- Elogios
- Postado em
Arauto do anticristo
Lars Von Trier emergiu para mim após seu flerte polêmico com o tema nazista. Não sou partidário de Adolf Hitler - apesar de considerar interessantíssima a figura do Führer - mas fiquei com um desejo irresistível de apreciar a filmografia de um boquirroto tão descuidado.
Comecei com Anticristo e embarquei em uma intensa viagem no universo das sensações (eita! isso me lembrou os Cenobitas): lascívia, piedade, tristeza, raiva, medo, repugnância, terror, dúvida, admiração, alívio. Nesse atmosfera de percepções antagônicas, Willem Dafoe esbanja talento cênico encarnando um psicanalista com sua esposa louca, aos tropeços em seu casamento. E, para fugir de seu cotidiano conturbado, os dois se enfurnam em uma cabana na floresta numa tentativa aflita de revivificar sua relação. No entanto, uma série de eventos sinistros leva-os a um desfecho espetacular.
Não conhecia Charlotte Gainsbourg e me apaixonei. O seu cartão de visita não me impressionou: seu rosto não me parecia bonito, sua expressão era antipática e seu corpo não me atraía. No entanto, sua atuação foi arrebatadora. De forma magistral, ela imprimiu na personagem paixão, loucura, sensualidade, impetuosidade e emprestou às sequências violentas o tempero exato para que o espectador compreendesse - e experimentasse! - as agruras pelas quais passava o desafortunado marido.
Ignorei na hora o fato de que os protagonistas não tinham nome. Eles apareciam nos créditos finais apenas como he e she. Sem identificação, sem perspectiva, sem defesa, sem perdão. Lars Von Trier produziu uma obra prima.
Tão marcante quanto as cenas infernais e o roteiro bizarro foi a tensão sexual que me rendeu como um soco na cara. (What sorcery is this?!) E eu realmente estava desprevenido. Não imaginei que, mesmo assistindo a tanto sofrimento e dor, eu e minha mulher ficaríamos tão excitados. O silêncio, a trama se desenrolando e o meu constrangimento, tentando conter o instinto e esperar o término do filme. Não deu. "Depois a gente vê o resto!"
Será uma das boas lembranças de 2011.
Comentários
Abraços.