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VAN HELSING
ENSAIO SOBRE VAN HELSING
Entretenimento, entretenimento, entretenimento... a indústria do cinema se posiciona, de forma clara. Não ambiciona outra coisa. Quando ambiciona une a renda milionária da bilheteria com uma e outra novidade como foi a PAIXÃO do Mel, sem deixar o tema papa-níquel mais conhecido de todos. Como ver todas as formas o sangue de Jesus a escorrer. Vampirismo.
VAN HELSING: um filme que demorou a aparecer por causa do carisma que essa personagem tem graças ao grande Peter Cushing. Pena que tomou a frente, para definir a saga de VAN HELSING, o cinema de truques e plástico.
Os produtores do VAN HELSING, filme, resolveram que em vez do místico-espiritualista VAN HELSING, houvesse mistura de tudo o que é herói, usando de liberdades poéticas marotas. Exemplo: A CRIATURA do Dr. Victor Frankenstein morre, com ele, caindo de um Moinho. O que não é verdade, de acordo com a autora original, pois morrem elss nas geleiras do Ártico. O que quero dizer é que: - Já que morreram mesmo, por que os autores do filme não fizeram como a ideia original, já que seus perseguidores eram vampiros que podiam tanto estar num aldeola qualquer, como nas geleiras do Ártico. Tanto faz. Ou seja, usaram de licença poética para nada. Trocaram seis por meia dúzia.
Já BATMAN aparece nas primeiras seqüências, enquanto luta com um galhofeiro e simiesco MR. HIDE, que de tão virtual e artificialmente construído me pareceu o antigo KING KONG feito de massinha de modelagem da década de 30. Levar a cena para Paris ocorre em perda de senso, a não ser que quisessem remeter ao Corcunda de Notre-Dame, ou, quem sabe, ao Fantasma do Ópera House, ou ainda usar parte do cenário do Moulin Rouge, já pronto, zipado em algum disquete nos estúdios de filmagem – Opa! – de edição. Depois, aparece o Vaticano também virtual. Lá – pasmem todos! – VAN HELSING vai se confessar com um padre conivente com a mortandade. VAN HELSING é um Templário? Fica aí claro que o protagonista tem que colocar o mundo em ordem e destruir tudo o que é anormal ou desordenado, ou seja tudo aquilo que é diferente do usual. A Igreja Católica, por baixo do pano, parte para a solução final frente aos diferentes, usando para isso o Indiana Jones VAN HELSING. A desculpa: Os seres diferentes – os anões, coitados - eram todos criados por obras demoníacas, - devem sumir do mapa.
James VAN Bond nos subsolos do Vaticano. Lá, gente de tudo quanto é religião – ecumenismo da mais importante cepa - trabalha para estruturar armas e meios de destruir os desiguais – os monstros – os diferentes. Monges do Tibete e Judeus Ortodoxos se mesclam, com roupas folclóricas e características, em um laboratório de pesquisa. O certo seria usar jaleco. De qualquer maneira os diferentes são os outros, os filhos do Capeta, os anormais e precisam ser destruídos por VOLVERINE HELSING. Para ajudar JAMES HELSING temos um armeiro, um monge que ainda é frei – ou seja, licença para cometer besteiras – que faz o papel de Mr. Q, o armador de Bond. Ainda por cima o sujeito dá a dica de que construiu um reles artefato atômico, com as areias do deserto de Gobi, que todos nós leitores sabemos serem radiativas. No entanto, tanto quanto Caxambu. Quem sabe o subsolo? Na continuidade do filme esse artefato será útil para acabar com os vampiros, centenas deles que dançavam alegremente em uma festa, tanto pelo poder de fogo como pelo clarão deslumbrante.
O gótico permanece em tudo. Detalhes de cenários convivem com o digital da moderna técnica e as antigas pinturas de paredes. Mas vemos paineis de fotos em arquivos j-peg projetados sobre as conhecidíssimas telas azuis – ou verde - na cenaem que VAN HELSINGchega à aldeia e há um cenário muito chapado no fundo, desmentindo o apuro do grupo de técnicos responsáveis. Produção barata. Ali usaram de solução simples. Uma foto contra o fundo, unidimensional. Basta! A ilusão se faz?
Ainda não entendi o motivo pelo qual os romenos aqueles falavam inglês com sotaque. Como seria dublado?
A múmia não apareceu mas o LOBISOMEM sim, aliás, de importância cabal na obra. É através do LOBISOMEM que o outro lado de VAN HELSING HIDE vai brotar e expor a sua HARMATIA – a falha trágica da personagem – pois, o herói, tendo sido mordido por um Lobisomem, se tornará ele mesmo um similar. Vejo aí o lobo saindo de dentro do lobo-homem. Outra citação são os casulos de ALIENS anacrônicos que não vingam. Lavoisier em Hollywood.
Curioso, e isso me vem agora, vejo que do herói não brota muita coisa ao lado da mocinha arranjadinha, mas, depois da mordida do outro Lobisomem coisas acontecem, coisas mudam... Trágicas e mais estranhas.
Por fim: DRÁCULA. Deve-se aplaudir a construção das vampiras digitais que voam. Muito bem elaboradas e fluidas na sua espectralidade volátil e perolada. Gostei delas. Muito terríveis e más. Um pouco lerdas nas decisões, mas gente morta é assim. E, mesmo o Drácula, eu o vi bem diferente dos demais. O ator criou um Drácula no estilo expressionismo alemão e mesmo com trejeitos e modos de agir das Operetas de final do século 19, que é mais ou menos a época em que rola a história, ele se mostra hábil. O leve sorriso de deboche teria algum significado dramático? Quanto tempo se levou para construir a Torre Eiffel?
A CRIATURA retorna. Um cara muito gozado, fortíssimo que não consegue escapar das correntes e desmaia ao primeiro dardo que o VAN TUPINAMBÁ HELSING lhe sopra.
Algo me diz que esses produtores são uns iconoclastas.
Como se pode imaginar e prever e saber de antemão: VAN HELSING, inimigo do Conde Vlad, mordido de raiva pelo Lobisomen, no aparecer de uma LUA CHEIA que ali estava de plantão, se transforma em terrível carnívoro lépido e raivoso - antagônico às mulheres Liliths que só aparecem na LUA NOVA. E, de acordo com a duvidosa teoria do monge que seguiu HELSING, como Adso segue Guilherme n’O NOME DA ROSA, lobisomens são os únicos que matam Dráculas. Não se sabe de onde ele tirou isso. Provavelmente da cabeça de uns dos produtores do filme, jovem imbecil alçado ao poder. Ora, partindo desse princípio estarrecedor, podemos concluir que onde há Lobisomem há Drácula e Vampiros.
No entanto o filme, que começa galhofeiro, termina com a tragédia. A catástrofe se abala sobre as consciências – a presunção e soberba e orgulho do protagonista EX VAN HELSING MAN – causa a morte da mocinha. Eis aí o momento trágico do filme. Inesperado, eu poderia dizer, principalmente para quem assistiu o filme antes de ler esse ensaio.
Mas o que importa é como o filme foi feito e não a história que, enfim, todas são banais e simplórias nesse tipo de obra. Afinal, isso é entretenimento, entretenimento... entretenimento.