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literatura marginal

  • Harmonia Social

    social
    Imaginação Fértil, Fertiliza Novos Terrenos.

    Vê Se Aprendes A Sorrir, Porque Todas Estás Tragédias Apenas Dão Forma A Tua Vida, Já Começo A Ficar Farto Dos Teus Pacíficos Protestos Que Procuram Executar A Tua Própria Vida, Primeiro Remenda Os Erros Do Passado E Só Depois Vir Te Desculpar, #Ordens!NãoSãoRestrições. Segundo, Diz-me Que Estás Apaixonada E Só Depois Podes Voltar A Amar, Ouve-me… Ordens Não São Restrições, Da Um Passo Para Traz E Permite-me Reaprender Tudo O Que A Alma Esqueceu, Se Estamos Num Percurso Consciente Onde É Que Está O #BotãoDePânico, Que O Divino Nunca Nos Favoreceu, A Lei De Que Nada De Esquece Esqueçeu-se Da Importância Dos Centímetros Que Integram A Nossa Distância,Revivo A Constante Dor Que Faz Vigência A Quem Sempre Teve Razão É Como Tirar Seculares Lutos De Carência, Escalar As Montanhas Da Lua E Mergulhar Na Moral Da Tua Dimensão, Eu Dou Por Mim A Elaborar Todo O Futuro Movimento Porque O Passado É Apenas Mais Um Pretexto Que Contem A Respiração Dos Meus Constrangimentos, Quebrei A Barreira Das Obsessões Do Anti-Socialismo De Forma A Simplificar A Passagem Da Virtualidade Dos Teus Fragmentos, Aceitei A Situação E Continuei A Andar, O Que Tu Perdeste Não Era Teu, Eu Agora Só Quero É Voar, Sou Um Desesperado Que Não Tem Amigos Nem Reputação, Sou Um Ego Artificial Da Primeira Era Que Vibra Ao Sabor Das Contradições, Sou Um #IndivídoIsolado Que Não Aceita A Solidariedade Da Solidão, Porque As Minhas Vontades Têm As Tuas Razões, Se O Verdadeira Trabalho É O Mental, Eu Mentalizo O Espírito Da Justiça Neste Processo De Iluminação.

    Nós… Somos Os Filhos Que Nunca Alcançaram O Pódio, Nós…. Somos A #VerdadeiraTragédia Que Foi Generada No Intervalo De Um Episódio De Ódio, A Realidade Transmuta-se Entre As Alternativas, Das Muitas Falhadas Conexões, Palavras Radioativas Graduam Vidas Pregando Os Obstáculo Das Minhas #IntelectuaisRelações, Enquanto A Tua Vontade Técnica Sorri Sobre O Meu Sereno Desalento, Eu Danço A Volta Da Verdade, Estimulando Os Teus Nojentos Blocos De Arrependimentos, Muitas Das Nossas Histórias Tem 6 Rumos, Vejamos Eu Não Te Ouço, Tu Não Me Ouves, Não Nos Ouvindo Divergimos, Uma Das Doutrinas Que Suprime O Nosso Ser Aflora Enquanto Desperdiçamos A Nossa Juventude Em Torno Dos Imortais, Vulnerabilidades São Fortalecidas Pela Falta De Educação, Quando O ADN Não Identifica Os Dentes Sorriem Os Restos Mortais, Não Forces A Minha Jornada Ou Ainda Podes Vir A Embolsar Um Passeio De Volta Ao Ventre Da Criação, Eu Acho Que Ninguém Foi Criado Para Ser Meio Amado, A Rota Que Tracei Para Conquistar O Teu Espírito Revelou-me Um Sabor Humano Meio Deformado, Vazio E Sem Significado, Ela Pode Parecer Louca Mas Tem #ACabeçaNoLugar, É Uma Mulher Livre Superior E Elegante, O Seu Rosto Tem Aquela Expressão Que Me Faz Querer Falar Cantar E Amar, Enquanto O Sorriso Desperta Em Mim Um Duplo Movimento Para O Interior, É Como Injectar Alucinantes Momentos Contemporâneos De Aspecto Gratificante.

    Ela É Conhecida Por Muitos Nomes E Descrições. 

    Acordar-mos Para Ir Trabalhar O Suficiente Para Não Sermos Despedidos, Enquanto Isso Recebemos O Suficiente Para Fazer A Digestão De Todos Os Sonhos Já Perdidos, Deixa-me Lavar O Passado Da Minha Cara Porque O #MensagueiroDaMiséria Tem As Consciências Humanas Hipnotizadas, As Gotas Do Nosso Divino Remédio Redefinem-se Pelo Fracasso Das Experiências Que Temporalmente Em Nós São Acorrentadas, Ainda Assim Todos Estes Contratempos Nunca Irão Definir A Pedagogia Do Meu Efeito, A Inesgotável Actividade Construtiva Da #OrdemPensante É Um Império Clandestino E Eu Sou O Autoconceito De Todo O Sujeito, Os Meus Sonhos São Sementes Que Desenvolvem A Tua Realidade, Eu Falhei 100% Das Vezes Que Procurei Abraçar-te Com Os Resultados Dos Meus Pensamentos, O Sublime Gesto Da Tua Ausência Ameaça A Variedade Do Élan Da Minha Biodiversidade, Eu Não Quero Ouvir-te Através Dos #ImponderáveisElementos Que Dão Rumo Aos Sentimentos Que Desaguam No Atlântico, Porque Tu És Uma Providência Sem Proprietários, És A Deidade Que Eu Venero E Crítico, O Klan Sãos Os Cavalheiros Templários, Que Abrigam O Tesouro Que Fez De Mim Um Ser Romântico.

    Caminharmos Com O Sangue De Deus No Coração, Mas Muitas Das Vezes Caminhamos Com O Mesmo Sangue Nas Nossas Mãos, A Morte É Apenas Mais Uma Governamental Instituição Que Renova #ANossaIdentidade, Já A Vida É A Prescrição Que Vem Mascarar O Problema Do Infinito Loop Da Universal Ilegalidade, O Meu Psiquiatra Diz Que Eu Já Não Tenho Esperança, Posso Parecer Um Homem Forte Mas No Fundo Reside Uma #InocenteCriança, Sou Lento No Deciframento Do Comportamento De Certas Expressões, Porque A Harmonia Vive Embarricada Em Sociais Centros De Avaliações, O Ritmo Da Esfera Faz A Colheita De Toda A Ideia Significante, Que Mutuamente Se Implicam Mas Nunca Se Explicam, Visto Que A Humanidade Só Será Livre Reconhecendo O Plano Do Nosso #DivinoFrabricante, Sempre Que Perco O Meu Tempo Com Alguem Que Não Me Valoriza, Eu Envio Uma Conta, Ganho Conhecimento Com O Tempo De Sonho, Mas Quando Acordo O Pesadelo Só Desaponta, Toda A Essência Espiritual Oferece Uma Dimensão De Desenvolvimento, Não Existe Confusão! Sensações São Sinais De Realidades Não #SinaisDeSofrimento,  Se Tu És A Âncora Que Liga O Meu Céu A Tua Unidade Polar, Vê Se Das Uma Oportunidade Ao Depoimento Do Meu Amadurecimento, Eu Dou Por Mim A Desmontar As Tuas Molduras De Ideias Sem Cansaço, O Dificil Só É Negativo Quando Me Sinto Longe Do Teu Abraço.

    Não Confundas O Medo Com Respeito, Porque Eu Não Respeito O Medo.

    Perdi O Livro De Instruções De Como Viver Em Sociedade, A Inevitável Tendência De Generalizar Cortou O Fluxo Dos Procedimentos Entre Eu Tu E As Dualidades Das Minhas Identidades, Porque Que Continuamente Tropeço Sobre Pessoas Que Aparentam Ter Respostas Para Tudo Mesmo Vivendo No #CentroDaTragédia, É Como Acompanhar O Movimento De Transição Que Faz O Suporte A Toda Tentativa De Acção Que Consome A Luz Dos Teus Olhos E Canaliza-lhe Com Instrumentos De Mais Um Dia De Comédia, O Poder Da Minha Intensidade Apavora E Remove As Vidas Das Tuas Fraquezas Como Se Fossem Abortos, Os Meus Objectivos #DormemDespertos Porque Sabem Que Eu Estou A Caminho, Já Os Elementos Espertos Recebem Caixões Pelo Insofismável Esforço Do Mal-Falar, Se Certos Julgamentos Dão Forma Ao Teu Propósito Tenta Não Propositadamente Espreitar Pela Janela Do Vizinho, E Por Favor Ajuda-me O Mundo Analisar, Porque Que Uns Treinam Para Eliminar Vidas Enquanto Outros São #TreinadosParaSalvar, As Fazes Continuas Das Nossas Atitudes Gravam E Armazenam Informações, No centro Dos Nossos Corações Existe Uma Ressonância Magnética Que Vive Desejosa Para Se Exprimir, Mas Preferimos Fumar E Beber Com A Intenção De Abafar A Ascensão E Progressão Deste Amor Que Nos Poderá #RegastarOuDestruir.

    Kedson- Relaxa Nada Está Perdido, Eu Ainda Estou Aqui! 2018 É Um Lugar Primitivo, Desde Que Entrei Em Sincronia Com A #SinfoniaDoUniverso, Comecei A Deixar Pensamentos A Beira Da Estrada Enquanto Procurava Pelas Tuas Previsões Nas Estrelas, Não Te Preocupes Assim Que Alcançar Uma Eu Trago-lhe De Volta, Sou Mais Um Dos Seres Modernos Que Procura Pela Sua Alma, Um Corpo Perfeito Com Um Aroma Encantador, Esses Sonhos Têm Preços Que São Pagos Em Sangue, A Vida Fortalece Os Fracos Tirando-lhes O Chão, Se O Teu Coração For Equivalente A Positividade Que Neglet A #ConvergênciaDoCaos, Poderás Seguir O Ciclo De Evolução Com Mais Conhecimento, As Sequências Das Linhas De Tempo Fixaram-me Num Lugar Onde Não Preciso De Nada, A Liderança Nem Sempre Caminha Na Linha Da Frente, Estou Pronto Para Abraçar A Pressão Porque A Ambição Que Tenho Para Proteger Os Meus Aliados, É Uma Legítima Fonte De Energia Que Brilha Sobre As Sombras Do #MundoPararelo, Um Pouco Atordoado Mas Continuo Na Luta, Porque Este É O Momento De Manipular O Pensamento Hospedeiro Que Reprograma A Diferença, #KudzaFazADiferença.

    Alguns De Nós Vive Melhor Num Mundo Perdido.

    Kudza
  • Homem (a)mar

    No coração que era calmaria
    Você chegou
    Trazendo teus ventos
    Soprando-os na minha nuca à velas
    O amar se fez tormenta
    Os corpos colocaram-se a desaguar

    Me perdi

    Tudo virou mar
    Mas, assim como tempestade
    Você passou
    Me deixando na imensidão do oceano
    Apenas com memórias mareadas
    Olhos marejados
    Levando minha bússola e meu norte
    Foi procurar em outro cais porto para se ancorar

    Resisti

    Peguei meu bote e minha coragem
    Icei as velas do meu coração
    Me pus a remar
    Sem saber para onde
    Apenas com a certeza
    Amar não é preciso.
  • INTERROGAÇÃO

    Quem eu sou?
    O que me espera?
    A quem vou esperar?
    Posso continuar a perguntar?
    Isso é vida?
    A morte onde está?
    Será que demora?
    Será que nunca virá?
    O passado é uma navalha,
    Que retalha o presente,
    Cicatrizando o futuro.
    A certeza de estar errado,
    É minha única certeza
    Que estou certo!
  • Intervenção Especializada

    post proximo
    O “Nosso” Mundo Não É Adepto De Uma Democracia Estável Para As Pessoas Que Se #EncontramIluminadas, Por Isso Escolhemos Baixar A Cabeça De Forma A Não Sermos Agrupados Como Estranhos, Esquisitos E Diferentes! O Acompanhamento Em Rede Prepara O Nosso Ajustamento A Normalidade. Kudza- Herdamos As #ObrigatóriasPegadas Expondo O Meu Ser Nesta Web De Contradições, O Tic Tac Destabiliza-me Do Tempo Ainda Assim Felicito A Vida Pela Oportunidade, No Meio De Todas Estas Inversões De Regras Discursa Mais Quem As Menos Ordenha, As Manifestações Pessoais Nunca Levantarão Voo Da Nossa Mente Pois Publicamente Somos O #CentroDoDrama Regenerado Pela Sociedade, Os Anos Retornam O Numero Da Nossa Senha, Kedson- Já O Vilão Nunca Esconde A Sua Identidade.
    Procuro Pela Coragem Natural Que Só Existe Dentro Dos Nossos Corações, Apaguei-me De Tudo O Que Tenho Pois As #MercadoriasMateriais Para Próxima Etapa Não Foram Classificadas, Kedson- Comecei A Meditar Para A Liberdade Da Paz, Sophia Concedeu-me Um Outro Objectivo Além Da Sobrevivência, Como É Que Os Carros Derreteram Mas As Árvores Permaneceram Intactas? Kudza- Parece Que Esses Fogos Apenas Focam A Vida Humana!!! Acho Que É Mais Fácil Ficar Sentado No Sofá Enquanto Testemunho As #ReligiõesPoliticas Contradizem-se Umas As Outras, Assinalando A Comparência De 1 2 3 Ou 100 Deuses, Kudza- A Ciência Mais Parece Uma Mulher Divorciada Que Dedicou-se A Prostituição, A Máscara Civilizada Das Pessoas Ignorantes E Descendentes De Poucas Instruções, São Como Espectadores Nas Suas Próprias Vidas, A Balança Da Justiça Saiu Lesionada No Braço De Ferro Entre A Superioridade Humana E O Conhecimento Humano, Kedson- Hmmm Acho Que Essa Nossa Realidade Esta A Ficar #SemJogadas.
    Máquinas De Adaptação
    The Marriage Of Heaven And Earth Gave Birth To The Worldwide Legends Of The Gods Who Descended From The Heights, “The Night Is Dark And Full Of Terrors” We Are Nothing But Lifeless Walkers Whit No #CivilRights, Same Aspects Will Put You On A Distressed State Of Mind, Cause Every Powerful Tool Has An Obscure Side, The Plane Of Existence That They Work On You Didn´t Even Know It Existed Open-Eyed To All Unsuspected Victim We Only Walk Into Offices To Sit On Coffins Cause #WeAllEnlisted, The System Strives To Keep Us Confused Disorganized And Distracted Operating In A Very Long-Range Type Of Friendship Like Chirrut And Baze’s If You Never Saw They Never Acted, Kudza You Are Nothing But A Relic From A Deleted Timeline, Merge All The Souls From The Tianjin Explosion Into A #PhilosophicalStone And Use It Has A Universal Vaccine Guideline.
    Viver Em Solidão É O Mesmo Que Encontrar A Morte Na Vida, Kedson- Mobiliza As Tuas #TeoriasDeIluminação Pois A Luz No Final Do Túnel Não É A Única Saída, A Nossa Gloriosa Terra Plana Gerou Uma Criação Orgânica Sem Substância Pensante, Esse Globo Já Ninguém Manja Perdeu-se Da Moda Kudza- A Curvatura Já Não É Assim Tão Elegante, Eu Não Pretendo Ocultar A Herança Histórica Do Pensamento Na Minha Linha Do Tempo, Todos Esses Contextos Em Vários Aspetos Se Representam, A Minha Moldagem Listra O Pretexto Com Um Swag Transcendental Onde Poucos Se Importam E Os Que Importam São Agregados Na #SensívelSagacidade Do Meu Espiritual, Talvez Ela Fosse A Autenticidade Das Minhas Intimas Inclinações, Em Contrapartida Sophia Exige A Minha Penitência Antes Da Graça Ser Auferida, Pecados São Aglomerados De Contribuições Traçados Com Uma Complexidade De Tarefas Ignoradas Por Indevidos Entre Reais Discussões, O Teu Conhecimento É Uma Densa E Infinita Dimensão De Mistérios Que Fazem-te Perceber E Existir, Instantes Depois Da fotografia Revelar O Teu Raciocino Deslocado Do Sentido, O Regulamento Interno Faz-se Ouvir, Com O #Eu-Miserável Descriminado A Pobreza A Razão Humana É Fraca E A Minha Saúde Mental Cospe No Prato Que A Riqueza Nunca Me Traz A Mesa, Kudza- Não Te Esqueças Dos Conteúdos Religiosos Dos Sentimentos, Ninguém Se Compara Com Ninguém, A Interpretação Moral Rejuvenesce Ecologicamente A Clareza Dos Meus Julgamentos Pois A Falta De Saldo Não Me Trará Novos Argumentos.
    When Life Begins Flashing Before My Eyes, I Start Taking Back My Future Thoughts And Project Them Forward Into The Past, When People Don’t Exercise On What Is Right, The Outcome It’s Our Boring And #TerrifyingReality, Trading Blood For Oil Won’t Last, Kudza- So We Try To Control All Lives Forms Giving Them A Fake Impossi-Ball Virtuality, The Same Way Most People Connect With Their Televisions Kudza Is Just Hoping To Connect Whit Something That Predates Religions, Who Needs God If Agents Placed #BehindTheScenes Can Explain Us Everything, Tell Me If We Could Crack The Time, Would We All Stop Dying??Kedson- Hmmm, That´s Some Scary Thing, It’s Like Being A Public Success But Deep Inside A #PrivateFailure The Cavalry Ain’t Coming Don´t Even Bother About Crying, Kudza Is Just Trying Travel Outside Of This Coma We Are All In, The Enemy Always Wins But We Still Need To Fight Him.
    We All Die More Times Than We Can Count
    As Estruturas Interrogativas Vieram Espalhar-se Por Uma Localização Idealista, Caracterizadas Pelo Particular E Ordenadas Pelo Universal, Deixaram O Raciocínio Ajustar-se Ao Modelo Da Matéria Do Nexo Materialista, Todas Essas Religiões São Símbolos De Uma Expressão Interna Da Teoria, Os Movimentos E Influências Das Analogias De Determinadas Culturas Converteram-se Numa Abstração De Puros Atos Cognitivos, Religiosas Oblações São Obras Mágicas Onde Crianças Servem Como Passes “Pedofilamente” Permissivos, O Processo Constitutivo Da Realidade É Uma Interpretação Do Meu Ponto De Vista, Eu Só Quero Escapar Dos Ciclos Viciosos Que Garantem A Minha Permanência Nos Vales Das Lágrimas Ainda Assim O Teu Amor É A Minha Única Viva Conquista, “Lendo Entre As Linhas” Essa É Uma Menção Elogiosa De Todas As Tuas Referências Refundidas, Ouve… Os Nossos Caminhos Cruzam Descruzam E Mais Uma Outra Vez Voltaram A Encruzar-se, Esta Vida É Um Laço Universal Se Ainda Não Estas Perto É Porque Estou A Ajustar As Medidas, Possivelmente Essas Palavras Não Terão Significado, Mas No Interior Da Sua Compreensão, Ela Guarda O Legado Que Foi Incutido Nesta Magistral Alma Humana, Kudza- Liga-te A Minha Visão, Se O Dia É O Nosso Intervalo De Recreio, O Tempo É Um Sistema Activista Particularmente Livre Encontrei A Inconsequência Singular Que Sempre Almejei Mas Nunca A Obtive, A Minha Fraca Barreira Do Medo E Governada Pelas Expectativas Frustrantes Das Pulsações Cardíacas, Esses Órgãos São Uma Gráfica Infestação Que Esperam Contornar As Dificuldades Entre As Validações Fringicas.
    Nesta Dimensão Poucos Reconhecem A Minha Existência
    KudzaKlan


