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LGBT,

  • 728571 passos

    Bom, conheci um garoto, o nome dele é Leandro, como ele é? ele tem um cabelo cacheado, em formas de caracol, deve ser tão cheiroso e macio, fico imaginando o cheiro todos os dias, acho que ele brigaria muito comigo, pois eu iria mexer e cheirar toda hora, aqueles olhos dele de "demônio" com os cílios enormes, aquele olhar que enxerga as profundezas que te deixa todo desconcertado, nem pode se esquecer daquela boca(deve ser tão macia e gostosa), com um sorriso que me encanta, amo os vídeos/fotos dele sorrindo, são os melhores, fico extremamente boiola, aquela altura de 1,80 , fico imaginando eu andando abraçado ou de mãos dadas ao lado dele com meus 1,65 todo baixinho, olhando para o rostinho dele ficando boiola e dando aquele sorriso bobo. Como nos conhecemos? bom comecei a seguir ele no instagram, ate que um dia ele postou um stories, que se tratava que ele usava a figurinha da xicara triste, e eu super me identifiquei e comentei, disso eu super gostei da vibe dele e começamos a conversar mais e mais, percebi que ele era um garoto diferentes dos demais pelo jeito que ele se  conversa, preocupa e se importa comigo, quando percebi virou uma rotina(Melhor rotina da minha vida) e quando não nos falamos eu fico péssimo, sempre que estamos conversando eu sempre fico dando sorriso com as bochechas vermelha, parecendo um tomate SAKFNSAFDSAKFNSA . e quando espero ele me responder, qual quer notificação que chega no celular, eu vou doido correndo atrás do meu celular( e quando é eu infarto),amo demais a nossas playlist/filme no rave, eu fico extremamente muito ansioso para que chegue a noite para a gente fazer a playlist, inclusive estou escrevendo escutando "Goodnight n go", nossa musica. fico o dia todo pensando nele, literalmente 24 horas, acordo pensando nele( me perguntando se ele esta bem ou dormiu bem), tomo café pensando nele( fanfico eu na cozinha fazendo o café de cuequinha e ele me abraçando pelas costa e me dando um beijo no pescoço e me dando bom dia, saudade de quando eu estava aprendendo a fazer café, e ele perguntava se eu tinha feito muito doce ou sem açúcar), almoço pensando nele( fico imaginando ele me ensinando a cozinhar, pois eu não sou muito bom não kfsanfksabnfsan), tomo banho pensando nele( imagino a gente tomando banho juntos, um lavando o cabelo do outro, a agua caindo sobre nossos corpos e a gente se beijando lentamente), janto pensando nele( imagino a gente jantando e conversando/dando risada de como foi o nosso dia), vou para escola e fico pensando nele( as vezes eu estou fazendo algo, eu paro e fico olhando para o nada, e começo a pensar nele, imaginando oque iriamos fazer se estudássemos juntos, durmo e sonho pensando nele( essa e a melhor parte, aonde eu mais fanfico, fico pensando e imaginando a gente dormindo, eu abraçando ele, uma mão debaixo da cabeça dele e a outro na cintura, com a cabeça no peito dele, minha perna entre as pernas dele), mas sempre tem um porem..., só de imaginar que estamos aproximadamente 728571 passos um do outro me deixa tão triste, meu maior desejo e encontrar ele, tocar ele, sentir o cheirinho dele, dar um abraço tão forte e não desgrudar, encher ele de beijinhos, ir no cinemas assistir filmes de terror, eu levando susto e te abraçando, fazer a noite do pastel, fazer skincare juntos, ir passear e fazer um piquenique no igapó, ir na  ponte de guarda chuvas, aonde ele disse que seria nosso primeiro beijo, escutar e dançar(a dança de centavos kassgdsgakfnsakfnsakn) álbuns da Lana Del Rey e ariana juntos, fazer aquele jantar surpresa para ele com a comida que ele mais ama(macarrão ao molho branco), só queria ter você por perto...
  • A História do Nosso Amor

    Capítulo 3: O Drone
    Era um sábado à noite e Paulo e Ana estavam no novo apartamento, ainda sem internet e sem TV. O clima estava tranquilo, mas ambos sentiam a falta de entretenimento.
    — Então, o que vamos fazer? — perguntou Paulo. — Sem TV, sem internet... Parece que estamos em um filme dos anos 90!
    — É verdade! Temos que arrumar alguma coisa pra fazer? — sugeriu Ana.
    — Alguma coisa? Tipo, colocar o drone pra voar?
    Ana olhou para Paulo com uma expressão travessa.
    — Beleza! Vamos lá!
    Os dois foram até a janela e ligaram o drone, que começou a voar. Depois de alguns minutos...
    — Amor, deixa eu pilotar um pouco! — pediu Ana.
    — Toma, diverte-se.
    Ana começou a controlar o drone, mas ela encosta o drone no fio do poste e perde o controle e bate no transformador de um poste, causando uma explosão.
    — Oh não! O que foi isso?! — exclamou Ana.
    As luzes do apartamento começaram a piscar e, em seguida, tudo ficou escuro. Um apagão tomou conta da cidade.
    — O que aconteceu?! — perguntou Paulo, assustado.
    — Eu não sei! Só vi a explosão! — respondeu Ana.
    Os dois começaram a rir nervosamente.
    — Acho que conseguimos mais do que apenas colocar um drone pra voar. Acabamos com a energia da cidade! — disse Paulo.
    — O que vamos fazer agora? — perguntou Ana. — Estamos presos no escuro!
    Nesse momento, ouviram barulhos de pessoas na rua.
    Alguém gritou na rua:
    — Alguém sabe o que aconteceu? A energia caiu em toda a cidade!
    — Acho que temos que confessar. Ou melhor, fazer uma fogueira na sala e contar histórias de terror! — sugeriu Paulo.
    — Se isso não fosse tão sério, seria hilário. Vamos acender algumas velas e aproveitar essa situação maluca! — disse Ana, sorrindo.
    Os dois começaram a procurar velas pela casa e logo estavam sentados no chão, cercados pela luz suave das chamas.
    — Então, qual é a primeira história da noite? Algo sobre como causamos um apagão na cidade? — perguntou Paulo.
    Definitivamente essa! — respondeu Ana. — E quem diria que nossa primeira aventura no novo apartamento seria tão eletrizante?
    E assim, entre risadas e histórias inventadas sobre como “roubaram” a energia da cidade, Paulo e Ana transformaram uma noite sem eletricidade em uma memória divertida que guardariam para sempre.
    “Veja mais sobre o apagão na cidade na próxima história, ‘Laços de Amizade’, capítulo 7, que postarei em seguida.”

