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  • Concurso literário – Orixás, histórias dos nossos ancestrais

    A Cartola Editora lançará sua sétima antologia de contos através de um concurso literário exclusivo para autores da língua portuguesa. O objetivo é incentivar que mais escritores sejam inseridos no mercado brasileiro como autores.

    A antologia “Orixás, histórias dos nossos ancestrais” será composta por uma média de 30 (trinta) contos tendo como temática os doze Orixás representados no Dique do Tororó, em Salvador:

    Oxum, Xangô, Oxalá, Oxossi, Ogum, Nanã, Iansã, Iemanjá, Oxumaré, Ossain, Logun-Edé e Ewá.

    Inscrições:

    15/05/2019 a 31/05/2019

    Divulgação do resultado:

    10/06/2019

    Organização:

    Janaina Storfe

    Regulamento

    1 – Participantes

    1.1 – O concurso destina-se a escritores de língua portuguesa, sendo livre para escritores iniciantes ou para autores que já foram publicados anteriormente. Os escritores podem ser residentes de qualquer país, desde que maiores de 18 anos;

    1.2 – A inscrição é GRATUITA e NENHUM VALOR SERÁ COBRADO dos candidatos para participação no concurso, ou posteriormente, na publicação da antologia;

    1.3 – Todo participante deve ser OBRIGATORIAMENTE usuário do Whatsapp, pois a organização da obra será feita em conjunto com todos os autores através de um grupo específico. Não será possível participar da obra caso não utilize a ferramenta.

    2 – Orientações

    2.1 – Os contos possuem como temática os doze Orixás representados no Dique do Tororó, em Salvador:  Oxum, Xangô, Oxalá, Oxossi, Ogum, Nanã, Iansã, Iemanjá, Oxumaré, Ossain, Logun-Edé e Ewá.

    2.2 – Os contos não precisam ser inéditos, podendo estar online em qualquer plataforma, ou já terem sido publicados anteriormente em outras coletâneas, sempre respeitando os direitos autorais adquiridos por outras editoras previamente, ou seja, o direito autoral do texto para a participação no concurso, precisa estar 100% com o autor;

    2.3 – Os textos deverão ser encaminhados através do formulário presente ao final desde regulamento durante o período de inscrição, respeitando o seguinte formato:

    Arquivo Word (NÃO ACEITAREMOS PDF) no tamanho A4; espaçamento 1,5 entre linhas; fonte Bookman Old Style (11); margens: superior e esquerda com 3cm; margens: inferior e direita com 2cm. O arquivo precisa conter o nome do escritor (pode ser pseudônimo) e o título do conto em minúsculo, por exemplo: “rodrigo-barros-o-sobrado-da-rua-taylor.docx”;

    O conto precisa ter o TÍTULO e o  NOME DO AUTOR (pode ser o pseudônimo) no início do mesmo.

    O conto precisa ter um mínimo de 02 (duas) páginas e um máximo de 05 (cinco) páginas, no formato descrito anteriormente;

    Caso envie o conto em qualquer outro formato ou especificação este será AUTOMATICAMENTE DESCLASSIFICADO;

    2.4 – Cada escritor poderá participar do concurso com até 02 (dois) contos diferentes;

    2.5 – Não serão aceitos contos que sejam fanfics de livros, séries, filmes ou qualquer outra mídia. O conteúdo precisa ser 100% original;

    2.6 – Não serão aceitos contos que contenham conteúdo pejorativo, discriminatório ou que incitem ódio e preconceito;

    2.7 – Não serão aceitos contos em co-autoria.

    3 – Publicação

    3.1 – A antologia terá uma média de 30 (trinta) contos participantes. Dentre os quais, aqueles escritos pelos autores selecionados através deste concurso, podendo haver a participação de autores convidados pela Cartola Editora;

    3.2 – A antologia será publicada em formato digital (e-book) em todos os canais de distribuição da Editora

    3.3 – Caberá somente à Editora definir a arte de capa e o estilo de diagramação dos contos no miolo da antologia;

    3.4 – Será realizado um financiamento coletivo para que a obra seja publicada também em formato impresso;

    3.5 – Caso o financiamento coletivo atinja a meta necessária para publicação impressa (esse valor será determinado pela Cartola Editora após a divulgação dos vencedores), o livro estará presente não só em nosso catálogo, como também estará à venda em todas as lojas online que já comercializam as obras publicadas pela editora;

    3.6 – Os autores não são obrigados a participar do financiamento coletivo, mas é de suma importância sua divulgação para atingirmos a meta estabelecida;

    3.7 – Se o financiamento coletivo atingir 150% ou mais da meta, efetuaremos em São Paulo um evento de lançamento do livro;

    3.8 – Se o financiamento coletivo atingir 200% ou mais da meta, indicaremos a obra para livrarias físicas parceiras, cabendo a elas aceitar ou não o livro para venda;

    3.9 – Será realizado um único registro ISBN com todos os contos do livro;

    3.10 – A participação do autor só será confirmada após o recebimento dos contratos assinados.

    4 – Direitos autorais

    4.1- Todo autor receberá um exemplar do livro em formato digital (PDF) e posteriormente receberá direitos autorais sobre as vendas do e-book, conforme constará em contrato;

    4.2 – Caso o financiamento coletivo atinja a meta necessária para publicação impressa, cada autor receberá direitos autorais sobre as vendas do livro físico, conforme constará em contrato;

    4.3 – Todo participante da Antologia poderá adquirir exemplares com 50% de desconto (mínimo de 20 exemplares), custeando também o frete, e posteriormente comercializando a obra conforme sua conveniência.

    A arte que ilustra esse artigo é de Dalton Muniz.

    Acesse:

    http://www.cartolaeditora.com.br/concurso-literario-orixas-historias-dos-nossos-ancestrais/

  • Geração 20's : Não queremos acabar com tudo.

