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literatura marginal

  • O ANJO DO JULGAMENTO

    Prólogo
    A maldade silenciosa.
    Vivo num mundo cruel e sem salvação. Onde monstros se disfarçam de homens, e crianças são tratadas como adultos. Sigo por ruas pavimentadas, pagas com o sangue dos trabalhadores, e a dor dos inocentes. Criminosos crescem como pragas, e andar por qualquer cidade, já não é mais seguro. Ligo minha TV para esquecer que a perversão cresce lá fora, e me deparo com materiais doentios direcionados aos menores. A maior rede social de vídeos do mundo, proíbe minhas denúncias, garantindo que o material não chegue aos adormecidos. Mas minhas palavras não podem ser caladas. Há uma inútil luta na sociedade, para saber qual religião é melhor que a outra, ou se o homem é maior que a mulher, e vice e versa. Enquanto todos dão atenção para assuntos tão triviais, verdadeiros males ocorrem em torno do mundo com um único objetivo: manter a dominância de uma Elite doentia, que tem pervertido a magia, desde que o homem era somente um projeto de uma raça superior. Não me diga que ainda acredita, que os demônios vivem abaixo dos seus pés, e que Deus não é uma inteligência magnânima, que deu origem a isto tudo. Não, não me confunda como uma religiosa fanática, pois estou bem longe de ser. Não, também não me chame de satanista, este é um nome que não cabe a mim. Estou muito além destes rótulos, para ser definida somente por eles, por isso peço que me respeite, e me chame apenas por anjo do julgamento. Já que estou acima do bem e do mal, e apta para determinar a sentença dos seus homens e mulheres. Vim para este mundo, como uma de vocês, nasci de uma barriga humana, embora fique cada vez mais claro, que não sou deste mundo. Cresci como uma criança normal, sem saltos no tempo, ou perseguições de um grupo secreto. Porém sempre carreguei comigo, uma maldade gigantesca, que me levava a manipular, me aproveitar, e torturar os outros. Talvez tenha sido uma menina psicopata, talvez somente acima da média, mas uma coisa é muito clara, esta crueldade frívola nunca me abandonará, e dado as atuais circunstâncias, é melhor que assim seja. Na minha fase adulta, o meu destino ficou cada vez mais claro, quando seres poderosos, entraram em contato comigo através de pensamentos obscuros, e sinais nos céus, que jamais cessariam, até eu aceitar a minha conduta. Em janeiro de 2020, fui seguida por um grupo de frades tradicionais, após ter tido vários pesadelos, com inúmeras mortes causadas pelas minhas mãos. Eu senti medo, pois após tantos anos de terapia, enfim tinha descoberto que sofria de um mal psicológico, que poderia me transformar numa assassina de uma hora para a outra, o quê para mim, era cruel e demoníaco, e eu precisava controlar, senão vidas inocentes iriam pagar pelo meu problema. Eles me chamaram por um nome, que tentei esconder debaixo do tapete, todavia evitar o quê era, não foi o suficiente para me deixarem em paz, e assim tive de seguir com eles. Muito antes de evitar as minhas asas negras, já havia imaginado que um grupo viria até mim, e me levariam a algum lugar sombrio, por isso implorei aos deuses para me protegerem, ou me deixarem escapar. Infelizmente cheguei ao meu destino, e ninguém me salvou. Eles eram assustadores, e tentaram me atacar, mas o meu desejo insaciável por sangue, me levou a ficar viva e ilesa. Manchada de vermelho, me afastei do monte de cadáveres, pronta para me entregar a polícia. Só que dois padres surgiram, e aplaudiram o meu desempenho. “Ela é perfeita.” Concordaram entre si, e fiquei desconfiada, esperando que me dessem uma explicação. Eles pestanejaram, e me vi obrigada a puxar a faca. “Digam quem são, e o quê fazem aqui.” Perguntei sentindo a adrenalina fluir. “Somos os filhos de Jesus. Pertencentes a ordem sagrada de Cristo.” Eles me responderam, e eu gargalhei. Afinal o quê uma ordem de tamanho poder religioso, iria querer com um anjo caído, que negava a própria alcunha? Eles me disseram que precisava ir com eles ao mosteiro de Santa Marta, e que lá receberia explicações mais detalhadas. Naturalmente opinei por não ir, contudo cedi a minha curiosidade, e com eles eu segui. Muitas horas se passaram, até me levarem ao topo de uma montanha rochosa. Outra vez o medo de ser destratada, e sofrer torturas preencheu o meu ser, até que o vi. Era um homem loiro, de cabelos escuros, olhos penetrantes e claros, que intercalavam entre o rio e o mar, muito bonito , que vinha em minha direção. “Minha filha.” Ele disse, e eu não segurei o riso. Até ali tinha noção que de quê havia conhecido o paraíso, porém filha daquela figura bíblica? Era cômico demais. “Preferes desta forma?” Disse ao fazer chifres de bode crescer em sua cabeça, enquanto o corpo mudava. “Não pode ser.” Fiquei catatônica, e acabei por desmaiar em seus braços. Ao acordar ele me explicou tudo, e pude reagir de outra maneira, o abraçando forte, por saber que estava diante do meu verdadeiro pai. Assim me tornei uma dos seus seguidores, e me dediquei a cumprir a minha missão, de destruir os ímpios, e iluminar a terra, com a minha chama sagrada. Pois ele só havia voltado, para que o julgamento se iniciasse, e o mesmo só poderia ser feito com o poder da sua amazona, e filha mais velha, a própria morte, ou seja eu. No início senti culpa pelas vidas que ceifei, no entanto bastou ver a lista dos culpados, para que o arrependimento se transformasse em paz. Não estava tirando aqueles homens e mulheres de suas famílias, e sim devolvendo demônios de volta para o inferno, do qual nunca deveriam ter saído, e seguiria fazendo isso até limpar o planeta, desta maldita escória de covardes.
    Capitulo 1- Verdades
    Inconvenientes
    A MORTE NARRA:
    Um dia eu tive uma amiga, que acreditei que seria para sempre, mas agora era somente outra neblina de inveja e prepotência, que precisava se dissipar. Ela era bonita, e de corpo desejável, mas embora tivesse tais atributos, não era feliz ou satisfeita consigo mesma, por mais que escondesse isso, através de um sorriso tão vazio quanto a sua cabeça sonhadora. Sei que parecem sinais de ódio, todavia posso assegurar-lhes que é somente mágoa. Eu confiei nela, depositando em suas mãos todos os meus sonhos, medos, e anseios, como se fosse a única confidente que tive na vida, e o quê achei que duraria até o Armagedom, hoje era apenas um motivo de dor e tristeza. Ela seguiu uma vida criminosa sem retorno a cidadania de bem. Algo que tentei lhe alertar, que não teria um fim nobre. Já eu me juntei a Ordem secreta, que conhecia as duas faces do demônio, e passei a julgar os meliantes que trucidavam inocentes. Desde sempre estava claro, que éramos o lado diferente da moeda. Só que para a minha surpresa, não fui eu, a servir as trevas, cometendo iniquidades, apesar dos demônios que sempre me acompanharam, nas profundezas da minha mente. “Thamara.” Meu superior me chama, enquanto sigo pelo escritório, olhando os relatórios da empresa, com um par de óculos, que por intervenção divina, não mais necessitava, porém precisava para manter as aparências. “Seu desempenho foi excelente neste mês. Logo se formará com louvor.” Ele me elogia, e o olho sem muito interesse nas finanças. “Que bom. Não vejo a hora de terminar o curso, e voltar a trabalhar em casa.” Deixo escapar, e isso o magoa, já que acha que eu não valorizo seus esforços para me sentir bem ali. Não me importo muito, pois após ter conhecido tantos que usavam a máscara de bons moços, para esconder seus crimes. Gentilezas não mais me atraem. “Tha.” Ouço a voz do meu amado, e sorrio ao ver o belo moreno de terno que vem na minha direção. Ao chegar o abraço com todas as minhas forças, pois ele é a minha luz, neste mundo sombrio. Nós terminamos as simulações de compra e venda de ações, e descemos pela escadaria. Ao entrarmos no carro, nossas feições de alegria mudam, e ele segura a minha mão. “Sei que não será fácil. Mas é preciso.” Diz tentando me dá forças, e eu aceno com a cabeça, me preparando para tempestade que há de vir. Ele estaciona o carro, eu desço com o cabelo amarrado, num coque para trás, luvas, e tudo o quê é necessário para cometer um crime. Estamos numa floresta densa e escura, e o cheiro de morte impregna o ar. “Ela esteve aqui.” Aviso, ao o seguir sem fazer muito barulho. “De fato.” Meu marido pega duas cabeças de recém-nascidos, mortos, que tiveram seus olhos arrancados, e pela quentura do sangue, percebo que o infanticídio foi praticado a poucas horas. “Droga!” Esbravejo furiosa, e nós abandonamos o local do sacrifício. Assim me livro das vestimentas que nos ligam aos assassinos, exatamente como os filhos de Jesus me ensinaram, e seguimos como inocentes. Meu celular toca, e o atendo com grande desgosto.
    _Thamara.
    _Não chegamos a tempo de capturá-la.
    _Eu sei. Sua irmã pode ser uma
    cabeça oca, mas ordem a qual ela
    serve, é cheia de membros
    perigosos.
    _Para uma menina, ela tem me
    causado uma bela dor de cabeça.
    _É porquê tem sentimentos por ela,
    e no fundo se sente culpada pelo
    caminho que tomou.
    _Pai. Eu sou o monstro da família.
    Se tivesse controlado meu ego,
    talvez pudesse salvá-la.
    _Não, não poderia. Ela tinha o livre
    arbítrio, e optou por seguir para
    as trevas.
    _Ela não é tão má. Eu sei, porquê
    na hora das mortes...
    _Thamara. Você desliga as emoções
    , para julgar os que merecem. Ela o faz
    para sorrir, se divertir, e você já viu.
    Não há comparação.
    Meu pai estava certo. Minha irmã, e antiga melhor amiga, agora era um monstro imparável, que não se preocupava com o dia de amanhã, e já tinha cometido mais de 10 assassinatos, em nome da Ordem das Corais. Uma seita religiosa que tem planos malignos para o planeta, e precisa ser detida, pois apesar de seu número ser pequeno, a mesma é responsável por todo o serviço sujo, da ordem piramidal dos Iluminados. Algo terrível, que me trouxe memórias cruéis... “Katherine!” Gritei ao vê-la arrancar a cabeça de uma criança, mas ela me ignorou, tinha se entregado a escuridão, e nada poderia ser feito para regressar. “Ela nunca vai parar.” Conclui retornando aos tempos atuais. Era hora de matá-la, mas não sabia se teria a mesma frieza que desenvolvi ao exterminar os outros.
    A viagem de volta para casa foi longa e silenciosa. Bartolomeu sabia o quanto aquela situação me afetava. Ao chegarmos, notei que os portões da minha luxuosa casa estavam abertos, então coloquei um dos pares de luvas, e amarrei os cabelos. “Thamy.” Meu marido segurou o meu pulso, assim que coloquei o pé para fora, já com a adaga na mão. Meus olhos subiram, e vi a silhueta de minha mãe Lina, brincando com minha filha e cópia Ramona. “Não traga os seus trabalhos para casa. Seu pai jurou que manteria sua identidade protegida, e enviaria os melhores guardas para cuidar do nosso lar. Confie na palavra dele.” Ele me disse, porém não quis ouvir, andava tendo visões de que a casa seria invadida pela Ordem das Corais, e seria arrastada pelos Iluminados para dentro de um abismo, e não podia abaixar a guarda. A noite...Jantamos lasanha, com muito refrigerante, agindo como a família normal que não éramos, para manter a mente de Ramona sã. Um acordo que firmei com Bart, para garantir que a menina tivesse a infância que não tivemos, e somente mais tarde viesse a saber O quê nós somos. A pequena sempre carinhosa, nos deu beijos de boa noite, e foi para o seu quarto, ler seus contos favoritos dos irmãos Grimm. Apesar de sua doçura, ela sempre teve inclinações para assuntos obscuros, pois as histórias contadas para outras crianças, lhe davam sono. Era uma prodígio, e por isso eu ficava cheia de dores de cabeça, quando minha mãe vinha em casa. “Thamy você tem que colocá-la numa escola especializada.” Disse minha mãe, enquanto eu colocava os pratos na lava louça. “Já falamos sobre isso. Nem eu, nem Bartolomeu gostamos da ideia. O mundo não é seguro para uma garota gentil como ela.” Respondi esperando o furacão Lina, derrubar todos os objetos da cozinha, mas a idade a deixou mais calma, e isso me surpreendeu. “Filha você sempre reclamou por não termos explorado o seu potencial quando criança. Nós não fizemos isso, porquê não percebemos, seu pai não percebeu, mas você e Bart veem, não acha justo lhe darem a oportunidade?” Usou o velho argumento irritante, de quê fui um prodígio não reconhecido, por culpa do meu pai terrestre, e isso me chateou muito, contudo respirei fundo, e sentei a mesa, ligando o meu notebook. “Venha aqui.” Chamei-a, e a mulher baixinha e empinada, se juntou a mim, com seus óculos fundos. “Está vendo estas notícias?” Mostrei o novo sistema de pesquisa inteligente, conhecido como SIP-I. O programa que substituiu o Google em 2022, quando a Deep Web, deixou de ser uma rede subterrânea, para se tornar superficial, devido a grande popularidade de materiais distribuídos como inofensivos. Ao contrário do programa do Bill Gates, o SIP-I, era controlado por uma inteligência artificial, criada por um gênio e pai de família, que a desenvolveu exclusivamente para garantir que os filhos, ficassem longe dessas mídias danosas. O Google ainda existe, porém é uma ferramenta usada por criminosos, que agora podem agir a olho nu, graças a intervenção da Elite, para satisfazer seus desejos doentios. A policia, os guardas, os seguranças, os advogados, e todas as ferramentas para se fazer a justiça, não passam de teatros financiados pelo grupo piramidal, para fingir que ainda há um meio de salvar a todos. Sim, o mundo está um completo Caos, e não posso colocar a minha preciosa herdeira do verdadeiro Novo Mundo, nas garras dos monstros do atual. Não tive todo o cuidado de filtrar a sua programação, lhe formar em cursos a distância, para agora entregá-la de mãos beijadas ao sistema deles. “Menina de 10 anos, é estuprada em banheiro unissex por garotos da mesma idade. -Menina desaparece em escola, sem deixar rastros- Menina é agredida ao voltar para casa sozinha- Meninas tendem a sofrer 75% das agressões e abusos no país -Professor é preso por molestar as alunas. Preciso ler mais?!” Disse ao configurar o SIP-I com a minha biometria, para conteúdo adulto no meu computador portátil. “O mundo não é só isso Thamara.” Ela tenta me convencer, e eu acabo rindo, pois praticamente todo mês tenho que matar muitos, por conta da perversão que se expandiu. “Pode até não ser. Mas tudo o quê vejo é esse descontrole, e enquanto Ramona não for capaz de matar, em vez de ser morta, ela fica em casa.” Disse com frieza, e minha genitora se calou. A conversa que tive com a Dona Lina, me deixou bastante apreensiva, e trouxe de volta demônios, que há anos não me perturbavam. “Cuidado em casa.” Disse uma das vozes de minha consciência. “Você não deve confiar em nenhum homem.” Repetiu, e o medo se apoderou de mim. A passos lentos segui pelo corredor do quarto da minha menina, a porta estava entreaberta, e o meu bebê de 10 anos dormia totalmente embrulhado em sua coberta lilás, que por meu intermédio havia se tornado a sua cor favorita, desde que era menor. Entrei no cômodo, e me sentei ao seu lado, fiquei lhe fazendo cafuné, e vi o seu sorriso. “Você é a coisa mais importante do mundo para mim.” Disse-lhe, e ela me abraçou forte. Foi então que ouvi ruídos, e me vi obrigada a me esconder. Como não tinha para onde ir, usei um dos poderes da morte, a invisibilidade. Bart apareceu ali, e sem perceber acabei por deixar a menina descoberta, com o seu pijaminha de short curto. Respirei fundo, se algo ruim fosse acontecer, teria que ser naquele momento, pois meu marido pensava que eu ainda estava a conversar com a sua sogra. Ele a observou sorridente, e a cobriu, dando-lhe um beijo no rosto. “Sua mãe e você, são tudo para mim.” Falou com ternura, e eu não consegui me conter. Meu corpo tremulou entre o intangível e tangível, e acabei por surgir no canto da parede. “Thamara? Mas o quê faz aqui?” Disse já incomodado. “Eu precisava ver se a Ramona estava bem.” Foi o meu primeiro impulso a dizer. “Se era só isso, por quê se escondeu atrás da cortina?” Questionou com o ar de inteligência, sabendo no fundo o quê aquilo significava. “Nem precisa dizer.” Concluiu me deixando para trás, e sai atrás dele, pronta para me explicar.
    _Bart.
    _Thamy. Você lida com o mal o tempo todo.
    Como é que ainda pensa isso de mim?
    _É só que você é todo liberal, e gosta muito
    de mim, sendo que pareço uma menina
    de 14 anos.
    _15. Mas você tem 24, há diferença.
    _Até o dia que envelhecer...
    _Primeiro se envelhecer, sempre será a minha
    mulher. Segundo você não envelhece, é
    parte de ser a morte.
    _Mas se não consigo julgar nem a Katherine,
    que é minha irmã, imagine a você que é
    o amor da minha vida?
    _Eu não sou a Katherine. Tenho prazer de matar
    pela mesma razão que você. Pra limpar o mundo
    dessa escória maldita, que se tornou uma
    epidemia!
    “Tem prazer de matar? Pela mesma razão que ela?” Ouvi uma terceira voz na discussão, e meus olhos se arregalaram, lá estava a minha mãe na porta do quarto da minha filha, que se escondia atrás da sua longa camisola azul. “Ah! Fantástico!” Explodi, e ele lutou para se manter calmo. “Agora todos os meus planos para a Ramona foram por água abaixo. Está feliz?!” Deixei fluir o ódio. “Espera, vai me culpar? Foi você que iniciou a discussão!” Ele rebateu, e embora tivesse razão, preferi negar a culpa, e inspirei “todo o ar do ambiente”, até me tranquilizar, para explicar tudo o quê tinha acontecido, pois embora tivesse o dom de tirar a vida das pessoas, não tinha a capacidade mudar seus rumos. O tempo nunca volta para a morte, isto se dá por uma força maior que a minha, e até mesmo a de meu pai.
    Nos sentamos a mesa, a mesma onde deveriam haver conversas comuns e entediantes, em vez do grande “elefante” que estava entre nós. Ramona ficou a me observar com seus olhinhos negros, que estavam esperando uma explicação, enquanto minha mãe tremia como um rato diante do gato, achando que minha doença, tinha enfim chegado ao estágio final, e agora eu matava sem ter um código de conduta. “Eu poderia mentir para vocês, e acreditem em mim quando digo: Adoraria fazer isso. Mas esconder a verdade, as levariam a pesquisar por conta, e tirarem conclusões mais absurdas que o próprio axioma, por isso vou lhes contar tudo.” Tentei soar culta e fria, mas por dentro temia que não me entendessem, e me jogassem numa casa de apoio emocional e psicológico, um nome bonito para hospício do século XXI. Bart mesmo magoado pela acusação, segurou a minha mão me dando apoio, e apesar de meus demônios o odiarem, por me fazer tão fraca, uma pequena parte de mim, se sentiu segura por tê-lo ali, e assim ambos sorrimos sem vontade, um para o outro. “Lembram-se quando sumi por mais de 6 meses, quando estava perto de fazer 28 anos?” Iniciei o meu relato, com uma pergunta, para adaptá-las ao ambiente do passado. “E que Bart lhes disse que tínhamos tirado um ano de férias longe da Ramona, que tinha se tornado cada vez mais pestinha?” Conclui, e a velha conservada Lina, revirou os olhos, já se recordando do fatídico tempo. “É claro que sim, foi o seu ato mais egoísta em relação a pobrezinha.” Resmungou seca, e isso me fez sorrir com satisfação, pois agora ela se calaria com a verdadeira razão do meu sumiço. “A verdade é que eu tinha sido recrutada por uma antiga Ordem que...” Tentei terminar mas a avó, já veio atropelando a minha narrativa. “Você entrou para os Iluminados?! Depois de tudo o quê me falou sobre eles e sua maldade e...” Desta vez eu atropelei suas palavras. “Não! Eu entrei para a Ordem de Cristo. Na qual os verdadeiros devotos da luz celestial, ou estrela da manhã, são treinados pelo filho de Deus, para limpar o mundo de tamanha crueldade, provocada pela má interpretação das Escrituras Sagradas, que foram corrompidas pelo homem, para atender suas ambições.” Respondi quase automaticamente, e ela ficou emudecida. “Mas você é má. Como o filho de Deus, a aceitaria em seu rebanho?” Inquiriu desapontada com o seu grande ídolo divino. “Eu sou má, porquê preciso ser, e Jesus me escolheu porquê sou a filha dele e Madalena.” Disse com desgosto. Após ter entrado em tantas casas, para matar homens merecedores desta sorte, não gostava de ser associada a maldade diabólica, pregada por palavras vãs, de homens loucos por poder. “Mas você não é filha de Lúcifer?!” Ela ficou ainda mais confusa. “Tive a mesma reação ao descobrir. Mas sim Lúcifer e Jesus são o mesmo ser.” Esclareci, e ela cuspiu a água que tinha começado a beber. “Meu pai cometeu muitos erros mãe. Um deles foi tentado introduzir neste mundo, virtudes para os quais não estava preparado.” Baixei a cabeça, lamentando pelo surgimento da outra face, do príncipe do mundo. “Seu pai é o Alexandre! Esse homem que a induz a matar é um blasfemo!” Gritou como uma fanática, e com o meu dedo indicador apontei minha energia para a planta no meio da sala, que por “mágica" começou a secar, enquanto meus olhos mudavam de castanho para violetas. “Tudo é um, e o um é tudo.” Disse ao abrir a palma, e soprar a vida de volta para a flor, que brotou ainda mais linda e brilhante.
    _Como fez isso? Esse Homem. Esse homem é um alien?!
    _Não, bom é, mas não da forma que está pensando.
    Eu sou o cavaleiro do Apocalipse mãe, eu sou
    a Morte.
    _Mas como isso é possível? Sua gestação foi normal,
    embora houvessem complicações!
    _E você rezou a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
    para que eu não morresse, e me chamou de seu
    milagre.
    _Minha filha. É um peso tão grande para carregar.
    _Eu sei que é mãe. Sei que posso ficar louca. Mas pela
    primeira vez na vida, tudo realmente faz algum sentido,
    e principalmente, eu não preciso mais ficar de braços
    cruzados, vendo o mundo ruir.
    _Mas você é tão jovem, bonita, e inteligente.
    Ele não pode escolher outra em seu
    lugar?
    _Eu tenho 666 irmãos. Mas nenhum deles tem o
    meu poder mãe.
    _Eu sabia que um dia isso ia acontecer.
    _Não tá planejando me colocar no hospício não é?
    _Não, não minha filha. Apenas espero que saiba
    o quê está fazendo, pois um erro e...
    _Mamãe eu não morro.
    _Mas pode se ferir, e depois de tudo o quê já passou, não
    quero que se machuque ainda mais.
    Ela me abraçou, e Ramona ficou calada, ponderando sobre tudo o quê sabia a respeito de Cristo e Lúcifer. Naquela madrugada tive de falar tudo a minha pequena, de uma forma que ela pudesse entender, e acabamos por adormecer.
    O MISTERIOSO MARIDO NARRA:
    Thamara dormiu junto de nossa filha, e eu fiquei a mesa, arrumando os pratos, cheio de doces que devoramos ao ouvir as palavras da minha esposa. Lina não conseguia dormir, por isso ficou sentada no sofá com o olhar vazio. Embora quisesse transmitir confiança a filha, ainda não tinha aceitado os fatos, e suas mãos tremulantes, alegavam que estava a beira de um surto. Olhei-a por cima dos ombros, e respirei fundo. Se não a ajudasse agora, a Thamy iria sofrer as consequências mais tarde, e não podia deixar isso acontecer. Como quem não quer nada, sentei-me ao seu lado, e ela como que por desespero virou-se para mim, dando-me um baita susto, com seus grandes olhos vermelhos e enrugados, marcados pelo pânico do desconhecido.
    _Bart.
    _Eu mesmo Lina.
    _Thamara não me contou como você foi envolvido
    nessa matança.
    _Ah, é simples. O par da Morte, sempre será
    o Peste.
    _Espera você também acredita que é um dos Cavaleiros
    do Apocalipse?
    _Mas é claro que sim. Fui treinado junto com
    a Thamy.
    _Isso é loucura Bart!
    _Não, não é. Basta parar de ver a Thamy como somente
    sua filha, que verá os sinais entorno dela.
    _Vocês tomaram alguma droga, quando conheceram
    esse guru que acha que é Cristo?!
    _Lina. Se acalma. O tal “guru" salvou sua filha de ficar
    cega.
    _Então é um alien! Um alien maldoso!
    _Lina. Ele é realmente Cristo, sua filha é a Morte, e
    eu sou o Peste. Precisa aceitar isso.
    _Por quê?!
    _Porquê com você como nossa aliada, podemos
    iniciar o quanto antes, os treinos de Ramona para
    esta seguir o destino que lhe foi escrito.
    _E seria?
    _Herdar nossos poderes e manter o mundo
    em equilíbrio.
    A conversa com Lina, não me pareceu muito proveitosa. Era evidente que Thamara tinha puxado a cabeça dura dela. Todavia obtive algum êxito, e por isso pude dormir em paz naquela noite. “Você tem que matá-la.” O sussurro de minha própria voz passou pelos ouvidos. Minha esposa não estava de todo errada, haviam demônios na minha mente, só que ao contrário do quê ela pensava, não representavam perigo algum a nossa filha, não da forma que com veemência me acusava, pelo menos. Meus pensamentos eram mais piedosos, me falavam sobre matar a família inteira, e depois a mim mesmo, não torturá-las com maldade, como fazia com minhas “vítimas”, ou de maneira sexual, como algumas das “vítimas” faziam com terceiros.
    Mergulhado no vazio obscuro dentro de mim, eu os vi. Eram vários de mim, cada um com uma ideia de diferente, e como eu sou o rei deste Inferno mental, caminhei lentamente entre eles, mostrando-lhes a minha força e imponência. O meu eu assustado se recolheu de imediato, ou meu eu raivoso, saltou na minha direção, e por isso o peguei pelo pescoço. “Ela nunca vai te amar! Não é capaz de amar a alguém!” Ele gritou e isso me fez sorrir, ao puxar seu crânio ensanguentado para fora do esqueleto. “Eu que mando aqui, e se não respeita a minha amada deusa, deve morrer como todos os outros.” Esclareci, e o frio e calculista veio até mim. “Ela não é controlável como a Célia. Não é um bom negócio, seguir com aqueles que estão além dos fios de nossa manipulação.” Olhou para mim, e eu lhe acertei com um machado que projetei. Não tinha tempo para ouvir as asneiras, de partes minhas, para as quais somente a Thamara ainda dava vida. “Ele seguiu por aquela direção.” Disse o meu eu viciado em violência, e por isso segui cautelosamente até a escuridão, que crescia da direção em que aquele demônio tinha se enraizado. “Ela te deixou uma vez.” Foram as suas primeiras palavras. “Ela seguiu com Dave, e te ignorou. Só retornou porquê Dave não a ama.” Continuou com seu monólogo de mágoa. “Só há uma razão para odiá-la tanto. Sr. Tristeza.” Brinquei ainda atento ao ataque dele. “É Sr. Melancolia.” Ele gritou enfurecido. “Pra mim parece mais o bebê chorão. Aquele tempo se foi Bart Melancólico.” O alfinetei, e depois recobrei o sentido, se somos o mesmo, não cairia numa provocação barata. “Não para mim. Eu ainda a vejo nos braços do outro, exatamente como ela desenhou.” Respondeu com mais intensidade, e pude chegar até ele, porém ao pisar no topo de uma colina, iluminada pela luz da lua, percebi que aquela voz vinha do meu inconsciente. “Ela nos ama. Me ama, e é só o quê importa.” Disse ao olhar para baixo. “Não é tão simples.” Suas sombras se materializaram, agarrando meus pés como tentáculos, e me arrastando para dentro do breu. Uma vez disse a Thamara que eu tinha entrado em depressão quando me deixou, mas eu menti, ela tinha criado algo muito pior dentro de mim, pois nunca havia amado tanto alguém antes dela, e agora esse mesmo monstro queria me puxar para o fundo, com o intuito de se tornar o 70% de mim, que controlava os meus outros demônios. Isso já tinha acontecido uma vez, e até hoje sofro com consequências do Bart Melancólico, que me levou a trair a minha esposa, mesmo que só emocionalmente, e ela nunca me perdoou. “Ela irá fugir com o primeiro homem bonito que aparecer.” Ele disse tentando me desnortear, mas desde que tinha completado 30 anos, não era o garoto de antes, o emprego e pequenas intervenções de Thamy, tinham me tornado atraente o suficiente, para não me sentir ameaçado, caso surgisse mais um novo rival, na batalha pelo coração da minha companheira. Por isso concentrei raios de luz na minha palma, e cortei os braços da criatura, antes de chegar na ponta do precipício. “Eu não entendo por quê você ainda existe. Eu já superei o passado, então faça o mesmo. Não importa as batalhas que perdemos, e sim que vencemos a guerra, e teremos a Thamara para sempre.” Disse iluminando o meu corpo ao máximo, para ser intocável pelo poder obscuro, do ser que habita as profundezas da minha cabeça. “Dave, Thomy, e outros, não foram os últimos.” Ele me disse, e retornei ao meu estado ativo.
    Já eram 7: 30 da manhã, e Thamara já havia iniciado suas negociações com o Robô da Ibov. “Me atrasei?” Brinquei com o meu sorriso mais sem graça, e ela seguiu com os seus olhos vazios, procurando por algo que nem a mesma sabia. “Está atrasado em 15 minutos, e só não perdeu 140 USD, porquê entrei em seu Login.” Respondeu seca, e isso me preocupou bastante. Se ela soubesse a luta que vivo toda noite, para continuarmos juntos, talvez valorizasse o meu amor, ou não. Conhecendo a senhorita “Não te amo há muito tempo.” Certamente não. “Obrigado meu peixe.” Agradeci citando o nosso apelido próprio, na intenção de alcançar as suas emoções. Só que ela seguiu inerte, me ignorando, e isso fez com quê o pesadelo da noite passada, parecesse bem real. Sentei-me do seu lado, meio desarrumado, tinha apenas escovado os dentes, e lavado o rosto. Sua pequena e delicada mão procurou pela minha, e isso me fez sorrir. “Não Bart Melancólico estava errado. Ela me ama sim.” Pensei tentando esconder o riso de alegria, e sem dizer nada ela se encostou no meu ombro, ainda focada na tela da FT. Era o seu jeito de dizer Eu te amo, sem o uso das palavras, e eu adoro isso, pois depois do carinho silencioso, sempre vem o beijo, e neste sinto toda a sua energia amorosa fluir com bastante gosto.
    A MORTE VOLTA A NARRAR:
    Ainda estava enfurecida pela noite passada, ele me traiu com uma garota mais jovem, de 18 anos, quando tinha 22. O quê quer que eu pense? Que é um homem digno que não se interessa por garotinhas? É difícil. Pois achei que o fato de ser 2 anos mais nova, me dava uma vantagem que as outras não podem ter. Afinal desde nova, sempre sofri muita rejeição dos caras da minha idade, e recebi bastantes pretendentes mais velhos. Assim conclui que meu par teria de ter sempre um ou dois anos acima de mim, do contrário sempre seria sempre um fracasso. Meus planos caíram por terra! Mesmo sendo mais nova, ele procurou por uma ainda mais nova, 4 anos mais nova. O quê me levou a concluir que se tivesse 17, teria um relacionamento com uma menina de 13 anos, algo tão patético, quanto o quê Roger, o lixo que me desvirginou fez. Depois de tal fato, nunca mais o vi com os olhos do encanto, porém ainda sim, mesmo ferida, e quebrada por dentro, não deixei de amá-lo. Só que como ele nunca valorizou os meus esforços, para manter longe os abutres que queriam destruir o nosso relacionamento, sempre que esse rancor crescia dentro de mim, acabava por dizer que não sinto mais nada, pois a verdade é que não queria sentir, mas por alguma razão era o único que não era capaz de deixar de amar totalmente. Talvez fosse o pacto que fizemos, quando ele tinha 18 e eu 16, ou quem sabe somos almas gêmeas. Já não sei mais, pois cansei de fazer inúmeros rituais para nos desamarrar, e continuarmos voltando aos dias de intensa paixão da juventude, e nos amando ainda mais. Como uma maldição sem fim, da qual nunca poderia escapar. Karma também é uma opção, consequência por desafiar a ordem divina. Contudo poderia ter me prendido a um homem cachaceiro, que me bateria, ou não me reconheceria nem mesmo com magia. Porém acabei junto dele, e apesar de ter sido o maior dos idiotas, foi a melhor opção, entretanto se pudesse voltar no tempo, eu teria impedido essa união de todas as formas, e com certeza me espancaria até desmaiar, antes de juntar nossas gotas de sangue, e transformá-las numa só, envolvendo o nome de Lúcifer e Lilith. Talvez fosse melhor ter invocado a própria Afrodite e o seu Adônis endeusado, mas isso é duvidoso, pois muitos no círculo dos magistas alegam que Lilith é Vênus, e se isso é verdade, então Lúcifer seria Áries ou será que era o pobre Efestos? Aquele que foi expulso do Olimpo pela própria mãe, e se tornou um Deus por sua cruel astúcia, ao descobrir as fraquezas daqueles que um dia o humilharam. Tanto faz. Só sei que rezei aos deuses errados, pois mesmo que a minha vítima cedesse, passamos por vários problemas ligados a este bendito ritual diabólico. O amo muito, ele é a minha vida, não vivo sem ele, parece que quem se amarrou fui eu. É duro sentir tal coisa, sendo que nunca tive tal emoção, por nenhum outro homem antes, e pior ainda é gostar dele deste forma, depois de tudo o quê aconteceu. Eu piso, humilho, chuto como se fosse outro psicótico a ser julgado, e na hora de partir o agarro forte, e faço o quê estiver ao meu alcance para não deixá-lo ir. Meus médicos dizem, que é culpa do meu mal, que não o amo de verdade, só gosto de sua submissão, e de torturá-lo friamente. É tudo tão simples para eles, que chega a me dar raiva. Não é que não o ame, pois se assim fosse, não perderia a cabeça só de imaginar ele com outra. “E isso se dá porquê o trata como sua posse, e acredita que ninguém mais pode tocá-lo.” Já até ouço o Doutor Fernand dizer, e reviro os olhos. Oras se não quero que ninguém toque nele, é porquê é importante para mim, e as mãos impuras de terceiros não devem corromper o meu imaculado amado.
    _O quê está pensando Thamy?
    _Nada.
    _Olha lá a mentira patológica gente.
    _Não importa.
    _Ainda é sobre aquele assunto irritante?
    _Em parte sim.
    _Hm.
    _O quê quer para o café?
    _Nada.
    _Isso só funciona comigo. Deixa de graça.
    _Eu realmente estou sem fome.
    _Então vou fazer bolinhos de queijo
    , presunto, salsa, e recheio de
    requeijão.
    _Quero 2.
    _Ótimo. Vou aguardar você terminar
    aqui.
    Sorri da maneira mais cínica, e isso o contagiou. É nessas horas que percebo o quanto me ama. “Eu vou. Mas só porquê me garantiu 140 dólares ainda pouco.” Fez a face de senhor da razão, e eu gargalhei. Está querendo enganar a quem querido? É evidente que expande a quantidade de oxitocina no seu organismo por mim. Tomamos o café-da-manhã, já em clima de harmonia, sorrindo como se por alguns minutos todos os males tivessem ido embora. Uma perfeita relação abusiva, na qual para surpresa de todos, era a mulher que estava pisando de salto alto nos sentimentos do homem. O telefone tocou, e fechei a cara, pois não era Lúcifer que estava me ligando, e sim a minha irmã que tinha se bandeado pro lado dos Iluminados.
    _Luciféria.
    _Pai!
    _Precisa vim a Santa Marta o quanto antes.
    _O quê? Por quê?
    _Sua irmã despertou da lavagem cerebral
    das Corais, e está a beira da morte!
    _Ela... O quê?
    _Venha ao mosteiro, e explicarei tudo.
    _Está bem.
    Ele desligou, e eu olhei para Bart. Nós entramos no carro, e dirigimos até o monte dourado. Katherine estava totalmente desidratada, caída no piso, como se implorasse pelo seu último suspiro. Sem dizer nada, afastei todos os frades, e me ajoelhei diante dela. Concentrando minhas energias na palma, vi ambas se tornarem esferas de luz radiante, e soprei para dentro da sua boca, infelizmente minha irmã não estava só morrendo, e sim tinha sido acometida por um vírus, e somente o sangue do Peste, poderia curá-la. “Vai em frente.” Disse ele estendendo o pulso, e com minha unha de energia, perfurei sua pele rasgando-a, até pingar gotas vermelhas na língua da moça, que pouco a pouco se restabeleceu de sua doença.
    Passadas algumas horas...Caminhei pelo mosteiro, e fumei um cigarro de maconha para me acalmar. Meu pai viu, e sorriu, erguendo a mão, para tirá-lo da minha. Sem questionar o entreguei, e para a minha surpresa, ele o levou aos lábios, e puxou toda a fumaça com gosto. “Parece que o lado Lúcifer segue aí dentro.” Brinquei, e ele olhou para o céu. “Lúcifer nunca irá embora, Magda.” Respondeu com calmaria. “É Luciféria, Luciferiel.” O corrigi. “Luciféria no céu, Magda na Terra, Arádia na Magia, Matheuccia na Religião...São apenas nomes. O quê importa é a sua essência, pequena princesa.” Citou meus “20 nomes", e me fez entender o seu propósito. “De fato. Lúcifer no céu, Jesus Cristo na Terra, Agrippa na Magia e na Religião.” Devolvi na mesma moeda, e ele riu com compaixão. “Então reconheceu minhas palavras, até mesmo através de um homem? A eduquei direito pelo visto.” Olhou para o lado, e ergui os ombros. “Quando falou que o Ar não era um elemento, e sim uma cola que unia os outros 3, como se o mesmo fosse o mais poderoso dos elementos, ficou bem óbvio na verdade.” Completei, e ele seguiu a fumar a erva sagrada, que aos olhos do sistema, era maldita, pois fazia o cérebro trabalhar mais rápido, e se tornar menos passivo ao controle. “Pena que nem todos os meus filhos aprenderam direito a respeito da palavra sagrada.” Olha para a frente, e a silhueta de violão da Coral, surge querendo se aproximar de nós. “As deixarei a sós.” Ele de imediato se retira. “Espera, ela é sua filha. A minha está em casa lendo e aprendendo.” Resmunguei colocando minha mão em seu peito, não o deixando passar. “Mas quando sua mãe criou ódio dos homens, você cuidou dela, como se fosse sua. Queria uma chance de se redimir? É esta.” Me relembrou, e acabei por ficar sem argumentos. Como uma criança, a morena veio até mim, e eu segui com a postura fria de mágoa.
    _Lucy.
    _É Thamara.
    _Pra mim sempre será Lucy, a minha irmãzinha
    mais velha.
    _Irmã mais velha, não venha com diminuitivos
    para despertar meus sentimentos.
    _Como sempre fria como gelo não é?
    _Diria mais fria como a Antártica.
    _Não vai querer saber como te encontrei?
    _Você sempre se fez de lesa, mas é inteligente.
    Não há nada surpreendente em ter chegado
    até aqui.
    _Eu ouvi um elogio da Sra. Crítica?
    _O quê quer aqui Katherine? Já não nos traiu
    o suficiente, ao se misturar as Corais?
    _Isso está além do quê pode compreender
    Thamara Mary.
    _Que você tinha sede de poder, e se meteu