  • Inúmeros ‘eus’ demônios de mim

    Sentia-se cansado depois de um longo dia de trabalho árduo. Tirou seus sapatos, e como de praxe, pendurou-os pelos cadarços em um extintor de incêndio que se encontrava na entrada do acampamento. Fazia isso, todos os dias, para que os insetos nocivos como aranhas e escorpiões não fossem ter seus calçados como abrigo. Tirou suas roupas de trabalho, que mais pareciam como fardas de soldado, e pendurou-as em um barbante que estava esticado ao lado das paredes feitas de pequenas varas de bambu. E ainda vestido com finas roupas brancas de baixo, pegara sua pequena sacola de pano, que comprara em viagem ao Peru, onde cotinha seus produtos de higiene e limpeza corporal, e fora rapidamente para o banheiro tomar uma ducha quente.

    — Finalmente! — exclamara para si mesmo se enxugando e caminhado para vestir sua confortável roupa de dormir.

    Pegou alguns pedaços de madeira, colocou em uma pequena lareira de ferro que se assentava ao solo, colocou um bule com água para esquentar na plataforma da lareira, e fora se sentar numa pequena poltrona ao lado, se aquecendo do imenso frio do inverno desértico israelense. E, com uma xícara de chá de Erva Luíza envolvida pelas suas mãos, para, também, aquecê-las, levava a boca dando pequenos goles em curtos espaços de tempo, onde seus pensamentos rodopiavam com os estalares da madeira incendiada, fazendo uma pequena retrospectiva do seu difícil dia.

    Ao terminar de tomar o seu calmante chá, massageava seus pês com uma solução que fizera com alecrim, azeite de oliva, essência de lavanda, óleo de sementes de uva, óleo de amêndoa e mel.

    Lamentavelmente, pensando, percebera que por falta de sabedoria os seres humanos construíam em suas vivências inúmeros ‘eus’ demoníacos, roubando-lhes suas consciências e alegria de vida. Pensava isso, pelo fato de presenciar nas atitudes de seus companheiros de trabalho, os muitos agregados psíquicos aproveitarem-se de alguns conhecimentos adquiridos para se auto afirmar. Conhecimentos estes, sequestrados pelo mau ego, que tornam o ‘pequeno eu’ perigosamente astuto, capaz de formular os piores crimes emocionais e sentimentais, explorando o homem pelo homem, destroçando as inúmeras capacidades intuitivas, e as diversas expressões artísticas, filosóficas e religiosas do ser.

    Este ‘pequeno eu’ sabotador, que na verdade são múltiplos e se arma de intelectualidade, destrói os verdadeiros valores existenciais que sempre vem sustentando a espiritualidade humana, dando o pior de si mesmo em sua astucia mecanicamente intelectual, para conseguir seus “altos” níveis de prestígios sociais, políticos e econômicos. Imbuído de sua vaidade doentia e arrogante que crê firmemente que em si mesmo e por si mesmo está pensando, sem se dar conta que sendo um pobre mamífero e bípede intelectual, está apenas sendo controlado por seus múltiplos sentimentos e emoções que são subordinados aos seres semelhantes, assuntos e objetos externos, e, não a si próprio.

    Intuitivamente, também, percebera em si mesmo os muitos ‘eus’ agregados e trapaceiros, que apesar de constituir uma só parte, ilusoriamente crera ser o todo em um dado momento. Nessa intuição, vira que quando surgia repentinamente um sentimento de ódio por uma determinada pessoa, pensara erroneamente que a totalidade do seu ser estava odiando, enquanto apenas um determinado eu era o autor de tal sentimento odioso.

    Percebera-se diante de um mundo pluralizado dentro de si mesmo, em que no exterior confeccionava o indivíduo. Inúmeros pensadores que apesar de fazer parte de um só corpo e mente, se crê que é um todo, momento a momento.

    Vira que os seus processos de identificação, empatia, amor, ódio, rejeição e discriminação eram apenas pequenos ‘eus’ interesseiros e oportunistas, em que o fazia de vítima ou vilão de cada situação. E, diante disso, queria sempre se manter alerta, questionando toda e qualquer forma de emoção, pensamento e sentimento autônomo que infortunadamente o dirigisse. Principalmente para o que dizia respeito as intenções, palavras e ações alheias. Não esquecendo, é claro! Que esses inúmeros ‘eus’ mesquinhos e desarmônicos, apoderam-se constantemente de situações que não foram devidamente analisadas e meditadas, que tornava a personalidade vítima das circunstâncias e intenções maldosas alheias.

    Sentado no conforto da lareira, repetia para si mesmo mentalmente, exclamando:

    — Tenho que viver em estado de profundo alerta constante!

    Desejava não mais ser enganado pelos inúmeros ‘eus’ internos que só lhe causavam discórdia, ou pretendia afastá-lo da senda do conhecimento místico espiritual. E, mentalmente dizia para si mesmo:

    — Se eu deixar que esses ‘eus’ demoníacos internos atuem… pensando e sentindo por mim, nunca estarei no real controle. Nunca serei o senhor do meu destino e de mim mesmo. Apenas pensarei estar pensando, sentirei que estou sentindo… enquanto é ‘outros’ agregados que pensa com minha mente, e sente como meu coração. Sendo eu arrastado pelo vento, levado pela correnteza e inflamado pelo fogo.

    Se vira escravo… escravo das circunstâncias culturais que o acorrentaram desde o seu nascimento a um corpo animal cheio de desejos, vícios, medos, traumas, percepções e concepções errôneas do universo e da natureza em seu cotidiano urbano social. Que negativamente se fazia personificado nas associações e identificações mecânicas de si mesmo, e dos demais seres semelhantes no coletivo sentimentalismo mórbido e agregados psíquicos de um mundo em que a fantasia era a realidade do animal intelectual. Amando demasiadamente a si mesmo, se auto vangloriando, imbuído de autoconsideração que o conduzia inevitavelmente à autocomiseração. Pensado ser o “bom-homem”, no papel da vítima, em que ninguém ao seu redor sabia apreciá-lo. Tudo isso graças a má-educação psicofísica, somada a uma pitada de pobreza espiritual e ignorância cultural, que o tornava produto intelectual de formas estereotipadas de reagir sem pensar a toda e qualquer situação adversa, levando as diversas maneiras equivocadas de sentir e pensar nos inúmeros mecanismos autônomos negativos de se entregar a emoções inferiores, e luxuriosas do prazer e a da dor.

    Nisso, percebera a compaixão que tinha que ter com seus semelhantes e consigo mesmo. Não punir, e nem se punir. Não condenar os seus sentimentos negativos e inferiores, e nem condenar esses mesmos sentimentos no seu semelhante. Nem tão pouco procurar motivos para justificá-los, mas, observar e se auto observar em um ato de recordação de si mesmo, na procura de conhecimentos ajudadores dos inúmeros estados que nos levam a tal decadência, e dos equívocos da consciência suprema espiritual. Em que vivemos lamentado o perdido… chorando pelo leite derramado na recordação atormentante dos velhos tropeços e calamidades… odiando o que desprezamos em nós e no outro… manifestando um amor-próprio narcisista exagerado… e em pensar se vamos ser aprovados pelos julgamentos alheios.

    E, essa compaixão nada mais era do que sacrificar os nossos próprios sentimentos, emoções e pensamentos de quem somos. Sacrificar os nossos próprios sofrimentos, medos e complexos. E ser como o céu… que mesmo estando em toda parte, observando e englobando o todo de tudo, nunca pode ser tocado… nunca pode ser contaminado!

  • James Webb

    O louco que sempre dizia
    Que nada era o que parecia,
    Que tudo está errado,

    Que vice é versa que versa não versaria,
    O James Webb revelou o que nunca foi revelado,
    Futuro é presente sem pretérito do passado

    A única coisa possível ainda de se dizer

    É sim existe poder infinito em você.
  • Kid Neb

    As vezes gosto de evitar pensamentos como: “o que eu tenho que fazer hoje?”. São pensamentos que me fazem invernar num labirinto de tempo perdido e futuro curto e indeterminado que me conduzem a acreditar que não há solução para os problemas da humanidade. Não sei se um ser como eu é capaz de enumerar todos os problemas da humanidade. Talvez eu não seja capaz de enumerar todos os meus. Apesar disso me parece um fato que os problemas existem. Os meus e os da humanidade, e olhando daqui não parece que algo possa ser feito para resolvê-los. Nesse momento estar vivo parece um fardo que não vale a pena carregar. Talvez seja a hora de acreditar num Deus todo poderoso que vai me redimir dos meus pecados e abrir as portas do paraíso para mais uma alma vítima das futilidades da vida terrena. Chegou a hora da grande revelação Senhor. Estou pronto para recebê-la jogado num colchão da grossura do meu punho seco e cansado de esmurrar ponta de faca. Minha vida só poderia ser pior se eu tivesse usando um terno e uma aliança no dedo. Mas isso não é consolo, se parece mais com uma desculpa para um romance barato.
    O café requentado de ontem ainda serve para liberar meu intestino do peso das minhas merdas que ele carrega. Toda vez que sento na privada para cagar sinto que ainda resta em mim um fio de dignidade pela qual vale a pena lutar, mesmo que ele pareça jorrar pela minha bunda como as cachoeiras do Niágara. Não sou muito diferente de um burro no que diz respeito às posses e aos direitos, se é que é possível que um burro tenha posses e direitos. Mas ao menos não saio por aí na rua cagando com o cu frouxo como se nem estivesse percebendo a bosta se espatifar no chão. Eu sinto tanto ela sair que às vezes preciso colocar uma parte para dentro de volta. É toda dignidade que consegui preservar depois de todos esses anos. E mesmo assim ela dói como um parto, mesmo que eu nunca vá saber como um parto dói.
    Depois de olhar, minuciosamente, cada grão de poeira que repousa calmamente por toda parte da casa, de pensar profundamente sobre todo conhecimento que ele carrega sobre o mundo, por todos os lugares que passou, coisas que viu e experiências pela qual passou, conclui que o melhor que poderia fazer para atenuar esse sentimento de perda permanente que preenche o meu vazio era ir para o Bar do Jaime. A forma como eu andava, as roupas que usava, a cara amassada, os gestos compulsivos, tudo me denunciava como um ser humano esquecido por Deus e mau dito pela sociedade. “Você esta fedendo.” “O cheiro não é meu, é do bar.” Se aquele velho safado não tivesse o controle das garrafas que ficam atrás do balcão poderia até ser que fôssemos iguais. Coloquei meu chapéu de lado no balcão e mostrei uma nota de vinte para poder ser identificado como uma cidadão com direito a beber qualquer coisa que eu quisesse beber. Sem demonstrar nenhum tipo de gratidão o Jaime colocou um copo de conhaque e uma cerveja na frente. “Não tem troco.” “Eu pego o resto em líquido.” Ele ficou me olhando como quem deseja profundamente que outro alguém desaparecesse numa passe de mágica, mas não foi o suficiente para evocar alguma entidade capaz de me fazer sumir. Talvez Deus e o Diabo também não dessem a mínima para ele. Agora sim parecíamos iguais.
    Barulhos de pneu derrapando e tiros começaram a invadir todo lugar com o cheiro de pólvora, gasolina e borracha queimada. O Jaime deu três passos para o trás e ficou com o sossega malandro ao alcance das mãos. O silêncio se instalou pelo bar e os olhares se voltaram para a porta. Um covarde entrou no banheiro para fugir pelos fundos. Continuei olhando para baixo na esperança de que nada que pudesse abalar minha vida miserável passasse por aquela porta. Três caras usando casacões de couro e chapéus com as pontas amassadas entraram no bar rindo como se alguém tivesse contado a piada mais hilária do século. O Jaime veio andando a passos curtos na direção do balcão usando o sossega malandro para se escorar, mas de um jeito que deixasse bem claro que ele tinha culhões. “Pode ficar tranquilo velho, só nos de três doses de alguma coisa quente.” Sem desfazer a cara de carrancudo ou pronunciar uma palavra o Jaime colocou os copos em cima do balcão. “Então velho, onde ficam as mulheres dessa cidade?” “Ei, Clint, nessa cidade só tem gambas….as mulheres tem pelos nas tetas…” (risos) “Aqui é só um bar, acho que o que vocês procuram fica a leste na estrada.” Não havia o menor sinal de tranquilidade nas palavras do Jaime.
    Também não havia o menor sinal de que os três fossem pegar a estrada para o leste. Tirei o copo do balcão em direção a minha boca, ávida por se manter fechada, quando o dito Clint amassou o que restava do meu chapéu com um soco. “Ei fedorento, sua mulher tem pelos nas tetas? Ow, você não tem uma mulher...” (risos) Não deviam mexer no chapéu de um homem. É como se toda aquela dignidade que eu coloquei de volta para dentro de manhã subisse como um raio direto para a cabeça. Saquei a 22 escondida no meu bolso e acertei a cara do bastardo. O Jaime pulou do balcão e começou a marretar a cabeça de um dos escroques com o sossega malandro, enquanto eu avancei na direção do segundo com uma joelhada no seu saco e uma série de coronhadas na sua cabeça. Ele caiu no chão se retorcendo. Era o único dos três que ainda se mexia, então dei o tiro de misericórdia. Senti que minha dignidade estava escorrendo pelas minhas pernas na forma de um líquido quente e viscoso. Peguei meu chapéu e voltei para casa em passos curtos.
  • La Luna em Beleza e Graça

    Meu Amor!

    Há uma beleza audível e invisível que imerge no íntimo dos puros de coração

    E como a luz da lua cheia em que sua aureola prateada a envolve de encanto místico sagrado… a canção emerge do mais profundo do ser, espiralando no corpo uma aura de graça e áurea de benção

    A uma inocente beleza de pureza e graça iluminada em sua doce voz feminina…

    Voz de pureza musical que penetra arrepiando os fios dos corpos em graça

    Cada tom… cada acorde… cada timbre… cada sopro do teu ser é gracioso em sua voz em graça

    Calmamente vou seguindo os seus passos sonoros no Bendito Amor em beleza e graça

    Tua força audível dança descontroladamente em meu coração

    Tua voz graciosa me arrasta para a Morada da Beleza

    O Sagrado lá me espera…

    A Beleza em tua doce graça penetra meu coração

    Apenas um eco no vento de uma doce voz feminina me embala

    Trançando meus cabelos com pequenos galhos de flores e coloridas folhas, arrastados no sopro íntimo dos teus acordes sonoros em graça

    Como és graciosa Querida!

