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A transformação politico-economica do capitalismo: da produção em série à produção flexível
A TRANSFORMAÇÃO POLITICO-ECONÔMICA DO CAPITALISMO: DA
PRODUÇÃO EM SÉRIE À PRODUÇÃO FLEXÍVEL
Melquezedek Brito Corrêa*
RESUMO: As idéias contidas no presente artigo contextualizam as diversas facetas do desenvolvimento do modo de produção capitalista, versando sobre os dois principais estágios de evolução do capitalismo, o modelo de produção em série ou fordismo-taylorismo e o modelo de produção flexível (just in time) ou toyotismo. O primeiro introduzido por Henry Ford na indústria automobilística norte-americana e depois para todo o mundo, e tem a acumulação rígida do capital e a intensa exploração e "marionetização" do trabalhador, como umas de suas características. Não obstante, como resposta à crise do fordismo, "surge" um novo modelo de produção, o Just in time ou acumulação flexível do capital, promovendo uma verdadeira (re)evolução no sistema organizacional da empresa moderna, introduzindo no sistema de produção novas formas de planejamento e organização do processo produtivo, com maior flexibilidade, impulsionado pela modernização e velocidade dos meios de comunicação e transporte, em fim, uma maior facilidade em atender a procura dos diversos mercados de consumo
Palavras - chave: Modo de produção capitalista. Produção em série. Produção flexível. Sociedade do consumo. Trabalho assalariado.
Algumas reflexões sobre o capitalismo
Se vou tecer umas ponderações sobre o sistema capitalista de produção, faz-se necessário tentar de alguma forma conceituá-lo para uma melhor compreensão do leitor. E isso será feito à luz do pensamento e concepção de alguns autores. Quando se trata do termo capitalismo, em toda sua complexidade é inegável a importância do pensamento de Marx, quando Stedily o interpreta da seguinte forma:
(citação)"... como o modo de produção em que operários assalariados, despossuídos dos meios de produção e, juridicamente livres, produzem mais-valia; em que a força de trabalho se converte em mercadoria, cuja oferta e a demanda se processam nas condições da existência de um exercito industrial de reserva, em que os meios de produção assumem a forma de capital, de propriedade privada destinada à produção ampliada sob forma de que se destina ao mercado" (STEDILY, 2004, p. 16)
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Acadêmico de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Outros autores, tais como Sombart e Weber. Para o primeiro, "a essência do capitalismo está na totalidade dos aspectos representados no espírito que tem inspirado toda a vida de uma sociedade no seu tempo" (SOMBART, apud, Dobb, 1987, p. 14). Segundo Maurice Dobb, na sua obra, A evolução do Capitalismo, Weber comenta sobre o capitalismo da seguinte forma:
(citação)Ele (o capitalismo) está presente onde quer que a provisão industrial para as necessidades de um grupo humano sejam executadas pelo método da empresa, e um estabelecimento racional como um estabelecimento com contabilização do capital. E usou a expressão "espírito do capitalismo" para descrever a atividade que busca o lucro, racional sistemático (Dobb, 1987, p. 15).
Muito são os autores que escrevem e discutem sobre o inicio do capitalismo, alguns afirmam que sua gênese é anterior mesmo ao feudalismo; acreditando esses defensores que em épocas diferentes da história tem reinado sempre atitudes econômicas diferentes e que é esse o estopim que tem criado a forma que lhe corresponde (o capitalismo) e com isso uma organização econômica. Há outros que atribuem a "existência" do espírito do capitalismo até mesmo nas sociedades mais simples e remotas, como é o caso de Sombart. Para este, "o homem pré-capitalismo era um homem natural que concebia a atividade econômica como simples aprisionamento de suas necessidades naturais (SOMBART apud Dobb, 1987, p.15). E por fim (não querendo dizer que este foi o ultimo, tampouco o primeiro a teorizar sobre o capitalismo, más é louvável reconhecer a importância de seu axioma para com o modo capitalista de produção) Marx, que deu a maior contribuição teórica e é considerado o pioneiro em realizar um estudo teórico/sistemático do sistema capitalista.
Assim, podemos dizer, quando por circunstanciais diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos indivíduos, interessados sempre em obter mais lucros. De inicio essa acumulação deu-se através da pirataria, do roubo (economia mercantil), dos monopólios e do controle de preços praticados pelos Estados Absolutistas influenciados pela burguesia.
Dessa forma, com o declínio do feudalismo, as cruzadas e o ressurgimento do comercio; tudo isso somado conhecimento científico, Marx buscou na Inglaterra (berço da Revolução Industrial), a luz para o desabrochamento teórico e prático do capitalismo. Isso porque, aquele país foi palco de uma das maiores técnicas, científicas, políticas, econômicas e sociais sem precedentes na história. Tal transformação ficou conhecida como Primeira Revolução Industrial e modificou demasiadamente tanto o modo de produzir daquela sociedade, quanto próprio modo de pensar e viver.
