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  • A Despedida

    Olha demoradamente para meu corpo,que já sem vida descansa neste gelado caixão.
    Perceba o angustiante silêncio desta fúnebre capela,totalmente vazia.
    Estás agora completamente sozinha,nem eu contigo mais estou.
    Mas onde estão aqueles que em momentos festivos brindavam e sorriam ao seu lado?
    Onde estão aqueles,aos quais tu defendia tão fervorosamente quando por mim
    eram criticados?
    Onde esta o ombro amigo para consolar-te neste momento de infortúnio?
    Todos se foram!
    Apenas meu cadáver,inerte,continua a teu lado.
    Se lágrimas caírem em tua face,certamente não será pela perda,
    mas pelo desolador sentimento de abandono.
    Nesta congelante noite de inverno,despede-te daquele
    que em sentimento já deixaste a muito tempo. 
    Parece-me que a vida imita a morte,
    pois estivemos sempre sós 
    mesmo quando rodeados por muitos.
    Nossa soturna solidão era de mágoa,dor.
    Se o ambiente lúgubre deste local causar-te arrepios,
    e sentir-te envolvida em um sufocante desespero...
    Acostume-se...
    Pois toda minha vida ao teu lado foi assim!
  • A escolha

    1
    Jeff morava sozinho, gostava de sua privacidade. Deixara seus pais no interior há muitos anos e fora para a cidade grande estudar e testar sua sorte. Era um belo rapaz de cabelos loiros, muito inteligente e dedicado, que encontrou o amor em Barbara, amiga de infância, cinco anos mais nova, com quem sempre dividiu todos os seus momentos preciosos e queridos.
    Barbara ainda morava com os pais, que se mudaram para a mesma cidade de Jeff, três anos depois dele. Foi uma benção para aquele rapaz perdido, pôde retomar seu romance com seu eterno amor. Seus pais foram vizinhos por mais de 30 anos.
    - Oi amor, estou indo para sua casa sim, vou só acabar de limpar as coisas por aqui e pego meu carro.
    - Tudo bem, te espero amor. Meus pais não estão hoje, só que chegam da praia de madrugada. Sabe que, infelizmente, é melhor ir embora antes deles voltarem, não?
    - Claro. Adoro a Suzy e o Neil, mas acho que poderiam ficar sem gasolina ou algo do tipo e dizer que vão ficar mais um dia na praia, eles precisam relaxar mais – Diz ele rindo.
    - Não seja ruim, amor, eles vão trabalhar amanhã. Praticamente direto da praia. Acho que voltam de madrugada para nos dar tempo, mesmo dizendo que não podemos nos ver sem eles.
    - Tudo bem. Vou acabar as coisas aqui e logo menos estou por ai. Beijos meu amor.
    - Beijos, paixão.
    Jeff olhou à sua volta e viu a desgraça que era sua casa. A pia lotada de louça da semana inteira. O colchão não via uma roupa de cama desde a última vez que Barbara esteve lá (talvez por isso ela preferisse que os encontros fossem na casa dela, afinal, ela que teve que colocar aquela roupa), as contas vencendo, pois ele estava “entre empregos” havia dois anos, conseguindo só alguns bicos pequenos. A internet era a única conta que pagava no vencimento, o cabo ele conseguiu puxar do vizinho com ajuda de seu pai. Para as roupas sujas ele aguardava, ansiosamente, a próxima visita de sua mãe, ou um final de semana prolongado para ir visitá-la com sacos de suas vestimentas.
    Apesar da sujeira, era um bom apartamento, não muito grande, do tamanho ideal. Tinha apenas um quarto, com sua cama, uma escrivaninha e um armário fixo na parede. Um banheiro entre o quarto e a sala, sendo que este cômodo era pequeno, apenas com um sofá-cama e a televisão, com uma cozinha acoplada. Ele não precisava de muito mais do que isso, só que via nos olhos de Barbara que ela queria. E tinha certeza de que ela merecia.
    “Hoje vou arrumar tudo isso”
    O pensamento contagiou Jeff, inflando-o de energia. Tirou uma camiseta do chão (havia completado uma semana naquela mesma posição) e imaginou que poderia arrumar toda aquela casa antes de sair. Esse pensamento durou até o primeiro prato lavado.
    “Não tenho tempo para isso. A Barbara está me esperando, se não fosse por isso eu arrumaria tudo.” – sempre havia uma desculpa...
    Pegou seu carro ligou o som no máximo, seu celular mostraria o caminho (usava o aplicativo do celular principalmente para ver as câmeras de trânsito), colocou o cinto de segurança e dirigiu freneticamente ao som de Bitting Elbows, Limp Bizkit, Three Days Grace e qualquer outra banda barulhenta que lhe fizesse esquecer que não tinha um emprego digno, nem nada em sua vida que valesse a pena, a não ser o amor daquela garota encantadora.
    A rua Heitor Penteado tinha um trânsito intenso, como sempre pra aquele horário, e ele só pensava em acelerar, sua pressa era mais importante do que a de todos os outros. Recebeu uma mensagem de sua namorada “Estou te esperando” e, anexo, uma foto nua. E outra. E outra. Agora Jeff tinha pressa e um pau duro. Com aquele sangue a menos no cérebro, começou a fazer manobras mais arriscadas e atravessou um farol vermelho. Por sorte ninguém passou junto com ele.
    Quinze minutos depois chegou à casa de Barbara. Tocou a campainha e a porta se abriu. Subiu as escadas para aquela bela casa rosa de quintal vasto, em que passou tantos finais de semana felizes com aquela garota. Ela abriu a porta, vestia apenas uma calcinha. Não teve um “oi”, apenas um “uau” e transaram ali no sofá.
    Depois foram para o quarto, transaram mais duas vezes e pararam para se hidratar. Jeff não havia almoçado ainda, foi só quando pararam que a fome apertara. Ele sabia cozinhar, ela não. Então preparou um almoço para ambos. Nada muito rebuscado, apenas um macarrão rápido à bolonhesa, era o que tinha na dispensa da casa. Ficou excelente. Ela dizia que ele deveria ser Chef ou algo do tipo, ele dizia que as longas horas não compensavam e que cozinhava só por prazer, não queria que virasse um estresse.
    Conversaram sobre o trabalho dela, como ele subia na carreira e já falavam em outra promoção. Jeff tinha muito orgulho daquela garota e, às vezes, achava que ela era boa demais para ele. Talvez se não fossem vizinhos, com tanto tempo pela frente e sonhos infantis, ela nunca tivesse gostado dele. Isto não era verdade, embora ele tenha sido o primeiro namorado dela, ninguém nunca a tratou tão bem. Ele a mimava de uma maneira boa e a apoiava em todos os seus planos. Mudou-se para a cidade grande quando brigaram e terminaram, ele sentiu que não haveria mais nada para ele naquela cidadezinha. A verdade é que ele passou anos deprimido até tê-la de volta.
    Ela também ficou arrasada com o término, não soube lidar com ele, assim como ele não soube lidar com ela. Hoje, isso mudou e já não se preocupava com o fato dele nunca ter um emprego fixo. Não se importava se precisasse sustentar aquele homem, pois sabia que seu coração era puro e que só tinha amor por ela.
    2
    - Já é tarde amor, melhor ir embora antes que seus pais cheguem.
    - Queria que ficasse mais.
    - Não podemos deixá-los bravos, já faz algum tempo que eles não gostam tanto de mim. Vou melhorar, você vai ver. Conseguirei um emprego decente. Serei tudo aquilo que você merece.
    - Você já é, amor.
    Eles sorriram e se beijaram. Fizeram amor uma última vez no chuveiro, Jeff nunca se sentiu tão bem. Então, pegou seu carro.
    Não tinha pressa, sua casa não era tão longe, vinte minutos no trânsito da madrugada, eram 3h da manhã, os pais de Barbara deveriam chegar em uma hora mais ou menos. Conseguiu sair com tempo de sobra e não tinha nenhum bico para o dia seguinte. Talvez arrumasse a casa, talvez cumprisse suas promessas de ser uma pessoa melhor e mais esforçada...
    Não Jeff, você não iria fazer nenhuma dessas coisas.
    Todas as ruas estavam vazias sob a escuridão daquela noite, de poucas estrelas e sem luar. Aqueles momentos agradavam o sonolento Jeff. Como sempre, seu som tocava alto, desta vez era Moves Like Jagger.  Uma eterna ironia que as últimas palavras que ouviu em vida foram "I got the moves like Jagger".
    Em seu retorno, percorreu a Heitor Penteado, parou em todos os faróis e respeitava, razoavelmente, os limites de velocidade. Foi então que na altura do 1700, ouviu um estrondo, algo parecido com um tiro.
    Não teve muito tempo para uma reação, apenas olhou para o lado, com cara de susto, e viu uma Fiorino desgovernada. Seu pneu havia estourado. Aquela moça que corria na faixa contrária perdeu completamente o controle, atravessou para a faixa de Jeff e colidiram de frente. Tudo ficou branco na mente daquele rapaz. No impacto seu carro se contorceu o suficiente para espremer todos os ossos de seu motorista, muito além de qualquer reconhecimento. Os dois carros se mesclaram em um obra de arte urbana caótica, com líquidos negros, dourados e vermelhos escorrendo livremente. Não sobrou nada de Jeff para contar a história. Pelo menos, todos acharam que ele não sofreu.
    3
    Jeff acordou em um lugar apertado e escuro, um pouco maior que o interior de um armário. Não enxergava nada além de um totem com tela touch que dizia “Por favor, retire sua senha aqui”. Ele não entendia o que acontecia, lembrava apenas do barulho daquela batida e da dor de morrer. Mesmo que sentida apenas por um segundo, a dor de ter seu corpo esmagado por toneladas de aço retorcido fora excruciante. Decidiu apertar o botão “senha” no console. Conseguiu “M-14”.
    Quando retirou aquele pequeno pedaço de papel da máquina, viu a parede atrás dela se abrir, dando acesso a uma ampla sala de espera. Suas paredes eram todas brancas, a pintura parecia recente, contudo não havia cheiro de tinta. Observou em volta e não via quadros, nem janelas, reparou que o chão também era branco. Embora o piso fosse de azulejo, muito bem encerado e brilhante, a aderência era boa. O teto seguia a cor de todo o cômodo, com a limpeza impecável. Não era possível ver lâmpadas (então de onde vinha toda aquela iluminação?). Não lembrava de como chegara até ali. Não havia porta de entrada, não havia porta de saída. Apenas quatro paredes instransponíveis e o pequeno “armário” de que saíra não existia mais. Viu um pequeno monitor à sua frente rodando números e escrito “agora atendendo as senhas C-38, D-19, M-11, I-158, R-35”.
    Olhando ao seu redor, reparou cerca de 40 cadeiras. Eram pequenas e verde florescente. Imaginou que alguma pessoa mais gorda não poderia sentar ali, deu uma risadinha e sentou. Olhou no painel novamente, parece que o atendimento do número 11 não acabara. Novamente, olhou para os lados e não viu ninguém. A senha mudou para 12. Preferiu esperar. Como não tinha relógio imaginou que se passara cerca de 40 minutos até aquela senha mudar para 13.
    (Que porra está aconteceu?)
    Uma hora depois seu número foi chamado. E na parede à sua frente surgiu um corredor. Seu piso era negro e pegajoso. Decidiu que era a única saída dali e seguiu seu caminho. Ao final do corredor havia uma abertura à esquerda. Fez menção de virar e a abertura se fechou.
    - Desculpe o equívoco. – disse uma voz que parecia ter vindo de um auto falante inexistente.
    - O que?
    -...
    Não houve respostas, mas agora havia uma abertura à sua direita. Ali incontáveis cubículos cinzas se espalhavam pelo horizonte. Um barulho ensurdecedor de “Tec, tec, tec” assombrava aquele lugar. Um painel à sua frente dizia “Por favor, siga a faixa iluminada no chão”. Então, surgiu uma faixa amarela brilhante à sua frente. Jeff a seguiu, achou mais sensato apenas seguir as ordens naquele lugar. Não conseguia espiar dentro de nenhum cubículo, eles não tinham entrada ou saída. Tentou pular para vê-los de cima, apenas para ver tetos cinzas e baixo. Uma pessoa não poderia ficar de pé ali. Andou por 15 minutos, até que a faixa virou a direita. 50 metros depois virou a esquerda e o cubículo à frente tinha uma entrada e não tinha teto.
    - Seja bem-vindo, Jeff. Por favor, sente-se. – disse seu interlocutor com um sorriso amigável.
    Naquele cubículo havia uma mesa onde repousava uma máquina de escrever negra, brilhante, de aparência antiga, contudo, sua conservação era primorosa. O papel dela começava em uma pequena fissura no piso, seguia para dentro da máquina e terminava em outra fissura ao lado da primeira. Não parecia ter fim. As paredes do cubículo cinza, eram adornadas com fotos de 12 garotas diferentes, só que se vestiam de uma maneira peculiar, antiga, como Jeff vira em filmes de época, antes da primeira guerra mundial, tinha certeza, poderiam ter sido cortesãs da época. Aquele homem escrevia freneticamente na máquina, não parava mesmo enquanto conversava com Jeff.
    - Quem é você? Que lugar é esse?
    - A sim, você é novo. É sua primeira vez aqui, imagino. Sou conhecido como Jack e vamos direto ao ponto. Jeff, você está morto.
    - Imaginei. Eu lembro de morrer e sei que não foi um sonho.
    - Que bom, você é mais inteligente do que os outros. Podemos prosseguir mais rápido.
    Jeff se concentrou naquela figura pálida à sua frente. Usava um bigode curioso, claramente pertencia a outra época. Seu sotaque parecia britânico, não reconhecia se natural ou de alguém que morou muito tempo por lá. O cabelo era bem arrumado e suas feições positivas acabavam por ai. Vestia um terno surrado e gravata, que não escondiam sua magreza, era um sujeito claramente subnutrido (se estamos mortos, por que ele é assim?), sua postura torta, quase como um gancho. E o que viu de mais tenebroso foram aqueles longos dedos tortos, de uma cor negra intensa como se necrosados, sangrando perenemente na máquina de escrever.
    - Eu digito nessa máquina há mais de 100 anos. Por isso meus dedos ficaram assim. E eles doem, cada vez que movimento eles a dor é intensa e incessante.
    - Desculpe, eu não queria encarar.
    - Não se preocupe, eu faria a mesma coisa se visse essas coisas nojentas pela primeira vez. – ele não conseguiu segurar uma risada – eu apertaria sua mão, mas como pode ver, elas estão bem ocupadas e não tenho permissão para tirá-las daqui.
    - Permissão de quem?
    - Eu não sei. Apenas não consigo parar de digitar, imagino que tenha algo como permissão aqui.
    - Mas você não parece sentir dor.
    - Bom, antes de explicar isso, acho que preciso responder sua outra pergunta. Onde estamos. Este lugar, para mim, é o inferno. Quando morri, vim parar aqui onde fui desprovido de todo livre arbítrio. O que me mandam fazer eu faço, mandaram eu nunca expressar minha dor aos outros, então sigo a ordem, ou gritaria sem parar, acho que todos aqui gritariam, ai seria o inferno de todos, não apenas nosso. – ele riu novamente, agora de uma forma um tanto maníaca - Os sentimentos que não tinha em vida, como empatia, voltaram de forma acentuada. Vê essas garotas na parede? Eu matei todas elas e há mais de 100 anos. Observo essas fotos na minha frente e choro constantemente. Lembro de cada instante e de tudo que fiz com elas. Pobres garotas, não mereciam, não importa a profissão delas ou o que elas fazia da vida. Mary foi a primeira, ainda sinto a vida dela se esvaindo por minhas mãos e todo o resto que fiz depois, para meu deleite. Eu até ria enquanto fazia, tinha esse vazio em mim, sabe? E nunca fui pego por esses crimes.
    - Entendo – responde Jeff com uma expressão se assemelhando ao pavor.
     - O meu arrependimento é profundo e sincero, também não consigo mentir aqui, fui ordenado a nunca mentir, então só posso obedecer. Sei que pedir desculpas não vai me livrar deste inferno, sei que sofrerei por toda a eternidade. Imagine, usar essa máquina de escrever pesada, com teclas duras que não funcionam direito, atendendo pessoas que estragaram suas vidas de alguma forma e escrevendo suas histórias para sempre, sem descanso algum. Eu também sinto fome e sede o tempo inteiro, mas algo me faz atender todos de bom humor, foi outra ordem que recebi. De tempos em tempos trazem comida, uma vez por mês eu acho, a noção de tempo é confusa aqui. Jogam a comida no chão como se fossemos animais enjaulados ou algo do tipo. Não consigo me controlar e ataco aquele prato. Como tudo rápido demais, meu corpo não consegue processar a quantidade de comida tão rápido, então vomito logo em seguida. O pior é que ainda tenho essa fome incontrolável, então como o vômito do chão. O processo se repete uma segunda vez. Então, mandam eu ficar parado contra a parede e obedeço, ai eles limpam a sujeira. Sabe, eu sei o que fiz e sei que durante toda minha vida não me arrependi e sai impune. Não posso reclamar de minha punição agora, acho que ainda pegaram leve comigo. Nada de fogo e tridente aqui – diz Jack c com um riso histérico entre lágrimas.
    - Quer dizer que eu vim parar no inferno? Minha vida não foi tão ruim assim, sempre tentei fazer o bem aos outros.
    - E aquelas formigas que matou? Aquela barata que pisou para ajudar Barbara, acha que elas não contam? Aquele alface que comeu, afinal, plantas são seres vivos também. Quanto churrascos você já não foi?
    - Meu Deus! Mas todo mundo faz isso, eu nunca parei para pensar sobre esses insetos....
    - Calma, Jeff, estou brincando. Não estou nem ai para esses insetos ou o que você come. E acho que o pessoal lá de cima, ou de onde quer que façam as regras, também não ligam.
    Jeff riu de maneira nervosa. Não se sentia confortável ali e não queria ficar tão próximo de uma assassino em série.
    - Não, Jeff. Como lhe disse, é o MEU inferno, não o seu. Para você é apenas um local de instrução. Pense na sala que entrou quando saiu do quarto escuro. Aquela sala estava cheia, você não vê as almas, nós vemos. Ela está cheia. Na sua cadeira, por exemplo, haviam 5 pessoas sentadas. É uma cena curiosa, talvez um dia veja, se morrer e lhe for escolhido esse inferno. Acho que existem outros, não tenho muitas informações, ninguém conversa comigo, só as almas que atendo, os outros só dão ordens que não posso discutir, apenas acatar. Muitos também reencarnam, deve ser bonito ter uma vida nova sem se lembrar de nada. Eu só lido com esses dois tipos, os que reencarnam e os que precisam fazer uma escolha. Você, e lamento dizer isso, é do tipo que fará uma escolha. Mesmo assim eu queria muito o que você vai ter. Uma segunda chance. Digamos que é um teste. Faça direito, só terá uma chance.
    - Então qual a instrução? O que eu devo fazer? Qual a escolha que devo tomar?
    - Eu não sei. Isso só você pode saber. Algo causou a sua morte e você tem que mudar isso. Voltará para o seu dia, assim que acordar. Só que não se lembrará de nada do que aconteceu aqui, a não, isso é proibido, completamente proibido, ninguém pode se lembrar daqui. Se um dia voltar para o cubículo de Jack lembrará, antes não, você foi indicado ao Jack, Jack sempre te atendera...
    - Jack, você está divagando.
    - Desculpe, às vezes isso acontece comigo. – ele diz chacoalhando a cabeça - Tente digitar em uma máquina de escrever vendo fotos de garotas mortas por 100 anos e veja se não solta alguns parafusos também! – ele dá uma gargalhada histérica.
    Jeff ficou com medo de interrompê-lo. Não sabia o que poderia acontecer, então esperou a risada de seu novo colega medonho acabar.
    - Onde eu estava? A sim, você não lembrará de nada. Mas no seu íntimo terá um pressentimento incontrolável, ao qual não poderá negar. Isso vai acontecer no momento em que poderá mudar a sua história... para sempre, Jeff. Vai mudar para sempre e vai salvar a sua vida! Isso, salvará sua vida! A vida que você tinha será salva! E você só terá uma chance nova. Se cometer um erro voltará para cá mais rápido do que a primeira transa de um adolescente e não acho que irá embora. Se acertar, poderá viver uma vida longa, eu acho. Não tenho muita certeza se as regras são assim, mas imagino que esteja certo. É, talvez esteja certo. Tem que estar certo. Acho que é isso mesmo. Sim, é isso, essas são as regras. Só que posso ter errado alguma parte.
    - E você já viu muitas pessoas voltando?
    - A maioria volta, pode demorar, mas voltam. A maioria toma a decisão errada. Alguns tomam a decisão certa. Já vi dois que chegaram a reencarnar como prêmio. Foi divertido vê-los após a morte da reencarnação, eles lembram de tudo, já me chamam pelo nome. Eu gostaria de reencarnar e tentar de novo. Talvez me livrasse desse inferno. Será que um dia terei essa chance? Será que nesse inferno eu posso me redimir de alguma forma? Seria interessante, eu iria adorar, não iria matar mais. Não senhor, não, Jack não mataria mais uma formiga se tivesse uma segunda chan...
    - Pare de divagar e apenas instrua, número 587.476 – disse o auto falante inexistente
    - Verdade, eu tenho um número também. Às vezes esqueço isso. É tudo muito organizado por aqui.
    - Jack, foco! Por favor. O que eu preciso fazer agora?
    - A sim, claro. Você não lembrará de nada. Eu já disse isso não? Então tudo o que precisa fazer agora, é fechar os olhos... e acordar.
    4
    Jeff acordou com uma sensação estranha. Levantou da cama meio zonzo e cambaleou até o banheiro para escovar os dentes, já eram 11h da manhã. Quando saiu dali seu telefone tocou. Era Barbara.
    - Oi amor... – ele teve a sensação estranha de novo - poderíamos ficar aqui em casa hoje? Não estou me sentindo muito bem, acho melhor não dirigir hoje.
    - Tudo bem, estou indo pra ai daqui a pouco, amor. Meus pais não estão hoje, só que chegam da praia de madrugada. Sabe que preciso voltar para minha casa antes deles voltarem, não?
    - Claro. Adoro a Suzy e o Neil, mas acho que poderiam ficar sem gasolina ou algo do tipo e dizer que vão ficar mais um dia na praia, eles precisam relaxar mais – Diz ele rindo.
    - Não seja ruim, amor, eles vão trabalhar amanhã. Praticamente direto da praia. Acho que voltam de madrugada para nos dar tempo, mesmo dizendo que não.
    - Tudo bem. Vou acabar as coisas aqui, deixar tudo arrumadinho pois sei que prefere minha casa assim. Beijos meu amor.
    - Beijos, paixão.
    Jeff se esforçou para arrumar a casa. Depois do primeiro prato lavado teve preguiça do segundo. Lutou bravamente contra isso e em 20 minutos toda a louça brilhava. Recolheu a roupa suja do chão e só não a lavou porque não sabia como usar a máquina de lavar. Procurou um pouco na internet, só que achou melhor arrumar a cama (a Barbara pode me ajudar com isso depois, espero). Ele levou 1h30 para arrumar toda a casa e foi tomar banho. Sua namorada tinha a chave do apartamento e foi entrando. Viu Jeff saindo do banheiro de toalha enrolada na cintura.
    - Não achei que estaria vestindo tudo isso quando eu chegasse. – ela diz com olhar libidinoso.
    - Eu já falei que te amo hoje? – ele diz deixando a toalha cair.
    - Não sei, mas pode repetir.
    - Eu te amo Barbara, você é o melhor ser humano que já conheci neste mundo.
    - Também te amo. O que deu no seu humor hoje? Está tão romântico.
    - Não sei. Tenho a sensação de fazer a coisa certa, sabe? Estou feliz.
    - Então fique feliz, dentro de mim – disse ela empurrando-o contra a parede.
    Transaram ali mesmo, depois foram para o quarto e depois na pia, que não tinha nenhuma louça suja, enquanto preparavam o almoço tardio. Passaram o resto do dia assistindo televisão, conversando e transaram mais uma vez na sala.
    5
    Já era madrugada quando lembraram que Barbara precisava ir para casa.
    - Já é tarde amor, melhor ir embora antes que seus pais cheguem.
    - Queria ficar mais.
    - Não podemos deixá-los bravos, já faz algum tempo que eles não gostam muito de mim. Vou melhorar, você vai ver, vou conseguir um emprego decente. Serei tudo aquilo que você merece.
    - Você já é, amor.
    Eles sorriram e se beijaram. Fizeram amor uma última vez no chuveiro, Jeff imaginou que se sentira tão bem apenas uma outra vez, mas talvez em outra vida. Barbara pegou seu carro e foi embora. Não tinham pressa, ela saiu de lá às 3h da manhã e seus pais chegariam em casa dali uma hora ainda.
    Jeff sentiu-se pleno por ter arrumado a casa e pela mulher maravilhosa que tinha em sua vida. Decidiu que iria se exercitar regularmente, buscar um emprego de verdade. Não começaria a ser mais esforçado amanhã. Começaria hoje, agora.
    Antes de dormir decidiu ouvir uma música para relaxar, a rádio passava “Moves like Jagger”, era uma boa música, bem divertida, mas lhe trouxe algum pesar, não entendeu o porquê, também não entendeu porque não conseguia mudar de música. Mesmo assim, foi dormir feliz.
    Por volta das 4h30 da manhã recebeu uma ligação que o acordou. Era Suzy.
    - Jeff. Bateram no carro da Barbara. Ela estava na Heitor Penteado, na altura do 1.700. Ela voltava da sua casa. Não era? Parece que uma Fiorino vinha no sentido contrário, o pneu estourou e o rapaz que dirigia em alta velocidade perdeu o controle. A Barbara não sobreviveu. – sua voz falhou nesse final e foi possível ouvi-la chorar.
    O telefone desligou. Jeff ficou paralisado, sentado em sua cama quente e confortável, com o cobertor em cima de si. Imaginou aqueles últimos momentos que passaram juntos, todo o amor que sentiam. Como ela merecia mais do que aquilo, muito mais. Ela não podia morrer daquele jeito. Seu estado era de choque, até que finalmente balbuciou algumas palavras.
    - Deus, se pudesse fazer algo para mudar isso, eu faria....
    Colocou as mãos nos rosto e deitou chorando. Quando as retirou estava naquela sala de espera, vazia, sua senha era R-39.
    6
    - Jack, que porra!? Ela morreu, que merda que aconteceu?
    - Como acho incrível já me conhecerem na segunda visita – disse Jack com um sorriso sincero no rosto - A sim, eu esqueci de te avisar esse pequeno detalhe. Onde uma vida é recuperada, outra é perdida, nas mesmas condições. Eu tive uma alma de um homem que morreu com o pênis arrancado por um cachorro. Nunca descobri se a contraparte dele era uma mulher e como ela morreu, seria curioso. Mas ele nunca mais voltou aqui, então acho que ainda está vivo. Não sei quanto anos fazem que isso aconteceu.
    - Mas que merda de escolha é essa? Ou eu morro ou ela?
    - Agora você sabe as duas opções. Cabe a você escolher, sem se lembrar. Deve tomar a decisão agora e irá voltar uma última vez. Você pediu por isso, chorando em sua cama, Jeff. Agora decida. Deveria ter falado “por favor, Jack”, não ajudaria em nada, só que seria engraçado por aqui. Enfim, ou sua vida acaba, ou a dela. De uma forma ou de outra um dos dois irá morrer. A escolha é sua. De novo não irá se lembrar, mas seu pressentimento lhe guiará para a resposta que escolher.
    7
    - Oi amor, estou indo para sua casa sim...
  • À espreita do insólito