    Em tua voz fui levado ao divino do meu SER

    Proclamou-se em mim uma semente do Sagrado e Eterno Contínuo ecoando em sua voz em beleza e graça

    Os empecilhos e agregados de minha falsa personalidade evaporaram pelo sopro gracioso do teu iluminado coração, em cura, beleza e graça

    Cante escrevendo para mim Meu Amor, no silencioso do meu ser agora em graça… sopre o teu vento em ondas sonoras, acompanhado pelos acordes percussivos dos grilos, pelos efeitos do rasgar da garganta da coruja em um misterioso grito supersônico, e pela beleza secreta e mística da melodia dos lobos uivantes ao te venerar em luz prateada no céu noturno

    Sento-me solitário na beira do rio Meu Amor… me leve em teus passos sonoros… reflita em minha pele a luz dos teus acordes em brilho e graça… fecho meus olhos com a cabeça erguida voltada para tua face lunar… cruzo minhas mãos abertas em reverência uma sobre a outra, levando-as calmamente ao meu peito, no lado do meu palpitante coração… na sinfonia noturna das pequenas criaturas… em um divino concerto místico onde toda natureza te acompanhava em beleza e graça… tua voz luz em ondas escritas me penetrou… e sozinho, sentado me ergui no doce luminoso bailado… e fui levado pelas cores do invisível sonhar… e na minha singela silhueta, em que fui ofuscado em seu canto de luminosidade coloridamente graciosa, me despi por completo de minha singular, pluralista e dualística personalidade masculina

    Tua mística voz foi jogada ao vento como o sopro no dente-de-leão

    Uma dessas sementes luminosas repousou em meu coração

    E lá nasceu a tua graça… divina… escrita… cantada

    No palco lunar de inefável beleza e bondade mística iluminada

    Assim, Meu Amor… sua voz cantou em graça meu coração

    Beijando com sua luz o meu masculino negro corpo terra, numa voz feminina branca e graciosa lunar canção

  • Labirinto étnico-racial de si

    Diante das variadas questões raciais e exaltação do antifascismo, que nada mais era do que a divulgação, ignorantemente, involuntária no coletivo social de um pensamento e filosofia fascista (regime político-filosófico italiano estabelecido nas primeiras décadas do século XX por Benito Mussolini, fazendo prevalecer o conceito da superioridade de uma raça e seu sistema de governo ditador e autocrático), que se apresentavam naqueles sombrios e acinzentados dias pandêmicos. Resolvera adentrar em si mesmo, na resolução da síntese de sua própria persona etnicamente mal identificada e incompreendida. E, se buscando em cansativas e exaustivas análises na cosmologia da raça humana e nas muitas referências lhes apresentadas em estudos acadêmicos… filosóficos… podcasts, posts e lives… discursos escritos e audiovisuais nas redes sociais e internet…, contudo, não se encontrara. Percebeu-se no mundo dos humanos… um ser alienígena.

    Racialmente, internamente, não se identificava e, externamente, não era identificado a nenhum povo ou etnia.

    Ele era fruto de uma louca, mutante e ‘metamorfósica’ mistura étnica, filosófica, religiosa e cultural. Bisneto de uma índia Pataxó-hã-hã-hães (que já era uma mistura combinada dos Povos Baenãs, Tupinambás, Mongoios, Camacãs, Geréns, Sapuiás, Quiriris, e entre outros… que habitavam o sudoeste do Estado da Bahia) com um cigano oriundo da Grécia (descendente dos Povos Rom, nômades desertores do sistema de casta na antiga Índia, provenientes do noroeste do Subcontinente Indiano, região peninsular do sul asiático que compreende os atuais países da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Butão e as ilhas Maldivas, e, as do Sri Lanka). Neto do fruto dessa mistura, por parte da sua avó, com um judeu sefardita ocidental oriundo da Espanha (que chagara na Península Ibérica nas embarcações fenícias, durante as destruições do Templo de Jerusalém pelas revoltas judaicas e romanas). E, por última consequência, filho dessa mistura, por parte de mãe, com um negro oriundo dos Povos Iorubás (que foram violentamente sequestrados, e criminosamente extraditados da sua terra natal, o Império de Oió, nos meados do século XVI, chegando ao Novo Mundo nos tumbeiros da colonização portuguesa).

    …Assim, nessa complexa linhagem, era bem mal compreendido pela moderna sociedade brasileira, que (por ignorância) ignorava o procedimento decorrente de um intenso processo miscigenatório (classificado por alguns estudiosos acadêmicos brasileiros como: Homo brasilis)…, e incompreendido por ele mesmo nessa atual conjectura e caótica questão racial da sociedade brasileira, e mundial (no que se referia o caso do assassinato de George Floyd)… não sabendo em que lado deveria estar… que partido deveria tomar… e que etnia deveria se classificar… qual dogma e religião poderia declarar como sua verdade filosófica… e, que bandeira deveria sustentar. Porém, sabia ele que a corda sempre parte do lado preto. E nisso, também, enfureceu-se pela cruel morte do homem preto pelo poder estatal do homem branco. Contudo, pôs-se a pensar em que partido, dentro de si, iria tomar…

    De um lado… sua negritude e africanidade imperava, no externo, em sua forma física (corpo marrom, olhos castanhos escuros, traços faciais negros e cabelo crespo). Por outro lado… seu sistema psicológico e intelectual era ‘eurocentricamente’ branco. E, mediando nos seus extremos polos opostos do ‘SER’ e de ser… intentara que seu coração era ‘nativamente’ dos originais povos das Matas Atlânticas sul-americanas.

    Apesar de na sociedade brasileira, americana, asiática e europeia ser comumente discriminado como um negro da diáspora africana, no externo mundo social… Quando viajara ao continente Africano, percorrendo todas as suas regiões geográficas (Norte da África, África Ocidental, África Centro-ocidental, África Centro-oriental e África Meridional) na procura de uma identidade africana… Para seu espanto e surpresa! Fora discriminado pelos próprios negros africanos como um ‘MESTIÇO’. Nisso, se viu desolado… desabrigado… desenraizado. O chão sumiu diante dos seus pés, e caíra em um abismo sem fim na profundidade do seu ser. Na África, seu tapete fora puxado por sua própria descendência africana, caindo esparramado de bunda contra o chão. E, assim, se perguntara: “Quem sou eu?”, “Quem são meus ancestrais?”, “A que casa humana pertenço”. E, em sua existencial miscigenada contradição não poderia negar o Branco, o Preto e o Nativo Americano dentro de si, porém, seria um erro escolher uma dessas partes como política existencial, pois, ao fazer isso, cometeria o equívoco de negar a si mesmo como o todo de tudo. E, se viu sendo: O NOVO! O UM! A UNIÃO! E, também, o esquisito, a anomalia, o invisível.

    Percebeu que a Raça Humana proveio de um único embrião que crescera, multiplicara, evoluíra e se apartara dela mesma, indo explorar e habitar as várias regiões da Terra, e, por consequência, se fragmentara dela mesma, se mutando e se dividindo em si mesma. Daí intentou na concepção do: Retorno para Casa. E, viu que a miscigenação era, nada mais e nada menos do que, a realização natural desse retorno. Então, como ser miscigenado que era, se estudou, observando a si mesmo e seu meio-ambiente comunal e social.

    Não generalizando, mas em proporções e porcentagens maiores do que a média. Percebeu:

    a) que seus amigos negros (filhos de mães e pais negros) eram intelectualmente ignorantes em sua maioria. Não compreendiam, concebiam e nem dominavam a intelectualidade (que é de origem eurocêntrica). Sendo que para isso, necessitavam realizar um esforço energético tremendo, e antinatural, para se enquadrar nos padrões acadêmicos e filosóficos dessa intelectualidade e cultura greco-romana, que não correspondiam as suas realidades e necessidades básicas e existenciais. Porém, em contrapartida, eram seres místicos por natureza. A magia com todo o seu misticismo e conceitos esotéricos já estavam entranhados desde o berço em sua essência de ser. Seus corpos eram esbeltos, sensuais e atrativos. Dominavam toda sensualidade dos gestos dançantes, em toda a associação dos elementos cênicos-dramáticos e místicos da estética da dança e coreografia corporal. Além de serem músicos por natureza, e obterem uma força corporal descomunal, que desafiava as leis físicas e gravitacionais deste plano terrestre. Eram seres conectados à terra, naturalmente formados em simbiose com toda vida e ecologia… conhecedores dos mundos invisíveis e mágicos com seus seres elementais e inefáveis.

    b) que seus amigos brancos (filhos de mães e pais brancos) eram misticamente ignorantes em toda sua maioria. Desconectados da natureza, meio-ambiente e dos seus próprios corpos e espiritualidade ecológica. Sendo pessoas de psicológico e físico fraco, e de baixa autoestima corporal e emocional. Super dependentes das coisas e objetos criados e inventados por eles mesmos, além de possuírem uma dependência doméstica sócio problemática, não sabendo realizar suas tarefas mais simples… e sempre necessitando de uma outra pessoa em seus afazeres diários de higiene, proteção e alimentação. Possuidores de um super Ego (buscando fama, glórias, sucesso, riquezas, poder e luxo e, sobretudo, em poder saciar suas sensações e satisfações instintivas no abuso das drogas, dos esportes violentos e radicais, e, do sexo sem medir consequências) e entregues as coisas mais banais e materiais do sistema social urbano civilizatório. Porém, naturalmente, eram gênios intelectuais. Possuidores de uma mente informática e racional na busca de resoluções de problemas no seu cotidiano. Mestres acadêmicos, políticos, científicos, engenheiros, medicinais, econômicos, financeiros e tecnológicos. Formadores da moderna civilização com todos os seus equipamentos, aparatos e ferramentas… os donos do mundo e de todas as coisas inventadas e padronizadas dessa caótica sociedade humana.

    Já os nativos, ele não possuía um só amigo sequer. Pois, não havia espaço para sua existência na moderna sociedade. Se o nativo abandonar sua terra, tribo e floresta… ele tinha que fazer um abandono de si mesmo, em toda sua essência. Sua língua, cultura, saberes e modo de vida eram totalmente contrarias a todo conceito da sociedade urbana e civilizatória, e de nada valia para essa sociedade no seu conceito funcional. O valor do nativo brasileiro, estava em ser nativo mesmo… vivendo na floresta com seus costumes, modos e crenças.

    Então, observando a si mesmo, meditando e refletindo… se vendo mestiço: sua mente intelectual era branca… seu copo místico-físico era preto… e seu oculto coração-alma era nativo. A Sagrada Trindade em si mesmo… A tríade evolucionária encarnada e manifestada!

    E o mestiço? Qual é o seu valor? Em que se baseia a sua crença e seu papel na sociedade?

    O mestiço (possuindo um pai negro e uma mãe branca, ou nativa… ao contrário, ou vice-versa, tudo junto e misturado) vive um eterno dilema. Apoiado em uma corda bamba, que por incrível que pareça sua parte nativa automaticamente se anulava (pelas questões culturais apresentadas no parágrafo acima), sendo que lhes restava apenas os dois lados da moeda sócio racial: o branco e o preto. E o que determinava essa escolha? Sem dúvida a química orgânica da enzima tirosinase… as altas ou baixas concentrações de melanina e sua principal função da pigmentação da pele, no caso, humana. Que na cultura popular greco-romana as altas taxas de melanina era classificada, como: ‘Sujeira Escura’, e na cultura eurocêntrica colonial era discriminada, como: ‘Sujeira Biológica’.

    Entretanto, se o equilibrista mestiço tiver, no jogo genético do cara e coroa, baixas taxas de melanina: ele perderá seu equilíbrio caindo no lado social branco. E se tiver altas taxas, uma vez possuindo maior quantidade de melanina: perderá seu equilíbrio tombando no lado social preto. Daí, percebera o racismo em sua síntese, em que o mais prejudicado era ele mesmo, pelo fato de ser: O Mestiço!

    Discriminado, sendo tudo, a escolher na atual sociedade em que vive um só partido…

    Mal compreendido e julgado socialmente…

    Pejorado e anulado…

    Tendo que habitar um corpo mutante e alienígena… o X-Man da questão!

    O mestiço é tudo enquanto é nada. Compreende o Misticismo Negro e a Intelectualidade Branca. Mas, não é profundo como o negro no misticismo e como branco na intelectualidade. Sendo raso, no entanto, manifestando: ALGO NOVO!

    Pensando na corda bamba da sua existência, e no discurso do racismo. Viu que toda luta das políticas do ‘movimento negro’, e dos ‘mestiços negros’, era para conquistar o espaço do ‘branco’ na sociedade pós colonial das Américas. E ao contrário do que pregava Marcus Mosiah Garvey, com suas ideias do movimento de retorno da diáspora negra para África. Os ‘negros’ americanos pós-colonial queriam estar nas faculdades e universidades criadas e mantidas pelos ‘brancos’, e estudar sua visão e filosofia cartesiana e eurocêntrica de mundo… batalhavam para estar na televisão do ‘branco’… a usar a moda do ‘branco’… a ter a vida e o sistema econômico do ‘branco’… e nunca lutavam verdadeiramente para resgatar as suas línguas e culturas africanas, que estavam sendo abandonadas… até os próprios ‘brancos’, também, resolverem tomar de assalto as ‘culturas negras’, e em seu empreendedorismo massivo, comercializa-las. Sendo, que Marcus Garvey já dizia no passado: “Eu não tenho nenhum desejo de levar todas as pessoas negras de volta para a África, há negros que não são bons elementos aqui e provavelmente não o serão lá.” E, viu a contradição nas lutas e ideologias de raça, em que as próprias pessoas que se dizem ‘negras’, não sabem e nem se interessam a estudar e falar uma língua nativa africana, além de só saber algumas palavrinhas, mas, ironicamente ficam criticando o ‘branco’ na língua do ‘branco’. Assim, percebeu a hipocrisia, pois a luta do ‘negro’ não é por África e nem racial, e sim, é uma luta de classe econômica disfarçada. (não querendo desfavorecer aqui os direitos e deveres constitucionais de todo cidadão brasileiro, independente de sua etnia).

    Percebera a evolução da raça humana em si mesmo, e sabia que ainda estava no início do início de todo o complexo processo evolutivo. Mas, o diferente e maravilhoso nos dias de hoje é que esse processo pode ser estudado, pensado, analisado e devidamente acompanhado. Sendo, ao que diz respeito a Teoria da Evolução, não seria mais o caso de uma espécie evolutiva sentir a necessidade de exterminar a outra espécie (como foi a do Homo Sapiens em relação aos outros hominídeos). O NOVO! O processo final do Mestiço, se culminaria na mistura das misturas de todas as etnias em união em si mesma.

    Em sua catarse étnica racial, como mestiço que era, se classificou como a união e evolução da raça, pelo qual, automaticamente, se batizou de: Homo existencialis. A síntese da união biologicamente genética existencial, global, virtual, cultural, étnica, religiosa e filosófica de todo o multiverso universal da Raça Humana. E, como filosofia, decidira a partir daquele momento, conscientemente revolucionário, defender e levantar como bandeira a união dos povos, suas diversas etnias e cultura em uma única simbiose natural e ambiental, lutar pela ecologia e pregar a sustentabilidade humana na ‘Consciência Universal Biomática’, como classificara sua nova filosofia, promovendo uma estabilidade de união e amor desenvolvida e adaptada onde nossas múltiplas diferenças possam ser transformadas em ferramentas, para construção de uma nova e moderna sociedade mundial, cujos nossos valores individuais e coletivos se fundam em uma cultura de união contínua, visando enraizar práticas sustentáveis, resgatando, assim, os vínculos humanos de proximidade para crescermos em uma nova perspectiva de PAZ, nos orientando nessa difícil, porém possível, tarefa de estabelecer a HARMONIA em nossa amada Ama Terra.
  • Lembrar

    Pena que nada
    acontece duas vezes
    quando a gente quer
    repetir
    de novo

    "Tudo que eu já fiz
    de novo acontecesse,
    cem vezes dessas 
    ou mais de cem vezes"

    Diz pra mim
    que não disse sim
    nas vezes que eu pedi
    que me esquecesse

    Sinta minha falta,
    diz que vai voltar
    atrás

    e vem me ver um dia desses.
  • LEVANTE DO INACABADO

    Acorda para o mesmo,
    antes de abrir os olhos
    arranja a eternidade
    estancada no instante.

    Está para o mesmo,
    o processo atualiza
    fome sem controle
    repete o sem fim.