    Uma geração estranha de desasjustados. Os 20,ou 20 e tantos (que há uma margem entre si e uma diferenciação, mas que posta numa escala menor, estão, tanto os 20, quanto os 20 e tantos iguais a uma barata tonta após jatos fortes de SBP de eucalipto) não sabem como proceder, como agir, não param em um emprego sequer. A cada dia, mais amigos me contam que largaram a faculdade, ou que foram demitidos, ou que pediram demissão depois de tanto tempo na empresa, ''cansei, não dá'' ou ''ah amigo, está muito caro.'' e os que trabalham dizem, ''todo dia eu quero me matar'' ou ''diz que um terremoto desmoronou o shopping'' e aqueles felizes com seus trabalhos são Dj's ou fotógrafos e mesmo assim não ganham bem, ou são ricos, pois os ricos sempre estão felizes, se não passa na faculdade um intercâmbio resolve o problema, ou até mesmo uma analista bem cara e bem paga, por que na verdade a única coisa que queremos é estar bem com nós mesmos. 
    Estamos ferrando com tudo por muito pouco, pouca bebida (até mesmo bebidas bem baratas), pouco sexo, poucas drogas e pouco foco no que de fato importa. Conheço pessoas nos 20's que sabem exatamente o que querem e fazem exatamente o que é preciso para conseguir, sem erros, sem falhas, um dia de cada vez, do jeito que tem que ser. Pensando aqui só duas; o resto mais cedo ou mais tarde faz uma cagada específica que ferra com tudo. 
      Nos 20 já desistiram de nós. Já devíamos ter aprendido, já devíamos ter feito aquilo. Na verdade, estamos cansados demais dormindo até ao 12:00, pois na noite anterior juramos pela nossas vidas que 23:30 era o limite para estar na cama; e as 2:30 se dá conta que iniciou o segundo filme, a segunda pipoca ou brigadeiro, e não tem problema, eu acordo cedo assim mesmo para ir trabalhar, eu aguento, um geração de zumbi. Gosto de pôr a culpa na TV, a nossa geração na infância está acostumada a ficar deitada a manhã inteira vendo todos os desenhos possíveis, e nossa Mães (inclusive a minha) secretamente gostavam daquilo, ''pelo menos não está fazendo besteira'' elas pensavam. Na minha casa era um momento religioso, sou o mais novo de 3 meninas e um Poodle, assistir Tv consistia num intervalo de nossas brigas e latidos constantes. Neste cenário, os 20's jamais vai crescer e ter o interesse de pegar no batente as 6:00, ou sentir-se feliz e realizado num emprego de 9:00 ás 18:00 em um escritório que nem a luz do sol é vista; os 20 enfrentam sua primeira crise e divergência e o mundo não tem espaço para crises de identidade, ou depressão, ou ansiedade, apenas o trabalha que cura qualquer enfermidade.
     Um solução? De fato não tenho nenhuma; talvez a culpa seja toda nossa mesmo, ou talvez não. Talvez seja um processo de adaptação á vida adulta; ou muito provavelmente virá um moço com o mapa com as regras e atalhos. O que piora são as expectativas, esperam que sejamos um tipo muito especifico de ser; pacato, mais ou menos; e isso é exatamente a ultima coisa que os 20 que ser. Não queremos pouco, não queremos até o limite, nós queremos intensidade, verdade, paixão, acordar e pensar que tudo vale a pena, queremos viver numa castelo mesmo que seja num camping em ilha grande ou num kitnete no centro da cidade. Até queremos um bom emprego, mas que tenha horários flexíveis, que forme sua equipe de acordo com o mapa astral dos funcionários, uma empresa que entenda o ciclo menstrual feminino e que dê carona em dias de chuva, que leve em consideração a febre do filho de seu funcionário, e que o chame de sócio e não de empregado. Queremos arriscar tudo por uma chance de ser feliz, botar tudo a perder sem garantia nenhuma; entendemos que nossa passagem aqui é breve e que de fato a maior felicidade é viver.
  • ¿Queríamos?

    Entre os monólogos atuais da minha alma, anseio por esquecer antigos amores. 

    Entre os amores, porém, prefiro considerar que todos, de fato são. Assim, não tardo, com pouquíssima calma, o processo falho de engavetamento deste passado específico, e sem raízes. Não desmonto esse fato, o amor decorrido, como uma série de ações e coincidências que ligaram o "Eu" a você. É impossível julgar um amor verdadeiro, que chegara ao fim, se este estiver inserido no emaranhado de memórias que fazem parte do conjunto que me forma. 
    Se, eu julgo essas memórias específicas, como verdadeiramente especiais, elas se sobressaem as outras.
    Terminantemente?
    De imediato eu diria...
    Um amor profundo que se vai logo, nunca deixa de existir, nem mesmo se esvai da fina crosta do nosso olhar.
    Tão rápido se enraizou, quanto rapidamente apodreceu. Dois olhos constituem uma visão periférica. Para começar a entender a dúvida, que chamávamos de "te querer", como eu lhe julgava sentir, necessito lembrar que nossos olhos só enxergavam um futuro a três palmos de distância. Quando os rumos de memórias, que ainda iriam se criar, não são palpáveis ao nosso tato, aos nossos gostos, a nossa sensibilidade, individualidade, ora ganância de querer o bem único e somente de si próprio, nada é. Porque não foi, e não conseguimos criar um será.
    Eu sei que você duvida
    que eu te amo tanto
    [...]
    Se você quiser eu abro meu peito
    e eu te mostro meu coração
    "Miedo de Hablarte"
    Julio Jaramillo, 1959.
    Desaparesinto
  • ... alguem de cabeça para baixo ...

    ...último raio de sol, uma brisa longa e suave, ar puro, o silêncio causando maior barulho em meu exterior, e pensamentos transbordando em meu interior, em longa distância há um mar, mar de informações, onde acontece paralelo de imensidão, e o imensidão é o meu limite, e ainda assim procuro todas as digitais de Deus, e eu me pergunto perguntando a Ele, Onde Estás? E mesmo perdido em confusão, a sua graça traz uma esperança, faz meu coração palpitar mais forte, para logo encontrá-Lo no porto, onde poderei ancorar em paz...
  • ... E A PRAIA CONTINUAVA LÁ

    Meus pés novamente pisam
    as areias cor-de-rosa
    da praia do meu menino

    Caminho sobre pegadas miúdas
    rastros que se foram
    arrastados pelo hálito dos ventos

    O bravio das ondas
    são amainadas pelos arrecifes
    erguimentos legados de um deus
    devorado pela gula insaciável de Cronos

    Outras crianças brincam
    construindo castelos de areia
    em reinos que já foram meus

    Das espumas do mar nasceu Afrodite
    onde lá conheci meu primeiro amor
         (não sabia que os deuses
           podiam ser castrados)