    Dentre as diversas antologias das quais participei, a Insólito do selo Cavalo café foi uma das publicações mais aguardadas. A chamada do edital para a coletânea de contos dava prioridade a histórias ambientadas no Brasil, e que se servissem da temática da nossa cultura e folclore para a escrita dos contos. O conceito de insólito abrangia diversos gêneros narrativos da ficção especulativa.
              O livro foi publicado em e-book, e foi disponibilizado para ser baixado gratuitamente no site da Editora Porto de Lenha, de Gramado - RS. Mas como sempre aguardei a versão impressa para ler. Nessa antologia eu publiquei um conto intitulado Angelis Gloria, que conta a história de um nefilim (híbrido de humano e anjo) sendo assediado por demônios, que eu curti muito em escrever. O organizador foi o Maurício Coelho, contista e antologista de primeira qualidade, muito atencioso e profissional. O livro tem capa e ilustrações de Sophya Pinheiro, que mescla bem influências regionais e mangá.
              O Prefácio ficou a cargo de Flávio García, Doutor em Letras. Confesso que o texto não instiga a leitura, é técnico, acadêmico, hermético demais e até maçante para leitores casuais. O autor perde mais tempo fazendo estudo epistemológico e citando outros autores famosos do que tratando da coletânea que ele foi convidado a analisar. Pule e vá logo para o primeiro conto. Mas se você estiver estudando Teoria da Literatura, pode usar esse texto como referência bibliográfica sem medo, afinal, o “Esboço à moda de prefácio” é um rascunho de tese de doutora na área.
              São mais de quarenta contos, de autores das mais diversas idades e regiões. Homens e mulheres que expressaram os seus sentimentos, as suas ideais e suas memórias através da literatura. A coletânea varia muito em ritmo, qualidade dos textos e modos de narrativa. Alguns contos apresentaram bons temas, mas pecaram na abordagem ou na execução. Alguns autores já são meus conhecidos, outros ainda estão amadurecendo a sua escrita. É um livro para explorar os novos autores, esse é o seu maior atrativo. Abaixo eu citarei os três contos que eu mais gostei no livro.
              O primeiro conto que eu mais gostei de ler foi Caixa de Pandora, do autor Gabriel Mascarenhas. Se aproveitando do contexto atual, o escritor explora temas como as bombas midiáticas, as fake news e a alienação para escrever uma fábula contemporânea. Assustadora em seu todo. Nesse texto, uma jovem jornalista descobre da pior forma como a população brasileira é dominada através de recursos que deixarão o leitor assustado.
              Evolução é escrito pelo J. F. Martignori. O conto é ambientado na Ditadura Civil-Militar (1964-1985), mais especificamente em 1966. A trama é sombria e nos remete a incertezas quanto ao relato que estamos lendo. Carlos e Pedro trabalham fazendo cargas num caminhão, e antes de chegarem ao seu destino, são envolvidos em uma nuvem que os lançam em uma realidade surpreendente. Ótimo conto.
              O conto da Margarete Prado, intitulado No escuro da noite, de maneira assustadora, relata uma das nossas maiores mazelas. Kaloana Fernandes está voltando para casa às altas horas da noite. Totalmente vulnerável. Ela escuta uma voz interior que manda ela ir para o hotel. De quem seria essa voz? O que ela estaria alertando? Quem põe a vida de Kaloana em risco?
              Confesso que das obras que adquiri em que o Maurício Coelho organizou, essa é a de menor desempenho. Mas ainda assim guarda boas surpresas, algumas histórias são bem inspiradas. As ilustrações do miolo são muito bem-feitas e ambientam bem os textos. Só acho que os autores deveriam ter polido mais o texto na hora da revisão, ficou notável os erros de ortografia e gramática, além da escrita de alguns textos terem um ritmo inadequado para a narrativa proposta.
              O livro conta com mais de 260 págs. Possui duas orelhas com bibliografia e biografia do organizador. O miolo conta com minibiografia dos participantes da antologia. O papel do miolo é offwhite. É como disse anteriormente, é um livro para você explorar novos autores e se inebriar de contos fantásticos ambientados no Brasil.
              Para adquirir acesse aqui:
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  • A esquina e o fim

    [blitz]
    - Boa noite. Documentos do Senhor e do veículo, por favor.
    - Sim Senhor, aqui estão.
    - Da onde o Senhor está vindo e para onde vai?
    - Estou voltando do trabalho para casa.
    - O Senhor pode descer do veículo, por favor.
    - Claro, algum problema policial?
    - Estamos verificando. São só procedimentos de rotina. O Senhor está de posse de algo ilegal?
    - Não Senhor.
    - Então, por favor, retire tudo dos bolso e coloque em cima do capô.
    - O que está acontecendo aqui? Sou suspeito do que?
    - Não sabemos ainda Senhor, estamos averiguando, são só procedimentos de rotina. Coloque as mãos na cabeça e abra as pernas por favor?
    - Porque estou sendo revistado? Eu tenho direito de saber porque estou sendo revistado.
    - Atitude suspeita, Senhor.
    - E qual foi a minha atitude suspeita? Eu estava no limite da via, usava cinto de segurança, estava com as duas mãos ao volante, o que eu estava fazendo de suspeito?
    - Sua atitude era suspeita, Senhor. O que há no porta-malas do veículo?
    - Não sei, umas caixas, panos, estepe, coisas assim.
    - O Senhor não sabe o que carrega no porta-malas, Senhor? O Senhor pode abrir para mim, por favor?
    - Posso, o que o Senhor está procurando?
    - Ainda não sei, Senhor. O que há naquela maleta.
    - Somente alguns papéis.
    - O Senhor pode, por favor, abrir para mim ver?
    - Claro. Está vendo, papéis.
    - Sobre o que são esses papéis?
    - Planilhas, contas. Sou comerciante, são algumas coisas da empresa.
    - Examine estes documentos Segundo Sargento. Agora nós podemos ver o interior do veículo?
    - Como assim examine estes documentos? O Senhor não pode mexer nas minhas coisas assim.
    - Estou analisando os documentos que o Senhor me mostrou e que foram encontrados numa pasta no porta-malas do seu veículo. Aconselho que o Senhor se acalme e me mostre o interior do veículo.
    - Como assim se acalmar? O que está acontecendo aqui?
    - Se o Senhor tem algo à esconder aconselho que me conte agora, pois nós vamos achar.
    - Do que o Senhor está falando? Quer saber, a atitude do Senhor é que é suspeita. Que procedimentos de rotina são esses? Mas eu não tenho nada para esconder. O que o Senhor quer ver?
    - Abra o veículo, por favor?
    - Estes CDs no porta trecos são do Senhor?
    - É isso, sou culpado por comprar produtos piratas? Pode me prender.
    - Acalme-se Senhor.
    - As MP3 do pen drive também são piratas. Eu me entrego.
    - Irei confiscar esses itens. O Senhor pode abrir o porta-luvas, por favor.
    - (click)
    - O que são esses papéis?
    - A nota fiscal do carro, umas contas, não sei.
    - Posso ver essa nota fiscal?
    - Por que? Eu posso perguntar por que?
    - A sua atitude suspeita, e irônica, diz, segundo o manual, que o Senhor está tentando ocultar algum crime. Já sabemos que o Senhor não respeita as leis de direitos autorais, agora estamos procurando quais outras lei o Senhor não respeita.
    - Eu não tive nenhuma atitude suspeita não. Isso é abuso de autoridade. O Senhor já me revistou, revistou meu carro, e não achou nenhuma evidência de nada suspeito. O Senhor está procurando pelo em ovo, isso que o Senhor está fazendo. Eu tenho meus direitos, e não tenho que te entregar a nota fiscal do meu carro.
    - Por favor Senhor, me respeite. Estou fazendo meu trabalho, que é combater o crime. Sua atitude é sim suspeita, e eu posso prendê-lo por desacato.
    - Olha, eu sou um cidadão de bem. Eu respeito a polícia, acho que o trabalho da polícia é desvalorizado. Mas eu não sou bandido.
    - Então me mostre isso, Senhor. Me entregue esta nota fiscal e me deixe fazer meu trabalho que a verdade aparecerá.
    - Tudo bem, desculpe. Estou um pouco nervoso, é a primeira vez que passo por isso.
    - A loja do Senhor deve estar indo muito bem, este carro é bem caro. Com o que o Senhor trabalha?
    - Acabou, me desculpe. O Senhor é da Receita Federal? Eu não fiz nada de errado, nem tive nenhuma atitude suspeita. Ou o Senhor me leva preso e me deixa chamar meu advogado, ou me deixa ir embora.
    [delegacia]
    - Eu só falo quando o meu advogado chegar.
    - O Senhor que sabe, mas pode estar acabando com as suas chances de um acordo.
    - Um acordo sobre o que? Sou acusado do que? O Senhor não tem nada!
    - Bom, já sabemos que o Senhor não respeita as leis de direito autoral. Podemos provar isso. Também sabemos pelos papéis da sua pasta, e a nota fiscal do seu veículo, que a sua renda é incompatível com seu estilo de vida.
    - Não falo mais nada enquanto o meu advogado não chegar.
    - Viu, isso é uma atitude de quem quer esconder alguma coisa. Nós já sabemos que o Senhor comete algum crime. A sua renda é incompatível. Não preciso de uma evidência, isso é uma prova.
    - Prova do que?
    - De que o Senhor cometeu algum crime para comprar um carro que uma pessoa na sua posição não poderia comprar.
    - Isso é uma suposição, até o Senhor provar o contrário eu sou inocente. Eu comprei o carro com um dinheiro que eu tinha guardado há muito tempo. Trabalho desde os 12 anos e agora não posso ter um carro?
    - Quanto tempo?
    - Desde os 12 anos.
    - Não tem nada haver com sonegação de impostos? Venda sem nota fiscal? Compra de produtos sem origem declarada? Essas coisas.
    - Eu não sei do que o Senhor está falando. Se o Senhor não sabe do que me acusar, como eu vou me defender?
    - O Senhor tem filhos?
    - Tenho, três.
    - Eles estudam em escolas particulares?
    - Eu sei o que o Senhor está querendo dizer. Já disse que não respondo nada até meu advogado chegar.
    - O Senhor já disse isso três vezes, eu só estou querendo ajudar o Senhor a dizer a verdade.
    [conversa com o advogado]
    - Como assim eles podem me manter preso por até três meses?
    - Além de você ter violado as leis de direito autoral, existe um indício de que você cometeu algum crime para ter dinheiro e comprar o carro, por enquanto é só isso. Sei que eles solicitaram junto à Receita Federal sua declaração de imposto de renda, da sua empresa e da sua esposa. Se há algo de errado eu preciso saber agora.
    - Como assim? Eles não podem fazer isso. Era só uma blitz, o documento está em dia, minha carta também. Eu só quero ir para casa.
  • A Extinção dos Gatos