    O inicio é o fim de outro desmaio;
    franjas do arco envergado,
    tudo é um acordo de preservação.

    Pesam pálpebras vultos pintados
    numa caverna soterrada no Piaui.

    Uma assinatura na lápide rasga
    o véu que separa o negrume;
    é encarnado inumerável
    o levante do inacabado.
  • Lua de Meu Existir

    Minha Amada que fertiliza o meu existir.

    Em plena beleza me perco em teu reflexo deitado sobre as águas escuras de minha alma.

    Mesmo com toda calma e mansidão de tua noite em que te revelas nua, cheia e completa.

    Teu reflexo iluminador é tremulo, desconexo e vibrante, intercalado por linhas negras que desconfiguram em saudades meu pobre e solitário coração de poeta.

    Ao subir lentamente cheia, contemplo a tua chegada no meu inabitado lago interior.

    Ao passo que te levantas se abre vagarosamente uma estrada de luz ‘brancamente’ prateada em meu encontro.

    Ó! Doce fonte de luz que me intensifica… ainda que eu possa ser tocado por tua energia iluminada, estás tão ‘lusitaneamente’ longe de mim…

    De súbito me imagino a caminhar em tua prateada e tremula estrada, então, poder ao menos abraçá-la calorosamente, enquanto ainda não flutuastes em mágica para o mais alto dos céus estrelados… tua influência elementar do Sagrado Feminino em mim, desperta a Consciência Mística da intuição emotiva do meu ser, quebrando os meus viciantes padrões interiores em ciclos de transformações ascendentes e decadentes de toda uma existência apaixonada.

    Como eu te amo, Meu Amor!

    Ó! Fruto do meu desejo insaciável…

    Sobes agora livremente… e tua estrada de luz desaparece nas águas de minha emoção, e agora debaixo de tua luz prateada, volto a minha singularidade pequenina e frágil, onde realizo o meu ritual de amor à tua Lua Cheia embelezada em sua aureola majestosa repleta de teu amor.

    Nisso, me vejo sendo irradiado pela luz azul de sua aureola… meu corpo negro encandece inflamado pela sua onda radiativa, tornando-se fosforescente, atraindo toda espécie de pequeninos seres noturnos em divindade graciosa. Pela tua dádiva amorosa, tornei-me um ser luminescente, e… quem me dera ser carregado pelos pequenos vaga-lumes que agora me cercam, no único amoroso objetivo de poder pousar em teu grandioso ventre oculto nos teus misteriosos segredos noturnos.

    Tua pele branca me seduz, teus cabelos de nuvens negras a flutuar me enfeitiçam. Como és bela! Como sou teu!

    Embora possa, eu, ser um diurno ser flamejante, de que me vale toda essa potência… se em minha forte luz te ofusco, ao ponto de nem eu mesmo poder contemplar a tua clara beleza? Estou preso na majestade de mim mesmo, e nisso, sigo meu solitário baile diário.

    Ó! Meu Amor, meu doce Amor… Meu Encanto! Como te imagino e me imagino juntos… ao te contemplar no silêncio de uma tarde em que apareces repentinamente no reflexo espelhado no limpo céu azul… mas, esta linda visão que tenho no dia, bela e cheia de graça… apenas se faz ecoar, ecoando a ecoar… a ecoar.

    Em tua face clara, lusa e juvenil me vejo iluminar. Abrindo meus olhos… retirando de mim as impregnações infrutíferas e residuárias de meu sofrido passado e presente agoniante tedioso.

    No meu mágico ritual… derramo as águas de aquários em uma bacia de prata e deixo exposta à luz de tua Lua Cheia, para que parte de Ti possa se desprender e lá habitar. Ponho minhas mãos sobre as águas e o recipiente, e faço riscos imaginários mágicos escrevendo palavras místicas de amor… em oração Celta na alta voz… dizendo:

    — Ó! Sagrada Mística Sabedoria Lunar… que tua luz fêmea caia sobre essas águas, envolvida na Magia da Prata e, de suas perenes divindades noturnas do Argentum branco e brilhante. Invoco sua áurea iluminada que reflete o poder divino de tua purificação e amor. Ser gigantesco feminino que controla todas as forças ocultas das águas naturais, que constitui todos os seres orgânicos e abarca os seres inorgânicos… se faça aqui fluidamente presente no Sagrado Agora… vem, e me Ilumina!

    Ao terminar meu mágico culto de oração… vi sua luz em forma feminina descer em baile e encanto, se deleitando nas águas… transformando-as em plasma prateado. Ali mesmo sob a luz de tua magnífica e sagrada presença me despi de minhas rudimentares vestes, assim como, também, estavas despida dos teus véus de nuvens negras. Derramei o teu leite prateado em meu corpo nu… pude te sentir me tocando todo e por completo, onde me acariciava com beijos de uma paixão apaixonadamente purificante… a este tocante… me perdi em fluxos energéticos de amor que me fazia flutuar e ecoar… ecoando a ecoar.

    Quando regressei a mim… já tinhas desaparecido, restando apenas a lembrança do teu beijo, teu calor, tua sensação purificadora e teu carinhoso amor, e teu céu noturno no vazio estrelado.

    Minha Amada… silenciosamente fechei meus olhos em reverência, e, de mim, restou lhe dizer:

    — Te amo… Te amo… e Te amo!
  • Lua Escura

    Querida minha

    Hoje passeio em devaneios pela noite escura a sua procura
    Hoje não me contemplaste com tua bela face iluminada, e triste caminho por essa trilha incerta do existir sem ti

    Apenas um vazio em meu coração palpita reclamando a sua presença
    Na tua ausência percebi que o céu era vasto e imenso de estrelas a cintilar
    Porém, vazio do mistério e do segredo de te amar

    Minha Querida
    Onde foste que não me levaste
    Por que de mim te ocultaste
    Sabes que te amo, e sem ti, sou cego em meu solitário noturno caminhar

    Triste, sento-me novamente na beira do meu interno lago, fecho os meus olhos no escuro do infinito abismo de escuridão… de que me importa os olhos abertos se não posso te contemplar fora… volto-me para morada do coração, e lá te imagino a me iluminar com teu claro sorriso.

    Te vejo nos meus amorosos pensamentos deitada sobre o teu céu escuro na cama ilustrada de planetas errantes e estrelas, em pequenos passos lentos e silenciosos vou ao teu encontro, e vejo que dormes encoberta pela sombra da terra. Apenas silenciosamente te contemplo, admirando o teu sono profundo… estou aqui contigo Meu Amor

    Em minha meditação adentro em teus mágicos sonhos… como estás bela a dançar com tuas guirlandas de estrelas. De repente, nossos olhos se encontraram, e não entendi porque ficaste estagnada com minha sutil presença, e lágrimas vi cair em seu lindo rosto que se evaporaram em uma cortina de serenos noturnos… de súbito repentino, me vejo te abraçando… e novamente nada entendi, porque evaporaste súbita e repentinamente dos meus braços como uma gota d’água a tocar uma superfície aquecida… e solitário me vejo, também, chorando, culpado por interferir em sua intimidade.

    Ó! Meu Amor… que maldição é essa que nos prende ao estar separado e nos separa ao estar preso?

    Te vi triste Meu Amor, e em tristezas doloridas estamos
    Dançamos juntos de mãos dadas ao som dessa música melodiosamente triste
    Nossos corpos chorando se juntam embalados por essa solidão
    Que segredos o seu coração guarda?
    Que mistérios esconde a tua face oculta?
    Do que sabes que não sei!?
    Por que tamanho silêncio?
    Não percebes que estou aqui para ti!
    Por que me abandonaste hoje?

    Somos tocados pela dor da separação…, mas, haveria tanta beleza se estivéssemos agora juntos?
    O que separa o Criativo do Receptivo senão a beleza do caminhar separado, ao se unir no imaginário! Então, caminhemos eternamente juntos com nossas mãos dadas na doce solidão a imaginar

    Quero te ouvir, que tristeza melodiosa canta seu coração
    Neste céu silenciosamente noturno, em que ansiosa volta tua face iluminada para baixo… o que pensas?
    Quero te compreender… me fale de tua tristeza, pois sei que a oculta quando enxuga suas lágrimas rapidamente em gotículas de sereno

    Por que só te revelas para mim em parte, se para você sou o todo de tudo em toda face?

    Te vi sentada no trono da noite
    Suas mãos acariciavam o rio do Nilo celeste
    E sentada sobre os seus calcanhares na taça da flor de lótus, o rio luminoso em que tocas arrasta infinitas flores estrelares
    Estás festivamente adornada de luminescências e cintilantes aureolas Meu Amor

    Vi uma beleza sobrenatural no seu amável rosto…, e, uma tristeza oculta… um mistério!
    Em sua majestade vejo que rege a Estrela Mágica, e oito vezes com sua foice crescente a decepaste do noturno céu enviando-a para mim, como a linda Estrela da Manhã. Porém, oito vezes com sua foice minguante, novamente decepaste do céu agora diurno, tomando-a de volta para si, como a linda Estrela Vésper… Essa Estrela é a nossa Mensageira do Amor… de nosso solitário Amor

    Dorme tranquila Meu Amor
    Em sua luz encoberta de encantamento na paz de tua força interior

    Sinto seu amor… Meu Amor… pleno de força plena
    Sua atmosfera mágica me envolve no frescor de seu sereno carinhoso pelo qual solitário me condena

    Hoje! No breu da noite
    Estudarei em meditação as tuas leis celestes
    Na sombra terráquea em que dorme te vestes

    E, nesse céu em que hoje de mim te ocultas
    Esperarei no amanhã a sua doce poesia
    Pelo qual me revela a sua face oculta
    Na companheira doce tristeza do meu amargo solitário alegre dia

  • MANDELA

    Somos parte
    Da vida de Nelsinho.
    Contaremos sua história
    Nos livros de história:
    O homem de alma livre
    Cárcere de sua cor.
    Amordaçado,
    Gritou livre nas vozes
    Dos apartados.

    Ganhou
    Liberdade,
    Eleição.
    Governou
    Com igualdade,
    Para todo tipo de cor:
    Da apartada,
    Ao apartador.
    A vítima,
    Nunca vitimou.
  • Mecanicidade Metódica de Si Mesmo

    Voltara-se para dentro de si como nunca, antes, já vivenciado… se viu completamente protegido da ventania de egos que soprava contra sua casa forte. Resolveu olhar para si mesmo com os olhos da Graça, e se viu com os olhos Divinos, quando, de repente, abriu em sua mente um panorama existencial de sua trajetória cósmica unilateral, e sem partidos. Se vira nu… nu de alma, embora o seu corpo estivesse vestido.
    De tal forma sublime, ignorava em difíceis sacrifícios os seus inúmeros sofrimentos psicofísicos, para elevar-se muito além de suas fraquezas. Vira a mecanicidade e o voluntariado dos seus mais íntimos sofrimentos, exposto em um quadro mental de sua consciência adormecida, encoberta por um grosso cobertor de culpa, na cama psicológica dos seus erros e defeitos. A sua triste, entediante, monótona e adormecida consciência, amontoava sentimentos e pensamentos de um cansaço íntimo frustrante. E sempre lamentava por constantemente não conseguir, apesar de muito esforço, o fruto dos seus desejos, em que se sentira ofendidamente enganado por pensar que a vida lhe devia tudo que não fora capaz de conseguir.
    O mundo lhe devia satisfação.
    As pessoas ao seu redor tinham por obrigação, e direito, admirá-lo, e, também, a primazia de honrá-lo.
    Sabia que era bom e honesto em tudo que fazia, e, em tudo que se propôs a realizar. Porém, não entendia tal barreira energética que o prendia a má sorte, e sofria com a rejeição e a inveja alheia voltada contra ele. Isso bem que lhe parecia uma maldição, um encanto malicioso. Pois a inveja alheia lhe cobria nas mais simples coisas, manifestando nas mais simples formas… a sua simples maneira de sorrir… seu educado comportamento… a sua forma singela de olhar… a sua voz doce e agradável… o jeito em que prendia seu cabelo… as suas boas ações para com o próximo. Sendo, que por mais simples e singelo fosse em sua natural conduta, maior lhe seria a inveja alheia. Por ser o oposto do política e corretamente manifestado, envolvido em uma pureza e inocência de proteção e amor divino, que o fazia distante da hipócrita ironia social.
    Verdadeiramente, um doce de homem… lindo, maravilhoso, gentil e encantador.
    Nos ambientes era femininamente amado e masculinamente rejeitado, ao mesmo tempo que era masculinamente invejado e femininamente odiado… por um segundo o glorificavam o colocando no mais alto pico dos interesses, contudo, em um complô inconscientemente coletivo, silencioso e secreto, o sabotavam, precipitando-o pico abaixo do mais alto desfiladeiro, ignorando-o nas conversações grupais, e lhe presenteando com as viradas de olhos e costas. Por isso, tinha pena e dó de si mesmo, ao se ver abandonado e discriminado em invejosas soberbas alheias. E por esse sentimento que o apunhalava nos grupos sociais, deteve todo progresso interior de seu MARAVILHOSO SER, se trancando em si mesmo, envolvido em sua própria bolha de medo, rejeição, complexos e culpa no calor refrescante de sua ilha desértica.
    Em sua mente em conflito, inúmeros ‘eus’ perversos e ressentidos, impregnados de ódios e maldições, tapavam com um lençol negro o sol da Autorrealização do seu SER. Culpava tudo… odiava o mundo… tudo era tão feio e cinzento… e as pessoas eram por demais perversas, maldosas, egoístas e interesseiras.
    Entretanto, ainda não sabia ele que sua existência inteira estava alienada na identificação com essas inferiores emoções. Ao ponto de não poder enxergar além de suas bolhas de sabão, assopradas por si mesmo. Essas inferiores emoções eram-lhe feridas abertas inflamadas de sentimentos de vinganças; ansiedades; ressentimentos pessoais e odiosos pelos males alheios lhe causado; pensamentos violentos; inveja; ciúme; medo; desconfiança de si e dos demais; pena de si mesmo. E… em sua autoanálise resolveu limpar o pus de sua ferida, que constituía em uma grave enfermidade difícil de curar. Por isso, ali sentado, resolveu sacrificar todos os seus sentimentos, emoções e pensamentos de bem e mal. Perscrutou a si mesmo, investigando a sua triste alma como algo alheio ao seu ser. Ausentou-se de si, sobrevoando todo o fato interno e externo, e se vira como um fósforo, morando em uma caixa de fósforo. E se percebeu tão frágil ao ser inflamado pela cabeça ardente dos outros palitos, ao serem riscados na lateral da caixa. E, se perguntava: “Por que tenho que me ressentir pelos sentimentos alheios e externos a mim?”… “Por que as palavras e atitudes dos outros me incomodam tanto?”… “Por que me sinto ofendido por suas más ações?”. E, também, questionará: “Por que preciso que me tratem bem ou me bajulem?”… “Por que necessito do alento externo e dos seus aplausos?”… “Por que me render ao bem e mal de todas essas coisas e do mundo?”. Intentara que sacrificando seus anseios e sofrimentos, e sacrificando mais ainda a si mesmo, poderia se livrar da prisão cíclica da caixa de fósforo, de esperar na fila entediante do abrir e fechar da caixa, o momento disfuncional de ser o próximo palito a ser riscado.
    Nisso! Uma ideia clareara em sua mente racional… o atraso… pensou na ponderação… não reação. E decidiu fazer um desafio a si mesmo, pondo um pé atrás, dizendo em alta voz:
    __ De agora em diante… silencio todos os meus sentimentos e emoções. Pois, a graça da felicidade e alegria de viver é um presente que só eu próprio posso me dar… e ninguém mais… e nada mais.
    Vira a Vaidade, a Inveja, a Tolice e todos os outros sentimentos agregadores de sofrimentos dentro de si… eram todos ‘ele’ mesmo. Sua versão maldosa… e como era feia, magra e ressequida… pele e ossos. Percebeu que essa versão Maldosa do SER e de ser, se constituía de inúmeros ‘eus’ demônios, apresentados como os diversos aplicativos funcionais de sua totalidade Maldosa motora… Viu o seu ‘eu’ Mentiroso com seus filhos Calúnia e Difamação seguindo o seu ‘eu’ Medo, pai do seu ‘eu’ Desgraça, que era um ‘eu’ bebê de leite, da mãe ‘eu’ Ignorância… vira que todos os seus ‘eus’ demoníacos amantes dos prazeres, drogas, porcas sexualidades, luxuria, classismo, falsidades, ganancia, egoísmo, vaidades, cacoetes e bajulações eram escravos de algo externo ao seu SER. Nisso!… Mais uma vez intentará na totalidade do seu SER, como o todo de tudo em sua infinita paz de um amor inefável… e vira os seus pequenos demoníacos ‘eus’ em agitação constante, dependentes do externo e alheio… vira a vítima… e era ‘ele’ mesmo… vira o mundo… e era ‘ele’ mesmo. E, disse:
    __ Como és feio, pequeno, medroso, fraco e pidão. Se faz de vítima constantemente só para obter atenção alheia. Pensa que o mundo gira ao seu redor, e afirma com toda convicção para se justificar que cada cabeça é um mundo, não conhecendo o seu próprio mundo, e julgando com imensa culpa o mundo alheio. Ó criatura ignorante e medrosa, eu te repudio em mim… como ainda não posso me livrar de ti, pelo fato desse corpo estar preso ao povir… te colocarei rédeas, e cavalgarás apenas pelo meu comando, e no caminho que eu indicar… Ó besta cruel de mim, te enfiarei na prisão e verá o mundo apenas pelas grades da sua jaula… Eu agora sou o Senhor de Mim, o Dono da Casa… Construí agora um farol forte no meu centro motor, para a autorrealização intima do SER DIVINO que Eu Sou, e estou em constante auto-observação luminosa, em todas as atividades que minha consciência atuar… Não sorrirei alegremente quando me bajularem, e não sofrerei tristemente quando me humilharem…, não amaldiçoarei com palavras más aos que me amaldiçoam…, não ferirei nem mesmo em pensamentos os que me ferem… Estou agora livre, porque nada e nem ninguém tem o poder de me fazer feliz ou triste… grande ou pequeno… feio ou bonito… perdedor ou vencedor. Não estou no controle do mundo… e por saber disso… não me deixo mais ser controlado pelo mundo. Pois, se ignorantemente digo que estou no controle de tudo ou de todos, aí sim, estarei controlado por tudo e todos. Portanto, não sou mais cúmplice da infraimaginação e sua autoimagem de sonhos e fantasias do externo alheio de coisas, ambientes e pessoas.
    Simples de mente e sentado. Sentira uma energia de imensa alegria que expandia de dentro para fora. Uma força calorosa o aquecia por dentro, e no centro do seu peito havia um vazio iluminador potente de energia. Em pleno sentimento do divino sagrado, uma paz aconchegante o cobria de uma luz melosa de ouro, lavando todo seu corpo da cabeça aos pés. O mais Alto dos altos o ungia com azeite dourado. Dos seus pês brotaram finas raízes de luz dourada, que cresciam, aglomerando e se bifurcando, lenta… e rapidamente, adentrando a terra e engrossando seus tentáculos como raízes de figueira a procura das doces águas subterrâneas.
    Sentiu em sua destra, na parte superior ao meio de seus olhos, um ponto de energia vital que expandia… sua visão se aguçará, e pontos de luz faiscante se via. Seu coração calmo pulsava. Percebeu-se não parte, porém, algo que por espécie não poderia ser negado. Algo do Amor Divino… algo do ser amado… algo a ser puramente vivenciado. Tudo era tão forte e tão intenso, sentia tudo e, todos sentia… sentimentos que em sua pele doía, em sua pele ardia. A energia vivificadora atravessa seu corpo se movimentando em espiral, adentrando e saindo, formando em seu centro motor o ponto ‘X’ do oito universal. Assim, compreendeu a sua própria mecanicidade, e como máquina orgânica biológica e alma metódica intelectual, se deletou. Despertando a Consciência Transcendental na íntima recordação divina de si. Na sagrada sabedoria popular que diz: “Quando um não quer, dois não brigam!”