Assim, podemos dizer que o capitalismo surgiu quando por circunstancias diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos indivíduos, interessados sempre em obter mais lucros. De inicio, essa acumulação se deu através da pirataria, do roubo (acumulação mercantil), dos monopólios e do controle de preços praticados pelos Estados Absolutistas, tendo estes no "comando", a burguesia. Mais foi na Inglaterra (através da Primeira Revolução Industrial) que o modo de produção capitalista se desenvolveu plenamente por maio da formação de uma classe de trabalhadores livres de senhores (relação servil) e sem propriedades, apenas com a sua força de trabalho para vender como mercadoria.
Eric Hobsbawm alerta sobre a influência e preponderância do capitalismo da seguinte forma:
(citação)Era, em primeiro lugar, um mundo que não consistia apenas de fábricas, empregados e proletários, o que tivesse sido transformado pelo enorme progresso do setor industrial. Por mais espantosas que fossem as mudanças trazidas pelo avanço da indústria e da urbanização em si mesmos, não são necessários para medir os impactos do capitalismo.
O fato é que o capitalismo não "nasceu" de repente, e sim de forma gradual, e seu crescimento foi e é muito além do que muitos imaginam. E que desde seu surgimento houve e ainda há (com mais intensidade) transformações radicais no meio social, produtivo, político e econômico.
O fordismo e a produção em série
O que se convencionou a chamar foi um período que não se pode afirmar ter um inicio determinado e concreto, quando aproximadamente em 1914, o empresário norte-americano Henry Ford introduziu o dia de trabalho de 8 horas e 5 dólares para recompensa para seus empregados. Porem foram seis anos antes em Detroit que Ford lançou sua nova linha de montagem na indústria automobilística (produção de automóveis), iniciando a era moderna da produção de massa, em larga escala ou em série.
É importante deixar claro que o fordismo não é um modo de produção, é apenas um modelo de produção, e uma forma de organização do sistema produtivo, do trabalho; no tempo e no espaço e que é inerente ao modo de produção capitalista. E que alterações no primeiro não quer dizer necessariamente mudanças no segundo.
A linha de montagem consiste na introdução, por Ford, de uma esteira rolante que transportava as peças de montagem do produto, proporcionando ao trabalhador uma estaticidade, pois este era impedido de locomover-se, pois as peças vinham até ele. Dessa maneira, o operário confundia-se com a própria máquina, pois era obrigado a manter o ritmo desta. O proletário, ainda, era visto como simples apêndice da máquina, e sofria com o trabalho repetitivo, massificado, mal-pago, intenso e embrutecedor, trabalho este existente enquanto peça fundamental para o aumento do lucro.
O sistema fordista tem a produção em série, em escala como forma de produzir, isso por que Ford criou as próprias condições para que o consumidor fizesse uso de seus produtos (produtos estes, por serem fabricados em série, eram todos iguais), apostando no corporativismo. Para ele a maneira adequada do corporativismo poderia formar um novo tipo de sociedade, a sociedade do consumo. E isso Ford sabia fazer muito bem, como é observado em HARVEY, "era tão forte a crença de Ford no poder corporativo de regulamentação da economia, que sua empresa aumentou os salários no começo da Grande Depressão, na expectativa de que isso aumentasse a demanda efetiva, recuperasse o mercado e restaurasse a confiança da comunidade dos negócios" (HARVEY, 1994, p. 122). Observa claramente a autoconfiança que Ford depositava no corporativismo, porem, as leis do mercado falaram mais alto.
O sistema fordista consiste na compartimentarão do processo produtivo. Dessa forma, cada trabalhador realiza uma única etapa da produção, sem ter a mínima noção do "todo" desse processo.
Uma marcante característica é o alto grau de especialização das tarefas, uma vez que o operário realiza uma única função. Isto, muitas vezes traz sérias conseqüências à saúde física e mental do trabalhador, causando-lhe problemas psicológicos e depressivos.
Ao comentar sobre a técnica fordista de produção, é impossível não tecer comentários sobre o taylorismo (afinal esses dois modelos diferem muito pouco um do outro, que alguns autores chegam a denominá-los de forfismo/taylorismo), que podemos dizer que foi um método de nacionalizar a produção, economizando tempo, mediante á eliminação ao máximo de gesto e atitudes improdutivas, tais como o trabalhador sair de sua função para substituir outro em outro posto. Na realidade, tal ação era muito improvável de acontecer, em função de o trabalhador saber realizar apenas aquela tarefa que lhe era imposta.
O método de Frederic W. Taylor era muito rígido para com o trabalhador e segundo ele, a produção dependia muito da boa vontade do operário e devido à obrigatoriedade do serviço, o trabalhador "matava serviço". E por isso era preciso quebrar a prática da indolência e da ociosidade daquele. Para o mesmo pensador, era necessário acabar com a vadiagem do operário na local de trabalho, para o aumento da produção. Mas o que havia de especial em Ford ao introduzir o fordismo segundo HARVEY.
(citação)"... era sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significa consumo de massa, novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerencia do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade, democrática, racionalizada, modernista e populista" (HARVEY, 1994, p. 121).
