxo, quando poderia aparentar falta de atenção. Fazer associações mentais bizarras é um critério diagnóstico, porém, ele as faz por perseguir um objetivo de conseguir fazê-las, portanto, deixa de ser critério diagnóstico.

Na esquizofrenia bleuriana há a divisão do sentido de realidade, quando a barreira entre o ego e o mundo externo – o senso de realidade – é rompida, bem como o sentido de individualidade; o indivíduo e o mundo se fundem em uma unidade. Artaud ao contrário demonstra um senso de realidade fora do comum para a sua época. Está preocupado com a realidade, vendo-a “no momento em que os princípios (que a regem) surgem na superfície como os golfinhos”, e avança na proposta de Descartes, o que ainda não foi assumido. Para Descartes é preciso duvidar até chegar às evidências; Artaud diz quase textualmente que é preciso duvidar até destruir as evidências, do que se pode inferir que a realidade não é o que dela pensamos, mas ela é o que é, independente de nossos pontos de vista/evidências. Quanto à individualidade, o que Artaud defende é a individualidade radical, como o fez Fichte, por exemplo, na filosofia. Pode soar como uma individualidade exageradamente egocentrada, mas seu pedido está em contexto com a procura de uma “cultura unitária”, não tendo, portanto, perdido os limites das relações entre o Homem e a Sociedade. Se analisado dentro do contexto histórico, Artaud se posicionava contra a homogeneização da sociedade, que culminou no fascismo, no nazismo e no comunismo, pregando ser preciso “dar crédito ao ser humano ao absurdo”, valorizando radicalmente sua individualidade. Não é loucura, é filosofia.

Na divisão da realidade do esquizofrênico surgem idéias de referência: o paciente refere a si mesmo coisas e acontecimentos que ocorrem no mundo exterior, tipo as pessoas estarem falando sobre ele ou olhando para ele ou reagir a um golpe de punho na mesa como se tivesse recebido um tapa. Não há indicadores na obra de Artaud que apontem para este caminho. Em Artaud a frase “eu assisto a Antonin Artaud” pode ser interpretada, superficialmente, como “não ter noção de quem é”, mas apenas se se desvincular dos estudos da mitologia egípcia com que orientou uma boa parte de seus trabalhos. Ele se refere ao Ka, a uma das três almas egípcias. É também conseqüência do ensinamento cabalístico, “conheça-te a ti mesmo”. O esquizofrênico não “sabe exatamente o que é ser beijado ou espancado”, o que não é o caso em Artaud. Em o Bardo Todol, em Artaud, o momo, demonstra manter a percepção e a consciência intactas até mesmo durante as convulsões produzidas pela eletrochoqueterapia, tortura elevada à categoria de procedimento terapêutico.

Na conceituação de Bleuler, para o esquizofrênico “todos os elementos da realidade desabam, se desintegram e desaparecem”, o mundo está em dissolução, deixando-o sem um ponto de apoio na realidade. Os textos de Artaud podem dar esta impressão, pois faz um jogo de antinomias, pares contrários em ebulição em busca de uma nova síntese, como conseqüência de duvidar até destruir as evidências e em busca dos elementos constitutivos da realidade para, daí, recriá-la. Fazem-se leituras apressadas de Artaud. Oscar Del Barco diz que é “comunista de armas na mão”, Susan Sontag diz que ele é reacionário, extrema direita; é como dizer que a moeda só tem um lado por se estar vendo apenas a frente ou apenas o verso. Artaud demonstra ter o ponto de apoio na realidade para além das aparências: “entre o real e eu estão eu e meus fantasmas sobre a realidade”, e “eu” significa “o homem”. “A idéia é romper com o real, desmoralizar as aparências, sempre com uma noção de concreto”.

Quanto à perda do senso de realidade, o esquizofrênico bleuriano cria um mundo constituído de significações pessoais, incompreensível para o indivíduo normal. O sistema de significações, normas e valores de Artaud não é dele, está disseminados em textos de filosofia e de ocultismo, principalmente alquimia e Cabala. Quem desconhece estes sistemas de significados lerá um “Artaud completamente incompreensível”. Dos textos de Artaud, um de mais difícil compreensão é o texto final, Para acabar com o Julgamento de Deus. É aparentemente obscuro. Aparentemente porque diagnosticar que a escrita de um homem é ocultista, cabalística, e simplesmente dizê-la obscura é a mais absurda preguiça mental que se pode ter. O texto é compreensível quando o significado de suas palavras é buscado, não na compreensão imediata a que se dão, mas nos textos ocultistas e da cabala. É sintoma psiquiátrico escrever um texto de difícil compreensão e dar a chave de onde encontrar o modo de ser entendido?

O esquizofrênico bleuriano tende a ter pensamentos mais concretos que abstratos. Artaud, ao contrário, pede que se aprenda a fazer o movimento do concreto, como a realidade se dá a conhecer, ao abstrato, como a mente compreende a realidade, e do abstrato ao concreto, em proposta de uma cultura dinâmica. “A cultura é um movimento do espírito que vai do vazio para as formas e das formas volta a entrar no vazio, tanto no vazio quanto na morte. Ser cultivado é queimar formas, queimar formas para ganhar a vida. É aprender a manter-se em pó no equilíbrio das formas que destruímos sucessivamente”. A procura de Artaud, em “O Teatro e seu Duplo”, é resolver “a equação apaixonante entre o Homem, a Sociedade, a Natureza e os Objetos”.