  • Memória como enfrentamento à cultura atual da amnésia política.

    Como sempre digo, “as lembranças de uma vida não se traduzem somente em papel e caneta, mas também na memória de pessoas sensatas” digo isso porque, na atualidade, diante de tantos meios de comunicação e de informação, a banalidade e futilidade se consolidam nos mais perversos vírus exterminador de memórias afetivas e sensatas, nossas histórias passam e ações de terceiros pouco nos importam quando diz respeito aos nossos sentimentos. Que possamos vivenciar nossos processos da maneira mais salutar às gerações vindouras. É mais ou menos por isso que compartilho um pedacinho de minhas memórias aqui: 


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  • Memórias de um empurrador de árvore [conto]

    Nunca entendi porque a Cláudia não gostava de comer queijo ralado barato. O macarrão podia ser uma massa qualquer de ovos, o molho de saquinho com catchup, a salsicha podia ser qualquer uma, mas o queijo tinha que ser faixa azul. Se não fosse o legítimo ela não comia e ficava emburrada. Era quase uma afronta. Uma vez o pai dela disse que ela era igual a mãe dela, só queria coisa de marcas famosas. Mas isso nunca fez muito sentido. Ela adorava chocolate ruim. Cheguei a gastar mais com essa exigência que com todos os outros ingredientes da macarronada juntos. E estamos falando de um momento da vida onde comer uma barra de chocolate ruim era um luxo.
    A gente se conheceu na faculdade. Eu fazia administração e ela publicidade. Na verdade foi trabalhando. Ambos precisávamos de uma bolsa pra viver, e a biblioteca precisava de monitores. No alto dos meus 19 anos nunca tinha estado tão perto de alguém como a Cláudia. Vibrante, bonita, inteligente, confiante. Queria passar o resto da vida com ela. Não tenho a menor ideia do que ela via em mim. A gente ficava conversando a maior parte do tempo sobre os problemas da minha família, e eles não eram interessantes. Mas ela dava risada, e eu também. Nós estávamos nos tornando amigos, e aquilo me enlouquecia.
    Nunca tinha tido um namoro sério. Tinha ficado com cinco garotas na vida e transado só com uma. A Camila era uma amiga da escola. Nenhum de nós dois tinha uma segunda opção, então a gente acabou ficando umas vezes. Era estranho. Nós mal nos falávamos na escola, mas no fim do churrasco a gente sempre acabava se beijando. Transamos no dia da festa de formatura, mas só eu era virgem. Tudo foi muito estranho também. Na cabine do banheiro do salão onde era a festa. De repente ela abriu minha calça e montou em cima de mim e eu tava todo gozado. A Márcia, que era melhor amiga dela, estava transando com o Carlos na cabine do lado. Pensando agora acho que elas tinham combinado tudo aquilo.
    Enfim, mulheres não eram minha especialidade. Não sabia muito bem o que fazer com a Cláudia. Passei horas pensando em como ia convidar ela para um encontro. Depois de um tempo que a gente estava namorando ela me contou que sempre esperou eu convidar ela para sair, chegou até a pensar que eu não queria nada com ela. Lembro que em uma sexta-feira cheguei decidido. Na quinta a tarde tinha perguntado para ela se ela ia numa festa de república que ia ter na sexta. Ela tinha dito que não sabia, que ninguém tinha chamado ela. Mal dormi aquela noite arrependido de não ter convidado ela aquela hora.
    Apesar de toda a minha certeza passei a maior parte da manhã me escondendo dela com vergonha de mim mesmo por ter vergonha de chamar ela para festa. Até que uma hora ela sentou do meu lado na bancada e falou: “Você tá fugindo de mim?” Respondi tremendo e suando: “Não, estou pensando numa forma de te convidar para ir comigo na festa hoje.” Ela riu e disse que “sim”. Eu ri e disse “que legal”. Passamos o resto daquele dia sem se falar direito. As vezes a gente se olhava e ria, o que para mim significava que eu estava no caminho certo.
    Combinamos de se encontrar num posto de gasolina perto da republica onde ia ser a festa. Tinha me oferecido para passar na casa dela, mas a Cláudia que sugeriu o posto e só concordei. Na festa a cerveja quebrou todas as nossas barreiras de timidez e vergonha antes da segunda lata. Nenhum de nós dois era muito acostumado com bebida e rapidinho já estávamos rindo de qualquer coisa que qualquer um falasse. Até dancei com ela e algumas amigas dela umas músicas toscas para parecer descolado. Não demorou muito para a gente começar a se pegar pelos cantos.  
    Não sei dizer muito bem como chegamos a conclusão de que íamos para casa dela, mas nós fomos. A garota que morava com ela estava vendo um filme com o namorado na sala, e quando percebi já estávamos os dois pelados se agarrando compulsivamente na cama dela. Estava louco de tesão. Só subi em cima dela e comecei a bombar o mais rápido que conseguia. Ela gemia cada vez mais alto e quando ela gritou que ia gozar meu pau explodiu e esporrei em cima dela toda, e na cama depois que ela começou a desviar. Peguei minha cueca e tentei limpar ela, mas ela foi tomar um banho. Me vesti e fiquei deitado vendo aquele teto girar.
    Depois disso namoramos por quase quatro anos. Aprendi que além de queijo faixa azul a Cláudia gostava que eu gozasse dentro da camisinha para evitar a sujeira. Isso faz um bom tempo já. A gente se formou, ela foi fazer mestrado na Europa e eu passei num concurso público. A última vez que vi ela foi um pouco antes de ela viajar. Trocamos dois ou três e-mails nos primeiros meses. Ela tinha tido uns problemas pra se adaptar mas logo ficou bem. Nunca mais tive notícias da Cláudia nem daqui e nem de lá. Outro dia acho que cruzei com ela na rua. Ela não me reconheceu. Também não tenho certeza se era ela.
  • Mística Realidade Intelectualmente Ofuscada

    Encontrava-se no assoalho de madeira no sótão da sua casa destemidamente radiante, ouvia os respigares da chuva forte, sobre as finas placas de metais brancas preenchidas de isopor, que substituiu as antigas avermelhadas telhas de cerâmica, em que seu isolante termoacústico não conseguia conter os muitos estalares das gotículas de águas celestinas. Percebia-se confortavelmente protegido do molhado e úmido escuro frio externo.

    De repente, algo clareara em seus externos pensamentos, se via em uma paz de simplicidade e momento, indescritivelmente descontraída, livre de tudo que o prendera pelos dias ociosos e ansiosos que distraidamente o arrastaram por longas avalanches de tormentos internos. Em um estado de êxtase profundo que o dominara, indo além de sua vontade, obteve a graça de ouvir a sinfonia das esferas celestiais. E dos mundos e dimensões superiores a este, criaturas luminosas incandescentes e fosforescentes esverdeadas lhe falaram em melodias insonoras, que ressoaram o maravilhoso coral musical do infinito universal multiverso.

    Essa música ressoava no lótus do sol e da lua, pelo perfume luminoso refletido em seus raios de luz, ao tocar os brotos fechados. Que mesmo pela sua distância, o beijo luminoso de ouro e prata que o tocava, emanava seus acordes no desabrochar de suas pétalas, pelas ondas que pululam se precipitando em uma catarata sinfônica de vibração amorosa pelo ar.

    Assim, compreendeu que a música é a base constante e permanente de toda matemática geométrica da criação.

    Despertara a mística intuição interior, assim sua razão de realidade mundana que se assentava no campo das escolhas e opções, fora ofuscada pela mística intuição em que a ferramenta do raciocínio já fora ultrapassada. Dessa forma, fora coroado com a clarividência de ver os seres inefáveis que não podem ser nomeados ou descritos, em razão de sua natureza mística, beleza inebriante e indivisível encanto indescritivelmente maravilhoso.

    De vítima das circunstâncias passara para o estado inabalável da maestria existencial. Percebia crescendo em seu ser, estados latentes de poderes formidáveis e paz infinita de um vazio iluminador. A sua personalidade fragmentada, individualizada, limitada, confusa, medrosa e insolente fora instantaneamente compreendida, e assim desintegrada nesse iluminado absoluto vazio. Sentira que era o tudo de todo que sempre foi, é e será. Fundiu-se a unidade unilateral da vida livre em movimento. Era a pétala que suavemente caiu da flor. A cana arrastada pelo rio cristalino que repousava no mar da tranquilidade. A ave, o peixe, o verme. Era tudo, menos um indivíduo.

    Dessa forma, montara na personalidade em vez da personalidade montar nele. Vencera o diálogo entre o intelecto racional e a consciência mística, na linguagem intuitiva superlativa do ser, em sua resposta rápida e sem palavras, que se adiantou à dialética do raciocínio lógico e banal, em sua essência intelectual. Ofuscando, portanto, todos os poderes formativos e formulativos de conceitos precoces e lógicos da bestialidade cartesiana, e euclidiana humanidade civilizada. Que apenas se torna útil, nos planos terrenos e fenomenais dos fatos, e atos práticos da idiossincrática existência de páreas patrióticas, personificadas na formalidade cidadã.

    Vira o tempo e o espaço se dissolver na multiplicidade dos eventos fantasmagóricos que constituía ele mesmo. Deu em questão de milésimos de segundos, se fosse basear no ilusório tempo na sua mente em prisão, uma volta de trezentos e sessenta graus, se também, tivesse base no espaço corporal de matéria solidificada em partículas subatômicas. Ira e voltará em si mesmo em ondas no interior e o exterior, percebendo estar ele fora e dentro de si mesmo, ao mesmo tempo, saindo e entrando em tudo do que era existente nele mesmo, e por ele mesmo exteriorizado, se vendo de uma dimensão maior, em um salto de dentro para fora e de fora para dentro. Não tendo como descrever em palavras, imaginar em pensamentos, ou expressar em sentimentos o que agora pouco sentira e presenciara. E, se viu limitado pelas expressões e dialéticas em descrever o indescritível. E viu o torpe, subjetivo incoerente da pesada realidade objetiva. E, diante da verdade e do real… a única expressão confiável era o absoluto silêncio do vazio iluminador.

    Em todo caso, depois do nostálgico acontecido, a sua mente, se é que agora a possuía, esforçara-se inutilmente na normalidade dos seus sentidos, para relembrar a experiência do sagrado em si. E, depois de severas racionais análises, sentiu a necessidade de ratificar em papel tal conceito, mas seu pensamento e sentimento imbuído do intelecto racional, apenas, limitou toda magia da experiência existente em delirantes loucas palavras, agregadas, consequentemente, a uma forma peculiar humana de intelectualismo místico religioso. E no caso mais grave, no que se refere aos preconceitos alheios, enquadrou-se no psiquismo da loucura, ou a ingestão psicodélica de alucinógenos.

    Percebendo ele, que o intelectualismo não passa de um pobre, medroso e arrogante pensamento mecânico filosófico machista, egoísta, aristocrático, e inteligente tenebroso, que ofuscara em palavras toda a sua sagrada feminina mística compreensão iluminada. Em que, esse mesmo intelectualismo, se sustenta em uma singular corda bamba, temendo a queda em um dos extremos lados do dualístico abismo bilateral, imbuído de metas e objetivos de alcançar a segura plataforma pluralizada de uma sociedade predadora civilizatória, sustentada na ponta do pêndulo balançar constante, de um obelisco falo ereto, onde a ignorância miserável de muitos sustentava o sucesso e o prestígio social, econômico, filosófico, artístico, religioso e político de, uns tantos, poucos.