Bem, mas voltando a concretude técnica do fordismo, tal sistema não obedecia a uma logística do mercado ou da demanda, produzindo em larga escala; o importante era produzir; conseqüência disso era o alto grau de estocagem dos produtos (estes todos iguais e homogeneizados). A produção muitas vezes era retardada, devido o controle de qualidade ser realizado na fase final do processo (o produto já pronto), quando era realizado o teste ex-post de qualidade do produto, se houvesse algum defeito, voltaria novamente para a linha de montagem.
Devido ao controle de qualidade ser externo ao processo produtivo, perdia-se muito tempo com repara nas peças defeituosas. E por não "respeitar" a procura do mercado, a produção fordista voltava-se para a disposição dos recursos, isto é, enquanto houvesse recurso destinado àquele fim, produzia-se exacerbadamente até o esgotamento dos recursos, sem nenhum pequeno planejamento de mercado.
No campo ideológico, pode-se dizer que o modelo fordismo acarretou mudanças faraônicas na sociedade, uma vez que a produção era destinada à sociedade, sendo desta forma socializada; daí a expressão sociedade do consumo. No tocante, essa mesma sociedade passou por um processo de adaptação e educação ao novo modelo de produção.
Outro elemento fundamental, para compreender a "deterioração" das relações sociais, é a dificuldades de articulação e organização das massas trabalhadoras, no sentido de conquistar melhores condições de trabalho e de vida e uma divisão mais equânime da renda nacional. Nesse sentido, também, podemos perceber a união das elites para impedir essa articulação, com o apoio do braço armado do Estado, este, por sua vez, realiza o papel de regulamentador da economia, não podendo intervir diretamente, com maior intensidade, tendo que se unir ao poder privado. A partir da segunda metade do século passado, o fordismo começou a passar por sérias dificuldades estruturais e o padrão produtivo taylorista e fordista passou a ser, cada vez mais, substituído ou modificado pelas formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas, como, por exemplo, a acumulação flexível do modelo japonês ou toyotismo. Já não conseguia acompanhar as transformações político-economicas do modelo de produção capitalista e ás próprias mudanças por que a sociedade passava.
A sociedade contemporânea tem atravessado sérias transformações nas duas últimas décadas. O capitalismo tem vivido um processo de reanimação por meio de uma reestruturação produtiva, que tem modificado as suas relações internas de produção. Estas mudanças interferem em todo o conjunto das relações sociais, bem como no quadro organizacional da sociedade, no qual se inserem as políticas econômicas. No Brasil, estavam no fastígio, os diversos movimentos sociais que agitaram as décadas de 70-80, contra o regime militar, e até mesmo no campo das idéias, pois estava entrando em cena a geração pós-modernista, e as transformações políticas, econômicas, sociais e produtivas eram visíveis.
Antes de finalizarmos esta parte é importante ressaltar que o taylorismo e o fordismo, ainda hoje brutalizam o trabalhador, reduzindo-o a um mero cumpridor de ordens e de ações contrário a si próprio. Ambos são formas de produção que se encontram disseminadas em praticamente todos os tipos de trabalho, como nos grandes escritórios, bancos, empresas, etc.
O modelo de produção flexível
Da crise do modelo fordista/taylorista, nasce um novo modelo, baseado em fórmulas inovadoras no objetivo de superar o anterior. Esse modelo, denominado modelo de produção flexível, ou toyotismo se originou no Japão, no contexto das transformações econômicas, empreendidas após a Segunda Guerra Mundial. Esta forma de expansão do capitalismo baseou-se na desestruturação do sindicalismo de classe. Fundamenta-se, principalmente, na produção flexível, na existência de grupos ou equipes de trabalho que se utilizam crescentemente da microeletrônica, na produção bastante heterogênea, na automatização e na terceirização do trabalho. E, ainda, é voltado para a coletividade e para a flexibilização da produção (como o próprio nome o diz) e maior atenção para com o trabalhador. É importante salientar que tal "preocupação" não é visando o bem estar pessoal do trabalhador, e sim o sucesso da empresa. Como? Veremos no decorrer do trabalho.
Também denominado de Just in time (na hora certa), o toyotismo traz consigo uma nova forma de organização industrial e de relação entre capital e trabalho; patrão e empregado.
Para HARVEY, a acumulação flexível apresenta os seguintes aspectos:
(citação)"... surgimento de setores da produção inteiramente novos; novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros; novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. Apresenta ainda rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre regiões geográficas, criando um vasto movimento nos setores de serviços, bem como em conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas" (HARVEY, 1994, p. 140).
Vê-se, no texto acima que a indústria e as relações de serviços e trabalho assumem outra forma, mais flexível, maleável, logo mais fácil de ajustar aos novos e diversificados tipos de mercado. Sob uma perspectiva mais estrutural, o setor industrial passa a adaptar os mecanismos de produção aos mecanismos de mercado e da própria sociedade.