    Nome: Paulo Roberto Soares
    Nascimento: 24 de setembro 1989
    Nasceu em: Marília, SP
    Mora atualmente: Presidente Prudente
    Nacionalidade: Brasileira
    Altura: 1,79 m
    Cor dos olhos: castanho escuro
    Cor/tamanho/textura do cabelo: Castanho escuro, um pouco abaixo dos ombros, ondulado
    Cor da pele: Branca
    Família
    Mãe: Elza Soares
    Pai: Gilberto Soares
    Irmãos:
    Curiosidades
    MBTI: ISTJ (Prático)
    Ele é um advogado renomado na cidade.
    Possui um canal no YouTube com um milhão de inscritos.
    Tipo sanguíneo: O negativo.
    Paulo, um advogado e youtuber. Depois de frequentar a Universidade Prudentina, ele lutou por reconhecimento antes de finalmente ter sucesso na carreira de Direito na cidade de Presidente Prudente. Ele e sua esposa Ana residem em um apartamento próximo ao centro.
    No dia a dia Paulo usa bastante camisa polo e jeans básico, mais como advogado está sempre usando ternos e gravata lisa.
    Quais redes sociais ela usa? Instagram, YouTube e Facebook.
  • A melodia do Silêncio

    DESTINOS CRUZADOS
    Naquela manhã fria, dois de setembro, havia pouca gente transitando no antigo galpão de madeira que servia como Terminal Rodoviário de Lovland.
    Todos os dias, dois ônibus se revezavam para levar os nativos que trabalhavam ou estudavam no Continente e buscar surfistas excêntricos que curtiam a ilha no final do inverno tresloucado, quando as praias ainda permaneciam desertas e as ondas ficavam mais traiçoeiras e quase congelantes para os padrões serenos e tropicais da sublime região.
    Ronan estacionou o carro no espaço que era destinado aos táxis.
    Ignorando os platinados sisudos que invadiam o inverno loveano fora de órbitas, os dois únicos motoristas cadastrados que serviam toda a ilha só davam as caras na alta temporada, quando Lovland fervia de turistas vindos da Cidade Cinzenta, além dos filhos desgarrados que aproveitavam as férias de julho ou dezembro para matar a saudade dos pais, dos amigos e de antigos amores esquecidos na ilha.
    Fechando o zíper da jaqueta de náilon azul-marinho até atingir a base do vítreo queixo pontudo, Ronan saiu do carro, apanhou as bolsas de viagem do ex-namorado que estavam no banco de trás e fechou a porta do velho Lada com força um pouco maior do que o habitual, fazendo o ferro-velho russo estremecer, como que pronto a se desintegrar por completo a qualquer instante.
    Num sussurro em alemão, Casber resmungou alguma frase de reprovação pelo ato do amigo, ignorando que Ronan jamais poderia ouvi-lo mesmo que ele gritasse todas as suas rabugices a plenos pulmões.
    Em silêncio, Ronan e Casber caminharam até o local de embarque. Faltavam oito minutos para a hora da partida. Ronan abraçou o antigo namorado, desejando-lhe em bailados feitos com as mãos que ele fosse premiado com uma boa viagem.
    Casber agradeceu o carinho, puxando Ronan para um forte abraço, beijando-lhe em seguida o alto da cabeça, gesto compartilhado desde que se conheceram há dez anos, quando tudo deveria ser belo e parecia ser eterno.
    Apesar de o relacionamento íntimo ter acabado há dois anos, ambos conseguiram manter uma saudável e produtiva amizade; situação quase impossível de suportar no mundo que insiste em afirmar que continua colorido.
    Entre o final de agosto e o princípio do mês sagrado, Casber passara alguns dias na casa de Ronan, recuperando-se após uma crise de estresse que culminou com seu desligamento definitivo da FrankHaus, um badalado escritório de arquitetura localizado no centro nobre de Downie, uma cidade sem cor que liga Continente à ilha. A dedicação de anos de trabalho transformou-se em pó quando houve a troca de alguns sócios da empresa. O último ano repleto de pressão e cobranças absurdas detonaram as forças do fiel colaborador, forçando-o a renunciar seu posto.
    Casber perdera a guerra de um jogo sórdido de interesses escusos.
    A cura veio com o merecido descanso físico de um espírito fatigado nos braços carinhosos do amigo que fora seu grande amor no passado.
    * * *
    O ônibus partiu debaixo de uma garoa muito fina.
    Pela janela embaçada, Casber soprou um beijo de despedida para Ronan, que retribuiu o singelo gesto com aquele típico sorriso tímido, ainda encantador.
    Ronan voltava para o carro, distraído, caminhando a passos lentos na direção do veículo creme desbotado, quando logo na saída do Terminal, sem intenção, acabou chutando uma pequena mochila de lona verde, fazendo-a parar a alguns centímetros longe do que parecia ser seu dono, um homem de físico derrotado que dormia sobre o chão ártico, encolhido debaixo de algumas folhas de jornal úmidas pela maresia.
    Impressionado, Ronan agachou, apanhando a mochila com delicadeza. O som de latas de alumínio compactadas debatendo-se no interior da lona gasta despertou o moribundo, ressuscitando-o de prontidão, ativo para defender aquilo que era sua féria da semana.
    Um olhar animalesco de um azul inacreditável fuzilou o rapaz de imediato.
    Desconcertado, Ronan segurava junto ao peito aquele saco velho e fétido. Seu corpo anestesiado não respondia ao bom senso de devolver de imediato o pertence ao seu legítimo dono.
    O selvagem levantou-se de um salto e apanhou a mochila da mão trêmula e delicada do rapaz. Com os gestos livres, Ronan passou a pedir desculpas na linguagem universal dos sinais, já que sua boca não podia emitir nenhum tipo de som compreensível às pessoas ditas “normais”.
    Acuado como um animal indefeso, Troglô gritou diversos impropérios em alemão ao rapaz bloqueado, que permanecia colado no vazio daquele pesadelo.
    Ronan não podia ouvir o que o homem materializava em ódio, mas seus olhos capturavam a fúria das palavras proferidas por uma boca repleta de dentes amarelados.
    Perplexo, Ronan buscou forças para quebrar o embaraço, abandonando o mais rápido possível aquela cena constrangedora. Por vibração, ele sentia o animal indomesticável bradando suas defesas e direitos em alto e cítrico som, chamando a atenção das raras pessoas que ainda transitavam no local.
    Ronan entrou no carro, deu a partida, ligou o aquecedor e disparou em seguida, segurando com custo as lágrimas do nervosismo. Desejava chegar logo em sua casa, deitar-se na sua protetora cama de casal e esquecer de uma vez o triste episódio.
    * * *
    A noite surgiu traiçoeira, chuvosa, decadente.
    Ronan despertou com o arrasto do caminhão de lixo que passava todas as sextas-feiras, oito em pontos milimétricos. Ele deixou o quarto e foi direto para o banheiro, largando camadas de roupa pelo caminho.
    Enquanto a água quente e a espuma de um sabonete com essências florais cobriam o corpo que gritava há milênios por alguns minutos de sol, Ronan não conseguia apagar Olhos Azuis da sua mente atormentada. Encolhendo seu remorso, imaginou um frio cortante que rondava sua casa.
    Isso o fez recordar a infância pobre vivida em Timboh, quando cobertores eram inexistentes itens luxuosos até os seus quinze anos de idade. Sacos de estopa protegiam ossos magros e desnutridos de uma numerosa família sem esperanças.
    Ronan sacudiu os cachos loiros debaixo da água escaldante, enquanto retirava o excesso de condicionador da cabeleira abundante.
    Ao acarinhar a felpuda toalha branca, Ronan já havia decidido que deveria recompensar aquele homem de alguma maneira, na esperança de aniquilar o mal-entendido fixo no ar matinal.
    Matutando os próximos passos, enquanto afofava o perispírito delgado após o banho revigorante, Ronan resolvera voltar ao Terminal Rodoviário e, certo de sua ousadia, esperava encontrar e trazer aquele excluído para o conforto dos seus domínios, dando-lhe um teto para viver, comida para se fortalecer e roupa limpa para se orgulhar, pelo menos até que Olhos Azuis pudesse dar um novo rumo à sua própria existência.
    Mesmo contrariando o bom senso, algo impetuoso pressionava a consciência de Ronan diante dos destinos cruzados. Ele não compreendia os motivos de sua empreitada. Apenas sentia pura obrigação de finalizar o que deveria ser feito.
    Ele sabia que Olhos Azuis estava à sua espera.
    Como? Não havia uma resposta lógica e concreta.
    Nem Olhos Azuis tinha noção de que seria confortado.
    Nem Ronan depositava confiança que tudo aquilo poderia dar certo.
    “Um desconhecido em minha vida”, Ronan meditou.
    “Também sou um completo estranho no caminho dele. Será mesmo?”, Ronan concluiu, deixando de lado as peripécias do acaso, concentrando-se dali em diante no seu ato de fraternidade.
    * * *
    Ronan morava sozinho há dez anos. Mesmo vivendo uma relação estável com Casber por quase oito anos, ambos nunca conviveram mais do que seis meses juntos debaixo do mesmo teto.
    Ronan viajava muito. Sendo Engenheiro Civil da Hösthbaden, sua presença física era exigida em diversas obras sob sua responsabilidade.
    Após nove anos de serviços prestados à Construtora, Ronan decidiu encerrar prematuramente a promissora carreira. Escolheu viver afastado do mundo social, deixando os poucos amigos, além da mãe e os irmãos, bem estruturados em Downie.
    Acreditando que sua missão de provedor já havia se encerrado, ele resolveu seguir um destino solitário, aceitando Lovland como refúgio. Um local perfeito para o isolamento voluntário.
    Casber era um badalado arquiteto e criativo decorador de ambientes. Era idolatrado tanto pelas tradicionais famílias endinheiradas quanto pelos novos-ricos que disputavam a supremacia no lado sul de Downie.
    O casal vivera uma relação turbulenta de encontros e desencontros, atrelados aos caprichos de agendas lotadas de compromissos profissionais e sociais.
    Os dois se conheceram durante um coquetel promovido pelo escritório onde Casber trabalhava, o qual Ronan participara representando sua Construtora.
    A união imprevista e imediata culminou numa longa noite de sexo no banco de trás do velho Lada, na praia mais bela da ilha de Lovland chamada Gobsun, conhecida como “praia dos amores perdidos”.
    Viveram tempos felizes, apesar do relacionamento exótico e fora de prumo. Aproveitaram ao máximo os parcos instantes de sossego e ócio, onde imperava o pouco diálogo unilateral da parte de Casber e muito sexo criativo da parte de Ronan, um verdadeiro mestre na arte da sedução e do uso divino de uma boca sobrenatural, uma língua gulosa e um corpo silencioso sedento de gritantes prazeres incontroláveis.
     