  • Mosca morta em movimento linear uniforme [conto]

    Droga. Minha vida continua. As marcas na cara dizem que alguém tentou dar cabo dela ontem a noite. As dores no corpo gritam que tento fazer isso faz tempo, e nem isso eu consigo. Mas ao menos cada dia estou mais perto. O sangue no vômito é uma prova incontestável. Não consigo achar motivos para sair da cama. Se eu fosse o Iggy Pop todos os meus problemas estariam resolvidos, mas eu não sou. Então vou ter que continuar enfiando a mão na merda até tirar alguma coisa que salve a minha vida dessa desgraça miserável, ou ela acabe. Será que eu precisaria viver se não tivesse contas para pagar? Vou fazer um café para ver se encontro alguma coragem para encarar o mundo lá fora sem ter um surto de loucura e desespero. Ainda há cigarros, então há esperança. Tem um pedaço de queijo na geladeira, não contava com isso. Sinto a mão de Deus aqui.
    Rumo para o bar do Jaime como um rato condicionado num estudo de Skinner. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei quem foi B. F. Skinner e o que ele fazia nos verões passados com as suas cobaias. Não sei onde a filha do Jaime passa as tardes, mas ela nunca está por aqui. Ele não consegue disfarçar todo o desprezo por mim e o resto da humanidade. Coloquei uma nota de dez no balcão e colhi uma garrafa de cerveja e uma dose de pinga. “Eu estive aqui ontem a noite?” O velho carrancudo franziu a sobrancelha e começou a suar. Entendi como um sim. “Preciso de trabalho. Você está sabendo de alguma coisa?” Ele pegou um pedaço de papel e escreveu um endereço.
    O lugar era um armazém gigante ali perto. As portas estavam abertas, e um tipo Vic Vega andava de um lado para o outro com um copo de refrigerante numa mão e um cigarro na outra. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu também assisto aos filmes do Tarantino. “Quem te mandou aqui?” “O Jaime, do bar. Perguntei de trabalho e ele me deu seu endereço.” “E você aguenta o trabalho pesado?” “Se eu não aguentar você não me paga.” “Fechado. São cem mangos. Espera com o resto ali que o trabalho já está chegando.” “Tem um cigarro?” O cara ficou me olhando como seu eu tivesse falado qualquer coisa absurda, tipo, você chupa pinto? “Não.”
    Fui me juntar aos outros. Fiz um sinal e o camarada com cara de marinheiro sem navio me deu um pouco de tabaco e um guardanapo de lanchonete. Éramos seis. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei que esse é um livro do Maria José Dupré adaptado para a televisão e o cinema, mas não tem nada a ver com o contexto aqui. Sei o que é contexto também. E estamos falando só de seis pessoas que não falavam nada, e a maioria preferia ficar olhando para baixo a maior parte do tempo.
    Três caminhões refrigerados entraram no depósito ao mesmo tempo que o metido a chefe que não era chefe de porra nenhuma gritou: “Vamos cambada de vagabundos. Chegou o trabalho.” Eles abriram as portas e entre as carcaças mortas e penduradas por um gancho havia caixas com sabe-se lá o que. “Vamos seus preguiçosos, todas as caixas para fora. Rápido.” Alguém tirou um par de tábuas de madeira de não sei da onde e fez uma rampa no primeiro caminhão. Cada caixa devia pesar uma duas toneladas. Ok, não eram duas toneladas, foi só uma ironia. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei usar figuras de linguagem.
    Tinha um moleque tosco que queria provar alguma coisa para não se sabe quem. Enquanto todos os outros vagabundos fodidos descarregavam uma caixa ele descarregava duas. Quando começamos o segundo caminhão tinha a sensação de que não ia conseguir chegar até o fim daquela empreitada. O Vic Vega apareceu na frente da rampa e gritou para mim: “Ei, estorvo, se não aguentar eu não pago, lembra?” Os tiros começaram enquanto ele ria. Um o acertou em algum lugar e ele caiu. Me escondi no fundo do caminhão e só escutava gritos, tiros e o estalar dos metais. De repente o caminhão começou a se mexer, saiu do galpão e acelerou sem dó pela rua.
    Me sentia como o Eddie Murphy nas primeiras cenas de Um tira da pesada I. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, e ter desperdiçado a adolescência assistindo Sessão da Tarde, mas e daí caralho? O caminhão parou me lançando para o chão e o fundo do baú simultaneamente, confirmando violentamente todas as leis de Newton. Foda-se se eu sei ou não as três malditas leis de Newton. Sai correndo e pulei no meio do trânsito. Era um semáforo. Escutei a porta da cabine do caminhão abrir e um grito de “Ei!” e corri como nunca meio abaixado até conseguir virar a esquina. Me certifiquei de que não estava sendo seguido e percebi que estava todo cagado e mijado. As pessoas desviavam de mim e eu tremia como uma máquina de lavar roupas velha. Fui para casa antes que alguém me oferecesse ajuda.
  • Nadando numa piscina de bolinhas [conto]

    Quando entrei na sala estava tudo acontecendo ao mesmo tempo. A Dani e o Rato tavam se pegando no nível novela das 23h num pufe no canto. Não era exatamente o que mais me chamou a atenção numa primeira olhada. O prato com duas giletes e vestígios de um pó branco que repousava em cima no criado mudo perdido no canto do sofá, do lado oposto a eles, brilhava nos meus olhos. “Tem mais daquilo no prato?” A Sheila olhou para mim com um sorrisinho do mal e tirou um pino do meio do peito e chacoalhou. Peguei o prato e ela jogou uma pedrinha branca nele. Triturei e separei em dois tiros. Ela primeiro e depois eu. Raspei todo prato e tirei mais um tirinho. Peguei um copo abandonado do lado do prato com alguma coisa com pinga e estava começando a ficar pronto.
    Lá no fundo estava tocando alguma música. Era um batidão com uns riffs de guitarra que não conseguia distinguir muito bem. A Sheila tentava me explicar todos os problemas dela com o pai dela, ou o contrário. “Sei que parece ridículo, mas era importante para mim. Não ia mudar nada, mas era importante para mim.” Não podia fazer muita coisa além de dar um apoio moral. “Família é foda.” E tinha tanta gente rindo em volta, entrando e saindo de todas as portas, que ficar ali escutando lamúrias enquanto o pó atingia violentamente o lóbulo frontal me fazia sentir como se o fim estivesse próximo. “Vamos andar por aí. Quero ver a galera.” Com uma cara de ‘eu tenho pó para a gente cheirar a noite inteira’ ela veio atrás de mim.
    Passando pelo corredor vi o Zé, a Mari e o Canário cortando um pedacinho de papel bastante suspeito. “Vai sobrar um quarto, quer?” “Corta em dois que divido com a Sheila.” “Tô de boa.” Dei uma golada no veneninho que tava carregando e passei ele pra frente. Depois coloquei o papelzinho debaixo da língua e fiquei só escutando a conversa para não correr o risco de ver o pedacinho do céu voar da minha boca numa risada inocente. “Gente, é como o Spud diz em Trainspotting 2, primeiro vem a oportunidade, depois a traição.” “Aqui não tem amigo, é tudo colega.” “Também não é assim, mas droga não é pão.” Aquilo tudo me parecia lavagem de roupa suja, e eu nem sabia de quem eram os trapos. Dei um pega no baseado que estava rolando, passei para Sheila, deixei ela lá na discussão e fui para os fundos.
    Surgi no quintal e a Paula veio correndo lá detrás gritando meu nome e se jogou em cima de mim. Perdi completamente o referencial e caímos os dois no chão rindo. Ficamos lá rolando e se trombando um no outro. O mundo girava para cá e para lá batendo meu cérebro como um liquidificador. Eu virava a cabeça para a esquerda rapidamente e sentia meu crânio puxando o olho para o lado quando travava o movimento e me virava para o outro lado. Era uma coisa tipo Helter Skelter dos Beatles com Cocaine do Clapton. A hora que levantei percebi que todo mundo ria da gente. A Paula me abraçou e me deu um beijo, mas acho que ela não estava preparada para minha língua. De repente ela se afastou, tossiu duas vezes e começou a vomitar.
    Talvez devesse ter feito alguma coisa, ou ter tido uma reação melhor que colocar a mão na cara e sair de perto rindo como se não tivesse sido a boca que eu beijei. Mas talvez fosse uma resposta da minha mente aos ataques de C16H16N2O2, ou a falta de foco da minha visão, mas não pareceu tão nojento quanto uma transcrição pode fazer parecer. Foi mais como se cada momento daquele fosse ser lembrado com glória e nostalgia quando eu fosse velho e pensasse nos bons tempos. Foi fantástico me sentir ali, vivo, vivendo in loco aquela história que eu contaria o resto da vida. A consciência de tudo isso era coisa do pó. Cheirei muito lendo Holden Caulfield tentando racionalizar os momentos simples da vida em cento e vinte e poucas páginas. Por isso que às vezes eu fico assim, pensando que tudo é histórico.
    A Sheila apareceu com mais uma rodada de farinha no prato. Não sei mais exatamente o que estava fazendo efeito, mas ao mesmo tempo em que me sentia leve não era fácil para a cabeça carregar o resto do corpo. Tinha um copo na minha mão e não sabia do que se tratava. Dei uma golada e vi que era forte. Foi quando me toquei que estava na cozinha, tentando me escorar na pia enquanto a Nati falava alguma coisa sobre a Bebida Púrpura do  Hans-Thomas ser, na verdade, uma espécie de morfina. Aquilo pareceu pesado demais até mesmo para mim, que saí de fininho e tentei me esconder no canto do sofá.
    Agora me sentia perto do Perfect Day do Lou Reed. Tudo já era só uma lembrança vazia de tempos que nem existiram. Esse vácuo de sentimento desceu para o meu estômago e começou a assar. Minha boca secou como se eu tivesse mastigado um rodo mop. Estiquei o braço e peguei uma lata de cerveja quente esquecida ao meu alcance. Respirei fundo, dei um gole, fiz um bochecho e deixei a mistura descer. Fui soltando o ar aos poucos para poder controlar qualquer reação adversa que aquela insensatez provocasse. Sobrevivi ao primeiro teste, mas o corpo pedia mais. Alguém sentou do meu lado e começou a bater uns tiros numa capinha de CD. De repente os apetrechos estavam na minha frente com alguém me oferecendo um tubo de caneta sem a carga. Mandei tudo para dentro e senti aquele gosto amargo descendo rasgando a minha garganta e abrindo uma marginal de acesso entre o meu nariz e o pulmão.
    Não conseguia mais distinguir se as pessoas falavam comigo ou só entre elas sem nem se darem conta que eu estava ali quase enterrado. Arrisquei mais um gole de cerveja e tentei me levantar do sofá. Fiz tanta força para me manter de pé que me caguei inteiro. Como ninguém falou nada achei que não tinham percebido. Eu era invisível. Mas sentia aquele fiozinho de merda mole escorrendo pela perna e o alívio no estômago que não me deixavam fingir que nada tinha acontecido. Me arrastei até o banheiro, tirei a roupa, deitei pelado no chão e fiquei vendo o teto rodar até tudo parecer que ia acabar bem.
  • Nem a lua nem a Ásia existem

    Camilo acordou na Guiána-Francesa. Estava calor, não havia nada para comer e a água sempre tinha um gosto amargo de remédio. O sol já invadia seus pensamentos e saia em forma de suor. Ele precisava cair fora dali de qualquer jeito, então foi para Noruega, que ficava no quarto ao lado e tinha um clima bem mais ameno. Trabalhou duro por seis meses como pescador de bacalhau, o que lhe conferiu grande autoridade para dizer aos quatro cantos que já tinha visto cabeça de bacalhau. Isso incomodou os Ministério da Cultura local que o mandou embora do país num voo para o Afeganistão. Lá ele se arranjou numa fazenda de plantações de papoula. As flores transportavam Camilo para uma realidade onde não existia tristeza ou dor. Ele aprendeu tão rápido como manipular aquela maravilha da natureza que rapidamente foi elevado ao posto de leão de chácara, se tornando braço direito do Xeique que era dono de tudo. Cavalgava pelo campo estalando o seu chicote toda vez que uma pétala caia sem que o motivo fosse o propósito natural de uma flor, isso é, murchar. Sempre manteve uma postura dura com quem não tratava as flores com o carinho que elas merecem. Até que um motim foi organizado por um refugiado Sírio e ele fugiu por um buraco para a Holanda junto com o Xeique. Chegando lá ampliou seus conhecimentos agrícolas para plantações de maconha. Os dois conseguiram comprar um grande área no sul de Amsterdã e começaram a cultivar a erva em grande escala.
    Seu interesse pela canabis o levou ao consumo. Pensando melhor sobre como conduzia seus negócios decidiu pagar um salário justo aos trabalhadores e não mais usar o chicote enquanto caminhava calmamente pela plantação. Mesmo com o aumento exponencial da produção, suas novas práticas não agradavam seu sócio. Quando Camilo tentou estabelecer um gerenciamento horizontal do negócio o Xeique passou a conspirar contra ele, boicotando a própria plantação com uma praga de spidermites. Depois do fracasso na colheita ele virou hippie e decidiu viver nas ruas do distrito de Haight-Ashbury em São Francisco. Lá começou a tocar violão na rua e conheceu um gaitista chamado Bill. Os dois tocavam na calçada por algumas moedas até que a pós-modernidade os atingiu como uma bala de canhão destroça uma barquinha. De repente Camilo estava tocando nos maiores palcos da América ao lado de lendas como Bob Dylan, Hendrix e cia. Ele fritava no palco. E foi justamente entre Purple Haze e Blow in the wind que ele se perdeu numa pequena cidade do norte, e de lá pegou um ônibus para Chicago, onde serviu de cobaia remunerada para uma companhia farmacêutica testar uma nova droga. Os efeitos colaterais apagaram a segunda metade de sua memória, o que fez ele automaticamente retroceder para a primeira. Camilo se sentia um jovem preso num corpo velho e cambaleante.
    Depois de, pela segunda vez, submeter seu corpo a todas as experiências existenciais possíveis a alguém com vinte e poucos anos, Camilo decidiu que precisava recuperar seu passado. Para isso passou por um ritual xamânico para entrar na toca do coelho e voltar no tempo para descobrir o que tinha esquecido. Ciente de passado, presente e futuro, percebeu que o melhor era não saber de nada. Fugindo de si mesmo ele se isolou num antigo templo religioso no Senegal. Através de Fa Kébeté, um ancestral muito renomado, aprendeu técnicas tântricas de meditação que o levaram a se sentir o próprio Holden Caulfield procurando por seu lugar no universo. Depois de dois longos meses explorando sua caverna interior ele foi apresentado a Ndooy, um sipikat de um vilarejo próximo que tinha o contato dos maiores produtores de yamba do país. Camilo se abasteceu com dois quilos de erva e centenas de sementes e se mandou dali para rumo ao paraíso da Austrália. Arrumou um lugar no deserto onde pudesse plantar suas sementes. Os aborígenes o receberam muito bem, assim como um colono, Stewart, que começou a levar a djamba de Camilo para a Europa as toneladas. O negócia ia tão bem que ele e o inglês abriram uma empresa de transporte de cargas marítimas para poder controlar melhor a distribuição. Mas quando os dois foram surpreendidos por piratas do governo em uma de suas rotas os dois tiveram que pular do navio. Então os dois mergulharam no Atlântico para emergirem no canal do Panamá. Lá receberam o apoio de Noriega para continuarem operando com sua mercadoria através do canal. Estabeleceram a plantação no sul do país e aproveitaram o clima favorável para expandir seus negócios por toda América.
    Numa noite, tendo uma conversa com Stewart, revelou que estava cansado de tudo e que queria ir embora para casa, apesar de não se lembrar de onde ela fica exatamente. O colono argumentou que ele ia perder muito dinheiro, e que poderia ser preso, seja lá para onde quer que fosse. Mas Camilo não queria mais ter que esconder de ninguém o que fazia e porque fazia, e abriu uma igreja para Jah no centro da cidade, onde recebia vagabundos, drogados, doentes e pais de família. Durante os cultos todos fumavam maconha, repetiam o mantra da liberdade e oravam para que uma força sobrenatural interviesse nas suas vidas. Mas a relação de Noriega com o poder azedou, e a guerra e o povo invadiram as ruas. Com medo dos revolucionários que pregavam ordem e progresso Camilo se escondeu no banheiro e, descendo pela privada, chegou até o Brasil e, em plena hora do rush, surgiu de um cano de esgoto no Rio Tietê. Assustado, e sem amigos, se escondeu no mundo debaixo de uma ponte da Marginal Pinheiros, onde foi preso e levado para o Hospital Vera Cruz para tratar seus vícios. Numa manhã de domingo percebeu que nunca havia acordado na Guiána-Francesa.
  • No limbo

