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Ousadias de amor.

Um jovem rapaz tinha uma louca vontade.
Uma vontade platônica.

De encher o carro de pétalas de rosas vermelhas e leva-las para uma pessoa amada. Joga-las em seu quintal, como chuva de amor, um porre de chuva de amor. 
Descarrilhar todas suas emoções em um gesto intenso. Rasgar não o verbo, mas o ato. Sim, rasgar uma ação.

Ele tinha um endereço..

Mas não tinha uma certeza de reciprocidade.

Serei eu um louco, um desmedido, inconveniente?
Não, não farei isso.

Fará sim , disse-lhe, você fará, e mesmo que ela não corresponda, você deve faze-lo. Mas faça sem alardes, não cobre seu gesto. Simplesmente faça.

Você me parece mais louca do que eu, confidenciou-me.
Para que o faria? sem ter a certeza que ela vai gostar?

Para que ela, mesmo desprovida, de sentimento alinhado ao seu, neste momento, guarde, para o resto de sua vida uma referência,

a sua..

Qual referência?

A de que um dia, quando o tempo passar, entre amigas e suspirando, você será eternamente citado.. sua marca grudará feito uma tatuagem..Dirá ela aos quatro ventos, aos quatro cantos, desabafará no divã, confidenciará ao Padre, contará aos novos vizinhos, dirá ao entregador de cartas, ao porteiro do prédio...

Que conheceu alguém intenso, uma pessoa verdadeiramente especial, um tipo daquele tipo, que nesse futuro dia, não existe mais...encantadoramente embriagado de emoções, que a despeito de qualquer contrariedade, encheu meu quintal de pétalas de rosas vermelhas.

Veja você, eu conheci alguém que encheu meu quintal de pétalas de rosas vermelhas, ela repetirá.

E eu não dei valor..

Mas você não o amava, dirá o porteiro, o Padre, o carteiro, os vizinhos....

Mas isso não me sai do pensamento.. grudou feito tatuagem.

Aconteceu, disse-me ele tempos mais tarde, Sorte que ele não tinha certeza, mas tinha coragem.
Foi tudo verdade, exatamente como preconizei.

Porque era muito óbvio.
As marcas que carregamos são sempre as mais intensas, as que ninguém tem coragem de fazer por medo de parecer um idiota, um boçal, um,,..

um...

qualquer epiteto que você está imaginando agora.

Mas que você não conseguiria imaginar quando o tempo passasse.

Eu imaginei. Pois eu sempre tive cá para mim, que as mais doces loucuras , as mais desatinadas, são as que mais lembramos.

As pessoas que não deixam boas marcas, as que não ousam, as comedidas demais, equilibradas demais, certinhas demais, as desinteressadas. acabam tornando-se desinteressantes com o tempo. E você por muitas vezes deve ter cruzado o caminho com alguém do passado que assim foi, e nem se lembra do que foi mesmo que gostou nessa pessoa.

Porém, tenho certeza, que se você conheceu alguém, que um dia, descarregou em seu quintal, um monte de pétalas de rosas vermelhas, ou outro gesto semelhante dessa doce ousadia.. você jamais o esquecerá.

Deve estar lembrando dessa pessoa nesse momento. Ou pensando na sua má sorte de não ter conhecido, ou conheceu mas a pessoa não foi tão idiota, boçal, ou qualquer outro epiteto que você imaginou lá atrás.

Vera Gallerani

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Atualizado em: Ter 30 Jun 2015

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