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literatura urbana

  • Ciclo e reciclo

    Fica! Larga esse telefone na mesa e me dá essa certeza de que você é real e verdadeira. Quero te ganhar devagarinho, trás sua mão com carinho antes que o celular te distraía. Deixa eu descobrir o seu mistério, sim, é isso que eu quero, pra poder te decifrar e te fazer feliz.
    Vai! Me dá um pouco de saudade que já nessa idade também me faz bem. Fica longe por um tempo, pra eu aprender como o vento, pode me fazer lembrar da tua essência. Conhece outro cara, mas por favor não se amarra, tenta lembrar que eu também sou seu.
    Volta! Pega o telefone e me deixa ouvir a tua voz, me diz que ainda existe nós, pra que meu coração acalme essa ansiedade. A gente marca num bar ou em qualquer outro lugar, só não me deixe aqui sem saber de você. Trás com você essa alegria me conta como foi o seu dia, pra gente fazer isso tudo outra vez.
  • Cidinha

    Era uma vez uma bela menina chamada Cidinha. 
     Sua mãe morreu no parto e seu pai, sentindo-se muito sozinho, casou-se de novo pouco tempo depois.
     Sua madrasta fingia gostar dela, mas, após a morte do pai de Cidinha, atingido pela explosão de um bueiro no centro da cidade, se revelou uma verdadeira megera. 
     Com o dinheiro da indenização, foi morar numa casa enorme na zona nobre, próxima ao Morro do Castelo, tratando Cidinha como uma empregada, a colocando para limpar, lavar, passar, cozinhar, etc. 
     As meio-irmãs de Cidinha, duas patricinhas feias e arrogantes, sempre a tratavam mal e atrapalhavam todas as tarefas para que ela demorasse e não tivesse tempo pra mais nada. Seus únicos amigos eram dois garotos que faziam malabarismos no semáforo em frente ao mercado em que Cidinha fazia as compras e a quem ela dava alguns trocados escondida vez em quando.
     Um belo dia, Cidinha viu numa rede social que um funkeiro famoso, MC Princeso, faria um baile, no Morro do Castelo, comunidade em que ele cresceu. Ela, que era fã, ouviu as irmãs comentarem com a mãe e disse que queria ir. As três então riram de perder o fôlego. – Você nem tem roupa pra sair, menina. – disse a madrasta – Se arrumar uma roupa bonita e terminar todas as tarefas, eu deixo você ir. – Disse zombando. 
     Cidinha abaixou a cabeça e voltou para as tarefas chorando. Sabia que era impossível arrumar uma roupa para o baile. 
     Naquele dia, ao ir ao mercado, seus amigos perguntaram o porquê dela estar tão triste e ela contou o motivo. Compassivos com a menina, eles pediram para que a mãe, costureira de mão cheia, fizesse um vestido bonito para Cidinha ir ao baile. 
     No dia do baile, ao ir ao mercado, os meninos entregaram então o vestido. Não era muito requintado, mas, era muito bonito. Se ofereceram, também, para ajudá-la nas tarefas de casa. 
     Cidinha chorou de alegria. Agora poderia ir à matinê do MC Princeso. 
     Aproveitando que as irmãs e a madrasta estavam no salão de beleza, deixou os meninos entrarem e, com a ajuda deles, terminou todas as tarefas bem cedinho. 
     Os meninos se despediram e ela foi tomar um banho para experimentar o vestido. 
     Estava se admirando no espelho quando as irmãs chegaram. O vestido era lindo e realçava toda a sua beleza. Isto despertou a inveja delas que, fingindo brigar uma com a outra, rolaram para cima de Cidinha e “acidentalmente”  rasgaram seu vestido. 
     Ela chorou mais uma vez, de raiva e tristeza, já convencida que não iria ao baile. 
     Pouco antes da hora da matinê, as irmãs e a mãe, devidamente arrumadas, deixando escapar risadinhas, se despediram e saíram. Iria recomeçar a chorar quando o telefone tocou. Era sua madrinha, que não via há um bom tempo. Ela sentiu a menina triste ao falar e perguntou o que houve. Cidinha contou sobre o baile, a roupa e tudo mais. 
     Sua madrinha pediu que não saísse de casa e desligou. 
     Chegou alguns minutos depois com um vestido que a filha de sua patroa havia emprestado. Era bonito e caro. – Comprado em Nova Iorque. – Ela disse. 
     Ajudou a menina a se arrumar e pediu um Uber, além de dar algum dinheiro, mas, tudo isso com uma condição: que Cidinha voltasse antes da meia-noite. A menina aceitou e partiu para o tão esperado baile. 
    – Mando um carro te buscar! – gritou a madrinha enquanto ela saia.
     Chegando no baile, logo encontrou seus amigos malabaristas do semáforo, desta vez, muito bem arrumados. Contou sobre o vestido e pediu desculpas. Disseram estar tudo bem, felizes por ela ter ido. 
     Dançavam muito e a beleza de Cidinha chamava a atenção de muitos rapazes, em especial do MC Princeso, que observava do camarote VIP do baile. 
     Ele pediu que um de seus seguranças chamasse ela até o local em que ele estava. 
     Quando o homem enorme contou para Cidinha que o MC estava chamando, seu coração disparou de empolgação. 
     Chegou no camarote e foi recebida com  dois beijinhos no rosto. 
     – Você dança muito bem – disse Princeso – Vem dançar comigo!
     E dançaram.
     E Todos queriam saber quem era a menina bonita dançando com o MC. 
     – É a Cidinha? – Disse uma irmã. – É a Cidinha! – Disse a outra. E fervilharam de inveja.
     Cidinha riu, dançou e se divertiu, mas, ao ver as horas, se assustou: era quase meia-noite!
     Disse que tinha de ir e Princeso pediu que esperasse. – Tá quase na hora de eu cantar. Fica – disse o rapaz, mas, Cidinha apenas disse não poder e saiu. 
     Na correria, arrebentou uma das sandálias nas escadas, mas, com medo de perder a hora, deixou para lá e partiu. 
     Princeso percebeu que não havia perguntado o nome da menina e pediu que o segurança corresse e perguntasse, mas, mesmo saindo logo após Cidinha, não encontrou nada além da sandália arrebentada. 
     MC Princeso se apresentou naquele dia com a cabeça longe. Na bela menina que o encantou. 
     Cidinha voltou pra casa extasiada. Foi ao baile e ainda conseguiu conhecer pessoalmente MC Princeso. Porém, sua alegria durou pouco. 
     Sua madrasta a repreendeu por ter ido ao baile e suas irmãs, com inveja, sugeriram que trancasse a menina no quarto, saindo apenas para as tarefas. 
     Princeso não conseguia parar de pensar na menina do baile do Morro do Castelo. Mas, não sabia como encontrá-la. Nem mesmo sabia seu nome. 
     Resolveu postar nas redes sociais que estava a procura da garota que esteve com ele no camarote no dia do Baile, com a foto da sandália perdida por ela. 
     Choveu meninas dizendo ser ela, mas, nenhuma realmente era. 
     Já estava desiludido quando viu um mensagem de alguém dizendo que sabia quem era e onde ela morava. 
     Foi até o local indicado encontrar com o menino: um sinal de trânsito em frente a um mercado num bairro nobre.
     Lá chegando, o tal menino e o irmão o levaram até um casarão antigo. 
     Princeso tocou a campainha e as irmãs de Cidinha ficaram sem reação ao atender a porta. 
     A madrasta pediu que entrasse e  as irmãs ficaram tentando roubar a atenção dele. Mas, estava determinado a encontrar  a menina do baile. 
     Quando perguntou se ela estava, uma das irmãs já ensaiava dizer que não quando um grito veio de um dos cômodos: – Eu estou aqui!
     O MC foi em direção ao quarto e, disfarçadamente, a madrasta destrancou a porta. 
     Cidinha saiu do quarto. Estava com roupas simples, mas, não menos bonita por isso.
     Princeso e ela conversaram no sofá por quase uma hora sob o olhar incrédulo da madrasta e os olhares invejosos das irmãs. 
     Ele a convidou para um final de semana numa casa de praia. Sua madrasta disse que iria como responsável, mas, Cidinha disse que chamaria sua madrinha. 
     Se conheceram. Se gostaram. Namoraram por 6 meses. 
     Terminaram após ele se envolver num escândalo com uma dançarina. 
     Aproveitando os holofotes de subcelebridade, Cidinha criou um canal na internet, ganhou algum dinheiro com isso e foi morar com a madrinha. 
     Não foi feliz pra sempre, mas, teve muitos bons momentos, pois é assim que a vida realmente é.
  • Ciranda caiçara

    Aqui no Arraial o tempo passa diferente. Tão diferente quanto o verdear das folhas do pau ferro que cresce desenvergonhadamente pelas matas. Tão movimentado quanto as andanças eólicas das dunas brancas da praia. 
    Um mundo adimensional que somente o folclore consegue captar a intensidade. É nessa crença pelo impossível que vivo. Uma fé que rege todo um povo e seu descompasso com a realidade.
    Lá fora o mundo é caos. Se divide, se afasta, se expurga.
    Aqui dentro o mundo é alienígena. É ciranda. É encanto.
    É gratidão que se torna praia.
    É paz e amor que se torna festa, forró, samba.
    Uma pisadinha, uma passadinha. Ninguém viu. Nem o inominável.
    Segue a ciranda, seguem os cirandeiros. Aqui onde máscaras cobrem os rostos dos encantadores das massas em meio ao seu navegar na bolha da vida. A morte e tristeza do mundo não alcança o coração do cirandeiro. Solidariedade é palavra em desuso, é termo sem sentido quando o que importa é o afago ao ego. O único deus possível.
    É ano que chega, é ano que vem. Mais uma onda vou pular. A Iemanjá vou rogar por alegria, paz e proteção para o meu mundo se curar. 
    O meu, somente o meu.
  • Círculo

    Para a Poetisa Diana Pilatti

     

    Palavra: fetiche

    Palavra: fantoche

    Palavra: feitiço

    Palavra: fantasma

     

     

     

     

     

  • Clic

    Poema Clic

                           Clic

                       A    l u z 

                 A s s o m b r a

             A s     S o m b r a s                  




  • Coerência Espiritual


    coerencia espiritual 671x1024
    Muito Antes De Saber Quem Eras Kudza Já Tinha Medo De Te Perder, Um Anjo Nunca Deve Entrar No Reino De Uma Deusa Sem Uma Prenda, Aqui Esta Minha…

    Eu Só Vivo Enquanto Estou Acordado Ainda Assim Tenho Tempo De Vender Os Meus Sonhos… Se A Evolução Dos Indevidos É Influenciada Pelas Suas Órbitas Sociais, Por Favor Agrafem-me Esse Pensamento Porque Fora Das Redes Sociais Não Somos Assim Tão Sociais, Com A Quantidade De Satélites Que Existem Por Ai Nunca Vi Um Eclipse Do Ponto De Vista Espacial, #ViverÉMaisQueExistir!!! Mesmo Perante A Claridade Fria Da Admissão Eu Sei Que Não Sou Assim Tão Especial, Isso Eu Tenho Que Admitir!!! Eu Não Quero Parecer Ignoratico Apenas Ambiciono Transmitir As Transmissões Que Modificam As Cerimônias Que A Natureza Tem Com A Minha Interioridade Subjetiva, Exprimo O Que Imagino Pensar Isso É O Que Penso Falando, A Minha Livre Iniciativa Perdeu-se No Infinito Da Minha Imaginação, O Nosso Único Contacto Só Se Torna Possível Através Das Palavras Que Te Vão Titulando, Pela #CoerênciaEspiritual Do Klan Coração.

    Só Eu Sei Que Tu És Um Milagre! A Questão É Porque Que Procuras Por Um Lugar Para Onde Te Esconder? Dá-me A Oportunidade De Retirar-te Do Mundo Pecador Sem Extinguir A Tua Faísca Espiritual, Dá-me A Oportunidade De Exceder A Divina Altitude Do Puro Amor Da Sua Escravidão Atual, Dá-me A Oportunidade De Recolher Os Sinais Da Infinita E Viva Riqueza Do Teu Ser Com Essa Citação Textual… A Vida É Minha… A Vida É Tua… Ainda Assim Todos Tentam Esculpir A Sua Especulação, É Como Se A Minha Atividade Pensante Finalmente Tivesse Desculpado O Desespero E Alistando-se Para As Primeiras Fazes De Reabilitação, O Teu Sorriso É Um #TestemunhoIrrecusável Que Abraça A linguagem Emocional Dessa Sintética Invenção, Kedson Encontrou A Animação Que Vivia Ocultada Pela Falência Do Seu Poder Decisivo, Ela liberta Toda A Minha Tesão Fazendo Com Que O Cio Se Perca Do Sentido De Excedência Enquanto Deslumbra Os Seus Ângulos Persuasivos, Tenho Que Admitir Que Eu Sou… Eu Sou O Teu Tarado, Toda Essa Comoção Poética Radicalizou A Identidade Que Por Ti Diz Estar #OficialmenteApaixonado.

    “Independentemente Da Concorrência, O Klan Luta Para Vencer”

    Sei Que Muitos De Nós, Eu Incluído, Vivemos Aterrorizados Pelo Medo De Uma #MorteSolitária, Por Isso Damos A Mão A Palmatoria A Todos Os Comportamentos Violentamente Assediados Que Conformam Essa Lei Ordinária, Procura Saber Estar Sozinha Sem Te Sentires Sozinha, Porque A Teoria De 2 Pessoas Por Caixão São Como Os Problemas Invisíveis Que Diariamente Confrontas Mas Nunca Atingem A Suas Consagradas Fazes Revolucionarias, Tu Nunca Estarás Sozinha!!! A Importância Da Dor É Uma Dos Tesouros Que Encontra-se Refletida Na Sensibilidade Do Tempo, Tu… Nunca Estarás Sozinha!!! Isso É Uma Verdade Cronologicamente Posterior As #CoordenadasDoPassado, Acredita… Que Nós Temos O Poder De Crias Novas Realidades, Se Estiveres Disposta A Fazer Uma Nova Refração Do Nosso Tempo, Todos Esses Séculos De Perturbações Serão Historicamente Ultrapassados, Porque Eu Começarei Conjugando Todas As Parcelas Da Verdade Em Uma Soma Razoável Das Questões Que Por Mim Te Têm Imprensado, Aprende Com Os Erros Das Outras Pessoas Porque Tu Não Os Podes Refazer, Sim… Eu Estou Interessado!!!