    ERROS E RECOMEÇOS
    Eu cochilava.
    Tentando mais uma vez sumir no vácuo do mundo, encolhido num canto rugoso e esquecido daquele Depósito de Passagem em obras, querendo esquecer as dores calcinantes provocadas pelo frio sobre minha pele áspera e o atrito do desprezo social carcomendo o interior dos meus ossos vitrificados, de repente pressenti a súbita presença de alguém pairando ao meu lado.
    Abri um pouco os olhos e notei um atrevido par de Adidas me encarando. Estiquei o olhar acima dos tênis e encontrei pernas finas escondidas debaixo de uma calça puída de veludo cotelê cinza escuro, quase negro.
    Acompanhei as duas varetas e fui elevando meus sentidos até meus olhos remelentos apreciarem uma fina jaqueta azul, onde a gola levantada cobria um queixo pontiagudo fincado num triangular rosto de um branco quase vampiresco, repleto de sardas.
    Meu olhar assustado encontrou afetuosos e tímidos olhos brilhantes avaliando meu estado quase terminal.
    “Então… você voltou”, pensei em alto e arrogante som.
    Lá estava o magrelo ladrãozinho do meu precioso alumínio, derramando piedade sobre mim.
    Como guardei aquela fisionomia?
    Não sei, não compreendo a mínima noção.
    Ele tirou a mão do bolso da jaqueta, esticando o bracinho para ganhar meu cumprimento. Contrariado, segurei seus dedos amornados e levantei o que restava do meu corpo estropiado, sentando e encostando minha falsa dignidade num relevo da parede glacial de madeira escura.
    “O que você quer?”, perguntei, ríspido.
    O rapaz começou a gesticular feito um dançarino de break. Eu não entendia patavina o que poderia significar aquela coreografia descomunal.
    “Ei, cara, você consegue me ouvir?”, nova pergunta sem nexo e mais um turbilhão de gestos rápidos invadiram meu espaço visual.
    Abaixei a cabeça, segurando-a com as mãos oleosas e imundas, expressando involuntária irritação por não conseguir dialogar com aquele sujeito afetado.
    O brancote tocou meu ombro, chamando minha atenção para um diminuto televisor último tipo que ele segurava em uma das mãos.
    Dedilhando sobre a tela numa velocidade absurda, em segundos pude conferir a seguinte frase brilhante, em letras garrafais:
     
    O meu nome é Ronan. Senti necessidade de me desculpar pelo infortúnio que nos envolveu hoje pela manhã. Você gostaria de vir até minha casa e sair desse lugar triste e frio?
     
    “Ir para sua casa?”, ironizei, perdido.
    Ronan observava minha boca. Tal ato me deixou desconfortável, como se ele pudesse traduzir meu hálito podre. Levou uma eternidade para eu me tocar que ele conseguia interpretar o movimento dos meus lábios rachados.
    Um lampejo de sorriso iluminou seu rosto agora corado. O rapaz voltou a escrever na tela do que eu julgava erroneamente ser um desses trecos chineses de última piratação.
     