Quanto à organização da produção, o modelo de produção flexível (o just in time), produz buscando atingir um objetivo, que pode este ser ou não alcançado, dependerá da procura do mercado consumidor; quando tal não é adquirido, investe na produção de outros artigos ou já os tem produzido daí o nome flexibilidade. Diga-se passagem que agora os produtos não mais todos iguais (como no fordismo), são diversos e variados os modelos, buscando assim, atingir os diversos tipos de mercado. Dessa maneira, a produção em flexibilidade oferece ao consumidor uma maior variedade de produtos, uma vez que se produz em pequenos lotes, devido a isso, já não é permitida a elaboração de um manual de instruções para apenas um aparelho (exemplo: televisão), devido ao custo e diversidade do produto. Assim, elabora-se um manual para vários tipos de aparelhos de modelos diferentes, mas de marcas iguais.
Através do just in time, busca-se cada vez mais a eliminação dos estoques, tanto de matéria-prima, como de peças intermediárias para manutenção de aparelhos. Assim, com a evolução e maior velocidade nos meios de comunicação e transporte, o toyotismo segue certa logística de mercado flexível. Por exemplo: se a assistência técnica da Wolkswagen, no Brasil, não tem o farol do "gol" modelo 2006, imediatamente é solicitado para uma filial, digamos, na França; em questão de dias (dependendo da distancia), a peça estará colocada no automóvel, isto devido à flexibilidade e a rapidez produção e da globalização dos mercados.
A produção no just in time, organiza-se horizontalmente e não mais na verticalidade, como anteriormente. Surge aqui o fenômeno da subcontratação assumido pelas empresas. Dessa maneira, a grande empresa contrata fornecedores (estes podem ser as Pequenas e Médias Empresas, PME; ou as Pequenas e Médias Indústrias, PMI) de primeira ordem. Estes, por sua vez possuem ou contratam fornecedores de segunda ordem, e assim por diante.
Outro fator do sistema just in time que impede a perda de tempo no processo produtivo é fato de que as empresas investem altamente na qualificação técnica de seus funcionários, proporcionando as estes (através de cursos técnicos) o domínio de múltiplas funções, e graças a isso, um alto grau de mobilidade dentro da empresa. Desta maneira, quando o encarregado do setor elétrico não pode comparecer ao seu posto de trabalho, operários de outros setores podem substituí-lo. E também, o controle de qualidade é inerente ao processo produtivo, isto é, a revisão do produto é feita ainda durante a produção e se algum produto apresentar defeito, este será corrigido durante as fases da produção, reduzindo-se assim as possíveis alternâncias de atividades nos dias de trabalho e, consequentemente a perda de tempo e capital.
Quanta as funções do Estado, nesse novo modelo de produção, ele age como desregulamentador do setor econômico, isto é, o Estado se tornou um interlocutor frente ao grande capital. Relacionado ao ideário neoliberal, é o gerenciador da economia.
Para concluir essa parte, é importante ressaltar que o conjunto de estratégias descrito aqui (o sistema just in time) não forma um corpo acabado, pelo contrário, este esta em constante processo de construção, sempre acompanhando a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo. E que de acordo com as novas formas de acumulação do capital (assim como ocorre desde as revoluções comercial e industrial, seguindo a racionalidade capitalista da acumulação e concentração), que por ventura poderão surgir, o toyotismo pode se consolidar ou ser superado, isso por que a sociedade está em constante processo de transformação, e consequentemente, o seu modo de produzir o espaço geográfico.
O que se pode concluir sobre o estudo apresentado, é que durante o desenvolvimento do modo de produção capitalista surgiram diferentes modelos de produção, inerentes ao próprio capitalismo. Dada a importância do fordismo-taylorismo e do toyotismo para com a evolução do sistema capitalista, cada um deles representa diferentes estágios de desenvolvimento deste. O fordismo revolucionou a indústria com a introdução da linha de montagem e produção em série. Cabe também destacar o importante papel da indústria automobilística, pois foi ela o berço, tanto do fordismo quanto do que o sucedeu. Por outro lado, com a crise estrutural do sistema capitalista de 70, que afetou em cheio o fordismo-taylorismo, surge o toyotismo (just in time) ou modelo de produção flexível, com novas formas de organização industrial e novas formas de coordenação do trabalho. Acumulação flexível, assim, é a nova maneira encontrada pelo capitalismo para superar suas crises e suas contradições internas e, dessa forma, permitir a reprodução do capital e sua concentração nas mãos da elite capitalista. Só que, ao contrário do que ocorreu no período fordista, no qual a acumulação era baseada em padrões rígidos, a acumulação, agora é flexível, e conseqüentemente, flexível deve ser o processo de produção e a exploração da força de trabalho.
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Artigo solicitado pelo Professor Jorge Martins Filho, do Departamento de História e Geografia, para fins de construção extensão do conhecimento e obtenção de nota na disciplina Geografia dos Sistemas econômicos.
Referências
DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo - Maurice Dobb, 7 ed. São Paulo. Ed. Guanabara, 1987.
HAREVEY, David. Condição pos-moderna, 4 ed. São Paulo, Ed. Loyola, 1994.
HOBSBAWM, Eric. A era do capital - Eric Hobsbawm, 10 ed. São Paulo. Ed. Paz e terra, 2004.