    Quando dois indivíduos estão de acordo em tudo, certamente há um que pensa por ambos.
    Não era o caso de Mila Cox e Zími, parceiros musicais na banda Crop Circles.
    Zími costumava dizer que a única pessoa que o faria estar no Rock até agora era Mila Cox.
    Sua saúde agora sofria um pouco mais com o rolê, então procurava reduzir os danos.
    Eles haviam tocado em Catanduva no dia anterior.
    Toda vez que voltavam de uma gig, Cox, de vinte e um anos, sentia necessidade de fazer alguma música nova. Geralmente inspirada por algum acontecimento ocorrido durante o último rolê.
    Então, quando já estavam de volta a São Paulo, Zími, quarenta e seis anos, estava em frangalhos pelo desgaste da viagem, feita de Kombi.
    Para ele era necessário que o dia seguinte a esses shows fora da cidade fosse destinado à recuperação e reflexão.
    Como Zími não tinha filhos, vivia focado na autogestão. É um projeto antigo em sua vida, que na fase embrionária o fazia pensar nas despesas e no desgaste que seus pais viveram para que ele existisse.
    Não havia motivo para pensar em montar uma família convencional, porque ele já havia nascido numa delas.
    Zími prezava por tempo, energia e dinheiro.
    O dinheiro sempre foi o mais escasso entre esses recursos, e não podia ser mal investido.
    Frequentava bocas de rango para economizar e se locomovia de bicicleta. Nunca teve carro e nem pensava em ter um.
    Viver sem o mínimo de aventura àquela altura seria uma aposentadoria precoce da vida. Não estava mais na fase de usar cocaína para acordar e bebida alcoólica pra dormir.
    Agora esperava para beber depois dos shows, e apenas à noite nos dias comuns.
    Era para si o pai e o filho. Conseguia entreter a si mesmo com seu próprio cotidiano.
    Queria ter paz, mas sabia que não a encontraria evitando a vida.
    Ele sugeriu que sempre que a distância do local de algum show fora de São Paulo fosse maior que duzentos quilômetros, incluíam na logística o gasto com um hotel simples, ou algum tipo de hospedagem, de preferência na casa de alguma pessoa local com a qual se identificassem.
    Mas como dessa vez não descolaram um hotel barato, e até o dia do show não conheciam pessoalmente a promotora da festa, dormiram na Kombi do amigo e vizinho uruguaio Silvano, que também tocou no mesmo evento.
    Silvano, quarenta e nove anos, é uma banda de um homem só, e toca uma mistura de Punk Rock, Rock a billy e Blues.
    Com o tempo, depois de lançar algumas músicas elogiadas na internet e ter conseguido prensar uma coletânea em vinil, ganhou confiança e o desejo de deixar seu som um pouco mais sofisticado, por conta da influência de Alex Chilton e Van Morrison, seus grandes ídolos.
    No dia daquele show, ele estava parecendo o Ray Davies no começo do clipe de 'Do it again'.
    Ele morava no apartamento ao lado daquele que Mila Cox dividia com Zími, no bairro da Liberdade.
    Nesse show que fizeram no interior, que era numa festa particular de aniversário, receberam cachê.
    Eles precisavam do dinheiro para os gastos que tinham com a manutenção de instrumentos e equipamentos.
    Uma garota que vivia num condomínio de classe média alta em Catanduva chamou artistas do rock alternativo paulista para tocarem em seu aniversário.
    Certa vez,ela tinha visto um show dos Crop Circles num bar em São Paulo e gostou. Tinha o contato de Mila Cox e logo a acionou.
    Mila Cox, Zími e Silvano foram convidados para dormirem na casa da aniversariante depois do show, mas já tinham decidido que seria melhor enfrentar o desconforto de dormir na Kombi do que dormir na casa de alguém cujos costumes são desconhecidos, e principalmente para não causar estranhamento a uma família tradicional de classe média.
    Para piorar, descobriram assim que chegaram que a menina era filha de um militar, que logicamente fora adestrado a vida toda, e impunha aos filhos suas filosofias obtusas.
    Numa conversa que tiveram naquele dia, constataram que a garota se rebelava contra os valores bélicos e de ódio defendidos pelo pai, e isso por si só era uma vitória.
    Depois do fim da festa, pararam a Kombi perto de um posto de gasolina onde havia uma loja de conveniências que não fechava, e usavam o banheiro que havia ali até que estivessem em bom estado físico para pegar a estrada de volta para São Paulo, depois de amanhecer.
    Esses shows com cachê eram raros para eles, e precisavam fazê-los quando surgiam, mesmo que o público não fosse tão compatível com a proposta musical que apresentavam.
    O principal argumento de Mila Cox em relação à necessidade de shows com cachê era o alto preço das cordas para contrabaixo, que é seu principal instrumento.
    Para se sustentarem, tinham trabalhos remunerados.
    Mila Cox e Zími são copywriters e trabalham em casa. Silvano faz carretos e entregas com sua Kombi.
    Não se tratava, portanto, de sonhar com fama e fortuna através da música. Era muito mais uma questão de abalar certas estruturas o máximo que pudessem.
    O fato de o Brasil ser o túmulo do rock os incentivava, ao invés de desanimá-los.
    Não existia para eles o desejo de mudar o mundo. O que importava era ser oposição aos patéticos costumes de normalidade estabelecidos, e um dia talvez serem lembrados por isso.
    Assumiam-se como parte de uma minoria que despertou cedo contra a ridicularidade do senso comum, que dava atenção a casamentos e separações marqueteiras e oportunistas de cantores e cantoras picaretas que emporcalham o mainstream, em espetáculos que transbordam vulgaridade e ostentação.
    A distância da capital para Catanduva não é absurda, mas os quase quatrocentos quilômetros da ida e mais os quatrocentos da volta, depois de dormirem poucas horas nos bancos de trás da Kombi deixaram Zími cansado, e isso ficou claro no dia seguinte.
    Não foi um show comum para eles.
    Parte do público era composto por motoqueiros que não tinham o perfil do público que costumava gostar da banda.
    Não pareciam ser apreciadores de rock alternativo.
    Aparentavam gostar de clássicos do rock, músicas famosas,tocados por bandas cover e rádios FM.
    Zími e Mila Cox acharam que havia ali, de forma parcial, um clima reacionário.
    Ao contrário de Zími e Silvano, Cox quase nunca bebia antes dos shows.
    Ela era adepta dos cogumelos mágicos, e parecia estar sempre bem nos momentos que exigiam responsabilidade, bom senso e espírito elevado.
    Deixava para tomar alguns drinks depois de encerrar as apresentações, evitando excessos, principalmente em público.
    Mas naquele dia Zími e Silvano a viram tomar duas doses de tequila minutos antes de subir ao pequeno palco que os deixava quase na mesma altura da platéia.
    Silvano tomava a tequila naquele momento, porque já tinha feito seu show, abrindo o evento, ainda durante o dia, e só teria que dirigir de volta para São Paulo na manhã seguinte.
    "Fodeu, ela vai aprontar alguma!" - disse Zími para Silvano.
    Zími já segurava suas baquetas, a Silvano estava sem camisa, com uma toalha sobre os ombros, tomando a tequila que havia levado, enquanto vendia seus discos, cópias em vinil de sua coletânea de singles lançados antes na internet.
    Assim como Zími, Silvano agora esperava momentos oportunos para beber.
    Ambos pareciam agora congregados marianos, se comparados ao que eram quando mais jovens.
    Mila Cox e Zími subiram no pequeno palco, bem próximos ao público, e ela disse, antes de iniciar a primeira música:
    "Nós não vamos tocar 'Free Bird',nem 'Smoke on the water' e nem 'Born to be wild'!!!"
    E começaram o show com uma música em português chamada 'A tortura nunca termina'.
    Os supostos reacionários apenas olhavam aquilo, embasbacados, pensando em como apenas aquela garota jovem e aquele tiozinho alto e magro conseguiam fazer um som tão estridente, estranho para eles, e ainda assim, consistente e convincente.
    Antes de iniciar a música seguinte, ela falou:
    "O fascismo é o triunfo da barbárie, e fazemos música pra manifestar nosso desprezo a essa tendência crescente e vergonhosa!"
    Depois deles veio o show de uma banda chamada Circa Now, que também fugia dos clichês, e por último, a banda Main Drags, que parecia imitar os Small Faces, mas também era legal.
    De volta àquele momento em que já estavam novamente em São Paulo, Mila Cox perguntou para um Zími quase prostrado, se ele tinha algum esboço de música nova.
    O esquema de trabalho de composição da dupla, formada por Mila Cox no baixo e vocal, e Zími na bateria e vocal, acontecia quando ela musicava letras escritas por Zími.
    Ele escrevia em forma de poemas, para ironizar os "poetas do rock", e ela musicava o texto, usando elementos barulhentos, pouco convencionais e menos ainda palatáveis aos ouvidos médios.
    Zími respondeu à pergunta de Mila Cox:
    "Estou em parte sossegado, porque lidar com aqueles motoqueiros gordos de bandana e barba que estavam no show não foi tão difícil. Eram topeiras que enchiam o cu de cerveja e queriam ouvir músicas conhecidas e palatáveis. Mas também estou preocupado com uma tendência monotemática que talvez a gente esteja tomando. Temos falado sobre como a sociedade é podre, como a maioria das pessoas é escrava sem nem ao menos saber disso, sobre como toda a classe política é podre, que a mentalidade da classe média é desprezível, e repetindo sobre a necessidade de abaixar as calças de ídolos inatingíveis e mijar em tótens corporativistas."
    Com muito sacrifício orçamentário, Zími pagava desde os dezoito anos a previdência social, para que um dia recebesse aposentadoria.
    Tinha quarenta e seis anos, e dizia sentir no ar o peso dos anos que faltavam para que pudesse estar aposentado, ainda que recebendo um valor modesto, para poder dedicar mais tempo à música.
    Minimalista que era, pretendia que essa dedicação à arte fosse em tempo integral.
    "Se você não quer repetir os temas, pode então tocar música instrumental, tocar jazz, por exemplo, sem letras nas músicas. Aí teria que tocar melhor, e seria um instrumentista de verdade e não apenas um tocador de bateria. Duvido que queira escrever sobre outros temas."
    Zími falou:
    "Você tem alguma sugestão de pauta pra próxima música?"
    Então contou para Zími o que havia presenciado até minutos antes, na padaria.
    Bueninho, como era conhecido Almir Bueno ,folclórico vizinho do prédio em que moravam, tinha marcado um rolê com uma mulher. mas estava atrasado e tão horrendamente bêbado, que se conseguisse chegar ao seu apartamento, poderia se considerar detentor de uma façanha olímpica.
    Dentro do apartamento, ele havia perdido a guerra para os percevejos.
    A coisa chegava ao ponto dele não se sentir em casa, mesmo estando em seu apartamento.
    Então Zími falou: "Nossa, ele está todo cagado! Você acha que isso é tema de música?"
    Mila Cox: "Pode ser, dependendo da forma como você trabalhar o tema."
    Zími: "Será que ele ainda está na padaria?"
    Mila Cox: "Caso ainda esteja, seu estado deve ser o mais calamitoso possível. Quando eu subi, ele já estava bem feio."
    Zími: "A coisa mais louca dessa história é que ele de fato consegue algumas mulheres. Sempre fica bêbado no rolê, mas dessa vez ele queimou a largada."
    A repetição dos temas abordados nas músicas era, a princípio, uma característica da banda que tinham juntos, que na verdade era uma dupla, formada por Mila Cox no baixo e vocal, e Zími na bateria e vocal.
    Compensavam isso com a diversificação dos elementos musicais que usavam em diferentes músicas. No fim das contas, o gênero era o chamado Noise, mas que podia conter até partes jazzístícas em alguns momentos.
    Ele escrevia as letras e ela as musicava, com elementos barulhentos, pouco convencionais e menos ainda palatáveis ao ouvido médio.
    Com muito sacrifício, Zími pagava desde os dezoito anos a previdência social, Tinha quarenta e seis, e dizia sentir no ar o peso dos anos que faltavam para que pudesse receber uma aposentadoria, ainda que ínfima para poder dedicar mais tempo à música. Minimalista que era, pretendia que essa dedicação à arte fosse em tempo integral.
    "Vocè pode então tocar música instrumental, tocar jazz, por exemplo, sem letras nas músicas. Aí tocaria melhor, e seria um instrumentista e não apenas um tocador de bateria. Duvido que queira escrever sobre outros temas."
    Zími falou:
    "Você tem alguma sugestão de pauta pra próxima música?"
    Então contou para Zími o que havia presenciado até minutos antes, na padaria.
    Bueninho tinha marcado um rolê com uma mulher. estava atrasado e tão horrendamente bêbado, que chegar ao seu apartamento, no prédio em cima da padaria em que ele estava, seria olímpico.
    Dentro do apartamento, havia perdido a guerra para os percevejos.
    A coisa chegava ao ponto dele não se sentir em casa, mesmo estando em seu apartamento.
    Então Zími falou: "Nossa, ele está todo cagado! Você acha que isso é tema de música?"
    Mila Cox: "Pode ser, dependendo da forma como você trabalhar o tema."
    Zími: "Será que ele ainda está na padaria?"
    Mila Cox: "Caso ainda esteja, seu estado deve ser o mais calamitoso possível. Quando eu subi, ele já estava bem feio."
    Zmi: "Eu tinha em mente escrever sobre o fato de que quando nascemos, o mundo já estava todo cagado e nossas circunstâncias permitiam que, na máximo, cada um fizesse individualmente essa mudança. É pouco encorajador, porque em casa e na escola, éramos lançados pra viver numa normalidade que justificava o lodo em que a humanidade estava atolada. Mas já fizemos várias músicas sobre isso."
    Mila Cox: "Aprenda a tocar Jazz, compre um terno e inicie uma nova fase na carreira. Eu manteria o nome da banda e seguiria, com uma bateria programada. Não seria a mesma coisa, mas eu já pensei nisso porque não sei até onde você tem saco pra fazer as coisas que é obrigado quando temos show marcado. Fico pensando se não é essa vida que te faz beber tanto."
    Zími:"Isso é justamente o que me move pra esse rolê improvável pra um brasileiro da minha idade. A balada está pronta. Cheia de junenis descontrolados que me fazem lembrar de quando eu tinha a idade deles e fazia muito pior, porque as pessoas não tinham naquele tempo as bolhas que tem hoje pra se isolarem, que são os celulares. Antigamente não era melhor. Era uma merda também, por outros motivos. Mas agora a tecnologia permite a formação de bolhas até, e talvez sobretudo, em mesas de bar."
    Mila Cox: Escreva sobre isso!"
    Zími: "É tema repetido!"
    Mila Cox: É repetido, mas é relevante! Mude as palavras e repita o tema! Você escreve bem! Fez faculdade de Jornalismo!"
    Zími: "Sim, as pressões quando eu tinha dezoito ano eram grandes pra que eu estudasse. Diziam que se eu não me formasse, me tornaria morador de rua, ou na melhor das hipóteses um escravo assalariado e explorado até o tutano, e ainda teria que agradecer pela oportunidade. Mais tarde veio a internet e estamos vendo como as falhas de comunicação por falta na escrita são destrutivas."
    Mila Cox: "Eu sofro pressão pra entrar na faculdade também, Principalmente da minha avó."
    ZÍmi: "Quando eu tinha a sua idade, já estava terminando o curso de jornalismo. Nunca precisei mostrar o diploma pra ninguém. No seu caso, é algo dispensável. Provavelmente você não precisa mesmo. Sei que de uma forma ou de outra, você é obrigada a estudar de qualquer jeito. Eu vejo você estudando todos os dias. Mas no meu caso, a formalidade do diploma era algo indispensável. Eu sinto como se uma dívida com a sociedade tivesse sido paga, como se o que eu dizia tivesse mais credibilidade por causa da graduação. Até mesmo pelo fato de você atribuir minha capacidade de escrita ao curso de Jornalismo. Mas eu acho que você não precisa disso. O Hemingway foi pra Primeira Guerra Mundial com dezessete anos, como voluntário, ao invés de ir pra faculdade. E você se envolveu num projeto de autogestão, que as pessoas comuns considerariam inviável de acordo com a normalidade que essas pessoas vivem. Sem dúvida é uma afronta até pra sua geração. Então, imagine pra sua avó o que isso significa! O conservadorismo pode vir por questões geracionais. A transição pro mundo com internet deixou muita gente no passado. Muito lixo também veio à tona, porque agora qualquer retardado tem voz ali, o que se tornou uma regra. Já cheguei a pensar que corríamos o risco de sermos cancelados em algum momento por ofender gente imbecil. O cancelamento é a arte do medíocre."
    Antes que Mila Cox respondesse alguma coisa, Silvano entrou no apartamento deles para mostrar sua música nova, chamada 'Bones', que na avaliação de Mila Cox e Zími, tinha potencial para se tornar um clássico do underground, e potencializou a vontade de Cox de fazer mais uma música inédita.
  • Nosso Amor - PARTE 1 - A Garota Perfeita