    Sim, eu moro sozinho. Fique tranquilo, pois eu confio em você. Por favor, aceite meu convite. Em casa você vai poder tomar um bom banho, comer algo substancioso, vestir roupas limpas, descansar seu corpo e no dia seguinte poderá até vender suas latas de alumínio! (risos)
     
    “Pelo menos o mudinho tem senso de humor”, refleti, aflito.
    Não resisti e comecei a rir, incrédulo, da digital oferta anunciada.
    Meus olhos envergonhados avaliavam aquele trans… lúcido olhar de desejo por uma resposta positiva. Ambos sentíamos que a Senhora Confiança pairava no ar.
    Consciente que eu não tinha mais nada para perder ou sofrer, juntei minhas poucas coisas e coloquei em prumo o que restava dos meus ossos doloridos, segurando com muita força e leve desconfiança a mão daquele espécime mariano.
    No meu íntimo, gladiando contra o meu ser, eu reconheci que algo impossível me fez entregar meu destino a Ronan. Depositei a última expectativa em um candidato a Amigo. Eu quis acreditar que meus erros não poderiam me enjaular noutra enrascada. Dos meus deslizes eu aguardava apenas a chance de um recomeço, de um único acerto.
    A última esperança.
    * * *
    Ele abriu a porta de um Lada até que bem conservado do lado de dentro.
    Atento, Ronan percebeu que eu avaliava seu carro com desmedida curiosidade. Rapidamente novas palavras foram digitadas na tela mágica de cristal líquido:
     
    O carro foi um presente do meu finado pai. Não tenho coragem de trocá-lo por outro. Por isso, tento conservá-lo ao máximo, apesar das peças de reposição serem quase impossíveis de se encontrar aqui na ilha ou em Downie... além dos problemas típicos com a maresia (risos).
     
    Sorri para ele, demonstrando que eu havia quase aceitado seu carinho por aquela lata velha.
    * * *
    O trajeto do Terminal Rodoviário até a casa de Ronan transcorreu sem sobressaltos. O rádio despejava no ar canções de Minnie Riperton. Se ele podia ouvir pinceladas daquela voz abençoada pelo Criador eu não posso afirmar; mas algo me dizia que ele captava as emoções daquele diabólico timbre encantador.
    Eu não sabia como me comportar na presença de alguém que não ouvia e nem falava. Não era preconceito da minha parte, só total despreparo para tratar pessoas com características especiais.
    Durante o período em que fui obrigado a perambular pelas ruas, devo confessar que aprendi muito bem o que era ser visto como uma espécie de alienígena. É indescritível a dor da indiferença, do cínico descaso e do obeso desprezo. É algo muito além de qualquer intensidade de tortura física.
    Fui jogado no mundo fora do mundo num momento de desespero total, quando tudo aquilo que um dia juntei, amei e cultivei na vida me foi retirado à força, da noite para a madrugada. Sozinho, isolado, moribundo, entregue aos cuidados da bebida barata e do cigarro falsificado, logo meu universo caiu em completa ruína e o que restava de mim-eu-mesmo foi parar numa sarjeta não identificada, onde aparas de papelão e folhas de jornais recendendo peixes, mar e sol disfarçavam minha miséria e tristeza dos olhos alheios de uma sociedade egoísta repleta de corações embrutecidos pela desesperança de um planeta desonesto.
    * * *
    Chegamos à casa de Ronan, uma agradável construção em estilo mediterrâneo, onde pequenas torres de cobre com suas luzes fluorescentes localizadas em pontos estratégicos de um jardim discreto alumbravam paredes de um branco soberbo.
    Portas e janelas de madeira rústica, pintadas num tom anil, se destacavam na paisagem fria de uma noite onde a chuva não cansava de ampliar seus domínios.
    Ao sair do carro, Ronan segurou, triunfante, a minha mochila verde. Seu sorriso infantil proporcionou-me de imediato uma inesperada serenidade.
    Apanhei a outra bagagem que eu carregava comigo. Uma antiga bolsa da Nike presenteada pelo meu filho de apenas treze anos, dois dias antes que sua mãe me expulsasse da nossa casa.
    Adentramos numa sala minimalista, pintada em reconfortantes tons de azul-cobalto e branco-gelo. Sobre um tapete felpudo de pura fibra de algodão repousavam duas admiráveis poltronas de madeira maciça, que abrigavam almofadas de lona crua, direcionadas para um móvel pintado de preto fosco.
    Uma TV de plasma Panasonic imperava sua majestade na parede texturizada logo acima do móvel de ferro. Um antigo, porém sofisticado aparelho de som Kenwood completava o canto nostálgico de entretenimento.
    Pufes revestidos de couro branco e lindas peças de cerâmica feitas pelos nativos da ilha e espalhadas com precisão por toda a sala harmonizavam aquele ambiente aconchegante.
    Segurando minha mão esquerda, como a me conduzir para o centro do baile num castelo disneyriano, Ronan me arrastou até um banheiro pequeno e funcional.
    Ele pegou minhas coisas, levando-as para uma ampla área de serviço, deixando meu fedor ao lado da máquina de lavar roupas.
    Retornando para onde eu estava travado, sem graça, perdido… o rapaz pincelou novamente algo em sua tela maravilhosa:
     
    Por favor, fique à vontade. Na caixa de vime, ali na sua direita, você vai encontrar toalhas limpas. Se quiser fazer a barba, basta abrir o espelho acima do lavatório, onde há aparelhos descartáveis e três tipos de espuma de barbear à sua escolha.
     
    Boquiaberto, aproximei o rosto para me certificar do conteúdo, com as letras quase enfiadas na ponta do meu nariz opaco. Coisas da idade, da emoção e do cansaço.
    Desconjuntado diante de tanta meiguice, limitei-me a sorrir e agradecer o gesto cordial. Orgulhoso, Ronan retribuía alegrias, enquanto escrevia para mim – meu deus, como ele era rápido! – um novo alerta fraternal:
     
    Leve o tempo que quiser no banho. Tire o peso das ruas acumulado sobre sua alma. Estarei na cozinha, ali… na sua esquerda… preparando algo para o nosso jantar. Tudo bem para você? Precisa de mais alguma coisa?
     