    com as pessoas erradas? Não, é bem
    fácil.
    _Se me ver como a velha Lilá, sim, é só isso.
    Mas entrei na Ordem das Corais, para vigiá-las,
    e te entregar constantes relatórios sobre os
    crimes.
    _É Agarath e disso eu me lembro. Então num fatídico dia, simplesmente me levou para uma armadilha, e por pouco não morri.
    _Eu me apaixonei Lucy, e assim como você
    e Bart, ele era o meu parceiro de outras
    vidas.
    _Outro loiro de olhos claros com o rosto
    de uma estátua grega?
    _Guarde o seu sarcasmo. Ele era moreno,
    de olhos castanhos, e sem um gigante
    porte físico.
    _Deixe-me adivinhar, era o líder das Corais?
    _Não. Era outro subalterno como eu, e quando as
    Corais descobriram que tinha traído elas, juraram
    matá-lo, e me entregar o seu coração numa
    folha.
    _Então por um amor de verão traiu
    alguém de seu próprio sangue.
    Interessante.
    _Ele não era um amor de verão Lucy!
    Estávamos juntos, desde que me infiltrei
    na Ordem das Corais!
    _E já se passou pela sua cabecinha infantil,
    que ele pode ser o vigia delas, para testar
    a sua lealdade queridinha?
    _Já! É claro que já! Você me treinou lembra?
    _Então como ainda pode me trair?
    _Porquê ele era diferente do John. Me ligava,
    Mandava flores, fazia planos comigo, e me
    fazia ver que Bart não era o único homem
    na face da Terra, a amar uma mulher.
    _Não te usava? Não te ignorava? Não
    pisava em você? Não dava sinais claros
    de manipulação, e que não estava
    afim?
    _Não. Havia tanta devoção da parte dele,
    que várias vezes as Corais tentaram o matar,
    somente por me proteger.
    _Então te amava mesmo.
    A conversa prosseguiu, e vi os olhos de Katherine. Apesar dos sinais de um amor realmente recíproco, estava claro que aquela história não tinha tido um final feliz.
    A MEMBRO CORAL NARRA:
    Quando entrei no clube das Corais, que até aquele momento não era uma ordem reconhecida pelo mundo, tinha apenas um objetivo, orgulhar a minha mestra, irmã, e segunda mãe que já tinha conhecido. A tarefa era simples, apenas observar os relatórios através do Whatsapp e repassá-los para a minha superior, que havia praticamente retornado dos mortos. Contudo praticamente da noite para o dia, o Clube das Corais, ganhou destaque, e passou a ser notado por diversos países. Assim em vez do pequeno grupo que só tinha conversas online, agora os membros ganhavam passagens, para se encontrarem pessoalmente. Entrei num lugar com estátuas de Gárgula, cheio das mais diversas artes clássicas e góticas. Quem tivesse conhecido a líder antes, não acreditaria, que Ane Marrie agora era uma das mulheres mais ricas do Brasil. Mas isso tinha um preço, que era caro demais para pagar. “Olá meus filhos. Eu sou a deusa. Lúcifer não virá, mas os homens de Cristo, bateram a nossa porta, e não podemos deixá-los esperando.” Disse Ane, enquanto os 9 membros principais, se aproximavam de seu trono de mármore, uma regalia necessária, oferecida por ninguém menos que os iluminados. “Luz é o quê este mundo precisa, e é a ela que agora serviremos, sem perder a nossa autonomia.” Prosseguiu, sentindo-se a dona do mundo. “Se Lucy assistisse a essa cerimônia, teria revirado os olhos, e cochichado algo sarcástico.” Pensei ao me ajoelhar perante os pés da “deusa Marrie". A festa foi bastante recatada, até o momento em que ela pediu que nos despíssemos. Tremi um pouco, pois só havia eu e mais uma garota, chamada Pauline, e um dos homens veio até mim. Seu nome era Timothy, e o olhar cheio de desejo, me fez ter repulsa, por achar que era um pervertido qualquer. Porém quando segurou minha mão, e a beijou, soube que mesmo sendo um tarado, era um cavalheiro. “Não é bem o lugar para ser educado.” Joguei verde, para ver se era um teatro e ele riu. “Com alguém tão bela quanto você, é sempre hora de ser educado.” Ele me olhou com os seus escuros olhos penetrantes, e sem graça deixei meu riso escapar. Após o evento, em que por nome dos deuses tivemos de copular, Ane Marrie notou uma conexão entre nós, e nos fez um par, segundo ela éramos deuses antigos, que agora tinham reencarnado para clarear a sociedade. Novamente se Lucy ouvisse tal coisa, iria surtar, pois parecia uma cópia malfeita da historia dela e do marido, e se saísse da minha boca, certamente brigaríamos, pois ela iria pensar que a ideia teria sido minha, por conta dessa “mania de poder". Timothy andava pela cidade, sentindo-se o Senhor das Ruas, por conta do título que a “deusa" lhe proporcionou. Eu seguia ignorando isso, minha deusa era outra, e a mesma dizia que eu só me tornaria como ela, no dia em que finalmente despertasse, de maneira tanto física quanto intelectual. Só que o meu parceiro achava mesmo que Ane Marrie, era alguma entidade poderosa, por isso tentava fazer a minha cabeça para ver a sua grandeza, e jamais seguir a renegada filha de Lúcifer, que não fazia parte das Corais, por ser uma egocêntrica, metida, que achava ter mais poder que a “nossa" majestade. “Sempre não é Lucy?” Mas estes embora pareçam ser defeitos, no fim eram suas qualidades, e eu admirava esse desempenho frio e turrão de ser. Percebendo que a glória da Rainha Cobra, não me tocava o coração, ele desistiu de falar de seus feitos, e passou a mudar de assunto. “Obrigado Satã por sinal.” Foi então que vi que Timothy, não era só um ingênuo seguidor da “deusa nada virgem", como Lucy costumava chamar, e pouco a pouco, meus pensamentos sempre focados na minha irmã, foram desaparecendo, e sendo substituídos por todos os segundos e minutos que ficava perto dele. É claro cometíamos muitos crimes hediondos, em nome dos Iluminados, por intermédio da majestosa Marrie. Mas tudo o quê ficava na minha mente, eram os milk-shakes com hambúrguer que comíamos na volta para casa. Os meses se passaram, e a minha aproximação com ele, se tornou cada vez maior. O quê deveria ser somente uma parceria de negócios, logo se tornou um romance, e quando dei por mim estávamos vivendo juntos, no apartamento simples dele, que nós chamávamos de ninho do amor. Mesmo que um filho de Eva morresse em minhas mãos todos os dias, tudo o quê importava, era o calor do seu colo no final da noite, pois nada mais era importante além de nós dois, ou assim pensei.
    Certa noite cheguei em casa, e Timothy não estava lá. Somente o nosso cachorro Vlad, se encontrava no apartamento. Logo o medo de algo ter acontecido invadiu o meu pensamento. Liguei em seu telefone, e o mesmo estava desligado. Estaria ele aprontando sem mim? Questionei. Só que o meu amor, me deixou um pouco mais lúcida, e por isso decidi verificar os meus recados. “Amor. O Vlad tá com saudades.” Foi a primeira mensagem, as 7:30. “Amor hoje vai ter pizza na janta, quer escolher o sabor?” Foi a segunda, na hora do almoço. “Amor trouxe sua pizza favorita, com muito queijo e...” A ligação caiu as 19:45. “Merd...!” Deixei escapar, e fui para a próxima e última mensagem. “Sabemos de sua conexão com a deusa renegada, e se quiser ouvir outra declaração patética do seu amado, vai ter que fazer o seguinte...” Anotei as instruções com a mão trêmula. Sabia que Thamara jamais me perdoaria, pelo que ia fazer. Contudo Timy era o amor da minha vida, e eu não me perdoaria se algo acontecesse a ele. Precisava tomar uma decisão, que mudaria a minha vida sempre, e tinha apenas alguns minutos para cruzar a linha da traição. Foi então que segui o plano delas, e enviei uma falsa localização para a minha irmã, que a enviaria direto para o abate. Ela não havia despertado ainda, mas assim como eu tinha alguém que me amava, ela também tinha, e certamente ele iria resgatá-la, e caso isso falhasse, havia uma força celestial disposta a mudar o tempo, para salvá-la, e sendo assim ela era importante o suficiente para o universo intervir. Ao contrário do Timothy que tinha menos de 2 horas de vida, e poderia desaparecer para sempre, pois era um criminoso, e mesmo sendo um filho do Inferno como eu, ficaria preso ali, por sua afronta a ordem natural, ao seguir as leis erradas. Era o fim da minha parceria com a minha irmã, e por isso não conseguia aguentar as lágrimas, mas mesmo assim, eu segui em frente, e entrei naquele depósito. Timy estava preso dentro de um vidro cheio de água, acorrentado até o pescoço, com panos brancos que estavam vermelhos de sangue. Só haviam 7 minutos de vida agora, e eu precisava encontrar o painel. Corri de um lado para o outro, tentando achá-lo, até que notei os olhos do meu amado, e segui na direção indicada por estes. Quando o líquido já tinha ultrapassado o queixo, eu consegui desligar, e sem pensar duas vezes, entrei no tanque, e usei a chave que me entregaram, após mandar minha irmã para a morte. Ao nos encontrar nos abraçamos mais forte do quê nunca, e nos beijamos ali dentro. Mas após ter comprometido toda a Ordem das Corais, eu mesma paguei o preço. O tanque se fechou, na parte de cima, e a própria Ane Marrie, veio nos executar. Pensei que ia morrer, pois agora não só subia água, e sim um liquido verde, que segundo a mesma estava contaminado, com um vírus que tinha ficado adormecido há 7 mil anos. Eu gritei, e me debati, enquanto Timothy ficou parado. Não entendi a razão, até ver a enorme e gosmenta criatura na sua nuca, que brilhava mais que neon, e que seus olhos estavam vazios. “Este? É um presente da nossa bióloga renegada, que antes de sair me ensinou sobre todos os poderes da ciência... e seus malefícios.” A rainha sorriu, e entrei em desespero. Sem saber o quê fazer, passei a me empurrar na ordem contrária ao apoio do tanque. A queda poderia me machucar, só que era melhor que morrer. Empurrei várias vezes, impulsionando o meu corpo, até que a cúpula caiu no piso e se partiu. Me arrastei entre os cacos, e peguei a mão do meu namorado. Sabendo que não éramos mais bem vindos, sai correndo até a saída mais próxima. Nós dois corremos até a floresta, e quando vi um frade passar por ali, gritei pedindo por ajuda. “Eu sou Úrsula, a outra irmã de Thamara a filha mais velha de Cristo!” Foi tudo o quê pude pronunciar, antes de desmaiar. Se falasse meu nome verdadeiro, eles não nos ajudariam, Thamara tinha deixado isso bem claro, na sua “doce” carta de despedida, por isso fui obrigada a mentir. Mas ainda bem que fiz isso, pois me trouxe até o único lugar, em que Timothy pôde ser curado, para que possamos iniciar uma nova vida, longe dos crimes da Ordem das Corais. Sei que somos dois ímpios, mas se meu pai é mesmo Cristo, ele ensinou os outros a perdoarem, e certamente não negaria uma segunda chance, para uma das suas filhas, e o sobrinho, filho de seu irmão Belial.
    _Então mentiu para chegar aqui?
    _É só o quê ouviu?!
    _Não, foi apenas a parte mais marcante, pois pensei
    que tinha me rastreado de alguma maneira, algo mais
    inteligente, do quê apenas sorte.
    _Foi inteligente, do contrário Timothy teria morrido.
    _E agora espera que a Ordem de Cristo os abracem
    , e ofereçam um banquete pela sua chegada?
    _Queremos somente redenção Thamy.
    _Sem coroas, deuses, ou as velhas regalias que
    foram ofertadas por Marrie, para tentá-los ?
    _É claro que sim.
    _Estão prontos para o trabalho duro,
    que lhes confere alguma nobreza
    entre nós?
    _Se tiver um quarto, comida boa, e bons
    livros.
    _Acha que está no direito de exigir?
    _É o mínimo para um ser humano.
    _Então terá de se dirigir ao pai.
    Ele quem lida com essas
    coisas.
    Thamara era bastante firme em suas palavras, porém era evidente o alívio que sentia no peito, por me ter de volta ao seu comando. Uma vez irmã, sempre irmã, e mesmo com toda a frieza, ficava claro que se importava do contrário, não teria feito o seu marido “O Peste" me dá o sangue da cura.
    A MORTE NARRA:
    A volta da minha irmã mais nova deveria me trazer alegrias, mas por mais feliz que estivesse pela sua volta, não podia me esquecer dos males que tinha causado, e de quê nem Ramona escapou das suas teias diabólicas. Inspirei fundo, e caminhei para longe dela, deixando-a sem respostas. Tudo sempre foi muito fácil para Katherine, então não me admira a sua “cara de pau”, de vim até Santa Marta em busca de perdão. Nosso pai poderia lhe perdoar, afinal ele sempre foi o cara que perdoo as faltas do mundo, mas eu neste sentido, era tão implacável quanto minha mãe Madalena Lilith.
    A noite... Timothy e Katherine ficaram agarrados um ao outro, sorrindo, ao beberem a sopa do nosso chefe e padre João. Quem os visse ali, pensaria que eram almas gêmeas, puras e inocentes, entregues aos desejos da juventude. Fiquei com o cotovelo apoiado na mesa, pousando a mão abaixo do queixo. Os observando com cautela e fúria. Vendo o meu estado, Bart deitou sua cabeça no meu ombro, dando-me beijinhos no pescoço, até me fazer rir, e sussurrou para nos afastarmos de todos. De mãos dadas, nós seguimos até a beira do rio cristalino, e nos sentamos na ponta da terra, deixando a água cobrir os nossos pés. “Não gostei da volta dela.” Ele iniciou, e dei graças aos deuses, por não ser a primeira a dizer. “Ela é minha irmã, mas eu também não estou satisfeita com isso.” Concordei, e ele se deitou no meu colo, deixando a água fria cobrir metade do seu corpo, já que a fenda estava rasa, e “secando”.
    _Por pouco você e Ramona não morreram
    naquele dia. Não é algo fácil de se perdoar.
    _Se Ele não tivesse parado o tempo...
    _E ainda tem essa. Graças a ela o Arcanjo voltou.
    _Ciúmes, bonitinho?
    _Sempre terei ciúmes de você. É o amor da
    minha vida.
    _Você também é o amor da minha...
    _Mas?
    _Você sabe...
    _Está muito magoada comigo, para sentir
    alegria por isso.
    _Olha, não é que é esperto?
    _Engraçadinha.
    _Sou mesmo.
    _Eu te amo Thamy. Sei que falhei feio contigo, como marido,
    mas não vai se passar um dia da minha vida, que não deixarei
    de lutar para ser digno do seu perdão.
    Ele ergueu a face para cima, e pude vê as estrelas se refletirem nos seus olhos. Aquelas íris brilhantes, e a pupila tão dilatada ao olhar para mim, me fizeram entender porquê mesmo depois de tantos anos, sofrendo por ser incapaz de dar uma segunda chance a alguém, ainda seguia ao seu lado, e afastava todos os possíveis pretendentes, tornando-o minha primeira e única opção. “Também te amo Bart. É difícil pra mim perdoar, qualquer pequena falha que seja. Mas por você estou tentando.” Me esforcei para me declarar. Escrever é fácil, porém falar dos meus sentimentos, sempre foi algo complicado, pois é como se eu não fosse capaz de amar, ao ponto de literalmente esquecer de mim, e levar um tiro para proteger alguém que não está dentro desse corpo. Contudo Bart era o único por quem eu realmente me esforçava para ser melhor, e por mais que o Dr. Fernand ou o Dr. Augusto dissessem o contrário, isso para mim, era o mais perto do amor que podia conhecer. Sem que percebesse, meus dedos fizeram carinho em sua cabeça, e meus lábios foram até os seus. Talvez amar, não fosse algo que trouxesse somente felicidade e satisfação, e sim a caminhada longa e tortuosa, na qual os dois enfrentam todas as barreiras para continuarem juntos.
    O PESTE NARRA:
    Outra vez seus impulsos românticos a traíram, era óbvio por causa da sua face corada de vergonha, ao afastar o rosto depois de me beijar, e praticamente criar alguma distância emocional, ao se recostar para trás. Ainda bem que tínhamos voltado a brigar por nosso relacionamento, não queria me lembrar, do dia em que quase perdi a mulher da minha vida, e o fruto desse amor que nunca se apaga. Droga. Estou começando a lembrar outra vez...Já ouço o som do temporal que caia, e a voz dela ao telefone. “Bart por favor me ajude.” Foi tudo o quê ouvi, antes de ligar sua localização, e seguir até o meio da mata escura. A mesma em que há poucos dias, havíamos encontrado sacrifícios infantis, em nome dos “ofídios em forma de humanos”. O sangue estava espalhado por toda parte, - ao contrário do quê fizeram com Marcele, outra membro que abandonou as corais, antes da mesma se transformar numa ordem mundialmente famosa, por suas atrocidades. – Eles queriam mesmo executar a Thamara, sem fazer parecer suicídio. Minha respiração era calma, porém a cada passo que dava, o medo crescia dentro de mim, e os suspiros pouco a pouco se aceleravam. As folhas se quebraram abaixo dos meus pés, mesmo tentando ser sorrateiro, e isso fez meu coração subir até um pouco acima das costelas. Um pouco trêmulo, me aproximei das árvores, para observar o ambiente. Sentindo a força de Gaia fluir pela copa, ganhei energia para enfrentar os monstros que tinham levado a minha amada, e a minha filhinha. Minha áurea obscura cresceu, e por alguns segundos o Bart viciado em violência, tomou 70% do controle do meu corpo, pois estava pronto para me “banquetear” com a carne de certas corais. Meus dedos arranharam o tronco, como se fossem obsidianas, e por um momento senti que meus olhos queimaram, e se tornaram amarelos como ouro, dando-me o poder de ver no escuro. Foi então que a vi, nos braços dele, e minhas íris se tornaram vermelhas como rubi, pois o Bart melancólico quem assumiu. “O quê faz aqui?” Perguntei ao ver o homem de longos e cacheados cabelos negros, que segurava a minha esposa, e ficava ao lado da minha filha, me encarando com seus olhos azuis, que brilhavam de maneira tão inumana quanto os meus. “Se soubesse cuidar dela. Eu não precisaria intervir.” Ele me respondeu, e isso me fez rir de raiva, pois jamais deixava de salvaguardar a minha amada. “O quê aconteceu?” Perguntei lentamente, pronto para matá-lo com todos os requintes da maldade, assim que me entregasse a minha companheira. “As corais vieram atrás dela.” Disse sem parecer se importar, e ela despertou. “Você?” Perguntou para ele, com certa mágoa, e este sem querer sorriu. “Estou fazendo hora extra.” A colocou no piso, e levantou voo. “Ela precisa de proteção. Não importa quem você seja, sabe que somente o Pai tem tal poder.” Disse ao passar por mim. Apesar de ser um engomadinho celestial, ele estava certo, porém conhecendo a mulher que tinha, havia a certeza de quê ela não seria a favor de tal intervenção, por isso só deixei escapar um barulho de lata de refrigerante sendo aberta.
    No caminho de volta para casa...Thamara ficou em completo silêncio, segurando Ramona que tinha dormido em seus braços. Pelo retrovisor pude vê-la. Seu olhar era vazio, tinha marcas de garras nos ombros, o lábio estava roxo, como se tivessem torturado e depois a forcassem a beber veneno. Eu queria saber o quê tinha acontecido, mas ela parecia sem reação. Ao passar pela entrada de casa, ela pulou no meu colo e me abraçou forte. “Ela saiu. Eu preciso ir embora.” Foram as suas palavras. Sem pensar, a segurei contra o meu peito. “Não.” Foi tudo o quê consegui sussurrar, e ela me deu um beijo no rosto, seguido de um beijo na boca, que pareceu sugar as minhas energias. Era como se ela fosse a Hera Venenosa das revistas em quadrinhos, mas seus olhos ficavam violetas e vítreos, quando minha vida era engolida por sua boca roxa. “Eu te amo muito. De verdade. Mas meu ódio pode te machucar, então adeus.” Ela disse e dei o meu último suspiro, caindo desmaiado no piso.
    Os dias se passaram...Minha sogra entrou em desespero, e veio para dentro da nossa casa, me oferecer ajuda para cuidar de Ramona, enquanto eu procurava por minha esposa. Cheguei a voltar a beber e fumar, coisa que só fiz na adolescência após termos terminado por conta dos seus inúmeros pretendentes, e querer vivenciar todos os prazeres da juventude. Ela certamente diria que o fez, pra ficar com o tal Dave, porém anos mais tarde, vim saber que não tinha só o babaca, outros estavam aos seus pés. Não acho isso negativo, porquê eu também era o homem de muitas, após termos nos afastado. Pra mim isso só significava que a separação nos tornou duas criaturas frias e maldosas, que deixaram um rastro de destruição por onde passaram, mas se reencontraram mesmo nas trevas, pois eram perfeitos um para o outro. Infelizmente acho que ela não via assim, e por isso tinha partido de vez. Ela, seu outro Eu sempre saia em momentos de adrenalina. Então isso pra mim, era uma desculpa mais do quê esfarrapada. O sino da porta do bar tocou, e foi tudo muito rápido. Um grupo de mascarados, com uma braçadeira vermelha, jogaram um frasco ovalado no piso, que se partiu e deixou todos doentes.
    No meio daquela névoa verde, eu via mulheres e crianças gritando, ao chorarem lágrimas de sangue, enquanto os homens vomitavam sem parar pelos cantos, e alguns tremiam como se sofressem o efeito colateral de um remédio psiquiátrico. O quê quer que seja, era mortal, mas me sentia normal, por isso caminhei por ali, até chegar a saída, onde encontrei um grupo de homens de túnica branca. “Eis que o filho do nosso senhor enfim aparece entre as sombras, iluminando-as com a sua luz.” Disseram em coro, e ergui uma sobrancelha de incredulidade. “Saudamos-te ó grande cavaleiro iluminado, que deve acompanhar a amazona negra que com a sua mortalha e foice limpará o mundo.” Eles se ajoelharam diante de mim, com itens em suas mãos. “Eu sonhei que muitas pessoas morriam por minhas mãos.” Me recordei, com a voz dela. “Não podia ver o rosto, mas andava a cavalo com um guerreiro de armadura prata, que me levava até os outros dois. Era como se eu fosse a Morte” Foi o segundo lampejo. “E se um dos cavaleiros, não for apenas uma corrupção machista, e a Morte na verdade é uma amazona?” Foi o quê me fez ter certeza que era dela que se tratava. “Onde ela está?!” Peguei um deles pela túnica, e ergui contra a parede, pronto para destrui-lo caso tivesse feito mal a minha amada. “Está em Santa Marta, porém assim como a mesma está treinando, você deverá fazê-lo, para terem controle dos seus poderes, e não serem controlados por eles.” Me respondeu aquele ficava ao lado do outro. “Olha pra minha cara. Vê se eu me importo com isso? Só quero achá-la.” Disse com impetuosidade. “Se quiser ver a minha filha. Terá de ser merecedor dela.” O quarto e último homem impôs, e quando olhei para trás, vi seus olhos brilhantes como uma lâmpada no escuro. “Lúcifer?” Questionei desconfiado. “É apenas um dos meus nomes, meu filho rebelde.” Me respondeu. “Ela está bem? Não estão abortando seus filhos, e lhes dando o feto para comer não é?” Inqueri me recordando das terríveis visões da minha companheira. “Não somos Os Iluminados. Nosso treinamento é mais rigoroso e evolutivo. Ela está aprendendo a controlar o poder da Morte, e não se tornar o próximo grande Demônio, já temos você pra isso.” Respondeu e brincou no final. “Do quê está falando?” Perguntei sem entender a razão de tal acusação. “Então o bloqueio de memória foi um sucesso.” Se aproximou de mim, e pousou a mão no meu ombro direito. “Infelizmente Baal Hadad, não poderá viver para sempre nesta mentira, de quê só Thamara Mary, viveu no Inferno, e tem o meu sangue.” Tais palavras me deixaram um pouco receoso. “É hora de enfrentar o seu grande demônio, e fazer juiz ao fato de ser o príncipe deste mundo.” Ele prosseguiu. “Esse não é o teu título?” Perguntei com certa curiosidade. “Eu sou o novo Deus, meu filho, o título de Diabo é, e sempre será seu.” Ele me respondeu, e meus olhos se engrandeceram. “Isso não seria uma blasfêmia para o Altíssimo?” Notei os aspectos bíblicos dos quais Thamy sempre falava. “Seria, se ele não tivesse concedido esta glória, para se tornar o sucessor do seu bisavô.” Outra vez ele respondeu algo de quê não tinha muito conhecimento, a não ser pelas aulas da minha linda descendente dele.
    _Eu tenho um bisavô?
    _É muito para explicar. Mas sim. Você é parte da terceira
    gerações dos deuses.
    _Então este bisavô é o Caos da mitologia nórdica?
    _Sim, e dele nasceram os primeiros deuses supremos,
    que são os seus avós.
    _É muito para processar...
    _Ficará mais fácil depois que desbloquearmos sua memória.
    _Não.
    _O quê? Por quê?
    _Se sou mesmo o Diabo, não quero machucar Thamara
    ou minha filha, é melhor deixá-lo adormecido.
    _Isso é um excelente sinal. Porém embora tenha machucado
    muitos com a sua frieza e sadismo, tenho certeza que não
    praticou algum mal contra elas.
    As palavras de Lúcifer me acalmaram, e por isso segui com os frades, para receber o devido treinamento de meu poder, e ver a minha amada outra vez. Foram 6 meses de teorias e práticas, sobre o meu porte físico e espiritual. Os cientistas da ordem diziam, que minha saliva era uma fonte de doenças nocivas, que se transformava no quê minha mente desejasse, e que o meu próprio sangue, continha antígenos praticamente sobre-humanos para cada um desses males. Por vários meses fui estudado numa estufa, ás vezes dentro de um tanque, outras numa maca, para definir o limite dos meus poderes, que faziam de mim, uma bomba biológica, com a cura para as mesmas doenças que causava, por isso me chamaram de Peste. Contudo embora fosse parte das minhas habilidades, ter esses vírus vivendo em meu corpo, e os curar, não era todo o meu poder, pois graças aos seres microscópicos, poderia modificar o meu DNA, para me tornar qualquer ser existente na galáxia...Mas não vem ao caso, como dizia...No sexto mês finalmente pude encontrá-la, ela continuava linda e radiante como a lua. Como tanto gostava, estava usando um vestido preto longo e decotado, sendo seguida por homens e mulheres cobertos por capuzes amarelos. Ao contrário dos costumeiros olhos vazios, parecia tão serena quanto na adolescência, e sorria com a confiança, que nós dois acreditávamos que tinha morrido.
    _Bart?
    _Thamara...
    _Como chegou até aqui?
    _Digamos que nossos caminhos se cruzaram.
    Você não é a única filha cósmica.
    _Sério? Eu sabia! Você é meu par eterno!
    _Não, não sou. Sou apenas o deus que ficou
    louco de amores por você, e não te deixou
    viver na solidão.
    Eu segurei em sua face e a beijei com carinho. Ao sentir o seu corpo no meu, meu coração pulsou com muita intensidade. Foi assim que as memórias do passado tomaram conta da minha mente... Eu era somente um garoto loiro, semelhante um viking, quando nos reencontramos. Ela era somente uma menina de cabelos vermelhos, com olhos violetas e vítreos. Nós discutimos no começo, pois a figura baixinha, tinha contas para acertar comigo. Mas como sempre fomos estranhamente um atraído pelo outro, acabou por me contar a verdade. Sentia-se vazia, e nem sempre do nada, nascem as melhores coisas, por isso ela tomou a pior decisão. Com o uso dos seus poderes, ela abriu a porta da minha cela, e me soltou no universo. Então o quê Deus havia decretado como um caso resolvido, voltou para lhe assombrar. Pouco a pouco me infiltrei no paraíso, e fiz com quê os anjos ficassem encolerizados. Os fracos pereceram diante de meu poder, e o caos se fez no cosmos. Para mim, era como uma festa sem fim, com muitos gritos, sangue, e desespero. Mas para ela, era como uma falha grotesca, que precisava ser corrigida antes que descobrissem o quê fez. Eu espalhei entre as multidões, todo o sofrimento possível para me fortalecer, e ela veio com a sua foice, para lhes dá paz mesmo no Inferno, entre os seres materializados. Seu pai tinha sido o anjo que tirava a vida dos vivos. Porém após o seu nascimento, ele foi coroado como príncipe celestial, e outro teve de assumir o seu posto. Muitos dos seus bravos filhos, lutaram para provar que eram dignos de tal glória. Assim eles limparam a galáxia, ceifando todas as almas que pudessem, com suas armas especiais. Contudo foi na única menina, que o poder se manifestou, e por isso esta que recebeu a sorte grande. Ao contrário dos irmãos, ela não matava somente para se provar merecedora da foice de seu pai, mas sim de acordo com o seu código de conduta, no qual os culpados eram friamente punidos, e os justos levados cuidadosamente para o outro lado. Seus irmãos só se focavam em quantidade, ela não, e esta era a virtude secreta do seu pai, quando ele atuava como tal. Eu a admirava, tanto pela sua impetuosidade violenta com os ímpios, quanto pelo cuidado que tinha com os inocentes. Por isso também tomei a pior decisão. Certa vez a Morte, estava a tomar banho no rio sagrado, e eu entrei na água, infectando-a, para lhe tornar inofensiva. Ela lutou com valentia, usou seus poderes para tentar curar a água, mas por algum mistério da natureza, a pobrezinha não tinha forças para vencer a mim, pois eu era a própria doença, era o vírus que carregava outros dentro de mim, era a própria Peste, em forma humanoide. Ela não suportou a enfermidade que lhe provoquei, e caiu em meus braços. Estava fraca, e bastante vulnerável, quase irresistível. Passei a mão por sua face pálida, ela me olhou preocupada, quase dizendo "não" para a minha proximidade, porém mesmo assim a beijei, e a tomei para mim. Por alguns anos, ela desapareceu, e os homens deixaram de respeitar o poder celestial, assim como acreditaram que não havia punição para os seus crimes, pois eu também não atuava. "Vou beber até cair hoje, pois o meu fígado não mais adoce vadia!" Disse um bêbado ao espancar a esposa, que segurava o símbolo dos celestiais. "Deus porquê não me permite morrer, e me deixa sofrer? Não pequei tanto para acabar assim!" Chorou com a boca toda ensanguentada. Ela não era a primeira a perder a fé. Outros estavam em níveis mais avançados, chegando até mesmo a acreditar, que Deus os tinha abandonado a mercê do mal, do qual tinha lhes prometido proteção. Inúmeras criaturas iam as ruas, protestar contra as iniquidades divinas, e haviam os que tentavam assumir o papel, da única juíza consagrada pelos deuses, deste universo. “Então você queria encontrar a paz, depois de tudo o quê me fez?" Um homem num plano de vingança, apontou a arma para a cabeça de outro. "Eu lamento te informar, mas não existe mais morte, e por isso sou livre para estourar a tua cabeça, quantas vezes desejar." Atirou na testa do culpado, várias e várias vezes, com um sorriso cada vez maior, que o tornava pior do quê aquele que ele julgava. Este não era um caso isolado, os assassinatos se expandiam mais do quê as doenças, que costumava espalhar. Para uns era um parque de diversão macabra, e para os que não tinham tal coragem, parecia a visão mais do quê realista do Inferno dos mortais. Cabeças decepadas, gritavam pelas ruas, e os sádicos lhe perfuravam os olhos, e chutavam-nas para a lama, afogando-as sem parar. Pessoas que tinham perdido o corpo na briga para sobreviver, se arrastavam pelos cantos, para tentar se livrar daquela tortura sem fim. As mulheres se uniam em instalações, para cuidarem uma das outras, já que nesta realidade sem final ou consequência, os pervertidos também ganhavam espaço, e se sentiam no poder de abusar das mesmas. Nem mesmo as crianças, conseguiam manter a inocência, e por isso ficavam divididas: Entre aquelas que matavam, e as que corriam. Meu ato egoísta, tinha feito da galáxia, o próprio Tártaro dos Gregos, e o Inferno dos Católicos, pois eu os privei de manter a bondade, e de receber a devida a punição, ao levar a nossa Morte, para o único lugar, no qual somente o seu Eu daquela realidade, tinha a permissão de julgar, e esta era somente como qualquer criatura que habitava aquele Cosmo. Como desde cedo trabalhei para o céu, como o auxiliar do meu pai, o veneno de Deus. Sabia de todos os pontos fracos da Morte, desde a sua jurisdição, até o quê poderia prendê-la para sempre. Acorrentada no fundo do universo, ela brigava para sair, amava o seu trabalho, e não queria ver ninguém lhe substituir. Só que nunca me dirigia a palavra, e evitava até olhar em meus olhos, devia me odiar bastante. Todavia eu não conseguia deixá-la ir, pois só o fato de tê-la por perto, era o suficiente para me sentir bem, e não me importava com quantos sofreriam no processo. "Já não basta o quê fez?" Ela finalmente disse, com seus braços presos ao aço, banhado com a luz do buraco branco, que sintetizei para imitar o poder supremo, do pai do príncipe celestial. "Foi culpa de nossa mãe, e você sabe." Respondi de imediato. "É só o quê sabe dizer. Mas se fosse forte, teria dito não." Ela retrucou. "Você não pode me culpar por aquilo para sempre. Se soubesse lutar, também teria impedido.” Rebati, e ela ficou indignada. “Vai culpar a vítima? É sério?” Sua voz era alegre, mas cheia de raiva. “Eu sou o Peste. O quê esperava? Que eu me arrependesse? Fui treinado para ser impiedoso!” Mostrei a minha ira, e ela voltou ao silêncio. “Ao menos sentiu algo por mim?” Aquele tom me deixou desnorteado, parecia triste, quase magoada. “Você sabe que sim. Haviam dois destinos naquela noite: te possuir, ou te fazer desaparecer para sempre da minha realidade.” Desabafei com tristeza, quase me encolhendo de vergonha. “Eu não podia ficar sem você.” Segurei em sua face, erguendo seu queixo, e olhei no fundo daquela neve, coberta pela luz do rouxinol. “Mas você sempre foi o pior dos filhos. O Forte, O Implacável por ser incapaz de amar.” Argumentou, sem acreditar. “Parece que a única fraqueza da Peste é a própria Morte.” A beijei, e mesmo com as mãos acorrentadas, ela me puxou para a si. Aquela atração mortal e doentia, tomou conta de nós dois, e a boca mais fria que existe, pareceu quente por uns minutos. Com suas pernas salientes e fatais, ela montou em mim e me arranhou, se entregando a enfermidade do amor. Logo arranquei a sua mortalha, e tirei a sua armadura, enquanto ela me despiu as vestes de cavaleiro. Minhas mãos desceram pela sua costa frágil e nua, a sua boca não quis desgrudar, e quando o fez, foi somente para me beijar o corpo inteiro, e voltar ao meio das coxas, onde fez vários movimentos de vai e vem, deixando sua doce saliva escorrer por meu membro. Contudo não a deixei somente me satisfazer. A deitei no piso, segurei seus pulsos, e passei a minha língua por entre os seios delicados, descendo, até chegar no ponto do prazer, do qual bebi todo o júbilo com gosto, até escorrer pelo canto dos lábios, e quando vi que praticamente implorava, para que a completasse, sorri maldosamente. “Você realmente me deseja ?” Beijei-lhe a virilha, e ela corou de vergonha. “Sim.” Respondeu com sua voz doce como chocolate amargo, o meu favorito. “Então peça por mim.” Impus, e ela relutou, até que se deu conta de quê só havia nós dois, como na segunda vez, em que estivemos juntos, e cedeu a sua vontade. “Me possua Peste.” Aquelas palavras me deixaram eletrizado, e por isso entrei dentro dela com ímpeto, arrancando-lhe suspiros tão intensos, que foi capaz de suar. Aquele rosto, aquele sorriso, aquelas bochechas rosadas de prazer, seguido de seus gemidos, me deixaram louco. Por dias repetimos o feito, e creio que a Morte, foi a primeira a desenvolver a Síndrome de Estocolmo, por isso esta doença é vista de maneira tão mórbida. Mas ela não mais se importava, nem sequer ligava para o quê fazia, só com quem fazia. Se ela me amava, eu não sabia, acreditava que estava usando seu charme fatal somente para ganhar a liberdade. Porém no dia que enfim a libertei, esta saiu voando para fora do cativeiro, e se deparou com a luz de uma das luas do planeta em que estávamos. Estava tão feliz, que pensei que nossos momentos de amor doente, ficariam para trás, assim que retornasse, para impor a ordem ao nosso “mundo". “Vamos?” Segurou em meu pulso, e fiquei paralisado. “Quer que eu vá? Eu o Peste, o demônio, o...” Me silenciou com o dedo indicador. “Nem tudo é preto e branco Peste. Você causou sim muito sofrimento, mas graças a ti famílias se mantém unidas, homens mudam a conduta, e mulheres valorizam a felicidade.” Seus olhos eram de uma criatura sã, contudo suas palavras me pareciam insanas. “Se isso é verdade, por quê sempre atrapalhou a minha tarefa? Como se quisesse me corrigir, após ter me libertado?” Questionei incrédulo, e ela sorriu. “Porquê tua execução é tão sombria e implacável, que mesmo as vítimas dos criminosos, se apiedavam destes. Que de acordo com o meu dever, mereciam uma punição ainda mais severa, por toda a eternidade.” Ela explicou. “O meu erro foi te libertar, mas você quem escolheu atender o meu pedido. Portanto é só você que pode corrigir isso. O quê já se passou, não dá para voltar atrás, sem alterar todo o equilíbrio já existente. ” Ela completou, e eu percebi que estava errado, não era uma falha grotesca que tentava controlar. Nós retornamos para a nossa galáxia natal, tudo estava destruído, e muitos imploravam por seu regresso, enquanto me destetavam mais do quê nunca. Pouco a pouco, ela fez o seu trabalho, não haviam muitos para receber o atestado de óbito, por isso eliminou os executores com punhos de ferros e sem piedade, e trouxe enfim o descanso para os que tinham temido, que aqueles dias jamais teriam fim. Nosso pai quis julgá-la, porém eu assumi a responsabilidade por tê-la raptado, e assim a livrei de perder o manto que tanto adorava. Achei que após a confissão, voltaria para a cela, contudo por ter me provado um pouco mais maduro, o pai decidiu me tornar o segundo juiz consagrado, que auxiliaria a Morte em seu trabalho. Tão grande foi a minha alegria, ao ouvir tal coisa, pois em vez de me afastarem dela, nos juntaram como a metade oposta e complementar da mesma moeda. Desde então, as duas criaturas mais perigosas do universo, seguiram de mãos dadas por toda a eternidade, se amando de uma maneira que os mortais não seriam capazes de compreender. Já que onde Morte fosse, a Peste certamente ali estava... “Bart?” Ouvi a voz dela dizer, e outra vez estávamos a beira do rio. Todavia enquanto me perdia em lembranças passadas, já havíamos trocado de lugar, e agora ela tinha se sentado em meu colo, e ficava a olhar para os peixes na água, ao entrelaçar seus dedos aos meus. “Oi...” Falei olhando para as nossas alianças, próximas uma da outra, por causa da união das palmas. “Promete nunca me deixar?” Disse se encolhendo, quase sem voz, e a luz da lua brilhou sob o aço dos anéis. “É claro que sim meu amor. Não importa o quê os astros digam, sempre seremos um do outro.” Beijei sua cabeça, e ela retribuiu beijando as minhas mãos.
  • O chamado [conto]