    Era quase pálida e sardenta
    usava óculos fundo de garrafa
    e tinha as madeixas laterais
    sempre amarradas junto à cabeça

    Ritinha
    era assim que sua mãe lhe chamava
    toda vez que ia embora
    levando-a de mim
    muito antes de conhecê-la

    Nas margens desse corpo de água
    onde o oceano acaricia o chão
    esculpi-me molhado de sol e sal

    Era feliz
    e todos estavam nos retratos natalinos

    Onde estão as conchas e os búzios
    que um dia aqui deixei?
  • ‘EU’, ‘ELES’ e ‘NÓS’

    Sabíamos que estávamos sendo vigiados por ‘ELES’. Muitos relatos de abduções, fotografias e filmagens de suas naves e tecnologias não paravam de ser publicados nas redes sociais. Porém, por esforços dos governos mundiais que negavam e ocultavam os fatos, e também, por uma certa mescla de realidade e fantasia nos filmes e seriados hollywoodianos, e, provedoras globais de fluxos de mídias via streaming, além da ignorância que era pregada nas diversas religiões de sermos o centro do universo, ignoramos os sinais por ‘ELES’ transmitidos.

    ‘ELES’ até que apelaram a partir da década de 1970, quando começaram a desenhar os agroglifos nas culturas de certas gramíneas, por meio do achatamento de culturas como: cereais, colza, cana, milho, trigo, cevada e capim. E era obvio que não tínhamos ainda tecnologias para realizar o feito desses complexos e grandes desenhos em apenas algumas horas. Mas, mesmo assim, ignoramos. E, criamos soluções para explicar o inexplicável, e tudo foi abordado como um feito fictício. Então, pagamos o preço por mesclar a realidade e a fantasia, não sabendo mais diferenciar uma da outra. Assim, preferimos viver o engodo, e fomos enganados por nós mesmos.

    Entretanto, ‘Nós’ criamos a S.U.P.E.R (Superintendência Universal Para Extraterrestres Relações), em que na verdade era uma organização oculta e privada, que se fantasiava de uma Ecovila Sustentável criada por uma rede mundial de cientistas alternativos ufólogos, e pequenos empreendedores startup nos ramos da cyber tecnologia e biogenética (biohacking).

    Éramos perfeitos na arte do engodo, pois utilizamos as técnicas alienantes do sistema contra ele mesmo, ao fundarmos nossa Ecovila na Patagônia, que cobria uma área como mais de 239 km², banhada pelos paramos das geleiras andinas, com terras hiper férteis. Abrigando uma população de mais ou menos cinquenta e cinco mil habitantes de várias nacionalidades do mundo. Em que nosso maior foco agrícola e produção eram cânhamo, cannabis medicinal, morangos, uvas, cerejas, cevada e lúpulo, além de muitas criações de animais. E assim, fabricávamos os melhores vinhos, cervejas de cannabis e espumante de morango do mundo. Tudo de origem orgânica e primeira qualidade, e sem a necessidade de máquinas elétricas, ou movidas a combustíveis fosseis, tudo manufaturado a moda antiga, em que o trabalho humano e animal era o nosso maior forte.

    Vivíamos como antigos povos, antes da revolução industrial, nossas roupas, casas e utensílios eram manufaturados naturalmente, e nossas tecnologias eram 100% artesanais, permanentes e renováveis. Também, focávamos em energias sustentáveis como eólicas e fotovoltaicas, em que criamos a maior usina sustentável do mundo, que fornecia energia para todas as vilas da Patagônia por um custo acessível e barato, além de doar energia de graça para todas as dependências e prédios governamentais dessas vilas. Estratégia nossa, para implementar esse projeto com apoio intergovernamental, tanto da Argentina como do Chile.

    Porém, tudo isso não passava de uma capa que cobria o livro. Pois, subterraneamente éramos outra coisa.

    A S.U.P.E.R era um segredo de um punhado de famílias dentro da Ecovila, punhado esse, que era formado pelas pessoas menos relevantes da nossa comunidade eco agrícola. Na verdade, ‘NÓS’ éramos os fundadores dessa comunidade, mas passamos o nosso poder para os antigos moradores da região, transformando-os de simples camponeses em grandes empreendedores. Alguns ganhadores de prêmios Nobel e outras condecorações internacionais. Porquanto, eles eram nossas máscaras, e nem eles, como também, os outros moradores da Ecovila sabiam disso. ‘NÓS’ éramos um mistério… um segredo bem guardado por pactos de vida e morte, em meio ao paraíso andino.

    No submundo dos nossos quartéis subterrâneos, situava o centro tecnológico e informativo de nossa inteligência. Tínhamos uma empresa operadora de satélites, a StarSky Corporation, que atuava em 52 países com sedes em Israel e na China, além de 32 empresas subsidiarias de telecomunicações espalhadas pelo mundo. O que facilitava nossa rede de comunicações e informação, dessa forma, tínhamos olhos e ouvidos em todo lugar.

    Contudo, estávamos também sendo vigiados, e de início não sabíamos. Aquele fato da coisa observada, observar o observador. Pois nossos servidores se utilizavam da surface web, ou deep web como era mais conhecida. E, ‘ELES’ é que eram os verdadeiros donos do iceberg como todo. E, assim, os nossos olhos e ouvidos eram, também, os olhos e ouvidos deles. Seus motores de busca construíram um banco de dados, pelos seus spiders, e através de hiperligações indexaram nossas informações aos seus servidores na deepnet. Quando descobrimos que estávamos sendo escaneados, toda nossa informação já eram deles.

    Quando nossos hackers investigaram quem são ‘ELES’, se depararam com uma parede de proteção inacessível, em uma (darknet) parte do espaço IP alocado e roteado que não está executando nenhum serviço. Até para as inteligências dos governos mais poderosos o acesso era fechado, pois se utilizavam da Dark Internet, a internet obscura. E de cara percebemos que ‘ELES’, os não-humanos, eram quem estavam nos vigiando.

    Contudo, resolvemos abrir o jogo e mandar mensagens para ‘ELES’, em um projeto apelidado como: חנוך (Chanoch). Durante meses enviamos várias mensagens, então, de repente, nossos servidores detectou uma mensagem oculta que dizia: “E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.”.