    “Eu agradeço o carinho, meu amigo. Tudo está perfeito. Muito obrigado!”, respondi pausadamente, em ato mecânico, achando que falando assim ele poderia ler minha boca horrenda com maior facilidade.
    Dissecado pela vergonha, debaixo de um semblante acanhado, porém sincero, eu tentava esconder o turbilhão de lágrimas prontas para enxaguar a acidez da minha pastosa ignorância.
    * * *
    A temperatura do jato de água estava supimpa!
    Um caldo acastanhado e a gordura de um suor estagnado abandonavam meu ser, descendo pelo ralo, diretos para o inferno.
    Notei o comprimento desproporcional e o marrom das unhas dos meus pés. Senti tremendo embaraço diante de tamanho desleixo.
    Fechando o chuveiro, cobri minha pele com a espuma de um abençoado sabonete de tons cítricos que eu acabara de tirar da caixinha. O adocicado aroma da Senhora Higiene purificava minha alma destronada.
    Esfreguei cada parte do meu corpo como que tentando expulsar os sete meses de sofrimento enriquecido nos becos daquele paraíso litoral. Chorei, chorei e chorei como uma criança desgarrada da mãe, ambos em tenra idade.
    Agradeci ao Senhor pela água abrasadora a cicatrizar as marcas da minha decadência. Agradeci aos anjos por terem enviado um dos seus para me salvar dos tentáculos do Umbral.
    Fiz a barba embaixo do chuveiro. Abusei do meu direito concedido e permaneci sob o calor encharcado por quase meia hora.
    De cara limpa, ao conferir-me no espelho contemplei um fino traço do homem digno que eu era antes de errar e ser expulso dos negócios, do convívio dos amigos e do seio da família.
    Meu olhar azul sem brilho estava vermelho e irritado por causa das lágrimas derramadas durante todo o banho. Inspirei em profundidade o vapor da renovação.
    Enxuguei-me e vesti um convidativo roupão verde-mar, sem usar nada por baixo. Liberdade e dignidade agora dominavam meu Novo Homem.
    * * *
    A mesa estava posta.
    No lado Norte, um arranjo de pequeninas flores do campo e uma vela acesa emanando vapores que lembravam a essência do mel e da canela encantou minha insignificância.
    Ao centro, uma travessa de madeira estava decorada com suculentas folhas de alface americana rasgadas em tiras aleatórias. Bolinhas de tomates perfumados completavam o alicerce do sabor. Diminutos brócolis tenros, fatias sensuais de palmito, raspas de cenoura, rodelas de cebola roxa e azeitonas pretas picadas alegraram de imediato o meu olhar guloso. E pedaços de mussarela de búfala espalhadas no meio da travessa davam o acabamento final naquela simples obra de arte gastronômica.
    As cores aguçavam meu paladar, provocando estalos no céu da minha boca ansiosa, enquanto Ronan misturava o aromático tempero da saudável salada em uma cumbuca de cerâmica.
    Sentei-me no lado Sul da mesa redonda. Todo pimpão!
    Meu anfitrião aprumou-se bem na minha frente, após preparar meu prato, servindo-me em seguida. Eu era um felizardo rei. Algo sussurrava ao meu espírito jubiloso, indicando que meus dias futuros seriam suaves. Aleluia!
    Feito à base de mostarda e mel, com uma leve porção de frescas ervas finas misturadas com esmero, o tempero para o primeiro ato da refeição deu um toque celestial ao início do banquete.
    Minutos depois, satisfeito, porém ainda faminto, um novo prato se materializou como por encanto diante dos meus olhos.
    Ronan, de maneira teatral, retirou a salada e os pratos usados da mesa, postando em seguida um peixe assado emoldurado por pequerruchas batatas douradas, alho defumado e gomos de laranja gratinados, tudo salpicado com macios grãos-de-bico e balsâmicas folhas de hortelã.
    Com maestria, meu novo e único amigo preparou o segundo ato, depositando sobre uma cerâmica esmaltada um generoso pedaço de carne branca, suave, fumegante, perfumada pelas sereias de Gobsun.
    De outra cumbuca de madeira, Ronan derramou sobre o peixe um ousado líquido tinto e adocicado onde a fragrância – quebrando todas as regras! – lembrava um bom vinho do Porto.
    Por alguns segundos esqueci completamente o que poderia ser chamado de “boas maneiras”. Ataquei a refeição com avidez!
    Ronan se divertia ao presenciar meu comportamento das cavernas.
    Uma risada sem som iluminou suas faces pontilhadas. A novidade me fez cair no riso também, pois era fascinante ver o rosto infantil daquele rapaz que se esbaldava com a cena, impressionado ao confirmar meus compreensíveis modos selvagens.
    Acabei engasgando com um resto marinho travado na garganta.
    Atento, Ronan deu um salto, vindo ao meu socorro. Ele me agarrou por trás, forçando um abraço viril que aliviou de imediato a amarras da minha gulodice e a total falta de ar.
    Após o incidente, continuamos unidos por um tempo não mensurado.
    Senti o calor e o pulsar daquele prestativo andrógino viril e delicado ao mesmo tempo. Perdi a ação. Permaneci rígido, enquanto minha mente tentava decifrar o que estava acontecendo no acaso do ocaso.
    Ronan abrandou minha tensão, beijando-me em seguida o alto da cabeça. Não encarei aquilo como um assédio e sim como um gesto de ternura entre irmãos.
    Alguém se preocupava comigo. Pela primeira vez!
    Voltamos ao jantar, embalados na melodia do Silêncio.
    * * *
    O singelo quarto de hóspedes se transformou no meu magnífico resguardo.
    Eu estava sentado na cama, maravilhado com a textura do colchão convidativo, observando meu protetor garimpar no guarda-roupa alguns cobertores apropriados para o seu pupilo.
    Em uma cadeira de vime, próxima da janela, havia um pijama em tons pastéis com arremates em azul-criança, dobrado com cuidado. Segurando tecidos pesados, Ronan me encarava, puteado, indicando o pijama com um ríspido aceno de cabeça. Lado infante aflorado, imprimi caras e bocas submissas, levantando meu corpo em êxtase, tocando com respeito aquela vestimenta sagrada.
    Fiquei sem graça em retirar o roupão na sua frente.
    Ronan apoiou os cobertores na cadeira, aproximou-se do meu estado catatônico, roubando o algodão das minhas mãos confusas, eufóricas, desconfiadas, colocando-o sobre a cama feita.
    Suas mãos experientes, repletas de gestos meigos e decididos, quase maternais, desataram o nó do cordão que segurava o tecido que cobria minha virilidade traiçoeira. O roupão foi aberto do cabo ao rabo, revelando meus pelos arrepiados e minha intimidade deflorada. Ronan, indiferente, me despia sem retirar suas gemas autoritárias do meu olhar assustado.
    O tecido felpudo caiu sobre o gélido piso de madeira corrida.
    A segunda barreira havia sido vencida.
    Como um escravo de luxo, Ronan apanhou a parte de baixo do pijama. Agachado, levantou meu pé esquerdo e colocou-o dentro da calça. Fez o mesmo com o pé direito. Subiu o tecido até cobrir pouco acima do meu sexo natimorto.
    Em movimentos líricos, meu anfitrião elevou a parte de cima e me fez enfiar braços e cabeça dentro da trama perfumada, de caimento celestial, como que esculpida com intenção de aliviar o fardo do meu ser indefeso.
    Senti seu hálito tinto roçar meu rosto inerte. Eu tremia em desespero, dúvidas e tesão. Estranhos na mesma proporção. Oh, céus! Há quantos e tantos séculos eu não era seduzido ou desejado por alguém?
    Sacando a geringonça inseparável do bolso da camisa, Ronan tamborilou um “Boa noite, meu grande amigo!” para o meu Eu extasiado.
    Já deitado, oculto pelo lençol, o anjo de guardas cobriu meu estado obscuro com dois cobertores espessos que aqueceram de imediato minha consciência dilacerada. Cerrei os olhos e fui brindado com um beijo simpático na minha fachada tontícia.
    Apago a luz?, ele digitou, tocando a seguir a ponta do meu nariz afogueado, despertando a minha realidade.
    “Sim, po...or fa...vor”, respondi num sussurro medonho, enroscando as palavras numa intransponível timidez.
    Quase implorei para que ele não abandonasse o quarto e me contasse uma infinita e milenar história de ninar repleta de passagens plácidas.
    Eu necessitava da sua presença, daquele calor, de toda atenção.
    Ronan desligou o abajur, flutuando sobre meu astral liquefeito, fechando delicadamente a porta. Exausto diante do Novo, fiz amor com o melhor sono da minha vida.
    * * *
    Acordei por volta das oito da manhã.
    Ainda chovia sem cessar e a força do Vento Sul castigava a janela do meu quarto.
    Levantei minha leveza, lavei o rosto não mais carrancudo, escovei meus dentes tortos. Atrevido, eu ansiava por uma picante xícara de café encorpado.
    Encontrei Ronan na cozinha, concentrado em demasia diante de um notebook branco, digitando velozmente o que por instinto imaginei ser uma espécie de relatório.
    Confirmando minhas suspeitas (eu agia da mesma maneira quando trabalhava), reparei nos gráficos multicoloridos que dominavam o lado esquerdo da tela.
    Ele abriu uma janelinha, escrevendo em Times um “bom diaaaa!” para mim.
     
