- Roteiros
- Postado em
Riscos da Vida
Me chamo Cláudio, eu morava em uma cidadezinha do interior do nordeste com meus pais (D. Ermezita e seu Joaquim), e meus dois irmãos Osvaldo, na época com 9 anos, e Cláudia com 10, sendo eu o filho mais velho com apenas 14 anos.
Decidir trabalhar, mas não na roça ou tão pouco naquela cidade, eu queria encarar o mundo, descobrir coisas novas e subir na vida.
Meus pais vivendo em condições sub-humanas, não viram outra alternativa a não ser apoiar minha decisão de ir pra São Paulo, morar com uns parentes distantes da minha mãe.
Chega o dia da despedida - 05 de setembro de 1962 -, meus colegas de classe aparecem para se despedirem de mim, já que eu estudava a 8ª série do ensino fundamental, e não iria terminar o ano letivo, eu disse a toda minha família que iria voltar e dar uma vida melhor a eles. Minha mãe chora muito, e aos prantos diz que tem a impressão que não voltaria a me ver.
A viagem foi tranqüila, chegando lá me deparei com outro mundo, muitos carros muita gente, parecia que todos estavam correndo da polícia. Fui bem recebido pela parente da minha mãe D. Maria (aos 45 anos doméstica) que morava só com seu filho Rodolfo.
No dia seguinte o Rodolfo me levou pra trabalhar, eu iria ser vendedor, vendedor de drogas, o cara era traficante barra pesada, e me espancava sempre que lhe dava vontade, ali começou a longa jornada de sofrimentos e desgraças que seria minha vida. Dois anos após, D. Maria ainda com 47 anos adoece e não pode mais trabalhar, então Rodolfo me sugere que eu peça minha irmã Cláudia - já com 12 anos – que viesse para trabalhar pra ele, cuidando de sua mãe, em gratidão a D. Maria, foi o que eu fiz. O trampo até que rendia, as vezes eu mandava alguns trocados pra meu pai.
Em 10 de outubro de 1964, D. Maria acaba falecendo, o filho parecia que nem se importava com ela.
Certo dia quando eu voltava pra casa de D. Maria, não encontrei ninguém, não estava o Rodolfo, nem a minha irmã. Ele havia em poucas horas vendido a casa. Aquele desgraçado fugiu com minha irmã! Eu me desesperei!
De também traficante, passei a usuário, comecei a roubar, matar, e durante cinco anos eu fui preso dezenas de vezes. resolvi então voltar pra casa. Sempre me lembrava de meus pais, mas tinha vergonha de voltar sem minha irmã, eu já imaginava a situação, minha mãe iria ficar louca, mas mesmo assim voltei.
Cheguei lá, e de cara não reconheci minha velha casa, parecia abandonada, foi quando descobrir que meus pais teriam viajado pra São Paulo para o enterro de sua filha. Me desesperei novamente, eu estava destruindo a minha família, logo voltei para São Paulo, agora minha meta aos 21 anos era procurar a minha família. Me lembrava também do irmão Osvaldo. Pô quanto tempo eu não o via!
Foi tudo em vão! Não tendo nenhum resultado às minha buscas voltei pro mundo do crime, continuei naquela situação por mais três anos, me envolvi com muitas mulheres mas uma delas (Flávia Ribeiro de Souza),tentou me enganar. Me disse que tinha ficado grávida e que tinha certeza que o filho era meu, cheguei até a me apaixonar por ela, mas totalmente drogado, quando eu ouvir aquela frase, a espanquei sem dó. Como uma prostituta iria ter um filho meu? aos 24 anos, nas minha condições eu não poderia assumir um filho. Fiz com que ela sumisse da minha vida.
Resolvi que iria mudar, mais cinco anos se passaram e eu procurando um emprego digno em uma sociedade cheia de preconceito. Foi quando eu conheci José, um cara mais ou menos da minha idade que me empregou em uma firma de saneamento básico. Ali conheci algumas pessoas que me ajudaram a estabelecer novamente a minha vida. Eu e José começamos a dividir uma casinha na periferia da cidade. Ele era meu melhor amigo!