    Os Recursos Racionais Da Minha Honestidade Procuram Abrir A Sua Alma De Forma A Permitir A Entrada Do Teu Sublime Efeito, Eu… Reduzido Aos Últimos Artefactos Da Minha Existência Ainda Endividado Pelo Amor Que Nunca Foi Perfeito, Sentia-me Obrigado A Ultrapassar #AsFronteirasDeIndecisões Que Se Encontram Entre Mim E As Dimensões Do Mundo, As Universais Dúvidas Entrepostas Sobre A Fé Acompanham O Desenvolvimento Que Estrutura O Preconceito Que Embora Não Aflore De Um Modo Incisivo E Sistemático, Permanece Categoricamente Solidificado Pelos Movimentos Casuístas Emitidos Pelos Panos De Fundo, Nem Todos Os Indícios São Favoráveis É Mais Preferível Observar As Modalidades Do Ser Em Modos Particulares, Os Detentores Dos Comportamentos Intelectuais Suscitam As Alusões Negativas Das Suas Constituições Disciplinares Zumbindo Os Aspetos Parcelares Pelos Seus Olhares, Muitos De Nós Não Estamos A Viver Os Nossos Sonhos, Muitos De Nós Estamos A Viver #OsNossosMedos, Caminhamos De Modo Inegável Porque Temos Obrigatoriamente De Nos Tornar Similares Ao Aceitável, Ainda Assim Eu Procuro Determinar Todos Os Meus Imprevistos Movimentos No Tecido Social Desta Falecida Personalidade, A Inexplicável Origem Da Esperança Promoveu-me Com Os Seus Atributos Que Hoje Levam-me A Procurar Figurar O Universo Contemplando As Aspirações Das Células De Destino Concordante Que Povoam Essa Nossa Plana Sociedade.

     Hoje É Um Dia Mágico E Sei Que Todos Esperam Que Eu Diga Algo Que Se Assemelhe Ao Projeto Deste Calibre, Tirando O Álcool O Sexo E As Drogas, Não Existia Nada Que Me Permitisse Uma #SeguraPenetração No Mundo Da Cognição Individual Deste Ser, Tudo O Que Vês, Ouves E Sentes Foi Inaugurada Pelo Radiação De Informação Proveniente Do Pensamento Humano, Por Isso Vive Com O Objetivo De Replicar Algo Que Ainda Não Existe, Desculpem Por Me Amar A Mim Mesmo, Desculpem Por Amar A Minha Vida E Desculpem Por Não Tentar Televisionar Esse Mesmo Amor, Eu… Admirava-te De Tal Forma Que Estava Disposto A Maquinalizar As Minhas Virtudes Com A Intenção De Alcançar Os Teu Avanços Tecnológicos, As Peças Silenciosamente Sem A Minha Licença Encaixavam-se Num Ato Industrial, Direcionados Aos Diferentes Alvos E Objetos Que Impulsionaram A Minha Interna Revolução Para Os Séculos Da Época Atual.

    A Forma Física É Uma Peça Importante Mas Para Mim Não É Integral Nem Satisfatoriamente Aceitável, Não Passa De Mais Uma Teoria Que Precisamos Para Ultrapassar O Dia, A Vida Precisa De Mim Bem Acompanhado, Kedson Para De Questionar As Sombras Que Se Encontram Nas Paredes E Procura Pela Tua Luz, Mas Lembra-te Que Nem Todas Elas Projetam As #FundamentaisExigências Das Tuas Sensibilidades, Mas Ela.. Ela É Um Mito Salvador Criado Entre As Linhas Das Fabulações Da Mesma Imaginação, Kudza- Eu Gosto De Como Beijas E Acaricias O Meu Corpo Toda Aquela Interligação É Uma Autêntica Abordagem Sistemática, Sinto-me Como Se Estivesses A Desembrulhar A Minha Mente E Encaminhando Toda A Tua Ficção Para O Centro Do Meu Agir, Porque Ela É Das Poucas Pessoas Que Em Mim Faz A Diferença Dramática.

    “A Linguagem Recria As Coisas Que Não Se Falam”

    Kedson Ouve-me… Quando Estas Seguro Do Teu Chão Nada Te Pode Abalar, Tudo O Que Tem De Acontecer Irá Acontecer Apenas Segue O Rumo Das Águas Do Mar, Kedson Ouve-me… Quem Vive Do Passado Esta Destinado A Torna-se Num Museu, As Pessoas Só Desistem Porque Não Têm Orgulho No Que Fazem É Muito Mais Fácil Levantar Uma Cerveja Do Que Um Livro Esse Caminho #NãoÉOTeu, Os Visionários Não Podem Ser Imitados, Parece Que Conseguimos Sonhar Mas Não Temos Permissão De Ter Sonhos, Os Visionários Apenas Podem Ser Admirados, Todos Temos A Carta Branca Para O Amor Mais Muitos Apenas Escolhem Amar Os Seus Mensais Ganhos, Se Decidires Descer A Esse Nível Irá Haver Sempre Conflitos, Porque As Lógicas Das Tuas Disposições Aparentam Estar Subordinadas Aos Princípios Das Minhas Finalidades Isso Faz De Ti Um Perito A Correr Pelos Ciclos Dos Teus Próprios Circuitos, Os Núcleos Construtores Da Minha Realidade Não Têm Como Fazer A Racionalização Das Notícias Que Me Chegam, Assimilo-me Aos Instrumentos De Acção Que De 15 Em 15 Momentos Fazem A Construção Das Grandes Linhas Do Ser Que Onde Todos Se Abrigam.

    A Única Diferença É Que Eu Tenho A Capacidade De Aumentar As Minhas Indigências, Para Todo O Klan Que Se Tornou Na Carne Da Minha Especulação Eu Prometo Jamais #AbandonarOPercurso, Para Todos Os Seres Que Foram Concebidos E Solidados Pela Vida E Que Agora Olham Para Os Céus Na Procura Dos Sonhos Que Eles Próprios Cancelaram, Desculpem Mas Nunca Terão As Minhas Condolências, Desistir Esta Fora De Moda Nem Mesmo Em Último Recurso, Estou Destinado A Alcançar A Coletividade Das Almas Amantes Se A Inspiração É Um Jogo De Interesse Eu Movimento Todos Os Artigos Como Se Fossem Os Meus Últimos Discursos, Apenas Desvia-te Dos Funestos Ângulos De Preceptiva Sobre Os Conjuntos Que Se Encontram Semelhantemente Frustrantes, Eu… Dei A Vida Pelo Mesmo Sonho Que Me Encaminhou De Volta A Vida, Quando Pensava Que Era Impossível Ter Um Ponto De Contacto Com O Possível Um Milagre Permanente Conectou A Minha Alma A Consciência Do Universo, Para As #TrágicasOposiçõesQue Se Manifestam Na Obra Da Criação, A Vossas Orgulhosas Negações Iram Para Sempre Diluir-se Sem Afirmações Porque Eu Despejo Todos Esses Imponderáveis Sentimentos Para As Lixeiras Dos Meus Processos.

    “Espero Que Tenhas Recebido A Mensagem Que Acabei De Enviar Para O Teu Coração”

    Kedson
  • Coisas

    Palavra

    falada,

    calada

    palavra

     

    Palavra

    calada,

    falada

    palavra

     

    calada

    palavra

    falada

     

    falada

    palavra

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  • Coisas Boas da Vida

    Se por algum momento na vida você se sentir só, você não está, você tem a deus, tem alguém sempre torcendo por você, se por algum dia você se sentir triste, sorria, a alegria tem uma força imensurável, se por algum dia se sentir fracassado, você não e isso você e vencedor, e tem mais força do que imagina, se algum dia não se sentir amado, lembre-se você e amado sim, tem alguém no céu junto com você !
  • CONTAR

     
    Não sei cantar os teus encantos
    no verso simples que faço:
    eles são muitos, tantos e tantos
    que só cabem mesmo é nos meus braços...


    .................

    © do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, 2005, Fundação Cultural do Piauí. 226 p. Página 182.



  • Crime na Riachuelo

    A moça não tinha muita experiência, procurava um emprego de secretária. Bem ali, na Riachuelo, foi abordada por um bêbado vacilante, que não conseguia se comunicar sem enrolar a fala.  Ela não sabia se vestir muito bem, blusa vermelha decotada, a saia acima dos joelhos e o scarpin velho prateado pareciam adequar-se ao deprimente cenário local. Soubesse antes não tinha se vestido assim para ir justamente à Riachuelo.   Desviou-se do homem, teve quase que empurrá-lo. Estava indo para uma entrevista de emprego, o número do prédio era 78, primeiro andar, sala 13. Achou a rua um pouco esquisita, mas não se importou muito.
     Na sala de espera não tinha ninguém, nem secretária, um bom sinal, afinal, essa era a vaga anunciada.  Os móveis já estavam desgastados e dava para ouvir alguém ao telefone na outra sala. Decidiu esperar um pouco para ver se a conversa parava, não evitou ouvir, o homem falava sobre horários perdidos, dinheiro à toa, falta de senso de responsabilidade. Parecia ser uma pessoa muito dura com as palavras, talvez ela tivesse que se acostumar com aquilo. “HM Representações Artísticas”, esse era o nome da empresa.
    “Maria da Glória é você?”. O homem a surpreendeu, sentada, dormindo no sofá da recepção, uma hora depois de ter chegado. Pediu desculpas pela demora em atendê-la e mandou que entrasse em sua sala. A entrevista foi rápida, o salário acertado e na manhã seguinte, já estava trabalhando.  Sua função era apenas atender às artistas que ligavam marcando horário com o Sr. Augusto, e manter a sala da recepção em ordem. Na sala do Sr. Augusto era claramente proibida de entrar, mas também não fazia questão. Toda vez que alguma mulher estava lá, as palavras do chefe não eram muito amigáveis. Essas artistas não eram gente conhecida, celebridade, mas agiam como se fossem.  Algumas vezes chegou a ouvir alguns móveis se arrastando, copos quebrando, mas no final das discussões parece que elas sempre saíam satisfeitas, ou, conformadas.
    A rotina não durou muito, apenas quinze dias depois, numa manhã de terça-feira, Augusto chegou muito agitado ao escritório. Não a cumprimentou, a atmosfera ficou sombria. O telefone tocou, ele não autorizou a transferir a ligação nem a fazer agendamentos no dia. As artistas estavam ficando irritadas, queriam ser atendidas.  Não eram famosas, mas agiam como se fossem, intransigentes, impacientes.
    Faltavam alguns minutos para o meio-dia, quando dois homens entraram na sala. Não a cumprimentaram, a atmosfera ficou mais pesada, foram direto para a sala do Sr. Augusto, não deu para ouvir nada, parece que ninguém realmente falou nada. Os dois saem rapidamente, batem a porta. Deviam ser fiscais ou algo assim.  O telefone tocou novamente, as entrevistas continuaram suspensas até segunda ordem.   

    A polícia chegou somente no outro dia de manhã.  Sr. Augusto não gostava de ser incomodado, por isso Maria da Glória sequer falou com ele durante todo o dia anterior. A verdade é que ele não havia se manifestado mais depois que os dois homens foram embora. A verdade também, é que a única pessoa no local da morte era ela, Maria da Glória, 20 anos, sem muita experiência. Na sua gaveta, uma Nove Milímetros, de uso exclusivo das Forças Armadas. Jamais usaria uma arma daquela, a polícia sabia, a imprensa também sabia. As artistas da Riachuelo perderam mais um agente, e isso era o que importava. Não dá para ficar sem artista na região, não gira o comércio. A HM Representações fechou e o ponto está sem dono. Vai ficar para alguém da polícia, ou da imprensa, quem sabe. Não se sabe se Maria foi presa, não se falou mais no assunto.

    Aqui, na sala comercial ao lado da antiga HM, só se ouve agora um telefone tocar: o meu. Muitas artistas agendando horário, intransigentes, impacientes. Não dá para ficar sem artista na região, não gira o comércio.
  • Crônicas do Parque: A verdade está onde nunca a procuramos

    Era uma daquelas manhãs escaldantes com temperaturas que variavam de trinta e cinco a trinta e oito graus célsius, com sensação de quarenta a quarenta cinco no centro-norte de Israel. Como de costume me encontrava todos os Yom Sheni (segunda-feira) no parque de Kfar Saba, fazendo manutenção nas piscinas ecológicas.

    Pegava meu bastão de rede, uma caixa plástica preta dessas de armazenar verduras em supermercados, e um balde vazio de comida de peixes ornamentais. Entrava na piscina e submergia até os joelhos no primeiro terraço em que ficava as Nymphoides, espécies do gênero das plantas aquáticas que crescem enraizados no fundo, com as folhas a flutuar à superfície da água, de cores brancas, amarelas e variadas tonalidades de flores rosa, da família Nymphaeaceae.

    Prendia meu smartphone pela sua capa ao cordão que ficava no meu pescoço, em que segurava ao peito um Magen David (Estrela de Davi) com um rosto de leão no centro, e colocava uma música suave para iniciar o meu trabalho de cuidar dos nenúfares.

    Em especial, aquela era a piscina ecológica que eu mais gostava dentre todas outras que dava manutenção no centro-norte. Pois, além de ser a maior dessa região, estava em um parque bonito e tranquilo arrodeado de belas esculturas. Essa piscina era especial, pois era a única de todas que tinha uma original carpa cinza gigante, espécie de peixe de água doce originário da China, e também havia um canteiro com Lótus Branco (Nelumbo Nucifera), um género de plantas aquáticas pertencente à família Nelumbonaceae da ordem Proteales, e também era lotada de peixes Koi (Nishikigoi), tendo o Higoi (carpa vermelha), o Asagui (carpa azul e vermelha) e o Bekko (branca e preta), que são carpas ornamentais coloridas ou estampadas que surgiram por mutação genética espontânea das carpas comuns (carpas cinza) na região de Niigata no Japão, tendo também outras inúmeras variedades de peixes-ornamentais como: peixes-dourados, peixes barrigudinho (Guppy) de diversas cores, aruanãs, entre muitos outros.

    Nesse dia em especial, me senti constantemente sendo observado por um senhor de chapéu azul e cabelos grisalhos que aparentava ter a idade de oitenta anos. Estava bem-vestido e mantinha sempre um sorriso no rosto. Ele se encontrava sentado em um banco largo que ficava próximo à piscina. E lentamente eu me aproximava dele ao curso do meu ofício de retirar as folhas amareladas dos nenúfares. E ao me aproximar daquela figura atraente, eu o cumprimentei com um Boker Tov (Bom Dia), e ele me respondeu com um Boker Or (Manhã de Luz). Assim trocamos sorrisos, e me voltei novamente para o meu ofício matinal.