    Dormiu bem?, Ronan digitou a seguir. Se quiser um café encorpado, delicioso, pegue uma xícara no armário e sirva-se. Na mesinha à sua esquerda há bolos e pães caseiros feitos por mim-eu-mesmo. Bom apetite!
     
    Após me servir, me sentindo em paz com Deus e seu anjo, sentei-me à mesa, sorvendo o negro saboroso e observando os reflexos da tela dançando nas lentes dos óculos de aro fino de Ronan.
    De tempos em tempos eu ganhava um olhar furta-cor intenso e reconfortante, seguido de um sorriso quase celestial.
    Era impossível não me concentrar numa prece difusa, agradecendo aos céus por eu merecer a última chance de reciclar minha dolorida existência.
    Eu não sou homossexual. Jamais senti absolutamente nada físico ou emocional por outro macho. Mas não posso negar que Ronan estava me conquistando com seu jeito prático de encarar a vida; com o sincero carinho demonstrado e a intensidade da descomprometida atenção com que cuidava da minha evolução pessoal.
    Éramos cúmplices extraordinários no enlace de estranhos conhecidos.
    * * *
    Eu me fartava com um pedaço de bolo de aveia recheado de frutas cristalizadas e viajava em pensamentos construtivos quando Ronan esticou o braço e tocou de leve a mão que segurava a segunda xícara de café.
    Despertei do planejamento das minhas novas metas. E mais uma vez degustei uma abundante sensação de um amor diferenciado. Um presente que era oferecido para mim-eu-mesmo embalado em diversas camadas de um incorruptível respeito.
    Estávamos compartilhando nossas existências em tão poucas horas, mas parecia correto afirmar que nos conhecíamos há milhares de anos. O toque daquele macho não me incomodava, pelo contrário, o atrito fazia me sentir amado, querido. E, acima de tudo, compreendido.
    Ele confiou em mim sem vasculhar minhas credenciais e muito menos meu currículo. Ele me trouxe para dentro de sua casa sem demonstrar qualquer tipo de receio ou medo em permanecer ao meu lado.
    Ignorante, eu havia desconjurado seu ser naquele Terminal, temendo perder meu ganha-pão acumulado com tanto sacrifício, tesouro oculto na minha velha mochila dos tempos do exército.
    Diante dos fatos, definhei por dentro.
    Na noite passada, Ronan viu e tocou meu corpo. Teve a chance de me forçar a fazer sexo com ele, caso desejasse. Não sei se eu aceitaria, mas talvez o fizesse como obrigação ou agradecimento pela oportunidade de um novo lar, mesmo que temporário. Talvez eu cedesse meus restos como poder de barganha para assim recomeçar a vida que eu julgava descartada.
    Nos limites da minha demência besuntada na ignorância, eu pagaria qualquer preço por uma nova chance de ser feliz.
    E ali estávamos envolvidos num jogo (para mim) perigoso e excitante. Eu confesso!
    Sentados no templo do diálogo e do alimento, alternávamos olhares complexos na sua simplicidade. Digitando a uma velocidade estonteante com apenas uma das mãos, Ronan prosseguia seu afazer. A outra mão acarinhava meus dedos chamuscados, impregnados pelas intempéries de uma trilha errônea.
    Assumindo de vez os meus limites, juntei forças para perguntar o óbvio, assim que ele retornou um novo olhar para mim:
    “Você é gay?”, eu cacarejei, sem coragem de encará-lo depois de cuspir minha bobiça dançando em preconceitos.
    Ronan sorriu, digitando a resposta no seu computador estiloso. Virou um pouco a tela para que eu pudesse ler algo que me trouxe alívio e apreensão ao mesmo tempo:
     
    Sim, eu sou gay. Mas não se preocupe. Eu não trouxe você aqui para uma noite de sexo e nada mais. Eu jamais faltaria com o devido respeito. Você está aqui porque confio em você e só fiz o que o meu coração exigiu. Sexualmente, talvez sejamos de esferas diferentes. Eu não posso mudar sua natureza e nem você pode alterar o que para mim é verdadeiro. Mas saiba que quando toco em você, o faço com renovado carinho fraternal. Dou-lhe o melhor de mim-eu-mesmo sem maldades, cobranças ou vigésimas intenções.
     
    E eu que pensava que todo bambee não podia ver um homem na frente que já o atacava, sem se preocupar com limites.
    Senti uma tonelada de vergonha pela minha vasta ignorância. Porém, o meu lado brucutu neurótico precisava de uma confirmação sobre a questão que eu julgava machistamente importante.
    “Você me acha um homem atraente. Você iria pra cama comigo se eu fosse… igual a você?”, as burrices traíam meu vasto nervosismo.
    Ronan se levantou e sentou-se na outra cadeira, ao meu lado. Um sorriso monalístico marcou seu rosto pontudo. Era evidente que ele estava se divertindo com a minha insegurança. Nós dois agora quase grudados, novas respostas eram digitadas no brilhante, nítido e multicolorido LCD:
     
    Sim, meu amigo, você é um homem atraente e sensual. Nada que mais alguns dias de descanso e pequenos retoques no visual não o transformem numa decente versão alemã do próprio Nicolas Cage (risos)!
     
    Ronan ofereceu mais um dos seus sorrisos silenciosos. Desatei a rir e quase a chorar, quando me dei conta de que Diura, minha ex-esposa, adorava me comparar com o mesmo astro americano, desde o dia em que resolvi mudar meu corte de cabelo. De repente, eu voltava a sentir uma tremenda falta dela e dos meus dois filhos, o decidido Célio e a doce Milena.
    Tocando minha face esquerda com as pontas dos dedos de algodão, despertando-me das saudades, Ronan capturou minha atenção:
     
    Sim, eu iria para a cama com você, mas somente se entre nós houvesse algo mais do que carências físicas ou forçadas obrigações da carne. Por outro lado, eu não me perdoaria em usar seu corpo como “pagamento” pela minha hospitalidade. Isso seria algo capaz de me destruir como pessoa. Química, desejo, respeito e afinidade teriam que fazer parte do esquema. Senão, meu caro, nada feito, pois o resultado do desastre geraria intrincadas frustrações.
     