    Um ser humano qualquer, pode ser em qualquer lugar, em qualquer hora, ele abre uma gaveta e, inesperadamente, encontra uma arma, e pega ela.
    É pesada.
    Gelada.
    A sensação é o que pode se chamar de empoderamento.
    “Heavy is good, heavy is reliable.”
    Então ele sente que pode solucionar todos os problemas da humanidade.
    Fazer justiça.
    Este ser humano qualquer, nosso personagem, coloca a arma na cintura e sai para rua como o guardião da paz e do certo.
    O guardião da paz e do certo precisa estar armado porque alguém pode atentar contra a paz e o certo, e ele tem que estar pronto para as defendê-las, responder a altura.
    Defender a paz e o certo com sangue, suor, lágrimas e balas se for preciso.
    “They pull a knife, you pull a gun. He sends one of yours to the hospital, you send one of his to the morgue.”
    Vamos dar um nome para este ser humano.
    Valéria.
    Nosso ser humano personagem é uma mulher.
    Agora ele tem nome e gênero, é ela.
    Com uma arma na cintura, pronta para defender a paz e o certo com unhas, dentes e balas.
    Cansada de ver as ruas do mundo real dominadas por marginais que se aproveitam da fragilidade de pessoas honestas.
    Roubam, matam e estupram.
    Todo dia.
    “Here is a man who would not take it anymore.”
    Ela está lá.
    No centro de São Paulo em pleno Séc. XXI, procurando Al Capone nas redondezas da Barão de Itapetininga.
    Putas, travestis, traficantes, gigolôs, maconheiros, bêbados, viciados, vagabundos, todos estão envolvidos com Al Capone ameaçando a paz e o certo.
    No mundo real os bandidos de Al Capone estão nas ruas e as famílias trancadas em suas casas.
    Não está certo.
    Cabeças vão rolar.
    “Nobody's innocent in this shit.”
    Porque se cabeças não rolam não existe justiça.
    Justiça tem que ser feita pelo povo e para povo.
    E ela está lá.
    Pelo povo e para o povo.
    Para fazer a vontade do povo.
    Com as próprias mãos.
    Ela não tem nada, só o primeiro nome, Valéria, e uma arma.
    Uma pessoa qualquer, em uma hora qualquer, com uma arma na mão.
    Disposta a fazer o que for preciso contra quem for preciso.
    Ela é o povo.
    ***
    Ali está a tão esperada.
    A oportunidade de exercer todo poder incubido a ela por uma força superior.
    “As long as you are going to be thinking anyway, think big.”
    A chance de fazer justiça pelo povo e acabar com um dos maiores problemas da sociedade ocidental moderna e de todos os tempos.
    O criminoso.
    A criminalidade.
    Assumir a responsabilidade de dar a resposta.
    Mostrar a verdade.
    Lutar a guerra.
    Ser a mão pesada e imperdoável do carrasco.
    Desmascarar o malvado ladrão e lhe dar a devida punição.
    Doa a quem doer.
    No mundo real um punguista surrupiou a carteira da bolsa de uma velha Senhora que andava calmamente entre as lojas vendo as vitrines do centro da cidade.
    Uma Senhora inocente que teve sua bolsa violada e sua carteira, com documento, dinheiro e tudo mais, subtraída sordidamente por um ladrão sem arrependimento ou remorso.
    Meticulosamente ele cortou o couro da distinta bolsa branca que a Senhora carregava e retirou a carteira e mais alguns pertences.
    E ela nem percebeu.
    Ninguém percebeu.
    Pobre Senhora.
    Punguista vagabundo tem que ser punido de forma inquestionavelmente exemplar.
    Dura.
    Para servir de exemplo para quem quer que seja que se atreva a pensar em roubar uma inocente e desprotegida Senhora que olha vitrines tranquilamente num dia de sol no centro da cidade.
    Sem perceber que está sendo vigiado pela justiça o punguista tenta sair sorrateiramente.
    Mas ela está lá, à espreita.
    A justiça.
    Encarnada em Valéria.
    Um ser humano qualquer, com uma arma na mão e pronta para atender o chamado.
    “And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy My brothers.”
    ***
    Valéria atirou.
    Sem vacilar.
    Com cara de raiva, gritos de ódio e a certeza de que estava ali exercendo a força divina e implacável do certo.
    Descarregando toda raiva contra a escória de Chicago e desferindo um golpe fatal na organização criminosa que assola os homens e mulheres de bem.
    Exercendo o direito que qualquer ser humano tem de defender os valores de uma sociedade livre e justa.
    “For God and country, Geronimo, Geronimo, Geronimo!”
    Nossa personagem travestida de povo e empunhando a justiça pegou o punguista desprevenido e abriu um buraco para vermes no meio da cabeça dele.
    Por trás.
    A queima roupa.
    Sem dar a menor chance ao meliante.
    Se encostou na parede e ficou esperando ele passar, e quando ele passou ergueu o braço com a arma na mão e sentou o dedo mirando direto no osso interparietal.
    O bem havia vencido e a paz havia sido restabelecida e garantida.
    A grande batalha tinha terminado.
    O dito cujo se desmanchou no chão sem nem saber da onde veio o tiro.
    Voou sangue e miolo para todo lado.
    Na cara de Valéria, na roupa de Valéria, na Valéria inteira.
    O que todo mundo viu foi uma mulher magra, de meia idade, toda ensanguentada com uma arma na mão e cara de assustada.
    Com o braço travado em 90° e o cano fumegante.
    O povo estava pasmo, sem reação.
    Valéria começou a tremer.
    Exasperadamente tentou limpar aquela sujeira da roupa, depois do rosto.
    Mas os miolos se espalhavam e se impreganavam no pano e na carne.
    Ela olhou a arma toda suja de cabeça de punguista e soltou o peso da justiça.
    A arma caiu no chão.
    A pressão baixou, e a visão foi se desfocando cada vez mais até que Valéria desmaiou.
  • O estupro [conto]

    Era uma daquelas festas open bar de bebida de primeira, onde todo mundo está aberto a tudo e a fim de tudo. Num sítio longe da cidade, com música alta e gente bonita. César tinha chegado acompanhado, mas Maria teve que sair no meio da alegria porque não estava se sentindo bem. Na verdade ela não gostava desses lugares, mas era uma boa companheira. Sabia que ele queria muito curtir o rolê, e não seria ela a atrapalhar. Foi embora com a certeza de que era a melhor namorada do mundo. Para ele era como namorar a melhor namorada do mundo, o que se traduzia num sentimento de preciso aproveitar essa liberdade da forma mais aproveitável possível enquanto ela ainda existe. Paula não estava bebendo nem mais nem menos que ninguém. Se não fosse pela notável beleza passaria despercebida por aquela passarela. Tentando reabastecer seu copo sentiu um corpo flácido de meia idade espremendo o seu no meio da multidão. Depois uma mão começou a apalpar sua bunda procurando o caminho por debaixo da saia. Quando se virou viu César a olhando psicoticamente. Com calma pegou seu copo e passou para outra mão. “Se segura aí, cowboy. Vamos conversar um pouco.” Paula ofereceu um gole de cerveja gelada, que ele não negou.
    “Então, baby, acho que a coisa já está esfriando aqui. Vem comigo para um lugar mais quente.” César agarrou ela pela cintura e começou a empurrar Paula na direção de um banheiro, tentando ser sedutor falando em seu ouvido. “Aqui não. Vamos para o meu carro.” Disse ela. “Melhor ainda, baby. Vou te fuder gostoso no banco de trás.” Os dois saíram para o estacionamento. César mal conseguia andar e se agarrava nos peitos e na bunda de Paula para tentar se manter de pé. Quando ela abriu o baú da Fiorino branca ele despencou no colchão como um saco de batatas e soltou um peido. “Não se preocupa baby, o outro lado está funcionando bem.” Paula fechou ele lá dentro e assumiu o volante. Mariana estava sentada no lado do passageiro ouvindo música. “Como ele está, baby?” “A fim de diversão.” As duas se beijaram e o carro avançou pela noite. O boa noite cinderela já falava através de César, que ia no embalo do som que emanava da cabine da Fiorino, que entrou num celeiro meio abandonado não muito longe da festa.
    “Agora a zoeira vai começar”, declarou Paula quando abriu a cabine e pulou em cima de César. “São duas mesmo? Não faço um ménage com duas vagabundas assim desde a faculdade.” Foi a última coisa que ele disse antes de Mariana colocar um silver tape em sua boca. César nem percebeu que ela já tinha amarrado suas mãos e seus pés. Tirado sua roupa. As amigas empurraram César para fora do carro e o ergueram de cabeça para baixo com a ajuda de duas roldanas abandonadas com uma corda. Então, de alguma forma descritível apenas pelo instinto de sobrevivência, César começou a entender o que estava acontecendo e a se debater. As garotas se pegavam como numa cena de clip do Aerosmith na década de 1990. Os brinquedinhos começaram a aparecer nas mãos de uma e também nas mãos da outra. Põe daqui e tira de lá e as duas gozaram loucamente no chão velho de madeira. César olhava tudo lutando contra sua cabeça que teimava em girar. Sua concentração se perdia e ela já não se debatia. Ele pensava mais do que sentia tudo que estava acontecendo.
    Paula e Mariana começaram a andar em volta de César, que tentava olhar para ambas ao mesmo tempo. “Você não quer brincar com a gente também, gostosão?” Paula girava o vibrador na mão e olhava com ar sexy para César. “Conheço bem esse tipo. Essa carinha de mau. Gosta de um fio terra né, garanhão?” César agonizava e se retorcia tentando afrouxar as cordas. “Olha esse cuzinho aqui, amor. Meu dedinho não vai ser a primeira coisa a entrar aqui, né?” Os tornozelos presos na corda tentavam forçar o corpo para cima e curvar a bunda para longe, mas as mãos presas junto ao peito não ajudavam. Mariana enfiou o dedo do meio no cu de César que gemeu abafado pela boca tampada e sentiu a agonia explodir no estômago. “Cutuca mais que ele tá gostando, olha só.” O pau dele ficou duro como uma pedra e ele começou a chorar desesperadamente. Paula caiu de boca e César soltou o corpo não suportando mais a rigidez. “Olha só, o bezerrão tá a ponto de bala.” Paula começou a punhetar César que suplicava por piedade através de murmúrios emitidos através da fita adesiva na boca. Mariana tirou o dedo e colocou o vibrador sem pedir licença. Um filete de sangue começou a pingar no chão com o corpo dele entregue as lágrimas que escorriam. “Goza garanhão, goza.” Paula punhetava ele quando foi surpreendida pelo dedo de Mariana em sua buceta. As duas se beijavam e se tocavam com uma mão enquanto punhetavam César com a outra. Todos gozaram juntos.
    Mariana e Paula caíram se abraçando calorosamente curtindo aquele êxtase. César relaxou o corpo por completo e ficou num estado de rigidez perdido numa inconsciência consciente rezando para, de alguma forma, não sair vivo dali. Era como se tivesse sido crucificado. As duas se vestiram, juntaram os brinquedos e tiraram as amarras de César. Quando o colocaram no chão ele estava tremendo e suando. Na posição fetal em que caiu ficou mesmo com os pés e mãos desamarrados. Nenhum som saiu de sua boca depois que ela foi destampada. César mal conseguia abrir os olhos e respirava pouco, prendendo o ar, enquanto Mariana e Paula riam compulsivamente. Elas jogaram as roupas em cima dele e foram indo na direção da Fiorino. “Vamos lá garanhão, a gente sabe que você gostou do ménage. Não precisa ter vergonha.” “Não sei não, mas acho que você nunca gozou tanto na vida, ainda estou toda lambuzada.” Ambas saíram juntas do galpão e deixaram César estirado no chão. Depois de seis horas, com a ajuda dos primeiros raios de sol, ele conseguiu colocar as roupas e sair dali.
  • O Faz Tudo 02