    THEO
    Memories fade
    Like looking through a fogged mirror
    Decisions to decisions are made and not bought
    But I thought this wouldn't hurt a lot
    I guess not"(*)
    - "Kids", MGMT
      Acordei assim que meu detestável celular começou a fazer barulho. Eu gemi, peguei o objeto e desativei o modo “despertador”, me sentei e espreguicei-me, controlando a vontade quase irresistível de voltar a dormir.
      Eu levantei e andei lentamente – muito lentamente - até o banheiro, fechando a  porta em seguida. Me livrei da bermuda que vestia e tomei um banho quente. Depois de desligar o chuveiro, me sequei e enrolei a toalha em volta da cintura.
      Fui para meu quarto – mais lento ainda -  e vesti minha calça jeans desbotada e rasgada, meu uniforme e calcei meus tênis sujos e gastos, peguei minha mochila, tomei meu café da manhã, meus remédios e meu pai me levou para a escola de carro.
      Cumprimentei todos os meus amigos quando cheguei, eu podia ser considerado um menino “bem conhecido”, estudava aqui desde o 1° ano do Ensino Fundamental, já tinha dado tempo de conhecer muita gente que veio e ficou ou já se foi.
      Fui direto para a arquibancada, onde meu melhor amigo já me esperava. Subi até o último degrau, fizemos nosso aperto de mão particular e me sentei ao seu lado.
      ─  Como foi o final de semana, meu querido Theodoro? ─  Pedro perguntou, já recebendo um soco meu, odiava que me chamassem pelo nome (meus pais tinham um certo fascínio por nomes ridículos).
      O inverno havia acabado de chegar, e aquela manhã de segunda-feira estava insuportavelmente fria. O tom do céu projetava um tipo estranho de melancolia por todo aquele lugar.
      ─  Normal ─  respondi, jogando a mochila para o lado ─  Saí no sábado, mas fiquei o dia inteiro em casa ontem.
      ─  Que saco.  ─  disse meu amigo, começando a mudar de assunto.
      Mas eu não prestava mais atenção nele. Estava olhando para a garota que acabara de chegar. Joanna. A menina perfeita, de jeito meigo, risos contagiantes e muito bela. Era assim que eu a via. Claro que sabia que era impossível alguém ser completamente perfeito, eu tinha em mente que ela possuía defeitos. E, ainda assim, sabia que estava perdidamente apaixonado por ela.
      Eu a observava de longe há alguns meses, sempre prestando atenção em cada pequena coisa que ela fazia. Notava que ela não usava roupas de manga curta – mesmo no verão – e que chorava dentro do armário de bugigangas que ninguém mais usava na Quadrinha Abandonada da escola. Sabia o caminho que ela pegava para ir para casa – era o mais longo, sempre ia pelo caminho ao contrário (somos vizinhos).
      ─  Ei, você ouviu? ─  olhei para Pedro que chamava minha atenção ─  Você ouviu o que eu disse?
      ─  Não. O que é? ─  perguntei.
      ─  Eu fiquei com a Kayla. No final de semana.
      ─  Ah ─  suspirei e voltei a olhar para Joanna ─  Que legal.
      ─  Você não está nem aí!
      ─  É, não estou mesmo.
      Meu amigo bufou e se deitou, apoiando a cabeça em sua mochila. Depois de alguns segundos começou a tagarelar sobre outro assunto. Eu ainda não queria prestar atenção.
      Joanna estava sentada, abraçando os joelhos e olhando para o nada, enquanto as amigas estavam à poucos centímetros dela, rindo e conversando sobre coisas divertidas. Mas ela, não. Parecia estar isolada do resto do mundo. Eu queria saber o por quê.
      ─ Theo! ─  Pedro gritou no meu ouvido.
      ─  O que é, porra?! ─  gritei de volta.
      ─  A despedida de solteiro vai ser em dois meses.
      ─  Que despedida de solteiro?
      ─  A do meu primo.
      ─  Que primo?
      ─  Cara, te mandei o convite faz duas semanas!
      ─  Mas ainda faltam dois meses!
      ─  É pra confirmar presença, seu idiota. E você precisa ir.
      ─  Onde vai ser? ─  perguntei, não ligando muito para a resposta.
      ─  Na Casa dei Ciliegi ─  respondeu, orgulhoso.
      Meu coração quase parou – literalmente.
      A Casa dei Ciliegi era a casa noturna mais cara do país, além de ser um lugar muito misterioso, apenas os homens podiam entrar. As normas do lugar eram mais esquisitas ainda: seu celular era confiscado, para ter certeza de que você não tirou nenhuma foto quando estava lá dentro (pois é, que tipo de casa noturna faz isso?), eles também não davam muitos detalhes do interior do lugar. E era por isso que os homens iam, por curiosidade.
      ─  Tá falando sério? ─  perguntei, quase sem acreditar.
      ─  Pois é, querido amigo. Vamos adentrar o paraíso das mulheres nuas por uma noite.
      O sino tocou, anunciando que todos os alunos deveriam ir para suas salas. Eu peguei a mochila, esperei Pedro se levantar e fomos para nossa sala.
      Enquanto as aulas ocorriam diante de mim, ficava pensando que aquela segunda-feira era a mais tediosa de toda a minha vida. Assim como pensava todos os dias.
      Não conseguir trocar nem ao menos uma palavra com Joanna me deixava deprimido. Eu desejava falar com ela todos os dias, por horas, aproveitar cada minuto e segundos da presença dela. Por isso, dentro da sala de aula, gostava de pensar em cada detalhe de seu rosto: os olhos grandes – um pouco puxados no final -, a boca carnuda, levemente rosada e mal desenhada, seus cabelos castanhos – ondulados e volumosos -, o nariz um pouco largo, as bochechas cheias, sobrancelhas profundamente negras – igual aos cílios enormes e bem curvados -, os olhos castanhos claríssimos que ficavam laranjas quando o Sol os encontravam e a pele branca como as nuvens.
      Eu achava ela a criatura mais linda que já vira. Queria tocá-la, abraça-la e beijá-la até sua respiração cessar.
      Quando o último sino, anunciando a hora da saída, tocou, não vi Joanna em lugar algum. E isso se estendeu por um mês inteiro.

      UM MÊS DEPOIS
      Durante um mês as pessoas não sentiram falta da presença dela. Quando eu perguntava à alguém da sala do segundo ano sobre Joanna, ninguém ao menos se importava em me dar uma resposta séria. As tão queridas amigas não sabiam onde ela estava, e nem queriam saber.
      Tudo aquilo era muito estranho e triste.
      Cheguei em casa ao meio-dia e logo me sentei para almoçar. Enquanto comíamos, minha irmã mais nova – Améllie – contava como fora seu dia na escola, e meu irmão mais velho – Dexter (pra ficar menos ridículo, a gente chama ele de Dex) – reclamava da desgastante rotina da faculdade. E eu apenas comia em silêncio.
      ─  Como foi seu dia, querido? ─  perguntou minha mãe.
      ─  Entediante. ─  respondi.
      ─  Você sempre diz isso. ─  riu, sem humor.
      ─  Porque é entediante todos os dias.
      Assim que o jantar terminou, eu e Dex lavamos a louça e limpamos a cozinha, enquanto Améllie gritava de dois em dois minutos que já estava na hora de ir para cama. Ela sempre fazia isso para que eu a levasse para seu quarto e lesse um livro infantil para que ela conseguisse dormir.
      ─  Vamos, Li ─  virei-me e ela se jogou nos meus braços ─  Qual livro você quer dessa vez?
      ─ O Senhor dos Anéis: As Duas Torres!
      Digamos que eu estava refinando o gosto dela pela leitura.
     


      ─  Está com algum problema na escola? ─  minha mãe perguntou baixinho, assim que entrou no meu quarto e se sentou ao meu lado na cama.
      Ela começou a fazer carinho nos meus cabelos.
      ─  Na verdade, não ─  eu respondi.
      ─  Então, por que está agindo estranho ultimamente? Já faz mais de um mês que está estranho.
      Eu vi a preocupação e o medo nos olhos dela e me senti muito culpado. Um dos grandes amores da minha vida era a minha mãe. Deixá-la preocupada era quase um castigo.
      ─  Mãe, eu estou bem ─  insisti. ─  Só estou cansado da escola.
      Alguns minutos, depois de forçar ela a acreditar que eu realmente estava bem, ela saiu, deixando-me sozinho para ler um livro que estava começando a gostar. Mas, mesmo que o enredo fosse o mais interessante, não conseguia pensar em mais nada além da garota que costumava observar todos os dias. Sentia falta dela.



      NO DIA SEGUINTE
      Quando acordei na manhã de terça-feira decidi não ir à escola e voltei a dormir. Dez minutos depois, minha mãe entrou no quarto para me acordar. Eu acabei repetindo minha rotina diária mais uma vez. O que me fez pensar no quanto a vida era maçante e patética.
      Cheguei na escola cumprimentando os mesmos amigos do dia anterior, fui para a arquibancada com o mesmo melhor amigo do dia anterior e conversamos sobre o mesmo assunto do dia anterior. A única diferença era que eu, dessa vez, respondia.
      Estava tão interagido que quase mal percebi a presença nova e interessante ao meu lado. Quase. Ela, agora, tinha cabelos no tom de vermelho vivo. Olhei para as mãos da garota, o moletom, o par de calça surrado e rasgado, a curva de seus lábios carnudos... e mal desenhados.
      "Joanna."
      O sinal, para que todos fossem para suas salas, tocou. Então peguei minha mochila, deixei Pedro para trás e desci da arquibancada, seguindo os passos de uma Joanna quase irreconhecível.
      Em meio ao amontoado de pessoas, acabei a perdendo de vista. Suspirei e segui em direção às escadas. Subi o primeiro andar e, logo quando me virei em direção ao próximo lance de escadas, esbarrei com a menina na qual estava perseguindo. Joanna e sua bolsa caíram no chão, espalhando cadernos, livros e – eu vi, claramente -  um conjunto bem ousado de lingerie vermelha, quase do mesmo tom que o cabelo novo, com lantejoulas brilhantes.
      Eu olhei para os olhos dela – enquanto ela fazia o mesmo, ninguém em volta assistia, e eu notei que os olhos da minha querida estavam vermelhos e inchados. Ela me olhava como se estivesse pedindo ajuda, mas, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, juntou e guardou suas coisas ferozmente, ajoelhada no chão. Quando se levantou, eu disse:
      ─  Me desculpe.
      Ela virou-se de costas e seguiu escadas a cima para sua sala como se não tivesse escutado ou nada tivesse acontecido.
      Abaixo dela, parado, um Theodoro Albuquerque estava atordoado com o que havia acabado de ver.
      "Por que alguém traria um conjunto de lingerie vermelha para a escola?"
      E percebi que havia mais coisas das quais não sabia sobre a menina do que imaginava.
      Eu tentei prestar atenção na aula de Matemática, mas achava aquilo uma perda de tempo. Depois veio a aula de Filosofia, que era mais fácil de entender.  Quando o sino, anunciando o intervalo, tocou, saí quase que correndo para fora da sala. Queria ver Joanna.
      Fui direto para o pátio e a procurei por todos os lados. Não a vi em lugar algum. E estava preocupado, muito preocupado. Procurei-a por cada cantinho do pátio, perguntei às amigas dela – que não deram a mínima. Até que me dei conta de que não havia procurado no lugar certo.
      "O armário da Quadrinha Abandonada."
      Corri para dentro do prédio da escola, desci as escadas subterrâneas e abri o portão que sustentava uma placa com o aviso “NÃO ENTRE”. Fui até o armário e o abri devagar.
      Mas não havia ninguém ali dentro.


      UMA HORA E CINQUENTA E CINCO MINUTOS DEPOIS
      A chuva caía com muita força e rapidez, o que dificultava muito minha volta para casa. Apenas trinta segundos haviam se passado, mas eu já estava completamente encharcado, e insistia em andar lentamente. Estava perdido em pensamentos.
      Perguntava a mim mesmo se teria que aguentar mais um mês sem olhar para o rosto de Joanna, o que teria acontecido com ela, onde ela estaria e o que estaria fazendo.
      Todas essas perguntas foram respondidas no mesmo instante em que decidi olhar para frente.
      Ali, encostada no muro branco do pequeno mercado, uma garota de cabelos vermelhos – abraçando as próprias pernas e com a cabeça apoiada nos joelhos – chorava tão desesperadamente que, mesmo com os trovões, era quase impossível não ouvir o sofrimento misturado com as lágrimas.


    (*)Memórias desaparecem 
    Como olhar através de um espelho embaçado 
    Decisões por decisões são feitas e não compradas 
    Mas eu pensei que isso não doeria tanto 
    Eu acho que não 
  • O adeus aos porcos ou algo assim

    A estrada é terra e barro, o ar é podre e deixa tudo melhor, o rastro é sangue, mais 09 jovens foram encontrados mortos, todos cegos e com os corpos machucados, as notícias doem.
    Quanto devo ter andado? As pernas estão fracas, a água é pouca e o desejo vasto.
    - Enquanto todos estiverem cegos, surdos e mudos o desejo permanecerá intacto e o resto é pó - ecos e mais ecos, a dor do humano.
    - Vou contar a pior história de terro a vocês.
  • O amor eterno

    Três anos depois de entrar para faculdade de arquitetura Camila já sabia que poderia ser muitas coisas na vida, mas não arquiteta. Sentada em cima da mesa do Dr. Fernandes, com uma taça de vinho e a perna aberta, ela nem queria. Ele dispensou o copo de wiskey e posicionou sua cadeira de modo a não precisar abaixar muito para se enfiar em baixo do vestido de colegial dela. Em uns doze minutos ela tinha acabado com o serviço e em mais dez estava descendo o elevador do Business Money Tower. Passando pelo lobby perguntou para o Seu Antenor, só para ter assunto, “alguém mais me procurou?” Apenas o fato de ele responder mais que uma palavra já a preocupou. “Doutor? Não, mas hoje mais cedo veio um cara dizendo que era policial perguntando de alguém com o seu nome e muito parecida com a Senhorita.” “E o que você respondeu?” “Que não, mas ele disse que voltava.” “Obrigado querido, você é um amor. Se ele voltar de novo você me avisa, tá?” Ela pediu dando um beijo no rosto dele e comprimindo seus peitos na cara dele.

    Sempre que estava com o pé rua ela olhava para todos os lados para tentar se certificar que ele não estava atrás dela. Paulo estava esperando na entrada do flat, sob o olhar atento e preocupado do porteiro. “Vamos conversar?” “Nós já falamos tudo que tínhamos para falar. Por favor Paulo, vá viver a sua vida.” “Minha vida é com você. Isso não esta certo!” Com a ordem de segurança nas mãos, que dizia que ele não podia se aproximar mais que 50m dela, Camila advertiu em tom sério: “Se você não sair da frente do prédio eu vou chamar a polícia.” “Não adianta Dona Camila. Ele fica sentado ali na curva olhando.” Interveio Manuel do alto falante ao lado do portão. “Vai cuidar da sua vida porteiro de bosta!” “SOME DA MINHA VIDA!” Ela parou na portaria nervosa e falou para o porteiro: “Se ele estiver a menos de 50m da entrada do prédio chama e polícia e mostra isso para eles.” Ele pegou o papel e foi até o portão. “Ei, camarada, acho que você não vai conseguir mais nada aqui. Procura um bar longe daqui e enche a cara. Amanhã quando você acordar só segue em frente.” Ele saiu agitando o papel. Paulo andou uns metros na calçada, subiu numa árvore e começou a rezar. Ficava observando todos que entravam no prédio. Na sua cabeça os homens eram todos clientes de Camila, menos os gays, e as mulheres eram todas garotas de programa.

    Sem ter tempo a perder ela arrumou o apartamento e acendeu uns incensos. Construiu um ninho de amor na banheira com espuma, umas toalhas dobradas e pétalas de rosa. Colocou pilha no vibrador e deixou ele a mão junto com outros brinquedinhos. Pouco depois de terminar de se maquiar o interfone tocou. “Dona Camila? Posso deixar o Senhor Marcos subir?” “Sim Manu, obrigada.” “Olha, aquele outro esta em cima de uma árvore aqui do lado do portão dos carros. Já chamei a polícia mas eles não vieram. A Senhora quer que eu te ajude a resolver isso? Ele não vai mais querer chegar perto da Senhora.” Ela negou a oferta da surra e esperou a campainha tocar na frente da porta. Quando Marcos entrou ela já estava de cinta-liga e pronta para atacar. Ele tirou a roupa e foi para cima dela com tamanho apetite que não conseguiu chegar até o ninho de amor do banheiro. Só precisou do vibrador que Camila foi buscar com entusiasmo quando solicitado por ele. Ela prendeu uma cinta na cintura, encaixou o troço e fodeu ele com força. Ele se divertiu tanto que até se ofereceu para pagar uma pizza e bater o papo por metade do preço da hora. Ela topou e os dois só não dormiram porque Marcos tinha que ir buscar o filho na escola de inglês. Depois de dois clientes e um barraco Camila dormiu assistindo o jornal.

    Quando acordou de manhã estava preocupada com Paulo. Interfonou para portaria e perguntou para o Jonas, porteiro do diurno, se ele ainda estava na árvore. “Acho que não Dona Camila.” Ela tentou falar com a irmã dele para ajudar ele a seguir com a vida, mas ela não atendia mais as ligações desde que Camila pediu a ordem de segurança. Um tanto quanto insegura ela continuava tentando ajeitar a vida. A jornada ia ser tripla, sendo que só o último cliente ela atenderia em sua casa. O primeiro era um político do sul que gosta de transar minutos antes de reuniões importantes. Como ele tinha uma destas ela ia encontrar ele num hotel perto do centro de convenções. Depois almoçaria com uma amiga no shopping e iria para o consultório de um dentista na zona sul, para no fim da tarde encontrar o Marcos no flat. Não dava um passo sem tentar olhar para todas as direções em busca de Paulo. Era difícil se convencer de que ele não a estava seguindo.

    No caminho para o centro de convenções recebeu uma mensagem adiando o encontro. O prefeito tinha solicitado uma reunião e a diversão ia ter que ficar para outro dia, por que no fim da tarde a agenda de Camila já estava cheia. Com tudo, o almoço com Karen ganhou um pouco mais de tempo e as duas ficaram batendo perna no shopping. “Estou pensando em sair do flat e comprar um apartamento na zona sul. Quero independência do Marcos.” “Cuidado amiga, você já tem um ex louco atrás de você. Te disse para não aceitar dinheiro do Marcos sem sexo. Ele esta apaixonado por você.” “É diferente. O Paulo foi meu primeiro namorado, e eu a primeira namorada dele. Perdemos a virgindade juntos, ficamos dez anos juntos. O Marcos é casado, tem filhos, família. O que ele gosta em mim é outra coisa, e vou continuar dando, ou ele vai continuar.” As duas riram alto e todo mundo olhou. Vendo toda aquela felicidade Paulo não se controlou. Apareceu repentinamente detrás de uma pilastra e acertou dois tiros em Camila. Depois caiu ao seu lado e pediu desculpas antes de atirar contra a própria cabeça.

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