    Três gatos morreram e fizeram a tristeza de uma família se juntar à tristeza de milhões de pessoas no mundo que passavam pelo mesmo. Os gatos estavam morrendo por uma doença misteriosa, transmitida pelo ar e que aparentemente os matava sem muita dor, os deixando tontos e cambaleantes por alguns poucos minutos, terminando com um súbito e fatal desmaio. Mas a família ainda sentia muita dor mesmo após semanas em que os três se foram.
    Obviamente os cientistas estavam interessados em achar alguma cura ou vacina já que isso também significava milhões em lucros, mas muitos não demonstravam muito otimismo com a velocidade que a doença se espalhava e o tempo necessário para as pesquisas. Enquanto isso, há cada vez mais relatos de coisas sobrenaturais acontecendo. Aqueles mais ligados ao mundo sobrenatural afirmam que os gatos são guardiões do submundo e por isso esses eventos estão acontecendo. Já os mais céticos falam que tudo isso não passa de um monte de desocupados que espalham desinformação para sustentar uma teoria da conspiração.
    Nicolas, que acabou de perder os seus três gatos, era um dos céticos, enquanto os seus pais eram crentes no sobrenatural. Eles moravam há mais de duas gerações em uma fazenda a uns dez quilômetros de estrada de chão da cidade mais próxima. Quando criança, Nicolas brincava nas árvores que seus avós plantaram em suas infâncias e desde cedo aprendeu os trabalhos na roça, além do respeito aos animais. Cada bicho tinha uma função, seja prática ou espiritual, e por isso tinham que ter a constante presença de todos eles. Por mais difícil que fosse, os gatos tinham que ser substituídos assim que partiram deste plano, então os pais de Nicolas fizeram uma viagem até a cidade para adotar uns gatos de sua tia, castrá-los e comprar alguns suprimentos pra casa. Pela primeira vez, Nicolas ficaria alguns dias totalmente sozinho e seria o responsável por manter toda a plantação e animais vivos. Mas é claro que, depois de acompanhar o seu pai todos os dias por mais de 8 anos, não seria uma tarefa muito difícil. A rotina já estava bem definida há anos e só mudava quando um novo equipamento chegava, então sabia que tinha que acordar bem cedo e ficar alternando entre cuidar dos animais e da plantação. Era algo bem cansativo e até chato em alguns pontos, mas necessário se quisesse sobreviver.
    O lado bom é que quando chegava a noite estava tão cansado que só queria esquentar a janta, que não passava das sobras do almoço, e deitar. O cansaço era tanto que sempre se recusava a acender a luz da cozinha para lavar o seu prato, usando a pouca claridade da sala em suas costas como guia. Assim que levantou a cabeça para abrir a torneira, viu uma sombra humana se formar na parede e se aproximar de suas costas até que não houvesse mais luz e a parede estivesse completamente preta. A sua respiração parou momentaneamente, a barriga se contraiu e os olhos vidrados se esforçaram ao máximo para piscar. Assim que piscou, tudo estava como antes e a luz da sala continuava a iluminar fracamente a cozinha. Nesse instante, soltou de uma vez só todo ar que tinha segurado e respirou fundo algumas dezenas de vezes para se acalmar enquanto a água escorria na sua frente. O seu lado racional tentava convencer o emocional de que tudo não passava da obra do cansaço, afinal não estava acostumado a fazer todo o trabalho sozinho. E, mesmo que não fosse cansaço, não tinha outra alternativa a não ser tentar descansar já que o próximo dia estava perto de começar.
    Como sabia que não ia conseguir simplesmente tirar isso da cabeça e dormir, decidiu deitar no sofá, colocar os fones de ouvido e esperar o sono o pegar desprevenido. É estranho como não se percebe a transição entre estar acordado e dormindo. Sem nem lembrar em qual parte da música dormiu ou até mesmo qual era a música, Nicolas foi para o mundo dos sonhos e se distanciou completamente de sua realidade. Pelo menos até abrir os olhos e perceber que não conseguia mexer nem sequer um dedo. O medo que sentia era perceptível em sua breve respiração e que foi ficando mais curta ao perceber pela sua visão periférica que uma sombra vinha se aproximando. Quando ficou de frente pra ele, percebeu pelo corpo que era um homem alto, mas bem franzino e com uma aparência de que tinha sofrido muito. O corpo todo do homem parecia envolto de uma sombra a não ser pelo chapéu que uma vez já tinha sido bege, mas agora estava preto de tão sujo. Aquele homem sombra ficou encarando Nicolas por alguns segundos, parecendo saborear o medo que ele sentia e que transparecia pelo seu suor, lágrimas e respiração. Nicolas tentava falar, gritar e implorar, mas não conseguia abrir seus lábios. Enquanto batalhava contra o seu corpo, o homem sombra avançou pra cima dele e começou a sufocá-lo com uma força incompatível com o corpo que apresentava. A respiração curta de Nicolas tinha ficado inexistente. No desespero da busca pelo ar, piscou o olho, caiu no chão e começou a tossir. Por alguns minutos ficou olhando de relance para todos os lados tentando achar o homem sombra enquanto revezava entre respirar e tossir. O medo ainda estava em seus olhos e só queria fugir, mas os seus pais haviam levado o único carro que tinha na propriedade. Então, ignorando o cansaço, decidiu andar até a propriedade vizinha a uns três quilômetros e pedir o carro deles emprestado.
    Ele queria e tentava se convencer de que tudo tinha uma explicação. Já tinha tido uma vez paralisia do sono e talvez fosse só isso, embora ela não explicasse a marca vermelha de dedos em seu pescoço. Mas mesmo que de algum modo conseguisse uma explicação racional para tudo isso, não iria adiantar. O medo que sentia era muito grande e, por mais que quisesse, não poderia ignorar isso. Então pegou uma lanterna, a identidade e um pouco de dinheiro, trancou a porta e fugiu em plena escuridão.
    A lanterna ia da direita para esquerda e da esquerda para a direita em uma meia lua interminável, indo ocasionalmente para trás para ver se não havia nada lá. A vista das estrelas já começava a acalmá-lo nesse longo caminho, o que era bom. Já havia pensado na desculpa que usaria com os seus vizinhos: uma pessoa invadiu a casa e o agrediu, mas conseguiu fazer com que ele sumisse. Como tinha medo que ele voltasse sozinho ou acompanhado, queria passar a noite na cidade. Não era a verdade, mas também não era uma mentira. Com tudo isso planejado, podia continuar admirando as estrelas e afastando a imagem do homem sombra de seus pensamentos.
    Tinha acabado de direcionar a lanterna para trás, visto que não tinha nada lá e voltado a mirá-la para a frente quando sentiu um enorme impacto em sua perna esquerda que o fez cair e soltar diversos xingamentos. A dor parecia sair de seu joelho e ir ardendo até a sua mente. Quando olhou para o chão, viu uma pedra do tamanho de um melão banhada em sangue. Tentou se levantar, mas a dor não permitia que o seu joelho sustentasse o seu corpo.
    Devia faltar mais uns quinhentos metros até a casa vizinha, então, como não tinha outra escolha, decidiu começar a se arrastar. Logo depois dos primeiros centímetros percorridos, sentiu uma forte puxada em sua perna machucada que levou a uma nova irradiação de dor. Embora tentasse, não conseguia gritar e, por mais que se esforçasse, só soltava uns grunhidos baixos. Quando começava a se acostumar com a dor, olhou para a frente e viu o chapéu na sombra de um homem. Não conseguiu encarar por muito tempo, pois, cada vez que a dor ficava um pouco mais tolerável, ele puxava com força para dar um tranco na perna e irradiar mais dor para o corpo. Sabia que estava sendo levado de volta para a sua casa. Tentava piscar e se debater para escapar, mas o homem sombra era muito forte.
    A família de Nicolas chegou dois dias depois dessa noite com seis filhotes de gatos, bastante comida e fertilizante. A mancha de sangue na estrada já se confundia com o vermelho do barro e nem foi percebido pelos seus pais. E mesmo que percebessem, provavelmente acreditariam que algum animal tinha caçado e arrastado a carcaça de sua presa. Não estariam certos, mas também não estariam errados. Chegando em sua casa, viram o corpo de Nicolas empalado com o suporte de uma antena e deixado com os braços abertos como se fosse um espantalho bem na escada que dava acesso a porta principal da casa.
    A polícia investigou o caso que teve uma repercussão nacional, mas nunca chegaram a algum suspeito. Segundo os legistas, Nicolas foi empalado vivo, morrendo lentamente de hemorragia enquanto a antena ia atravessando os seus órgãos até chegar ao seu estômago, o fazendo engasgar lentamente com o seu próprio sangue. Mesmo demorando horas para morrer, pela distância entre as propriedades ninguém deve ter conseguido ouvir os seus gritos de dor. Já os seus pais nunca souberam o que o atormentou já que se mudaram antes dos seus novos gatos morrerem pela doença.
  • A fé & a fé 2 sinopses

    A fé e A fé 2

    A fé
    A triste história de um vampiro

         Vampiros ultimamente estão acompanhados ou sendo gays. Esta é uma história que trás este tema. Um caçador que odeia vampiros. O que será dele ao se tornar um? Acordar como num pesadelo, onde tem que descobrir o que realmente aconteceu que fez seu mundo virar de cabeça para baixo.
         Perder tudo? Encontrar um caminho a seguir!
         Cachie é um caçador, eficiente, prestativo, mas num certo dia acorda como um daqueles ao qual tanto se acostumou a matar. Ódio será que sua percepção, seus sentimentos para com vampiros irá mudar ao se tornar um? Como tudo pode acontecer assim tão rápido?
         Até que ponto uma amizade pode chegar a se tornar algo mais? Mais que bons amigos ou amigas?
         Em um mundo onde o submundo, as magias se tornaram realidade. Vampiros, lobisomens, fadas tudo veio a se misturar. Humanos e vampiros juntos e separados.
         Onde a fé dos que lhe rodeiam pode chegar a influenciar sua vida?
         Porque ter fé? A fé move montanhas, já diziam alguns.
         Cachie acorda no escuro fechado, começa a tentar sair desta escuridão e sai, percebendo ao ver que está em um tumulo, o seu certamente e que não dormiu, não esteve morto por muito tempo, foram horas. Agora ele tem que se proteger do sol, este queima sua pele. Conclui que se tornou um vampiro, se pergunta como e não lhe vem na memoria. Então se esconde até escurecer, só então sai atrás de resposta. Revê sua namorada e sua mãe ao ir para casa. Elas dizem que o amigo Carlos tem que estar presente para a verdade ser contada então quando todos que devem estar presentes estiverem ele saberá o que aconteceu.
         É a vida de um vampiro que ele tem para viver agora e terá que aprender a ser assim verdadeiramente o que era para ele um monstro.  


    A fé 2
    O fim para história de um vampiro

         Cachie agora não luta contra monstros e sim para ter o amor de sua filha e neta. Uma luta constante, onde elas o receberiam?
         Em tempos de lobisomens em forma de lobo, não como monstros em mistura de homem e lobo. A fé 2, trás este tema. As feras se complementam, e o que era lobisomem monstro no primeiro livro se torna lobisomem em forma de lobo neste segundo.
         Cachie que passou a viver na escuridão encontrará luz em sua família? Carlais o perdoou? Que mais questões se podem levantar?
         Com a neta sendo sequestrada Cachie sai das sombras e se revela trazendo escuridão e desgraça.
         -O que ouve?
         A neta de Carlais foi sequestrada!
         -Ela foi levada.
         -Ninguém sabe pra onde nem por quem.
         -Ou por que.
         -Minha neta, o que está acontecendo, não pode ser verdade. Deixou escapar o minha neta e assim um dos homens falou assustado:
         -Você é o vô dela? O vampiro que a muito apavorou cidades? Cachie saiu preocupado tinha que encontrar uma maneira de salvar sua neta. Ele não percebeu, mas ficaram novos boatos, que diziam:
         -O vampiro está de volta!
         -Ele retornou a escuridão nos cercará!
         Uma família que Cachie acreditava não merecer agora precisa dele e ele será capaz de ser o que esperam que ele seja? Carlais aceitará a ajuda dele?
         Veja a aventura de Cachie, a triste história de um vampiro e o fim para história de um vampiro!

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  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 1 de 12

    Capítulo 1
         Cachie ficou nas sombras, escuridão por um tempo. Até que em uma de suas visitas escondidas ao que era sua família ouviu boatos, as conversas seguiam. Desesperado com a notícia ele se revelou perguntando em meio a um grupo:
         -O que ouve?
         A neta de Carlais foi sequestrada!
         -Ela foi levada.
         -Ninguém sabe pra onde nem por quem.
         -Ou por que.
         -Minha neta, o que está acontecendo, não pode ser verdade. Deixou escapar o minha neta e assim um dos homens falou assustado:
         -Você é o vô dela? O vampiro que a muito apavorou cidades? Cachie saiu preocupado tinha que encontrar uma maneira de salvar sua neta. Ele não percebeu, mas ficaram novos boatos, que diziam:
         -O vampiro está de volta!
         -Ele retornou a escuridão nos cercará!
         Em casa Carlais não podia ou não queria acreditar.
         -São falsos boatos, agora temos uma busca a fazer por uma garotinha. Amigos dela diziam.
         A filha preocupada não sabia o que fazer e Carlais sabia que com Cachie presente tudo daria certo, ele voltou na hora certa em que precisam do seu apoio e amor à filha que tanto o desejava.
         Carlais entrou no quarto da criança e cheirou as roupas dela. Saiu em busca de encontrá-la, ligaria para a filha dizendo onde estava.
         É noite, chegou à igreja da praça, que lhe trazia más lembranças, foi na praça desta igreja onde contou a seu amado que tinham o matado sem dizer adeus em palavras. Enviou uma mensagem para filha. Entrou, a porta por trás dela se fechou. Três homens que estavam cientes de que ela era uma mulher loba a cercaram.
         -Caindo em nossa armadilha assim tão fácil!?
         -Entregue minha neta, o que querem de nós? Ela daria o que fosse para ter a neta de volta.
         -Estamos com nosso objetivo e você com o seu, porem agora, aqui, morrerás pelo que amou!
         -Seus bandidos, onde ela está? Carlais chutou um dos acentos do lugar. É então que um dos homens mostra uma arma e diz:
         -Está carregada com balas de prata!
         -Como sabem sobre minha vida? Não responderam, um dos homens deu um golpe que a fez cair.
         -Sem lua cheia você não é de nada. Nosso recado é que sua família de antigos caçadores está chegando ao fim.
         -Só uma correção, nós ainda caçamos, mas tentamos ajudar aqueles que querem... E gritando disse: -Vocês não passam de humanos. Eles disseram que eram caçadores também e pediram meio que ordenando:
         -Deixe um recado para sua querida filha humana, diga que sobre um cadáver daqui desta igreja, que de fato será o seu, estará uma pista para que ela possa tentar encontrar a filha! Carlais pensou:
         -Então eles estão com algo que pode ajudar a encontrar minha querida neta, tenho que matá-los, mas como, minha filha já deve estar chegando, porque vim armada apenas com uma faca e sozinha? Eu e meus hábitos de ser imprudente. Ela mostrou a faca: -Vou matar você primeiro.
         Em gargalhadas um disse:
         -Solte esta arma delicadamente! E sorriu. Ela jogou no ombro do que estava armado e o chutou a retirando, os demais a rodearam. Um chutou a mão dela que soltou a faca. Foi então que o que caiu se ergueu dizendo:
         -Hora, hora... Disse um palavrão e apontou para Carlais:
         -É seu fim, morra! Carlais fecha os olhos.
         É então que um vulto avança erguendo a mão do homem armado o golpeia na barriga com algo, nisto toma a arma. Ele diz:
         -Estas balas também servem contra humanos, oh que coisa heim!? Carlais abre os olhos ao reconhecê-la. Ouve dois tiros e o homem que tinha caído vai atacá-lo por trás, porem recebe um novo golpe e cai morto.
         O vulto é de um homem, ele fica de costas para Carlais e é então que se vira após ouvir da agora velha senhora Carlais:
         -Você continua IDEM! Cachie olha nos olhos da senhora, sem saber que reação devia ter ou ela demostrar. Demoraram um instante como a pausar o tempo e relembrar das boas e más lembranças.
         A sena é de três humanos mortos, uma mulher loba e um vampiro. Ela se aproxima e dá uma tapa na cara dele.
    Fim do capítulo 1, a seguir o segundo capítulo.
  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 10 de 12

    Capítulo 10
         -Preparados para ultima batalha de suas vidas? Cachie fica na frente das garotas em seguida os dois se atacam, Claus com uma estaca o tempo todo tentando dar o fim desejado aquilo, e o que seria depois da vingança? Ninguém sabia. Já para o vampiro o que importava era a família que agora tinha, porem desistiria delas por Claus, se este decidisse não levar a vingança a família que também era dele, esta vingança de um para o outro apenas, mas parecia que Claus não entendia, ou estendia o ódio a todos.
         Cachie leva um soco e cai para trás, é então que a filha entra em ação com a espada voltada para o marido e dizendo:
         -Pare ou não respondo por mim. E segue as palavras: -Esqueça está vingança, vamos ser felizes! Ela ainda tenta, mas ouve:
         -Você não tem coragem! E uma risada feroz. Em seguida golpeia a mão de Cara fazendo esta se soltar e cravar em pé ao chão. Mais um golpe, este no rosto da esposa e ela cai ouvindo a filha gritar por ela.
         -Sua vingança é contra mim, eu deixarei você concluí-la se me prometer amá-las. Ouviu-se risos de apenas um.
         -Não preciso de nada de você nem delas e minha vingança está concluída. E gritou avançando a Cachie que se sentia culpado por aquele ódio, apenas abriu os braços ouvindo em berros: -Agora... Morra! E a estava se crava no peito de Cachie.
         -Não! Grita a filha e a neta chora.
         -Eu não desejava viver sem vocês como um vampiro vagando pela eternidade. Ele que já havia perdido duas pessoas que amava, Carlos e Carlais. Já o livro anuncia:
         -Que se abra o portal! Os relógios batiam zero hora e um brilho forte se fez e em seguida a aparição de um portal. Poeiras subiram com o vento que se fez descontrolado por um breve período.
         Com o portal aberto e Cachie deixando-se ser vencido, com uma estaca ao peito diz que a felicidade dele é ver a filha passar o portal com a neta, assim viverem felizes!
         -Você concluiu sua vingança, vá com elas para outra dimensão elas o perdoarão e sejam felizes! Insistia em vão o inimigo se curvou um pouco para pegar a espada:
         -Elas nunca serão felizes! Cachie enfraquecido se ajoelhou, não queria morrer antes de ver as garotas passarem pelo portal. Mas Claus estava no caminho. A neta se aproximou do pai e disse:
         -Pai pare com isso, não vê que seremos felizes.
         -Filha se afaste! Foi tarde demais.
         -Criança maldita, nunca te desejei! Laischi tenta se proteger levantando o braço e este é cortado pela espada afiada que passou em sua frente.
         Um braço cai ao chão.
         -Filha! A garota começa a gritar de dor. Tentando acalmá-la e dar um fim a batalha Cachie profere:
         -Leve sua mão lá tem tecnologia para colocá-la de volta. Claus se vira para ele e se aproxima dizendo:
         -Você já está morto e assistirá a morte de sua família, a quem você nunca quis! Quando se vira para filha Cachie com um golpe derruba a espada da mão de Claus, daí o segura:
         -Entrem no portal! Gritou desesperado. Então o inimigo o derruba e fica sobre ele:
         -Vou arrancar sua cabeça e sentir este prazer! Cachie apenas diz em seguida ao que ouviu:
         -É seu fim! Pois tinha visto a filha pegar a espada, ela diz:
         -Agora sei por que você tinha tanto medo de minha espada! Ela corta pelo pescoço a cabeça do marido. Como a exímia caçadora que era ela sabia que arrancando a cabeça os imortais morrem. Então dois morrem felizes com seus objetivos concluídos. Cara se apreça a entrar no portal para salvar a filha, pega o braço dela no chão e leva:
         -Pai, obrigado por tudo! Cachie fecha os olhos após ver a filha e a neta entrarem no portal para felicidade.
         O tempo de trevas no mundo, podia-se dizer que existiam pessoas felizes, mas tanto aquelas que não eram. A lua coroava o céu, as nuvens passavam, a noite sempre brilhava tanto quanto o dia para alguns. A lua indo dormir no escuro horizonte também é belo de se ver.
         Ergue-se uma mão, saindo de um tumulo no cemitério da cidade grande. São quase amanhecer e um corpo consegue sair do tumulo e areia que o cobria. Segundos atrás:
         -Está tudo escuro! Uma batida: - Estou sem folego! Outra batida: - Estou num lugar fechado! E começa a bater desesperadamente.
         -Não sei se eu tinha folego, mas o ar me veio depois que consegui erguer a mão. Um homem sai coberto de areia, cambaleando ele cai sentado.
         -Quando eu me ergui, minha memoria voltou, ou parte dela, eu fiquei tonto. Olha-se no espelho que tem pregado ao lado do possível seu nome na escritura do tumulo.
         -Não me vejo ainda sou vampiro! Olhou para o lado: - Reside aqui, Cachie, o ano estava apagado, este sou eu!
         O sol nasce Cachie olha para o horizonte e sente sua mão queimar: - Que droga, o sol está me queimando! Vou ao deposito ao lado, porem este deposito não existe. Sua pele queimando. Ele começa a gritar e o fogo a consumir seu corpo e ele se desintegra em brasas.
    Este é o fim do capítulo 10, siga lendo a seguir o capítulo 11.
  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 5 de 12

