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O Clube do TOC

Havia olhares atônitos voltados para o vendedor, um homem de seus cinquenta anos, um pouco gordo, de óculos, que fazia uma dancinha desarmônica e improvisada, ou improvisada e desarmônica, em frente à padaria. A rua tinha intenso movimento de carros e pedestres, ficava no centro de São Paulo. Não era a primeira vez, não era o único lugar. Quando Carlos encerrou seu ritual de pouco mais de quarenta segundos, vídeos editados ou não já circulavam pela internet e consequentemente chegavam ao smatphone de seu chefe.
— Se eu não fizer essa dança, uma voz dentro de mim diz que não vou vender, se eu não a fizer direito, algo muito ruim vai acontecer à minha filha. Estou há anos lutando com isso, antes não precisava ser em público, fazia em casa ou no banheiro do estabelecimento, mas agora as exigências aumentaram. E meu chefe deu um ultimato, Ana — explicava Carlos à terapeuta. — Ou eu me curo disso ou é rua.
Ana fitou Carlos e os demais que formavam o círculo à sua volta, ajeitou-se na cadeira, pondo de lado a prancheta com folhas onde fazia anotações.
— Alguém mais? — inquiriu.
Fúlvia, uma mulher de vinte e poucos anos, cabisbaixa até então, concentrada em arrancar cutículas com as unhas, levantou os olhos e começou:
— Eu perdi meu marido — riu um pouco, mas com amargura. — Como? Ah, Deus — suspirou.
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Atualizado em: Seg 30 Out 2017

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