Dez anos depois a empresa vai a falência, mas eu já havia conseguido juntar uma boa grana.
No dia 9 de fevereiro de 1987, eu fui em uma agência bancária, quando percebi que todo o meu dinheiro havia sumido, tentei reclamar com o gerente, daí ele me perguntou se mas alguém sabia minha senha de acesso, foi quando me lembrei no meu amigo José, voltei pra casa pra conversar com ele, e não o encontrei. Eu fui roubado! novamente enganado por essa vida desgraçada em que me meti.
Já estava com 39 anos quando me tornei um alcoólatra. Em uns momentos de embriaguês tentei o suicídio. Novamente comecei a roubar para sobreviver.
Talvez se o álcool e as drogas não entrasse em minha vida, eu poderia me rerguer . Mas as desgraças em minha vida não pararam por ali.
Certo dia eu ia passando em um ponto de prostituição, quando convidei uma garota para um programa, muito bonita, ela aparentava ter uns 15 anos, mas nem perguntei.
Sem nenhum tipo de veículo, eu a levei para um local afastado, na verdade eu queria mesmo era rouba-la. Ela se recusou em me passar a grana, totalmente alcoolizado eu a espanquei até a morte.
Levei comigo sua bolsa, no dia seguinte, eu a abrir, queria descobrir quem era aquela menina que eu avia matado na noite anterior.
Quando olhei sua carteira de identidade, descobrir que seu nome era Diana Ribeiro de Souza, não tinha pai, sua mãe era Flávia Ribeiro de Souza, a mesma mulher que dizia esperar um filho meu, a única mulher por quem eu me apaixonei. O mundo parecia não ter mais sentido. fiquei louco, desesperado, como eu poderia ter matado minha própria filha? Em um momento de loucura tentei novamente o suicídio. cheguei a ir até para o hospital, mas pra minha desgraça, eu ainda continuava vivo.
Quatro dias depois, eu recebi um telefonema de um parente da minha cidade natal, foi quando descobri o endereço de minha família em São Paulo. Foi o que me deu conforto naquela hora, até que em fim eu iria poder ver minha mãe, que na minha saída tinha a impressão de não mais me ver. Como será que ela está? E meu pai será que continua com aquela aparência? E meu irmão Osvaldo será que tem uma família? Filhos? Essas foram as perguntas que eu me fazia a caminho de uma das favelas da cidade.
Perto de um barraco de lona já na entrada da favela, avistei um cara todo mau vestido aparentava ter 40 anos, encostei a ele. Foi quando descobrir que era o Osvaldo ainda com 31 anos, ele logo me reconheceu, foi quando chorando eu perguntei sobre papai e mamãe.
Meus pais havia falecido quatro anos antes. Minha mãe morreu aos cinqüenta anos atropelada, e dois meses depois meu pai com cinqüenta e quatro, morreu de um ataque cardíaco, certamente não agüentou a dor de perder a minha mãe. Me desabei em lágrimas, com quase quarenta anos, eu parecia uma criança. O Osvaldo não constituiu uma família, pois também entrou no mundo do crime. Resolvi morar com ele para tentar-mos, agora juntos, recomeçar a nossa vida. Nove meses depois ele foi assassinado.
Talvez se eu não tivesse vindo para esse lugar, me afastado da minha família, eu poderia ao menos poder enterrar meus pais ,minha irmã e meu irmão poderiam está vivos. foi o preço que eu paguei por tentar encarar o mundo.
A alguns anos atrás descobrir que tenho uma doença incurável.
Hoje tenho sessenta anos, ando em uma cadeira com rodas, moro de favor em uma casa de apoio. Saí da minha pequena cidade para tentar dar uma vida melhor para minha família , o que conseguir foi apenas antecipar a morte deles, inclusive a da minha própria filha.