    Ao receber aquele texto, ficamos perplexos. De início, achamos ser uma brincadeira. Até recebermos outra mensagem, que dizia: “E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho”. Então, depois de longas horas de reflexão, intentamos que as mensagens vêm a nós na forma e maneira que podemos perceber. Sendo, que eles queriam escolher alguém entre nós para uma viagem. Não sabíamos como responder a tal pedido, e mandamos uma mensagem correspondente do que temos de fazer para realizar tal acontecimento. E, eles nos responderam com três sequencias binárias: 101.

    No dia seguinte a essa misteriosa resposta, para o nosso espanto, fomos notificados por um de nossos agricultores que se encontrava no campo de cevada, se deparando com um símbolo gigante desenhado ‘IOI’. Então, rapidamente percebemos que aquele campo seria o local de contato. E, ‘EU’ fui escolhido para a tal viagem com ‘ELES’. Então, todas as noites acampei no local marcado.

    Acho que propositalmente, na noite 101 em que me encontrava sozinho em minha barraca, e já desesperançado de algum contato, ‘ELES’ vieram! E de súbito só me lembro de ver uma forte luz branca.

    Quando acordei, me deparei em uma maca feita de uma solução gelosa, de um verde fosforecente, algo como se estivesse deitado sobre água, mas, era firme, e amaciava com o peso do meu corpo. Não tinha temperatura, nem frio e nem quente, e o mais louco é que meu corpo não sentia esse material, era como se eu estivesse deitado sobre o ar. O ambiente era de uma luz violeta neon, muito calmo aos olhos, e não tinha paredes, teto ou solo. O silencio era profundo, irritante e assustador. Para todo o lado que eu me voltava, via apenas um horizonte infinito, tanto para cima como para baixo. E tive medo de sair da maca, pensando cair nesse infinito abismo. E a sensação era por demais desconfortante, achei que estava morto.

    Nisso, me senti sendo vigiado, algo ou alguém me observava, e vi alguma espécie de vulto transparente se locomover ao meu redor. Então, pela primeira vez senti algo que me tocou!

    — Uai!

    — Calma!

    — Quem é você?

    — Então, provou.

    — Provei o quê?

    — A sensação de sentir nada.

    Ao ouvir isso, perplexo me calei. E pasmei! Vendo uma espécie humanoide alta e magra a minha frente. Com olhos extremamente azuis e findados como os asiáticos, cabelos brancos longos, e pele extremante branca, fria como a de um cadáver. E, diante do meu silêncio e espanto, ela continuou a dizer, falando sem mexer a boca, que mais parecia uma fenda em seu rosto magro:

    — Assim, somos ‘NÓS’. Não temos a capacidade de sentir como vocês, e os invejamos por isso. Essa forma que você vê a sua frente, não é nosso corpo. É apenas um traje, pois vocês não têm a capacidade de nos ver sem ele. Somos seres pertencentes a outra dimensão, que vai muito mais além de sua física e compreensão.

    — De onde são vocês?

    — Somos seres da Quarta-Vertical, um mundo mais além do que a matéria física. E, nesse momento você está diante de uma plateia de nós. Não pode vê-los, pois, estão sem seus trajes físicos. Porém, saiba que também você usa um traje, e ele que te faz sentir. Mas, nós, mesmo com nossos trajes, não podemos sentir como você sente, e perceber como você percebe. Apenas percebemos as coisas físicas, através de alguns impulsos elétricos de contato nos transmitidos por nossos trajes, que são mínimos, sem sentimentos e emoções.

    — Onde fica fisicamente a Quarta-Vertical?

    — No plano físico, conhecido por vocês como seu sistema solar. Em que nossa Morada é o Sol.

    — Então, estou no Sol?

    — Claro que não! Seu corpo físico não aguentaria.

    — Onde estou?

    — Em nosso ponto de contato. Na parte oculta da Lua. É daqui que o observamos, desde sua criação como seres existenciais. E, temos alguns de vocês aqui conosco. Na verdade, somos seus guardiões, mensageiros e protetores.

    — Protetores! Contra quem nos protegem?

    — ‘DELES’ e de vocês mesmos. Pois, se assim não fosse, vocês não mais existiriam como espécie.

    — ‘DELES’ quem?

    — Aqueles a quem vocês chamam de seres infernais. No início, ‘ELES’ eram como ‘NÓS’, e vieram de ‘NÓS’. Mas, se corromperam. Pois, desejaram sentir a emoção que vocês sentem. Por isso, eles lhes causam dores e prazeres, para sugar as energias de seus sentimentos. E, fazem isso agora, através da internet. Por isso, lhes deram esses pequenos dispositivos que vocês carregam em suas mãos. O próximo passo deles, é implementar esses dispositivos aos seus corpos físicos. Aí, então, drenarão suas energias vitais, como um canudo drena o líquido numa garrafa de refrigerante.

    — Onde eles vivem?

    — Antes viviam aqui na Lua, depois os expulsamos para Saturno e Plutão. Mas, quando fizeram o pacto com os muitos chefes e governantes de sua sociedade, precipitaram-se na terra. Quando teve uma grande chuva de meteoros. Então, agora vivem entre vocês.

    — E, como podemos reconhecê-los, se vivem entre nós?

    — São os seres lagartos, mas se disfarçam com trajes humanos. Por tanto, seus trajes se alimentam de sangue, e são sensíveis a luz do sol. Por isso, procuram andar mais a noite, e poucas vezes a luz do dia. E, para resistir a luz diurna, precisam beber inúmeros litros de sangue humano fresco e vital. Só assim, os trajes resistem por mais tempo. Porém, alguns deles se tornaram híbridos, cruzando com a sua espécie. E são metades humanos e ‘reptilianos’ como alguns de vocês qualificam. Mas, mesmo assim, precisam de sangue humano para viver. E, como vampiros modernos, eles criaram os bancos de sangue, espalhados por todo mundo. Onde vocês creem estar doando sangue para pacientes hospitalizados, mas apenas 2% desse sangue vai para esses pacientes que necessitam, o resto é comercializado entre eles.

    — E por que vocês não nos alertam sobre isso?

    — Não podemos interferir. Foram vocês que atraíram eles. Suas escolhas. Seus livres-arbítrios.

    — Como assim, nossas escolhas?

    — Por acaso, você não leu a parábola de Adão e Eva?

    — Mas, isso é apenas um mito!