    Quando o balde em que colocava as folhas amareladas e flores mortas dos nenúfares se encontrou cheio, me retirei da piscina para esvaziá-lo, o despejando na caixa plástica preta que estava perto do banco em que o senhor de chapéu azul se encontrava sentado. E, ao me retirar para regressar a piscina, ele elevou a sua doce voz anciã, perguntando-me:

    — Atah Rotze coz cafeh (Você aceita um copo de café)?

    Então, de imediato lhe respondi:

    — Ken, efshar (sim, aceito).

    Então, ele retirou de uma sacola de pano um bojão de gás pequeno e enroscou uma pequena boca de fogo nele, acoplando. Colocou o aparato ao solo, e retirou da sacola uma garrafa pet de coca-cola com água, uma pequena chaleira e dois copos de aço inoxidável. E, enquanto ele despejava a água no recipiente e acendia o fogo com um isqueiro para ferventar, fez um sinal com as mãos para eu me sentar ao seu lado.

    Enquanto a água estava para ferver, nos apresentamos e ele me fazia inúmeras perguntas sobre mim e meu ofício. Perguntas comuns que eu já estava calejado em responder. E, depois que ele preparou o café, comecei também a interrogá-lo. Para minha surpresa, descobri que ele não era judeu, mas árabe. Sendo que falava um bom hebraico sem sotaque e se vestia elegantemente, como um velho Ashkenazi. Além dele ter olhos de uma cor azul-claros como o céu que estava sobre nossas cabeças. (…Nós, e nossos pré-julgamentos…).

    Ele me falou que viveu muitos anos em Espanha, sendo um mestre sacerdote de Sufi gari (Tasawwuf), uma arte mística e contemplativa do Islão, assim como é a Kabbalah para os judeus. Ele viu o Magen David em meu peito, e disse que era bonito esse símbolo com um rosto do leão no centro. Também, me falou que esse símbolo em que os judeus se apropriaram o colocando em sua bandeira, é de muita importância para o Tasawwuf (Sufismo). E me revelou segredos importantes sobre o significado desse símbolo.

    Conversamos sobre muitas coisas, e eu o interrogava mais e mais, pois vi que esse senhor era muito sábio e ciente de tudo que falava. Ele me revelou coisas sobre a conduta do corpo, como postura e fala. Falou-me sobre pensamentos, músicas e danças místicas, e, sobre alimentação e jejuns para se ter uma vida espiritual equilibrada com o corpo físico. Nesse assunto, perguntei a ele porque não se deve comer carne de porco. Até porque eu já tinha perguntado a muitos rabinos e religiosos judeus o porquê de não comer a carne desse animal, e muitos não sabiam me responder ao certo. E, os que respondiam, falavam que estava escrito nos Livros da Lei, a Torah, mas não sabiam perfeitamente o porquê.

    Diante da minha pergunta, ele sorriu e me disse algo em que fiquei atônito. Contava ele que os porcos eram seres humanos amaldiçoados, por levar uma vida sexual pervertida na sua última encarnação. Ele me disse que por isso dentre todos os animais o porco era o mais inteligente, e, que seus órgãos internos como fígado, rins e coração são muito parecidos com os nossos, pois na verdade era um ser humano que encarnou nessa condição com a total consciência de sua vida-passada, mas que devido fato de estar em um corpo animal atrofiado não podia se comunicar para se revelar como tal. Nasceu nessa condição devido à decadência espiritual de sua vida anterior como ser humano, ao se entregar aos prazeres sexuais nojentos e tenebrosos, por isso esse animal pode levar até trinta minutos tendo orgasmos. E, assim, veio nessa condição para viver em sua podridão, ao comer seu alimento e dormir misturado as suas fezes, mesmo tendo a inteligência de defecar em um mesmo lugar, são condicionados pelos seus criadores (seres-humanos) a viver junto ao seu excremento. Também, ele me falou que o porco não tem a capacidade de olhar para cima, não podendo ver o céu, e sua pele não pode ser exposta à luz solar por muito tempo, pois não consegue transpirar, e pela falta de umidade decorrente do suor pode sofrer fortes queimaduras. Nasceu para olhar para baixo e se esconder da luz, sendo forçado por essa natureza a viver na lama. Ele também me disse, que o porco é o animal mais amaldiçoado do que a serpente, pois os porcos são invulneráveis às suas picadas venenosas. E concluiu:

    — É por isso que não se deve consumir a carne desse animal, por na verdade ser um ser-humano totalmente consciente em forma atrofiada. — e, acrescentou me revelando algo — Você sabia que não há diferença de gosto entre carne humana da carne suína… ambas possuem a mesma textura e sabor.

    Uau! Diante desses fatos que me foram apresentados por esse velho sacerdote Sufi, fiquei estupefato. E, entendi o porquê de George Orwell escolher os porcos para serem os protagonistas da revolução em seu romance satírico (Animal Farm — A Revolução dos Bichos). Provavelmente, ele sabia desse conhecimento do Tasawwuf. E isso me fez pensar, o quanto os antigos sabem do quê não sabemos. Essas são respostas que não podemos encontrar no oráculo Google. Respostas de um velho de oitenta e poucos anos sentando em um banco de parque (se bem que agora poder ser encontrada no Google).

    O velho me vendo atônito, colocou seus aparatos de café na sua sacola, levantou-se, despediu-se e saiu sem mais nada a dizer.

    E lá no banco do parque de Kfar Saba fiquei com a mão no queixo, vendo os peixes e as nymphaeas. Tão Ignorado em minha ignorante aquariofilia.

  • Crônicas do Parque: Rápido Demais

    Já fazia cinco solitários anos em que se encontrava separado e divorciado. Se mantinha firme em sua promessa de não mais se envolver e se entregar a um relacionamento amoroso. Afinal, sofrera bastante quando se separou da sua amada e louca esposa norte-americana (USA), que de repente enlouquecera quando ele achava estar tudo indo bem.

    Lembrara-se quando, por causa da separação, se ergueu de uma depressão que quase o matou de fome, em que ao final do quinto dia sem comer desmaiara caindo da cadeira em que estava sentado solitário trancado no escuro do seu apartamento. Em um instante se viu envolto em uma luz alvamente branca, flutuando em um corredor que o erguera para cima. Aquilo o atraia majestosamente como dando um basta a sua vida terrena de sofrimentos. Porém, de repente, ao súbito, olhara para baixo vendo o seu corpo caído ao chão desgraçadamente. E disse para si mesmo:

    — Não! Não é minha hora, tenho que voltar. Por favor me ajuda!

    E, novamente, lá estava ele, desgraçadamente em seu corpo caído ao chão. Juntou forças e foi se arrastando até a cozinha. Ao chegar, viu um pedaço de baguete duro sobre a mesa, e se esforçando em seu íntimo, apoiando penosamente os seus braços na cadeira, ergueu-se com considerável esforço para pegá-lo. Já com o pão-duro na mão, rastejou até o filtro de água potável em que enchera um copo. E ali caído ao solo com as costas recostadas nas gavetas do armário da pia, comeu vagarosamente o tosco pedaço de pão-duro, junto a goladas de água.

    Quando sentiu que já tinha forças para se levantar, ergueu-se pausadamente segurando com suas mãos as gavetas da pia, como se estivesse escalando o monte Everest. E, apoiou-se sobre seus pês. Foi até o banheiro, e tomou uma longa ducha quente. Ao final, viu que carecera de um choque térmico, e virou a torneira fazendo com que água esfriasse, tomando uma outra ducha fria. E bocejava, estremecia e ofegava.

    Vestiu-se, entrou em seu carro e pegou seu smartphone o ligando depois de uma semana, e vira múltiplas notificações de mensagens e ligações em sua tela. Ignorou-as, indo diretamente ao aplicativo GPS de serviços para procurar um bom restaurante italiano mais próximo, pois muito desejara comer uma pasta com frutos do mar. Depois dessa recaída em que quase lhe valera a vida, prometeu para si mesmo viver como um monge eunuco, distante das perigosas mulheres.

    Assim, estava ele vivendo feliz sem dar satisfação a ninguém para onde ia e o que fazia. Procurava ocupar ao máximo o seu tempo fazendo classes de yoga, pilates, teatro e aprendendo a tocar flauta e piano. Evitava ler, ver e ouvir romances, séries e filmes, músicas e histórias de relações amorosas, em que baixara um moderno e super aplicativo de tarefas, para seu smartphone. Onde ao final de cada dia, dedicava meia hora da sua atarefada vida para fazer a programação do próximo dia, não dando oportunidades para surpresas, fechando assim, as portas para novos imprevistos que o poderia levar a um novo relacionamento, ao conhecer uma interessante pessoa em um lugar desconhecido, fora da sua agenda digital de compromissos fictícios.

    Portanto, acordava, se levantava e ia correr por uma hora todas as manhãs antes de ir para o seu entediante trabalho de programador, em uma dessas grandes corporações Hi-Tech Israelense.

    Em uma dessas manhãs em que corria no parque de Kfar Saba, viu a sua frente uma jovem que tropeçara na pista de exercícios, e machucara um dos joelhos, por um instante decidiu ignorar aquele acidente, ultrapassando-a. Porém, por um ataque de consciência deu meia volta, indo ao encontro da jovem que se encontrava sentada no chão chorando.

    Ao chegar até ela, agachou-se e disse ainda ofegando pelo esforço do seu exercício:

    — Você está bem?

    — Claro que não! Você não vê?

    — Desculpe! Só estou tentando ajudar. Venha, vou te levantar.

    — Ai! Ai! Ai! — resmungou a moça não podendo se apoiar em uma das pernas.

    Então, ele a carregou em seus braços a levando para grama, pondo-a debaixo de uma Tamareira que fazia uma refrescante sombra. E a perguntou:

    — Você mora por aqui por perto?

    — Moro em Rosh Haayin.

    — Não está tão longe. — falou ele enquanto estava lavando o ferimento do joelho da jovem moça, com a água de sua garrafa.

    — Você está de carro? — perguntou a jovem. — Será que pode me levar até minha casa. — acrescentou.

    Ele hesitou ao responder de imediato, e olhou para o seu smartwatch que se encontrava no pulso direito, sabendo que se a ajudasse, chegaria tarde no trabalho. E, olhando para aquela jovem e linda moça de olhos verdes molhados de lágrimas, não resistindo ao seu apelo, disse:

    — Sim, eu te levo para casa. Mas, vamos rápido, é que estou meio atrasado para o trabalho.

    Ela sorriu, e de súbito o beijou no rosto como forma de reverência. E aquele beijo repentino acendeu um chama nele que há muito tempo se encontrava apagada. E temeu, ignorando aquele beijo ao levantar a moça nas suas costas, apoiando-a como se fosse uma mochila. Ao passo em que ele caminhava com a pesada moça sobre as costas, ela ia tagarelando:

    — Nem ao menos nos apresentamos, e aqui estamos como namorados em que você me leva de macaquinho. Como é o destino, ultimamente só estou conhecendo novas pessoas através das redes sociais no meu celular, e agora te conheço assim, em um acidente, e já temos um contato físico como pessoas que se conhecem a muito tempo. Acho que só os acidentes são capazes disso. Agora me vejo em meio a uma fantasia, nessas cenas de filmes românticos dos anos 80 e 90 que as pessoas postam na internet. O que acha? Eu ainda não sei o seu nome. Como você se chama?

    — Em primeiro lugar não somos amigos, nem muito menos namorados. Em segundo você está muito pesada, e não estou conseguindo me concentrar com essa sua tagarelice. Me chamo Nimirod.

    — Desculpa Nimi, eu só estava querendo te distrair por causa do meu peso e seu esforço. Me chamo Einat. Prometo que não falo mais. Naim meod (Prazer em conhecê-lo)!

    Juntos chegaram ao estacionamento, e ele a colocou no banco da frente do seu carro. Ela ainda se encontrava calada pela dura que recebera dele, e, ele se encontrava sério, meio puto em chegar atrasado para o trabalho.

    Então, ela resolveu quebrar o gelo que existia entre os dois, perguntando-o:

    — Você corre no parque de Kfar Saba todos os dias?

    — Ken (Sim). — respondeu ele secamente.

    — Você mora em Kfar Saba?

    — Lo (Não). — deu outra resposta seca.

    — Onde mora?

    — Próximo. — disse isso não querendo respondê-la.

    — Sim. Não. Próximo. Você fala hebraico? — disse ela o provocando.

    — Você é da polícia? Não pode se calar um pouco, apenas por um momento. Não gosto de ser interrogado, e por sua causa estou me atrasando para o trabalho hoje.

    Ao ver essa resposta arrogante, mais uma vez os olhos da jovem se encheram de lágrimas, e ela pediu para descer ali mesmo em qualquer lugar, já que estava incomodando.

    Diante disso, vendo as lágrimas descendo pelas lindas pálpebras que ao chorar se encontra avermelhadas no belo rosto inocente da jovem ao seu lado, arrependido ele disse:

    — Desculpe-me Einat. Apenas fiquei irritado por me atrasar para ir ao trabalho hoje, tenho muitas tarefas e meu chefe está já há uma semana no meu pé para que eu termine. Vou te levar para casa e tentar responder suas perguntas, ok.

    A jovem enxugou suas lágrimas, deu um grande sorriso, e perguntou:

    — Quantos anos você tem?

    — Trinta e sete. E você?

    — Vinte e três.

    — Você é nova. Fez o exército?

    — Sim. Terminei faz um ano.

    — E não viajou?

    — Acabei de chegar da Índia, estive lá por dez meses.

    — E como foi?

    — Louco. Já foi a Índia?

    — Sim.

    — E como foi?

    — Louco.

    — Então, não preciso lhe dizer nada — disse ela sorrindo.

    Ele sorriu em resposta, e a perguntou já chegando em Rosh Haayin:

    — Em que direção fica sua casa aqui.

    — Eu não sei direito lhe instruir, pois sou nova aqui, mas posso ver no celular. — disse ela pegando o seu smartphone, e abrindo o aplicativo GPS digitando o nome da rua.

    — Você é daqui? Quero dizer, dessa região? — perguntou ele, enquanto ela ainda digitava.

    — Não. Sou de Tel Aviv. Vim morar aqui por causa do emprego de ajudante de enfermeira veterinária, pois quero estudar veterinária no futuro. Amo animais, principalmente gatos.

    — Eu odeio gatos. São egoístas e interesseiros.

    — Assim como nós. — disse ela.