    Aprendi quais eram os quatro pilares que mantinham o mistério de uma união perfeita. Ronan ganhou de imediato minha oculta admiração.
    Diante da Verdade, pisoteei e joguei fora meus preconceitos infundados. Senti forte desejo de abraçá-lo, mas me faltou boa dose de coragem.
    Apesar do tempo maluco, preciso me ausentar por algumas horas. Volto no final da tarde. Tudo bem se você ficar sozinho… em nossa casa?, ele digitou, fechando em seguida o portátil com sabor de fruta, colocando-o dentro de uma discreta pasta de couro.
    “Você vai me deixar aqui sozinho? Você realmente conf...”, minha boca foi tapada com as pontas amornadas de duas digitais decididas.
    Com o olhar fixo sobre meus lábios desnorteados e gesticulando as mãos numa sequência de sinais que agora pude compreender, senti que Ronan escrevera no ar um esclarecedor “Eu acredito em você!”.
    “Nossa casa”, meditei, na melodia do Silêncio.
    Segurei o choro de uma emoção descontrolada.
    Ganhei novo beijo, agora na bochecha direita.
    Ronan pegou as chaves do Lada e se despediu com um sorriso de agudas saudades.
    Passei as horas seguintes deitado no tapete da sala, lendo Patrícia D. Cornwell.
    Mesmo vidrado na narrativa, acabei cochilando após descobrir que o tenente Pete Marino era platonicamente apaixonado pela doutora Scarpetta, a personagem principal de um envolvente suspense policial.
    * * *
    Acordei e já era noite profunda.
    Uma colcha de retalhos cinzas, azuis e creme cobria minhas pernas contorcidas e uma almofada com a estampa de diminutos sóis amarelos dominando o tecido cor de palha repousava embaixo da minha cabeça aflita.
    Aprumei-me um tanto bêbado, sentindo um pouco de desconforto nas costas. Fui até a cozinha e me servi de uma xícara de um chá ainda morno.
    Ronan estava em seu quarto, lendo a última edição da Folha da Ilha. Eu me preparava para dar dois toques na porta entreaberta, mas fui surpreendido por mais um sorriso magnífico daquele diabólico druida abençoado.
    Ele retirou os óculos de leitura do rosto cor de leite, descartando o jornal sobre a cama. Convidou-me com um aceno para que eu me sentasse ao seu lado.
    Submisso, atendi o chamado. Ronan pegou a lousa já conhecida e escreveu o que eu queria ouvir:
     
    Deite-se aqui. Sobre o meu peito. Você precisa de um pouco de carinho. Eu posso tocar em você?
     
    Feito um adolescente em sua primeira noite de amor, rolei por sobre aquele corpo, sem tirar o meu olhar inquieto daquele olhar sedutor.
    A direita mão de pianista cerrou meus olhos ansiosos. E aquela mesma mão suave e segura passou a deslizar seus cafunés pelo meu rosto, seguindo depois para o meu tórax arfante, onde dedos experientes brincavam nos fartos pelos ferruginosos em meu peito embriagado em gelo-seco.
    Deixei-me levar. Eu queria compreender toda intensidade daquela estranha novidade. Escancarei as portas dos meus desejos que eu julgava até então secretos. Senti nas minhas faces medrosas os beijos ternos de um homem assumido.
    A reação foi um misto de eterno desconforto e crua vontade de “eu quero muito mais!”. Com a energia de um híbrido amor violento, implorei em orações para ser atacado por um beijo absoluto. Autorizado pela Providência, senti que Ronan leu o rústico desejo nas minhas retinas digitais.
    É diferente o fervor de um beijo masculino. É tudo mais intenso, profundo e arrebatador do que a batalha compartilhada com uma fêmea.
    Separamos nossas línguas. Ronan pegou a tela mágica:
     
    Refleti durante toda a tarde. Descobri que eu quero você. Eu preciso de você. Acredite, de certa forma, o que ocorre entre nós é novo para mim também! Então... será que você me daria uma chance para eu assumir o recomeço de ambos?
     
    Não respondi com palavras. Apenas lacrimei. Por tempo além do Tempo.
    Se aquilo era amor que compartilharíamos para o nosso bem, eu aceitava a presença do Inevitável em minha vida.
    Soluçando, um Ronan reticente retirou as peças do meu pijama amarrotado. Os calafrios dos meus músculos retesados eram recompensados por uma língua fogosa que cobria cada poro da minha pele avermelhada. Meu sexo terreno explodiu nas mãos firmes do meu anjo.
    Ele queria. Eu aceitava. O contrato estava firmado.
    Sua boca perscrutou meu membro em toda sua rigidez e textura e glória. Restos de roupas e papéis foram atirados contra o chão lustroso. Com a voracidade à flor da pele, virei meu anjo de costas, tentando ser o mais carinhoso possível.
    A luz âmbar que vinha do abajur sobre a mesa de cabeceira pintava os músculos daquele divino com um impossível tom acobreado, recheado em ouro e listras incandescentes.
    Meus dedos calejados acarinhavam costas lisas. Minhas narinas ofegantes captavam o cheiro da essência de uma vida proveitosa. Meu ser indefeso confiscava a química daquele corpo masculino de alma hermafrodita.
    Minha boca foi atraída para o centro das suas nádegas compactas. Com o máximo cuidado que estava ao alcance do meu limite, mordisquei a intimidade daquele que me abrira as portas de uma esplendorosa Sétima Dimensão.
    Quando dei por mim, eu já estava vibrando em vitórias.
    Meus movimentos, no começo, eram desajeitados, reticentes, isentos de sincronia. Mas Ronan, paciente e grande maestro, acertou nossa união e em instantes éramos um só corpo lutando para a fusão de duas almas que assumiam a alquimia perfeita durante o crucial ato de amor.
    Minutos que foram horas. Horas que foram eternas.
    Nosso suor sublimou-se em essência aromática: madeira e seda. Descobrimos aquilo que os druidas fizeram tanto esforço para ocultar. Agora eu sabia qual era o segredo para uma juventude eterna. Eu havia encontrado o famoso cálice de madeira que continha o sumo da Felicidade!
    Alquimia realizada. Química compatível. Jorrei o que restava da minha ínfima pureza dentro daquele éden de Picasso.
    Ins… pirei, afogando-me na alegria. Desfiz o enlace sexual para buscar a sensualidade e o frescor dos lábios inquietos do meu novo ser tão amado.
    “Beije-me, Ronan. Deixe-me sentir sua língua seca e sua saliva agridoce.”
    Segurei o sexo do meu anjo – sim, os anjos têm sexo! – movimentando-o com cuidado para cima e para baixo. Aumentei o ritmo, enquanto intensificava os meus beijos naquela “bocajolie”.
    Era a primeira vez que eu pegava num pau que não era o meu. Mas aquele caralho agora era o meu cacete e eu soube manipular os seus anseios como se ambos fôssemos velhos conhecidos de boas farras.
    Na melodia do Silêncio, meu homem jorrou seu sêmen sobre meu peito cabeludo. Envolto em celestial satisfação, meu macho aninhou sua cabeça sobre meu coração pelúnico. Devolvi o beijo em sua testa agora aquecida com meus carinhos de lábios satisfeitos. Apagamos juntos, enlaçados, envolvidos num sono revigorante.
    Eu me senti – pela primeira vez na vida – realizado, liberto e verdadeiramente feliz!
    * * *
    Na manhã seguinte, eu estava debaixo das águas claras e o meu anjo luminoso esfregava minhas costas com uma “bobesponja”.
    Fechei os olhos e agradeci ao meu Deus pela ducha que sublimava as marcas do meu passado errante. Repetindo sinceridades, também agradeci mais uma vez aos anjos por terem enviado um dos seus para me salvar do desejo de me entregar aos desígnios da Morte, encarando os últimos suspiros de uma existência calamitosa, solitária, depauperada.
    Daquele momento em diante, uma vida restaurada, um caminho novo, um destino inusitado e repleto de desafios se descortinava bem à minha frente.
    Não sei o que está reservado para mim. Não sei como será minha relação com Ronan. Não sei o que sou ou o que optei ser para mim-eu-mesmo no aqui, agora.
    Não me importo com a futura reação da minha família ou de algum amigo que deixei perdido no passado. Se é que um dia os nossos destinos serão novamente cruzados.
    Só afirmo que encontrei o apoio que eu precisava para me reerguer. Só aceito que sou privilegiado com o amor que jamais me foi ofertado no emocional ou no carnal; carinho proporcionado por um “tipo” de pessoa que por anos e anos fui disciplinado a ignorar, a desprezar, até mesmo... odiar.
    Só compreendo que descobri uma inefável melodia nos seios do Silêncio, iluminada pelo sorriso de Ronan. Só espero ter conquistado em definitivo o direito de viver a plenitude de uma verdade não mais oculta. E fazer feliz quem um dia acreditou em mim, sem nada cobrar em troca.
    * * *
    Envoltos em uma só toalha, víamos os nossos rostos úmidos distorcidos na imagem refletida no espelho empipocado de gotículas vulneráveis.
    Ambos compartilhávamos prantos de palpáveis agradecimentos.
    Com a ponta do meu dedo indicador esquerdo embotado no ardor da emoção, senti que Deus me autorizou a escrever, com dificuldade, em letras cambaleantes, na minha rústica tela mágica:
     