    Capítulo 5
         Agora com a nova forma da mulher lobo pode sendo lobo encontrar a neta através do cheiro que é mais apurado. Está é a ideia de Cachie, que segue em ação.
         Observam o lugar em que Carlais os leva como loba, não é um lugar muito grande, mas deve ter muitos cômodos, ou mais certo, cárceres.
         -Tem três guardas eu vou na frente como morcego para ver se algum deles é vampiro, pois se for irá me seguir.
         -Caso não nós entramos em ação! Cachie dá um gritinho de susto:
         -Você fala! E falou mais: -Eu não sabia que como mulher loba você falaria.
         -Não é assim na outra dimensão?
         -Na realidade não tive contato com lobisomens. Agora ele tinha que se acostumar a andar ao lado de um lobisomem.
         -Vai! Cara ordenou a seguirem o plano. Cachie vai e sobrevoa os três homens, descobre que um destes que achava ser três homens uma é mulher, nenhum o segue, um salta e o segura dizendo:
         -Opa, morcego ninguém entra. Cachie se tornou normal e mordeu o pescoço deste sugando-o o sangue.
         Rapidamente Carlais salta na cabeça do outro mordendo e gira torcendo o pescoço dele que cai. A mulher prepara para atirar com uma arma, porem antes que agisse Cara entra em ação a dando uma paulada na cabeça por trás e a vê desabar desacordada.
         Eles invadem o lugar. Dão de cara com um vampiro que os mostra os dentes em recepção, este diz:
         -Você é Cachie, tem alguém que espera por encontrá-lo há muitos anos.
         -O que vocês querem de nós?
         -Estou aqui apenas para não deixar que ninguém leve a menina! E completou: -Daqui vocês não passam, o que um vampiro, uma simples humana e um cachorro podem fazer contra mim que sou o vampiro mais poderoso. Gabou-se e mostrou uma estava dizendo que estava preparado, Cara mostra também revidando aos atos do vampiro.
         -É perigoso pra você, vá e encontre nossa neta, nós duas daremos um jeito neste vampiro metido.
         Cachie não discutiu disse para que tivessem cuidado e correu para dentro ao corredor. O vampiro queria enfrentá-lo e ia atrás dele, porem Carlais o mordeu na perna o segurando ali, coisa que ele a fez soltar e dizer:
         -Se vocês preferem morrer primeiro, morrerão!
         -Não vamos perder tempo. Disse Cara e pegando seu revolver deu um tiro no vampiro o distraindo para a mãe o atacar numa outra distração que pretendia por fim enfiá-lo a estaca, mas não deu certo.
         Cachie para na frente de uma porta, pois escutou um barulho dentro do lugar, vê que está trancada, então chuta e chuta, até arrombar:
         -Vim salvá-la! E ver que era um rato, não tinha ninguém.
         Carlais é jogada contra parece, sente dor e vê que sua pata está machucada. Mais uma tentativa. Cara atira varias vezes contra o inimigo, então Carlais o ataca, ele tenta se defender dela é neste momento que Cara acerta a estaca no peito do vampiro que geme e cai no chão morto.
         Cachie vê um homem sentado de vigia na frente de um espelho grande de parede. Cachie faz barulho ao se aproximar, mas o homem olha pelo espelho e não vê ninguém. Despreocupado continua relaxado, o descuidado faz barulho mais uma vez, o despreocupado olha novamente para o espelho e nada é então que Cachie o agarra pelo pescoço num mata leão e o homem se debate, depois sem forças desmaia ou morre Cachie não soube ao certo. Observando ouve barulho vindo do chão e vê uma entrada pra possivelmente o porão. Ele se baixa para abrir, abrindo entra.
         A menina fica com medo ao ver ele se aproximar, porem diz:
         -Eu te conheço de algum lugar, você é celebridade?
         -Estou aqui para lhe salvar! Cachie estava alegre por em fim ter a encontrado, é então que uma mão o toca no ombro.
         Cachie olha e vê que é a filha e ao lado dela a mulher lobo, se sente aliviado por as vê-la bem:
         -Laischi! Pela primeira vez se ouve o nome da menina, fácil perceber que Cara a deu este nome como uma homenagem aos pais.
         -Filha! Elas se deixam num longo abraço.
         Não era hora para uma pausa familiar, Cara diz a filha:
         -Este é seu vovô!
         -Ele voltou, enfim! E saltou nos braços de Cachie. A emoção foi forte em olhar aqueles olhinhos chorosos e ao mesmo tempo contentes.
         -Como você está?
         -Eles me batiam para saber onde você estava e eu dizia que não sabia. Perceberam que era por causa dele que a haviam sequestrado.
         -Agora está tudo bem! A acalmaram e ela disse mais.
         -Escutei a voz de pai falando com os sequestradores. Ninguém entendeu, a mãe dela como todos ouvintes acham estranho, o que ele faria ali? Estaria negociando algo para salvar a filha? Seria ele? Talvez ela tivesse desejando ver o pai e acabou pensando tal coisa, Cara tentou explicar dizendo isso, então a menina disse mais:
         -Pai Bernar está aqui! Cachie achou estranho ela o chamar de pai. Bastou um olhar e explicaram:
         -É que o pai dela não dá a atenção que devia a ela, Bernar lhe é como um pai! Definitivo, Cachie tinha duvidado de uma pessoa boa.
         -Vamos atrás dele!
         Não andaram muito e se ouviu:
         -Que confusão é está que está acontecendo aí fora? Tem alguém aí? É Bernar com a mania de falar bastante que ele tem, ele viu o rosto de Carlais pela abertura na porta e sorriu ouvindo:
         -Viemos resgatá-los! Ele ficou contente em saber que Laischi estava à salva. Ninguém mais os viu, eles saíram com cuidado. Finalmente Cachie conheceu Bernar, não se falaram muito, mas estavam dividindo agora uma família e se deram bem, não ouve queixas nem de um nem doutro.
         Cachie ficou para trás:
         -Vou matar todos que estão e aparecerem por aqui! Pegou a bolsa de armas da filha.
         -E tentar buscar uma explicação, mandante ou culpado pelo sequestro. Especificou Carlais sabendo que não o convenceria de não ficar.
         Foi então que ele notou o machucado no braço dela:
         -Você se machucou!
         -Sim, por quê? Ela pergunta e ele se lembrou de dizer um detalhe e agora falou:
         -Esqueci-me de um detalhe, agora que es como um animal completo você pode morrer como um, apesar de seus ferimentos se recuperarem rápidos, não é mais apenas a bala de prata que pode te matar, estais vulnerável. Ela completou dizendo que o espera na casa da filha.
         Assim todos seguiram no caminho oposto ao de Cachie que enfrentaria todos para proteger sua família.
    Final do capítulo 5, segue o capítulo 6.
  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 6 de 12

    Capítulo 6
         A noite quase se completava, estavam a conversar na casa de Cara, toda família, alguns amigos passaram para dar parabéns felizes pela volta da menina, mesmo apesar de ainda estar escuro e logo foram embora. Cara estava agarrada a filha e a sua espada, pois estava preocupada com o pai, já o marido não era identificável o que ele expressava nas feições, como de costumo não deu muita atenção a filha, apenas meio que as parabenizou. Bernar chama Carlais para ter uma conversa séria, quando ela vai ouvi-lo Cachie aparece ensanguentado lá fora, mas está bem. Todos saem para frente da casa.
         -E aí conseguiu descobrir alguma coisa?
         -Não só apareceram três homens e uma mulher, mas nenhum sabia de nada ou morreram negando. Carlais soltou o ar que prendia, mas não num alivio, e sim pelo que a resposta provocou, Bernar se aproximou dizendo:
         -É sobre isto que tenho a falar, é importante. Iniciou e foi interrompido por gritos:
         -Você é Cachie, o vampiro, finalmente. Era o marido de Cara, ninguém o entendeu e ele prosseguiu: -Esperei durante muitos anos por você maldito! E retirou uma estava duma mochila, partiu para cima de Cachie que revidou o empurrando. A estaca caiu da mão do agressor.
         -Como assim? Cachie e todos queriam saber e ouviram:
         -Não me reconhece? Você continua o mesmo desgraçado que matou meus pais há anos atrás. Ele deu uma pausa respirou e continuou: -Sou Claus, não se lembra de mim, matastes minha mãe e pai, para me proteger me fizeram ir a casa de meus avós.
         -Amor o que está dizendo? Cara que estava baixada com a filha se levantou indo em direção ao marido.
         -Amor? Não me chame disso, eu fiquei durante anos com você apenas numa espera incansável, incessável de vingança!
         -Pai. Foi a vez de a filha ouvir:
         -Você quando sua mãe a teve, foi um desgosto, manter uma família que eu odeio! Cachie se lembrou do que aconteceu no passado, estava atrás de sangue. Descobrindo assim que o marido da filha é o garotinho a quem ele matou os pais. Havia se casado com ela na esperança dele voltar.
         -Então você as usou para chegar a mim?! Era concreto e Claus deu um golpe no rosto de Cachie que deu uns passos para trás com o impacto:
         -Há quanto tempo eu desejava fazer isto! Com a mão direta no queixo Cachie não revidava:
         -Se vingue de mim, me mate, mas não diga que não as ama, não negue o amor delas por você e o que você sente.
         -Eu não sinto nada! Gritou o agora inimigo.
         -Por isso ele não dava amor à filha, a rejeitava. Pensou Cara consentindo.
         Claus puxou uma arma e atirou em Cachie. Bernar entrou na frente dizendo para que ele parasse com que estava fazendo e ouviu:
         -Seu velho idiota, eu te odeio, dava amor àqueles que não merecem! Disse dava porque pretendia fazer o que segue: Um som de tiro que penetrou lentamente nos ouvidos de todos. Ele atirou em Bernar.
         -Não! Gritou Cara e Carlais.
         -Pai Bernar! Foi a vez de Laischi. Cachie avançou e o empurrou puxando a arma de sua mão.
         -Está louco! Uma delas descreveu.
         -Sua vingança é comigo, eu não posso trazer seus pais de volta, não me defenderei, uma família é o que você agora tem, conclua sua vingança! Claus o agarrou num mata leão e disse:
         -Posso te segurar aqui até que o sol nasça! A manhã estava por vir. Cachie conseguiu se soltar e o empurrou outra vez, disse:
         -Não precisa que me segure se queres ficarei aqui e me renderei ao sol em nome de sua vingança. Eles ouviram:
         -Pai não, você tem a nós agora, não deixe este mal o vencer. Estas palavras foram para Cachie, mas serviria para os dois. Claus pegou a estava no chão e foi estancá-la no peito do vampiro que abriu os braços para o fim.
         -Não morra! Carlais gritou e Cara ouvindo um grito de desespero da filha disse: -Precisamos de você, mate-o!
         Cachie desviou da estaca e com a arma disse:
         -Desculpe minhas garotas. E atirou no peito de Claus que caiu morto.
         Cara correu para o pai:
         -Você fez o certo, ele não nos amava, não acredito que pude passar tantos anos ao lado deste homem! Cachie fechou os olhos num momento de reflexão.
         Carlais estava com Bernar nos braços, preocupada, sabendo que era o fim para aquele velho que de vez em quando era um chato, mas sempre amável.
         -Eu mandei uma equipe investigar o sequestro, está aqui o mandante, pegue. E entregou um Pendrive dizendo: -O mantive comigo mesmo naquele escuro da prisão que me mantinham, agora veja e não deixe que machuquem nossa criança outra vez!  E concluiu: -Eu te amo! Antes de apagar ouviu as mesmas palavras da boca dela e um ultimo beijo desta. Cara afastou a filha que chorava pelos pais.
         -Papai não me amava? Perguntava enquanto via na sala da casa Carlais ligava para irmã de Bernar dizendo que o havia encontrado e sem esconder que estava morto, a irmã chorou, Carlais ia concluindo quando acontece uma explosão na entrada da casa, esta começa a pegar fogo.
         O povo grita:
         -Fora vampiro maldito!
         -Família desgraçada!
         Cachie diz:
         -Não dá mais para vocês viverem aqui! Eu trouxe desgraça para suas vidas!
         -Não, você nos salvou! Cara tentava confortá-lo. Ao celular Carlais disse que a irmã de Bernar fosse à igreja, especificou a igreja para que ela fosse encontrar o corpo do irmão. E para os presentes ali disse: -Vamos sair daqui, vamos para igreja! Dá tempo de chegarmos lá antes que amanheça, basta corrermos! A igreja por um tempo tinha se tornado um segundo lar, apesar de ter tido ali o momento ruim da despedida de Cachie. Por causa do padre lobisomem ela se tornou amiga de muitos padres. O desta igreja os receberia de braços abertos.
         Então eles saíram escondidos e a casa se tornou labaredas.
         Ao chão Claus se mexe, em seguida abre os olhos.
    Terminou o capítulo 6, veja o capítulo 7.
  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 7 de 12

    Capítulo 7
         O dia se faz, Cachie se queimou por um mínimo momento até que chegaram ao destino, foi para o porão da igreja. Antes olhou os detalhes desta renovada que foi senário para a partida dele para outra dimensão. Mas Carlais havia escolhido tal lugar por ter internet e conhecer o padre que pode lhes emprestar o notebook para que ela use o Pendrive para em fim saber quem são os sequestradores.
         O sol quente, as nuvens passavam por este e sorriam ao fazer sombra em um ou outro lá em baixo. O padre não estava, só estava quem arruma a igreja, este disse que o padre voltaria pouco antes do anoitecer. O garoto que limpa tudo ali não tinha notebook, apenas celular e ela tinha o dela ao qual recebeu uma ligação. É a irmã de Bernar dizendo que estaria ali somente à noite e que ela rezasse pelo irmão, estava a avisar o restante dos familiares. Tendo que esperar até a noite era bom porque Cachie poderia sair da escuridão em que estava para a escuridão em que vive.
         Cachie tinha pego o livro que tinha deixado na casa da filha, já Carlais com a correria e a ligação para irmã do ex marido esqueceu que tinha que olhar os arquivos do Pendrive, esquecendo de pegar o notebook da filha, esta que estava dando toda atenção a filha que chorava muito, até que se acalmou.
         -Eu tenho fé que minhas meninas vão serem felizes quando tudo isto for resolvido. Dizia Carlais de si para consigo, saindo um momento da igreja, se perguntou se o vampiro ali teria fome e logo foi saber e soube que talvez tivesse na noite de amanhã.
         Carlais conversou com a filha e a neta:
         -Vocês perderam a quem acreditavam erroneamente que lhes amava e agora tem a quem esta cheio de amor para lhes dar. Lamentavam a morte de Claus e os sentimentos ruins que ele guardava no peito.
         -Eu o amava, o guardarei como algo bom, mesmo sendo como foi. E mudava de opinião: -Como aquele maldito pode fazer isto, fingir por tanto tempo e como não pude perceber que ele não me amava, não nos suportava. Praguejou-o e ouvia a mão dizer que tudo ficaria bem.
         O padre chegou, perguntou se estava tudo bem, Carlais acrescentou que encontrou a neta, o padre ficou feliz e Carlais ao pegar o notebook correu para o porão.
         -Vamos fazer isso! Dizia o livro para Cachie que desviou os olhos que viam o livro parar de brilhar, a pouco brilhava intensamente, para dar atenção para os que ali chegaram.
         -Vamos em fim saber quem são os envolvidos no sequestro. Disse Cara enquanto a mãe já ligava o notebook.
         O Pendrive não funcionou.
         -Como assim, tem que funcionar.
         -Tenta de novo. Foi o que Carlais fez após ouvir Cachie e Cara.
         Desta segunda vez funcionou e ela abriu a única pasta onde tinha dois documentos, o primeiro estava escrito que o principal envolvido no sequestro é Claus.
         -Aquele desgraçado! Cara e Cachie soltaram estas palavras de raiva juntos. O segundo arquivo foi aberto e neste constava um segundo envolvido, um homem de cabelos brancos que nenhum conhecia.
         -Temos que encontrar este homem para segurança de Laischi! Os mandantes estavam definidos. Mas para Cachie já não importava, pois ele tinha a ideia que segue:
         -Não importa mais, não dá mais para vocês viverem aqui, vou levá-las para a dimensão em que estive por muito tempo! Antes que questionassem sobre a magia ele acrescentou: -Antes não se podia levar familiares, mas esta regra foi quebrada já fazem 7 anos.
         Elas achavam que tinham que pensar, mas preocupadas disseram um positivo, foi então que Cachie falou um detalhe:
         -Só podem entrar 3 pessoas no portal, ou seja, eu fico! Estas palavras não soaram boas.
         -Não, nós daremos um jeito de vivermos aqui, vamos para o mais longe possível. Cara sabia que poderiam viver bem em algum lugar, porem para o pai este lugar era único, a outra dimensão.
         -Já está decidido!
         -Vô, você tem que ficar conosco! Laischi queria aquele vampiro que por muito tempo foi apenas uma história contada por sua vó.
         -Entendam o que quero é a felicidade de vocês e está acontecendo eu estarei feliz onde estiver. Carlais também sabia disso, e para ela também o que importava era a felicidade das garotas. O livro falou:
         -Já iniciamos o pedido magico da abertura do portal, acontecerá em 7 dias. Se vocês não forem terão de dar oportunidade a outras pessoas, qualquer pessoa.
         -Elas vão! Cachie estava decidindo por elas.
         -Você não pode ficar longe de nossas garotas.
         -Será como se eu não tivesse voltado, estarão em suas vidas normais, só que em um mundo melhor. Falou prosaicamente como se estivesse tudo bem.
         Não tinha jeito a escolha era partir e partiriam! Carlais pensou nas garotas e disse decidida:
         -Nós vamos!
    Fim do capítulo 7, em seguida o capítulo 8.
    Você que ainda não leu os capítulos anteriores, leia nas paginas do meu perfil. E se quer ler o livro que deu origem a esta serie, este se chama A fé A triste história de um vampiro. Já está postado completo no meu perfil. Ótima leitura continue lendo.
  • A fé 2 O fim para história de um vampiro capítulo 8 de 12