    — Prefiro os cachorros. São amáveis e amigos. — disse ele ignorando o que ela disse.

    — Já eu, não sou muito afeiçoada a eles. São dependentes de mais e bagunceiros.

    — Assim como nós, principalmente quando crianças. — disse ele.

    Ambos se olharam e sorriram como se concordassem um com o outro, e a voz robótica do aplicativo falou dizendo que se encontravam no local de chegada.

    — É aqui, nesse prédio. — disse ela apontando, e continuou — Quer entrar para tomar um café? Afinal, você já está atrasado mesmo.

    — Não, obrigado! Não quero me atrasar mais ainda.

    — Só que tem um probleminha! — disse a jovem o pegando pelo braço — Esqueceu que não posso andar, e no meu prédio não tem elevador, e vivo no terraço no quarto andar. — disse ela sorrindo.

    — Ok! Te levo até lá, mas não tenho tempo para o café.

    Ela sorriu. Ele saiu do carro, foi até a porta do assento lateral, a carregou em seus braços, e ela disse:

    — Agora parece que acabamos de nos casar, e você me leva para lua de mel.

    Ele a encarou com seriedade não gostando nada do que ela disse, e a colocou em suas costas indo em direção ao prédio a sua frente. Chegando à porta, ele se virou de lado para que ela pudesse digitar o código chave de cinco dígitos para abrir, fazendo um barulho entediante afirmando que já estava destrancada. Ele empurrou a porta de vidro com o pé, e enquanto adentrava ela ajudou com uma das mãos, sendo que o seu outro braço estava envolvendo o busto e pescoço dele.

    E seguiram subindo a escada. A cada andar ele parava um pouco para pegar um fôlego e descansar. E ela resolveu dessa vez ficar em silêncio, pois ele não estava nada gostando daquela situação. Então, chegaram a porta do apartamento dela. E ela disse:

    — Não vai nem ao menos entrar para um copo d’água e descansar um pouco.

    E, ofegante ele disse:

    — Não. Melhor não. Estou muito atrasado, tenho que ir.

    — Vai me deixar aqui na porta para que eu me arraste até a cama? — perguntou ela com uma dengosa voz.

    — Acho melhor você já aprender a se virar sozinha com essa situação. Depois você vai me pedir para te levar para o banheiro, e te dar banho e depois fazer comida.

    — Eu bem que poderia comer você. _ disse ela, e vendo a cara dele de extremo espanto, rapidamente exclamou — Brincadeirinha! — disse isso, querendo desfazer o que disse.

    — É por isso que não quero entrar. É disso que eu tenho medo. Vocês jovens são rápidos demais. Bye! — disse ele descendo as escadas.

    — Hei, espera aí! Você não me disse onde mora. — disse ela gritando.

    — Moro em Kfar Saba. — respondeu ele já de baixo.

    — Me dá o número do seu telefone. — ela gritou de cima.

    — Rápido demais, já disse! E se eu for casado…

    — Você é casado? — Ela gritou o mais alto que pode.

    — Não! Mas, enquanto o meu número de telefone, vai ter que descobrir por si só.

    — Isso já é bom! — gritou ela, e já não houve mais respostas. — “Ele se foi” — pensou ela entrando no seu apartamento.

    Ele entrou no carro e dirigiu rapidamente para o local de trabalho, fazendo consideráveis esforços para esquecer aquele imprevisto e inconveniente acontecido, repetindo um milhão de vezes em sua mente — “Isso nunca existiu” — tentando assim ignorar os fatos, que já fora fisgado pelas garras amorosas do destino.

    Ela estava maravilhada com ele, achava ele bonito e responsável, o tipo certo para uma mulher se casar. Ela era tão jovem, mas já pensava em um bom partido. Estava meia que traumatizada pelo motivo de suas duas irmãs mais velhas não conseguirem ter relacionamentos por serem gordas, não suprindo as exigências dos homens israelenses, numa sociedade que admira e fortalece a indústria da moda e cosméticos. Sendo que sua irmã mais velha de trinta e oito anos, fizera bebês em um laboratório de banco de espermas, tendo assim filhos gêmeos. E sua segunda irmã de trinta e quatro, já estava pensando em fazer a mesma coisa. Ela não era assim tão gordinha, mas geneticamente tinha formas arredondadas, e isso a preocupava. Passava muito tempo na frente do espelho, e se achava gorda e feia.

    Porém, não era bem assim, suas amigas a invejavam pela sua cintura bem definida, seu bumbum farto e arredondado, seus seios medianos e seu rosto de anjo com olhos verdes e cabelos loiros e encaracolados cor de mel. Um belo corpo de violoncelo, unida a um belo rosto e altura de um metro e setenta e cinco invejável. Não era gorda de jeito e maneira, era dessas mulheres mutantes de forma gigantesca.

    O despertador do smartphone tocou as cinco horas da manhã como de costume, ele se levantou em um único pulo de sua cama indo diretamente ao banheiro, lavara o rosto e escovara os dentes apressadamente. Vestiu-se com sua roupa e assessórios de correr, colocou seus fones de ouvidos bluetooth, e pendurou o seu smartphone por uma capa detentora em seu braço esquerdo, começando o seu exercício matinal ao som do piano de Richard Clayderman. Pelo esforço que fizera anterior e interiormente para esquecer do evento inconveniente do dia passado, já não se lembrara com emoção daquela moça linda e alta de olhos verdes e cabelos loiros encaracolados, sua mente se voltara a sua rotina diária de solteirão feliz.

    Mas para o seu desgosto, lá estava a jovem linda moça correndo em sua direção pela contramão com o joelho enfaixado. Ao passo em que se aproximava dela, ele pensava em ignorá-la. Dizendo em seus pensamentos: “Puta-merda! O que ela quer de mim. Droga! Porque logo hoje fui me esquecer de colocar meus óculos escuros”.

    Ao se aproximarem, param ainda correndo e trocaram sorrisos, e ela disse:

    — Olá como está?

    — Bem. Vejo que seu joelho já está bom.

    — Quase. Mas não resistir ter que parar com os meus exercícios matinais.

    — Entendo. Bom! Não quero me atrasar mais um dia para o trabalho. Bye!

    — Bye! Lehitraot (Até mais ver)!

    E, continuaram os seus percursos, entretanto, enquanto se distanciavam ela se virou correndo de costas e disse em alta voz:

    — Ainda quero o número do seu telefone.

    — Ainda vai ter que descobrir. — disse ele não olhando para trás.

    E, isso se repetia dia após dia, semana após semana.

    Até em que um belo dia de Yom Rishon (domingo) ensolarado, em que ele estava a correr como de costume no parque de Kfar Saba, não a viu durante todo o percurso. E, pensou: “Ela não veio correr hoje. O que será que aconteceu. Não importa! Bom para mim”. E, Yom Sheni (segunda-feira) a mesma coisa. E, Yom Shilishi (terça-feira), Yom Revyi (quarta-feira), Yom Hamishi (quinta-feira), Yom Shishi (sexta-feira) a mesma ausência.

    Yom Shabat (sábado), ele despertara já sem o apito do seu despertador. Continuou ainda deitado em sua confortável cama elétrica com colchões de astronauta, e não conseguia pensar em outra coisa, senão, nela. E vislumbrara em seus pensamentos o sorriso contagiante que enfeitava seu belo e limpo rosto redondo. Sua meiga voz de menina mimada. E seu gigante corpo perfeito. A ausência dela o fisgara, como as coloridas iscas artificiais dos profissionais esportistas pescadores. Aconteceu o que ele mais temia, se viu apaixonado, e sabia que esse sentimento era o mesmo que estar enfermo. Mas, agora, o que fazer, pensou. Ir procurá-la. Não! Isso era se entregar a loucura novamente. E se lastimou pelo fato de não ter dado o número do seu telefone a ela.

    Levantou-se da cama, foi ao banheiro, levantou a tampa da latrina e fez xixi. Deu descarga, e foi ao lavatório. Se olhou no espelho, e pela primeira vez viu um fio de cabelo branco em sua cabeça e dois em sua barba. “Meu deus!” Pensou. Abriu rapidamente a gaveta do lavatório procurando uma tesoura, e achando-a, rapidamente com cuidado fora até a raiz dos seus intrusos cabelos brancos para expulsá-los.

    — Estou ficando velho. — disse em alta voz para si mesmo.

    Teve medo por um instante de pânico de envelhecer sozinho. E pensou nela. Rapidamente entrara na banheira, ligara a ducha tomando um banho. Pegou a tolha, se enxugou apressadamente, passara um creme facial no rosto e se perfumara. Correu até o quarto, se vestindo elegantemente com roupas de verão. Uma curta bermuda branca, uma camiseta verde e uma sandália de couro esportiva. E, pensou em convidá-la para ir à praia em Herzliya.

    Ao chegar no prédio em que ela morava, correu em direção a porta, e não se lembrando o número do seu apartamento, não sabia em que botão devia apertar para chamá-la pelo interfone. Esperou um pouco, e teve a oportunidade quando um casal estava para sair, aproveitou essa oportunidade em que a porta fora aberta, adentrando-a. E subiu as escadas em direção ao terraço no quarto andar. Lá chegando, parou e fez um pequeno exercício de respiração para aliviar a tensão. E, antes de bater à porta hesitou, não sabendo bem o que dizer a ela. E quando fora bater, a porta se abriu. Sendo, que ambos se assustaram. E ela disse:

    — Você aqui! Eu já estava prestes a sair.

    — Pois é, resolvi ainda que tarde aceitar seu convite para tomar um café. Mas, vejo que tens compromisso.

    — Eu estava indo à praia.

    — Uau! Foi isso mesmo que vim fazer aqui, te convidar para ir à praia.

    — Ainda quer entrar e tomar um café antes?

    — Seria um prazer!

    Ele entrou, e viu que ela morava em um pequeno apartamento de solteiro de apenas um quarto, com uma pequena cozinha e banheiro acoplados. Mas, que continha uma enorme varanda no terraço com muitas flores, plantas, um cagado, um papagaio branco, uma iguana e três gatos. O apartamento era pequeno, mas estava muito bem organizado com uma cama de casal ao meio, a cozinha no estilo americano a frente, o banheiro ao lado e uma grande mesa com impressora e computador, improvisando um escritório de trabalho. Do outro lado havia também uma porta e uma larga janela que dava para varanda. O ambiente estava bem iluminado e confortável, havia odores de incenso, e um toque alegre maravilhosamente feminino. Muito distante do seu escuro apartamento, triste e sem graça. E, enquanto ela aprontava o café, ele disse ao se sentar a cama:

    — Bonito e aconchegante aqui.

    — Foi isso que você perdeu antes. Muito lento você, Sr. Lesma.

    — E você, apressada demais, Sra. Papa Léguas.

    — Viu!

    — Viu o quê?

    — Agora já estamos nos comportando como um casal rotineiro, discutindo por besteiras.

    — Rápida demais, menina! — Ele a alertou, e continuou — Nem começamos ainda a namorar, e você fala em casamento. Mas me diga, porque não foi ao parque correr essa semana.

    — Funcionou!

    — Funcionou o quê? — perguntou ele sem nada entender.

    — Não está vendo. — disse ela sorrindo, e fazendo um gesto obvio ao erguer a palma de suas mãos para cima, ao dobrar os cotovelos a linha do umbigo.

    — Como sou idiota! Shalom! — disse ele indo revoltado em direção a porta.

    — Bye! — disse ela tranquilamente sem olhar para traz, enquanto ainda preparava o café.

    Rapidamente ele saiu, e descendo as escadas às pressas, parou no meio, colocou a mão na cabeça, e dizia para si em voz alta:

    — Como sou idiota! Hahhhh!

    Continuou a descer, e ao chegar a porta. Hesitou em abri-la. E se viu completamente apaixonado e envolvido por ela. Tão rápido, mais rápido do que a velocidade dos pensamentos era a velocidade dos sentimentos. Sua cabeça lhe dizia: “Saia imediatamente dessa arapuca, e esqueça essa garota que só vai atrapalhar a sua vida”. E o coração rebatia, dizendo: “Volte imediatamente, peça desculpas e diga que gosta dela”.

    O coração foi mais forte, assim deu meia volta e subiu as escadas. E lá estava ela a porta, com duas xícaras na mão, uma de café e outra de chá de folhas de Luíza Limão do seu pequeno canteiro de ervas. Ele subiu a passos lentos em sua direção. E pediu desculpas, e ela abrindo os braços com as mãos ocupadas com as xícaras cheias, disse:

    — Só desculpo se me der um beijo.

    Ele se aproximou o mais perto possível, encostando barriga a barriga, e sentiu o calor atraente do corpo dela o chamando. Olho a olho se olhavam, e o olhar dela ficou meio vesgo, tornando-a mais linda e atraente, ainda mais do que já era. Suas respirações estavam ofegantes, e seus corações pulsavam tão alto, que faziam os líquidos das xícaras que estavam nas mãos dela ondularem pelas laterais, respigando todo o chão. E por um instante se cheiravam, enquanto seus narizes se tocavam. Rapidamente ele se afastou, pegando a xícara de café da mão dela, e disse:

    — Rápido demais, menina. Rápido demais…

    Ela sorriu, e ambos caminharam até a varanda. Assim, se sentaram um a frente do outro em uma pequena mesa de ferro, com a plataforma de cimento com mosaicos feitos de pedaços de azulejo que ela mesma confeccionara. E, apenas se olhavam por longos minutos sem nada dizer, enquanto saboreavam o gosto do café e chá, e os gatos se enroscavam em seus pés.

    Então, ele rompera o silêncio dizendo:

    — Vamos devagar, Ok! Assim será melhor e mais prazeroso. Não quero ter uma relação de palito de fósforo.

    — Como assim, palito de fósforo? — indagou ela.

    — Você tem uma caixa de fósforos? — perguntou.

    Ela sem nada dizer, adentrou a casa para apanhar. E trazendo, foi vagarosamente por detrás dele o abraçando em tons provocativos, enquanto estendia com uma das mãos a caixa de palitos de fósforos a frente dos seus olhos. Ele pegou a caixa, ela voltou ao seu assento, e ele disse:

    — Tome essa caixa, pegue um fósforo e acenda.

    E, assim como foi dito, ela fez. E ele disse:

    — Está vendo! O fósforo acendeu ligeiro se inflamando rapidamente, e da mesma forma ligeiro se apagou. O mesmo acontecerá conosco se formos tão depressa nisso. Tudo não passará de uma inflamante paixão. Devemos começar como uma pequena fogueira de acampamento. Catar folhas e palhas secas, colocar gravetos em cima, depois paus grossos e duros, e acendê-la com muita atenção cuidadosamente, e ir alimentando-a com esse combustível de matéria orgânica dura aos poucos, para que permaneça acesa, e venha nos aquecer por toda noite, até a vinda do sol.

