- Crítica
- Postado em
Millenium: Focando em Lisbeth
Do tipo de filme em que você se pergunta o porquê de não o ter assistido antes. Supreendente o modo como foi feito, com a riqueza de detalhes, o cuidado ao tratar de um assunto tão negligenciado-a misoginia.
A figura da personagem principal, embora estereotipada e um pouco exagerada, gera empatia. Uma mulher longe dos padrões de beleza e costumes impostos pela sociedade se destaca por sua invencibilidade e personalidade forte/indomável.
Personalidade essa que corrobora com a tese de Rousseau: o que uma pessoa é depende daquilo que fizeram a ela, do meio que viveu e das situações as quais passou. Lisbeth (nossa protagonista), sofreu inúmeras agressões físicas e psíquicas ao longo de sua vida, presenciou, ainda criança, a violência doméstica sofrida por sua mãe, ateou fogo contra seu próprio pai no desespero de por fim a dor de sua progenitora.
Internada, foi inúmeras vezes violentada sexualmente e assediada, uma dessas vezes por seu próprio tutor, que supostamente deveria a defender. Viu o pior dos homens e aprendeu, assim, a tê-los como inimigos. Cabe aqui a reflexão:caberia a alguém cobrar resiliência de quem teve sua vida transformada em um inferno apenas pelo fato de ser mulher?
Sua raiva é legítima, suas ações são justificáveis, suas atitudes agressivas não são ataque-não é ela quem persegue os homens- são um modo de defesa, é a forma que ela encontrou, sozinha, de seguir em frente e de ter paz, na medida do possível.
Esse sucesso literário que ganhou espaço na cinematurgia sueca, na verdade, não temnadade ficcional. Essa é uma realidade das mulheres ao redor do mundo, não importa a crença, cor, etnia, raça, classe social. O fato é: mulheres são objeto de repúdio, ódio, desdém, preconceito. Ainda hoje são submetidas a mutilação genital, casamento forçado, apedrejamento-pela própria familia, salários menores, estupro, assédio sexual diariamente. Nós não temos um direito básico assegurado: o de ir e vir.
Há quem diga que o machismo não mais existe, eu digo que não só existe comopersiste e mata, mata muito. Enquanto que o feminismo é cura, jamais matou, não persegue, liberta, cura, dá força, empodera, incomoda.
Incomodamos e vamos incomodar ainda mais. Estamos crescendo e disseminando nossos ideais. Cada vez mais militantes, cada vez mais protagonismo, mas na certeza de que isso ainda é pouco. Nós temos um sonho, nós queremos coexistir.