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Êxodo

Todos esperavam passar. Esperavam ver.
O êxodo dos desesperados. Os claudicantes da vida. A busca perseverante pela quietação. E viam crianças morrendo de inanição, viam velhos maltrapilhos. Enxergavam dores nos olhares. E as peles sáfaras, os olhos fundos dos amarelos de fome. Pais carregavam filhos nas costas, meninas afagavam seus bebês natimortos. O mar levava, corria, naufragava a esperança dos aflitos. O calvários dos sem-pecado, dos sem-Deus. Uma marcha pelo desespero, uma marcha para a solidão.
Todos rezavam. Esperavam ver.
Até onde iam. Como morriam. E esse povo errante enrugava, desvanecia. A areia marcada por passos, tenra, servindo de leito. A marcha seguia sempre em frente, rumando para o nada. Refém do preconceito, da discriminação. Solapada pelos que esperavam ver. Massacrada pelos que rezavam. Todos esperavam ver. E viam.
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Atualizado em: Qua 6 Set 2017

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