    Capitulo 8
         A noite caiu após o crepúsculo, foi só o tempo da conversa que as faria ir embora, eles todos subiram. Em frente ao altar estava o padre, eles o viram primeiro em seguida foi que perceberam que estava acontecendo uma missa. Muitas pessoas estavam rezando. Foram devolver o notebook e agradecer, porem mais coisas aconteceriam.
         O padre começou a pegar fogo, se debater. As pessoas apavoradas começaram a correr em retirada. Saiam às pressas. Cachie tirou a camisa e começou a bater ela contra o padre tentando apagar as chamas, porem quando estas pararam seus olhos estavam brancos:
         -Está morto! Cachie esta em forma, seu corpo musculosos de muitos anos malhando, demostrava muita beleza, as linhas definidas de seus músculos pareciam brilhar entre sombra e luz da iluminação do espaço.
         Apareceu um homem que eles logo reconheceram, é o homem de cabelos brancos. Foi hora de tirar explicações:
         -O que pretendia tirando minha neta de mim?
         -Eu quero o livro, através dela Claus acreditava que você viria até nós e eu que o livro viria junto a você! E gritando diz: -Dê-me o livro!
         -Você é um bruxo? Carlais perguntou e ouviu:
         -Sou o mago mais poderoso deste mundo! Ele viu o livro com a menina que tinha sido seu alvo de sequestro e apontou uma varinha em direção a ela: -Esta varia faz as coisas queimarem! E sorriu.
         Cachie correu em direção ao adversário dizendo:
         -Você nunca terá o livro! O mago apontou a varinha para ele e anunciando fogo em voz lançou bolas em chamas contra Cachie que defendeu com a mão e jogou para o lado, e depois com a outra até que chegou no mago e lutou pela posse da varinha. Carlais se tornou loba e correu em direção a eles. Cachie conseguiu pegar a varinha e quando Carlais chegou para ajudá-lo o mago lançou uma magia que provocou um vento forte e os lançou longe contra a parede ao alto quase contra o telhado.
         Cachie bate na mão para apagar o fogo que tinha ficado parecia feito por álcool e o mago no moletom onde as chamas tinham se espalhado.
         -Somente um feiticeiro é forte suficiente para me derrotar, mas este se tornou um livro e nada pode fazer. O mago disse e tirou dois chicotes do moletom, um jogou em direção a Cachie que conseguiu desviar, porem na distração de revidar este ataque se desprotegeu por trás, o chicote passou e voltou então se envolveu em volta de Cachie se enrolando a ele da cabeça aos pés, prendendo suas mãos e pés e apertando, ele caiu ao chão.
         -Cara aponte o livro para ele! A filha obedeceu e Cachie prosseguiu: -Fogo! Era a hora dele usar magia, atingiu as costas do mago que tirou o moletom e jogo-o ao chão, estava em chamas. Em seguida jogou um pano em direção a Cachie que foi lentamente enquanto o vampiro continuava ordenando fogo e o mago se protegendo com magia de defesa, até que o pano enrolou-se na boca de Cachie e o mago definiu:
         -Bom assim, agora você não pode falar, não pode dar ordens ao livro, você tem o comando dele, mas em breve este será meu! Virou-se para o livro dizendo: -Só você poderia me vencer se não tivesse se tornado livro.
         Cara entregou o livro a filha e partiu para cima do mago que revidou com o chicote que tinha em mãos, Cara levou um golpe no rosto com o impacto girou no ar e caiu. A mãe foi reagir também, porem o mesmo chicote que atingiu a filha o mago o lançou enrolando no pescoço da mulher lobisomem e soltando o chicote usou magia para este se erguer enforcando Carlais pouco a pouco. Cachie só gemia tentando dizer algo, não se entendia nada.
         O mago então aponta uma arma para Cara, fazendo a arma levitar com magia a soltando de sua mão, mirando nela. Em seguida faz o mesmo com uma estaca, porem esta mirando em Cachie, e para Carlais o chicote estava a ponto de matá-la ele pergunta:
         -Quem quer morrer primeiro? Depois muda as palavras: -Quem será que vai morrer primeiro? Parece estar se divertindo com os adversários . Vira-se para Laischi e ouve:
         -Não ouse tocar nela! Foi Cara que estava tentando se levantar. Laischi corre para o altar e o mago atrás dela diz:
         -Dê-me este livro, seja uma boa garotinha! Todos apenas podem assistir. –Será que se me der pouparei sua vida minha ex refém?
         -Entregue o livro a ele! Cara decide e a filha obedece. O mago pega o livro que diz:
         -Você não pode usar minhas magias para o mal. O inimigo se volta aos demais e diz:
         -Agora tenho o poder e vocês vão morrer!
         Cachie apenas geme tentando se livrar do chicote que o amarra.
         Carlais está no fim sem ar, o chicote arrocha cada vez mais, como um animal ela se debate no ar.
         Cara esta ainda ao chão com dores terríveis.
         Laischi está junto a parece após o altar chorando.
         Tudo está perdido, eles vão morrer. Uma arma aponta para Cara, Uma estaca para Cachie, Carlais sufocando. O mago diz:
         -Chegou a hora! Ergue o livro.
         Uma flecha atinge seu braço e ele deixa o livro cair. Enfiada a flecha o faz gritar.
         -Quem está ai? Quatro lobos pulam sobre ele o mordendo e o estilhaçam, o mago é mutilado.
    Terminou o capítulo 8, a seguir o capítulo 9.
    Leia também os capítulos anteriores de A fé 2 O fim para história de um vampiro.
    E leia também o livro anterior de nome: A fé A triste história de um vampiro.
    Todos nas paginas do meu perfil!
  • A festa

    Eu nunca fui de beber.
    Comecei há pouco tempo, evito ao máximo. Quando faço não me embebedo.
    Minha visão sobre isso torna o ser humano um idiota. Fazemos coisas que sabemos que podem nos matar. 
    Vejo um rapaz sair da festa cambaleando, e entrando no carro.
    Por sorte ele irá bater num poste sem machucar outras pessoas, morrerá sozinho, com a consciência limpa. Se tiver sorte.
    - Que coisa horrível de dizer Otto — Ela diz.
    Sorrio e bebo meu uísque.
    Não lembro como a conversa foi chegar naquele ponto. Ela gostava de falar.
    Um jeito tagarela.
    Havia a conhecido há umas duas festas anteriores. Numa sexta, ou quinta. Não me lembro.
    É sábado à noite, estou cansado, mas é dia de festa. Pessoas bebendo, se divertindo e esquecendo dos problemas da rotina corrida.
    Nessa casa há tantas pessoas. Todas conversavam e riam, algumas pulavam na piscina, outras espalhadas pelos cômodos do primeiro andar da casa. Uma bela casa. Ótima para festas.
    Havia todos os tipos de pessoas naquela casa, todas de diferentes classes sociais, diferentes etnias e raças. 
    Todas reunidas para conhecer pessoas novas, rever as velhas, socializar ou apenas conseguir uma transa.
    Ela estava sentada em uma cadeira verde junto de suas amigas, quando cheguei. Acenou e sorriu.
    Usava um maio vermelho com bolinhas brancas e uma toalha roxa envolta do pescoço, segura um copo de cerveja com a mão esquerda e gesticula com a mão direita enquanto fala, suas unhas estão com um esmalte vermelho sangue.
    Algo que sempre achei muito sexy.
    O seu cabelo preto esta preso num coque molhado que se desfaz a todo instante, ela me olha, continua rindo, mostra a língua e volta a conversar.
    Minutos depois, estamos parados encostados na parede próxima à porta de entrada. Porta de vidro, entrada para a cozinha.
    Não lembro seu nome.
    Mirela.
    Melissa.
    Milena.
    Todos as chamavam de “Mi”.
    “Mi” estuda direito, futura advogada, acredita que a justiça foi feita para proteger todos. Pergunto-me em que país “Mi” vive. Fala sobre prender os caras maus. Bandidos e assassinos. E políticos corruptos.
    Quer fazer a diferença.
    Como todos quer viajar para fora do país, fazer intercambio conhecer algum gringo e ter um amor de verão. Sonha com a Itália. Roma. Coliseu.
    Tagarela.
    Fala sobre seus pais. Médicos. Queriam uma filha medica.
    Pergunta sobre os meus. Mortos. Queriam um filho vivo.
    Ri pensando que foi uma piada. Sorri colocando a mão sobre o rosto, demonstra timidez. Mas esta confortável com a conversa.
    Um jeito leve e descontraído.
    Ela não é alta, mas nem muito baixa. Tem um corpo magro. Sua pele da cor de chocolate me atrai. Seus olhos castanhos me conquistam.
    Uma gota de agua escorre por sua bochecha e pinga ao chegar a seu queixo.
    Sua boca esta levemente pálida por causa da brisa fria desta noite.
    Continua me falando sobre sua vida. Sobre seu estagio em um escritório de advocacia, onde seu chefe fica flertando com ela. Como não flertar com uma garota tão linda? Sorri colocando a mão sobre a boca.
    Ela diz que o café de lá é horrível, respondendo minha pergunta.
    Depois de mais um papo, caímos no assunto sobre bêbados. Ri quando comento sobre o bêbado que acabara de entrar no carro.
    Me da um soco de leve no ombro. Pergunto-me em que momento ganhou intimidade.
    Uma casa bem espaçosa com dois andares, ligados por uma escada de madeira em espiral, moderna. No primeiro andar tem a cozinha, a lavanderia e a sala, no segundo andar, há três quartos, duas suítes e outro para hospedes. 
    Nesse encontra-se uma cama de solteiro, com alguns lençóis e um travesseiro, uma pequena cômoda e uma guarda-roupa empoeirado, com algumas roupas velhas dentro.
    “Mi” esta rindo, seu cabelo esta solto, ainda molhado e caído sobre seus ombros, não é um cabelo comprido.
    A musica alta estrala em meu ouvido. 
    Ela rouba meu copo de uísque, bebe um pouco e então, me devolve. Faz careta ao engolir.
    - Vamos Otto, dance! — Ela diz, rebolando no ritmo da musica.
    Coloco o copo sobre a cômoda. O gelo balança fazendo um som de sino ao bater nas paredes internas do copo.
    Solto minha gravata.
    - Só você para vir de terno a uma festa na piscina — Ela diz.
    Sorrio.
    Ela sorri, não cobre o rosto desta vez. Esta bêbada.
    Começa a falar que esta de olho em mim desde a primeira festa. Desamarra o maiô. Seus seios ficam a mostra, são pequenos como laranjas e tem as aureolas marrons. Fazia um tempo que eu não via uma garota nua. Meu corpo esquenta.
    Ela se aproxima.
    - Eu sei que você me quer Otto. — Ela diz, apalpa os seios.
    Desculpe-me “Mi”, o que sinto não é excitação pelo seu corpo. Mas pela sua morte. Ela esta bêbada.
     Sorri. 
    A faca entra em seu peito. Atravessa seu tórax atingindo seu pulmão. Ela não tem tempo de reagir. Sua respiração fica pesada. Ela não grita. Esta segurando meu terno. Olha-me nos olhos. Sangue escorre pelo canto da sua boca. Retiro a faca. 
    A faca entra novamente, próxima ao local anterior. Retiro a faca.
    Ergo minha mão. Passo a língua em meus lábios.
    Há muito sangue. Ela cai. Seu cabelo esta no meio daquela poça vermelha. Tiro minha gravata. 
    A musica alta estrala em meus ouvidos.
    Suas pernas são lindas, sem nenhuma mancha, sua cor é atraente, seu quadril é largo comparado a sua fina cintura. Abaixo e tiro seu maiô, corpo maravilhoso. Sua barriga é definida, devia fazer exercícios frequentemente. O sangue ainda sai pelos cortes. Esta toda vermelha. Tento não encostar no sangue. Pego o travesseiro e faço pressão para o sangue dar uma pausa. Coloco-a sobre a cama. Esta nua. Penduro o maiô num cabide dentro do guarda-roupa. Tomo um gole do uísque.
    Caminho até o banheiro do outro quarto, não há ninguém no segundo andar. Lavo a faca, as mãos e encaro o espelho. Arrumo o cabelo e volto para vê-la.
    Desço a escada em espiral. Logo estou na cozinha. Largo a faca sobre a pia, mesmo lugar de onde peguei, antes de subir.
    Esbarro em algumas pessoas. Peço desculpas. Alguns sorriem. Outros me encaram.
    Vou embora.
    No dia seguinte vejo a noticia.
     “Mi” foi encontrada dentro de um guarda-roupa, de cabeça para baixo, com os pés amarrados por uma gravata, nua. O cabelo todo sujo de sangue. Os olhos revirados, e sua língua estava sobre a cama num copo de uísque.
  • A Filosofia do Idealismo

    O idealismo é uma corrente filosófica que defende que a existência das coisas no mundo depende das ideias presentes no espírito humano. Para os filósofos idealistas, a realidade é conhecida por meio dessas ideias. Ou seja, o contato dos seres humanos com o mundo é mediado pelas ideias.
    O Idealismo, de uma fora generalista, acredita que as ações humanas são guiadas pelas ideias. A posição do Idealismo pode parecer absurda à primeira vista, mas se a analisamos com cuidado percebemos que ela começa a fazer sentido. Pense no gosto, no cheiro, no tato e na visão. São estas sensações que nos fazem perceber as coisas, e todas as coisas estão dentro do mundo.
    Este termo, das correntes filosóficas, foi utilizado pela primeira vez por Leibniz referente à filosofia idealista de Platão. Porém, essa doutrina é associada também a Santo Agostinho, relacionado à teoria da subjetividade;
    O filósofo inicia um modo de busca da interioridade, ou subjetividade, muito próprio e influenciará pensadores posteriores. Desenvolve a ideia do Eu o qual configura um lugar interior privado que se pode ir para procurar Deus. Para chegar a esse eu interior, faz-se necessário o retorno a si e serão os sinais exteriores expressarão a interioridade. O retorno a si realizado por Agostinho é incialmente inspirado pelas leituras dos platônicos que o conduz a “retornar a mim mesmo, entrei no íntimo do meu coração sob tua guia, e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio. Ao retornar a si mesmo sob a guia de Deus enxergando com os olhos da alma enxerga as verdades encontradas até entre os pagãos, mas soltas sem a unidade. Guiado pelo novo olhar o ato de confessar é ressignificado, não será no âmbito do mundo e do sensível que encontrará respostas, mas servirá para encantar e levará todas as imagens, sensações e lembranças ao homem interior. Nessa empreitada da busca interior o homem se servirá de nossas três faculdades memória, inteligência e vontade. A vontade existe para nos fazer querer desfrutar da memória e da inteligência onde encontramos o conhecimento e as ciências. Assim o homem voltando a si encontrará o conhecimento e a felicidade, isto é a beatitude, que coincide com o supremo bem que em última instancia é a verdade. Encontrar a verdade é identificar o propósito da vida que é ser feliz. Somente poderá ser feliz aquele que vive de acordo com a sua natureza e, portanto, sabe o que quer.
    Descartes na evidência do cogito;
    Cogito ergo sum (Penso, logo existo!) é a primeira e mais fundamental evidência da verdade da qual se deve partir. Isso quer dizer que todo conhecimento possível é humano, até mesmo as interpretações sobre Deus, o que se diz dele. Alguns filósofos pensavam na época, que Descartes tinha exagerado ao afirmar “eu penso”; um deles, o filósofo George Lichtenberger, observou: “Deveríamos dizer 'há pensamento' exatamente como dizemos 'troveja'”. A ideia é que a referência a um “eu” como sujeito do pensamento é abusiva.
    Husserl com a corrente fenomenológica.
    Husserl afirma que a atitude natural, não-fenomenológica, faz o homem olhar o mundo de maneira ingênua como mundo dos objetos. A fenomenologia, ao contrário, busca uma fundamentação totalmente nova, não só da filosofia, mas também das ciências singulares.
    Para os filósofos idealistas, tudo o que existia no mundo exterior ao eu, isto é, no mundo material, era resultado do trabalho da mente e das ideias. Assim, a realidade era considerada como uma criação da mente, e não algo dado pelo mundo.
     
  • A Fuga

    Não existe lugar onde eles não possam encontrar-me,mesmo estando oculto nos becos mais sombrios,nas ruínas das construções abandonadas,ou até mesmo na silenciosa solidão de meu quarto,mesmo assim inevitavelmente eles estão comigo.
    Tento sem sucesso apartar-me deles,mante-los afastados de mim por alguns momentos, mas é claro,tudo isto é em vão.Eles me atormentam a muito tempo,como um predador que busca incansavelmente sua presa.Sou tomado pela ansiedade,inquietação,a bebida me faz entorpecer para não perceber quando chegam,mas isto não impede que venham,e com eles vem o medo,o remorso,a angustia,a certeza que podem tirar-me tudo,até mesmo minha própria vida.
    E pensar que um dia eu os criei,os alimentei,busquei argumentos para dar a eles toda razão,para torná-los cada vez mais fortes,e ironicamente tem eles hoje o poder de transformar-me em um louco,insano.
    Eu poderia ter evitado tudo isto no começo,mas não fiz
    Poderia ter encontrado alguma maneira de controlá-los,mas também não fiz.
    Agora já é muito tarde,estou sucumbindo a cada momento aos martírios que eles me fazem passar.É inútil lutar contra eles,ou deles tentar escapar.Estou completamente dominado,entregue por completo e sem forças para controlar a fera que eu mesmo criei,sem poder conter meus próprios pensamentos. 
  • A gênese do caos

    Um livro de ficção científica me atraí por diversos motivos, dentre eles: os personagens singulares, a trama que me provoca um sentimento de encantamento e a verossimilhança com a nossa realidade. O livro Manjedoura tem tudo isso, sendo uma grata surpresa para um primeiro título publicado pelo autor Sandro J. A. Saint, jovem autor araçaense. Seu romance é um prato cheio para amantes da ficção científica.
                Um tipo de obra que sempre estará em voga é a distopia. Essa narrativa que vislumbra um mundo onde a sociedade está colapsada devido a fatores socioeconômicos, políticos e/ou culturais, lembra o quanto a humanidade é sobrecarregada de contradições. Com certa dose de pessimismo e fatalismo, a modernidade e o progresso se tornam fatores de diluição da sociedade. O livro se torna um alerta, ou seria uma profecia?
                Manjedoura como um primeiro livro de Sandro J. A. Saint apresenta uma narrativa coerente e original, pois consegue sintetizar muito bem os elementos narrativos desse tipo de história. Unindo pós-apocalipse e cyberpunk numa trama distópica, o romance nos traz uma realidade árida, pouco convidativa. Um ambiente carnívoro com relações sociais predatórias. Os protagonistas revelam bem os sentimentos em relação a esse mundo intoxicado de poluição e violência. Como não poderia faltar num livro como este, a temporalidade é desconhecida. Não sabemos se estamos em um futuro ou em uma realidade paralela.
                O livro começa com uma inserção objetiva nesse mundo, um modo de acautelar o leitor e fazê-lo entender que a narrativa terá um cenário diferenciado. É nesse mesmo prólogo que ficamos sabendo que a população mundial cresceu de tal forma que as guerras e o baixo número de recursos naturais diminuíram o número populacional a menos de 30% do total. As elites, sob as suas variadas vertentes, políticos, militares, cientistas e artistas, se unem e formam um único órgão chamado de Cúpula. Seu objetivo é conduzir os resquícios da humanidade.
                Para resolver o problema da superpopulação, eles criam o Projeto Manjedoura, humanos não nascem, são produzidos em escala industrial em laboratórios, chipados e depois dispersados pela cidadela. Mesmo nesse cenário repressor, há revoltas. Grupos rebeldes se organizam e formam os White Mouses, indo viver na clandestinidade fora da Cúpula, ondes serão perseguidos pelas sentinelas.
                Os protagonistas que conduzem a trama são Hanss Nagaf, o emocionante mensageiro-chefe; Jason Cry, o pupilo falastrão de Hanss; e por fim, Handra, a belicosa guerreira do frio. A personalidade desses personagens é única. Com certeza você vai se identificar com todos ou um deles. Mesmo outros personagens que aparecem na trama têm sua personalidade bem definida e atuante na história. Nenhum personagem aqui foi desperdiçado e agrega a narrativa.
                Hanss é um personagem que soa familiar, conduz a trama com bom humor e se mostra um personagem sentimental, a todo momento tenta empreender uma visão mais espiritualizada da vida. Handra é o tipo de protagonista feminista que falta a muitas obras, forte, sem com isso perder a feminilidade. Jason representa o olhar do leitor, sua impulsividade judiciosa e olhar cético vão trazer os conflitos necessários ao trio, bem como divertir o leitor, se tornando um alívio cômico numa sociedade tão agressiva.
                Minha recomendação é: leia esse livro! O livro está com uma edição impecável feita pela Editora Lexia, custa apenas R$ 21,90 mais o frete. Tem orelhas, miolo em papel offset, capa e contracapa feita pelo próprio autor, reforçando o caráter autoral da obra. Se o leitor busca uma ficção científica distópica com pitadas de fim do mundo, Manjedoura é a pedida.
  • A Grande Rocha da Vida