Agora estou só, tenho um câncer no pulmão, e pra variar, também tenho AIDS.
Vivo somente para esperar a minha morte chegar.
Decidir trabalhar, mas não na roça ou tão pouco naquela cidade, eu queria encarar o mundo, descobrir coisas novas e subir na vida.
Meus pais vivendo em condições sub-humanas, não viram outra alternativa a não ser apoiar minha decisão de ir pra São Paulo, morar com uns parentes distantes da minha mãe.
Chega o dia da despedida - 05 de setembro de 1962 -, meus colegas de classe aparecem para se despedirem de mim, já que eu estudava a 8ª série do ensino fundamental, e não iria terminar o ano letivo, eu disse a toda minha família que iria voltar e dar uma vida melhor a eles. Minha mãe chora muito, e aos prantos diz que tem a impressão que não voltaria a me ver.
A viagem foi tranqüila, chegando lá me deparei com outro mundo, muitos carros muita gente, parecia que todos estavam correndo da polícia. Fui bem recebido pela parente da minha mãe D. Maria (aos 45 anos doméstica) que morava só com seu filho Rodolfo.
No dia seguinte o Rodolfo me levou pra trabalhar, eu iria ser vendedor, vendedor de drogas, o cara era traficante barra pesada, e me espancava sempre que lhe dava vontade, ali começou a longa jornada de sofrimentos e desgraças que seria minha vida. Dois anos após, D. Maria ainda com 47 anos adoece e não pode mais trabalhar, então Rodolfo me sugere que eu peça minha irmã Cláudia - já com 12 anos – que viesse para trabalhar pra ele, cuidando de sua mãe, em gratidão a D. Maria, foi o que eu fiz. O trampo até que rendia, as vezes eu mandava alguns trocados pra meu pai.
Em 10 de outubro de 1964, D. Maria acaba falecendo, o filho parecia que nem se importava com ela.
Certo dia quando eu voltava pra casa de D. Maria, não encontrei ninguém, não estava o Rodolfo, nem a minha irmã. Ele havia em poucas horas vendido a casa. Aquele desgraçado fugiu com minha irmã! Eu me desesperei!
De também traficante, passei a usuário, comecei a roubar, matar, e durante cinco anos eu fui preso dezenas de vezes. resolvi então voltar pra casa. Sempre me lembrava de meus pais, mas tinha vergonha de voltar sem minha irmã, eu já imaginava a situação, minha mãe iria ficar louca, mas mesmo assim voltei.
Cheguei lá, e de cara não reconheci minha velha casa, parecia abandonada, foi quando descobrir que meus pais teriam viajado pra São Paulo para o enterro de sua filha. Me desesperei novamente, eu estava destruindo a minha família, logo voltei para São Paulo, agora minha meta aos 21 anos era procurar a minha família. Me lembrava também do irmão Osvaldo. Pô quanto tempo eu não o via!
Foi tudo em vão! Não tendo nenhum resultado às minha buscas voltei pro mundo do crime, continuei naquela situação por mais três anos, me envolvi com muitas mulheres mas uma delas (Flávia Ribeiro de Souza),tentou me enganar. Me disse que tinha ficado grávida e que tinha certeza que o filho era meu, cheguei até a me apaixonar por ela, mas totalmente drogado, quando eu ouvir aquela frase, a espanquei sem dó. Como uma prostituta iria ter um filho meu? aos 24 anos, nas minha condições eu não poderia assumir um filho. Fiz com que ela sumisse da minha vida.
Resolvi que iria mudar, mais cinco anos se passaram e eu procurando um emprego digno em uma sociedade cheia de preconceito. Foi quando eu conheci José, um cara mais ou menos da minha idade que me empregou em uma firma de saneamento básico. Ali conheci algumas pessoas que me ajudaram a estabelecer novamente a minha vida. Eu e José começamos a dividir uma casinha na periferia da cidade. Ele era meu melhor amigo!