    — Mas, essa sua fogueira só poderá ser acesa com um palito de fósforo, não é? — questionou a moça a sua frente com ironia.

    Nisso, ele se irritou novamente. E ela rapidamente disse:

    — Brincadeirinha, Sr. Nervosinho. — e sorriu como uma esperta menina, que ganhou a aposta.

    — Ok! Nada de telefones, SMS, Telegram, WhatsApp, Facebook, Skype e todas essas parafernálias da internet. Usaremos cartas. E só nos encontraremos no local especificado por elas. Faremos a moda antiga, antes da tecnologia. _ rebateu ele, irritado por se sentir derrotado.

    — E se as cartas não chegarem? Você sabe como são os correios aqui em Israel.

    — Vamos usar então uma empresa de correios privada. Não se preocupe, eu cobrirei todos os custos.

    — Está bem, Sr. A Moda Antiga — disse ela ironicamente concordando.

    Assim, terminaram com o café e chá, e foram para praia em Herzliya. Lá, conversaram bastante abrindo o livro de suas vidas um para o outro, e o tempo em que passaram juntos foram mágicos para os dois.

    Ele a levou de volta para o apartamento dela em Rosh Haayin. E, ao se despedir saindo do carro, enquanto ainda caminhavam até a porta do prédio, ela o surpreendeu com um beijo apaixonante em sua boca, em que ele nem ao menos teve chance de resistir, apenas pela altura dela, teve que ficar suspenso nas pontas dos pés. Então, ela percebendo o seu desconforto, o puxou ainda o beijando descendo para rua, enquanto ele ainda ficava sobre o paralelepípedo da calçada, dessa forma ele ficou mais alto e ela mais baixa. Esse beijo em que se abraçaram amorosamente, durou por quase dois minutos. Ao terminar ela disse se despedindo:

    — Isso foi apenas o palito de fósforo que acendeu a fogueira no nosso acampamento.

    E assim, ele e ela, Nimi e Einat se encontravam esporadicamente através de cartas que indicavam locais estratégicos como um jogo de RPG. Ela o escrevia cartas amorosas, as desenhando com lápis de cor, ou aquarela, e fazia também colagens de flores e folhas do seu jardim suspenso. Ele a enviava cartas com bombons e flores, sempre ditando os lugares de encontro como o mestre do jogo. Até que um dia, ela recebeu uma encomenda vinda em um carro forte de alta segurança, tendo que dar várias assinaturas nos protocolos de papeis para recebê-la. Parecia-lhe algo extremamente de muito valor financeiro, para vim com aqueles seguranças todos bem armados, com pistolas e escopetas Glock 9mm e .40 S&W. Era uma caixa grande que envolvia outras pequenas caixas, como degraus de escada de caixas sobre caixas. E, ao chegar à última e pequena caixa preta. Encontrou um pequeno papel vermelho, dobrado em quatro partes. E ao abri-lo, viu um número de telefone escrito em tinta negra: 0529516651. De imediato foi a sua bolsa procurando o seu smartphone, e ao achá-lo ligou imediatamente. E ao dizer alô, ouviu uma voz que emocionado perguntava:

    — Quer se casar comigo?

    — Rápido demais, seu moço. Nem ao menos ficamos noivos e você já pensa em casamento.

    Então, ele ao ouvir essa resposta, desligou de imediato o telefone.

    E, ela se desesperou dizendo para si: “Droga! Eu brinco demais com ele, e ele sempre me leva a sério. Apenas só repeti as suas palavras. Droga!”.

    Todavia, enquanto ela tentava ligar para ele novamente, desesperada para lhe dizer: “Sim! Era isso que eu mais desejava desde quando nos conhecemos”. Ela ouviu um toc, toc em sua porta. E abrindo-a, lá estava ele de joelhos com uma caixa de anéis na mão dizendo:

    — Case-se comigo agora Einat, mesmo que seja rápido demais! É que não precisamos mais da fogueira no nosso acampamento. Pois, o sol raiou, e já é dia!

  • DE VERSOS

    A dor de passar pelas pessoas
    e depois deixá-las me consome:
    Como viver tantas coisas boas
    só para alimentar de saudades essa fome?...

    É infinita essa fome de amar
    e ser feliz fazendo outros felizes
    Mas, sendo a-penas um, como pluralizar
    em frutos diversos as nossas raízes?...
  • De Voltar a 1968 — Capítulo 1


    Em uma sala branca um homem parece em minha frente.

    “Ola, Bruno” (Deus)

    “Quem e você?” (Bruno)

    “Sou Deus” (Deus)

    “Deus? Deus mesmo” (Bruno)

    “Bom, darei-lhe uma prova disto” (Deus)

    Bruno percebe que está em cima do sol.

    “Porra! Que coisa incrível” (Bruno)

    “Bruno sente-se, quero falar-lhe uma coisa” (Deus)

    Depois que Bruno se sentou, Deus começou a lhe contar que ele foi morto por um engano do “Deus da Morte”

    “Então o que vai acontecer comigo?” (Bruno)

    “Você vai ser mandado para outro mundo, atualmente esse mundo paralelo esta no ano 1968” (Deus)

    Bruno aceita isso facilmente.

    “Vou dar a você um desejo, porem a uma lista com desejos proibidos, veja ela.” (Deus)

    [Proibidos]
    Onipotência
    Onipresença
    Manipulação de Matéria
    Manipulação da Realidade
    Imortalidade
    Poderes Cósmicos
    Magia
    Telecinésia

    Bruno que sempre foi viciado em HQs depois de ler a lista sabia qual escolher, "Onisciência", pois, o mesmo não estava na lá.

    Deus falou para Bruno que esta habilidade teria limites, pois, com a onisciência sem limite Bruno poderia alcançar as habilidades proibidas facilmente.

    “A sua consciência vai estar bloqueada ate os seus 3 anos, caso contrario você ficar se sentindo desconfortável enquanto for um bebê.” (Deus)

    Bruno então fecha os seus olhos…

    Quando a consciência de Bruno finalmente foi desbloqueado, ele já estava com 3 anos.

    Com uso de sua habilidade ele já entendeu as circunstâncias de sua família.

    Primeiro o nome do Bruno neste mundo e Brian Mark, ele nasceu nos Estados Unidos em Los Angeles.

    Seu pai e um advogado, atualmente ele tem 24 anos seu nome e David Mark.

    Sua mãe e uma aspirante a atriz de 23 anos seu nome e Mary Ryder, tudo que ela fez ate hoje foi apenas pequenas peças.

    Brian já decidiu realizar o sonho de sua mãe, tornando ela uma grande atriz de Hollywood.

    Dia 22 abril 1971

    Hoje Brian este muito animado, seu avô que e um editor da Random House esta vindo visitar sua família, objetivo dele e mostra o livro que escreveu a seu vô.

    Inicialmente Brian queria escrever «Harry Potter», porem mudou de ideia logo após se lembrar a vida difícil de J. K. Rowling, Brian não e apenas um fã dos livros, ele também idolatra a J. K. Rowling.

    Por causa disso ele escolheu escrever o «Rei Leão»

    Ele sabe que «Rei Leão» não e apenas um clássico da animação 2D, também marca o ponto final da animação 2D com uma bilheteria de US$ 987 milhões, esta era a melhor escolha para sua estreia como escritor gênio de apenas 3 anos.

    Seu avô finalmente chegou, ele correu e mostrou seu livro para ele.

    “Hahaha… deixa o vô ver seu livro” (Robert Mark), naturalmente ele não estava esperando muita coisa de algo escrito por uma criança de 3 anos.

    Após terminar de ler o livro o velho olhou para seu neto com um sentimento de orgulho indescritivel.


    “Meu deus, David você viu este livro” (Robert)

    “Não pai, ele não deixou ninguém ler o livro ate agora” (David)

    “Ele escreveu uma adaptação de «Hamlet», fazendo a história se passar com leões, ficou fantástico” (Robert)

    “Então o senhor vai publica-lo” (Mary)

    “Vou agora mesmo a editora, organizar tudo para publicar o mais rápido possível”

    Dois Meses depois de o livro ser publicado e já ter vendido 3 Milhões de cópias só nos Estados Unidos, Brian já terminou de escrever outras 4 obras.
     
  • De Yom Rishon (domingo) a Yom Hamishi (quinta-feira) — Crônicas do Parque

    Acordou exausto às quatro horas da manhã com o toque de uma suave música de flauta chinesa, em que configurara no aplicativo despertador do seu smartphone. Levantou-se de súbito sentando na cama com os olhos pesados de sono, em que o seu corpo estava a lhe implorar por mais algumas horas de descanso. Aquele momento era-lhe torturante, pronunciou mentalmente algumas palavras de conforto “Seja forte, vamos! Levante-se com o pé direito imediatamente’’. Assim, levantou-se indo caminhando a passos tontos em direção ao banheiro. Fora com a mão ao interruptor, ligou a luz, e seus olhos recebeu um choque luminoso profundo. Deu alguns passos curtos até o lavatório, ligou a torneira ajustando a água para que ficasse morna, juntou as mãos em forma de cuia e banhou o seu rosto, confortando sua alma. Olhou para o espelho, e olho a olho se confrontaram numa vermelhidão sangrenta, ‘’Mas um dia!’’, exclamou para si mesmo. Rapidamente fora até a cozinha, agora com mais energia, e colocará a água do café na chaleira para esquentar, ligou a máquina de moer grãos e foi à sala vestir-se com as roupas do trabalho. Despiu-se das roupas de dormir jogando-as de qualquer forma no sofá, restando no corpo apenas a cueca. Vestiu a calça, apertou o sinto, colocou a camisa, e por último uma toca para cobrir sua longa cabeleira de tranças naturais. Ao término dessa empreitada, a chaleira começou a apitar. Regressara a cozinha, pegara uma xícara e uma colherzinha, e fora a máquina de moer grãos. Colocou duas colheres de café colombiano que comprara na feira de Ramilah, em uma loja de tempero dos árabes, e pegando a chaleira que se encontrava apitando no fogão, despejou lentamente a água fervendo sobre o café moído que se encontrava deitado na xicara, em que prazerosamente inalava o vapor do café que subia envolvendo o seu rosto. Somente naquele momento de pura nostalgia, em que se entregava aquela sensação prazerosamente odorífica, que a angustia da sua correria matinal terminava. Após aqueles segundos de êxtase profundo, voltava a realidade, jogando três folhas secas de sálvia na xícara, misturando com a colherzinha o seu café. Assim, colocou o seu relógio digital waterproof no pulso, e lhe restava apenas trinta minutos para que a vã buzinasse a porta de sua casa para o levar ao seu ofício. Foi ao seu quarto, retirou o seu smartphone do carregador vistoriando para desligar o WI-FI, o Bluetooth e GPS. Fez um Task Killer em um aplicativo de segurança, para maximizar o rendimento da bateria, e o colocou no bolso. Retirou também rapidamente o carregador, enrolando o cabo no adaptador da tomada, e o colocou em um dos bolsos laterais de sua calça de trabalho. Deu um beijo rápido em sua amada esposa que se encontrava dormindo na cama, onde ela sussurrou sonolenta desejando-lhe um bom dia, e dizendo que o amava muito, e que também havia um delicioso bolo no forninho. Fora também a barriga dela e deu outro beijo, pois, esta, se encontrava gravida de cinco meses. Saiu rapidamente onde pegou o seu sapato de trabalho com suas meias no corredor, indo de imediato ao quarto das crianças. Foi a cama de sua filhinha de três anos e meio, deu-lhe um beijo desejando um bom dia, e depois a cama do seu filho de seis anos, que ao lhe dar um beijo, acordou de súbito, dizendo: “Papai eu te amo, fica aqui comigo”. Então, ele lhe disse em resposta: “Tenho que ir trabalhar meu príncipe, mas quando chegar o Papai brinca com você de pirata, Ok! Tenha um bom dia na escolinha”. Rapidamente saíra do quarto das crianças, e foi até a cozinha com uma das mãos segurando os seus sapatos e meias. Com a outra mão pegou a sua xícara de café, e foi até o lado de fora na varanda da sua casa, em que jogou os sapatos e meias no chão, e assentou a xícara numa pequena mesa. Regressa para dentro da casa, olha para o relógio em seu pulso, e apenas lhe restava mais quinze minutos. Fora até o forno e retirou apressado a forma com o bolo de Pereg e chocolate amargo, com cobertura de calda de chocolate branco, que sua esposa lhe fizera na noite anterior. Pegou a faca cortou duas fartas medias fatias, colocou em um pires, pôs uma colherzinha, devolveu a forma com o bolo para o forno, e correu para a varanda. Assentou o pires na mesinha, e apressadamente como de costume colocou suas meias e sapatos, em quanto dava goladas e colheradas no seu café e bolo. Depois de se calçar, enquanto ainda engolia e mastigava, lembrou-se que se esquecerá de molhar as plantas a noite. E olhando para o relógio, viu que apenas lhe restava dois minutos, até o pontual motorista chegar a Rua Rashi 8, no bairro de Oshiot, na cidade de Rehovot. Levantou-se sem pestanejar, pegou o regador, e enchendo de água às pressas molhava as suas plantinhas rezando para que Ohad se atrasasse pelo menos cinco minutos. E assim se deu, quando recebeu uma mensagem de Ohad pelo WhatsApp que iria se atrasar uns dez minutos, devido o caminhão do lixo estar retirando algumas podas de árvore no Tzomet (giratória), que ligava a rua Ya’akobi a Avenida Hertzl. Aliviado, molhara suas plantinhas, terminara seu café, e fizera sua oração meditativa para boa conduta do seu dia de Yom Sheni (segunda-feira) e jornada de trabalho no Parque de Kfar Saba. E este ciclo de bem e mal se repetia de Yom Rishon (domingo) a Yom Hamishi (quinta-feira).
  • Deixe o Karl Cair - 10