    Quando a Terra Média ainda era dividida entre homens e criaturas, existiam os reinos dos humanos, o território dos gigantes, as cavernas dos elfos, o reino das fadas, o reino das nuvens dos deuses, e o misterioso reino dos pesadelos, habitado pelos demônios.
    Entre eles existia uma rocha mágica que podia curar quem a absorvesse, nem que fosse um pouquinho de seu poder de doenças e feridas, A Grande Rocha da vida. Todas essas nações podiam usar o seu poder, moderadamente, para que não houvesse conflitos ou guerras por posse dela, tanto que cada nação tinha um dia específico da semana para usar o poder da Grande Rocha, a menos que fosse emergência.
    Havia um segredo sobre a Rocha que só os deuses e os demônios tinham em conhecimento, que se alguém absorvesse todo o seu poder, obteria vida eterna e poder ilimitado, o suficiente para derrotar qualquer um, e segundo as Runas dos Tempos dos Profetas, apenas quem tivesse o sangue de demônios ou deuses podia absorver toda a Rocha, mas “lá se sabe se isso é verdade”.
    Um dia os demônios tentaram tomar a Rocha só para eles no objetivo de que Helldron, Rei dos demônios, absorvesse-a e destruísse as outras nações, dominando o mundo, mas falharam porque todos se uniram e os selaram junto ao portal proibido que dava acesso para o Reino dos Pesadelos. Muitos morreram, pois os demônios eram muito poderosos. Quando tudo estava se estabilizando os deuses fizeram um comunicado pacífico, dizendo que iriam pegar a Rocha e leva-la aos céus para que eles decidissem quem usaria ou não o seu poder, mas não aceitaram e obrigaram os deuses a se exilarem nos céus. Os deuses são pacíficos e inteligentes então para manter a ordem eles aceitaram seu exílio, pois sabiam que depois desse comunicado poderia haver desconfiança. E assim terminou o que eles chamaram de “A Guerra Centenária”, pois pode não parecer, mas a guerra contra os demônios durou 200 anos.
    Os demônios não eram muito amigáveis. Eles tinham três corações e viviam 700 anos. As fadas eram fascinantes porque eles voavam sem ao menos ter asas e mantinham um corpo jovem mesmo estando a poucos dias da morte. Vivem 300 anos e quando morrem seus corpos demoram 50 anos para se decompor. Os humanos viviam uma vida normal, sua expectativa de vida era cerca de 90 anos. Os gigantes, bem, eles não eram maus, mas alguns eram brutos demais, outros eram amigáveis, e uns eram travessos, pois pregavam peças nos humanos se fantasiando de demônios e assustando-os dizendo que “nós, os demônios voltamos para tomar a Grande Rocha e destruir todas as nações”, e por isso os gigantes eram mal interpretados por alguns humanos, pois achavam que os gigantes queriam a volta dos demônios... “será que é verdade?”. Os elfos também eram pacíficos, assim como os deuses, mas também eram misteriosos. Pesquisavam segredos do mundo, mas não diziam para os outros. Os deuses não eram como divindades, eram nomeados de deuses por serem muito sábios, tentavam evitar conflitos, procuravam jeitos de beneficiar a todos. Eles não são eternos, mas vivem 300 anos a mais que os demônios. Antes dos deuses serem exilados, alguns se relacionavam com humanos, e a junção dos dois originou uma nova espécie, que rapidamente virou uma nação também, e ficaram conhecidos como druidas. Os druidas têm duas diferenças dos humanos, uma, é que eles nascem com os olhos muito amarelados e brilhantes, e outra é que eles têm um poder de cura parecido com a da Grande Rocha da Vida, só que um druida pode curar apenas feridas, pois envenenamentos, doenças, essas coisas eles não conseguem curar. Havia um, porém no nascimento de um druida, pois alguns nasciam como humanos normais, mas eles não eram mandados para os outros reinos, pois os anciões ensinavam técnicas de cura com ervas e outras coisas que eles encontravam na floresta dos druidas. E também não podem absorver tanto da Grande Rocha. Todos aceitaram o surgimento dos druidas, as fadas se aliaram a eles, e os dois agiram por gerações como “unha e carne”.
    Muitos anos depois da Guerra Centenária, na floresta dos druidas, havia 200 anos que humanos não nasciam, e acharam que tal coisa não iria mais acontecer, até que uma menina nasceu só que ela nasceu com muitas doenças, meio fraca, e por alguma razão, a Grande Rocha não curava suas doenças. Ela sempre admirou a Rocha, mesmo não podendo ajuda-la. Ela cresceu, conheceu um humano por quem se apaixonou, eles casaram-se e um ano depois tiveram a noticia de que ela estava gravida. Numa expedição aos Montes de Gelo, seu marido morreu num acidente. Quando o bebê estava pronto para nascer, numa mesa de parto, ela não tinha forças para fazer com que o bebê saísse, e sentia muita dor. Mesmo estando ciente de que não funcionava, levaram ela até a Rocha, pois era uma emergência, e, por incrível que pareça, a mesma a deu forças para deixa-lo sair. Ela sabia que ia morrer, mas antes de morrer viu que era um menino, e o nomeou como Seikatsu, que do japonês para o português significa “vida”.
    O Avô de Seikatsu não gostava dele, pois dizia ele que Seikatsu matou a própria mãe, então o menino foi criado por todos os druidas. Ele não guardava rancor de seu avô e não se sentia muito triste quando falavam de sua mãe, pois para ele ela era uma heroína por viver tantos anos no estado em que estava, e deixou ele como prova de sua força, e como ela, ele também admirava a grande Rocha.
    Quando completou maior idade decidiu iniciar uma jornada pela Terra Média para conhecer todas as criaturas das outras nações, indo primeiro para o reino mais próximo dos humanos, pois ele queria conhecer a cultura do povo do qual seu pai fazia parte.
    Chegando lá ele se encantou com o jeito dos humanos, seu jeito de comemorar o deixava impressionado. Com o dinheiro que ele havia guardado por anos para quando chegasse sua jornada, ele pretendia comprar várias coisas do reino humano, mas descobriu que no dia seguinte teria um festival que os humanos celebravam para comemorar a vitória contra os demônios na Guerra Centenária, então guardou suas economias para o tão esperado evento. No dia do festival, todos cantavam e dançavam juntos, e o rei propôs irem todos até à Grande Rocha para admirá-la enquanto celebravam, e como ele chegou atrasado não conseguiu comprar nada, então só podia aproveitar a longa caminhada até a Rocha. Chegando lá, todos se espantaram, pois, metade da Rocha tinha sumido, como se alguém tivesse a cortado e levado embora, e seu poder estava enfraquecido, incapaz de curar qualquer um.
    Não demorou muito pra todas as nações ficarem sabendo. Os humanos convocaram uma reunião para saber o que houve, mas o atual estado da Grande Rocha começou a causar discórdia, pois os druidas e as fadas acusaram os humanos de roubar o poder da Rocha por terem sido vistos por perto, e os gigantes não estavam do lado de ninguém, só sabiam que alguém havia roubado a Grande Rocha e que estavam prontos para qualquer batalha para encontrá-la, e os elfos não reagiram de nenhum modo, o que era muito suspeito. Seikatsu não conseguiu engolir o fato de que a Grande Rocha não estava em seu estado normal, e que isso causaria guerra. Usou todas as suas economias para comprar uma espada, e um equipamento básico para sair numa jornada, e dessa vez não era para conhecer seres e lugares novos, e sim para descobrir o que aconteceu com a Grande Rocha. Ele falou com o rei sobre sua jornada, e pediu que alguns homens fossem com ele, mas o rei não pensava em nada além de se preparar o possível começo de outra “Guerra Centenária”, e os únicos que conseguiam ajudar a restaurar a ordem e resolver os conflitos sem violência eram os deuses, mas eles haviam sido exilados, e não estavam mais interessados em deixar seu exílio e intervir na Terra.
    Seikatsu andou por três dias até chegar perto do reino dos gigantes. Chegando lá, viu alguns homens com pedras nas mãos, atirando-as em um buraco bem fundo, onde tinha um gigante com uma cara ameaçadora. Ele espantou aqueles homens com sua espada, chamou ajuda de alguns gigantes, e tiraram aquele brutamonte do buraco. O gigante agradeceu, e perguntou o que trazia um bravo humano até o território dos gigantes. Seikatsu explicou a situação, e o gigante, conhecido como Smasher, jurou que o guiaria até completar seu objetivo de descobrir o que aconteceu com a Grande Rocha da Vida. Eles fizeram uma pesquisa em metade do território dos gigantes, falaram inclusive com o comandante deles, e todos negaram que não sabiam nada sobre o atual estado da Grande Rocha, então eles partiram.
    Dois dias depois, eles chegaram num bosque, onde encontraram um enorme golem de planta, que expeliu um gás roxo que os envenenou e os fez cair de sono.  Quando acordaram, deram de cara com um monte de crianças flutuando, e perceberam que estavam no Reino das fadas.  As fadas explicaram a situação, foi um mal entendido, pois o golem de planta era só um guardião, mas ele não ataca a menos que cheguem perto do Reino das fadas sem avisar com antecedência. Enquanto Smasher estava fazendo a pesquisa sobre o desaparecimento da metade da Rocha, Seikatsu estava explorando aquela linda cidade, e enquanto passava por um recanto com plantações de uvas, ele se deparou com uma linda fada, e os dois ficaram por um longo tempo se encarando, como se nunca tivessem visto algo tão especial na vida. Eles se cumprimentaram, o nome dela era Hana. Ela ouviu falar sobre o que ele estava fazendo, e perguntou se ele gostaria de passar mais um dia pelo reino das fadas. Ele aceitou, e ela mostrou a ele como era a cidade à noite. Perto de um lago, meio embaraçados, explicaram o que sentiram um pelo outro quando se viram, pareciam sincronizados, um só, e no dia seguinte, ela o acompanhou em sua jornada.
    Seikatsu não tinha noção por onde começar a procurar uma passagem para as cavernas dos elfos, mas por sorte, Hana sabia onde era, porque quando mais nova, acompanhava sua mãe em entregas de flores para os elfos, pois por algum motivo eles adoravam comer pétalas de flores. Chegando lá n hesitaram em ir direto falar com a chefia. Os elfos disseram que descobriram que o rei dos demônios conseguiu um jeito de escapar antes de ser selado, e que ele estava habitando um corpo humano, e que foi ele que absorveu a Rocha, só que seu corpo humano era fraco, então só conseguiu absorver metade da Rocha, e a outra metade está fraca, e a mesma podia se destruir a qualquer momento. Seu plano era absorver os demônios do selo do portal proibido, reconstituir seu corpo original e terminar de absorver todo o poder da Grande Rocha da Vida.
    Saindo de lá, eles partiram em direção à Grande Rocha, no objetivo de dizer a todos o que realmente estava acontecendo, e chegando lá se deparou com os druidas caídos no chão próximos à Rocha, e um homem que aparentava estar com más intenções. Eles diziam que era seu pai. Então, o “pai” de Seikatsu começou a se decompor e surgir um demônio enorme de dentro dele, sendo esse Helldron, o Rei dos demônios. Helldron explicou que não houve nenhum acidente, e que Helldron matou e tomou o corpo do pai de Seikatsu, e matou todos os outros que estavam com ele. Smasher tentou um ataque surpresa, mas foi ludibriado, pois Helldron o pegou de surpresa, e o lançou contra a Grande Rocha. Smasher não aguentou tal impacto e teve alguns de seus ossos quebrados, impossibilitando-o de lutar. Os humanos temeram o poder de Helldron, e alguns deles recuaram, mas os gigantes, as fadas e os elfos, ficaram e lutaram bravamente, mas “a que preço?” Muitos foram mortos, Helldron estava invencível. Seikatsu partiu rapidamente para cima dele, e assim, num chute com poder suficiente pra abrir uma cratera, Helldron o lançou até a Rocha, fazendo com que seu corpo a perfurasse, e por alguma razão, ela não estava curando ninguém. Por alguns instantes, todos pensaram que era o fim. Helldron gargalhava comemorando sua vitória, e quando ia se aproximando da Rocha para absorvê-la, uma incrível luz surgiu de dentro dela, sua estrutura começou a se partir em pedaços, e de dentro dela, surgira um corpo emitindo luz, era Seikatsu. Helldron se perguntou o porquê, e como ele absorveu a Rocha, e um velho druida entendeu em fim que, Seikatsu e talvez até sua mãe não tivessem poderes de cura porque haviam herdado poder dos deuses, e na teoria, os deuses tinham mais controle sobre o poder da Rocha do que os demônios. Seikatsu absorveu em um estalar de dedos, toda a energia da Rocha tirada por Helldron, e, num soco estrondeante, reduziu Helldron em poeira. Seikatsu curou a todos, reviveu alguns mortos, despediu-se de Hana e dos druidas, e, emitindo uma incrível luz verde que iluminava toda a Terra Média, transformou-se em um incrível cristal, que se parecia com a Grande Rocha da Vida. Seu corpo virou uma estatua de pedra dentro daquele cristal. Sua Historia foi contada por gerações. Festivais celebrando sua vitória sobre Helldron, e todos o chamavam como, O Menino da Vida.
  • A história

                    “E aí Rose, o que tá pegando minha filha?” Leleco põe o skate embaixo do braço depois que cumprimenta a amiga.
                    “Não é nada não, é só que a autora está criando a nossa história. Alguma aventura vem por aí! Tô tão animada!!”
                    “Animada por que pô?! Que aventura? Eu quero que ela escreva um romance, aí normalmente a gente não faz nada, só fica pegando as mina gata que aparece na história!!” Leleco arruma um colarinho imaginário.
                    “Que não faz nada! A gente faz sim! Normalmente no romance a gente sofre por algum infortúnio antes do final feliz ou não tão feliz assim… – Leleco concorda. – Mas a aventura não, a aventura traz o carisma e a sagacidade da personagem à tona, ela torna cada capítulo um marco em nossas vidas, nas aventuras e nos suspenses é que moram as personagens mais preferidas e admiradas, pois conquistaram um lugar ao sol com muito esforço e em nome de um grande propósito.”
                    “Esse negócio de aventura dá muito trabalho ô Rose, não inventa esse negócio de glamour que não rola comigo não, meu esquema é namorar as gatinhas e fica de boa, falando aquelas frase de efeito que o cara nunca esquece.”
                    “Sabe que você tem razão, é como aquele autor maravilhoso que escreveu ‘aos vencedores as batatas’, quem leu não esquece. Mas ainda assim, não deixou de ser um livro emocionante e perigoso” A expressão de Rose se transformou em puro mistério.
                    “Rose, não viaja Rose, quer mais perigoso que tá o nosso país Rose, mané não precisa ler livro não, mané só vive, mano.”
                    “Credo Leleco! Também não é assim! Livro também traz mensagens positivas de amor e de paz, grandes lições e grandes exemplos!”
                    “Ah, então quer dizer que não vai passar lá o personagem principal o tempo todo sofrendo que nem um condenado?”
                    “Claro que não, toda a história tem um objetivo, uma motivação, um propósito” Rose tenta explicar da melhor forma possível. “Mesmo que às vezes a gente não entenda o que o autor está propondo logo de cara.
                    “Tipo Titanic, que o cara se arrisca a história inteira e ainda morre no final?”
                    “Na verdade, Titanic é uma história verdadeira, embora o Romance da história seja fictício, realmente aquela tragédia aconteceu”
                    “Nossa, que coisa! Tragédia verdadeira, romance fictício, isso tá muito parecido com a vida real Rose” Diz Leleco xingando.
                    “Por isso faço tanta questão de aventura Leleco, com a aventura a gente sonha, se inspira, se fortalece e vibra junto com o personagem quando tudo fica bem no final!”
                    “Vendo por esse lado, até que seria bacana se autora me colocasse num lugar de destaque, tipo o cara que sabe tudo e resolve as coisas no final. Eu quero é ficar bem na fita ae!”
                    “Mesmo se tiver que arriscar sua vida para salvar a mocinha da trama?”
                    “É… se não der muito trabalho!” Leleco dá risada da expressão irada de Rose.
                    “Leleco!!!”
    —————————————————————————————–
    Marya Lampert
    26/06/20
  • A Hora Morta

    Existem coisas que não podemos ver,não podemos tocar,mas sabemos que estão aqui.
    Em nossa mente formamos imagens,tentamos dar forma para aquilo que sabemos existir,mas não conseguimos corporizar.Sombras,calafrios,ruídos,sobressaltos em meio ao sono,tudo indica que algo nos vigia,alguma coisa nos acompanha.
    Mas o que seria?
    E porque?
    De onde vem?
    Talvez venha originar-se da região mais profunda de uma caverna,das entranhas mais sombrias do oceano,ou até mesmo da soturna e lamacenta cratera no centro da terra.
    Tudo é incógnita.
    Tudo é mistério.
    Mas extremamente real.
    Na hora morta,onde o sol já se pôs,mas a lua ainda não surgiu,é neste momento que a sombra maligna cobre toda terra.As nuvens movimentam-se com maior rapidez,tocadas que são pelo sopro malévolo do vento,empurradas por aquilo,ou aquele,que não vemos mas sabemos existir.É como se o canto mortal e inebriante de uma sereia adentrasse em nossos ouvidos sem que percebamos,e inconscientemente deixamos fluir o que de mais perverso existe em nosso ser,tomados que somos por estranhas e perigosas sensações.Começa ali,nosso caminho pelo que é misterioso,oculto e perigoso.
    Por alguns instantes os sinos ficam em silencio,calam-se as orações,os templos cerram suas portas.Algo de pernicioso esta no ar,cada segundo parece arrastar-se lentamente,Como se a agonizar pelo pavor que carrega.Sonhos são destruídos,vidas são arrancadas,almas são possuídas.
    A hora morta parece interminável,E o mais assustador é saber que ela pode durar sessenta minutos,um dia inteiro,ou até mesmo uma vida inteira.    
     