    1° Ato: Tiros

    Fernando não era de sorrir, porém em dias como aqueles era inevitável já que ele podia andar livremente pois as poucas pessoas na rua tinham sua atenção em se proteger da chuva e chegar logo em casa não reparando no homem em seu terno preto impecável carregando uma 9 milímetros . Enquanto ele caminhava pelas ruas vazias o sorriso desaparece conforme ele se aproxima de seu destino “hora de Trabalhar”

    Gustavo toma mais uma dose de pinga para ajudar a engolir o estimulante que a mais de um mês virou seu companheiro. “ Meu Deus ate quando vou ter que aguentar isso?” Gustavo era um assassino, traficante assaltante, mas ele havia sido criado como um cristão desde muito novo acreditava piamente no céu e no inferno e temia o dia do julgamento final. Então nunca perdia a chance de ir às missas no domingo, mas sem nunca abandonar a vida de crime. Ele havia tentado um golpe contra um traficante rival e falhou sem alternativa teve que fugir e se esconder para sobreviver. Como se guiado pelo divino acabou buscando abrigo naquela velha igreja. e ali estava ele novamente perguntando a deus o porque de seu sofrimento? Pois o inimigo o havia atacado e Deus permitiu como havia permitido que o diabo o atormenta-se Jó. Contudo como na bíblia Gustavo iria suportar aquela provação e assim realizar seu sonho de se aposentar e começar uma obra de caridade talvez até um orfanato se tornando o salvador de várias almas incluindo a sua própria.
    — Pai, porque me abandonou?
    Antes que tivesse uma resposta o som de algo caindo chama sua atenção. Ao buscar a origem Gustavo vê parado a porta uma figura sombria jaz aos seus pés sem vida um dos poucos homens que ainda trabalhavam para ele. Todos no local se viram para a figura misteriosa antes que pudessem fazer algo, as luzes se apagam Gustavo sente seu sangue gelar e suas mãos começam a tremer ele tateia na escuridão em busca de sua arma quando um grito horrível o faz se encolher de medo.
    — O que pensam que estão fazendo acendam as luzes! Luzes de emergência se acendem, mas eram inúteis já que mal iluminavam o local deixando tudo na penumbra tornando a velha igreja mais assustadora ainda.
    Um vulto passa correndo próximo a um dos capangas e some nas trevas, deixando mais um cadáver para trás. Essa cena se repetiu mais três vezes diante do olhar atônito dos presentes. Gustavo não conseguia acreditar aquilo não poderia ser obra de um homem já que ninguém poderia se mover daquela forma a resposta só poderia ser uma.
    — E o diabo Deus me proteja! O que pensam que estão fazendo? Vamos matem esse demônio. Com as palavras de Gustavo seus subordinados parecem despertar e abrem fogo contra a escuridão, o barulho ensurdecedor toma o lugar por minutos até que a munição daqueles homens acabar. Gustavo faz o sinal da cruz enquanto respira aliviado tudo estava acabado agora era mudar de lugar e descobrir quem havia enviado o assassino para matá-lo. Foi nesse instante que tudo mudou um brilho surgiu das trevas um dos homens de Gustavo cai sem vida. a cena se repete mais algumas vezes diante dos olhos assustados de Gustavo que decide fugir, contudo antes que pudesse fazer alguma coisa uma ele sente uma dor aguda em ambas as pernas o que o faz ir ao chão. ao olhar pára suas pernas era possível ver buracos de balas de onde o sangue escorria.
    Enquanto Gustavo se arrasta, Fernando finalmente surge da escuridão e remove o equipamento de visão noturna que estava usando até aquele momento. Ele passa por um dos homens moribundos de Gustavo e sem remorso aperta o gatilho dando fim aquela vida.
    “Regra n° 3 sempre conte as balas.”
    Com a certeza de sua morte Gustavo começa a orar enquanto continua se arrastando em sua via cruz. Vendo suas orações não surtiram efeito ele decide apelar para outro “deus.”
    — Quanto estão lhe pagando? Dinheiro não é problema, eu pago o dobro! Triplico! Vamos dizer seu preço, não era para ser assim, era apenas negócios. Que culpa tenho meu Deus?
    Gustavo finalmente alcança o altar e se vira para encarar o diabo diante dele. — Maldito seja. Fale alguma coisa inferno!
    Fernando para a centímetros de Gustavo que ofegava.
    — Regra n° 7 honre sempre o contrato. Sem dar hipótese para o homem diante dele retrucar, Fernando aperta o gatilho da Pistola colocando uma bala entre os olhos de Gustavo.
    Ao se virar para sair ele olha para o homem de braços abertos na parede. — Não me julgue, ele queria lhe conhecer então fiz acontecer. A porta da velha igreja se abre e o anjo da morte some na escuridão.
    No dia seguinte, longe dali uma pequena criatura entra em um local mergulhado em trevas. Confiante em ela caminha a passos rápidos ate alcançar seus objetivo usando de suas habilidades únicas começa a escalar oque para outros seria uma muralha intransponível. Após seu esforço gigantesco, ela finalmente alcança o tovo e orgulhosamente urra exigindo seu prêmio pela façanha alcançada.
    — Ok, ok, já acordei Ruby. Fernando senta na beira da cama e olha para o relógio sobre o criado mudo que informava que era cedo demais para estar acordado, ele então se espreguiça e caminha até a janela abrindo a cortina deixando a luz entrar iluminado todo o quarto em sua cama uma pequena gata o observa com atenção esperando para ser alimentada. Fernando se arrasta até a cozinha imaginando o quanto de café seria necessário para espantar o sono seguido de perto por ruby sua gata siamesa de estimação. Enquanto espera o café coar Fernando liga a televisão muito mais para se distrair do que se informar afinal ele a muito tinha perdido a esperança na humanidade. de posse de uma caneca grande de cafe ele se senta diante do aparelho a tempo de ver a âncora do telejornal da manha chamar o repórter para falar a respeito dos tiros disparados em uma igreja abandonada no centro na noite passada. Nesse momento o despertador em seu quarto e ele levanta para desligar sem dar importância para a chamada para a proxima materia algo sobre motociclistas e doação de alimento, um monte de bobagem em sua opinião afinal a vida dessas pessoas nunca mudara não por falta de vontade delas, mas porque as pessoas no poder assim queriam.
    — Como e? Hahaha não, não eu não acredito você acha que pode resolver tudo com dinheiro? Que se me der todo seu dinheiro eu vou sair por aquela porta e você vai poder continuar com toda sua vidinha miserável? Escute bem babaca eu odeio tudo oque você representa eu já lhe odiava muito antes daquele dia. Você e sua corja fizeram dessa cidade, desse pais do mundo o que ele é hoje. Todas as vezes que me sentia cansada com vontade de desistir eu me lembrava de você e o que fez e isso me motivava de novo. Então vou fazer você sangrar, gritar, chorar e quando estiver quebrado só aí vou lhe matar e finalmente sua dívida estará paga.
    Fernando senta-se em frente ao computador enquanto enxuga o suor pós treino ele liga uma pequena caixa preta antes de abrir Tor, onde digita um endereço que o leva para um site onde se anuncia vagas para diversos serviços. Ele faz o login e vai direto para o chat de conversa onde depois de alguns minutos é convidado para um chat privado com um usuário.
    Gerente@rt288: Seu dinheiro foi depositado.
    F: Ok.
    Gerente@rt288: O cliente está satisfeito, mas tem uma reclamação.
    F: Qual?
    Gerente@rt288: Ele não gostou da cor das paredes achou muito chamativa
    F: É direito dele, mas tenho certeza que deixará uma impressão forte nas futuras visitas que as fará pensar o quanto ele valoriza sua propriedade.
    Gerente@rt288: Tenho um novo serviço.
    F: O que seria?
    Gerente@rt288: Jardineiro.
    F: Não faço trabalho de jardinagem.
    Gerente@rt288:.... Ok
    Gerente@288: Tem também uma vaga para empreiteiro:
    F: construção, demolição ou reforma?
    Gerente@rt288: Reforma, houve erro na execução do projeto então o arquiteto tem que ir ao canteiro de obra e você vai acompanhar para garantir que todos iram entender os ajustes necessários..
    F: Quantas pessoas na equipe?
    Gerente@rt288: 3 pedreiro você e o arquiteto, contrato por empreitada.
    F: Qual a empresa?
    Gerente@rt288: Empresa nova no mercado
    F: Não
    Gerente@rt288: E um ótimo contrato, tem certeza?
    F: Sim
    Gerente@rt288: Estou autorizado a oferecer mais se você aceitar o serviço
    F:...
    F: O dobro.
    Gerente@rt288: Por esse valor, posso contratar uma equipe inteira.
    F: Uma equipe não pode garantir que serviço será executado, eu sim.
    Gerente@rt288: …
    Gerente@art288: Fechado vou lhe enviar as demais informações.
    Fernando desliga o computador e se levanta e vai para o banheiro tomar um banho satisfeito com o resultado que alcançou. Um pouco após as três da tarde o interfone toca e Fernando olha para uma tela onde aparecia a imagem enviada por quatro micro câmeras. após confirmar que o entregador estava sozinho ele aperta o botão para responder.
    — Pois não?
    — Entrega para o senhor Fernando dos Santos Moraes.
    — Só um minuto. Fernando caminha até a porta ao abrir se depara com um jovem entregador usando capacete que sorri em sua camisa a sigla Ipa se destacava.
    — Senhor Fernando?
    — Sim.
    — Assine aqui por favor, obrigado tenha um ótimo dia. Fernando fecha a porta atrás de si e abre o envelope dentro encontra um pequeno papel onde tinha o local de encontro hora enquanto lia seu rosto se contorce em uma careta ao reconhecer o nome do contratante. — Ah merda por que justo esse imbecil?
    No dia marcado, um opala 67 na cor preta sai da periferia em direção a área industrial da cidade na zona oeste quando estava quase chegando ao seu destino Fernando para o carro e vai andando o resto do caminho até onde o encontro irá acontecer. Já passava das dez da noite e as ruas estavam vazias, um vento frio soprava e trazia um cheiro forte de chuva uma garantia de que nenhum curioso iria aparecer. Quando estava quase chegando ao galpão ele olha em volta e se aproxima de uma caçamba de lixo onde deposita a bolsa que estava carregando depois de concluir todos os preparativos ele vai em direção a entrada. Já dentro do local Fernando faz uma careta diante dele estavam 4 homens que aparentavam no máximo vinte e cinco anos todos vestido como skatistas ou rappers ele não conseguia diferenciar o estilo. O mais bem arrumado era Robson Morelli filho único de Andrade Morelli um homem poderoso tanto na sociedade respeitada como no submundo. Era um rapaz de pele clara e cabelo negros com olhos castanhos vivos, desde muito jovem sempre quis mostrar ao pai que seria como ele, portem ele não herdara a inteligencia e malicia tão conhecida de Andrade na verdade por diversas vezes escapou de ser morto ou preso exatamente por ser filho de quem e. Seja por acaso ou obra do destino aquela noite ele era o chefe de Fernando.
    — Boa noite Senhores.
    — Seja bem vindo Senhor Fernando, devo dizer que agora me sinto até mais seguro. Robson estende a mão para Fernando que aceita.
    — Fico feliz que pense assim, farei meu máximo para garantir que tudo ocorra de maneira satisfatória. Poderia me dizer qual é o tópico dessa reunião e qual seu objetivo? Ao ouvir a forma que Fernando falava o grupo de rapazes começou a rir sem tentar disfarçar o mais animado era um que usava um casaco forrado amarelo que lhe fazia parecer uma bola com pernas.
    Olha só como o tio fala “ pode me dizer qual o tópico dessa reunião?” Dá para acreditar nesse maluco? Quem e voce algum tipo de advogado ou político?
    — Sou um faz tudo.
    — Um o que tá de brincadeira? Olha aqui a parada e sobre armas tá ligado já viu uma arma sabe o que é? Ao dizer isso, o rapaz levanta a jaqueta revelando a pistola que carregava na cintura. Fernando não se contém e sorri enquanto se pergunta como havia ido para ali com aqueles amadores.
    — E um belo brinquedo você tem aí garoto cuidado para não acertando seu amiguinho especial por engano. Todos começam a rir. O rapaz fica furioso e tenta sacar a pistola, mas antes que pudesse fazer qualquer movimento uma faca surge colada em sua garganta o fazendo congelar.Os outros dois rapazes se aproximam para salvar o amigo e são recebidos com a 9 milímetros de Fernando apontado em suas direções.
    — Ohh! calma vamos todos nos acalmar está bem? Senhor Fernando por favor desculpe meu amigo Mateus ele é um brincalhão e acaba errando a mão às vezes não e Mateus?
    P…Pode crer. Me desculpe senhor Fernando eu não sei onde estava com a cabeça eu só tava brincando. Fernando percebe que seu aviso tinha surtido efeito e devagar afasta a faca do pescoço de mateus que respira aliviado.
    — Tudo bem eu também lhe devo desculpas Mateus.
    — Não precisa tá ligado. Mateus se afasta ainda tremendo e se junta aos colegas num canto mais afastado sem olhar uma única vez para Fernando esse por sua vez volta a falar com Robson.
    Próximo a meia noite o portão do galpão se abrem e um furgão entra parando de frente para Robson e os demais de dentro dele saltam cinco homens com a fisionomia seria todos muito bem vestindo. mateus não esconde a surpresa ao ver que todo cara foda da Cidade se vestia bem a descoberta o fez decidir mudar a forma como se vestia.
    Eles se aproximam parando a um metro de distância.
    — Meu querido…
    —Sem conversa fiada Robson você nos chamou cade minhas armas?
    — Certo sempre direto eu tenho suas armas , contudo temos um problema, meus custos foram mais altos do que o esperado então meu preço subiu.
    — Quanto?
    — Vai lhe custar mais dez mil. Fernando olha para aquele bando de crianças do seu lado todos de olhos esbugalhados com as mãos sobre as jaquetas, se alguém espirrasse aquilo viraria um tiroteio digno dos filmes de faroeste. Tudo dependia do líder dos homens do furgão era um sujeito que aparentava ter seus quarenta anos, tinha a pele morena de corpo esguio, provavelmente um ex militar. Sem dúvida alguém experiente com tudo aquilo o que fazia Fernando se perguntar porque ele estava negociando com aquele bando de crianças.
    — Tem certeza que o Andrade não vai descobrir?
    — Certeza absoluta não se preocupe, eu ajeitei os arquivos ele nunca vai se desconfiar. Finalmente Fernando compreendeu tudo, Robson aproveitou os contatos do pai para conseguir as armas já que montar uma operação desse tipo exige tempo, dinheiro e inteligência, três coisas que o rapaz não tinha. E claro que aqueles homens diante dele jamais perderiam a oportunidade de conseguir material de primeira com custos baixo a situação acabara de piorar muito. Aproveitando que o líder do grupo conversava com seus homens Fernando puxa Robson pelo braço e começa a cochichar em seu ouvido
    — O que pensa que está fazendo, garoto?
    — Como assim não está vendo?
    — Vejo que está roubando do seu pai e vendendo para essas pessoas sem saber quais são seus objetivos.
    — Não importa, meu pai jamais vai descobrir e mesmo que descubra o que ele vai fazer me matar?
    — Robson você é um tolo e eu sou mais ainda por não ir embora agora mesmo.
    — Por que não vai? Não tem nada que lhe impeça.
    — Sua sorte, garoto e que tenho que honrar nosso contrato, mas essa será a primeira e última vez, está entendendo?
    — Sim senhor Fernando. Nesse momento o ex militar volta a olhar para o grupo de Robson
    — Dez e muito eu pago seis.
    — Não posso aceitar quero nove.
    — Está brincando comigo? Eu estou correndo muito risco fazendo negócios com você. Sete.
    — Sete e quinhentos e fechamos negócio oque me diz? O ex militar parece pensar algum tempo até que dá a ordem para um dos seus homens que vai até o furgão e volta com duas bolsas de viagem as colocando entre ambos os grupos.
    — Ta ai o dinheiro. Robson se aproxima e abre as bolsa para conferir seu conteúdo ambas estavam recheadas de notas de cem. ele sorri e sinaliza para mates e os companheiros que trazem caixotes de madeira se afastando tudo sob o olhar de Fernando que estava pronto para agir ao primeiro sinal de problemas.
    — E aqui está sua armas como prometido pode verificar, duas caixas de armas e uma de munição conforme Robson se afasta o Ex militar se aproxima e abre as caixa conferindo seu conteúdo.
    — Muito bem podem carregar não vou dizer que foi um prazer negociar com você Morelli, mas também não foi ruim até a próxima aproveite seu dinheiro. Com essas palavras os cinco homens entram no furgão partindo rapidamente deixando para trás Fernando e os quatro rapazes que respiram aliviados.
    — Cara quase que mijo nas calças.
    — Hahaha tu é um otário mano, eu tava doido para que ele fizesse alguma coisa seis iam ver minhas habilidades.
    — Deixa de ko tava tão assustado quanto a gente. Enquanto os três rapazes comemoravam o sucesso da negociação, Fernando não parava de sentir que tinha algo estranho.
    — Por que essa cara, senhor Fernando, deu tudo certo no final.
    — Não sei, Robson tem algo errado com tudo isso. Aqueles homens são profissionais, não tem motivo para eles trabalharem com vocês sem ofensa.
    — Tudo bem eu entendo também fiquei surpreso quando eles me procuraram.
    — Espera, eles lhe procuraram?
    — Sim, qual o problema? Antes que Fernando dissesse qualquer coisa uma forte explosão os arremessa contra a parede coquetéis molotov são arremessados tornando o galpão um verdadeiro inferno
    — Nós temos que sair daqui!
    — Não seu tolo fique abaixado! O medo faz com que Mateus ignore o aviso de Fernando e enquanto corria para fora pelo buraco onde antes estava o portão do galpão apenas para ter o corpo crivado de bala.
    — Merda, merda Fernando se arrasta ate onde Robson estava caído de bruços sua única preocupação era tirá-lo dali em segurança
    — Vamos garoto, temos que dar o fora. Ao virar Robson para si Fernando sente seu peito apertar, o rosto do rapaz havia sido partido ao meio por um pedaço de metal. Sem tempo para lamentar ele olha em volta buscando uma saída, a prioridade agora era sua sobrevivência em meio a fumaça e chamas foi possível ver quando os dois últimos rapazes são fuzilados pelo grupo misterioso. Foi quando ele ouviu uma voz que sobressai em meio a confusão.
    — Menos três temos que encontrar os outros dois continuem procurando.não parem ate que os achem e os matem..
    — Sem dúvida que estão mortos mesmo com toda a fama daquele cara não tem como sobreviver a isso.
    — Fique quieto e continue procurando ele foi aluno do Jeremias duvido que só isso possa acabar com ele.
    — Ei aqui encontrei o Morelli está morto.
    — Ótimo agora só falta um agora.

    Fernando escuta a conversa dos homens misteriosos e tem a confirmação de suas suspeitas. “Então ele sabiam quem nós éramos e todo esse teatro foi para matar a ambos. O Robson ate entendo, mas por que também sou um alvo?” Ele balança a cabeça como se para espantar as dúvidas e decide agir. Fernando enfia a mão no bolso da calça de onde retira um pequeno objeto com um botão ao qual aperta, como resultado uma nova explosão acontece chamando a atenção de todos no local.
    aproveitando a oportunidade o faz tudo sai do esconderijo onde estava e sem perder tempo atire nos inimigos mais próximos

    — Ele está aqui! Desde que assumiu aquela profissão era a primeira vez que Fernando não era o predador e sim a presa e como tal corre enquanto tenta se proteger, porém com as fumaça e as chamas que ficavam mais forte acaba encurralado enquanto o inimigo se aproxima ele torna a apertar o botão e uma nova explosão acontece arremessando os predadores para longe e abrindo um buraco por onde o homem passa correndo. Do lado de fora Fernando pula sobre o muro que cercava o lugar, aterrissando ao lado da caçamba de lixo recuperando assim a sua bolsa partindo novamente em disparada.. Quando finalmente alcança onde havia estacionado seu carro ele tem uma nova decepção seu amado, opala ardia em chamas suas chances de sobrevivência haviam caído drasticamente. Antes que pudesse recuperar o fôlego uma nova chuva de balas, o faz retomar sua fuga. Enquanto a perseguição continua, pequenas gotas de água começam a cair do céu rapidamente tornando-se uma forte chuva que atrapalha os perseguidores de Fernando que aproveita a chance e entra em uma construção.
    — Hoje definitivamente não é meu dia. Fernando não podia acreditar no que via ele pensava que ainda estava na área dos armazém e grande fábricas e que poderia usar uma dessas construção para despistar aqueles homens, mas por causa de seu desespero acabou entrando em um sobrado abandonado onde tinha funcionado uma padaria. E que após seu fechamento teve a saída dos fundos e janelas cimentadas, bloqueando assim sua rota de fuga.
    — E muito amadorismo mesmo Jeremias deve estar dando risada agora enquanto fala .”Regra n°21 saiba entrar, saiba sair.” Sem alternativa ele arrasta alguns móveis e se prepara para uma corajosa e inútil resistência se protegendo atrás de uma coluna abre a bolsa de onde tira mini metralhadora apontando-a para a entrada.
    Não demora muito e a localização de Fernando é descoberta e as balas começam a voar destruído o restante da fachada da padaria
    — Meu Deus! Fernando surpreso se vira se deparando com novo um problema.

    Sabe olhando para trás agora eu consigo perceber o quanto Fernando estava assustado aquele dia todos sabem que a chance de morrer nesse ramo é grande poucos conseguiram se aposentar. E ele estava preparado para o fim, mas não para descobrir que tinha outra pessoa ali dormindo tranquilamente então naquela situação caótica com balas voando e tudo mais ele fez o melhor possível.

    — Desculpe, não consegui ouvir por causa do barulho.
    — Eu perguntei o que está acontecendo aqui? Fernando acabara de descobrir que não estava sozinho no prédio ele havia visto o monte de panos no canto e os ignorado e agora tinha um pequeno problema de olhos castanhos e cabelos bagunçados o encarando. A criança estava usando aquele prédio como abrigo e agora seria morta por sua causa.
    — Como pode ver, é um tiroteio.
    — Sim eu to vendo idiota, mas por que logo aqui o que você fez para deixar tanta gente irritada?
    — Ah tá! Porque de estarem tentando me matar? Gostei de você e do tipo curioso, olhar esperto, certeza que vai longe na vida. Bom, antes de mais nada quero deixar claro algumas coisas: Não sou o mocinho e definitivamente eu mereço morrer da forma mais cruel e dolorosa possível, com tudo não quer dizer que eu vou facilitar o trabalho deles.
  • O Faz Tudo 03

    2° Ato Arrependimento

    — Olha devo dizer que amei o que você fez aqui comprar um prédio, mandar reformar instalar tudo do bom e do melhor por si só já é incrível. Foi genial fazer seus capangas morarem nos apartamentos vazios. Realmente meu amigo você construiu uma fortaleza impenetrável ou quase. Foi muito difícil encontrar as plantas originais e as da reforma, parece que o engenheiro responsável sofreu um acidente e morreu curioso não e? E olha que coincidência na noite a empresa onde ele trabalhava pegou fogo destruindo tudo não é surpreendente? Porém, o falecido tinha uma irmã que ficou mais do que feliz em ajudar assim que contei a verdade sobre o acidente não tão acidental. Ela me entregou todos os projetos antigos do irmão e lá havia informações sobre este lugar. Não precisa ficar com essa cara, já entrei e saí de vários lugares assim antes e Fernando saiu de muito piores.

    A noite ia longe e a chuva não dava trégua muito menos os homens que continuavam atirando contra a padaria onde Fernando estava preso como um rato.

    — Ei velhote tá chegando mais gente.
    — Hum? Sim eu também reparei, tem coisa errada, me passa essa bolsa aí perto do seu pé. Obrigado. Fique abaixado, eles são ruins de mira, porém nunca se sabe. De dentro da bolsa Fernando tira um celular simples e acessa a caixa de mensagem e começa a digitar enviando na sequência minutos depois o aparelho vibra informando que chegou uma nova mensagem.

    — Droga eu sabia que tinha algo muito errado.
    — O'que foi? Fernando entrega o celular para o jovem morador de rua que lê a mensagem

    “Precisa-se dedetizador para empresa multidisciplinar reconhecida no mercado.Trabalho 6 por 1 com possibilidade de contrato de exclusividade.”
    endereço: Rua Dicipulo Jeremias tavares n° 01
    Contato: xxxx-xxxx
    Empresa Morelli

    — Cara não entendi nada.
    — Dedetizador quer dizer que precisam de alguém para um serviço de assassinato, dizer que a empresa e multidisciplinar quer dizer que o alvo e um faz tudo.
    — Certo é o que é 6 por 1?
    — Quer dizer que pagaram 6 milhões para matar uma única pessoa, no caso eu.
    — Como pode ter certeza?
    — O endereço, Jeremias Tavares foi quem me ensinou a profissão. E parece que é meu fim.
    — Você não vai fazer nada, deve ter um jeito da gente sair daqui.
    —Acha que isso aqui é um filme? Que a pistola tem balas infinitas ou que eu sozinho mato 30 pessoas? Por favor, daqui a pouco vai dizer que acredita em final feliz. será que eles vão pelo menos ter a decência de avisar minha irmã? Não provavelmente vão pegar meu cadáver esquartejar e atear fogo. Sabe o que eu queria uma pizza.
    — Só pode ser brincadeira nós vamos morrer e você vem me dizer que está com fome.
    — Sei que não e hora nem lugar, mesmo assim to com fome vai entender, conheço um restaurante que serve a melhor pizza da cidade juro, e tem uma atendente linda, queria ir lá uma última vez e chamar ela para sair.
    — Se está com tanta fome pode comer a farinha que tem lá atrás babaca.
    — O que foi que você disse?
    — Babaca porque vai querer brigar comigo agora?
    — Não antes.
    — Ah! Disse para você comer a farinha que tá lá atrás.
    Os olhos de Fernando brilham enquanto começa a mexer novamente na bolsa de onde tira algumas coisas.
    — Rápido vai lá atrás e traga o saco de farinha até aqui mesmo sem entender o garoto sai para executar as ordens de volta ele observa enquanto Fernando arrasta um ventilador de torre. Coloque aqui e abra o saco bom ainda dá para usar agora tem alguma tomada com eletricidade aqui?
    — Tem sim, fiz um gato para ligar meu rádio.
    — Perfeito
    — O'que diabos acha que ta fazendo?
    — Tentando nos manter vivos..
    Do lado de fora do prédio Marcos olhava apreensivo a sua volta a cada minuto que passava chegava mais gente ao local. Era um festival onde havia policiais corruptos, drogados, ladrões, membros de grandes famílias e outros freelancers, todos em busca da recompensa pela cabeça de Fernando. Em sua opinião se alguém matar o Faz tudo deveria ser ele, afinal eram amigos de longa data tendo realizado em pareceria vários contratos de sucesso. Com certeza Fernando ia preferir partir com estilo pelas mãos de Marcos em vez de um tiro de sorte dado por um drogado qualquer. Enquanto pensava em uma solução, o celular de Marcos começa a vibrar.
    —Aló?
    — Marcos, como você está?
    — Fernando a quanto tempo vou bem meu amigo, melhor do que imagina.
    — Fico feliz em ouvir isso e como estão as coisas por aí?
    — Olha não vou mentir, deve ter uns 20 imbecis por aqui doidos para acabar com sua raça.
    — Posso imaginar então o que vamos fazer a respeito?
    — A respeito do que?
    — Sabe que não vou me entregar e também não vou deixar eles transformarem meu corpo em uma peneira.
    — Concordo com você, mas o que sugere?
    — Vamos fazer assim junte alguns, desses idiotas e diga que irá dividir o dinheiro com eles todos sabem que mesmo se me matarem terão que lutar para sair com o prêmio antes ter parte de algo do que nada.
    — Não sei o que tenho a ganhar com isso.
    — Sabe sim na hora que eles entrarem aqui vai começar um tiroteio pesado ninguém vai reparar se forem atingidos pelas costas então quando tudo acabar você fica com o prêmio
    — E parece muito bom e o que deseja em troca?
    — Nada demais envie minhas cinzas para minha irmã, talvez algum dinheiro e invente uma história sobre como eu morri posso garantir que não ira se arrepender o que me diz?
    — Trato feito, em 15 minutos vamos invadir.
    — Ok obrigado.
    Cinco minutos depois Marcos tinha juntado algumas pessoas e eliminando a concorrência mais fraca. e começou a caminhar em direção ao prédio até ali tudo estava indo conforme o plano.
    Atenção quero o máximo de cautela o alvo é um profissional e mesmo cercado ainda é capaz de contra atacar vamos entrar aos pares prontos? A equipe avança mas antes que se aproximem são recebidas a balas, rachando instantaneamente tiros são trocados e só tem fim quando Fernando para de atirar.
    Cessar fogo. O silêncio toma conta do lugar o celular de Marcos vibra mais uma vez ao olhar uma nova mensagem aparecia na tela
    “fuiafingid.”
    — Merda, merda! Vamos avançar rápido. A mensagem podia estar escrita errada, mas era clara Fernando tinha sido atingido e provavelmente estava morrendo. Marcos precisava agir rápido para fazer com que todos entrassem e matá-los se não conseguir executar o plano pelo menos garantir que ele seria o primeiro a chegar ao alvo. Quatro homens haviam entrado quando Marcos percebeu que havia algo estranho em cima do balcão, um saco de farinha estava aberto e enquanto um ventilador fazia seu conteúdo voar para todos os lados. O matador arregala os olhos ao entender o plano de Fernando antes que pudesse fazer qualquer coisa um bip e escutado e algo explode pegando todos de surpresa. Marcos e arremessado contra o para-brisa um carro e perde a consciência. Ao mesmo tempo uma porta de metal que havia resistido a explosão se abre de dentro surge Fernando que começa a atirar em todos que ainda respiravam seguido de perto pelo morador de rua. enquanto caminhavam pelos escombros o garoto não parava de olhar com admiração para o homem à sua frente.