Melquezedek Brito Corrêa*
RESUMO: As idéias contidas no presente artigo contextualizam as diversas facetas do desenvolvimento do modo de produção capitalista, versando sobre os dois principais estágios de evolução do capitalismo, o modelo de produção em série ou fordismo-taylorismo e o modelo de produção flexível (just in time) ou toyotismo. O primeiro introduzido por Henry Ford na indústria automobilística norte-americana e depois para todo o mundo, e tem a acumulação rígida do capital e a intensa exploração e "marionetização" do trabalhador, como umas de suas características. Não obstante, como resposta à crise do fordismo, "surge" um novo modelo de produção, o Just in time ou acumulação flexível do capital, promovendo uma verdadeira (re)evolução no sistema organizacional da empresa moderna, introduzindo no sistema de produção novas formas de planejamento e organização do processo produtivo, com maior flexibilidade, impulsionado pela modernização e velocidade dos meios de comunicação e transporte, em fim, uma maior facilidade em atender a procura dos diversos mercados de consumo
Palavras - chave: Modo de produção capitalista. Produção em série. Produção flexível. Sociedade do consumo. Trabalho assalariado.
Algumas reflexões sobre o capitalismo
Se vou tecer umas ponderações sobre o sistema capitalista de produção, faz-se necessário tentar de alguma forma conceituá-lo para uma melhor compreensão do leitor. E isso será feito à luz do pensamento e concepção de alguns autores. Quando se trata do termo capitalismo, em toda sua complexidade é inegável a importância do pensamento de Marx, quando Stedily o interpreta da seguinte forma:
(citação)"... como o modo de produção em que operários assalariados, despossuídos dos meios de produção e, juridicamente livres, produzem mais-valia; em que a força de trabalho se converte em mercadoria, cuja oferta e a demanda se processam nas condições da existência de um exercito industrial de reserva, em que os meios de produção assumem a forma de capital, de propriedade privada destinada à produção ampliada sob forma de que se destina ao mercado" (STEDILY, 2004, p. 16)
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Acadêmico de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC) da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Outros autores, tais como Sombart e Weber. Para o primeiro, "a essência do capitalismo está na totalidade dos aspectos representados no espírito que tem inspirado toda a vida de uma sociedade no seu tempo" (SOMBART, apud, Dobb, 1987, p. 14). Segundo Maurice Dobb, na sua obra, A evolução do Capitalismo, Weber comenta sobre o capitalismo da seguinte forma:
(citação)Ele (o capitalismo) está presente onde quer que a provisão industrial para as necessidades de um grupo humano sejam executadas pelo método da empresa, e um estabelecimento racional como um estabelecimento com contabilização do capital. E usou a expressão "espírito do capitalismo" para descrever a atividade que busca o lucro, racional sistemático (Dobb, 1987, p. 15).
Muito são os autores que escrevem e discutem sobre o inicio do capitalismo, alguns afirmam que sua gênese é anterior mesmo ao feudalismo; acreditando esses defensores que em épocas diferentes da história tem reinado sempre atitudes econômicas diferentes e que é esse o estopim que tem criado a forma que lhe corresponde (o capitalismo) e com isso uma organização econômica. Há outros que atribuem a "existência" do espírito do capitalismo até mesmo nas sociedades mais simples e remotas, como é o caso de Sombart. Para este, "o homem pré-capitalismo era um homem natural que concebia a atividade econômica como simples aprisionamento de suas necessidades naturais (SOMBART apud Dobb, 1987, p.15). E por fim (não querendo dizer que este foi o ultimo, tampouco o primeiro a teorizar sobre o capitalismo, más é louvável reconhecer a importância de seu axioma para com o modo capitalista de produção) Marx, que deu a maior contribuição teórica e é considerado o pioneiro em realizar um estudo teórico/sistemático do sistema capitalista.
Assim, podemos dizer, quando por circunstanciais diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos indivíduos, interessados sempre em obter mais lucros. De inicio essa acumulação deu-se através da pirataria, do roubo (economia mercantil), dos monopólios e do controle de preços praticados pelos Estados Absolutistas influenciados pela burguesia.
Dessa forma, com o declínio do feudalismo, as cruzadas e o ressurgimento do comercio; tudo isso somado conhecimento científico, Marx buscou na Inglaterra (berço da Revolução Industrial), a luz para o desabrochamento teórico e prático do capitalismo. Isso porque, aquele país foi palco de uma das maiores técnicas, científicas, políticas, econômicas e sociais sem precedentes na história. Tal transformação ficou conhecida como Primeira Revolução Industrial e modificou demasiadamente tanto o modo de produzir daquela sociedade, quanto próprio modo de pensar e viver.
Assim, podemos dizer que o capitalismo surgiu quando por circunstancias diversas, uma enorme quantidade de riquezas se acumula nas mãos de uns poucos indivíduos, interessados sempre em obter mais lucros. De inicio, essa acumulação se deu através da pirataria, do roubo (acumulação mercantil), dos monopólios e do controle de preços praticados pelos Estados Absolutistas, tendo estes no "comando", a burguesia. Mais foi na Inglaterra (através da Primeira Revolução Industrial) que o modo de produção capitalista se desenvolveu plenamente por maio da formação de uma classe de trabalhadores livres de senhores (relação servil) e sem propriedades, apenas com a sua força de trabalho para vender como mercadoria.