     

  • A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA EM SALA DE AULA: RESGATE DA IDENTIDADE DO NEGRO BRASILEIRO

     INTRODUÇÃO
                 O presente trabalho tem como objetivo expor a importância da Literatura Afro-brasileira em sala de aula no resgate da identidade do negro brasileiro, revelando como essa literatura é uma ferramenta essencial no enriquecimento ideológico e na desconstrução do preconceito racial.
                 Apresenta o processo de surgimento da Literatura Afro-brasileira e os empecilhos encontrados pelos escritores negros na publicação de suas obras. E também trata da efetivação da lei 10.639/03, que possibilitou meios de aplicação da Literatura Afro-brasileira em sala de aula.
                 Além disso, discute a importância do professor como mediador na discussão da Literatura Afro-brasileira em sala de aula. Versa ainda sobre o comprometimento deles em buscar conhecimento sobre a história e cultura dos afro-brasileiros, para que assim tenham repertório suficiente em problematizar essa literatura em diferentes contextos.
                        A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA AFRO-BRASILEIRA EM SALA DE AULA: RESGATE DA IDENTIDADE DO NEGRO BRASILEIRO
                 A literatura brasileira, durante os quatro primeiros séculos, valorizava a forma lusa em sua estrutura e ideologia. A dominação política e econômica também era refletida no domínio cultural, incluindo a literatura. As obras precisavam obedecer aos pressupostos do padrão da elite ou eram desqualificadas. Após a Abolição e a República, as relações sociais começam a sofrer uma mudança, alguns escritores se posicionam contra  essa vertente e através de suas obras transgridem, surgindo uma literatura voltada para o povo negro brasileiro.
                 A literatura negra surge no panorama brasileiro com alguns escritores como  Lima Barreto, Cruz e Souza, Luiz Gama, entre outros. Escritores que transgrediram a forma da escrita e da ideologia lusa, denunciando as questões de racismo e discriminação sofridas pelos negros, esses escritores posicionam-se contra o sistema político e econômico e através de suas obras literárias e ações se tornaram âncora para outros escritores.
                 O surgimento da literatura negra brasileira trouxe questões presentes na formação dos escritores e leitores negros, como a incorporação da cultura africana e suas origens, aspectos importantes para a história e cultura nacional.
                 A partir do século XX a literatura negra brasileira ganha força com os movimentos negros existentes no país, mas a ideologia exclusivamente branca continua a sobrepujar as mentes que comandam a nação nas diversas áreas de poder, oprimindo assim essa literatura que denuncia e grita contra o racismo e discriminação. A elite brasileira tenta justificar o racismo no próprio negro, como diz Octavio Ianni:
    “(...) Parecem diferenciar e discriminar o negro, a ponto de transformá-lo num problema, ou desafio, para o branco e a si mesmo. O branco procura encontrar no próprio negro os motivos da distância social, do preconceito e das tensões que se revelam nas relações entre ambos.” (IANNI, 1978, p.52)
                 Não se muda um pensamento de hierarquia de raças de imediato, muitos se beneficiam disso, porém a literatura negra brasileira consegue a cada dia derrubar barreiras e conceitos, ocupando todos os espaços possíveis.
            
                                                                             LITERATURA AFRO-BRASILEIRA EM SALA DE AULA
                 O surgimento da lei 10.639/03 que versa sobre a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, abre espaço na sociedade brasileira para a importância da cultura negra em sua formação. Assim, surge um novo termo para a literatura negra brasileira, a afro-brasileira, embora alguns escritores discordem, esse termo traz um enlace de dois tempos, África e sua diáspora.
    “Quando intelectuais brasileiros em postos de comando (professores, jornalistas etc.) procuram apartar o saber – em nosso caso a literatura – das questões ligadas às relações étnico-raciais, o fazem como quem nega conceber a capacidade intelectual ao seguimento social descendente de escravizados”. (CUTI, 2010, p.12)
                 A escola é o espaço para a construção e resgate da identidade negra brasileira, é necessário que os professores tenham consciência de que a questão racial está presente na escola de diversas maneiras, não se negando a utilizar esse espaço para derrubar conceitos e ideologias racistas e discriminatórias.
                 A literatura é uma ferramenta importante para o resgate da identidade nacional do negro, pois os autores nacionais, principalmente os negros brasileiros, se empenham em fazer uma literatura de sentidos, a qual descreve situações de discriminação sofridas por eles. Além de denunciar, essa literatura também traz um resgate à história dos africanos que foram escravizados e enviados para o Brasil. Descrevem suas lutas, seu empenho em resistir ao poder do homem branco, lutas essas que foram apagadas da história nacional com o propósito de subjulgar seus descendentes.
                Em muitos livros didáticos a representação do homem negro foi distorcida e exageradamente deturpada. Um estereótipo criado pela elite colonizadora para dominar e quebrantar o espírito do homem negro brasileiro. Esses tipos de representações causaram e causam muitos danos à identidade nacional. E a escola tem um papel importante em difundir essa ideia, assim como também em propor uma mudança, basta que esteja empenhada em dizimá-las.
                 O racismo existe e precisa ser erradicado, ele está presente em todos os âmbitos da sociedade, principalmente na escola, seja ele declarado ou velado. É dever do professor que atua em sala de aula, desenvolver projetos para problematizar essa questão racial, buscando textos e escritores negros que trabalhem essa temática e expor o crime que é o racismo e a discriminação.
    “Somando-se a tudo isso, a criança negra também não encontra na escola modelos de estética que afirme (ou legitime) a cor de sua pele de forma positiva, pois geralmente os professores se encontram com poucos subsídios para lidar com os problemas de ordem racial. No entanto, essa é uma característica não só de professores brancos, mas também de muitos professores negros alheios à questão racial no cotidiano escolar.” (ABRAMOWICZ E OLIVEIRA, 2006, p.48)
                 Sabe-se que a escola pública não tem recursos para dar suporte nem conhecimento suficiente a seus profissionais, mas os professores que se inquietam com essa questão racial buscam conhecimento em outras áreas para melhor se qualificarem em ajudar seus alunos.  Até mesmo na preparação de suas aulas, eles têm a preocupação de selecionar textos que apontam o racismo como um problema sério na sociedade brasileira.
                 A diversidade cultural é um tema vigente no currículo nacional, porém nele há diversas falhas que precisam ser corrigidas. Mesmo que ele seja obrigatório, o professor pode ter a autonomia de  estabelecer formas e textos que refletem suas ações contra o racismo e a qualquer tipo de discriminação, como diz Nilma Lino Gomes:
    (...) “E também não podemos continuar nos escondendo atrás de um currículo escolar que silencia, impõe estereótipos e lida de maneira desigual, preconceituosa e discriminatória com as diferenças presentes na escola”. (GOMES, 2006, p.24)
                 Portanto, é necessário portar para sala de aula a literatura Afro-brasileira, ela desconstrói preconceitos que por muito tempo dominaram a sociedade e resgata a autoestima do negro brasileiro. Principalmente para os jovens que estão em construção, para que assim eles possam ter orgulho de sua identidade negra e se posicionar contra esse racismo.
                 Isso é possível quando são apresentados novos textos com protagonistas negros e descrevem situações vividas por eles. Os alunos logo se identificam e buscam ler mais a respeito, o que é preciso é levar esses jovens a ter contato com essas obras, visto que nas escolas quase não há esse tipo de literatura. Assim, eles começam um resgate de sua identidade e essas vozes surgem com força, como explicita o poema de Conceição Evaristo.
    Quando eu morder
    A palavra,
    Por favor,
    Não me apressem;
    Quero mascar,
    Rasgar entre os dentes,
    A pele, os ossos, o tutano
    Do verbo,
    Para assim versejar
    O âmago das coisas.
    (CONCEIÇÃO EVARISTO)
                 No entanto, o jogo das relações de poder e as diferenças criadas socialmente, são obstáculos para essa mudança, pois o preconceito aos grupos étnico-raciais menos favorecidos foi naturalizado. Porém, é possível desconstruir esses conceitos ideológicos do colonizador e resgatar a identidade do negro e sua história.
                 A importância de se usar a literatura Afro-brasileira em sala de aula é nesse aspecto, a melhor ferramenta no processo de resgate, pois ela traz vivências e experiências que não aparecem em outras literaturas. A principal é o negro sendo o protagonista de sua história, não uma representação animalizada ou desumana como é comum em alguns livros.
                 Quando os alunos começam a ter contato com a literatura Afro-brasileira, eles começam a questionar a ideologia colonizadora do homem branco representada nos livros didáticos. Esses livros didáticos tendem a naturalizar o homem escravizado de cabeça baixa, um perdedor, ocultando a verdadeira história de resistência da África.
                 Esses questionamentos surgem de uma forma positiva em relação à história do homem negro brasileiro, pois os alunos começam a pesquisar a história a África e sua diáspora, buscando encontrar relatos que contrapõem a ideologia colonizadora. E o mais importante é que a literatura Afro-brasileira faz com que eles se enxerguem como negros e resgatem seu valor na história nacional. Isso fica explícito nas palavras de Florestan Fernandes que diz:
    “(...) Demonstrando que o negro intelectual, liberto dos preconceitos destrutivos do passado, tende a identificar sua condição humana, e extrair dela uma força criadora quase brutal e desconhecida, bem como a superar-se pela consciência da dor, da vergonha e da afronta moral.” (FERNANDES, 2007, p.209)
                 Nesse contexto escolar é possível fomentar o saber,  o professor pode mediar à literatura Afro-brasileira de uma forma clara e positiva, fazendo com que os alunos consigam identificar quais literaturas tratam do resgate da identidade negro-brasileira e quais não seguem essa linha. Os recursos intelectuais podem desvelar o conceito dessa marginalização e exclusão sofrida pelos afro-brasileiros, basta que o professor se empenhe em transmitir esse conhecimento.
                                             A DIFICULDADE EM ENCONTRAR AS OBRAS DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
                 Atualmente é possível encontrar um índice de crescimento de publicação da literatura afro-brasileira, mas essa literatura ainda é pouco divulgada e conhecida. Como é o caso do grupo “Quilombhoje”, que já publica  40 anos “Os Cadernos Negros”, poucas pessoas conhecem  essas publicações. O fato é que o campo editorial não financia esse tipo de literatura, surgindo assim algumas editoras independentes, as quais surgem com a colaboração dos próprios escritores.
                 A própria crítica literária não reconhece essas obras como literatura, por tratar de questões que fogem do estabelecido pela elite literária, porém a cada dia essa literatura tem ocupado espaços que anteriormente não tinha acesso. A lei 10.639/03 foi um dos fatores que fez com que a procura da literatura Afro-brasileira aumentasse. Embora, a lei não solucionou esse problema por completo, mas pelo menos ela foi um meio de divulgação da  literatura Afro-brasileira.
                 Devido a esses fatores, a seleção das obras de literatura Afro-brasileira é mais complexa, a dificuldade maior é encontrá-las. Nas escolas, principalmente  na rede estadual de São Paulo, pouco se acha dessas literaturas. Torna-se um desafio trabalhar em sala de aula sem material de apoio sobre a Literatura Afro-brasileira, mas não é impossível. Hoje a internet é uma ferramenta importante de pesquisa, existem vários sites que oferecem gratuitamente algumas dessas obras.
                                                          LITERATURA AFRO-BRASILEIRA ESCRITA POR AFRO-BRASILEIROS
                 A identidade é construída através de grupos e estereótipos que se assemelham ao indivíduo, por isso a literatura Afro-brasileira escrita por Afro-brasileiros, é de extrema importância no resgate da identidade nacional do homem negro. Não é o outro que ele identifica, mas a si mesmo, visto que trata de situações que todo negro brasileiro já vivenciou.
                 Isso implica uma valorização do Ego, a qual é necessária para sua autoafirmação na sociedade, redescobrindo seu lugar e seu papel no espaço o qual vive. Derrubando preconceitos que por muito tempo esmagaram o homem Afro-brasileiro. E tudo isso é possível através da literatura, o contato com textos literários que problematizam essa temática enriquece e dá suporte para a reconstrução do homem negro brasileiro.
                 Escritores Afro-brasileiros como Cuti, Oswaldo de Camargo, Conceição Evaristo, Solano Trindade entre outros, precisam estar sendo estudados e discutidos em sala de aula, porque eles têm uma literatura de enfrentamento, denunciando a sociedade e resgatando nas páginas de seus livros a identidade do povo negro brasileiro.
                 Essa literatura busca legitimar o reconhecimento da importância do negro e da sua cultura no Brasil, um processo ideológico voltado para a identidade negra, inserindo na literatura os seus conceitos e destroçando paradigmas estabelecidos pela elite. Nela o indivíduo afrodescendente está presente tanto no plano sociopolítico, ideológico, humano e cultural.
    “(...) Trata-se de dar voz à escrita produzida pelos afro-brasileiros a partir de um ponto de vista interno em que o centro de referência seja a sua história, as suas identidades, a sua memória.
    ( ALEXANDRE, 2016, p.32)
                 Portanto, a literatura Afro-brasileira precisa ser discutida em sala de aula porque ela dá voz aos excluídos, que por muito tempo foram submetidos às amarras do preconceito pela elite dominante, a qual fez mentes e corpos prisioneiros. Acima de tudo ela resgata a identidade do afro-brasileiro dando-lhes espaço numa sociedade que precisa urgentemente rever seus conceitos.
                                                                                                                                   CONCLUSÃO
                 A Literatura Afro-brasileira cumpre o papel de reconstruir a identidade dos negros brasileiros, ela denuncia o sistema sociopolítico da elite e dá voz aos oprimidos.  A escola pode utilizá-la para derrubar paradigmas estabelecidos pelo sistema colonial e revelar o racismo existente no Brasil.
                 A escola pública é o melhor espaço para aplicar essa literatura, visto que existem vários jovens de diversos contextos. Inquietá-los e fazer com que se posicionem contra o racismo, é função do professor mediador, uma ponte importante para a transmissão da história e cultura dos africanos e afrodescendentes.
                 A Literatura Afro-brasileira escrita por afro-brasileiros tem um impacto positivo  no resgate e na construção da identidade dos negros no Brasil, pois eles se enxergam como protagonistas de sua própria história. Portanto, é de extrema necessidade a discussão dessa literatura em sala de aula.
                                                                                                                          REFERÊNCIAS
    ABRAMOWICZ, Anete & OLIVEIRA, Fabiana de “A escola e a construção da identidade na diversidade”. In: ABRAMOWICZ, Anete, BARBOSA, Lucia Maria de Assunção & SILVÉRIO, Valter Roberto (org). Educação como prática da diferença. Campinas: Editora autores associados, 2006.
    ALEXANDRE, Marcos Antônio. “Vozes diaspóricas e suas reverberações na literatura afro-brasileira”. In: DUARTE, Constância Lima; CÔRTES, Cristiane; PEREIRA, Maria do Rosário A. (org). Escrevivências: Identidade, gênero e violência na obra de Conceição Evaristo. Belo Horizonte: Editora Idea, 2016.
    CUTI (Luiz Silva). “O leitor e o texto afro-brasileiro”. In: FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna e FONSECA, Maria Nazareth Soares. Poéticas afro-brasileiras, Belo Horizonte: Mazza/PUC-MG, 2002.
    CARVALHO, Leandro. “Lei 10.639/03 e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana.” Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/lei-10639-03-ensino-historia-cultura-afro-brasileira-africana.htm  (acesso em: 04/01/2018)
    CUTI (Luiz Silva). “Negro ou afro não tanto faz”. In: Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.
    DUARTE, Eduardo de Assis. “Por um conceito de literatura afro-brasileira”. In: DUARTE, Eduardo de Assis & FONSECA, Maria Nazareth Soares (org) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2011.
    FERNANDES, Florestan. “O  mito da democracia racial”. In: A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Global, 2008.
    FERNANDES, Florestan. “Poesia e Sublimação das Frustrações Raciais”. In: O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2006.
    GOMES, Nilma Lino. “Diversidade cultural, currículo e questão racial: desafios para a prática pedagógica”. In: ABRAMOWICZ, Anete, BARBOSA, Lucia Maria de Assunção & SILVÉRIO, Valter Roberto (org). Educação como prática da diferença. Campinas: Editora autores associados, 2006.
    GOMES, Nilma Lino. “Diversidade étnico-racial e educação no contexto brasileiro: algumas reflexões”. In: GOMES, Nilma Lino (org). Um olhar além das fronteiras: Educação e relações raciais. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
    IANNI, Octávio. “Raça e Classe” e “Escravidão e racismo”. In: Escravidão e racismo. São Paulo: Hucitec, 1978.
    MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Átic
  • A Infância

    Não fui na minha infância, igual aos meus colegas de escola, igual aos filhos de meus vizinhos, e não via o mundo com os mesmos olhos que eles viam, a minha percepção de mundo era bem diferente da deles. Aquilo que a eles trazia alegrias, também a mim traria, porém eu não era convidado a participar. Minha alegria interior tinha que ser buscada em outro local, por outros meios, mesmo que isto me jogasse de cabeça em um poço de tristeza e amargura, pelo isolamento involuntário ao qual eu fui sentenciado.
    Tudo que brinquei, brinquei sozinho, tudo que amei, amei sozinho, sempre que sorri, sorri sozinho.
    Criou-se um abismo gigantesco em minha infância, de um lado estava eu, um menino que só queria ser igual a todos os outros meninos da minha idade, do outro lado, a alegria, a brincadeira em grupo, as amizades, amigos. Porém, no meio deste abismo, estava a indiferença, o prazer de alguns em humilhar alguém, de jogar este alguém em um mundo de insegurança e tristeza.
    Eu continuo sentado a beira deste abismo, não para nele jogar-me, mas para não esquecer a lição que ele me ensinou.
  • A Juventude

    Eu sou cheia de sonhos antigos.
    Como para o meu corpo está o sangue,
    Para o meu coração, os sonhos.
    E antigos são como o que me fez
    Mover pela primeira vez,
    E antigos como o ar em meus pulmões.

    Eu sou cheia de sonhos antigos.
    Sonhos que eu nasci sonhando,
    Suntuosos como os passos que me
    Levaram longe deles,
    Cintilantes como a luz que os reacendeu.

    Santos e serpentes, signos e sóis,
    Simples como os mares navegados,
    Antigos são os sonhos que me preenchem,
    Secretos como a essência do silêncio pronunciado.
    Em todas as minhas idades,
    Eu, cheia de sonhos antigos.

    Fossem sonhos em meu esquecimento guardados,
    Sonhando serem por mim sonhados,
    Sejam sonhos despertos no meu realizar,
    São todos os sonhos os mesmos,
    Os mais antigos que a minha consciência de sonhar.

    Eu sou cheia de sonhos antigos,
    O sangue do meu coração,
    O primeiro mover do meu corpo.
    Sonhos de antes de nascer o ar,
    Passeando suntuosos dentro de mim,
    Quando longe de cintilar na luz
    Do meu reascender em sonhar.

    Sonhos mais antigos que o segredo do silêncio,
    Que a essência dos sóis sobre os mares,
    Simples no que me preenchem.

    Antigos são os sonhos que fizeram a idade em mim,
    Eu sou a idade dos meus sonhos,
    E no meu corpo, santos são os signos
    Da idade dos meus sonhos.