    — Não é apenas um mito. É uma metáfora da realidade, representado em sua espécie dividida entre macho e fêmea. Um código, para os sábios decifrarem.

    — E, por que não nos contam a verdade diretamente, e só nos dão metáforas?

    — Veja o que vocês fizeram com a verdade… ridicularizaram. Enviamos muitos para lhes dizer a verdade. Muitos de nós nascemos como avatares para lhes falarem, e veja o que nos fizeram? Nos mataram, assassinaram, minimizaram. E, mesmo nascendo entre vocês como humanos, ao longo do tempo nos transformaram em engodo e mito.

    — Mas, isso foi em tempos de muita ignorância. Hoje temos tecnologias para registrar e comprovar.

    — Tempos de muita ignorância… saiba que não existe tempo onde a ignorância é mais forte e abrangente do que esse em que vocês vivem. Suas redes de informação, academias e filosofias são lotadas de teorias e não de práticas. Vocês não experimentam mais. Não observam mais… só emulam. E agora que mesclaram a realidade e a fantasia, você acha que nos ouviram? Seremos ridicularizados e banalizados mais uma vez… por isso, agora agimos em oculto sigilo. E falamos na linguagem que vocês não podem deturpar, que são as parábolas e metáforas. Poesias de mistérios místicos e ocultos, que lhes encantam, e fazem pensar. Até serem assimiladas por corações puros, lapidados e lavados que nascem entre vocês.

    Ao ouvir aquelas palavras, o mundo parou em mim. E, lágrimas rolaram do meu rosto.

    — Ernesto! Ernesto! ¡Despierta hombre!

    — Ahh! ¿Qué?

    — ¿Qué haces aquí acampado en el campo de cebada güevón?

    — No lo sé … De repente tuve un sueño confuso. No me acuerdo.

    — ¡Vamos! Es tiempo de cosecha. Creo que perdimos una buena cantidad de grano. Bueno, creo que hubo un torbellino esa noche que aplastó los tallos fértiles.­
  • "A Metamorfose" Franz Kafka

    A Metamorfose
    Autor:Franz Kafka - Áustria-Hungria
    Primeira publicação em língua Alemã 1915
    Edição portuguesa
    Tradução J. A. Teixeira
    Aguilar Editora - Europa
    Edição brasileira:
    Tradução Brenno Silveira
    Editora Civilização Brasileira Lançamento1956

     
               Apesar de haver milhares de resenhas sobre esta obra, gosto de fazer a dos livros que, para mim, são especiais e que, por isso, li mais de uma vez 
           Vamos, em primeiro lugar, fugir ao usual e derrubar essa lenda criada quando da tradução para o português desse clássico mundial da literatura que é a novela 'A Metamorfose"
                 Segundo os especialistas na língua Alemã, em momento algum Kafka escreveu que o personagem Gregor Samsa havia se transformado em uma barata como a maioria das pessoas afirma e sim num inseto gigante.
         Há estudiosos que dizem  que pelas características descritas no livro trata-se de um besouro gigante.
                  Prefiro ficar do lado dos que pensam que ele não definiu qual o inseto para poder deixar a cada leitor poder imaginar, qual o mais assustador e repugnante para si mesmo.
                    Gregor Samsa é um caixeiro viajante, arrimo de família, que tem sua história a partir de uma insuspeitável manhã, descrita  pela seguinte frase com a qual o livro inicia: 
          “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama, metamorfoseado num inseto monstruoso...”.
                Gregor era quem sustentava a família, pai, mãe e irmã. Era a salvação dela, mas depois de transformado perdeu o status de salvador e passou a ser um problema até se tornar a vergonha dela. Além da vergonha, conformismo, humilhação e solidão são os principais temas no desenrolar dessa angustiante história.
               Kafka quis retratar a hipocrisia dos homens e da sociedade e conseguiu da forma mais sensacional possível em se tratando de uma novela.
                Um livro pequeno, em média com cem páginas, mas de uma grandeza literária de ​​​​tirar o fôlego.  Já há  cem anos entre os mais vendidos no mundo.
                    Se você chegar a uma universidade, provavelmente terá de o ler, ou nas aulas de literatura, ou para algum vestibular, mas se não tiver, leia-o mesmo assim. É extraordinário.

    Rudá Kayke
  • "O Apanhador no Campo de Centeio"

    Resenha literária
    Por Rudá Kayke

    “O Apanhador no Campo de Centeio”
    1951 – The Catcher in the Rye
    Autor: J.D.Salinger
    Tradução para o português: Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster
    Editora do autor 20.ª edição 2017
     

                Apesar dos quase setenta anos da sua primeira publicação o aclamado “O Apanhador no Campo de Centeio” continua vendendo cerca de 200 mil cópias por ano em todo o mundo.
             A história do jovem Holden Caulfield, um adolescente da década de 50 que resolve passar um fim de semana sozinho em Nova York, antes de voltar para casa e contar aos pais que havia sido expulso do internato, uma das mais renomadas escolas do país, por tirar notas baixas, continua sensibilizando leitores em todos os países aos quais chegou.
              Nada de surpreendente ocorre durante a história. Toda ela se passa em dois dias e unicamente na cidade de Nova York. O que cativa o leitor são as reflexões que o jovem Holden faz sobre toda sua vida passada, a aversão que foi criando pela maioria das pessoas que conheceu e a tentativa dele em reencontrar outras das quais gostava, neste curto espaço de tempo.
              Por outro lado, creio, o protagonista nos remete à nossa própria adolescência. Não é difícil nos identificarmos com uma idade em que, para nós, o mundo e as pessoas não prestavam, onde tudo estava errado e ao invés de tentarmos agir para mudar, nos tornávamos “rebeldes sem causa”, querendo mostrar nossa indignação com tatuagens, drogas e rock, como nos anos 50, por exemplo, segundo a história.
              Holden Caulfield não quer estudar, quer ficar no final do campo de centeio apanhando as crianças que chegaram lá e estão prestes a cair no precipício. Apesar de mal-humorado, altamente crítico e deprimido sonha em poder mudar os rumos da vida para os que vem atrás.
                  Embora de enredo simples o livro é de leitura agradável e nos leva a refletir e a tentar entender sob o aspecto psicológico, a personalidade e a ebulição de pensamentos e sentimentos nesse jovem peculiar Holden Caulfield.
    Recomendo como leitura atenta e reflexiva.
  • (SOBRE) O CADÁVER DA BELEZA

    Uma lágrima-sorriso
    se verteu do amar dos olhos,
    com tanto sal, com tanta vida
    quanto a própria luz do olhar.
     