    I. Amar denovo
    Não lembro a data e hora da primeira vez em que vi o Kaio, mas lembro perfeitamente o cheiro do seu perfume.
     Kaio era um completo estranho para mim: não havia estudado comigo nem frequentado os mesmos lugares. Tudo indicava que nossos círculos de amizade também não se cruzavam.
     Você pode se perguntar o por quê de eu ter me aproximado 
    repentinamente de um desconhecido, certo? Ele tinha duas coisas muito 
    peculiares: uma coragem insana e um passado misterioso (para mim que não conhecia).
     Praticidade fez parte dos nossos encontros... inclusive, marcamos esse primeiro contato na tarde anterior. Não tínhamos conversado mais do que um 
    "Oi, tudo bem?" , "Quem é você?" , "Legal e tu?" . 
     Foi tudo muito rápido então lá estava eu sentada no banco de uma praça muito ampla e arborizada, com o vapor do sol dos meio dia lutando para tirar   
    A primeira coisa que eu achei bem estranha foi que ele se atrasou mais do que eu. Quando ele chegou eu entendi o por quê: estava bem mais arrumado (desnecessariamente) que a personagem que vos narra.
     Vou descrever para vocês, tô tentando não rir disso, mesmo mesmo... 
     Assim que o vi, parecia gótico, vestindo preto dos pés a cabeça. A única coisa com cor ali era o cabelo dele no sol, que por sinal estava grande, do tamanho do meu para mais. Depois de uma breve conversa, entendi o "style".
     Perguntei-o várias coisas, que de fato eram respondidas rapidamente - 
    tramontina, corte rápido - Ele era sincero, muito sincero. Não demorou muito até que estivéssemos longe dali em um canto mais tranquilo e vazio.
     Eu conhecia aquele bairro e sua vizinhança como a palma da minha mão, por mais que eu tentasse me perder, alguém ia me achar. Foi dito e feito, sentamos em frente a um apartamento em que havia uma curiosa senhora nos observando do terceiro andar. 
     Ela ficava de minuto em minuto entrando e saindo para a sacada, parecia desesperada como se tivesse visto um fantasma.
     Avisei o Kaio que era melhor a gente parar de conversar para ver o que ela iria fazer. Ele quis saber o motivo, então eu disse: fica calado e senta direito que eu acho que ela vai descer para o térreo.
     A senhorinha depois de alguns minutos desceu para o térreo e começou a checar ansiosamente uma pequena bolsinha que carregava na mão direita. 
     Vendo ela assim mais de perto, percebi que era muito parecida com o meu professor de química: se ele fosse uns 20 anos mais velho e uns 15 centímetros mais baixo. 
     O que realmente me fez perceber quem ela era, foi o cabelo cor de fogo que tinha. Não sou muito de reparar em cores, mas que, na iluminação certa, posso ver outras.
     Kaio diferentemente de mim não perde tempo, perguntou se ela era professora. 
    A velhinha riu e disse que tinha sido professora, mas que havia se aposentado há muito tempo (provavelmente antes de eu nascer e com certeza do Kaio também). 
     Quando a senhora perguntou o por quê, respondi que suas feições me lembravam alguém, mas não era nada demais, me despedi dela antes que o Kaio ousasse fazer mais perguntas: a mulher já estava visivelmente incomodada

    II. Vinicius o retorno

    Já fazia três anos que eu não conversava direito com o Vinicius. Eu tinha inventado a maldita ideia de sempre parabenizá-lo em seus aniversários.
    Queria dar parabéns para ele por ter aguentado mais um ano, mas também queria dar um soco na cara dele e chamá-lo de idiota.
     Não sou boa com datas, de verdade. Datas e nomes somem da minha mente numa rapidez impressionante. Já a minha memória fotográfica é ótima, até porque lembrar de nomes parecidos tipo: Mariana, Maria, Mariano, Mariane, Marrie... é difícil. 
     E tem mais: Mateus, Matheus, Marcelo, Miguel, Michel, Manoel (ou Manuel ou Emanuel)...
     O que sobra de criatividade nos pais na hora de escolher o nome do filho, falta na minha capacidade de lembrar tantos nomes parecidos.
    Triângulos amorosos são o tema mais clichê que existe em histórias de romance - colegial - ficção e seus relacionados.
     Agora cá estamos, a personagem principal e dois garotos completamente diferentes (inclusive de idades diferentes, o Vini tinha 20 e o Kaio 17) e a decisão final recaiu sobre quem? ---
     Obrigada vida, por suas consequências e cobranças.
    ** Oh mama oh la oh la, 
    Don't know what this is
    Oh mama oh la oh la,
    What do I do know? **
     Fui encontrar o dito cujo "só o pó da rabiola"*
    * - cansada, exausta, de ressaca.
     Se eu dormi 5 horas foi muito. Me meti em confusão e dessa vez nem tinha sido eu a causadora.
     Só respirei fundo e fui dar de cara com o passado.
     Enquanto eu enterrava tudo, os sentimentos renasciam nele. Injusto, não? 
    KARMA, kar-ma. Não tinha para onde eu correr: ele estava parado em frente a porta do colégio.
    (Vinicius tinha estudado lá também, não sei se vocês estão lembrados). 
     É como se após ter assinado a carta de alforria, um escravo quisesse voltar a estaca zero e libertar outro. *
     * * Nota do autor
    Claro que isso é um tremendo exagero, porém o melodrama está aí para ser vivido.
    Fim da nota do autor * * 
     Disse que havia passado para uma Universidade Estadual com tudo incluso, uma das melhores do país.
     Nossa, fiquei super feliz! Apesar dos apesares eu tinha presenciado cada esforço da parte dele para chegar até esse momento.
     Os olhos dele brilhavam de emoção, os meus também.
     Opa opa, não pode rolar beijo aqui, vamos com calma _ disse a voz da consciência. 
    meus parabéns, disse que agora não precisaria mais aguenta-lo. 
     Detesto despedidas, com todas as minhas forças. Aquele momento definitivamente era um adeus.
     Dei as costas para ele, entrei na portaria, virei em direção ao campo de futebol e 
    meu celular apitou.
     Abri para ver de quem era, adivinha de quem? Só tinha três palavras escritas: 
    Eu quero você. 
     Ele estava se declarando para mim, tudo que eu queria era aceitar tudo isso. 
     "(...) mas foram tantos sim, que agora digo não. Porque a vida é louca mano, a vida é louca." Iza





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    Capítulo 12
    O que você fez comigo Kaio?
  • Deixem-no gritar

                E tiraram o Pequeno Jornaleiro lá da Sete de Setembro. Soube por causa da coluna do Ancelmo Gois, mas, ocupado com outras coisas, acabei só passando por lá um punhado de semanas depois. Precisava ver de perto a situação. É minha escultura favorita do centro do Rio, afinal.
                  De fato, foi retirada. Onde antes assentava-se a escultura do meninote de chapéu de abas largas agora ergue-se uma estação para o VLT- o “Veículo Lerdo sobre Trilhos” do qual o nosso burgo-mestre tanto conta vantagem.
                 Recalcitrante que sou, admito que até agora não fui convencido de qualquer legado trazido por aquela lesma high-tech além do fato de suas estações deixarem o centro da cidade um pouco mais feio.
               Indagado sobre o porvir do Pequeno Jornaleiro, nosso alcaide, ao contrário de quando está apregoando os supostos feitos e méritos de sua administração, foi bastante sucinto. “Depois da obra voltamos com ela”. Já era de se esperar.
                Tenho minhas dúvidas. Não me surpreenderia se o Pequeno Jornaleiro terminasse fazendo companhia à escultura do Ives Machado, aquela mesma que ficava na esquina da rua Uruguaiana com a Carioca, largados ambos em algum canto da Gerência de Conservação, lá na Praça XI.
              Quando foi inaugurada, lá pelos idos da década de 30, conta-se que Orestes Barbosa, compositor, cronista & mais um pouco, comparou o menino à rua, ao seu aplauso sincero e sua vaia justa. Nos tempos que vem se desenhando, onde só é visto como justo o comentário que vem tingido de conservadorismo, o grito silencioso do menino pobre vendedor de jornais fará falta.
                Torço para que a campanha que quer trazer a escultura do Pequeno Jornaleiro a seu lugar de origem, no cruzamento da Avenida Rio Branco com à rua do Ouvidor, tenha sucesso. Não retornou o busto do Barão da Taquara a seu devido lugar na Praça Seca? Quem sabe, então? E torço também que, desta vez, o menino fique por lá definitivamente. Deixem-no gritar, mesmo que poucos o escutem.
     
  • Demanda de Sabotagem

    Para cada momento
    sinto que algo falta
    algo fatal
    que vai me matar
    de felicidade
    ou de estranhamento

    Me inspiro em instantes de cor
    sintoma de que a minha realidade está doente
    e que minha motivação vem de algo
    que causa dor

    Lugares claustrofóbicos
    como esse
    me trazem uma estranha sensação de
    liberdade
    De que apesar das limitações
    há sinceridade

    Saio das mãos do palhaço no sábado
    Mas caio nos braços do meu carrasco na segunda

    Serei feliz depois do Carnaval

    Antes de querer
    ou depois que morrer.
  • Depois da merda no ventilador [conto]

    [Dona Gertrudes - 53 anos - Dona de Casa]
    Quando eu virei para a segunda rampa eu vi os dois lá em cima, se esfregando encostados no canto da grade. Mas ainda não sabia o que eles estavam fazendo. Foi quando fui chegando perto e escutando o barulho que percebi o que estava acontecendo. Foi horrível. Eu não sabia o que fazer e comecei a gritar. Aí todo mundo começou a chegar e um Senhor muito simpático e elegante veio me confortar com uma água e perguntando se estava tudo bem, o que tinha acontecido, essas coisas. Ele foi muito reconfortante.
    [Bernardo Pereira - 36 anos - Pedreiro]
    Lá de baixo eu já tinha ganhado o que estava rolando com os dois lá em cima. Os dois tavam se pegando forte. A tia lá começou a gritar não sei muito bem porque e um pessoal começou a correr do ponto para cima da passarela. Eu fiquei na minha. Tava na rampa do outro lado e voltei lá para baixo para esperar a coisa esfriar. Lá em cima começou o empurra empurra e a gritaria. A galera tava com sangue nos olhos. Aí começou o falatório, a polícia chegou e aí que não cheguei perto mesmo. Tava na cara que ia terminar em confusão.
    [Renato Seixas - 23 anos - Auxiliar de produção]
    Eu não estava entendendo o que estava acontecendo, pra falar a verdade eu nem queria me meter em nada. A confusão estava rolando lá em cima na passarela e eu fiquei aqui no ponto de ônibus só olhando. Então um cara saiu correndo do meio da confusão e veio na direção do ponto. Os dois policiais saíram na caça. O povo veio atrás deles gritando “estuprador, estuprador”. Aí quando ele passou na minha frente eu enfiei o pé nele e ele caiu. Sei lá, achei que era o certo a fazer. Ele estava correndo da polícia com todo mundo gritando estuprador. Daí todo mundo caiu em cima dele e eu me afastei.
    [Fátima Abrilina - 39 anos - Professora]
    Acho que ninguém sabia o que estava acontecendo. Eu fiquei aqui em baixo no ponto o tempo todo. Primeiro começou uma agitação lá em cima na passarela. Dois policiais que estavam com mais um numa viatura aqui em baixo foram para lá ver. Alguém passou por aqui e disse alguma coisa sobre estupro. Aí um homem desceu a passarela correndo e caiu quase na minha frente. Aí eu saí de perto. Olha, nesse mundo de hoje o melhor que a gente pode fazer é não entrar em confusão. Sempre falo isso pros meus alunos: trabalhem e não se metam com confusão.
    [Léo Kleim - 25 anos - Estudante]
    Acho que fui um dos primeiros a chegar lá. Eu tava no meio da passarela e nem tinha percebido o que estava acontecendo. Escutei um grito e quando vi o cara fechando a braguilha todo desajeitado entendi tudo e não tive dúvida, parti para cima dele. Se a grade não fosse tão alta tinha jogado ele lá para baixo. Daí começou a chegar gente e soltei o infeliz porque tavam batendo em mim sem querer tentando acertar ele. O cretino aproveitou para correr, mas a gente pegou ele no ponto. Aí veio um monte de viatura e levaram o marginal.
    [Seu Agenor - 60 anos - Aposentado]
    Para falar a verdade não vi nada. Eu vinha subindo a primeira rampa da passarela tão pensando na vida que nem percebi o tumulto. Quando virei para segunda rampa vi uma Senhora chorando perto de toda confusão e fui tirar ela de lá. Ela estava chocada e tremia. Falava umas coisas sem sentido, não dava para entender nada. Até agora não sei direito o que aconteceu. Acalmei um pouco ela e trouxe ela aqui para baixo, longe da confusão. A gente ficou conversando e nem vimos como tudo acabou. O nome dela era Gertrudes, se não me engano. Peguei o telefone dela também.
    [Mariana Carla - 29 anos - Publicitária]
    Minha nossa, foi uma selvageria. Eu já tinha passado pelos dois se pegando lá, mas nem tinha ligado, me pareceu normal. Então uma mulher começou a gritar e um monte de gente correu na direção deles. Um cara passou por mim como se fosse um animal. Antes que começassem a bater na menina também eu tirei ela do meio da confusão. Coitada. Ela gritava desesperada para pararem com aquilo, mas ninguém escutava. Então o menino saiu correndo do meio da briga e ela foi correndo atrás. Tentei segurar ela, mas não consegui. Achei que já tinha feito tudo que podia e me afastei.
    [Marília Estorme - 19 anos - Estudante]
    O que aconteceu aqui foi um absurdo. Eu vi tudo. Os dois só estavam dando uns pegas na passarela quando um cara partiu para cima deles do nada. Aí começou uma gritaria e toda confusão. Não sei da onde tiraram essa história de estupro. Eu já vi os dois na faculdade, eles estudam lá também. É revoltante.
    [Carlos Betolho - 41 anos - Policial]
    Nós estávamos realizando a vigia da passarela quando observamos uma aglomeração se formar no topo da segunda rampa. Eu e o cabo Martins subimos para averiguar o que estava provocando a desinteligência. Cinco cidadãos estavam contendo o elemento, que quando percebeu nossa aproximação se desvencilhou dos homens e tentou se evadir do local correndo. Iniciamos uma perseguição e capturamos o elemento no ponto de ônibus do outro lado da Avenida com a ajuda dos cidadãos que estavam no ponto. Ele reagiu se debatendo no momento de ser algemado, e tivemos de usar de força física para imobilizá-lo e colocá-lo na viatura.
    [Marcela Camorga - 21 anos - Secretária]
    Não vi nada, eu estava sentada no ponto ouvindo música no fone de ouvido e mexendo no celular. De repente uma mulher caiu em cima de mim e quebrou meu telefone. Quem vai pagar isso? O ônibus passou e não parou por causa da confusão. A gente não pode mais nem esperar o ônibus em paz. É sempre o povo que paga pelos problemas dos outros. O que eu tenho haver com isso? Tem que colocar esse monte de animais na cadeia e esquecer lá.
  • Desabafo