Eric Hobsbawm alerta sobre a influência e preponderância do capitalismo da seguinte forma:
(citação)Era, em primeiro lugar, um mundo que não consistia apenas de fábricas, empregados e proletários, o que tivesse sido transformado pelo enorme progresso do setor industrial. Por mais espantosas que fossem as mudanças trazidas pelo avanço da indústria e da urbanização em si mesmos, não são necessários para medir os impactos do capitalismo.
O fato é que o capitalismo não "nasceu" de repente, e sim de forma gradual, e seu crescimento foi e é muito além do que muitos imaginam. E que desde seu surgimento houve e ainda há (com mais intensidade) transformações radicais no meio social, produtivo, político e econômico.
O fordismo e a produção em série
O que se convencionou a chamar foi um período que não se pode afirmar ter um inicio determinado e concreto, quando aproximadamente em 1914, o empresário norte-americano Henry Ford introduziu o dia de trabalho de 8 horas e 5 dólares para recompensa para seus empregados. Porem foram seis anos antes em Detroit que Ford lançou sua nova linha de montagem na indústria automobilística (produção de automóveis), iniciando a era moderna da produção de massa, em larga escala ou em série.
É importante deixar claro que o fordismo não é um modo de produção, é apenas um modelo de produção, e uma forma de organização do sistema produtivo, do trabalho; no tempo e no espaço e que é inerente ao modo de produção capitalista. E que alterações no primeiro não quer dizer necessariamente mudanças no segundo.
A linha de montagem consiste na introdução, por Ford, de uma esteira rolante que transportava as peças de montagem do produto, proporcionando ao trabalhador uma estaticidade, pois este era impedido de locomover-se, pois as peças vinham até ele. Dessa maneira, o operário confundia-se com a própria máquina, pois era obrigado a manter o ritmo desta. O proletário, ainda, era visto como simples apêndice da máquina, e sofria com o trabalho repetitivo, massificado, mal-pago, intenso e embrutecedor, trabalho este existente enquanto peça fundamental para o aumento do lucro.
O sistema fordista tem a produção em série, em escala como forma de produzir, isso por que Ford criou as próprias condições para que o consumidor fizesse uso de seus produtos (produtos estes, por serem fabricados em série, eram todos iguais), apostando no corporativismo. Para ele a maneira adequada do corporativismo poderia formar um novo tipo de sociedade, a sociedade do consumo. E isso Ford sabia fazer muito bem, como é observado em HARVEY, "era tão forte a crença de Ford no poder corporativo de regulamentação da economia, que sua empresa aumentou os salários no começo da Grande Depressão, na expectativa de que isso aumentasse a demanda efetiva, recuperasse o mercado e restaurasse a confiança da comunidade dos negócios" (HARVEY, 1994, p. 122). Observa claramente a autoconfiança que Ford depositava no corporativismo, porem, as leis do mercado falaram mais alto.
O sistema fordista consiste na compartimentarão do processo produtivo. Dessa forma, cada trabalhador realiza uma única etapa da produção, sem ter a mínima noção do "todo" desse processo.
Uma marcante característica é o alto grau de especialização das tarefas, uma vez que o operário realiza uma única função. Isto, muitas vezes traz sérias conseqüências à saúde física e mental do trabalhador, causando-lhe problemas psicológicos e depressivos.
Ao comentar sobre a técnica fordista de produção, é impossível não tecer comentários sobre o taylorismo (afinal esses dois modelos diferem muito pouco um do outro, que alguns autores chegam a denominá-los de forfismo/taylorismo), que podemos dizer que foi um método de nacionalizar a produção, economizando tempo, mediante á eliminação ao máximo de gesto e atitudes improdutivas, tais como o trabalhador sair de sua função para substituir outro em outro posto. Na realidade, tal ação era muito improvável de acontecer, em função de o trabalhador saber realizar apenas aquela tarefa que lhe era imposta.
O método de Frederic W. Taylor era muito rígido para com o trabalhador e segundo ele, a produção dependia muito da boa vontade do operário e devido à obrigatoriedade do serviço, o trabalhador "matava serviço". E por isso era preciso quebrar a prática da indolência e da ociosidade daquele. Para o mesmo pensador, era necessário acabar com a vadiagem do operário na local de trabalho, para o aumento da produção. Mas o que havia de especial em Ford ao introduzir o fordismo segundo HARVEY.
(citação)"... era sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significa consumo de massa, novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerencia do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade, democrática, racionalizada, modernista e populista" (HARVEY, 1994, p. 121).