    — Eu não acredito que deu certo.
    — Regra n° 23 conhecimento é poder. Às vezes não importa o plano, tudo vai dar errado e temos que improvisar e saber esse tipo de coisa pode salvar a sua vida. A farinha de trigo como muitos outros produtos tornam-se explosivos quando ficam suspensos no ar como pó, basta apenas um pouco para fazer um belo estrago. Por isso que as fábricas têm sistemas de filtros de ar e exaustores se não qualquer faísca faria elas irem pelos ares.
    — Se a porta do depósito não tivesse aguentado a gente podia ter ido pelos ares também.
    — Ela aguentou e isso é o que importa, temos que sair daqui.
    — Seu braço está machucado.
    — Não se preocupe comigo, agora vamos.
    Fernando para e olha para Marcos e após garantir que o homem continua vivo se vira para partir.
    — Foi mal amigo, fico lhe devendo.

    Longe dali um outro tipo de explosão acontecia simultaneamente.
    — Maldito bastardo você me traga uma toalha.O ódio que ardia em seu peito desse homem seria capaz de consumir o mundo inteiro se permitissem. Diante dele banhado em sangue amarrado a uma cadeira se encontrava o pobre desgraçado, responsável por garantir a segurança de seu filho agora morto, Robson. Seu nome era Douglas e amaldiçoava o dia em que aceitou o serviço de segurança da figura diante dele. Era um homem forte na casa dos 50 anos, seu nome era Andrade Morelli membro de uma antiga família que nunca fora digna de nota até que ele se tornou o líder dela. Com seu comando aquele grupo alcançou o mais alto status na sociedade como empresa de sucesso e que se preocupava em ajudar a sociedade e por debaixo dos panos uma das mais temidas organizações criminosas que se tem notícia.
    — Era um serviço simples proteger meu filho? Como pode falhar?
    — Uhg.

    — A culpa é minha por confiar em você, sabe ao menos o nome do comprador? Cor, altura ou qualquer coisa?
    — Se..Senhor Francisco eu não… Douglas percebe tarde demais o erro que cometeu ele havia acabado de quebrar um dos maiores tabus do grupo.
    — Do que me chamou?
    — Eu não queria por favor senhor Andra..Antes que pudesse terminar a frase Douglas é atingido por uma saraivada de balas
    — Já disse que meu nome é Andrade! O nome completo de Andrade era Francisco Andrade Morelli, o Francisco era uma homenagem ao seu avô agricultor que chegou como imigrante a muito tempo. O nome sempre lhe pareceu um castigo ao qual odiava desde sempre e proibia qualquer um dizer por lembrá-lo de sua origem.
    — Moisés.
    — Sim senhor Andrade?
    — Chame todos nós vamos para guerra e não vamos parar ate que não sobre nenhum desses assassinos..
    — Senhor desculpe a minha ousadia, contudo varias famílias ficaram irritadas com a nossa atitude com motivo.
    —Isso não me importa diga a todos quem não estiver conosco esta contra nos e receberá o mesmo tratamento que esse inútil aqui.
    — Sim senhor
    — Já conseguiram dar um jeito no Fernando?
    — Ainda não senhor, mas acredito que muito em breve teremos boas notícias.
    — Muito bem tire esse lixo da minha frente.
    Andrade limpa o sangue em suas mãos e joga a toalha cobrindo o rosto do cadáver de Douglas.
    — Eu farei todos se arrependerem do dia que cruzaram o caminho de Andrade Morelli.
  • O Faz Tudo 04

    3° Ato Descoberta

    — Vejo que está tentando descobrir onde errou, eu compreendo, afinal ouvi a sua história, tudo o que fez desde muito antes do meu nascimento, dê o quanto é inteligente e tudo mais. Vou lhe contar. Eu já estava quase desistindo de lhe encontrar quando decidi sair para tentar relaxar, imagine minha surpresa ao ouvir a conversa de uma garota com as amigas na mesa ao lado. Que falava a respeito do cliente especial dela que tinha um buraco no lugar do olho esquerdo. E na hora soube que falavam de você daí para frente foi fácil. Me aproximei delas e após algumas doses descobri sobre esse lugar. Hehehe me diz como e descobrir que a causa da sua morte foi por pensar com a cabeça errada? É sempre ótimo ver a cara das pessoas quando descobrem que não são tão espertas quanto imaginavam.

    — Rápido! Temos que sair daqui, antes que eles nos alcancem.
    — Por favor, não consigo mais...
    — Tá bom, 5 minutos e continuamos. Fernando havia corrido durante quase uma hora sem parar na tentativa de despistar seus perseguidores. Então não faria mal parar e descansar um pouco. Enquanto ele olhava em volta procurando por sinais de perigo, vê o garoto puxar um maço de cigarro do bolso e sem cerimônia acender um dando uma longa tragada.
    — Você deveria parar de fumar antes que acabe morto.
    — Bom, se não percebeu o sabichão já tem gente querem nos matar, isso aqui é o menor dos meus problemas.
    Eu sei e peço desculpas novamente por lhe envolver nisso, mas qual de nós dois está em melhor forma física hein? Quem tem maior chance de sair dessa? Boa saúde é um pré-requisito nesse ramo de trabalho.
    — Agora que falou vi como matou aqueles caras, você é um assassino?
    — Por favor não me confunda com essa corja, eu tenho padrões e um código, sou um profissional que atende os mais diversos tipos de serviço, transporte, segurança, cobrança..
    — Assassinato. O garoto sorri ao ver a cara de Fernando ao ser interrompido
    — Às vezes tenho que matar pessoas, mas nunca machuquei um inocente, meus alvos sempre foram pessoas do pior tipo, também faço recuperação itens.
    — Você rouba as pessoas? Que ótimo, estou andando com um ladrão.
    — Não sou um ladrãozinho, eu recupero itens.
    — As pessoas para quem você trabalha são os donos originais?
    — Nem sempre
    — Então e roubo o que faz de você um ladrão.
    — Que seja, assassinos, mercenários, seguranças, todas essas profissões são limitadas a uma área de atuação. Aquele que tem as habilidades para realizar qualquer serviço e um faz tudo e não a muitos como eu.
    — Então, você vem de uma longa linhagem de assa… Quer dizer, faz tudo, seu pai, sua mãe e até seu cachorro são como você?
    — Não só eu e nem sempre fui um faz tudo e minha família nem imagina o que faço para viver acredite se quiser Lá em cruz rubra ond…
    — Haaa por favor né?!
    — Se tem forças para me interromper quer dizer que descansou o bastante, podemos ir?
    — Não que e isso pode continuar.
    — Sei como estava falando, nasci em uma cidadezinha no interior, um lugar simples parado sem muitas opções. Minha família era meu pai, minha mãe, eu e meus irmãos menores. Como mais velho me esforçava para ajudar em casa e ser um bom exemplo, mentira eu era um terror, só sabia arrumar confusão e não queria saber de nada tanto que larguei a escola cedo. Passava o dia com os meninos mais velhos e com eles aprendi tudo o que não presta e logo comecei a praticar pequenos furtos. Não diga nada! Se der um pio te largo aqui entendeu? Bom onde estava? Sim, começamos pequeno, eram bicicletas e outras coisas de pouco valor.. Certo dia chegou um cara vindo da capital, seu nome era Rogério, ele era diferente de nós, era esperto, vivido e rapidamente se tornou nosso líder. Sobre seu comando passamos a roubar caminhões e suas cargas, aquilo sim que era vida, logo a gente tava nadando no dinheiro, eu podia comprar tudo o que sempre sonhei, roupas, jóias, até mesmo uma moto. A polícia do lugar era apenas 1 delegado e 4 policiais, então eles não tinham chance contra nós, éramos os reis do mundo ou assim pensávamos. Tinha um homem que trabalhava conosco, nunca soube o nome dele, mas todos o chamavam de gordo, ele era proprietário de uma mecânica e do ferro-velho da cidade. O que pouca gente sabia é que o gordo também trabalhava com receptação de carga roubada e desmanche de carros, ele era o responsável por conseguir informações sobre os caminhos que iríamos roubar, placa, carga, quantas pessoas na boleia e se tinha segurança acompanhando.
    Certa vez ele passou um a diga que como ele mesmo disse era uma mina de ouro uma carreta estaria passando por ali com destinos a outro estado e sua carga era de eletrodomésticos televisão, rádio, videocassete tudo do bom e do melhor. E fechando e como se não bastasse sem segurança. Claro que todos ficaram animados já imaginando como iríamos gastar o dinheiro, três dias depois estávamos de tocaia na beira da rodovia o Plano era simples um carro quebrado na beira da estrada com duas garotas de programa que pediam ajuda e quando o motorista parava roubávamos a carga, sempre funcionava o caminhão e carga eram assegurados então não tinha porque o motorista tentar qualquer coisa depois levamos o infeliz do motorista para o meio do nada e mandava ele correr.
    Pena que aquele dia não foi como o esperado o carro e as garotas estavam no lugar o caminhão chegou na hora certa e parou para ajudar, o motorista desceu e na mesma hora atacamos com ele preso Rafael que era um dos poucos que sabia dirigir foi em direção à boleia não consigo imaginar a sua surpresa ao abrir a porta e se deparar com um revólver apontado para ele e sem dar chance o homem dentro do caminhão puxou o gatilho o pobre Rafael morreu ali mesmo. não lembro bem o que aconteceu depois sei que Rogério e os outros começaram a atirar contra o homem enquanto as garotas gritavam desesperadas o motorista também acabou morrendo no final levamos o caminhão para o gordo e fui para casa muito assustado. Era a primeira vez que eu vi alguém morrendo e o que mais me impressionou foi os olhos do Rafael que me fitavam sem vida. Aquela noite tive um pesadelo horrível onde o Rafael me implorava ajuda enquanto tentava parar o sangue que jorrava da ferida provocada pela bala, nessa hora minha mãe me acordou dizendo que eu estava gritando enquanto dormia, assim vários dias eu não conseguia fechar os olhos com medo de voltar a ter aquele pesadelo. No final de semana Rogério veio me chamar dizendo que o gordo queria falar com todo mundo, quando chegamos no ferro velho vi que todos estavam com a mesma cara que eu era claro que todos estávamos sofrendo fui para um canto e me calei esperando para ouvir.
    — Certo gordo tamo aqui qual é o problema pra que tanto mistério? Gordo parecia que iria ter um AVC a qualquer momento ele estava suando mais que o normal e olhava para todos os lados.
    — O problema? Qual o problema? essa e a merda do problema moleque dos inferno! O homem gordo pega um pacote da gaveta da mesa e arremessa para Rogério que o segura ficando pálido ao reconhecer o que era.
    — Isso é o que tô pensando?
    — Sim. A gente tá ferrado, ferrado! Eles vão nos matar!
    — Eu me aproximei e peguei o pacote das mãos de Rogério e também reconheci já que tinha visto aquilo milhares de vezes na televisão nos programas policiais.
    — Cocaína o caminhão estava carregado de drogas?
    — Esse ai, deve ser o gênio do bando né Rogério? Sim, tava tudo escondido dentro das TVs, rádios de tudo, ai meu deus porque isso tinha que acontecer comigo?
    — Ta e o que a gente faz que tal ligar para seu contato?
    — Acha que não tentei ninguém atender aquele filho da mãe. Ele deve ter fugido ou já morreu. Bando de moleques burros, vocês não entendem que aquele caminhão tem um dono que está louco procurando por ele.
    — Tá então a gente devolve e fica tudo bem.
    — Você comeu merda e isso? Não importa o que a gente fizer, eles vão nos achar e matar para garantir que ninguém saiba da operação, a única alternativa e fugi.
    — Fugir para onde?
    — Não sei! O que sei é que estou indo e aconselho que todos façam o mesmo.O dono do ferro velho abre a porta do escritório e sai noite adentro, nunca mais sendo visto. Os garotos passam um tempo calados enquanto olham para Rogério esperando que o líder surgisse com um plano que iria salvar a todos, porém para a surpresa de todos eles sai na sala sem dizer uma palavra. Todos ali ficaram surpresos com aquela atitude e por um longo tempo nada disseram ou fizeram até que como se combinado foram saindo um por um sobrando no final apenas Fernando que se lembrava de todos os momentos que eles compartilharam e todas as promessas de amizade eterna que fizeram sempre dizendo que nada os separaria nem a morte ao que tudo indicava a morte e o medo eram mais forte que qualquer promessa. Ele então sente uma lágrima escorrer pelo seu rosto enquanto a enxugava Fernando sai apagando a luz atrás de si era o fim de uma era.
    — E depois? o que aconteceu?
    — conheci... droga são eles vamos! O jogo de gato e rato recomeça.

    — Não podemos ficar correndo como loucos pela cidade mais cedo ou mais tarde eles vão acabar nos pegando. Fernando sabia que o garoto estava com a razão, ele não podia confiar em nenhum dos seus velhos "amigos" principalmente com a recompensa que Andrade estava oferecendo por sua vida.
    —Tem uma alternativa.
    — aceito qualquer coisa para evitar morrer.
    — Certo então me siga. Fernando dobra a na primeira esquina à esquerda e depois novamente à esquerda e parte em disparada em direção de onde vieram.
    — Você está louco? Se voltarmos agora seremos mortos.
    — Não temos alternativa onde precisamos chegar e longe demais para ir a pé, precisamos de transporte.
    — Por que não vamos de ônibus?
    — Regra n° 4 jamais envolva civis. Eu sigo as regras, mas não tenho certeza que eles seguiram quer realmente colocar pessoas inocentes em riscos?
    — Bom, eu também sou inocente, não é?
    — Quer dizer, era na hora que eles viram você correndo junto comigo, você se tornou parte desse mundo.
    — Ahhh claro nossa muito obrigado cara por estragar a minha vida que já não era fácil.
    — Desculpe.
    — Tudo bem então qual é o plano?
    Roubar um carro e ir para a zona sul até bom descanso
    — O que tem no Bom descanso?
    — Não dá tempo de explicar, agora cale a boca e corra.

    Claudio boceja mais uma vez, já passava das duas da manhã e tudo o que ele queria era ir para casa dormir.
    Algumas horas atrás seu chefe recebeu a notícia de uma recompensa de 6 milhões pela vida de um cara que havia matado o filho de um figuram, animado ele juntou Claudio e seus companheiros e foram atrás da recompensa. Ao chegar no local tudo oque eles encontraram foi morte e destruição ao ver a cena vários homens fazem o sinal da cruz.

    — Chefe não é melhor a gente voltar?
    — Cala a boca imbecil, não tem como alguém ter saído ileso disso tudo, ele deve tá em algum lugar por aqui sangrando apenas esperando a gente o encontrar, você e chico ficam aqui o resto comigo.
    — A gente não deveria estar aqui
    — Que é isso, Claudio tá com medo cara? Na to lhe reconhecendo.
    — Não é medo, Chico tô sentindo que algo ruim vai acontecer.
    — Homem para de falar besteira e presta atenção no seu trabalho, tem alguém vindo. Os dois criminosos apontam as armas para o visitante misterioso, porém relaxam ao ver que não passava de uma criança toda suja, mais um dos milhares de infelizes moradores de rua da cidade.
    — Não tem nada para ver aqui.
    — Nossa tá pegando fogo mesmo.
    — Tu e surdo cara? Eu disse para ir embora mal Claudio termina de falar ele sente uma dor avassaladora percorrendo cada centímetro de seu corpo o fazendo cair. A última coisa que ele viu foi um garoto de cabelos bagunçados sorrindo. Chico se assusta ao ver o amigo ir ao chão enquanto tremia descontroladamente e corre ajudar o companheiro, ele engatilha sua arma e mira no mendigo decidido a dar fim ao miserável, porém seus planos são interrompidos ao ser atingido por uma faca em seu olho.
    Fernando para próximo à padaria e se esconde enquanto observa o lugar, ele finalmente consegue ver a proporção da destruição que havia causado.
    — Bom, o que tamo esperando?
    — Tem dois vigias
    — E? Mete uma bala em cada um e vamo embora ou tá com medo de errar a essa distância? Fernando contêm a vontade de acertar um soco no seu improvável companheiro de fuga enquanto imaginava se ele havia dado o mesmo tipo de trabalho ao seu professor.
    — Regra n° 6 sempre escolha a ferramenta certa para o trabalho. Tem dois vigias e estou sem munição e mesmo que não fosse o caso, o som dos tiros entregaria a nossa posição.
    — Ok então, o que faremos?
    — O melhor seria nos aproximar e neutralizações na luta corpo a corpo, mas com meu braço assim não vou conseguir.
    — Posso ajudar. As palavras do garoto pegam Fernando de surpresa.
    — Olha sem querer ofender, mas você não consegue fazer muita coisa com esse corpo frágil.
    — Nem tudo é sobre força.
    — Tem razão e já sei como você pode ajudar. Fernando abre a bolsa e retira uma caixa preta e a entrega ao garoto enquanto se arma com uma pequena faca.
    — O que é isso?
    — Uma arma de choque para não se eletrocutar.
    — Ta e o'que você quer que eu faça?
    — Escute com atenção.
    Fernando se aproxima do homem que havia sido atingido pela faca e termina o serviço, então caminha até onde o que havia sido atingido pela arma de choque estava dando fim a esse também de posse das chaves eles pegam um carro e partem em direção a zona sul da cidade.

    — Você foi muito bem mais cedo.
    — Obrigado, então vai me contar o plano ou não?
    — Estamos indo encontrar a única pessoa que pode nos ajudar.
    — Um amigo?
    — Longe disso ele foi o maior adversário do meu mestre e tentou várias vezes matá-lo e claro que o mesmo se aplica ao meu mestre.
    — E por que estamos indo encontrar alguém que provavelmente vai nos matar?
    — Porque apesar de qualquer coisa que tenha acontecido no passado, ele segue o código. Fernando entendia perfeitamente as dúvidas do garoto, era uma aposta perigosa, entretanto se não tentassem essa jogada era certeza que morreriam antes do amanhecer.
    — Uma hora depois o carro para diante de uma residência simples.
    — Fica aqui se eu não voltar em 5 minutos fuja.
    — Pode deixar.

    Fernando respira fundo e caminha até a porta e toca a campainha, ele vê as luzes acendendo e barulho de passos.
    — Quem é?
    — Sou eu, senhor Alves. A porta se e Fernando está cara a cara com uma 12 de cano cerrado, na outra extremidade um senhor de cabelos brancos com olhar penetrante o encarava.
    — É muita audácia da sua parte, fedelho vir até a minha casa, eu sei o que você fez.
    — Acredite é tudo mentira, eu nunca quebraria as regras que Jeremias me ensinou. Agora quero que pense no seguinte: Como sei onde fica a sua casa mora? E por que você continua vivo?
    Você tem um ponto, agora me diga como descobriu?
    Eu não descobri Jeremias que me contou antes de morrer, ele sempre soube. O velho homem coloca a 12 de lado para a alegria de Fernando. Ele já sabia o que se passava de Alves, se Jeremias sabia onde ele morava o falecido faz tudo poderia tê-lo matado de milhares de formas diferente, o'que significava que ele estava em dívida e naquele ramo de trabalho divida era coisa sagrada e deve ser paga.
    — Bom, o que você quer?
    — Nada de mais um lugar seguro para mim e o garoto no carro. Alves olha para o carro parado e vê uma criança com cara de assustada.
    Muito bem, juro que estarão seguros enquanto estiverem sob meu teto, mande podem entrar.
    Fernando sinaliza para o garoto e juntos entram na casa de Alves, a residência por dentro era tão simples quanto seu exterior, contudo passava um sentimento de perigo como se acabasse de entrar na jaula de um tigre.
    Vão ficar aí parados com cara de bobos? Sentem-se.
    — Acho que estamos seguros por hora. Obrigado Sr Alves por nos ajudar prometo que vou retribuir o favor.
    — Tudo bem, quem é o garoto?
    — Boa pergunta. Como é o seu nome mesmo?
    — Só agora você decide perguntar meu nome? Cara fala sério prazer senhor Alves me chamo Roberta.
    — E o que Roberta? Você é uma garota?
    — Não é óbvio?
    — Claro que não estávamos fugindo por nossas vidas e vestidas assim.
    — O que tem minhas roupas?
    — Não tem nada de errado, é só que bem, você não é exatamente feminina.
    — Oh! Isso dói viu bate como homem não tenho culpa de pensar ser um.
    — Chega! Vão tomar um banho, comer e descansar, depois pensamos em como tirar vocês dessa enrascada.
    — E verdade, seu Sr Alves e das grandes, eu fiquei surpreso que o Andrade tenha colocado uma recompensa tão alta por minha cabeça.
    — Quem é Andrade?
    — Não se meta na conversa de adultos, já passou da hora de dormir.
    Não sou criança, tenho 18 anos?
    — olha aí mais um motivo para por achar que era uma criança, não aponte esse dedo para mim mocinha senão vai perdê-lo, agora vá tomar um banho enquanto ajudo o senhor Alves.
    Após comerem, Alves prepara as acomodações para Fernando e Roberta. Que finalmente podem descansar.
    — Menina tá acordada?
    — Estou senhor Alves pode entrar.
    — Só passei para ver se estava tudo bem a comida estava boa?
    — Tava uma delicia, obrigado e também quero agradecer por nos ajudar.
    — Fico feliz que tenha gostado. Alves se cala e observa Roberta era uma jovem mulher que mal começara a viver e já estava em situação tão difícil em sua opinião o mundo estava cada vez mais cruel.
    — Você está bem, parece abatida? Se foi pelas palavras daquele idiota, não leve a sério, ele não sabe de nada.
    — Estou bem, só cansada mesmo. O que Fernando falou não me incomoda, sabe a surpresa dele e sinal de que tá fazendo certo. Quando se mora nas ruas é bom não chamar atenção, porque nunca se sabe o que podem fazer comigo se descobrirem que sou uma garota.
    Desculpa perguntar a sua família, pai, mãe? Eles devem estar preocupados, eu posso avisá-los que está bem e segura.
    — Eu não sei onde estão ou se tenho parentes na cidade, lembro de entrar com alguém em um ônibus e de adormecer, quando acordei estava sozinha. Procuraram e como não encontraram ninguém fui para o orfanato, mas era um lugar ruim e fugi de lá indo parar na rua e vivo nas ruas desde então. A verdade é que sempre pensei que iria morrer sozinha até hoje. Quando o Fernando entrou como um foguete no prédio como aqueles caras atrás dele. Eu estava morrendo de medo, sabe? Vi do que ele é capaz, aí pensei "pronto ele vai fugir e me largar aqui para morrer". Mas não foi o que aconteceu, ele não me largou, na verdade, até se machucou para me proteger. É a primeira vez que alguém realmente se importa comigo. Enquanto Roberta falava, lágrimas começaram a correr por sua face até que ela não consegue mais segurar e chora abertamente. Alves se aproxima e a abraça.
    — Shiiu calma, não se preocupe, você não está mais sozinha, ninguém vai lhe fazer mal, eu e Fernando vamos lhe proteger, pode confiar, agora vá dormir.
    — Boa noite, senhor Alves.
    — Boa noite, menina, durma bem.
  • O fim do mês e a conta na mercearia [conto]

    A vida para Eliana parecia ser bastante simples. Ela acordava às 5h, chegava no centro de telemarketing unificado às 8h, saía às 11h para o almoço, que terminava meio dia. Às 17h estava liberada para ir para casa, onde chegava às 19:30. Seu trabalho não exigia muito. Atender o telefone, respostas no caderno ao lado ou na tela do computador. O mais chato eram os relatórios, pouco tempo para fazer e exigiam um número de informações infinitos. Mas ela não levava trabalho para casa, também não precisava estudar, e depois de 12 meses ainda tinha direito a férias remuneradas, além de um salário mínimo por mês. Pagar as contas e fazer tudo isso de novo seis dias por semana. Para algumas pessoas, em tempos de crise, só isso já era o suficiente para agradecer à Deus o resto da vida pela benção recebida. Para Eliana não. Para ela isso tudo não tinha nada de fácil, nem legal, nem vantajoso, nem nada. Principalmente porque a mãe dela estava devendo na mercearia do Seu João, e o dinheiro não era o suficiente para pagar a conta. “Pode levar as compras, mas pede para sua mãe vir conversar comigo amanhã à tarde.”
    O tom do “pede para sua mãe vir conversar comigo amanhã à tarde”, somado ao olhar ensandecido nas coxas de Eliana, revelaram cedo para ela como as coisas se resolviam. “O Seu João pediu para você ir amanhã a tarde conversar com ele sobre a conta.” A fala saiu normal para sua mãe enquanto ela guardava os tomates e o alface na geladeira. Não era primeira vez que ela transmitia o recado. Sua mãe suspirou e por um segundo o instante atormentador da complacência fez Eliana tremer. “Tudo bem. Amanhã vou lá falar com ele.” A resposta foi como o fim temporário de um ponto de interrogação gigante. Todo fim de mês sentia a angústia de não saber em qual dia teria que dar o fatídico recado. Por mais que desse quase todo seu dinheiro para as contas da casa, nunca era o suficiente. Desde que começou a desvendar os significados de tons e olhares pensava no que aconteceria o dia que sua mãe respondesse que não ia conversar com o Seu João no outro dia a tarde. “Você já jantou?” Assim, com uma pergunta trivial, a normalidade podia voltar a reinar. “Estava te esperando, é só esquentar o macarrão.” “Vou fazer uma salada.” E tudo estava novamente nos trilhos.
    No dia seguinte, quando chegou em casa, sua mãe estava sentada no sofá fumando um cigarro com cara de quem chorou por horas e mais horas a fio. Uma pontada atingiu o fundo do estômago de Eliana e foi ecoando por todo corpo que quase saiu do chão levado pelo arrepio. Num primeiro momento ela não sabia o que falar. O que ela sabia era exatamente do que aquilo se tratava. Era hora de falar sobre como uma mulher sem carteira assinada faz para criar uma filha. “Ele não me quer mais.” “Como assim, do que você está falando?” Eliana sempre soube, mas parecia querer escutar com todas as palavras para que aquilo virasse realidade. “O Seu João. Do que mais eu taria falando? Você não é mais criança há muito tempo.” Não, não era, e mesmo assim parecia não estar preparada para falar sobre como uma mulher sem carteira assinada faz para criar uma filha. “Eu estou com gonorreia. Ele disse que não quer mais uma puta velha doente.”
    Essa última informação deixou Eliana completamente fora de órbita. Parada na frente do sofá ela se instalou num estado de negação que se traduzia em um silêncio apático. “Tentei ligar para todo mundo que eu conheço, mas ninguém tem como ajudar a gente agora.” A visão de Eliana estava desfocada, era como se ela estivesse de alguma forma tentando sumir dali, viajar no tempo para depois de tudo aquilo. Num tom resignado e baixo, resgatando o choro de uma tarde inteira, a mãe dela falou: “Ele quer você.” Os arrepios retornaram para o estômago de uma forma tão fulminante e letal que Eliana entrelaçou os braços entre si e se retraiu. Não é que ela não conseguia falar, é que ela não sabia o que falar. Depois de uns segundos de silêncio ela perguntou. “Quanto a gente deve para ele?” “Não sei. Ele é o dono da casa também.” Era como se um grande quebra-cabeça tivesse acabado de se completar na sua mente. As viagens da escola, a formatura, o vestido para o baile e todo dinheiro que sua mãe tinha. Era o Seu João que pagava tudo desde sempre.
    Quando desceu do ônibus no outro dia depois do trabalho percebeu que Seu João a olhava com um sorriso sacana na porta da mercearia. Ele fez um sinal com a mão para que ela fosse até ele. Eliana estava notavelmente incomodada. “Sua mãe falou com você?” Ela acenou lentamente que sim com a cabeça olhando para baixo. “Então espera eu fechar, umas nove horas e vem aqui para gente conversar.” Ela só andou para casa sem conseguir olhar para cara dele ou dizer uma palavra. Quando chegou sua mãe estava trancada no quarto. Ela deitou na cama em posição fetal e ficou chorando baixinho esperando dar a hora que ele marcou. Três minutos antes das nove ela levantou e foi para a mercearia. Seu João estava na frente, com porta sanfonada já fechada pela metade. “Entre minha querida.” Eliana tremia. “Não precisa ter medo. Não vou fazer nada que você não queira.” O estômago dela queimava, e ela tremia e não conseguia conter as lágrimas. Seu João foi apalpando sua bunda até o escritório. Ele se jogou no sofá, tirou o cinto, abaixou as calças e tirou o pau duro para fora da cueca. “Vem cá meu amor, mama um pouquinho o papai, vai.” Ela virou a cara para não ter que ver aquilo e viu uma tesoura em cima da mesa. Ela pegou a tesoura e foi para cima dele. Começou a estocar a tesoura no peito dele e a gritar não compulsivamente. Quando se sentiu cansada e completamente desorientada parou de golpear aquela carcaça de carne sem vida.
  • O fim do resto [conto]