    Uma lágrima choveu do céu dos olhos seus,
    brincando com os ares do rosto,
    num sorriso cáustico
    de que mesmo a vida
    já teria sido sonhada
    alguma vez...
  • [Poemas] DETESTO

    Coisas que eu detesto em você:

    Detesto o fato de você fumar;
    Detesto o fato de você sempre sair pra beber;
    Detesto como você gosta de ser o centro das atenções:
    Detesto como aparenta ser íntimo com toda e qualquer garota;
    Detesto o seu desleixo com os estudos;
    Detesto sua opinião política;
    Detesto como consegue ser bipolar ao extremo;
    Detesto o quanto é pão duro;
    Detesto o fato de você não estar nem aí para nada;
    Detesto o seu jeito de andar se sentindo o fodão;
    Detesto quando suas atitudes vão em confronto com a tua fala;
    Detesto o jeito como se porta diante dos seus amigos;
    Detesto fortemente seu completo desdém;
    Detesto o seu desmazelo;
    Detesto o teu corte de cabelo;
    Detesto como consegue conquistar todo mundo;
    Detesto o seu caminhar como se o mundo estivesse do jeitinho que você quer;
    Detesto quando diz "foda-se" para toda e qualquer situação;
    Detesto o quanto é incrédulo quanto ao amor;
    Detesto as suas falsas convicções;
    Detesto quando você mente;
    Detesto quando me dá desculpa esfarrapadas;
    Detesto quando usa a ironia para discutir comigo;
    Detesto quando me fita e me deixa constrangida;
    Detesto quando teus olhos avelã penetram os meus;
    Detesto a minha tensão quando estou perto de ti;
    Detesto mais ainda quando me vê e me ignora;
    Detesto quando faz eu me sentir "um tanto faz";
    Detesto, sobretudo, quando me ignora, pois eu gosto da tua atenção;
    Detesto como sempre está com uma garota diferente… detesto tanto que sinto ânsia de vômito;
    Detesto o fato de você me fazer sentir ciúmes de alguém que não me pertence, nem mesmo um pouco;
    Detesto como mexe comigo a ponto de eu precisar me esforçar para te odiar;
    Detesto seu potencial para me distrair;
    Detesto o fato de acreditar que estou apaixonada por você;
    Detesto quando afirma que dentre garotas passageiras inexistiu alguém especial;
    Detesto com todas as forças o fato de sequer cogitar o meu "eu";
    Detesto quando me idealizam para você;
    Detesto ainda mais os comentários de que eu te suscitaria qualquer coisa próxima a "mudança";
    Detesto como sempre associam eu a você;
    Detesto ficar questionando para mim mesma o que os outros dizem;
    Detesto memorar a primeira vez que te vi;
    Detesto pensar naquele primeiro ano;
    Detesto principalmente reprisar e sentir uma mormente saudade;
    Detesto ficar imersa numa época em que acreditei vivenciar o meu "primeiro amor";
    Detesto assumir para mim mesma que esse amor era você;
    Detesto me ater a sua afirmação de que as suas borboletas no estômago existiam por mim;
    Detesto desejar uma nova faceta daquela paixão ingênua;
    Detesto enxergar que aquela conexão não há de voltar;
    Detesto como apesar dos pesares, depois de tudo, você me fez sentir especial novamente;
    Detesto com todas as forças o fato de que na verdade somente tomou o meu tempo;
    Detesto reconhecer que acreditei em meias verdades;
    Detesto ter acredito, ainda que por míseros instantes, após aquela noite tudo estaria bem;
    Detesto o fato de depois você ter mudado comigo radicalmente;
    Detesto sua bipolaridade, já falei isso?
    Detesto confessar que havia criado expectativas quanto a nós;
    Detesto afirmar que a alegria das minhas manhãs era te ver;
    Detesto a convicção da minha ilusão;
    Detesto estar tão na cara que não fiz isso sozinha, pois você colaborou fortemente para isso;
    Detesto reconhecer que não fui a única a sonhar e romantizar;
    Detesto a dúvida se também o fiz se decepcionar;
    Detesto te ver e ser incapaz de impedir que tudo torne à minha mente;
    Detesto olhar a estrada e ver o amor juvenil desaparecer;
    Detesto a sensação de ter pedido o eclipse, quem sabe, a álea que mudaria nossas vidas;
    Detesto poder apontar com precisão que perdemos o acontecimento do século;
    Detesto a minha intuição da sua cegueira, eis que não enxerga nada disso;
    Detesto a sua presença, que me impede de virar a página;
    Detesto como tudo desabou em dias;
    Detesto tu não ver os meus cortes;
    Detesto tu não mais se importar;
    Detesto me sentir incapaz de apagar tudo, como fez você;
    Detesto não entender os seus porquês;
    Detesto pensar naquela palavra "esquecer"; soa tão "você"
    Detesto me ver resumida a nada para você;
    Detesto assumir que imploro ao universo para te esquecer;
    Detesto exatamente esse agora, que apesar de vividas as memórias, já não me fazem sofrer;
    Detesto olhar o futuro e cogitar encontros;
    Detesto a hipótese de duas pessoas que não mais se conhecem com memórias em comum;
    Detesto agora desabafar num post-it, enquanto o que eu mais desejava era dizer diretamente a você;
    Detesto saber que jamais terei a oportunidade de esclarecer;
    Detesto recordar com fiducia o seu aviso de que não iria me permitir te confundir novamente;
    Detesto usar a frase com o intuito de suavizar o "estou me apaixonando novamente por você";
    Detesto esses temores bobos;
    Detesto a certeza de que este escrito jamais chegará a você;
    Detesto você sequer gostar de ler;
    Detesto como não se dá conta que eu o conheço melhor que até mesmo você;
    Detesto questionar maneiras de te remeter:
    Detesto antecipadamente sofrer com a ideia de ti amassá-lo sem mesmo ler;
    Detesto o contraste entre a minha alma escritora e o seu analfabetismo;
    Detesto este caso concreto fazer valer a máxima "o que não vira amor, vira poema";
    Detesto pensar em jamais isto publicar, com receio de ti não gostar;
    Detesto apontar a nossa história como a minha mais intensa e o mesmo não partir de você;
    Detesto ter enganado a mim mesma naquela noite;
    Detesto aquela noite marcar a minha vida, enquanto para ti foi um anoitecer qualquer;
    Detesto constatar o tempo que despendi nisso aqui;
    Detesto cada fantasia minha frustrada;
    Detesto a música solene daquele 28 de agosto;
    Detesto sentir saudade daquele agosto;
    Detesto o quanto ainda queima as memórias dos dias quentes;
    Detesto cada uma das controvérsias. Por falar em controvérsias, desde o princípio foi assim, por muito tempo acreditei que te amei, de uma forma que jamais imaginei;
    Detesto este amor em cem linhas.
  • 10h15