Bem, mas voltando a concretude técnica do fordismo, tal sistema não obedecia a uma logística do mercado ou da demanda, produzindo em larga escala; o importante era produzir; conseqüência disso era o alto grau de estocagem dos produtos (estes todos iguais e homogeneizados). A produção muitas vezes era retardada, devido o controle de qualidade ser realizado na fase final do processo (o produto já pronto), quando era realizado o teste ex-post de qualidade do produto, se houvesse algum defeito, voltaria novamente para a linha de montagem.
Devido ao controle de qualidade ser externo ao processo produtivo, perdia-se muito tempo com repara nas peças defeituosas. E por não "respeitar" a procura do mercado, a produção fordista voltava-se para a disposição dos recursos, isto é, enquanto houvesse recurso destinado àquele fim, produzia-se exacerbadamente até o esgotamento dos recursos, sem nenhum pequeno planejamento de mercado.
No campo ideológico, pode-se dizer que o modelo fordismo acarretou mudanças faraônicas na sociedade, uma vez que a produção era destinada à sociedade, sendo desta forma socializada; daí a expressão sociedade do consumo. No tocante, essa mesma sociedade passou por um processo de adaptação e educação ao novo modelo de produção.
Outro elemento fundamental, para compreender a "deterioração" das relações sociais, é a dificuldades de articulação e organização das massas trabalhadoras, no sentido de conquistar melhores condições de trabalho e de vida e uma divisão mais equânime da renda nacional. Nesse sentido, também, podemos perceber a união das elites para impedir essa articulação, com o apoio do braço armado do Estado, este, por sua vez, realiza o papel de regulamentador da economia, não podendo intervir diretamente, com maior intensidade, tendo que se unir ao poder privado. A partir da segunda metade do século passado, o fordismo começou a passar por sérias dificuldades estruturais e o padrão produtivo taylorista e fordista passou a ser, cada vez mais, substituído ou modificado pelas formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas, como, por exemplo, a acumulação flexível do modelo japonês ou toyotismo. Já não conseguia acompanhar as transformações político-economicas do modelo de produção capitalista e ás próprias mudanças por que a sociedade passava.
A sociedade contemporânea tem atravessado sérias transformações nas duas últimas décadas. O capitalismo tem vivido um processo de reanimação por meio de uma reestruturação produtiva, que tem modificado as suas relações internas de produção. Estas mudanças interferem em todo o conjunto das relações sociais, bem como no quadro organizacional da sociedade, no qual se inserem as políticas econômicas. No Brasil, estavam no fastígio, os diversos movimentos sociais que agitaram as décadas de 70-80, contra o regime militar, e até mesmo no campo das idéias, pois estava entrando em cena a geração pós-modernista, e as transformações políticas, econômicas, sociais e produtivas eram visíveis.
Antes de finalizarmos esta parte é importante ressaltar que o taylorismo e o fordismo, ainda hoje brutalizam o trabalhador, reduzindo-o a um mero cumpridor de ordens e de ações contrário a si próprio. Ambos são formas de produção que se encontram disseminadas em praticamente todos os tipos de trabalho, como nos grandes escritórios, bancos, empresas, etc.
O modelo de produção flexível
Da crise do modelo fordista/taylorista, nasce um novo modelo, baseado em fórmulas inovadoras no objetivo de superar o anterior. Esse modelo, denominado modelo de produção flexível, ou toyotismo se originou no Japão, no contexto das transformações econômicas, empreendidas após a Segunda Guerra Mundial. Esta forma de expansão do capitalismo baseou-se na desestruturação do sindicalismo de classe. Fundamenta-se, principalmente, na produção flexível, na existência de grupos ou equipes de trabalho que se utilizam crescentemente da microeletrônica, na produção bastante heterogênea, na automatização e na terceirização do trabalho. E, ainda, é voltado para a coletividade e para a flexibilização da produção (como o próprio nome o diz) e maior atenção para com o trabalhador. É importante salientar que tal "preocupação" não é visando o bem estar pessoal do trabalhador, e sim o sucesso da empresa. Como? Veremos no decorrer do trabalho.
Também denominado de Just in time (na hora certa), o toyotismo traz consigo uma nova forma de organização industrial e de relação entre capital e trabalho; patrão e empregado.
Para HARVEY, a acumulação flexível apresenta os seguintes aspectos:
(citação)"... surgimento de setores da produção inteiramente novos; novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros; novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. Apresenta ainda rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre regiões geográficas, criando um vasto movimento nos setores de serviços, bem como em conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas" (HARVEY, 1994, p. 140).
Vê-se, no texto acima que a indústria e as relações de serviços e trabalho assumem outra forma, mais flexível, maleável, logo mais fácil de ajustar aos novos e diversificados tipos de mercado. Sob uma perspectiva mais estrutural, o setor industrial passa a adaptar os mecanismos de produção aos mecanismos de mercado e da própria sociedade.