    No futebol da educação física do colégio o primeiro a ser escolhido não é só o melhor. Ele é o melhor, o mais legal, o mais bonito, com um futuro brilhante, inteligente e o orgulho do Sr. e da Sra. Oliveira. Daí para baixo vem o resto, encabeçados pelos melhores amigos dos melhores, depois um goleiro, alguém que joga mais ou menos mas é chato, e o ruim. Esse é a escória da sociedade, a maçã podre, o menino sem futuro e peso morto. Esse era eu. Deveria ter me matado quando tinha 17 anos. Naquela noite com a Sara, em que ela estava peladinha deitada na minha cama, pronta para o amor, e eu não consegui fazer nada. Aquela deveria ser a primeira e última vez que isso aconteceu. Mas ela estava bêbada, não lembrou do que tinha acontecido na noite anterior, e eu não me matei. Teria poupado minha alma, e a humanidade, de todos esses anos de merda.
    Acabei dormindo no sofá assistindo “só é feliz e saudável quem tem…”. Não sou nem feliz e nem saudável. Nem tenho nada. Quem é feliz e saudável nem sabe que eles ficam vendendo estas porcarias toscas na madrugada. Enquanto eu fervia a água para o café me imaginei numa casa grande, com um par de carrões na garagem, num condomínio, de terno, fazendo café numa daquelas máquinas que eles vendem na madrugada. A Sara descendo as escadas com as crianças, desviando do nosso Dachshund, que ia chamar Cofap. Talvez seja melhor eu voltar a dormir assistindo algum programa de igreja. Esse calor é medonho, comecei a suar antes mesmo de começar a viver. O sofá, minha roupa, meus pensamentos, esta tudo ensopado de suor.
    Caguei fumando um cigarro e fui direto para o banho. Não adianta colocar o chuveiro no modo verão, a água é quente porque o sol é quente, o tijolo da parede esta quente, o cano esta quente, o inferno esta quente. Depois fiz um café quente, tomei fumando uma ponta que queimou meu dedo, peguei o táxi, liguei o ar condicionado e saí para trabalhar.
    Desci a Radial Leste inteira até o centro sem pegar um passageiro. Subindo a Avenida Ipiranga, ali na altura da Praça da República, três estudantes fizeram sinal. “Quanto fica uma corrida até a Barra Funda?” “Pra vocês três?” “É.” “Faço vinte para cada um.” “Tá muito caro!” “É bandeira dois, tem o trânsito desse horário, no taxímetro vai dar mais.” “Tudo bem.” Como cavalheirismo virou machismo, o cara veio sentado na frente e as duas garotas foram atrás. “Vocês cobram muito caro, por isso que todo mundo só pega Uber.” “Se cobrando caro não sobra dinheiro nem para tomar café com leite, se eu cobrar menos só vai ter água quente.” “Mas também, você quer tomar café com leite todo dia?” “Você não?”
    Deixei os três na subida da rampa do terminal e fui rodar. Passando na frente do fórum da Barra Funda um engravatado me parou. Entrou no banco de trás meio atabalhoado e ofegante. “Para um pouco antes da saída daquele estacionamento ali. Pode ficar com o taxímetro ligado.” Porque não ficaria? “Nós vamos ter que seguir um carro. Você é taxista, deve ter experiência dessas coisas. Ela não pode perceber.” “Tudo bem.” Não, não tenho direito a uma vida tranquila. Um carro prata, desses grandes de madame, saiu do estacionamento. “Ali, aquele SUV, fica com ele.” O tom dele era de investigação policial que ia dar bosta.
    Fomos para as Perdizes. Subimos a rua Tucuna, desembocamos no Parque Antártica e o SUV parou numa farmácia. Uma loira de uns quarenta anos, dessas de fazer muita garota de vinte parecer uma criança, desceu e entrou na farmácia. “É a minha esposa.” “Parabéns.” Comecei a reparar que ele tremia e tinha uma cara que de idiota se transformava em psicótica com o passar do tempo. “Ela quer o divórcio. Tenho certeza que ela esta me traindo.” Parece que essa corrida é uma ameaça aos meus planos de uma vida pacata e tranquila. Me sentia perdendo a chance de dizer: “Você não quer descer aqui e refletir melhor sobre tudo isso? Procura ajuda. Não precisa pagar a viagem. Boa sorte. Até nunca mais.”
    “Olha lá!” A loira de cabelos reluzentes e pernas grossas de um metro e meio saiu da farmácia e entrou no carro. “Você conseguiu ver o que tinha na sacolinha? O que ela comprou? Foi muito rápido. Tenho certeza que não foi remédio.” Já não me preocupava mais em responder com a esperança de que isso fosse entendido como um sinal para ele parar de falar e sair logo do carro. “Continua atrás dela. Vamos, vamos.” Agora meus pensamentos já seguiam mais na direção de “puta merda, não quero ter que ir na polícia. Por favor, desce.”
    Nos embrenhamos pelo bairro até sair na Avenida Sumaré. Fomos indo sentido Pinheiros. “Se ela esta pensando que vai me deixar fácil assim ela esta delirando. Não sou otário.” Comecei a sentir pânico cada vez que via a cara dele no retrovisor. “Ela me deve, sabia? Sem mim ela não ia ser nada. Agora ela quer me deixar, e ficar com o dinheiro ainda por cima. Ela esta louca. Quem pagou a faculdade de arquitetura em Barcelona? Quem pagou as roupas, as festas, as joias?  Ela me deve.” Aumentei o rádio. “Baixa isso cara, por favor.”
    Chegamos até Pinheiros. Descemos a Cardeal Arco Verde e o SUV entrou num estacionamento depois do cemitério. “Para na esquina de baixo, para na esquina de baixo.” A mulher saiu do estacionamento, andou uns metros na calçada e entrou numa portinha com várias salinhas de profissionais liberais. “Eu sabia que era aquele filho da puta do psicólogo. Aquele papinho de terapia era só fachada. Ele queria mesmo era comer minha mulher. Vou resolver isso agora.” O cara sacou um trinta e oito, desses pequenos, de dentro da pasta. “Fica aqui esperando que quando eu voltar você me leva para casa e te pago o dobro.” Esperei ele entrar na portinha e fui embora para longe dali o mais rápido possível.
  • O gordo contra o mundo

    - O Senhor está bem?
    - Sim, e o Senhor?
    - Também. Pensou em uma resposta para minha pergunta? No porque nós dois estamos aqui?
    - Pensei, mas não sei direito por onde começo.
    - Pode ser da onde você quiser.
    - Pode ser de quando eu queria fazer alguma coisa?
    - Que coisa?
    - Eu ainda não sabia o que era, mas eu queria fazer alguma coisa que mudasse tudo.
    - Como assim mudasse tudo?
    - Que as coisas fossem melhor, sabe?
    - Queria que você falasse mais dessas coisas.
    - Então, eu queria mudar elas, e ia começar pelo preconceito contra os gordos. Você sabia que eles são a maioria da população do Brasil e representam quase um terço da população mundial?
    - Sabia, mas porque você pensou nos gordos e não nos negros, por exemplo. O racismo não te incomoda?
    - Claro, claro que o racismo me incomoda. Eu pensei sobre isso, em começar a mudar as coisas por aí, mas eu não poderia virar negro depois que eu nasci branco. Enfim, este é um grande problema, mas eu estaria preso a certas limitações. O gordo também tem uma coisa de diferente, eu pensei. Tem gordos de todos os tipo, ricos e pobres, brancos e negros, católicos e ateus, e todos eles sofrem com o mesmo preconceito, ser gordo.
    - Sim, entendo, e você sofria esse preconceito?
    - Não, eu só escutava falar, lia notícia. Mas era porque eu era magro, e eu precisava ser gordo para saber o que era isso. Por isso comecei a comer tudo que eu podia até ficar assim, gordo.
    - Então o Senhor ficou gordo para poder sofrer preconceito?
    - Isso. Me sentia muito mais livre para falar sobre todas as injustiças e julgamentos que os gordos sofrem. Os olhares nos ônibus, a discriminação na hora de conseguir um emprego, o bullyng. Para protestar mandei fazer uma camiseta escrito bem grande: “Sou gordo porque eu quero e posso.” Olha o meu tamanho, e olha que eu era maior, era um outdoor ambulante.
    - E o que aconteceu?
    - O que acontece com todo gordo. As pessoas se afastam, eu virei motivo de piada. Então eu fui procurar apoio naqueles grupos onde os gordos vão para tentar emagrecer.
    - Você queria emagrecer?
    - Não. Todo o preconceito começa com essas pessoas. Essa conversa de que o gordo é bonito por dentro, que ser gordo é uma doença, que gordo é preguiçoso, eu descobri que tudo isso é a raiz do problema. A cultura, a velha e culpada cultura. Mas voltando. Esses programas nunca funcionam, só servem para as pessoas ficarem deprimidas, se isolarem. Então eu comecei a falar com essas pessoas. Explicar que ser gordo não é feio, nem crime, nem doença, não significa nada.
    - E assim você ia mudar as coisas?
    - Isso.
    - E as coisas mudaram?
    - Não muito, mas cheguei a algumas conclusões.
    - Porque você acha isso?
    - As pessoas me olhavam com cada vez mais desprezo. Mas eu percebi que as pessoas que me olhavam assim eram as magras. Quanto mais eu engordava menos atenção me davam. Preferiam ir de pé no ônibus do que ir sentada do meu lado. Não era assim que eu ia mudar as coisas. As pessoas gordas se aproximavam, vinha conversar, conseguiam enxergar as coisas diferentes. A ideia é que as pessoas sejam iguais, mesmo se parecem diferentes.
    - E como você se sentia?
    - Eu me sentia bem em ser gordo e poder falar sobre tudo isso. O que eu sentia na pele era o preconceito dos magros. Cheguei até a ser entrevistado por uns jornais. Tenho tudo guardado. Mas aquele sentimento de mudar as coisas continuava martelando a minha cabeça. Sabe, eu nasci para mudar as coisas. Acho que sou meio que predestinado.
    - Como assim?
    - Por exemplo, a família do meu pai e da minha mãe se odiavam. O meu avô, por parte de pai, era prefeito, e meu avô, por parte de mãe, presidente da câmara de vereadores. Eles viviam brigando. Mas aí eu nasci e mudei as coisas, porque as duas famílias ficaram amigas e a câmara dos vereadores e a prefeitura começaram a trabalhar juntos e tudo melhorou na cidade.
    - E o Senhor acha que foi o Senhor o responsável por essa mudança?
    - E não?! As famílias se odiavam mesmo. Tem até história de morte. O Senhor pode ter certeza que não estou aqui por acaso. Estou aqui para mudar as coisas. Só contei essa história para o Senhor entender que sempre foi assim, de mudar as coisas.
    - Mas o Senhor estava dizendo que não ia muito bem com relação ao preconceito dos gordos, a relação com os magros era difícil.
    - Isso, mas era difícil por causa deles. Com o tempo fui percebendo que as pessoas estavam hipnotizadas pelas ideias dos magros, e foi quando desenvolvi minha teoria de que se todos fossem gordos não haveria preconceito. E, convenhamos, é bem mais fácil, e legal, os magros virarem gordos que os gordos virarem magros.
    - Mas o Senhor não acha que querer que todos os magros virem gordos é igual querer que todos os gordos virem magros?
    - Sim, mas é diferente, porque os gordos não tem preconceito contra os magros, mas os magros tem preconceito contra os gordos. Mas eu entendo as reclamações de que minha teoria foi bastante radical. Eu também entendo que mudar as coisas é difícil, leva tempo, só de estarmos falando sobre isso já foi uma pequena vitória. Falar do preconceito contra os gordos já é um começo. Já dei o primeiro passo. Mas eu nasci para fazer coisas maiores, mudar tudo.
    - Como assim?
    - Percebi que para mudar as coisas, e muitas coisas tem que ser mudadas, então tenho que dar vários primeiros passos, entende?
    - O Senhor quer dizer um passo de cada vez?
    - Não, quer dizer que eu tenho que ser tudo que gera algum tipo de preconceito. Assim eu vou poder sentir tudo, e falar sobre tudo, e mudar todas as coisas. Agora eu vou ser pobre.
    - Entendo. Falaremos sobre isso na próxima sessão, os enfermeiros irão acompanhar o Senhor até seus aposentos.
  • O homem, a mulher e Matheus [conto]

    [00:30]
    Matheus está na base da escadaria que corta o quarteirão e liga a rua de cima a rua de baixo.
    Uma mulher começa a descer a escada.
    Matheus surge no meio do caminho tentando assaltá-la a ameaçando com uma arma.
    Ele é surpreendido por um golpe pelas costas e cai desacordado.
    A mulher e um homem arrastam Matheus até o porta-malas de um carro estacionado na rua e saem dali.
    [01:00]
    Matheus acorda deitado e amarrado numa mesa como se estivesse pronto para um desmembramento.
    Uma mulher, com o nariz vermelho e o olho inchado, o encara.
    “Você matou meu filho.”
    “Não sei do que você está falando.”
    “Seu assassino…...você matou meu filho.”
    “Do que você está falando?”
    “Você não se lembra de ter atirado no meu filho ou não sabe quem era o meu filhos dentre os que você matou?”
    “Nunca matei ninguém……..quem são vocês?.........o que tá acontecendo?”
    [01:15]
    Uma toalha cobre o rosto de Matheus enquanto a mulher vira uma jarra da água, como quem enche um copo, entre seu nariz e sua boca.
    “Confessa que você matou meu filho.”
    “Eu nunca matei ninguém.”
    “Claro que sim. Você era só um vigilante garantindo a paz no escadão.”
    “O que você faz com uma arma?”
    “É de chumbinho……..nem está carregada……...é só para assustar.”
    “Assustar?...........como?............assim?”
    O homem acerta Matheus repetidamente com a coronha da arma, até que ele desmaia.
    [01:30]
    Ele acorda com o homem passando amônia no seu nariz.
    “Você matou meu filho por causa de um celular?”
    “Nunca matei ninguém…...nem sei quem é seu filho.”
    “Ele era o jovem que estava descendo a escada depois de sair do metrô e você atirou nele por causa de um celular.”
    “Porque você não pode ter um celular ninguém pode ter………..é isso?”
    “Não…..eu nunca matei ninguém.”
    “Matou sim.”
    “Você sabe o que os árabes fazem com quem é pego roubando?”
    “Por favor…..não…..”
    Empunhando um machado o homem decepou quatro dedos e quase metade do dedão de Matheus, que mais uma vez apagou.
    [01:45]
    Homem e mulher cuidam do ferimento na mão.
    “Calma, ele vai confessar.”
    “Já tem sangue para todo lado, você sabe o trabalho que vai dar para limpar isso depois?”
    “Eu limpo com removedor depois.”
    “Vamos ser mais limpos, liga o choque no saco dele.”
    “Aí você vai limpar o chão todo cagado e mijado depois?”
    “É melhor do que sangue.”
    “Precisa de uma extensão maior que essa pro cabo chegar até a mesa.”
    “Tudo bem, vou pegar uma maior lá em cima.”
    [02:00]
    Matheus acorda, assustado, com a amônia no seu nariz.
    Ele sente o curativo na sua mão esquerda e os cabos grudados no seu saco.
    “O que vocês estão fazendo?”
    “Ajudando você a falar a verdade.”
    “Quantas pessoas você já matou?”
    “Nunca matei ninguém.”
    Choque.
    “Mentira. Você matou meu filho e quantos mais por causa de um celular?”
    “Eu não sei quem era o seu filho.”
    “O que você matou com um tiro na barriga, abatido como um animal.”
    Choque.
    Choque.
    Choque.
    “Porque você matou meu filho?”
    Choque.
    Choque.
    Choque.
    “Não fui eu.”
    Choque.
    [02:15]
    A mulher pega uma tábua de madeira e começa a bater na cara e no corpo de Matheus.
    “Confessa……..você matou meu filho……..a sangue frio……”
    “Não……..nã……..não……”
    “Matou sim seu desgraçado……...ele estava vindo para casa……….ele ia para faculdade……..estava tudo bem……….e você matou ele porque ele não quis te dar o celular………”
    “Não……..nunca matei…….”
    “Covarde……..você matou meu filho……….”
    [02:30]
    Com um potinho de amônia perto do nariz o homem acorda Matheus, que abre o olho com a expressão de quem está prestes a desmaiar.
    A mulher joga um balde de água na sua cara, ele engasga e vomita sangue.
    O homem levanta a tampa da mesa em 90°.
    Matheus consegue ver duas prateleiras lotadas com potes de palmito gigantes com cabeças e um líquido amarelado dentro.
    “Por favor……..me deixem ir………..eu tenho família…….”
    “Olha só…….agora ele tem família……..é quase uma pessoa de bem…….”
    “Rouba porque não tem trabalho, né?”
    “Porque você não pensou nisso quando matou meu filho?”
    “Eu não matei seu filho……...foi ele…..”
    “Agora você lembra do meu filho……o valentão resolveu abrir o bico…..….sabe até quem matou ele……..”
    “Foi você sim…….matou, matou sim…….você matou ele de todas as formas que você poderia matar…..”
    [02:45]
    Com três machadadas o homem arrancou a cabeça de Matheus do corpo, pegou ela pelos cabelos e colocou dentro do pote.
    A mulher encheu o pote com clorofórmio e colocou na estante junto com as outras cabeças.
    O homem desprendeu o resto do corpo da mesa, enrolou numa lona, e depois usou três cordas para amarrar tudo.
    “Vou me livrar do resto deste traste enquanto você vai limpando as coisas por aqui.”
    “Você disse que ia ajudar com o sangue.”
    “Quando eu voltar eu ajudo, agora tenho que cuidar disso.”
    “Já vi esse filme, você vai parar no bar e voltar já com o dia amanhecendo.”
    “E quando eu voltar eu limpo o sangue, mas a bosta e o mijo são seus……...eu avisei do choque.”
    “E eu já disse que a gente tem que ser mais limpos……….vamos usar armas……….a gente já tem um monte.”
    “Não………..quem usa arma são estes animais.”
  • O Klan-Destino

    o klan destino

    A Tua Vida É Um Presente De Deus, A Maneira De Como Escolhes Viver É Um Presente Para Deus.
    Sem Persistência Estes Sonhos Não Passam De Uma Ilusão, Sem Assistência Esses Olhos Jamais Enxergarão A Flor Que Brilha Sobre O Sol Padrão, A Fantasia Tem Os Seus Direitos Mas Nem Todos Seguimos Os Seus Deveres, A Realidade Baseia-se Entra As Palavras Que Mancham Os Prazeres Dos Nossos Numéricos Poderes, O Limiar Invisível Das Comédias Alegres Largamente Indecentes, Agem Como Se Essa Vida Fosse Um Entrevista Para A Próxima, É Como Se Morte E As Suas Vertentes Não Passassem De Mais Uma Forma De Renascimento Em Reverso, Que Caminha Pelo Pacífico Clima De Hiroshima, Identificando As Silenciosas Fontes De Propósitos Adormecidas Nas Costas Do Universo, É Como Se O Passado Estivesse A Ser Teatrado Pelo Tempo A Espera De Ser Assistido, Recolhendo As Humanas Sensações E Depositando-as Na Fonte Onde O Abatido Coração E Mantido, De Forma A Confrontar As Nossas Próprias Frustrações, Eu Sou Um Agente Livre Que Usa A Sabedoria Para Valorizar As Destruídas Fundações, Porque Nós… Somos O Fidelíssimo Retrato Dos Privados Atos Friccionados Em Átomos Que Constituem Os Fatores De Debate Que Hoje São Vistos Como Rumores, Interliguei-me A Ligação Do Criador Manipulando-me Da Evolução Que Faz Procedência Ao Macaco, Eu… Não Sou Um Macaco, Eu.. Sou A Palnitude Das Energias Espirituais Elucidadas Pelas Estrelas Do Zodíaco, Que Rutilam A Nossa Esperança A Partir Do Paradisíaco. 

    Não Duvides Das Possibilidades Porque O Stresse Não Se Classifica Com O Limite, O Coração Esta Destinado Em Impulsionar O Essencial E Procurar Sempre Pelas Verdades Que O Sangue Transmite, Se A Arte Representa A Paixão Da Alma Eu, Sou Uma Desintegração Atómica Que Universalmente Nunca Englobará O Teu Click, Tenho A Esperança Transformada Em Desespero Devido A Traição De Quem Mentio Magoou E Largou A Minha Mão, É Perigoso Desistir Demasiado Cedo, Uma Nova Publicação Que Vem Comprovar A Ausência De Medo, Tu Não Estás Na Minha Lista De Salvação, A Tua Inteligência Só E Ativada Perante A Avaliação Dos Meus Dilemas, Fugir Do Que És, É Como Sentenciar Uma Outra Pessoa Com As Normas Dos Teus Sintomas, Mas Quando Te Encontras No Lugar Da Vitima A Boca Materializa-se Num Instrumento Para Distribuir Desculpas, Prevejo O Ressurgimento Do Drama Entre As Etapas, Das Causas Que Te Impossibilitam De Sacrificar O Êxito Imediato, Mas Atenção! O Klan É O Mundo Que Separa A Tua Vida Do Próximo Corpo Candidato, As Expectativas São Evidenciadas Através Dos Comportamentos Da Janela Do Tempo, A Depressão E A Atitude Não Andam Juntas São Como Os Momentos Microscópios Que Procurar Acertar As Suas Contas Conjuntas, Enquanto As Tradições Comuns Condenam Antes De Tentar, Continuaremos Escravizados Pelas Provocações Da Ignorância E Da Sua Saúde Suplementar, A Tamortugia Das Informações Alternativas Sobre A Criação, Não Têm Registo Na Mente De Quem Escolhe Sabotar O Sucesso Klan-Destino Afiliado A Retaliação. 
    Deus Criou-nos Para Ver Como Ele Era.

    Procuro Entre As Colecções De Experiências Desencadear-me Do Restritivo Quotidiano Que Lota A Mente Impedindo-me De Expandir O Crescimento, A Fama É Um Mundo Onde Facilmente Tornas-te Presa Dos Horrores Que Arquivam O Aumento Do Monitoramento, A Constante Atualização Das Condições Materiais De Observação Levam-te A Procurar Pelos Mais Superficiais Métodos Que Expliquem A Minha Loucura, É Como Se Eu Andasse A Resolver Os Teus Problemas Com o Silêncio Que Se Encontra Fora Do Universo, Disperso Os Gritos Desta Amargura Que Pouco A Pouco Vão Atingindo Um Inflamável Estado De Rutura, Depois Disso, Não Esperes Que Eu Vá Pintar A Minha Arte Nas Tuas Paredes Vaginas, A Sequência Dos Acontecimentos Disse-me Que Tu Mereces Ser Amada, Mas Não Por Mim… Tenta Os Pescadores Profissionais, O Segundo Degrau Apenas Será Restrito Para Os Que Se Relacionaram Com A Vingança, 1 Pessoa 2 Sentidos Separados Pela Tempestade Mas Apenas Um Caminho Te Encaminhará De Volta A Segurança. 

    É Normal Ter Medos Das Respostas… Mas Tu Não As Podes Evitar, Uma Nova Ideia É Como Um Outro Sedativo Para Os Nervos Que Leva O Inteletual A Contemplar, As Mais Vastas Leis Do Movimento Que Barram A Minha Compaixão, Sem Génio Mas As Admiráveis Qualidades Removeram As Misérias E Deram Sentido A Paixão Que Conecta-se Com O Ser Esquecido No Mundo Virtual, As Estratégias Reprodutivas Criaram Um Terreno De Debate Onde Todo Artigo Publicado É Como Uma Inseminação Artificial, É Como Se Eu Futuramente Já Tivesse Procriado A Próxima Geração, Hoje Estou De Volta Ao Passado Para Restaurar A Mente De Todo O Agente Adormecido Relembrando-te Que O Matrix Causou A Nossa Destruição, Parece Que Os Sonhos Onde Estamos A Morrer São Onde Mais Gostamos De Viver, Eu Quero Uma Vida Inteira Não Apenas Um Infinito Dia De Férias, Eu… Quero A Liberdade De Poder Cometer Os Meus Próprios Erros E Despedir Das Minhas Artérias Todas Essas Bactérias Difamatórias. 
    Olha Para O Teu Próprio Barco.

    Fui Enviado Da Eternidade De Volta A Nova Temporada, A Missão É Relembrar Que As Mulheres Formam Criadas Para Serem Honradas E Respeitadas, Não Para Serem Tituladas Como Simples Namoradas, As Pessoas Só Não Te Valorizam Porque Não Compreendem O Que Possuem, Não Transformes Os Teus Sentimentos Em Lágrimas Porque Não São Apenas Palavras Que Te Constituem, Mesmo Quanto Te Sentires Definida Pela Social Visão Reivindicalista Que Oprime O Teu Grande Potencial, Lembra-te De Que Somos Capazes De Tudo… Menos De Falhar, A Informação Genética É Uma Essencial Unidade Individualista Que Fez Da Nossa Alma Uma Ferramenta Para Amar, Primeiro Somos Fatigados Pela Injustiça E Só Depois E Que Questionamos A Lógica, Da Doença Lúcida Que Deu Nascimento Aos Acontecimentos De Toda A Decisão Trágica, Eu Sei Que A Privacidade Leva-me Ao Conhecimento Pessoal, Ainda Assim Permito-me Viver Na Prisão Produzida Pela Talento Da Minha Projeção Pessoal, Reforço O Interesse Evitando Situações E Conversas Incapazes De Alcançar A Estimulação Mental, É Como Competir Com Alguém Que Te Deveria Complementar, Sinto O Cheiro Da Esperança Mas Vejo Ela Fugir Assim Que Chega O Primeiro Bloqueio Orçamental, Acabei Por Me Tornar Naquilo Que Falo, Eu Não Te Deixo Falar Porque É Apenas Com O Klan-Destino Que Eu Falo.  

    As Evoluções Paralelas Das Consagradas Chamas Gêmias Só Têm 2 Identidades, Até Os Animais Sabem Diferenciar As Atividades Demónicas Das Sementes Da Liberdade, Somos Todos Livres Em Fazer O Que Bem Entendemos, Somos Todos Livres Ao Ponto De Escolhermos Como Havemos De Perder A Nossa Divindade, Mas... Eu Escolho Em Viver A Minha Vida Nunca Lamentado Por Quem Teve A Sua Perdida, Escolho Em Aceitar O Anjo Que Sou E Nunca Envergonhar A Dádiva Que Me Foi Concedida, A Inspiração É Espiritual A Informação É Tecnológica, A Auto-avaliação Das Nossas Ações E Obras São Examinadas Pelas Ferramentas Ecológicas, Não Pelas Receitas Ateu Que Se Seguem Por Uma Refeição Agnóstica, E Se O Céu For Apenas Mais Uma Estrada, Eu Estou Pronto Para Caminhar Até Ao Final Desta Piada Sarcástica, Atravessarei Todas As Fronteiras Até Alcançar O Plano De Existência, Sempre Acreditando Que O GPS Das Minhas Decisões E Escolhas Encaminharão A Essência, Pelas Montanhas De Impossibilidades Localizadas No Hemisfério Direito, Sentado Com Dignidade Na Encruzilhada Que Destabiliza O Ser Da Virtualidade Do Preconceito, Avistarei A Escada Dourada Que Liga O Paraíso A Glória, Porque A Morte Não Representara O Final Da Nossa Jornada, Mas Sim A Entrada Para A História Da Sabedoria. 
    Compreender O Sentido Da Nossa Função Histórica. 

    Kudza Klan 
  • O matadouro [conto]

    Minha perna estava quebrada. Tinha certeza que estava quebrada. Doía desgraçadamente como dói uma perna quebrada. Mas não arredei o pé. Dei dois tiros, tomei um comprimido de anfetamina com vodka e voltei pronto para continuar até o fim. Faltavam quatro. O filho da puta soltou a carcaça lá de cima do túnel, e a força do peso morto preso no gancho como um rolamento num cabo de aço tosco veio descendo, embalado pela gravidade, na minha direção com a mesma potência de um ônibus voando direto para a mão do recebedor num jogo de baseball. Abri o peito e pow! aquela merda explodiu entre a minha barriga e meu pescoço como um gancho de esquerda do Ali com uma joelhada do Dhalsim, me jogando para trás abraçado com aquela bolsa de carne e sangue sem vida. Respirei fundo e inclinei o peso para frente. Fui me arrastando até o caminhão e soltei toda aquela merda lá dentro. “Já são sete, velho. Mais um e perco a aposta no paralelo.” Aquele corno filho de uma puta tinha algum tipo de prazer asqueroso em ver eu me fudendo. Não era nem de longe maior que o meu de fazer aquele bastardo olhar para o lado com medo quando cruzar comigo na rua. Ter a sensação de que ele se arrepende amargamente de ter me dito qualquer coisa que não tenha sido “obrigado por não me mandar para o inferno, Senhor.”
    Minha perna estava quebrada. Tinha certeza que estava quebrada. Doía desgraçadamente como dói uma perna quebrada. Mas não arredei o pé. Dei dois tiros, tomei um comprimido de anfetamina com vodka e voltei pronto para continuar até o fim. Faltavam três. “É sério mesmo?” O cretino de cima do túnel ria, o imbecil do caminhão ria, os retardados que tinham apostado quando eu ia cair riam, só eu não ria. “Vai logo com essa merda, porra.” O gancho veio zunindo pelo cabo e conforme o som aumentava sentia como se um muro tivesse vindo violentamente na minha direção e eu não ia conseguir desviar. De repente ele me atinge no peito violentamente na forma de uma carcaça morta e sem vida. Abracei ela e bambiei para cá, depois para lá. Talvez eu tenha algo quebrado além da perna, ou já tenha cheirado cocaína e tomado anfetamina o suficiente para não sentir mais dor, mas parece meu braço virou ao contrário para segurar o monte de carne. Me curvei um pouco para trás para contrabalancear o peso e depois me lancei para frente. Embalei nas forças de Newton e consegui largar a peça no caminhão.
    Minha perna estava quebrada. Tinha certeza que estava quebrada. Doía desgraçadamente como dói uma perna quebrada. Mas não arredei o pé. Dei dois tiros, tomei um comprimido de anfetamina com vodka e voltei pronto para continuar até o fim. Faltavam dois. “Para com isso. Se você morrer vai dar o maior problema.” Minha respiração não estava controlada o suficiente para responder qualquer coisa. Minhas narinas se abriam quando eu respirava como o touro que quer matar o Pica Pau no desenho que passava de manhã na televisão. Com a cara travada e olhar vidrado fiz um sinal com a mão para o estúpido lá de cima lançar o próximo míssil. Ele veio voando pelo túnel numa rota descendente reta e seca até estourar em cima de mim. Dei uns dois passos para trás e senti algumas mãos me segurando. Minhas costas já estavam sensíveis. “Não toca em mim, droga.” Fiz um malabarismo do capeta para conseguir me manter minimamente ereto e com a carcaça sob controle. Colocando todas as minhas fichas no meu senso de direção me joguei para o lado direito e trombei com o caminhão. Me virei já botando toda massa de carne para dentro num movimento só. “Seu velho dos infernos.” “Vai se fuder.”
    Minha perna estava quebrada. Tinha certeza que estava quebrada. Doía desgraçadamente como dói uma perna quebrada. Mas não arredei o pé. Dei dois tiros, tomei um comprimido de anfetamina com vodka e voltei pronto para continuar até o fim. Faltava um. “Cala a porra dessa boca e solta isso logo seu desgraçado.” Como se fosse a própria vingança de Edmond Dante aquele trambolho morto e sem vida bateu em mim para matar. Tudo girava como um globo da morte. Meu peito não se enchia mais de ar e respirar era como buscar força num motor 1.0. Não tinha torcida, nem palmas, nem silêncio. Eram risadas. Eu queria morrer. Ali. Na frente daquele bando de estrume. Carregando aquelas carcaças podres para dentro de um caminhão refrigerado desligado. Cair, estrebuchar um vai tomar no cu e adentrar o infinito sono profundo dos justos no céu dos judeus. Estava tudo ficando embaçado e escorregadio. Não foi sangue, suor e lágrimas. Foi a cocaína que equilibrou aquele monstro de carne com o joelho e a vodka com anfetamina giraram a minha cintura e lançaram o pacote para dentro do caminhão como se fosse o Jordan arremessando um lance livre. Cesta. De chua. Caralho.
    Minha perna estava quebrada. Meu braço estava quebrado. Tinha costelas quebradas. Tudo doía desgraçadamente até eu dar dois tiros e tomar um comprimido de anfetamina com vodka. Não faltava mais nenhum. “Cadê meu dinheiro, seus animais.” Ninguém mais ria. Nem fazia piadinha escrota. Nem falava nada. Um a um eles passavam por mim e me davam cem mangos cada e depois ficavam falando baixinho qualquer porcaria num canto como crianças mimadas repreendidas pelo bedéu. Me escorei na parede, fui respirando com mais calma e tudo foi começando a ficar claro e dolorido. O mundo parecia que estava diminuindo. Eu tremia como uma máquina de lavar roupa velha que parece que vai levantar vôo. Talvez estivesse babando. Eles olhavam para mim como quem espera o moribundo dar o último suspiro para tripudiar em cima do corpo morto. Dei mais dois tiros e tomei mais um comprimido de anfetamina com vodka. “O dobro ou nada que carrego mais dez, cambada de porco.”
  • O Medo Apavorante da Mula sem Cabeça

    Disparada, intencionalmente pelos ‘GRANDES, e podres, PODERES’, por uma resposta a uma ansiedade fisiológica em massa nacional. Em uma reação social, descomunal, obtida por estímulos de crenças e imaginações interpretadas como um alerta de reações físicas e mentais, facilmente observáveis pelos corpos orgânicos em ênfase de pavor. Temendo antecipadamente ir de encontro contra o ‘mal imposto’, e pregado pela GRANDE MÍDIA, que comprometia as diversas relações sociais e familiares, na causa dos muitos enganos, até as exageradas causas de fobia e pavor que gerava desconforto, entre mínimas ansiedades a grandes sofrimentos psicológicos. Que as tensões sociais, políticas e militares voltaram à tona em meados da década de 1950.