    Eu sou cheia de sonhos antigos,
    Sonhos nascidos antes da minha consciência sonhar,
    E sou cheia, no corpo e no coração,
    Da idade dos sonhos,
    Como o primeiro respirar,
    É a juventude sempre em mim a suspirar.
  • A lamparina de Luanda

    Pouca gente sabe que morei em Luanda, capital de Angola, na África, durante o curtíssimo período de fevereiro de 1977 a março de 1978, com minha família, onde comemorei dois aniversários, o de onze e o de doze anos. Foi esse um fato que se tornou secreto, não sendo comentado nem mesmo nos círculos familiares, e que meus pais, não sem justa razão, fizerem questão e esquecer. Mas o que de mais secreto há nessa história se deve ao meu silêncio, pois nem mesmo meus pais jamais vieram a saber - pois nunca lhes revelei: é que lá conheci Kambami, um feiticeiro, por meio de quem vivenciei um acontecimento estranho, inconcebível mesmo para a mente de um brasileiro, ou talvez para qualquer mente que não seja africana.
    Antes, morávamos no Rio de Janeiro, onde meu pai trabalhava como encarregado de obras numa firma de construção civil. Deu-se, porém, que a firma faliu, e ele ficou desempregado por quase um ano. Ao final desse período, minha avó paterna, cujo pai viera do Congo para o Brasil em 1890, apresentou pela primeira vez ao meu pai a ideia de ir para a África, morar em Luanda, onde vivam dois tios e uns primos dela.
    Mas que futuro melhor alguém poderia esperar, trocando o Rio de Janeiro por Luanda, ainda mais que Angola estava enfrentando um conflito armado desde 1975? No caso de meu pai, havia, sim, um vislumbre de futuro, e, quem sabe, até de um grande futuro: ele tinha sido lapidador antes de entrar para o ramo da construção civil, e Luanda era um grande centro de comercialização de diamantes. E não havia muito mais o que se fazer na cidade. Seja como for, tanto que meu pai pensou nos diamantes, não quis outra coisa.
    Viajamos: eu, meu pai, minha mãe e meu irmão, este mais novo do que eu dois anos. O avião fez uma conexão na Líbia, era uma sexta-feira, às duas horas da tarde, e a primeira sensação que tive ao saltar no aeroporto foi a de que o calor fosse me matar antes que eu pudesse pedir um copo d’água. Mas em Luanda não era tão quente assim, caso em que eu não estaria aqui agora para contar a história.
    Fomos morar num bairro que, lá, era de classe média, mas, aqui no Brasil, não passaria de um cortiço. A casa era péssima; as águas, pestilentas, e eu esperava que ficássemos naquele bairro e naquela casa só provisoriamente, até que arranjássemos outro lugar, em melhores condições. Havia um odor nauseante e contínuo de esgoto a céu aberto, frequentes cortes de energia elétrica e, por conseguinte, falta de água. Dias mais tarde, descobri que em Luanda pagava-se um ano de aluguel adiantado, motivo por que era certo que teríamos de passar pelo menos um ano naquela casa, a menos que meu pai tomasse o prejuízo financeiro referente à quebra de contrato, para mudarmos mais cedo dali. Passou-se um ano que, a mim, pareceu uma eternidade, e, enfim, meu pai chegou com a notícia de que tinha encontrado uma nova casa. Antes, porém, que nos mudássemos, como não poderia deixar de ser, minha mãe quis ir vê-la para dar seu aval, e no dia em que ela foi, eu e meu irmão fomos juntos. Meu pai não estava conosco, pois tinha ido acertar detalhes do contrato de um trabalho que havia conseguido. Aproximando-se da casa, eu e meu irmão nos adiantamos três ou quatro passos, e entramos nela antes de minha mãe. Era uma tarde cinzenta e enxergava-se com certa dificuldade no interior da habitação, mesmo com a chama bruxuleante de uma lamparina que ardia em cima de um baú antigo de madeira escalavrada a um canto da sala. Minha mãe entrou. E foi justo nesse momento, quando nós três achávamo-nos no interior da casa, que ela me fez saber que se passava ali o estranho fenômeno.
    - Quem apagou a lamparina? – perguntou-me ela, com uma expressão muito exasperada.
    Apontei para o meu irmão, que tinha acabado de cair ao chão subitamente, sem nenhum motivo aparente, e havia perdido os sentidos. Com um grito de pavor, depois de apertar o rosto com as duas mãos, minha mãe atirou-se sobre ele, segurou-o pelos ombros e agitou-o loucamente. Mas ele não esboçou reação. Minutos depois ele foi internado, tendo sido levado ainda desacordado ao hospital, por alguém a quem minha mãe pediu socorro.
    Amedrontado, entendi logo que havia uma sinistra relação entre o apagar da lamparina e o mal súbito que se abateu sobre o meu irmão.
    Senti-me aliviado quando, no mesmo dia, minha mãe disse que se recusava a ir morar naquela casa. Meu pai comentou que era bobagem, mas não chegou a interpor nenhuma objeção contra a decisão dela. E, assim, continuamos no mesmo lugar.
    Chegando em casa, minha mãe me chamou e disse que precisava me explicar uma coisa.  Foi então que ela contou o real motivo por que tinha ficado tão desesperada ao ver meu irmão caído. Antes de começar a dizer, ela hesitou, disse que era uma coisa horrível, mas horrível mesmo, e que só Deus podia nos ajudar, então falou: existe uma tradição em uma certa comunidade de Angola, cujo nome ela não conhecia, em que se praticavam rituais satânicos, sacrificavam crianças, que eram postas nuas em cima de chapas de ferro em brasa, bebiam sangue de galinha diretamente no coto do pescoço cortado, comiam cacos de vidro, atravessavam punhais no coração e não morriam, nem sequer sangravam, proibiam seus adeptos de trabalhar ou estudar, colocavam jovens nus e de mãos amarradas às costas deitados em cima de formigueiros, onde ficavam até desmaiar das picadas. E havia também as mandingas, que eram muitas e muito eficazes, entre as quais estava a que consistia em um método para se salvar do inferno a alma de algum homem que morresse com muito pecado, mas que lograsse o respeito e a benquerença da comunidade: com um ato hediondo de bruxaria, lançavam-se os pecados da alma desse homem venerado sobre a alma de alguém, para que pagasse os pecados em seu lugar – pois pecados nunca podem ser extintos, mas apenas passados de uma alma para outra. E o que faziam para passar o pecado de uma para outra alma? Assim que morria o homem pecador, porém idolatrado pela comunidade, acendiam uma lamparina e a deixavam dentro da casa em que ele morara. E aquele a quem o destino se dignasse em enviar para apagar a chama da lamparina, recebia sobre si toda a carga de pecados do morto, vindo a morrer também, pouco depois, de morte feia – pois pecadores não têm morte bonita - indo sua alma para o inferno em lugar do outro. Chamavam esse ritual de Gees Brandm, em africânder, o que significa algo como “espírito que queima” ou “espírito do fogo” ou “espirito em chamas”. Era de prodigiosa emergência para a comunidade a realização desse mister, e muito necessário era que alguém apagasse a chama, pois, em não aparecendo ninguém que o fizesse, e expirando-se oo fogo naturalmente pelo extinguir da combustão, estaria o venerável homem morto irremediavelmente condenado à danação.
    O médico pediu alguns exames, e mamãe lhe disse que ia providenciar o mais rápido possível. Chegando em casa, entretanto, ela disse:
    - Não haverá exame nenhum! Isso não é caso para medicina. É coisa de mandinga. Só se cura com outra mandinga. Ou talvez nem assim... oh, meu Deus...!
    E decidiu que ia procurar Galobé de Prates, um padre curandeiro que vivia num bairro próximo, e que, apesar de católico, batia tambores às vezes.
    - Ele não tem nada – afirmou o padre. - Nada de espiritual, quero dizer. Se quer um conselho, a senhora deveria procurar um médico.
    Mas havia um problema sobre o qual meus pais não haviam pensado antes de mudarmos para Luanda, e que, se tivessem pensado, talvez nunca teríamos saído do Rio de Janeiro: eles não confiariam aos médicos de Luanda nem mesmo o tratamento de uma dor de barriga.
    Em casa, tendo conversado sobre o que o padre dissera, mamãe e papai chegaram à mesma conclusão, e quase disseram a uma só voz que voltaríamos o mais breve possível ao Brasil.
    Foi à véspera de nossa partida de Luanda, que conheci Kambami, o feiticeiro.
    Eu estava em frente a casa, brincando, quando um homem negro muito velho de cabelos brancos, vestindo calça e bata brancas, passou do outro lado da rua e me chamou pelo nome... por nome? De onde ele me conhece? Eu nunca o tinha visto antes, e estava decidido a não ir até ele, mesmo porque mamãe sempre nos ensinara a não conversar com estranhos. Mas, seja como for, uma força estranha me fez atravessar a rua, mesmo sem querer.
    Ele me disse que precisava falar comigo antes que eu fosse embora de Luanda... antes que eu fosse embora de Luanda? Como ele sabia que eu estava para ir embora de Luanda? Pediu-me que eu o seguisse, mas não disse para onde. E fui. Não sei por que, mas eu agia tão naturalmente, que parecíamos velhos amigos, e que não houvesse qualquer perigo em um menino de doze anos acompanhar um estranho a lugar ignorado.
    Chegamos a um largo barracão de madeira enegrecida pela exposição diuturna ao sol e à chuva, coberto de palhas e com uma chaminé fumegante. A área interior era ampla, sem divisórias, e o piso, de chão de terra batida. Kambami me chamou para nos assentarmos num dos bancos de tábua que se instalavam rente às paredes, ao redor de todo interior o salão. Foi somente aí que ele me disse seu nome e o que queria comigo.
    - Você é um escolhido – falou ele, com uma voz de trovão que surpreendeu por ter saído da garganta de um homem tão velho como era Kambami. – Você não sabe, nem seus pais sabem, nem ninguém sabe, mas um escolhido tem direito a um pedido, qualquer pedido, aos nossos bons espíritos.
    Kambami tinha um olho preto e outro branco,  este parecendo queimado com ácido ou fogo, ou seria uma marca de nascença, não sei. O fato é que olhei para os olhos dele e senti um arrepio. Levantei-me do banco e saí correndo.
    Naquela noite eu demorei para pegar no sono e, quando adormeci, tive pesadelos em que vi meu corpo fritando sobre chapas de ferro em brasa, e galinhas sem cabeça rodopiando pelo chão, aspergindo sague pelo coto do pescoço.
    No Hospital de Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro, o médico disse à minha mãe que meu irmão estava imediatamente liberado para ir para casa, pois o seu problema era uma simples anemia, o que seria tratado com vinte gotas de Combiron, duas vezes por dia, durante cinco dias.
    Foi à mesa do jantar que, conversando, meus pais decidiram que não comentariam com ninguém o fato ocorrido na África, pois, de qualquer modo, o ritual de transmissão de pecados de uma alma para outra era, no mínimo, uma coisa esdrúxula, em que as pessoas resistiriam em acreditar, e os tomariam por mentirosos. Mamãe reparou em como meu irmão, sentado à cabeceira da mesa, estava saudável, e disse que, talvez, a história da mandinga do Gees Brandm fosse só uma lenda, ideia essa com a qual meu pai concordou de pronto e disse que era isso mesmo que ele sempre achou. Já tinha dito a ela que era uma bobagem, então não se lembrava?
    Mas a felicidade de meus pais foi duramente golpeada dois dias depois, quando, voltando da escola, ao passar pelo portão, entrando em casa, perdi os sentidos e caí nos braços de minha mãe, que me esperava ali. Minutos depois, encontrava-me no mesmo Hospital de Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro, em que meu irmão estivera, mas, dessa vez, o médico não disse que se tratava de algo simples. Em vez disso, fiquei internado, entrei em coma vinte minutos depois, e os exames, que ficaram prontos vinte e quatro horas depois, indicaram tumor cerebral oligodendroglioma de crescimento rápido e agressivo no lóbulo frontal.
    Parecia não haver no mundo sentimento de consternação maior do que aquele que vi no semblante de minha mãe, quando acordei do coma e ela estava olhando para mim. Dali em diante, eu teria vida por mais alguns meses, talvez um ano ou pouco mais, como fiquei sabendo por ter ouvido o próprio médico contar a meu pai, num momento em que ambos conversavam perto do meu leito, achando que eu estivesse dormindo.
    Se a tristeza de minha mãe era grande, não o era, porém, a ponto de que não pudesse ser aumentada. E foi pensando em poupar-lhe de maior sofrimento, que resolvi me calar, e não revelar-lhe a verdade que eu tinha escondido sobre a lamparina de Luanda: a verdade de que a chama quem apagou fui eu.
  • a lamuria do poeta

    Na tentativa de espantar a urucubaca e encontrar um lugar de balacobaco, resolvi sair para tomar uns gorós. Já era quase meia noite, a lua estava dependurada no céu e apesar da ziquizira que insistia em me seguir como uma nuvem negra nas ultimas semanas, fui à busca de uma birosca qualquer. Eu só queria beber uns querosenes e comer uma gororoba que matasse a minha fome.
    Eu já tinha caminhado algumas quadras quando percebi que estava sendo seguido por um galalau. Fiquei cabreiro com aquele fariseu, pois o cara podia estar carregando um trabuco e querer me saltear. Com sebo nas canelas entrei na primeira chafarica que encontrei com as portas abertas; um botequim que poderia ser indicado ao prêmio espelunca do século. Mas quem sou eu para ficar de queixume? Além da pindaíba que eu andava ultimamente, estava vestido de maneira bem chumbrega.
    Chegando ao balcão da baiuca, pedi uma birita. Enquanto eu esperava, uma rapariga remelenta se aproximou toda serelepe me perguntando se eu gostaria de fazer um programa. Com minha cabeça em desarranjo e sem muita paciência, respondi que adoraria, mas teríamos que deixar para a próxima encarnação. A lambisgoia me olhou com asco, saiu resmungando e foi oferecer o seu cabritismo a outro camumbembe.
    Com fome, pedi um ovo cozido, mesmo sabendo que sofreria um ataque terrorista de flatulência até o dia seguinte; mas era o que eu poderia pagar naquele momento. O mequetrefe do garçom, para puxar conversa, me perguntou onde eu morava e no que eu trabalhava. Fiz de conta que já estava de pileque e sorri fazendo o sinal de positivo com a mão. O atendente bocó ficou com cara de bunda; minha vontade mesmo era de meter uma pitomba na orelha do enxerido. Comecei achar que já era hora de ir para casa. Paguei a conta e antes de sair, precisei ir ao banheiro.
    Chegando lá, diante daquela espurcícia, quase vomitei as tripas enroscadas na minha poesia. Disse algum sábio que se reconhece uma boa taberna pela higiene do banheiro; achei que tinha entrado na fossa da casa do capeta. Ao respirar aquele ar impregnado de chorume percebi que havia ingressado no mundo da pestilência.
    Saindo meio entojado do dejetório, percebi que um dos fregueses que estavam jogando sinuca era o homem anfigúrico que eu jurava estar me seguido pela rua quando entrei naquele lugar. Inicialmente me assustei, mas confesso que me senti um pouco esquizofrênico por ter imaginado que o cara estava me seguindo; provavelmente ele apenas se dirigia para a mesma locanda xexelenta que eu havia entrado.
    Deixei aquele submundo da graveolência para voltar para casa. Apesar da minha carraspana, mirei na calçada e comecei a andar. Uma cambaleada aqui, outra titubeada ali e fui seguindo o meu caminho. De repente ouvi passos atrás de mim; olhei para trás e não pude acreditar no que estava vendo... vendo novamente. Aquele sujeito que eu primeiro achei que estava me seguindo e que depois achei que era coisa da minha cachimônia, estava realmente me seguindo. Aquilo não podia ser uma simples coincidência. Acelerei o passo com a intenção de despistá-lo.
    Entrei por uma rua, dobrei uma esquina e cagão que sou me atrapalhei todo e fui parar em um beco sem saída. Ouvi os passos se aproximando e tentei me lembrar de algum golpe de karatê ou kung fu que eu tivesse visto na TV; mas eu também não tinha colhão para atacar um matulão daquele tamanho. Resolvi ficar parado rezando e pedindo ao Pai Celestial para me livrar de qualquer iniquidade. Em meio à escuridão daquela ruela, vi a silhueta horrenda do homem que se aproximava... era o meu fim.
    Quando o grandalhão parou na minha frente, me olhou com uma fisionomia assustada; ele me parecia desconfiado. Naquele momento a integridade da minha cueca já tinha sido maculada. O galalau respirou fundo e me perguntou se eu era o poeta que publicava livros e escrevia no jornal da cidade. Confuso e ainda nervoso, respondi que sim... e ele me disse que era um leitor apaixonado pela minha obra e que estava a noite toda tentando encontrar coragem para chegar até mim e me pedir um autógrafo.
    Ali, entendi finalmente o significado da palavra “alívio”. O homem carregava consigo um livro meu; caminhamos juntos até um local onde tinha iluminação e autografei o livro para ele. Perguntei se ele aceitaria me pagar uma bebida, um ovo cozido e conversar um pouco sobre literatura. O homem, agora me parecendo mais amistoso, concordou se mostrando cordialmente feliz. Após uma estapafúrdia noite, ganhei um amigo leitor. A vida é uma poesia bizarra.
  • A Lei de Talião - Um Breve Comentário

    Ao reler o romance ` A Lei da Talião´ do escritor Eric Dubugras ( Editora Clube de Autores – 2018), tive a oportunidade de analisar mais profundamente não só a função prática da lei, ou seja, a que pena ela infringe ao infrator, mas também o efeito psicológico que não pode ser abrangido pelo simples fato de reparação.
    Mas primeiramente vamos conhecer um pouco mais da `Lei de Talião`;
    A Lei de talião ou pena de talião consiste na compensação ou reciprocidade do crime cometido por uma pena equivalente, por exemplo, punir um homicídio matando o assassino. Pela lei de talião o criminoso deve ser punido de forma equivalente à falta que ele praticou.
    A palavra talião é derivada do latim talio que significa “retribuição”. É interpretada pela fórmula “olho por olho, dente por dente”.
    A lei de talião é atribuída, originalmente, ao código babilônico de Hamurabi (datado de 1770-1750 a.C.). Foi utilizada por outros povos, como os hebreus que a inseriram no Êxodo, Levítico e Deuteronômio, livros do Antigo Testamento.
    “Quem ferir mortalmente um homem será condenado à morte. Quem ferir mortalmente um animal devolverá um semelhante: vida por vida”. Levítico 24, 17-18.“
    Teus olhos não o pouparão: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. Deuteronômio 19, 21.
    No Sermão da Montanha, Jesus de Nazaré referiu-se à lei de talião e a contestou:
    “Ouviste o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente’. Mas eu vos digo que não resistais ao malvado. A quem te bater na face direita, apresenta também a outra. A quem quiser fazer demanda contigo para tomar a tua túnica, deixa levar também o manto. E se alguém te forçar a dar mil passos, anda com ele dois mil.” Mateus 5, 38-41.
    O Alcorão, o livro sagrado do Islã, reafirma a lei de talião, mas admite a possibilidade do perdão:
    E nós lhes prescrevemos que se pague vida por vida, olho por olho, nariz por nariz, orelha por orelha, dente por dente, e, também, para as feridas, o talião. Mas quem perdoar, seu perdão será sua expiação.” Sura 5, 45.
    Sabendo o princípio básico da lei se faz necessário adentrarmos no campo interpretativo para uma absoluta compreensão de sua essência, visto que quando se fala em ´`olho por olho,`dente por dente`` ou vida por vida`` estamos nos referindo a dimensão humana na busca por justiça e reparação de dano. Mas o todo pode ser maior que todas as partes juntas, sendo assim parece-nos simples e de evidente entendimento que existe algo que esta além da reparação física ou financeira. Somente quando constatamos que no campo psíquico os eventos acontecem de forma contínua mesmo depois de cessar a ação que o causou é que percebemos que a reparação do dano físico esta muito longe de descontinuar um dano psicológico.
    Quando uma lesão física trás consigo uma carga de sentimentos muito forte, causando a perda de uma habilidade essencial para o indivíduo, como um pianista que perde uma das mãos, esta gerado um trauma. O trauma psicológico é uma resposta emocional a um evento que deixou feridas na memória e no conceito de identidade de uma pessoa, mesmo depois que o dano físico que o causou já tenha findado, um efeito interior devastador que pode levar uma pessoa a perda total de sua racionalidade, e esta desordem psicológica não poderá ser passada a quem causou-lhe o dano físico.

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