Quanto à organização da produção, o modelo de produção flexível (o just in time), produz buscando atingir um objetivo, que pode este ser ou não alcançado, dependerá da procura do mercado consumidor; quando tal não é adquirido, investe na produção de outros artigos ou já os tem produzido daí o nome flexibilidade. Diga-se passagem que agora os produtos não mais todos iguais (como no fordismo), são diversos e variados os modelos, buscando assim, atingir os diversos tipos de mercado. Dessa maneira, a produção em flexibilidade oferece ao consumidor uma maior variedade de produtos, uma vez que se produz em pequenos lotes, devido a isso, já não é permitida a elaboração de um manual de instruções para apenas um aparelho (exemplo: televisão), devido ao custo e diversidade do produto. Assim, elabora-se um manual para vários tipos de aparelhos de modelos diferentes, mas de marcas iguais.
Através do just in time, busca-se cada vez mais a eliminação dos estoques, tanto de matéria-prima, como de peças intermediárias para manutenção de aparelhos. Assim, com a evolução e maior velocidade nos meios de comunicação e transporte, o toyotismo segue certa logística de mercado flexível. Por exemplo: se a assistência técnica da Wolkswagen, no Brasil, não tem o farol do "gol" modelo 2006, imediatamente é solicitado para uma filial, digamos, na França; em questão de dias (dependendo da distancia), a peça estará colocada no automóvel, isto devido à flexibilidade e a rapidez produção e da globalização dos mercados.
A produção no just in time, organiza-se horizontalmente e não mais na verticalidade, como anteriormente. Surge aqui o fenômeno da subcontratação assumido pelas empresas. Dessa maneira, a grande empresa contrata fornecedores (estes podem ser as Pequenas e Médias Empresas, PME; ou as Pequenas e Médias Indústrias, PMI) de primeira ordem. Estes, por sua vez possuem ou contratam fornecedores de segunda ordem, e assim por diante.
Outro fator do sistema just in time que impede a perda de tempo no processo produtivo é fato de que as empresas investem altamente na qualificação técnica de seus funcionários, proporcionando as estes (através de cursos técnicos) o domínio de múltiplas funções, e graças a isso, um alto grau de mobilidade dentro da empresa. Desta maneira, quando o encarregado do setor elétrico não pode comparecer ao seu posto de trabalho, operários de outros setores podem substituí-lo. E também, o controle de qualidade é inerente ao processo produtivo, isto é, a revisão do produto é feita ainda durante a produção e se algum produto apresentar defeito, este será corrigido durante as fases da produção, reduzindo-se assim as possíveis alternâncias de atividades nos dias de trabalho e, consequentemente a perda de tempo e capital.
Quanta as funções do Estado, nesse novo modelo de produção, ele age como desregulamentador do setor econômico, isto é, o Estado se tornou um interlocutor frente ao grande capital. Relacionado ao ideário neoliberal, é o gerenciador da economia.
Para concluir essa parte, é importante ressaltar que o conjunto de estratégias descrito aqui (o sistema just in time) não forma um corpo acabado, pelo contrário, este esta em constante processo de construção, sempre acompanhando a dinâmica do desenvolvimento do capitalismo. E que de acordo com as novas formas de acumulação do capital (assim como ocorre desde as revoluções comercial e industrial, seguindo a racionalidade capitalista da acumulação e concentração), que por ventura poderão surgir, o toyotismo pode se consolidar ou ser superado, isso por que a sociedade está em constante processo de transformação, e consequentemente, o seu modo de produzir o espaço geográfico.
O que se pode concluir sobre o estudo apresentado, é que durante o desenvolvimento do modo de produção capitalista surgiram diferentes modelos de produção, inerentes ao próprio capitalismo. Dada a importância do fordismo-taylorismo e do toyotismo para com a evolução do sistema capitalista, cada um deles representa diferentes estágios de desenvolvimento deste. O fordismo revolucionou a indústria com a introdução da linha de montagem e produção em série. Cabe também destacar o importante papel da indústria automobilística, pois foi ela o berço, tanto do fordismo quanto do que o sucedeu. Por outro lado, com a crise estrutural do sistema capitalista de 70, que afetou em cheio o fordismo-taylorismo, surge o toyotismo (just in time) ou modelo de produção flexível, com novas formas de organização industrial e novas formas de coordenação do trabalho. Acumulação flexível, assim, é a nova maneira encontrada pelo capitalismo para superar suas crises e suas contradições internas e, dessa forma, permitir a reprodução do capital e sua concentração nas mãos da elite capitalista. Só que, ao contrário do que ocorreu no período fordista, no qual a acumulação era baseada em padrões rígidos, a acumulação, agora é flexível, e conseqüentemente, flexível deve ser o processo de produção e a exploração da força de trabalho.
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Artigo solicitado pelo Professor Jorge Martins Filho, do Departamento de História e Geografia, para fins de construção extensão do conhecimento e obtenção de nota na disciplina Geografia dos Sistemas econômicos.
Referências
DOBB, Maurice. A evolução do capitalismo - Maurice Dobb, 7 ed. São Paulo. Ed. Guanabara, 1987.
HAREVEY, David. Condição pos-moderna, 4 ed. São Paulo, Ed. Loyola, 1994.
HOBSBAWM, Eric. A era do capital - Eric Hobsbawm, 10 ed. São Paulo. Ed. Paz e terra, 2004.
Atualizado em: Qui 5 Fev 2009