    O medo, intencionalmente criado e imposto, nos dominou!

    Medo esse, pregado pelos monopolistas e latifundiários e seus beneficiadores como: os conservadores católicos, a burguesia industrial, e óbvio, os magnatas da grande mídia de rádioteledifusão e de comunicações impressas. Nisso, as Forças Armadas Brasileiras que já tinham grande influência e poder na política, desde a Proclamação da República e anteriormente na Guerra do Paraguai, não deixando de citar a Revolução de 1930. Se aliaram aos magnatas ativistas de direita, tentando impedir as posses de suas ameaças, representado nas pessoas de Juscelino Kubitschek e João Goulart. A grande ameaça que esses presidenciáveis representavam eram as implementações de políticas de esquerdas, como a reforma agrária e a nacionalização de empresas em vários setores econômicos da sociedade brasileira. O que ameaçava o poder do capitalismo classista no Brasil, e os seus poucos beneficiadores monopolistas, também, como a forte influência econômica dos Estados Unidos nos países da América do Sul.

    Nessa época, ‘EU’, por questões de segurança prefiro não ser identificado, trabalhava em um famoso jornal do sudeste do país como colunista e cronista. Foi quando começaram as censuras muito antes do golpe de estado de 1964. Em que fiquei pasmado ao escrever uma coluna, intitulada “Medo Nacional”, que foi rejeitada por meu editor-chefe, dizendo ele, que esses tipos de artigos agora estavam proibidos para serem publicados nos periódicos. Então, ele rasgou a minha coluna e foi depressa a sua mesa, para pegar uma pequena minuta rabiscada, como se estivesse escrita às pressas. Nela estava escrita um tema sobre a Guerra fria, e me deu severas instruções para que escrevesse um artigo em que endemonizasse os soviéticos, em pactos de conspiração com Cuba na América Latina. Tudo isso, com objetivos de polarizar a sociedade brasileira, implantando o temor do Brasil se juntar a Cuba como parte do bloco comunista. Fortalecendo as bases de direita, em que parte da classe média, junto aos latifundiários e toda grande mídia solicitavam uma “contrarrevolução” por parte das Forças Armadas para remoção de João Goulart do governo.

    Quatro anos depois dessas investidas, a mobilização foi iniciada por parte das tropas militares rebeldes pregando uma “Grande revolução”, e no dia 1 de abril de 1964 o presidente João Goulart partiu para o exílio no Uruguai. Tudo isso graças a mim, e minhas colunas fantasiosas de uma ameaça comunista no Brasil. Fui o primeiro a escrever um artigo com aquele tema, que como uma ponta acesa de um charuto cubano, caíra despreocupadamente sobre os talos de trigos e joios secos, incendiando todo o campo. Mas, como toda boa mentira tem uma base de verdade, utilizei-me da informação de alguns guerrilheiros brasileiros que foram treinados por investidores cubanos, ainda no governo de JK. O que não representava nenhuma ameaça na atualidade, pois esses grupos foram dispersos antes mesmo da posse de Jânio Quadros. Contudo, me serviu para criar uma tempestade em um copo d’água. E, por retirar a cabeça da mula, fui condecorado pelos golpistas ocultos da ‘Grande Mídia’, em que me ofereceram um cargo de editor-chefe de imprensa nas Forças Armadas.

    Ao ver a “Mula sem Cabeça” brasileira, que eu ajudei a criar, institucionalizada e empossada num golpe militar e ditadura. Com suspensão de liberdade de imprensa, de eleições, em cassações e prisões por posicionamento político. Senti aquela mesma sensação que me traumatizou quando criança, ao cair no fundo do poço no quintal da casa de papai e mamãe. Em que me esforçava violentamente para sair de lá, arranhando em desespero os meus braços e pernas nas sufocadas paredes de pedras esverdeadas de limo que me circulavam. As lembranças do sofrimento da água fria voltaram a me afligir, enquanto eu me pendurava no balde de cavilhas preso a uma corda pela alça de ferro. O pavor e os gritos agonizantes que dava, rasgando minha garganta e ecoando por todo poço, ecoaram agora em meus pensamentos. Dessa vez, papai e mamãe não estavam ali para me salvar. Dessa vez, só o medo estava ali. Apontando o dedo para mim, e gritando: Culpado!

    Depois que fui salvo do fundo do poço pelos meus pais, aprendi, por instinto de medo, com aquela dura lição, de nunca mais brincar em suas beiras. E, vendo o papel, a caneta, o lápis e a moderna máquina de datilografar Olivetti em minha frente… sobre minha mesa… em momentos de silêncio profundo. Tive uma certa sensação de pânico e pavor, como se estivesse na beira do poço de infância.

    Era óbvio que tudo aquilo era uma farsa. A ‘Mula sem Cabeça’, não nasceu sem cabeça. A cabeça fora intencionalmente cortada, e, seu corpo tenebrosamente assustador fora entalhado e animado por ‘Mestres manipuladores de Fantoches’. Gerando o engodo, caos e medo popular. A sociedade brasileira cega e manipulada, e agora oprimida, não podia racionalizar o fato acontecido. Pois, assim, como a mula, suas cabeças, também, foram cortadas. Todos os maiorais sabiam que bloco soviético estava financiando inúmeras guerrilhas na Europa Ocidental, porém, mesmo essa parte do mundo, sendo a mais afetada pelo “mal comunista”, países como o Reino Unido, a Itália e até a Alemanha não estavam sofrendo golpes militares e regimes ditatoriais durante esses tempos de Guerra Fria. ‘EU’ sabia de tudo, pois criei o mito da ‘Mula sem Cabeça’ no Brasil. Sabia quem eram os verdadeiros financiadores das forças golpistas de Castelo Branco. Sabia quem mandava e quem cumpria, e de todo apoio logístico e militar do ‘UNCLE SAM’.

    Por instinto, provocado pelo medo, não podia recusar a proposta dos militares de os representar via imprensa. Senão, é claro! Eu que seria a ‘Mula sem Cabeça’, ou melhor, o ‘Homem sem Cabeça’. Entretanto, sabia eu que perdi a minha cabeça há muito tempo, quando aceitei a escrever aquela maldita matéria inicial, que provocou toda essa discórdia. Podia ter recusado… fui contra todos os princípios e éticas do jornalismo. E, as lembranças do juramento que fiz no dia da formatura me atormentaram todos aqueles infernais dias dentro do meu escritório. Ainda me lembro como se fosse hoje, em que estava diante da imensa plateia ao receber o meu diploma, vendo meus pais orgulhosos, e lágrimas de felicidades escorrendo no rosto de minha mãe, enquanto repetia em alta voz aquelas palavras proferidas pelo meu mentor: “Juro exercer a função de jornalista, assumindo o compromisso com a verdade e a informação. Atuarei dentro dos princípios universais de justiça e democracia, garantindo principalmente o direito do cidadão à informação. Buscarei o aprimoramento das relações humanas e sociais, através da crítica e análise da sociedade, visando um futuro mais digno e mais justo para todos os cidadãos brasileiros. Assim eu Juro!”

    Agora aqui estava eu, andando e correndo com a burrinha, tendo que sustentar a mentira com mais mentiras. Me vendo com a função de tornar a ‘Mula sem Cabeça’ mais assustadora do que já era. Ficando encarregado de justificar o golpe militar e a política externa dos Estados Unidos, em transformá-lo em um herói nacional brasileiro, pela intervenção com sua suposta missão de liderar o “mundo livre” e frear a expansão do comunismo na América Latina, na retirada do presidente Jango, que fora democraticamente eleito pelos cidadãos brasileiros, e, ainda, tendo sido eleito com mais votos que o próprio presidente Juscelino Kubitschek.

    Fui amaldiçoado, como a mulher que dormiu com o padre, e condenado a me transformar na ‘Mula sem Cabeça’. E dores de cabeça me atormentavam todas as noites, vi que em vez de cabeça tinha um chama ardente de fogo no lugar. E depois da minha semana entediante de trabalho, galopava através dos campos urbanos desde o sol de quinta-feira até o sol de sexta-feira, bebendo e me embriagando pelos bares, boates e puteiros do Rio de Janeiro. E me vi transformado em um monstro, no pecado da mulher amaldiçoada, que virou a burrinha de padre.

    Assim, resisti na minha função caluniadora até o governo de Castello Branco e seus atos institucionais que ajudei a redigir. Porém, durante a repressão, restrições aos direitos políticos, liberdade de expressão, violência e tortura aos opositores do regime no governo de Costa e Silva e seu decreto AI-5, não pude mais aguentar tamanha pressão. E labaredas ardentes saíram de minha cabeça cortada. E vi que o encanto que me amaldiçoava só poderia desaparecer, se eu tivesse a coragem de arrancar da minha cabeça flamejante o freio de ferro.

    Então, em plena sexta-feira, no escuro do meu apartamento, comecei a confeccionar um aparelho constituído por uma grande armação reta, com medidas e pesos indicados pelas normas francesas, com aproximadamente 4 metros de altura, em que suspendi uma lâmina losangular que pesava cerca de 40 kg, guiada pela parte superior da armação por uma corda. A estrutura era meio arcaica e construída com pedaços de madeiras armengadas, mas, com as precisões certas, para quando a corda ser liberada cair de uma distância de 2,3 metros de altura, seccionando o freio de ferro.

    Depois de arrancar o freio de ferro que me prendia aquela maldição, surgi nos paraísos infernais como uma mulher arrependida pelos seus pecados.

    _ Extra! Extra! Famoso jornalista morre na manhã de sábado, lenta e dolorosamente ao tentar decapitar a sua cabeça em uma guilhotina artesanal feita por ele mesmo. Venham! Comprem o jornal!
  • O MENINO DO ORFANATO

    As dores guardadas no peito de um menino podem ser libertador para outros meninos, porque você passa entender que apesar de todas as dificuldades que um menino pobre possa passar, existem dores que nunca vão acabar independente de qualquer classe social. Esses relatos precisam ser contados como forma de denúncia.
           Uma família de classe média vivia em um dos melhores bairros da cidade de São Paulo, o pai era um homem exemplar para todos que o conheciam, a mãe uma mulher do lar dedicada, esse era o quadro perfeito para todos da vizinhança. O filho Heitor de  seis anos sempre bem vestido com roupas caras e com todos os brinquedos que uma criança possa desejar, porém sempre muito triste. Outras crianças tentavam brincar com ele, mas Heitor sempre muito recluso, com olhar cansado e distante.
             Certa vez uma vizinha perguntou a sua mãe se ele não tinha algum problema, pois era muito tímido.
             ─ Não querida, ele não tem nada sempre foi muito tímido não é Heitor?
             ─ Sim mamãe. Estou bem.
             Por algum motivo àquela vizinha não acreditou, o olhar do menino era um pedido de socorro, mas era algo que não era da sua conta. Como mãe apenas se preocupou com a criança, mas se ele falou que estava bem, então tudo certo.
             Uma noite ela percebeu que o menino chorava muito, ouvia de sua casa, levantou-se e foi até a janela. Não enxergou nada, voltou a deitar pensativa. No dia seguinte logo que viu a mãe do menino perguntou:
             ─ Oi Márcia tudo bom?
             ─ Olá querida, estou ótima.
             ─ Ouvi O Heitor chorar ontem de madrugada, ele está doente?
             ─ Não, não, às vezes tem pesadelo e chora alto.
             A mãe do menino falou bruscamente e foi saindo sem nem dar tchau. A vizinha ficou mais pensativa e desconfiada.
             Heitor já não aguentava mais aquilo, sabia que não era certo. A mãe sempre falava para ele ficar quieto porque o papai só fazia aquilo porque o amava. Mas não era certo. Heitor sabia que não, mesmo no seu mundo de criança onde se enxerga os adultos como poderosos, ele sabia que aquilo era covardia. Naquela noite ele chorou alto, pensou naquela senhora boa que o olhou preocupada, chorou para que alguém parasse com aquilo. Ele sabia que tinha que amar o papai e a mamãe, mas só pensava que seria maravilhoso se eles morressem. Daí tudo aquilo acabava.
            No dia seguinte Heitor não pôde ir à escola, não dava para levantar, seu corpinho miúdo estava dolorido e ele não chorava, só olhava para um brinquedinho de carrossel no chão com o palhaço a sorrir. Sentiu raiva daquele palhaço que parecia rir dele, pensou naquele momento que não gostava mais de palhaços.
            Os dias foram passando e passando e nada mais aconteceu. Heitor estava indo para a escola com sua mãe, o carro parou no farol e ele viu três meninos maiores pouca coisa que ele, os meninos vendiam bala e pediam moedas para comprar comida, Heitor sentiu inveja deles. Que bom seria só sentir fome.
            Passaram-se meses desde aquele dia, a boa vizinha mudou, Heitor ficou triste, não a via mais na rua. Estava brincando na sala, sua mãe estava no sofá com aquele pó que ele odiava, ela dizia que era pra ficar calma, mas ele sabia que quando ela cheirava aquilo ficava malvada. Logo o pai chegou nervoso, Heitor correu para seu quarto e ficou sentado na cama olhando para porta a espera, escutou as risadas e ouviu sua mãe chamar, não respondeu.
             Seu pai gritou seu nome e ele congelou, começou a suar, sabia o que viria depois. A porta abriu e sua mãe, já meio nua entrou totalmente descontrolada, era o pó, estava dominada. Pegou Heitor pelo braço e começou a arrastá-lo, ele tentou resistir e a implorar.
              ─ Por favor, mamãe não faz isso não. Não quero mamãe.
              ─ Cala sua boca menino, você é uma vergonha, se chorar vai ser pior – ela deu um tapa em seu rosto, ele caiu e começou a chorar. Seu pai ouvindo os gritos, foi até ali, no corredor entre os dois quartos, Heitor só teve tempo de levantar o rosto e ver seu pai sorrindo, quis correr, a mãe o segurou e tirou sua roupinha e ali mesmo o pai o violentou, Heitor não gritou, mas resistiu o quanto teve forças. Sua mãe assistia  a tudo e dizia com naturalidade:
            ─ Cuidado querido, não deixe marcas.
            A casa da vizinha estava à venda, Heitor sempre pensou que ela pudesse ser a pessoa que iria lhe ajudar, ficou mais triste, agora ele tinha sete anos, era maior e queria fugir daquela casa, mas sabia que se fugisse o trariam de novo e seria pior.
             No seu aniversário levou uma surra daquelas, o pai bebeu muito e fumando aquele cigarro de folhas ficou louco, chamou Heitor várias vezes, mas ele não foi. Quando seu pai o encontrou foi pior as brincadeiras, ele queimava o Heitor com a ponta do cigarro, como o Heitor não chorava ele repetia.
             ─ Menino fraco, chora mulherzinha – não vendo reação do menino ficou zangado, quando se levantou o cigarro caiu em cima de suas pernas nuas e o queimou nas coxas, ele ficou pulando como um macaco de circo, Heitor riu. Ele deu um soco na boca do menino, Heitor desmaiou.
            Quando ele acordou a mãe estava gritando com o pai, ele ficou feliz, agora ela ia defendê-lo, mas logo voltou a ficar triste ao ouvir suas palavras.
            ─ Você marcou o braço dele Carlos, agora vão ficar fazendo perguntas, quero só ver se descobrirem, temos que dar um jeito nele.
            ─ Cala boca Márcia, ninguém vai descobrir nada não, é só dizer que ele está doente, diz na escola que ele está com catapora, ninguém vai estranhar as marcas, sabe aquele amigo meu médico? – falou rindo debochado – vou pedir uns atestados pra ele.
            ─ Meu amor você é um gênio – ela abraçou o marido rindo e olhando para Heitor.
    O menino conhecia aquele olhar, ela era doente, gostava de assistir o que o pai fazia com o filho e se satisfazia com isso, ele sentiu tanto nojo daquela mulher que sem saber o porquê começou a gritar, gritar e gritar, como se sua vida dependesse disso.
           ─ Sua puta descarada, seu monstro, vou matar vocês, o diabo tem de existir pra levar vocês – repetia tudo o que o pai dizia em seu ouvido quando estava em cima dele.
            Os pais surpresos  começaram a gritar, a mãe estava em vias de matá-lo, pegou uma cinta e passou em seu pescoço, o menino esperneava, o pai disse que ia lhe dar uma lição. Com a mãe o segurando e o sufocando o pai baixou suas calças e foi pra cima do menino, mas Heitor se recusou a ceder, mordeu sua mãe e correu para cozinha, pegou a faca. Seu pai veio com ódio e gritou para mulher.
            ─ Márcia, te avisei que esse menino é filho do demônio, vem ver o que o filho da puta quer fazer – e riu de Heitor, aquele sorriso bestial, na hora o menino lembrou do brinquedinho, aquele palhaço. E sentiu muita raiva. Correu como um louco pra cima do pai.
            Mas que defesa uma criança de sete anos tem contra dois adultos monstros? Conseguiram pegar o menino, bateram muito nele e como se não bastasse a surra o pai o estuprou várias vezes naquele dia. Heitor chegou à conclusão que odiava aniversários.
    Seu corpinho nu ficou ali na cozinha, o deixaram como um monte de lixo, suas perninhas roxas e o sangue a escorrer no chão. Ele desejou a morte e pensou que ela tinha chegado a lhe buscar quando a campainha tocou.
            Como um anjo a vizinha que havia mudado, apareceu. Com ela trazia o conselho tutelar, pois a professora da sua filha, que também era professora do Heitor, havia lhe contado sobre o texto que leu do menino, no texto ele queria matar os pais, também comentou que estava preocupada porque Heitor vinha faltando muito à escola. A vizinha, junto com a professora denunciou os pais do menino, pedindo para que o conselho tutelar fosse até aquela casa, comentou que quando morava perto ouvia o menino chorar algumas noites e que ali havia sinais de abusos.
            Heitor foi levado, seus pais presos em flagrante por abuso de menor, tráfico e contrabando. Ninguém quis acolher o menino, os familiares diziam que Heitor seria uma criança problemática, então ele foi deixado em um orfanato. 
            Hoje Heitor tem dezessete anos, falta pouco pra ser maior de idade, é um menino estudioso e quer prestar vestibular na área de ciências sociais. Numa entrevista de trabalho quando a atendente perguntou seu endereço e ele passou do orfanato, ela o olhou e disse:
             ─ Nossa que triste viver em um orfanato – ele a olhou sorrindo e respondeu feliz.
            ─ Não é triste não moça, foi o dia mais feliz da minha vida.
  • O Poder Sagrado da Arruda e do Limoeiro

    Como de costume no final de tarde estava a trabalhar no seu pequeno jardim, em especial, no canteiro de ervas que fizera ao fundo do quintal de sua casa, próximo de uma cerca feita de pequenas varas de bambu-chinês. Esse pequenino canteiro horizontal, confeccionado por pequenas pedras de calcários brancos enfileiradas, era um dos pontos mágicos e sagrados do seu jardinzinho orgânico. Ali encontravam-se plantadas, uma após outra, plantas de poder e de cura, medicina para o espírito, para a alma (psique ou coração) e para o corpo, como: Capim Santo (Elionurus candidus), Erva Luíza (Aloysia citrodora), Erva Cidreira ou Melissa (Melissa officinalis), Sálvia (Salvia officinalis), Babosa (Aloe Vera), Manjerona (Origanum majorana) e duas espécies de lavanda ou alfazema (Lavandula angustifólia e Lavandula pedunculata).

    Progressivamente em fila, encabeçando o canteiro, plantara um Pezinho de Limão: "Mas, o que tem de haver um Pé de Limão junto a plantas medicinais e de poder?". Na verdade, o Pé de Limão fora colocado no lugar, em que se encontrava um saudável e farto arbusto de Ruta-de-Cheiro-Forte (Ruta graveolens), que misteriosamente em uma demanda espiritual de ordem negativa vinda externamente contra ele, o arbusto em caridade protetora, secou gradualmente, aos poucos, em sacro-sacrifício e morreu. Daí lhe veio, como sempre, a doce recordação de infância nas sábias palavras de sua (já desencarnada) bisavó, que era uma poderosa parteira, rezadeira e curandeira. Muito bem conhecida em toda a região onde morava, entre outras muitas fantásticas manifestações, por realizar mais de três mil partos entre humanos e animais, inclusive o dele próprio, sem deixar desfalecer um ser vivo sequer, não importando a gravidade de risco. Praticamente todos os meninos e meninas da localidade nasceram pelas benditas mãos dela, que devido a tal prodigiosa façanha ficará conhecida por todos como Dona Darluz, apesar de ser mais uma Maria das muitas da região.

    A respeito da Ruta-de-Cheiro-Forte, sua bisa lhe dizia advertindo: "Essa planta tenho para mim como a mais sagrada de todas as plantas, pois pertence unicamente ao Sagrado Positivo, e, por isso deve ser sempre colocada na entrada da casa. Assim, nada de negativo pode entrar em seu ambiente."

    Devido a tal nostálgica recordação, ele resolveu colocar umas mudinhas da Ruta-de-Cheiro-Forte na entrada da sua casa, e plantar um Pé de Limão no lugar do arbusto que morrera no fundo-de-casa.

    Sim! Mas, por qual razão plantar o Pé de Limão no fundo da casa?

    Sua bisavó, D. Darluz, lhe falara que o Limoeiro (Citrus limon) era a contrapartida da Ruta-de-Cheiro-Forte. Dizia ela que toda planta tem sua contraparte no mundo, sendo: positivo e negativo, feminino e masculino, inercia e movimento, absorção e repulsão... se completando em ciclos espiralados. Além, é claro, que toda contrapartida deve pertencer a mesma família. No caso o Limoeiro e a Ruta-de-Cheiro-Forte pertencem à família das Rutáceas. Por isso, falara também, que o Limoeiro sempre deve ser plantado no fundo da casa, dessa forma poderia fechar um ciclo para proteção do ambiente, em que o Limoeiro atraia para ele tudo que era de negativo que a Ruta-de-Cheiro-Forte deixara passar se a carga negativa fosse maior que a capacidade da planta barrar, completando assim a proteção energética ambiental.

    Sempre em que se entregava a dar manutenção no seu canteirinho de ervas de poder, seus pensamentos, imbuídos em muito sentimentos, voltavam-se com todo carinho para a figura mística da sua bisa, a popular D. Darluz. Seu nome verdadeiro era Maria da Piedade, nascida em Portugal na antiga Vila da Arruda e hoje atual município Arruda dos Vinhos, no distrito de Lisboa (Região de Lisboa e Vale do Tejo), comunidade intermunicipal do Oeste Cim. Dona Darluz dizia ser descendente das famosas curandeiras de sua região, pejoradas pelos ignorantes como Bruxas da Arruda, que por assim, eram descendentes das feiticeiras e sacerdotisas dos antigos Povos Celtas, mas que devido às misturas culturais e étnicas, e de conquistas de outros muitos povos, com seus costumes e crenças, ainda as mulheres de sua família mística mantinham as antigas tradições, com meras e significantes influencias dessas novas culturas que foram ao longo do tempo agregadas (Não citando as muitas mazelas que sofrera sua mística linhagem durante os massacres do Tribunal do Santo Ofício, com a perseguição religiosa da inquisição portuguesa, promovida pelo clero católico dominicano). Imigrara junto a sua família para o nordeste do Brasil nos meados da primeira década do século XX (entre 1910 a 1920), aos vinte anos, devido à crise que se alastrava na Europa, como resultado da conclusão da Primeira Guerra Mundial e da gripe espanhola. Sendo assim, se fixara no Novo Mundo absorvendo também as muitas sabedorias místicas que ali existiam, tanto dos povos ameríndios como dos afrodescendentes.

    D. Darluz tinha uma presença magneticamente atraente, sendo uma linda senhora alta, bonita, nem muito magra e nem muito gorda e de olhar penetrante. Morava em uma casa que fora construída metade de pedras e outra metade de madeira a arquitetura arcaica mediterrânea, toda ela erguida com o suor de seus pais, seus irmãos e dela mesma. Em uma chácara com cerca de quarenta hectares. Lá havia um grande pomar com diversas árvores frutíferas, uma horta orgânica, campos de flores e ervas medicinais e muitos animais domésticos, como: cabras e bodes, cavalos e éguas, mulas e burros, jumentos (Equus asinus), galos e galinhas de diversas raças, perus, pombos, papagaios, pavões, patos, gansos, porcos, vacas e bois, além dos muitos animais silvestres da região. E, sobrevivia da produção de derivados de leite (queijos, doces e coalhadas de cabra e vaca) e de suas práticas místicas de reza e cura, que, na verdade, esses serviços sagrados eram lhes recompensados por doações. Pois, ela sempre dizia que a verdadeira proteção e cura não podia ser comprada, apenas recompensadas pelas atribuições dos beneficentes, o que estes julgavam de coração contribuírem de acordo com que achavam ser merecido, e, nunca cobrava nada e nem recebia doações, um centavo sequer, pelos partos que realizava, afirmando ser (esse Sagrado Ofício) a sua verdadeira missão na terra: DAR A LUZ!

    Como toda boa portuguesa milagreira em terras brasileiras tinha lá suas queixas, que eram verdadeiramente mínimas e de questões culturais. Sentia falta dos vinhedos e dos bons vinhos, das oliveiras e de suas azeitonas e azeites, dos muitos temperos e ervas naturais do mediterrâneo, das ovelhas e suas deliciosas coalhadas e queijos, do frio nas pradarias e do aconchego da lareira... suas queixas se baseavam em suas saudades de uma terra mágica e romântica... de Portugal, sua gente pacata e sua península ibérica. O Azeite, produto das oliveiras, lhe era sagrado, pois, era através dele que realizava os seus milagres adivinhatórios de cura e proteção. Em que pingava gotas de azeite no consulente, depois com o dedo retornava a pingar o azeite em um prato raso com água, lendo as gotas de óleo que davam forma as verdes letras mágicas no líquido, em seu processo místico divinatório. Também, conseguir o azeite de oliva puro era muito difícil no nordeste do Brasil, porquanto, encomendava algumas sacas de azeitonas do Uruguai com os caminhoneiros que lá iam e regressavam, e, manufaturava pessoalmente o seu azeite. Sendo que nessas consultas com esse processo, independente das doações, cobrava uma certa quantia fixa, apenas, para cobrir os custos do material importado e sua trabalhosa produção.

    Em sua casa havia um pequeno quarto dedicado ao sagrado, com uma grande mesa servindo de oratório em que se realiza os muitos milagres, curas e adivinhações. Essa mesa era repleta de objetos místicos, tigelas com água e azeite, vasos com vinhos e porções de cura, pedras semipreciosas, ossos, pequenos frutos e animais dessecados, potes de unguentos e cataplasmas, pedaços de madeiras e galhos secos, velas, óleos essenciais, cristais, pequenos jarros de barro e porcelana, potes com incensos, incensários, instrumentos, lápis e cadernetas de receitas místicas, papeis para anotações, muitas flores e frutas para oferendas, sal grosso, sal amargo, mel, livros e todo teto era coberto com ervas medicinais, arrancadas pelas suas raízes, penduradas de cabeça para baixo. Criando um ambiente de um universo místico com os seus muitos odores e fragrâncias mágicas.

    Voltando-se para o aqui e o agora, no seu pequeno jardim, com as tantas recordações da sua bisa, lágrimas rolaram de seus olhos ao relembrar de sua infância, em que vivera da idade de dois anos até os seis na companhia dessa mística senhora portuguesa na sua maravilhosa chácara (Chácara Celeste), que depois veio a falecer tranquilamente dormindo com a idade de 97 anos. Recordou-se das tantas histórias que sua bisavó lhe contara de sua terra natal, como: O Caso da Perua, em que um lavrador descobriu que sua vizinha era uma feiticeira que se transformava em um peru; as lendas de lobisomens e maldições; O Demônio do Pinhal do Álamo, em que um curioso rapaz achou um cabrito branco que, na verdade, era um demônio; A lenda de Nossa Senhora da Ajuda; A Lenda de São Tiago dos Velhos; A Lenda do Ouro e da Peste; A Lenda da Parteira e dos Mouros; A Lenda da Cobra e das Cinzas; A Lenda de D. Manuel I e da Peste; A lenda dos Fornos das Antas; A Lenda dos Quarenta Queimados... E, a lenda que ele mais gostava 'A Cova do Gigante', que é um monte do município Arruda dos Vinhos que dizem ser a sepultura de um enorme gigante ciclope Grou que assolava a região.