Dez anos depois a empresa vai a falência, mas eu já havia conseguido juntar uma boa grana.
No dia 9 de fevereiro de 1987, eu fui em uma agência bancária, quando percebi que todo o meu dinheiro havia sumido, tentei reclamar com o gerente, daí ele me perguntou se mas alguém sabia minha senha de acesso, foi quando me lembrei no meu amigo José, voltei pra casa pra conversar com ele, e não o encontrei. Eu fui roubado! novamente enganado por essa vida desgraçada em que me meti.
Já estava com 39 anos quando me tornei um alcoólatra. Em uns momentos de embriaguês tentei o suicídio. Novamente comecei a roubar para sobreviver.
Talvez se o álcool e as drogas não entrasse em minha vida, eu poderia me rerguer . Mas as desgraças em minha vida não pararam por ali.
Certo dia eu ia passando em um ponto de prostituição, quando convidei uma garota para um programa, muito bonita, ela aparentava ter uns 15 anos, mas nem perguntei.
Sem nenhum tipo de veículo, eu a levei para um local afastado, na verdade eu queria mesmo era rouba-la. Ela se recusou em me passar a grana, totalmente alcoolizado eu a espanquei até a morte.
Levei comigo sua bolsa, no dia seguinte, eu a abrir, queria descobrir quem era aquela menina que eu avia matado na noite anterior.
Quando olhei sua carteira de identidade, descobrir que seu nome era Diana Ribeiro de Souza, não tinha pai, sua mãe era Flávia Ribeiro de Souza, a mesma mulher que dizia esperar um filho meu, a única mulher por quem eu me apaixonei. O mundo parecia não ter mais sentido. fiquei louco, desesperado, como eu poderia ter matado minha própria filha? Em um momento de loucura tentei novamente o suicídio. cheguei a ir até para o hospital, mas pra minha desgraça, eu ainda continuava vivo.
Quatro dias depois, eu recebi um telefonema de um parente da minha cidade natal, foi quando descobri o endereço de minha família em São Paulo. Foi o que me deu conforto naquela hora, até que em fim eu iria poder ver minha mãe, que na minha saída tinha a impressão de não mais me ver. Como será que ela está? E meu pai será que continua com aquela aparência? E meu irmão Osvaldo será que tem uma família? Filhos? Essas foram as perguntas que eu me fazia a caminho de uma das favelas da cidade.
Perto de um barraco de lona já na entrada da favela, avistei um cara todo mau vestido aparentava ter 40 anos, encostei a ele. Foi quando descobrir que era o Osvaldo ainda com 31 anos, ele logo me reconheceu, foi quando chorando eu perguntei sobre papai e mamãe.
Meus pais havia falecido quatro anos antes. Minha mãe morreu aos cinqüenta anos atropelada, e dois meses depois meu pai com cinqüenta e quatro, morreu de um ataque cardíaco, certamente não agüentou a dor de perder a minha mãe. Me desabei em lágrimas, com quase quarenta anos, eu parecia uma criança. O Osvaldo não constituiu uma família, pois também entrou no mundo do crime. Resolvi morar com ele para tentar-mos, agora juntos, recomeçar a nossa vida. Nove meses depois ele foi assassinado.
Talvez se eu não tivesse vindo para esse lugar, me afastado da minha família, eu poderia ao menos poder enterrar meus pais ,minha irmã e meu irmão poderiam está vivos. foi o preço que eu paguei por tentar encarar o mundo.
A alguns anos atrás descobrir que tenho uma doença incurável.
Hoje tenho sessenta anos, ando em uma cadeira com rodas, moro de favor em uma casa de apoio. Saí da minha pequena cidade para tentar dar uma vida melhor para minha família , o que conseguir foi apenas antecipar a morte deles, inclusive a da minha própria filha.
Agora estou só, tenho um câncer no pulmão, e pra variar, também tenho AIDS.
Vivo somente para esperar a minha morte chegar.
Atualizado em: Ter 13 Maio 2008