    Oi
    sou eu de novo
     
    venho dizer que não aceito
    não quero ser um ser humano 
    quero ser gato ou planta
    dog ou árvore
    poderia também ser um godê
    ou uma vela
     
    uma toalha de mesa
    ou um isqueiro
     
    mas não
    eu tinha que vir como humana
     
    pra perecer como um homem
    ainda em corpo feminino
    sangrando todo mês
    e com sonhos de uma sociedade mais justa  
     
    romântica ainda
    ansiosa ainda
    depressiva ainda
     
    e quase-suicida
     
    vamos pular essa parte
     
    que diabo é pra eu fazer nesse planeta?
    nessa era, nessa época?
    por que não faço logo e me zarpo noutro segundo?
     
    tenho que ficar aqui existindo e sustentando esse corpo humano cheio de demandas
     
    arre!
    vou fazer o quê, se não, existir?
     
    fico me metamorfoseando todos os dias
    rabiscando poesias e alquimizando lágrimas
     
    confecciono meus dias na base da porrada
     
    me arrasto pra vida
     
    toda hora apaixonada
     
    sem concluir as paixões
     
    que acabam antes mesmo de começar
     
    sou só mais uma frustrada
     
    querendo mais um pouco num mundo onde tem gente que não tem nada e tá bem mais satisfeito e agradecido que eu
     
    queria morrer logo
    parar de sentir dor de dente
    de sofrer com medo de não prosperar
    de ficar com vontade de fazer sexo e não poder fazer sexo com a pessoa que se quer
    de parar de sofrer pelo... @
    de parar de esperar a próxima semana pra ver....#
    de se masturbar sozinha
     
    de montar atividades trabalhosas em um sistema falido de ensino, ainda mais híbrido 
    onde não se consegue dar atenção para os alunos online e presencial ao mesmo tempo x.x
    de ver gente passando fome e sede e não tendo água e banheiro
    de guerras esdrúxulas
    de mortes ridículas
     
    estou eu aqui bem alimentada aquecida desabafando no meu notebook gostoso
    e o mundo lá fora perecendo e ruindo
    e a maior parte das pessoas humanas morrendo de fome sede e crueldade e violência
     
    sou um bibelô numa bolha
    estou resguardada por uma família magnífica
    mas estou triste
    sou uma pessoa triste
    infeliz de estar nessa roupagem humana
    de dor e convalescência 
    e algumas parcelinhas de prazer
    mas muito mais dor e sofrimento, muito mais
    muito mais desilusão e amargor
    muito mais sapos bois na garganta
     
    sei lá
     
    só queria morrer logo...
  • Desabafos de uma Ana

    Tem um momento da vida que você tem que parar para refleti sobre tudo o que você fez,que quer fazer é que está fazendo. Esse momento tem que acontecer não apenas uma vez,mas várias. Até hoje tento realizar as coisas com racionalidade, mas será que é o suficiente? Mágoas do passado não são simplesmente apagadas de uma hora para outra,ou até mesmo perdoadas,ainda mais quando são pessoas que você menos quer se magoa. Pedir perdão de um dia para o outro não resolve nada, inventar mentiras também não, e aquele tempo todo que passou sem falar um palavra se quer comigo? E aqueles momentos que mais precisei ou mais felizes da minha vida que foi perdido por um mero orgulho? Hoje percebo que toda mágoa que quardava não valia a pena, não existe volta para o que não quer ser concertado,não existe perdão para quem não admite o erro,não existe aproximação para quem não tenta. E pensando nesse momento,todo o tempo perdido valeu a pena?Sim,porque pude percebe a cada segundo quem realmente quis estar comigo resolvia o problema na hora,não deixava o orgulho vencer e reconhecia que estava errado. E se era eu a errada,me mostrava isso,não apenas sumia. Então reveja o seu julgamento de quem está certo ou errado,pois se despender de mim,vai continuar sendo apenas mais uma pessoa que passou pela minha vida.
  • Desalma: A noite na alma 07

    Judith
    _ Eu preciso que você vá à igreja do pastor ceguinho no domingo - disse o senhor Antunes.
    _ Não sei se isso é uma boa ideia - respondeu Antunes filho.
    _ Veja, meu filho, as igrejas que o ceguinho administra é um braço financeiro muito importante para o grupo Antunes. Quero que você vá até lá no domingo, seja visto, deixe a imprensa fazer fotos e imagens de vocês dois juntos. Se possível assista o culto.
    _ Insisto que isso pode ser um tiro no próprio pé.
    _ Nós estamos perdendo alguns fiéis, e perder fiéis é perder dinheiro. E alguns outros não estão contribuindo com a causa como deveriam. Precisam de um incentivo.
    _ O melhor incentivo seria o afastamento do ceguinho. O homem deveria ser afastado dos cultos. Deveríamos deixá-lo na administração das igrejas, mas proibi-lo de dirigir os cultos. Talvez, não proibir, pedir para que ele se afaste. Ao menos por uns tempos.
    _ Impossível meu filho, o homem é um talento nato. Ele tem a maioria dos fiéis nas mãos... e ele também não vai aceitar isso. Uma visita do prefeito vai colocar o trem de volta nos trilhos. Creia em mim, se afastarmos o ceguinho aí é que perderemos mais fiéis ainda e consequentemente, mais dinheiro.
    _ As pessoas estão desconfiadas, meu pai, o homem dirige os cultos de óculos escuros. Óculos escuros nessa cidade todo mundo sabe bem o que significa.
    _ Sim, mas sei por experiência própria, que as pessoas querem ser enganadas, precisam de alguém para guiá-las. Você acha que as pessoas não sabem que é tudo enrolação... Mas elas querem isso, precisam disso... Confie em mim meu filho. E não se esqueça que você deve um favor ao ceguinho. Não se esqueça de onde veio uma boa parte dos votos que o levaram a prefeitura.
    _ Eu sei pai.
    _ Então, se o povo vir que o prefeito e o ceguinho ainda estão juntos a coisa se normaliza. Vocês até deveriam criar uma campanha de arrecadação juntos, prefeitura e igreja...
    _ Não estou de acordo mas farei o que você sugere.
    _ Por falar em sugestão, você pensou naquela que lhe dei ainda outro dia? Eu acho sinceramente que já esta na hora de você se 'associar'.
    _ Eu não vou nem discutir isso com você de novo, meu pai. Minha opinião sobre esse assunto continua a mesma desde a última vez que você me 'sugeriu' tal coisa.
    _ Você precisa entender, filho, que eu não posso ser o único 'associado' na família. Quando eu morrer o acordo morre comigo.
    _ É como eu disse antes, pai, eu não farei esse tipo de coisa. Entenda de uma vez.
    _ Filho... ao menos pense...
    _ Eu tenho uma sugestão para vocês 'associados'. Por que vocês não começam uma igreja para vocês.
    _ Interessante... e o Sarcófago's bar poderia ser a nossa sede...
    _ Por falar nisso, por que você marcou essa reunião aqui. Essa música esta me irritando.
    _ Eu tenho uns assuntos a tratar com a gerência. E de qualquer forma, a música me agrada!
    _ Sério!? AC-DC? Você pai? Fala sério!
    _ Sério meu filho! Hells bells, essa canção que esta tocando agora, por exemplo, dizem que é a favorita do goleiro do seu time...
    _Eh!?
    _Não sei! Me disseram...
    *
    O ritual mensal de Dona Judith começa quando ela dá a partida em seu pequeno carro azul. Sai do bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, e dirigi até a zona norte. Dona Judith tem muito medo de pegar a estrada sozinha. Deixa o carro ali e pega o ônibus em direção ao interior do estado, vai render a visita mensal ao sobrinho Joaquim. Sempre tinha prazer em fazer essa visita ao adorado sobrinho, mas não hoje, hoje ia por obrigação. Tinha coisas mais urgentes em São Paulo que demandavam a sua atenção.
    Fizera uma promessa, no leito de morte da irmã, de que sempre cuidaria do filho dela. Então por mais atarefada que estivesse ou por mais problemas que tivesse, dona Judith nunca deixou de visitar o sobrinho ao menos uma vez por mês. Várias vezes tentara sem sucesso convencer Joaquim, a vender a casa e muda-se para São Paulo, onde ficariam mais próximos, mas o teimoso Joaquim sempre recusou-se a mudar para a capital.
    A viagem de ônibus era rápida e tranquila. Antes que percebe-se já se encontrava em 'Desalma'. Apesar do parentesco com um morador local, dona Judith nada sabia da coisa sobrenatural que acontecia na cidade. Ignorava também a alcunha local da cidade. Nunca passara mais que dois dias na cidade, sempre aos finais de semana.
    Sua mãe resolvera morar naquela cidade com a sua irmã, após o fim do casamento. Ela por sua vez ficou com o pai em São Paulo. Após a separação dos pais se viu separada de sua irmã Janeth. Nunca foram muito chegadas uma à outra, mas não podia deixar de cumprir a promessa feita a uma moribunda.
    A estação rodoviária distava da casa de Joaquim apenas dois quarteirões, uma pequena caminhada e já estava na casa do sobrinho. Tocou a campainha e aguardou. Dali a pouco Joaquim saiu pela porta usando bermudas e uns grossos óculos escuro. Abraçou a tia pediu bença. A tia retribuiu com um abraço apertado e beijos.
    Conversaram por horas. Dona Judith contou as novidades que aconteciam em São Paulo. Depois ouviu as atualizações que Joaquim tinha sobre a sua cidade...
    _ Você vai ficar chateado se eu for embora hoje... - disse dona Judith la pelas tantas.
    _ Claro que não tia...
    _... é que seu primo Vicente, lembra dele?
    _ Tenho uma vaga lembrança.
    _ Ele esta passando por uma situação difícil em todas as áreas da vida dele nesse momento e...
    _ Não tem problema tia, você não deveria nem ter vindo...
    Dona Judith franziu a testa.
    _ Quero dizer, devido a esses problemas do seu filho, você poderia ter adiado a visita.
    _ Não ,meu filho, isso nem pensar. Sua mãe ficaria muito chateada comigo.
    _ Acho que não. Ela compreenderia.
    _ Talvez... Mas e você, porque essa carinha preocupada.
    _ Eu estou bem tia. É impressão sua.
    _ Tire os óculos!
    _ Como?
    _ Deixe eu ver os seus olhos. Ai saberei se você está bem mesmo. Os olhos não mentém.
    Joaquim levantou-se e tomou o rumo da cozinha.
    _ Vou tomar uma água. Você quer mais chá?
    _ Vamos lá, Joaquim, para isso estou aqui. Para ajudá-lo. Conta o que esta te afligindo.
    _ Não é nada tia. É que estou precisando contratar um advogado e eles estão se recusando a pegar o meu caso.
    _ Mais porque meu filho. É problema de honorários? Você não pode pagar...
    _ Não tia, a questão é que o caso é contra o meu patrão e ele é praticamente o dono da cidade...
    _ O pai do prefeito?
    _ Isso mesmo. Todo mundo aqui tem medo de enfrentá-lo.
    _ Você já pensou em contratar um advogado de fora da cidade. As vezes é a única saída.
    _ Pensei, mas seria muito melhor para todos se o advogado fosse daqui mesmo da cidade...
    _ Posso propor uma solução? Se você não se importar, coração. Você poderia contratar o seu primo.
    _ Seu filho? - perguntou Joaquim, coçando a parte de traz da cabeça como fazia sempre que estava confuso. Depois continuou - Depois do que você me contou, de como a vida dele esta confusa, não creio que ele queira se afastar de São Paulo. Ou tenha cabeça para...
    _ Mas é exatamente o que ele esta precisando, se distrair um pouco.
    _ Não sei não tia Judith, Talvez não seja uma boa ideia afinal. Vou tentar mais uns dias arrumar um por aqui mesmo.
    _ Vamos fazer assim eu falo com ele e então te mando a resposta, tenho certeza que ele vai aceitar. Contudo se ele disser não, você continua procurando...
    A conversa com a tia entrou pela tarde. Lá por volta das cinco horas Joaquim levou a tia até a rodoviária ela se despediu do sobrinho com a promessa de que convenceria o filho a advogar a causa dele.
    O ônibus partiu levando a simpática e amável senhora para São Paulo.
    ***
  • Desalma: A noite na alma 08