    Sendo que, além de todas essas maravilhosas lembranças, sempre lhe vinha à mente as muitas sabedorias mágicas que aprendera com sua bisa, em especial ao que diz sobre as ervas de poder. Sua bisavó lhe ensinou que as ervas tinham poder de curar e empoderar o Espírito, a Alma (psique ou coração) e o Corpo, sendo que não toda erva era para cura de ambos. Existia um grupo de ervas para cada seguimento dessa tríade, porém, apenas um pequeno grupo de ervas, conhecida por ela nas terras sul-americanas, serviam para cura e, dar poder aos três veículos. Dentre elas estavam o Tabaco (Nicotiana tabacum), a Acácia ou Jurema Preta (Mimosa hostilis), a Chacrona (Psychotria viridis) e o Mariri (Banisteriopsis caapi), a Diamba (Cannabis sativa), a Folha de Louro (Laurus nobilis) e por último, a que segundo ela era a mais sagrada de todas, a Ruta-de-Cheiro-Forte, muito usada em sua tradição milenar Celta, em que ela utilizava para todos os seus processos milagrosos.

    E foi por causa da influência de sua bisavó entre as parteiras, rezadeiras, mães-de-santo e curandeiras do Novo Mundo, que a 'Erva de Cheiro' como era conhecida no Brasil, trazida das terras mediterrâneas pelos portugueses no período colonial, passou a se chamar nessas terras tropicais do Novo Mundo de: Arruda, em reverência a vila natal de Maria da Piedade, a D. Darluz.
  • o que é ser escritor?

    Todo mundo pode ser escritor, mas na hora certa, é preciso sofrer um pouco antes, é preciso se apaixonar, perder amores, beber até vomitar e continuar bebendo, mas sobretudo é preciso morrer um pouco, só um pouco e ter a paciência para superar suas barreiras. 
             Era muito comum também, me pegar escrevendo algum poema em folhas ou até mesmo em guardanapos nas mesas de bares, alguns eu deixava ali mesmo, outros eu dava de presente para algumas gurias, mas raramente eu os levava para casa, assim talvez o fardo fosse menor, compartilhar a escrita é uma forma de não enlouquecer de fato, ainda sim tem um jeito certo para se compartilhar. As horas passavam, as pessoas começavam a deixar as mesas, apenas sobravam os bêbados de verdade e as garotas de programa que respiravam entre um cliente e outro. Há tantos países que ainda não visitei, mas sinto que não dá mais tempo meu fim está a chegar depressa, a morte se torna vizinha e logo logo baterá em minha porta para pedir um pouco de açúcar. Era tão patético, mas precisava dançar mais um pouco. 
  • o que me resta

    só me havia isso.. algumas cervejas, uma cachaça... a saudade daquela buceta... uma alma de sonhador, minha fala francesa... nessa geração que não escrevem mais que 140 caracteres, onde andará o amor? por onde vieres?
  • O surto

    A cabeça de Aguinaldo estava martelando. Ele precisava ter uma ideia. Uma daquelas que muda o destino da humanidade. Precisava de dinheiro. Precisava de muito dinheiro rápido. O mundo estava ruindo ao seu redor, como o final de Scarface quando o Al Pacino enfia a cara numa montanha de pó. E ele não conseguia pensar em nada. Só sabia que precisava de dinheiro. Muito dinheiro. Para uma casa, para um carro, a escola das crianças, a viagem para a Disney. Tinha que ser em dólar. Aguinaldo andava de lá para cá, com a mão direita apoiando a arma na cabeça, mas a ideia não vinha. Ele precisava de dinheiro grosso, não uns trocados. Tinham que ser maletas transbordando dólares igual nos desenhos animados da televisão. E tinha que ser rápido. A ideia tinha que ser algo monstruoso. Daquelas que resolvem todos os problemas e não dão muito trabalho para colocar em prática. Daquelas que rendem milhões para quem fica sentado no sofá cercado de mulheres, tomando champagne e fumando legítimos charutos cubanos. Daquelas que só precisam de uma vez e depois nunca mais.
    Era uma mega-sena. Aguinaldo precisava acertar na mega-sena e ficar com todo o dinheiro. Para comprar roupas, colares e tênis. Tinha que ser muito dinheiro. Quilos e mais quilos de ouro. Em tantas barras que ele ia usar uma como peso de porta e outra como peso de papel. As pessoas iam chegar, e perguntar sobre o dinheiro, sobre a ideia. Ele não tinha nada, só um trinta e oito com cinco balas e as mãos tremendo. Sentava, levantava. Fumava um cigarro depois do outro, e nada. Tudo que ele conseguia pensar era que precisava de dinheiro. Precisava de dinheiro rápido. Em dólar, ouro, latinha, papelão. Em qualquer coisa que valesse muito. Tinha que ser muita coisa de qualquer coisa. Depois ele ia viajar, conhecer o mundo num iate cheio de garotas peladas e sexo e droga e rock’n roll. A ideia tinha que ser tão boa que ia sair no jornal. Todo mundo ia saber e todo mundo ia querer ter tido. Uma ideia simples e perfeita. Que nunca ninguém tinha tido. E ele pensava e pensava e pensava. Tinha que pagar o condomínio, o motorista, o jardineiro, a empregada. Era de muito dinheiro que ele precisava.
    Mas ele precisava da ideia. Aguinaldo sabia que ela estava lá, na sua cabeça, mas ela não saia. Tinha alguma coisa prendendo. Estava quente, vermelha, suando. A ideia queria explodir, mas não explodia. E ele batia, batia e batia com a mão e a arma na cabeça. Se agachava e chorava como uma criança perdida no supermercado. Precisava de dinheiro. Precisava de uma fortuna com filhos bonitos e inteligentes. Precisava de um cofre como o do Tio Patinhas para nadar em dinheiro com a sua escolhida. Não podia demorar. Não podia ser pouco. Não podia dar trabalho. E ele deitou, respirou fundo, sentiu o coração disparar. Precisava de dinheiro. Para fazer uma festa como a do Conde de Montecristo e mostrar para o mundo que ele tinha conseguido. Para comprar balões, castelos e pessoas. O prazo já tinha acabado. Ele precisava de muito dinheiro agora. Não dava mais para esperar. A ideia tinha que vir. As pessoas iam querer saber, iam querer ver, iam querer tocar. Ele precisava de caminhões com dinheiro até o talo.
    Sem a ideia não ia ter dinheiro, sem o dinheiro não ia ter a festa, a vida fácil, nem helicóptero. Ele precisava de tanto dinheiro quanto o Cidadão Kane, para poder perder um milhão por mês por toda a vida. Ele precisava de mais dinheiro que os mafiosos dos filmes do Scorsese. E tinha que ser rápido, como no cinema. Como no Lobo de Wall Street, de uma cena para outra. Porque ele não tinha tempo. E Aguinaldo chorava e arrancava os cabelos para tentar fazer a ideia sair. Para poder fazer caridade por aqueles que ele achasse que merecessem. Para ser feliz como Jack Nicholson pulando de paraquedas com o Morgan Freeman em Antes de Partir. Ele olhava para os lados, escutava os passarinhos cantando, esperava que a ideia surgisse como música para os seus ouvidos. Que finalmente todas as respostas saíram de sua boca quase como que por encanto. Não ia chegar por telefone, ou pela internet. Ia ser tão natural que ele nem ia perceber. Quando visse já estaria com todo dinheiro. Tomando marguerita numa praia do caribe. Ele precisava sair daquela casa, sentir o vento na cara trazer a ideia a tona como uma semente germina para ser uma grande árvore.
    Aguinaldo marchava pela rua perseguindo a ideia. A cabeça continuava martelando sem parar. Vermelha, quente, suando. Precisava de dinheiro. De muito dinheiro. Ele via pessoas com muito dinheiro passando nos seus carros, saindo dos prédios. E ele precisava de mais dinheiro do que elas. E tinha que ser rápido. Como se soubesse exatamente o que fazer ele entrou num banco atirando primeiro nos dois seguranças, e depois no caixa que não entendeu o que ele disse. Ele precisava de muito dinheiro, rápido, dentro de uma sacola. Para comprar um apartamento duplex na beira praia, um sítio para descansar. Ele precisava do dinheiro de todos os caixas, e do cofre, e do bolso das pessoas que estavam lá. Precisava de todo dinheiro do mundo rápido, sem perguntas, sem gaguejar. É só colocar tudo dentro do saco. Rápido. Mais, mais, mais. As moedas também. Tudo. Todo o dinheiro. A polícia chegou. Cercou todo o lugar com carros e sirenes. Começou a falar alto num megafone. Aguinaldo tinha que fugir dali. Com todo o dinheiro num saco. Rápido. Ele abriu a porta e sai correndo. Ele deu seu último tiro na direção do megafone que mandava ele parar, e a polícia fuzilou Aguinaldo antes dele chegar até a esquina.
  • O Tempo

    Todos os dias eu vejo...a minha vida inteira:
    Começo e meio de tudo o que em mim é vida.
    Os ciclos das eras são um dia meu em suas horas,
    A herança milenar das estrelas é rotação
    De cada um dos meus instantes.
    E todos os dias eu vejo...a minha vida inteira,
    Em suas idades arquitetadas sem tempo:
    Na noite vem aurora a se apresentar,
    Na aurora vem dia quente já a se movimentar,
    Na tarde de se aquietar,
    A noite de nascer e morrer a chamar.

    Num exercício de existir, todos os dias eu vejo...
    A minha existência sendo e precedendo a arte de ser,
    Sendo em seu existir a arte de seguir e de prever,
    Girando em sua própria roda o recomeçar de suas luzes,
    Seus próprios dias.

    Todos os dias eu vejo...a minha vida inteira.
    Os meus dias não são dias,
    Não começam, não terminam,
    São recomeço de vida inteira em mim,
    Os ciclos das minhas estrelas quietas me chamam
    Em seu estampado em céu da minha aurora
    A descansar nas horas do meu dia alto,
    Porque no meu ver de vida inteira,
    É na noite minha em seus e meus
    Esconder e prometer de luzes
    Que todas as manhãs estão em seu exercício de existir,
    Eu, sendo e precedendo o meu existir,
    No que tempo se retoma em tempo,
    Eu em morrer e nascer de minhas próprias luzes,
    Em minha roda, eu, na minha vida inteira,
    Os meus próprios dias.
  • Os freelancers [conto]

    O cara usava um terno azul, com gravata vermelha, mocassins e gel no cabelo, como se fosse o próprio Vincent Vega. As diferenças iam do Chevette velho que ele dirigia até o fato que ele não estava num estúdio em Los Angeles, além de que o que tocava no rádio era Thiaguinho e não Kool & the Gang. O Chevy encostou no meio-fio e um tipo carcamano do Scorcese, italiano, gordo e vestindo camisa florida, entrou e sentou no banco do passageiro. “Que merda é essa que você está usando, cara?” “Chama estilo meu caro, estilo.” Os dois riram e o estiloso saiu sem fazer alarde pelo trânsito.
    “Quem te disse que não existe PM nos Estados Unidos?” “Não é isso, lá não existe Polícia Militar.” “Como assim? Claro que tem polícia na rua. Eu vejo isso em vários programas na TV.” “Tem, mas eles são civis, não militares.” “E qual a diferença? É tudo polícia, porra.” “Tem muita diferença. No treinamento, na forma de agir, na burocracia do trabalho, em tudo.” “Esse treco que você tá vestindo tá afetando sua cabeça. O que você está falando não faz sentido.” “Cala a boca. Sabia que nos lugares mais seguros do mundo a polícia não usa armas?” “Então vamos para lá.”
    Como se tivessem pulado da Tela Quente direto para a Sessão da Tarde, Debi & Lóide pararam numa lanchonete. Pediram café com pão na chapa e sentaram do lado do vidro que dava para o estacionamento. Enquanto comiam um tipo Clint Eastwood meio assustado sentou na mesma mesa. A garçonete se aproximou e o sujeito teve que fazer o pedido três vezes até que ela entendesse que ele queria só um café.
    “São vinte mil.” “Certo.” “Você paga metade agora e metade depois.” “Tudo bem. E o que vocês vão fazer?” “Exatamente o que você está pagando.” “Mas como?” “Se quiser pode estar lá para ver.” “Não, não, não quero. Tudo bem.” “O dinheiro está aí com você?” “Está aqui.” “Não, não tira ele aqui. Vai até o banheiro e coloca o envelope atrás do lixo da segunda cabine.” “Quando vai ser?” “Eu te procuro para pegar a outra metade quando estiver tudo feito.”
    A versão cagão do Clint levantou e foi até o banheiro, depois pagou a conta da mesa no balcão e saiu sem olhar para trás. Uns dois minutos depois o carcamano do Scorcese foi até o banheiro, deu uma cagada, pegou o envelope e voltou pro Chevette que emanava todo o romantismo de Zezé de Camargo e Luciano. Já no centro da cidade eles acolheram um Stallone depois de várias feijoadas e um monte de invernos.
    “Então já está tudo certo?” “Mais ou menos. São dois caras, tá aqui as fotos deles.” “Isso escrito aqui atrás é o endereço da casa deles? Vão ser duas ações?” “Não. É o endereço de onde eles almoçam todo dia.” “E como vai ser? A gente espera eles saírem e resolve?” “Não sei, o que vocês acham aí na frente?” “Me parece mais fácil esperar eles saírem. No restaurante pode ter câmera.” “Bem pensado.” “A gente pode fazer assim: vai eu e ele e fica esperando os dois saírem do restaurante. Você fica com o carro parado na esquina detrás. Se eles tentarem correr você pega eles.” “Vamos fazer assim então.”
    Com tudo arranjado os solucionadores de problemas seguiram até a frente do local escolhido para o abate para armar a tocaia. Como que numa cena perfeitamente dirigida por Kubrick, todos tiraram seus revólveres da cintura e checaram as balas. Depois colocaram na cintura de novo e olharam para a porta do restaurante como se estivessem pensando de que forma tudo aconteceria, onde poderia haver falhas e como reagir a qualquer tipo de eventualidade.
    “Olha só, primeiro o jornal diz que comer alface evita o câncer, no outro dia você vai no supermercado e não tem mais alface, porque todo mundo quer comer alface e evitar o câncer.” “Tá, e daí?” “Do que esse cara está falando?” “E daí que podem ter envenenado o alface, pode ser uma jogada para subir o preço, entende?” “Cara, você está ficando louco.” “Estou escutando um monte de baboseiras desde de o café. Acho que este penteado afetou o cérebro dele.” “São vocês que são dois alienado.” “Calem a boca. Olhem lá, acho que são os caras ali, porra.”
    Carcamano do Scorsese e Vincent Vega saíram cada um por um lado, atravessaram a rua em câmera lenta como uma tomada de Cães de Aluguel. Sacaram suas armas e começaram a atirar sem economizar na direção dos dois homens que estavam na frente do restaurante. Uns correram, outros se jogaram no chão, mas nenhum tiro errou os alvos. Toda área de strike virou uma peneira. Quando se colocaram de pé na frente dos corpos caídos nenhum dos dois tinha mais balas. Eles pegaram um punhado de munição do bolso e encheram os tambores. Depois deram um tiro de misericórdia na cabeça de cada um. Tudo a tempo do Stallone feijoada manobrar o Chevy e se posicionar exatamente onde a ação acontecia, já com a porta aberta. Vincent e Carcamano pularam para dentro e saíram pela rua sem chamar a atenção.
  • Os homens do esgoto [conto]

    A tampa do bueiro na frente da portaria do Edifício Vida Mansa se abriu e quatro homens vestidos com macacões emergiram, carregando uma mochila grande cada, e saíram andando, em fila, na direção do norte. Seu Antenor achou aquilo muito estranho. Eles não tinham identificação nenhuma, não falaram uma só palavra, mal se olhavam e pareciam não se importar em nada com o que acontecia à sua volta. Tudo neles parecia mecanizado. Alí, da portaria do Edifício Vida Mansa, ele ficou esperando atentamente alguma coisa acontecer ou explodir. Na primeira meia hora nada mudou, até que a tampa se abriu novamente e mais quatro homens, vestidos com macacões, emergiram do bueiro carregando uma mochila grande cada e saíram andando, em fila, na direção do norte. Eles não tinham identificação nenhuma, não falaram uma só palavra, mal se olhavam e pareciam não se importar em nada com o que acontecia à sua volta. Agora Seu Antenor não tinha mais dúvidas: alguma coisa errada estava acontecendo ali.
    Seguindo o protocolo de segurança da portaria ele chamou o chefe dos vígias pelo rádio. “Eles estavam usando macacões iguais operário? Marrom, azul, cinza, sei lá.” “Azul, mas não tinha identificação nenhuma. Faziam tudo muito sincronizado.” “E saíram do bueiro e foram embora? Não mexeram em nada, não entraram em nenhum carro, nada?” “Isso. Eles estavam carregando umas mochilas grandes também. Pareciam pesadas.” “A câmera externa pegou isso?” “Pegou sim, tá tudo gravado.” “Então não se preocupe, deve ser a Companhia de Água consertando alguma coisa.” A explicação não satisfez Seu Antenor, que se sentiu até um pouco ofendido com o desdém do chefe, mas a hierarquia colocou ele de volta no seu posto sem nenhuma das ações que ele esperava.
    Pouco tempo depois a tampa se abriu de novo, e mais quatro homens vestidos com macacões emergiram, carregando uma mochila grande cada, e saíram andando, em fila, na direção do norte. Seu Antenor não se conteve, saiu correndo de seu posto e foi até a grade. “Ei. Vocês aí do bueiro. Ei. O que esta acontecendo?” Nenhum deles fez alguma menção às chamadas do porteiro. Aquilo fez o sangue dele ferver. Seu Antenor tinha certeza que alguma coisa muito errada estava ocorrendo ali, debaixo do seu nariz, naquele instante.
    Desta vez, além de alertar o segurança pelo rádio, ele interfonou para a síndica. “Dona Selma, em menos de duas horas uma dúzia de homens saiu daquele bueiro carregando mochilas pesadas. Tem alguma coisa estranha acontecendo aqui. Escuta o que eu estou falando.” “O que o Senhor acha Seu Camilo?” “Olha Dona Selma, do jeito que o Seu Antenor me falou pareceu que eram funcionário da Companhia de Água. Se a Senhora quiser podemos ver as imagens, o Seu Antenor disse que a câmera pegou.”
    Enquanto chefe da segurança e sindica debatiam se alguma coisa estava acontecendo, ou não, a tampa do bueiro se abriu, e mais quatro homens vestidos com macacões emergiram, carregando uma mochila grande cada, e saíram andando, em fila, na direção do norte. “Olhem lá. Olhem lá. De novo. Do mesmo jeito. Mais quatro.” “Seu Camilo, por favor, veja o que está acontecendo.” O chefe da segurança saiu pelo portão andando rápido para tentar interceptar os homens, mas voltou alegando que não conseguiu alcançá-los e quando virou o quarteirão não viu mais eles. “Tudo bem Seu Camilo. Também me pareceu que eram da Companhia de Água. Seu Antenor, vamos deixar eles trabalharem em paz.”
    O porteiro voltou para sua casinha com a pulga atrás da orelha. Podia ser qualquer coisa, de terroristas extremistas até extraterrestres que habitam os esgotos, mas não eram da Companhia de Água. Quando mais uma vez a tampa do bueiro se abriu, e mais quatro homens vestidos com macacões emergiram, carregando uma mochila grande cada, e saíram andando, em fila, na direção do norte, ele resolveu tomar uma atitude drástica. Ligou para a polícia. Depois de um tempo uma viatura parou na frente do Edifício Vida Mansa. Seu Antenor não se conteve. “Fui eu que liguei para vocês. Olha só, o que está acontecendo é que tem uns caras estranhos saindo do bueiro de tempo em tempo e...” “Nós já averiguamos Senhor. Estamos aqui para sua segurança. Por favor, volte ao trabalho.”
    Seu Antenor voltou para seu posto ansioso para ver a tampa do bueiro se abrir. E foi batata, mais quatro homens vestidos com macacões emergiram, carregando uma mochila grande cada, e saíram andando, em fila, na direção do norte. Pareciam nem terem notado a presença da polícia alí. Os policiais também não tiveram nenhuma reação a tampa do bueiro se abrindo e os homens surgindo. Agitando os braços e visivelmente alterado Seu Antenor saiu da portaria esbravejando o porquê de ninguém fazer nada sobre o que estava acontecendo. Haviam homens saindo de dentro do bueiro de tempos em tempos, carregando mochilas, vindo não se sabe da onde e indo para não se tem ideia. Aquilo era muito suspeito. Seu Antenor exigia saber o que estava acontecendo.
    Sob a ameaça de ser preso por desacato e desobediência ele voltou para dentro e continuou sentado na portaria vendo homens vestidos com macacões emergirem do bueiro, carregando uma mochila grande cada, e saírem andando, em fila, na direção do norte. Sempre em quatro, de tempos em tempos, durante o dia inteiro.
  • PAIXÃO NA BOSSA

    Recusa ser feliz
    Por que tanto olha o mar?
    Faz sentido para amantes
    Para um, é só um mar.

    O passado tão presente
    Dele é tão refém
    Condenaras-te à tristeza
    Não só tu, a mim também.

    Carga fatigosa
    Descompassa o coração
    Joga a todos para longe
    Desesperado empurrão.

    Quando estiveres pronta
    No presente arriscar
    Larga ao chão todo esse peso
    E vem pra cama me amar.
  • Paradoxo da vida perdida

    Meu Deus, ainda estou vivo. Não sei como. Mais uma vez o improvável venceu. De algum jeito cheguei na casa da Paula e ela me deixou ficar no quarto de hóspedes. Preferia o quarto dela, mas não foi desta vez. Também não sei o que aconteceu ontem a noite. Nem quero saber. Checo tudo para ter certeza de que estou sozinho. Tem um aviso na geladeira pedindo para eu não fumar dentro de casa, mas teoricamente não vi. Fiz um café forte para viagem e sai antes que ela pudesse chegar para me repreender. “Você esta fodendo com a sua vida”, ela ia dizer. “Se eu quisesse foder com a minha vida arrumava um emprego e casava com você”, eu ia responder. Acho que talvez tenha escutado aquilo e respondido isso ontem a noite. Explicaria o quarto de hóspede.

    O bar do Jaime estava começando a receber o grande público. Ele fingiu que não me conhecia, e a filha dele não conseguia esconder que odiava me amar. “Meu pai não quer mais você aqui.” “Faz tempo que ele não me quer aqui, mas ele gosta da onça pintada?” “Filho da puta.” Com um copo de Campari e uma garrafa de cerveja a vida até parece que vale a pena. Peguei o Mutarelli no bolso do casaco e comecei a ler como se estivesse numa biblioteca. Era como se o mundo tivesse parado de girar e o tilintar dos copos era uma barreira contra qualquer coisa que tentasse entrar no meu mundo. Mas não foi o suficiente para parar a Sandy. “Ninguém vem aqui para ler!” “Eu não sou ninguém.” “Tenho um negócio aqui para você que vai te tirar dessa pasmeira.” “Não, obrigado.” “Tem certeza?” Ela tirou um vidro de remédio com um conta gostas e um líquido preto e viscoso. “O que é essa merda?” “Lubrificante social.” Ela pingou duas gotas no meu Campari, que ficou meio marrom, e deu uma golada. Olhei para ela sorrindo como o pote de ouro no fim do arco-íris e terminei com o que tinha sobrado.

    Então o mundo mudou, apesar de continuar o mesmo.

    Comecei a afundar num chão aveludado e a brasa no meu estômago virou um lança chamas. A filha do Jaime trouxe mais bebida e disse alguma coisa sobre eu ser um babaca. A Sandy estava dançando loucamente com alguém que parecia ser eu. E era. Aquela coisa preta tinha feito um outro Neb nascer e aprender a dançar, o antigo continuava sentado na mesa lendo Mutarelli em alguma outra dimensão. Ou poderia estar realizando os desejos sexuais da filha do Jaime. Numa terceira hipótese casado e com filhos na casa da Bárbara. Em algum plano ainda não descoberto pelos departamentos de física eu ganhava o Nobel de literatura e falava no discurso: “só sei ler e escrever, então tive que me virar com isso.”

    Talvez, para garantir a paz entre todos no bar, seria indicado que só fossem aceitos adeptos do Lubrificante Social. Assim não haveria nenhum problema em sair caindo em cima da mesa dos outros. Em algum momento, sem razão aparente, concluí que era o Super Homem e tentei alçar voo para o infinito e além, mas fui interrompido pela ausência do supernatural e a implacável gravidade. De repente minha cara estava ao alcance de um coturno cheio de um pé com muita vontade de me chutar. Primeiro tentei me teletransportar para a nave do Capitão Spock. Quando percebi que não ia funcionar já e tinham ido boa parte dos dentes que me restavam. Me esforcei tanto para me fingir de morto que cheguei a acreditar que era verdade. O Jaime apareceu com um taco de beisebol e muitos gritos. Apaguei com a certeza de que acordaria muito melhor.
  • Passagem da Vida

    Faça valer a pena, pois mumca se sabe quando estará bebada jogada na sarjeta.
    Entre essa fumaça do cigarro que consumo, tento não pensar num passado...
    Pois agora sou jovem e ainda existe beleza feminina, mas me pergunto..
    Até quando meninas?
  • Peso morto em CNTP [conto]

    Nos últimos tempos tem crescido um sentimento em mim de querer ser abandonado. Acordar e descobrir que todo mundo que um dia me conheceu teve este detalhe menor da vida deletado da memória. Meu número desapareceria do celular das pessoas, meu e-mail nunca mais receberia mensagens e os crianças da rua iriam ter medo da casa abandonada na esquina. Ninguém ia me cumprimentar quando me visse andando até o supermercado, se desse sorte as pessoas até desviariam de mim quando eu passasse. Mas por mais que eu reze, fuja, ou não tome banho, não adianta, o mundo insiste em me atormentar.
    O Bar do Jaime não é o lugar perfeito para se esconder, mas diminui consideravelmente as chances de se ser encontrado. É sujo, as bebidas são de segunda e os frequentadores não são exatamente o que uma mãe quer para um filho quando ele crescer. Vai ver que é por causa disso que o Jaime tem essa cara de filho da puta. “Não tem nada para você aqui.” A moral é assim, fascista. “E para o mico?” Ele coloca uma cerveja no balcão. “O mico também quer alguma coisa quente e uns amendoins.” Brotam uma porção de amendoim e uma dose de conhaque na minha frente.
    Peguei o jornal e vi alguma coisa sobre empregos não serem mais empregos. O que existe agora é prestação de serviço. Me senti no limbo: se não existem mais empregos também não existem mais desempregados. Não sou nada. Como não tenho CNPJ não sou nem números. As pessoas vão continuar por aí me enchendo o saco, mas o governo parece ter ouvido minhas preces. Mas é sempre bom estar preparado, a qualquer momento ele pode enviar um mensageiro do inferno na minha porta dizendo que devo alguma coisa por, sei lá, ainda estar vivo e não ter um CNPJ.
    Se minha leitura tivesse chegado até o horóscopo teria descoberto que hoje não era um bom dia para encontrar pessoas com quem se tem relações sexuais ocasionais (e que meu número da sorte é 13, o que não muda nada porque hoje é 31. Talvez as coisas tendam a acontecer ao contrário para mim). Enfim, não cheguei até o horóscopo, mas a filha do Jaime chegou de não sei onde e passou por mim como um banqueiro que cruza com um mendigo. Me recolho na minha insignificância e continuo comendo amendoim por unidade para o Jaime não me considerar um peso morto e me chutar do bar.
    A dose de conhaque começa a fazer algum efeito e aos poucos vou me sentindo melhor. É como se um pavio de esperança se acendesse dentro de mim. Deus envia um sinal através de uma arara selvagem que pula do meu bolso e se transforma em uma cerveja e outro conhaque. A filha do Jaime passa por mim no vai e vem do salão e não consigo arrancar dela nem um olhar de desprezo. O Jaime me dá muito mais que isso. “Na minha época vermes como você sumiam na noite e ninguém dava falta.” “Acho que estou vivendo na época certa então.”
    Um grupo de três ou quatro engravatados entraram no bar rindo alto e tomando posse do ambiente e tudo que estava nele. “Põe uma garrafa de pinga aqui.” O velho rabugento redirecionou todo seu ódio para eles com uma cara de “onde você pensa que está, imbecil?” “Não vim aqui fazer amigo. Coloca uma garrafa de pinga aqui pra gente, porra.” O mais parrudinho sacou um Pantanal de onças do bolso e bateu com uma só no balcão. Tinha a impressão de que todo mundo estava parado olhando aquela cena, menos eu que procurava a bunda da filha do Jaime no meio de tudo aquilo. Ele, por sua vez, fez menção de recorrer ao sossega malandro que fica permanentemente ao alcance da mão atrás do balcão. “Não é o suficiente?” O parrudinho libertou mais duas onças. Revelando sua condição de refém do capitalismo cruel o Jaime pegou a pior garrafa de pinga que tinha, abaixou a cabeça, e colocou no balcão junto com os copos sem abrir a boca ou desviar o olhar.
    Continuava procurando sem sucesso a bunda da filha dele enquanto os bêbados de butique vivendo uma noite muito louca espantavam qualquer pessoa de bem que quisesse entrar lá. Quando já estava quase convencido de que ela tinha ido embora com alguém que tinha um CNPJ escutei um grito agudo e achei a bunda dela na mão de um dos donos do mundo. Como que por instinto quebrei uma garrafa em um deles que estava mais perto ao mesmo tempo em que o sossega malandro do Jaime acertou o dono da mão no meio da testa. A filha dele veio correndo e chorando na minha direção como uma criança que se perdeu da mãe no supermercado. Abri os braços para segurar ela e alguém me acertou com uma cadeirada por trás. O Jaime pulou o balcão deu um mata leão com cada braço arrastando dois dos trolhas para fora do bar. Depois voltou e jogou os outros dois sacos de estercos na calçada e fechou a porta. Enquanto ele varria os destroços da confusão a filha dele fazia curativos nas minhas costas.

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