    10h15

    (sob alfazemas)


    E sempre escrevi o mesmo poema…

    Em vozes diferentes e em esquemas

    dissidentes. Não raro muita emenda

    atrás da outra — um filme sem cena.


    No meio da manhã sinto a alfazema

    imensa deste vendaval e das nuvens

    que colorem os raios da cor que surge

    entre os pastéis e o fundo da ferrugem.


    Às onze e um os clarins da tarde executam

    as exéquias do que foi orvalhada e chuva;

    chilros e minuanos — e criador e criatura.

    Onze e quarenta e está pronta a sepultura


    rasa e sem mármore da fome desta tortura

    de cheirar o futuro antes da própria fissura.

                                                                          

                                                                                 

  • 10h48

    Vejo a pátina do castiçal das dez e vinte e cinco

    dessa manhã de zinco — que devolve o brilho

    lusco-fusco de suas luzes opacas e de cinzas

    múltiplos. E de lado a lado um colar perolado,


    feito se o sol — ao contrário — fosse prateado.

    Às dez — e quarenta cravado — o verso furta

    a trajetória do poema e segue outra arquitetura

    — muito distinta da qual o poeta havia pensado.


    Depois de quatro minutos, surge um azul na fresta

    no penúltimo quadrante da janela do quarto aberta.

    Dez e quarenta e cinco. Ainda dez e quarenta e cinco.

    A tortura das horas. E antes dos cinquenta eu termino

  • 10h50 — ainda —

    No devagar depressa do tempos…
                             Guimarães Rosa
     
    Busco aquele verso embutido na desimportância,
    pois é dela o calibre predominante e a fragrância
    do elixir do poema que importuno — mesmo antes   
    da minha sina de assistir às olarias dos amanhãs…
     
    Há os desertos sobre as poeiras que se atravancam
    na cerâmica dos cômodos da casa, entre as sancas,
    nas teias altas que balançam, nas dobras das camas
    caladas e por dentro do vermelhão vivo da varanda. 
     
    Há as percussões das xícaras sem o café da manhã,
    as cores transeuntes ao redor das horas cotidianas,
    e a pedra devagar e depressa da rotina, esta anfitriã
    que esfarinha os ossos, muda, num segredo de divã.
     
    Às dez e cinquenta, sinto o alumínio elétrico do dia.
    E tudo em mim escoa, mas anseia ser poesia, ainda.
  • 11h07

    fico no aplicativo feito uma máquina

    indo e vindo vindo e indo no teclado

    só para saber se você está conectada

    e implorar que visualize a mensagem


    abro e fecho a digital é o abracadabra

    dos acessos e ilumina a tela desejada

    que surge e que desliza e que abastece

    a fome funda deste futuro ainda incerto


    entre a ansiedade da nuvem que estabelece

    a coordenada hostil do mundo quase frenético

    e o domingo trafega na via cirúrgica da gilete

    de um vento que desce e trafega e desaparece


    sobe a clorofila das onze em ponto da árvore

    em frente à janela e vejo o morro verde claro

    ardósia esmeralda que encosta no azul celeste

    do velório antecipado da manhã às onze e sete.

  • 12h15

    Ando por entre os assoalhos da alvorada.

    A manhã é Fellini. É terminal. E abafada.

    As horas são drágeas coloridas que matam

    este silêncio e a sua mentira de ser pausa.


    Há franjas de nuvens estendidas nas águas

    de um céu de fumaças distantes e rasas

    que exalam a erva defumada das almas

    quando transitam anônimas pela calçada.


    Doze e quinze — a garoa opaca se espalha.

    Estou sobre a marquise — eu e esse nada.

  • 13h58 — herbáceo —

    Um poema vazou pelos corredores
    da manhã malhada e de seu adorno
    espalhado ao redor do grafite fosco
    do ontem que ainda se parece hoje.
     
    E os minuanos refrescam todo o corpo
    sempre abafado e calam a minha boca.
    Cai uma chuva em pó na linha do morro
    tomado da ardósia das milhões de folhas
     
    e da samambaia deste fougère que sobrevoa
    o tom das treze e cinquenta e quase quatorze.
  • 192

    E amar e te amarrar no desfiladeiro livre,

    feito esta pedraria esparsa que se desloca

    entre o eco do céu turquesa da tua órbita.


    E inundar cada pele sem pelos e cada fatia

    ao redor da barriga aos roxos dos mamilos intumescidos: a rigidez dos teus holofotes.


    Escalar os músculos e dar com a tua língua

    e fundir duas carnes em múltiplos galopes.

    Te amar com a dependência de quem vive.


    E com a emergência doída de quem morre.

  • 2/3

    Sempre mais lento, assisto ao filme,
    talvez, o que, e afinal, melhor define
    esta fila random de cenas e de limites,
     
    a vida em cores, acorrentada no timbre
    do tempo e na bola de ferro do regime.
    E tudo acaba num verso que não existe.
  • 23h40 (ao vivo)

    O cenário da noite desmaia na estopa gelada

    do céu monocolor antes de virar madrugada.

    Vinte e três e quarenta e três e o nó não desata

    quando tudo mora nesta fuligem que se acaba.


    Faltam quatorze para o rodopio do calendário.

    Faltam onze, agora. Sinto de dentro do quarto,

    a rajada silenciosa destes dez minutos do prazo.

    Escrevo sobre este instante do relógio que marca


    o pulso grave das horas. A agonia cronometrada,

    feito se o futuro fosse aquele pinga-pinga da água

    que surge da torneira e explode no círculo do ralo.