    Vicente
    "...E o meu sonho
    Nem consigo me lembrar
    Mas o certo é que você estava lá
    Sonho real, sonho real
    Seu beijo
    Minhas mãos em seu quadril
    Madrugada tão febril
    Ah, como eu gosto de você..."
    _Vicente, quem canta essa canção? - perguntou Mônica, se espreguiçando como uma gata selvagem, na cama bagunçada do hotel. Com o movimento seus pequeninos e apetitosos seios pularam para fora do lençol. A visão daqueles dois seios durinhos acordou outra vez o desejo de Vicente.
    _Ira!. Entre seus rins - ele respondeu puxando-a para si. Ela sentiu o desejo dele e levantou-se.
    _Eu tenho que trabalhar, coração! - disse caminhando nua em direção ao banheiro. Os olhos desejosos de Vicente a seguiram. 'Como era bonita assim nua, sem o seu uniforme de roqueira', pensou. - Ira! Você falou? Gostei!
    _Sabe que você caminhando nua assim de costas para mim, essa música tocando, tá me dando umas ideias meio bobas.
    _Seja lá quais forem essas ideias bobas, vai ficar para outro dia - disse entrando no banheiro e fechando a porta atrás de si. Vicente ouviu a água do chuveiro cair. Aumentou o som e ficou curtindo a ideia.
    "...Meu exílio
    É em seu corpo inteiro
    És meu país estrangeiro
    Ah, como eu gosto de você
    Me deu o dedo
    Eu quis o braço e muito mais
    Agora estou a fim
    De ficar entre os seus rins
    De ficar entre os seus rins..."
    ***
    Dona Judith desembarcou em São Paulo por volta das sete e meia da noite. Pegou seu carro e tocou para a zona leste, para o charmoso bairro do Tatuapé, onde morava seu filho o doutor Vicente Macedo Jovelli.
    Doutor Macedo Jovelli havia fundado, pouco tempo depois de se formar, a firma de advocacia, JML associados, com dos amigos também recém formados. De lá para cá a firma cresceu bastante, assim como seus proprietários. Doutor Jovelli, no entanto, se encontrava numa situação bastante delicada e complicada. Angélica sua mulher o havia largado após vários escândalos amorosos, dignos de novelas televisivas. Levara consigo também os dois filhos do casal e agora brigava na justiça pelos bens do doutor Jovelli. Pesava também sobre ele, uma acusação de homicídio de um suposto namorado de Angélica. Sua preocupação maior, contudo, era a possível perda do seu direito de advogar, devido a acusações de má conduta profissional, envolvimento com o crime organizado e lavagem de dinheiro.
    O doutor Jovelli está sentado a uma escrivaninha no escritório que mantém em sua casa. Sobre a mesa uma garrafa de jim beam e três copos. Os dois copos vazios fora deixados ali pelos sócios do doutor Jovelli, que saíram a poucos minutos. Discutiam a saída de Vicente da firma.
    _ ("")...vocês querem que eu saia da firma que eu mesmo fundei? É isso que você esta me dizendo, Lobato - vociferou Vicente, ao ouvir a proposta dos sócios.
    _ Foi você que fundou a firma? Não fomos nós então - respondeu Lobato, no mesmo tom irritadiço - JML, lembra?
    _ Senhores, precisamos ser práticos aqui - Disse Medeiros, o único que parecia conservar a civilidade - Infelizmente, meu caro Vicente, ou você sai da firma ou não vai haver mais firma. Estamos perdendo clientes todos os dias, logo todos terão migrado para a concorrência...
    _ E vocês acham que é por minha causa?
    _ Pelo amor de Deus, Vicente - disse Lobato.
    _ Sem falar na Angélica - continuou Medeiros - como você bem sabe ela quer a sua parte na firma. O amigo vai me desculpar mas ter a Angélica como sócia na firma não nos parece uma boa ideia.
    Vicente se levantou da cadeira que estava sentado, caminhou um pouco pele sala. Era um sujeito extremamente alto, jovem ainda, mal chegara aos quarenta anos, vestia um terno preto sobre uma camisa azul, a gravata se encontrava sobre a escrivaninha.
    _ Vocês deveriam ter mais fé em mim - disse Vicente, olhando os companheiros - Por quantas já passamos e sempre vencemos no final...
    _ Sinto muito Vicente, Mas se você continuar na firma, a queda é inevitável - disse Medeiros.
    _ Ou você pula do barco e salva o barco ou fica e afundamos todos - completou Lobato - simples assim.
    _ Simples assim... simples assim - Vicente tomou um bom trago do uísque que estava no copo, encheu novamente e continuou -Está certo então, eu saio... Quanto a Angelica pode deixar que eu vou cuida dela...("").
    Vicente relembrava essa conversa que tivera a pouco com seus sócios ou ex-sócios, regando os seus pensamentos com uísque. Abriu então, outra vez, a gaveta do meio da escrivaninha.
    _ É velho companheiro, só você não me abandonou. Nunca me deixou na mão... não vai me deixar agora... - disse para o revolver que descansava na gaveta.
    Era a terceira vez que abria aquela gaveta, chegando mesmo a encostar o cano gelado do revolver 38 a sua têmpora, depois desistindo da ajuda do velho companheiro.
    _ É como dizem, companheiro fiel, a terceira vez é a que é para valer - disse isso empunhando o revolver. Em seguida abriu a boca enfiou o cano na boca inclinou a cabeça para traz, sua mão tremia... seu corpo todo tremia. O dedo dava pequenos toques no gatilho.
    Nesse momento a campainha tocou, uma vez, duas vezes. O susto que Vicente tomou quase o fez puxar o gatilho.
    _ Salvo pelo gongo, literalmente - disse Vicente, recompondo-se - Quem será agora, será que um homem não tem paz nem para atentar contra a própria vida.
    _ Abre filho, sou eu - Gritou dona Judith batendo na porta do filho.
    _ Que desespero é esse mãe, morreu alguém? - disse Vicente, abrindo a porta.
    _ Não filho, estou aqui para salvar a sua vida... Mas isso é jeito de falar com a sua mãe?
    _ Não era para você esta no interior - disse Vicente, ignorando a repreenda da mãe.
    _ Eu estava, mas voltei mais cedo para ajudar você. Não faz sentido eu ficar la ajudando o filho da minha irmã quando meu próprio filho precisa de mim... Você está bem!? Está todo suado.
    _ Eu agradeço mãe, mas, não creio que você possa fazer muita coisa para me ajudar. Infelizmente.
    _ Ai é que você se engana meu filho. Eu posso te dar um abraço, carinhoso e significativo, de mãe.
    _ To meio velho para isso - disse Vicente , ao receber o abraço apertado da mãe.
    Ficaram um tempo abraçados.
    _ Okay, mamãe urso, chega de sentimentalismos - disse Vicente, se livrando do abraço da mãe. E então continuou - Entre por favor! Como é que estão os parentes lá do interior?
    _ Parente, filho , no singular. É só um parente que temos lá. Você não se lembra dele? Joaquim seu primo. Vocês brincavam juntos quando eram crianças.
    _ Isso já faz muito tempo mãe, mas, eu me lembro dele sim, ele era criança, um pirralho chato. Era o que? Uns doze anos mais novo que eu?
    _ Por quê você não lhe faz uma visita... fica uns dias la no interior...
    _ Você acha que eu vou largar minha vida aqui, na situação em que ela se encontra no momento, e vou lá para o interior pisar em bosta de vaca e tomar picada de inseto. Tenha a santa paciência mãe!
    _ Você não esta pensando direito, meu filho, isso seria muito bom para você, nesse momento - insistiu dona Judith.
    _ Você tá maluca mãe... tomou cachaça lá com os 'caipiras'?
    _Além do mais, seu primo precisa de um bom advogado.
    _ Tenho certeza que existem bons advogados por lá que possam resolver um problema de roubo de galinhas...
    _ Sim, com efeito, mas nenhum que queira pegar a causa do seu primo. Não se trata de roubo de galinhas ou qualquer outro tipo de bicho.
    _ De qualquer forma, mãe, a qualquer momento posso ser expulso da OAB, perder o meu direito de advogar.
    _ Pense bem, filho, Você não esta podendo exercer a sua profissão aqui, ninguém em sã consciência contrataria você no momento aqui em São Paulo, pelo menos até se resolver essa situação. A qualquer momento você pode ser impedido de praticar advocacia por algum tempo...
    _ Não seja eufêmica - disse Vicente. - Isso vai ser o fim da minha carreira!
    _... então, e pelo que ando ouvindo por ai, a qualquer momento a justiça não vai lhe permitir sair da cidade. Você deveria aproveitar a oportunidade, se afastaria dos problemas descansaria a cabeça e ainda teria um caso interessante para advogar.
    _ Eu vou pensar mãe.
    _Olha Vicente, eu preciso dessa resposta o mais tardar até amanhã.
    Vicente pensou por um instante e chegou a conclusão que não seria tão ruim afinal ir pisar em bosta de vaca la no interior. Sua vida estava nadando na merda mesmo. Resolveria uns problemas no inicio da semana e na quinta-feira iria ver o primo.
    _ Tudo bem mãe, diga ao primo Joaquim que no meio da semana eu apareço por lá.
    _Eu sabia filho, isso vai ser de grande ajuda para você - disse dona Judith, abraçando o filho mais uma vez.
    Dona Judith ficou algum tempo na casa do filho, cozinhou, jantaram juntos, depois foi para sua casa com uma sensação de quem cumpriu o seu dever.
    ***
  • Desalma: A noite na alma 09

    Chegada de Vicente a Desalma
    Sympathy for the devil(The Rolling Stones)
    Please allow me to introduce myself
    I'm a man of wealth and taste
    I've been around for long long years
    Stole many a man's soul and faith
    And I was 'round when Jesus Christ
    Had his moment of doubt and pain
    Made damn sure that Pilate
    Washed his hands and sealed his fate
    Pleased to meet you
    Hope you guess my name
    But what's puzzling you
    Is the nature of my game
    I stuck around St. Petersburg
    When I saw it was a time for a change
    Killed the czar and his ministers
    Anastasia screamed in vain
    I rode a tank
    Held a general's rank
    When the blitzkrieg raged
    And the bodies stank
    I watched with glee
    While your kings and queens
    Fought for ten decades
    For the gods they made
    I shouted out
    Who killed the Kennedys?
    When after all
    It was you and me
    Let me please introduce myself
    I'm a man of wealth and taste
    And I laid traps for troubadours
    Who get killed before they reached Bombay
    Just as every cop is a criminal
    And all the sinners saints
    As heads is tails
    Just call me Lucifer
    'Cause I'm in need of some restraint
    So if you meet me
    Have some courtesy
    Have some sympathy, and some taste
    Use all your well-learned politesse
    Or I'll lay your soul to waste
    Pleased to meet you
    Hope you guessed my name
    But what's puzzling you
    Is the nature of my game
    Get down
    Tell me baby, what's my name
    Tell me honey, can ya guess my name
    Tell me baby, what's my name
    I tell you one time, you're to blame
    What's my name
    Tell me, baby, what's my name
    Tell me, sweetie, what's my name
    ***
    Um carro esta parado na praça da matriz na cidade que localmente se conhece por Desalma. É noite de quinta feira... Dentro do carro Vicente observa o cair da noite. Acabara de chegar a cidade.
    Vicente desce do carro intrigado com a névoa que vem invadindo a cidade como um ser vivo. Cada vez mais perto, faz Vicente lembrar um filme que viu certa vez sobre um homem que atravessa um nevoeiro e depois vai encolhendo até que um dia desaparece...
    Quando a névoa o 'engole' Vicente sente seu coração disparar, não é a névoa que causa essa reação em Vicente, mais sim o cheiro que a acompanha.
    _ Puta que pariu... - diz Vicente para si depois retorna para o carro, confere as horas no relógio, 19:29.
    Vicente da partida no motor, quando vai saindo da praça cruza com uma limusine que vem entrando na praça, os vidros extremamente escuros não o deixa ver quem está naquele inusitado carro. Quando dobra a esquina ouve toques de buzina...
    Depois de rodar um pouco pela cidade deserta, Vicente resolve então pernoitar no primeiro hotel que encontra. Estaciona em frente ao hotel pega uma pequena valise e desce do carro. Defronte para o hotel, Vicente pode ler o letreiro que traz o nome do hotel: Antunes Hotel.
    Vicente constata logo que entra, que apesar de se tratar de um hotel simples, o Antunes hotel parece ser limpo e aconchegante. Uma pequena mesa, cadeiras e um sofá formam a mobília do simpático vestíbulo vermelho e branco. Em um balcão ao fundo protegido por grossos vidros. Um senhor alto e magro atende aos hospedes que chegam ao hotel. Ha também um corredor que leva ao elevador e as escadas ao fundo.
    Vicente se aproxima do balcão, dirige um boa noite ao homem que esta atrás do balcão de cabeça baixa fazendo contas em um papel. O homem responde igualmente com um boa noite.
    _ Eu gostaria de um quarto - diz Vicente observando o quadro de preços. O homem levanta a cabeça e olhando para Vicente pergunta:
    _ É pernoite?
    _ Isso! - responde Vicente.
    Nesse momento Vicente baixa os olhos do quadro de preços e encara o homem. Ele nota uma estranheza naqueles olhos, algo singular. Os olhos do homem parecem sugá-lo para um buraco sem fim, apesar do impulso de desviar o olhar, Vicente sustenta o olhar. O homem que parece não esperar aquela atitude do potencial hospede, baixa os olhos e diz:
    _ É 75,00 o pernoite.
    Vicente seguindo as indicações dadas a ele, se encaminha para o quarto 201. O quarto não é grande mas tem um espaçoso banheiro, a cama parece confortável. Na parede oposta um aparelho de televisão. Vicente aciona o controle remoto a televisão liga e duas belas mulheres se revesam em carinhos íntimos em um rapaz. Vicente muda para o noticiário e vai tomar banho. Uma coisa não sai da sua cabeça: Os olhos do homem por trás do balcão. Se alguém, por ventura, perguntasse o que ele viu nos olhos daquele homem, provavelmente esse responderia que não viu olhos, apenas um vazio. Um penetrante e assustador, vazio.
    Lá embaixo, o homem também pensava em Vicente, Não entendia a sua reação diante daquele forasteiro.
    Após o banho Vicente deitou-se e ficou a ver televisão. Não demorou a pegar no sono. Lá pelas tantas acordou meio sufocado, foi até a janela e ficou a olhar a cidade, no entanto, não viu nada por causa da névoa, com exceção de uma esquina iluminada o resto estava tomado pela branca escuridão. Na esquina iluminada ele viu uma movimentação, pessoas pareciam conversar encostadas a um carro preto. Vicente voltou para a cama e dormiu novamente.
    Na manhã seguinte Vicente despertou cedo, tomou um banho e se aprontou para deixar o hotel, estava curioso para rever o atendente.
    O descontentamento de Vicente foi tão grande, ao notar que o homem não se encontrava mais lá, que a moça que agora ocupava o seu lugar não pode deixar de perceber.
    _ Bom dia - disse Vicente com um sorriso - O funcionário da noite já foi?
    A moça retribuindo o sorriso disse:
    _ Já. As pessoas geralmente ficam felizes por ele já ter ido embora quando acordam na manha seguinte. O moço, no entanto, parece desapontado!
    _ Confesso que fiquei um pouco... esperava ver aqueles olhos novamente...
    _Isso sim não se ver todo dia! Ele não é funcionário é o senhor Antunes o proprietário. De qualquer forma, as pessoas geralmente querem distância daqueles olhos...
    Vicente deixou o hotel, la fora a cidade parecia outra. O sol brilhava, pessoas caminhavam pelas ruas, nem sinal do cheiro desagradável que o incomodou a noite toda. Entrou no carro e tocou para a casa do primo.
    ***
  • DESCAMINHOS

    Sermos amantes
    Nos livros, na vontade de potência e livres!
    Construirmos nossas opiniões
    Silenciaremos os canhões e os sermões
    Viajaremos no universo e nas fragmentações.

    Sermos cantores
    Nos bastidores, escritores!
    Críticos dos valores superiores
    Da sociedade hipócrita sem concepções
    Vamos insuflar as cotas em detrimento dos colonizadores.

    Sermos artes
    Poesia, Platão e Sócrates!
    Livros belos, filosofia e conotações!
    Cidades, festivais e artes!
    Nietzsche, disciplina e valores.

    Sermos contestadores
    Catadores de sementes
    E de idéias mirabolantes
    Idealizadores de uma sociedade justa e combatente
    Nas trincheiras das desigualdades.

    Sermos desencaminhar...

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Curitiba - PR

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