Na esquizofrenia bleuriana surgem como mecanismos de defesa contra as várias divisões que o doente sofre. A negação do processo, seja tornando-se super-ativo e excitado, seja retraindo-se do mundo em si mesmo, uma incapacidade para pensar ou concentrar-se. Uma análise superficial de Artaud interpretará como esquizofrênica a variação de estados de humor, de “indelével impotência para concentrar-se”, “uma enfermidade que afeta a alma em sua mais profunda realidade e que infecta suas manifestações. Uma verdadeira paralisia”, quando, até mesmo para escrever isto demonstra um fluxo aumentado de pensamento. Artaud não perde o contato com o mundo exterior, pelo que nele se lê. Não apresenta delírios e alucinações, não descreve delírios persecutórios ou de grandeza, nem se demonstra regredido, em textos tolos e infantis.

E o que vem a ser esquizofrenia? Artaud denunciou que os psiquiatras criam os doentes mentais. Tomaz Szasz denunciou que é uma doença não existente. Edgar Morin filosofou que é quando se atingem áreas não usadas do cérebro. Piaget postulou que existe a “linguagem esquizofrênica dos jovens”. A leitura atenta de Artaud nos faz perceber que a esquizofrenia não existe. A história da psiquiatria demonstra que ela está fundamentada em bases erradas. Quais os sintomas de esquizofrenia? Aqueles que o problema causou, ou aqueles que o uso de medicamentos para controlá-lo provocou? O uso de medicamentos antipsicóticos transforma os usuários em zumbis, em mortos-vivos, e não se sabe o que é pior, ser psicótico ou ser zumbi. Tomaz Szasz, em mistura com Artaud, nos faz compreender que aqueles que acreditam em bruxas podem ter filhos bruxos, e que somente os que crêem, famílias e sociedades, na existência da esquizofrenia podem ter filhos esquizofrênicos. A psiquiatria não sabe o quanto os sintomas do esquizofrênico são devidos a uma doença e o quanto são devidos a uma educação inadequada de uma criança com necessidades especiais. A síndrome de Down e a paralisia cerebral aí estão demonstrando que a educação é a pedra angular de seu tratamento. A humanidade ainda não compreendeu que os genes não produzem defeitos, produzem diferenças.

Qual a doença de Artaud? Simplesmente um outsider, uma daquelas pessoas que, como o cometa Halley, só existem de tantos em tantos anos, que faz a sociedade mover-se. Os textos de Artaud são definidos por Pierre Hahn, no prefácio de Van Gogh, o suicidado da sociedade. Artaud “começa por fugir à nossa compreensão. Estranho será, porém que nos perturbe. Inquiete. Tire o nosso conforto intelectual”. Artaud quer fazer com que o homem não sinta o tédio e saia do marasmo de tudo. “A realidade está para ser criada”, o homem é o ator da realidade, a realidade é o teatro que o homem-ator tem de acabar de construir. Artaud foi mais um animador social que um louco: sua obra gerou um infindável número de estudos e foi parte importante de obras, como as de Foucault, Deleuze, Derrida.

Atualmente é absurdamente tolo e impróprio discutir se Artaud era doente mental. Insistir na hipótese de que ele era esquizofrênico equivale a afirmar que a esquizofrenia é uma doença necessária, pois “a realidade ainda está a ser criada”.

P.S.: Na reportagem da revista cita-se a esquizofrenia de Vaslav Nijinsky, o bailarino russo conhecido como “o deus da dança”. Colin Wilson, em “O Outsider – O drama moderno da alienação e da criação”, Martins Fontes, 1956, Ed brasileira 1985, nos dá sua biografia. O apelido lhe foi dado em vida por seus críticos. Sua coreografia era escandalosa para a época. Um jovem criado o vê na rua e conta à sua mulher, “o Sr. Nietzsche se comportava exatamente assim antes de o levarem embora”. Irrompe a guerra. Vivia atormentado por visões de soldados mortos. Em seus guardados há “sinais inquietantes”, desenhos em vermelho e negro “como um lençol mortuário manchado de sangue”. “São caras de soldados mortos”, explica à mulher. Depois apresenta o incidente que ficou marcado como “o casamento com Deus”: instado a dançar, dança a guerra com seus sofrimentos e suas mortes. “Dançou, então, uma espécie de réplica coreográfica da Guernica de Picasso”. Foi levado ao psiquiatra (Bleuler, diz a reportagem da Veja) que o declara louco e incurável. Nijinsky cometera a loucura de gritar “Eu sou Deus, Eu sou Deus, eu sou Deus”. Em seu diário consta “quero ser Deus, e por isto tento me modificar. Quero dançar, desenhar, tocar piano, escrever versos, amar todo mundo. Esse é o objetivo de minha vida”. O obituário do jornal declara “a loucura de Nijinsky assumiu a forma de delírio em que ele se julgava Deus”.

“Que era deus” lhe foi dito ser, em uma época em que “Os mais mais”, ou “Gente” era simplesmente “Os homens divinos”. De outra fonte, sabe-se que, no manicômio, Nijinsky recebe drogas e eletrochoques e seu estado mental deteriora rapidamente (o que é uma doença, ela em si ou os efeitos de seus métodos terapêuticos?) e em O Outsider há elementos suficientes para se levantar a hipótese de que Nijinsky não era esquizofrênico. Meu conflito conceitual me convida a avançar e mando sua filha, a curiosidade epistêmica, calar-se. Não dá para colocá-lo na lista de dever de casa por fazer.

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Atualizado em: Ter 3 Jun 2008

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