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Erendira

Ela morava com sua avó, uma mulher grandalhona, durona, de gênio reconhecidamente forte.

A avó a submetia a trabalhos diários, praticamente aproveitando-se da fragilidade da neta.

A avó era viúva e, como ela mesma narrava em sonhos, gabava-se por ter matado o marido.

Erendira tinha medo daquela mulher brava, por isso a obedecia cegamente.

Depois de algum tempo, Erendira conheceu um rapaz da mesma idade que ela, da redondeza, que passou a dividir com ela a pequena cama onde Erendira dormia, na casa da avó. Seus encontros eram secretos, por isso a avó não sabia do relacionamento sexual da neta com o rapaz.

Numa das vezes em que o rapaz dormia no quarto dela, e a avó roncava adiante, e falava alto em sonhos que tinha matado o marido - justamente enfiando uma faca na goela dele -, o rapaz se assustou e ficou com medo. Erendira o tranquilizou:

- Ela sempre conta essa história. Mas não acorda.

- Ela matou ele? - perguntou o rapaz assombrado.

Erendira pôs a mão na boca dele para que não falasse. Assim, a avó poderia acordar.

Ela balançou a cabeça que sim e pediu que ele cochichasse senão a avó acordaria.

Erendira já conhecida os sonhos da avó. Tanto que sabia o que ela diria após uma frase e outra, os gestos que faria num momento e noutro e até se iria acordar.

Um dia Erendira se distraiu e deixou cair a lamparina, e incendiou a casa. A avó ficou furiosa. De raiva, em troca do prejuízo, obrigou a neta a se prostituir. Erendira passou então a receber os homens que a própria avó arranjava e recebia o dinheiro antes de entrarem no quarto.

Notou, então, Erendira que sua avó se enriquecia as suas custas e ficou com ódio mortal dela. Assim, convenceu o rapaz que a possuía de graça a matar a avó durona.

- A gente fica livre dela - prometeu Erendira. - E pode ficar mais tempo junto.

O rapaz de início vacilou, com medo. Mas Erendira o persuadiu a ajudá-la, e ele assim o fez. Mataram a grandalhona da avó de Erendira com muitas facadas, enquanto ela dormia. Depois o rapaz foi embora.

Erendira se banhou no sangue da avó enquanto sorria. Depois saiu dali andando sem destino certo, deixando um rastro de sangue por onde passava.

E nunca mais ninguém ouviu falar seu nome.

Erendira (1983)
Direção: Ruy Guerra
Roteiro: Gabriel García Márquez
Elenco: Irene Papas, Claudia Ohana, Michael Lonsdale, Oliver Wehe, Rufus, Blanca Guerra e outros.

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Atualizado em: Ter 12 Out 2010

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