    Vinte e três e cinquenta e seis. Sete, na verdade…


    Da meia-noite o meu verso vaza quase adormecido.

    O poema não me salva… E não me livra do infinito.

  • 25 Horas

    Penso como sobreviver aqui
    No vazio dentre quatro paredes,
    Sem saber ao certo se sentes
    O mesmo que eu sinto por ti.
    Nesta reflexão da vida decidi,
    Que desisto de desistir de você.
    Motivos os quais nem eu mesmo
    Consigo explicar os porquês.
    E no dia de agora, quando te peço
    Para de minha vida ir embora,
    Ainda te odeio por cinco segundos
    Mas te amo por vinte e cinco horas!
  • 3h00 (pontualmente)

    Sempre estive muito mirado em mim mesmo,
    em meio às alcovas dos sonhos e do unguento
    incapaz de encher o oco das horas e o do tempo
    distorcido lá na câmara de gás do pensamento.
    E é no desenrolar sibilino de todo este enredo
    (o de me deter, contido, de dentro para dentro,
    feito uma feitiçaria que se multiplica em silêncio,
    entre os miolos, os ossos e a elétrica dos nervos)
    que estou preso nas névoas do arrependimento.
    Mas o que fazer a fim de presidir o deslocamento
    desta trilha que me desvia do meu próprio centro
    ao me ver de fora na forma de um outro desenho?
    A madrugada é alta na ópera dos galos dissidentes
    e invisíveis na luz ácida das três — pontualmente.
  • 44 Perfect

    Num mundo governado por heróis, vive Joshua Bontz, um cara que perdeu magicamente sua carne e ficou limitado a sua forma esquelética. Agora, ele vai atrás do seu corpo e de novas aventuras.
    Mas ele não demorou muito para achar o seu corpo (Uma boa quebra de expectativa), ele o encontrou em uma floresta na Ilha Gilliard (Uma ilha média no Oceano Índico). Então, veremos o que acontecerá desse dia em diante.
    Já em South City (Uma cidade pobre no sul de Gilliard), um garoto estava sendo atacado por dois heróis corruptos. Neste momento, um homem de cabelo colorido e de kimono verde acerta um dos heróis, fazendo com que o outro fuja. O homem se chama Baroki Kurashima e tem o sonho de ser rico um dia, graças a sua maldição de manipular ouro falso. E o garoto se chama Roger Ryuu, e quer um dia mudar o conceito de herói (Já que existem muitos heróis corruptos e que abusam do poder) e fazer justiça.
    Baroki então chama Roger para viajar com ele, já que na luta contra os heróis ele sem querer destruiu o barraco do garoto.  Mas, no meio do caminho o herói que fugiu apareceu com um exército para matá-los. Baroki deu conta do exército inteiro com uma espada de ouro, mas o herói conseguiu pegar Roger e quase o mata com um espinho gigante, mas aí Joshua Bontz aparece e o atinge com uma bola de fogo.
    Joshua, Baroki e Roger fogem, pois eles ameaçaram chamar um exército maior. Joshua se apresenta e Roger o chama para viajar com ele, Baroki protesta com desconfiança, mas Joshua falou que seu próximo passo era se tornar um herói e redimir seus pecados. Assim, Baroki disse que queria se tornar um herói também e ganhar muito dinheiro. 
    Os três aspirantes a herói são quase atropelados por um grande ônibus voador. Dele sai um cara muito feliz com um enorme afro verde e óculos escuros, ele se apresenta como Jackson Bee, é um herói renomado e também piloto do ônibus Hero Bus. Como desculpas, Jackson os oferece uma estadia em seu ônibus, que se revela um mini condomínio móvel luxuoso para transporte de heróis. 
    Roger fala para eles que South City é dominada pelo herói corrupto Diamond e que este explora o máximo possível de seus habitantes, por isso a cidade é pobre. Joshua diz que como líder do bando (Baroki protesta novamente), ele iria derrubar Diamond e melhorar a qualidade de vida dos moradores. Jackson diz que Diamond é um dos 44 Perfeitos (Os 44 heróis mais fortes e influentes no planeta inteiro), assim como ele mesmo (Jackson diz também que nasceu no Japão e que seu nome de herói é Cool Jack, revelando que Diamond não é o nome verdadeiro do herói corrupto).
  • 45°C DO SEGUNDO TEMPO

    Procuro um verso na noite azul e ametista.

    Tento baixar aquela estrela na minha lista

    e ouvir os lamentos de quem sozinha brilha

    no meio do nada ou em algo que não exista.


    Não quero do tipo qualquer um me serve;

    talvez algum que forme o contato elétrico

    entre dois polos aleatórios que se atrevem

    a roçar seus limites na sala cinza do cérebro.


    Folheio vários livros. Abro e fecho os arquivos.

    Corro o dedo no drive. Subo e desço e respiro

    quase ofegante enquanto os miolos são fritos

    nesta azia dos signos, no refluxo dos sentidos:


    quando escrevo toda a temperatura aumenta...

    A perna treme. A mão sua. E onde está o poema?

  • 4K

    Meus sonhos são extintos na usina
    do cérebro, pouco antes da cortina
    da aurora desabar sobre a espinha
    da ex-noite roxa, que agora é cinza.
     
    — Mas essa imagem nítida cristaliza
    (quando o devaneio é seu, e sozinha)
    os desenhos de toda a sua topografia
    (e é feito se encontrar com a poesia).
     
    Um azul cobalto metálico predomina.
    Às 18h, tudo pode virar manhãzinha.
  • 5h38 (tangerina)

    Há sobre a aurora uma garoa teimosa...

    Molha o raio de todo o orvalho que brota

    do bebê do dia onde o rosa sem demora

    sumiu do amarelo do contorno da encosta.


    Pode o poema se tudo é uma saudade agora?

    Fazer o que se o meu verso voou e foi embora?

    Estou muito cheio desse vazio oco que implora

    a tangerina do seu beijo e os degraus do seu pódio.


    Projeto nas paredes as imagens que assolam

    a sua falta. Ouço aqueles ais dos ecos da copa.

    Sinto o dulçor do perfume do amor do seu colo.

    Puxo risos altos dos pés sob pés da nossa história.


    No meio da manhã e entre os lamentos da memória,

    não há nas dez e dezenove nem uma garoa teimosa.

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