    “Ronan, meu anjo. Só posso afirmar a sinceridade de um ‘muito obrigado’. Eu te quero... para sempre. Declaro aqui a Verdade em letras tortas: Agora... eu sou teu! Mateus.”
  • A perseguição fundamentalista aos homossexuais.

       A perseguição efetuada por cristãos ortodoxos aos HOMOSSEXUAIS tem uma razão, dentre várias, bem definida: uma leitura equivocada da Bíblia. Esta é uma obra escrita por diversos autores, sob várias perspectivas e em diferentes épocas. Sendo assim, é necessário analisá-la como um produto de determinadas práticas sociais, localizadas no tempo e no espaço.Ou seja, trata-se de um artefato cultural que traz consigo as qualidades e as limitações históricas dos grupos que a produziram.
      Para muitos povos antigos, dentre os quais os hebreus, a proibição à prática homossexual talvez fizesse algum sentido. Hoje, no entanto, com todas os avanços sociais conquistados, ainda considerar a HOMOSSEXUALIDADE um ato pecaminoso  é um erro, um pecado e um crime.
  • A Ponte Sobre o Rio

    Antonio estava de pé no parapeito da longa ponte estaiada. Os pés descalços tocavam no concreto frio, vacilando entre uma rajada de vento e outra. Não tenho nada a perder, ele sussurrou. Tinha sim, muito a perder, uma força interna lhe dizia.
    Puxou o capuz para baixo, estava frio. Seu rosto era triste. Muito abaixo de si, centenas de metros abaixo, corria um rio negro e gelado, águas traiçoeiras que seriam capazes de levar toda a cidade em seu curso. Ah, a cidade, pensou melancólico. E se nunca mais visse sua família, seus amigos, ele...? Ele, o homem que eu amo, o homem que disse que...
    -Eles não precisam de mim. - Parecia mais real quando dizia aquilo em voz alta. Ouvir a própria voz era estranho agora. Parecia que não a ouvia há tantos anos... Sabia que seria um estorvo a menos na vida dos seus pais, mas seu irmão e o seu amor... Não há amor nenhum. Não existe mais amor.
    Olhou pro alto, além dos cabos de sustentação que seguravam a longa Ponte Topázio, para o céu da madrugada. Não havia estrelas ou lua. Era apenas um vazio frio e silencioso, e de alguma forma parecia que o seu vazio era ainda maior.
    O que sentia dentro de si era uma monstruosidade negra e maligna sempre lhe dizendo o quão era burro, fraco e covarde, infectando seus pensamentos, seus sonhos, oh Thomas, você vai chorar por mim? Você vai lamentar quando olhar pro meu nome numa lápide? Eu sequer terei uma lápide?
    O estômago embrulhou quando voltou a olhar pra baixo e o mundo girou a sua volta. Olhar para cima lhe desequilibrou por dois segundos e seria o suficiente para lhe ceifar a vida. Mas não foi isso que vim fazer aqui? Pra que iria querer essa vida afinal? Já estou vivo por tanto tempo, e de que me serviu até hoje?
    Não sabia mais. Olhou para a sua esquerda, para as margens da cidade adormecida. Eram luzes distantes agora. Tinha saído de casa no meio da noite, lembrava bem... Ou não... Ainda estaria em casa naquele momento? Onde realmente estava agora? Na cela de um manicômio qualquer? Esforçar a memória fazia sua cabeça latejar e a dor também quase o derrubou. Estava tão silencioso. O tempo andava lhe fazendo truques na cabeça. Ou seria todo o uísque, ou os comprimidos, ou...
    Não havia tráfego na ponte há dois dias... Como saberia daquilo? Era impossível saber, seu pai passou pela ponte horas antes, como não haveria tráfego? Desceu do parapeito para averiguar e realmente havia lá, onde a cidade começava, abaixo da placa de boas-vindas, grandes barricadas de contenção. Há quanto tempo seu pai tinha saído para aquela viagem? Houve um tremor, a ponte não era forte o bastante, lembrava das notícias, precisava se esforçar mais. A cabeça parecia que ia explodir. Mais, mais.
    A lembrança veio, um pequeno lapso de luz numa treva sem fim. Uma luz bastava para iluminar seus motivos. ‘’Você precisa de conserto! Nunca vai dar certo desse jeito Toni!’’, recordou. Era a voz do seu amor que falava, mas também a da sua mãe, dos seus colegas. A cidade inteira parecia gritar que ele não estava bem, que ele não era... Suficiente. Eu não tenho que agradar a ninguém. Mas se pelo menos eu me agradasse, já seria o bastante. Já seria o suficiente pra eu viver feliz.
    Por que as coisas precisavam ser assim? Tudo poderia ter sido perfeito em sua vida, mas as vozes nunca o deixariam ter uma refeição se quer em paz, sempre jogando coisas em seu ouvido, em sua cabeça. Você é ridículo Antonio, vê? Olhe como eles te olham, ouça seus pensamentos. Você é lixo, você é merda e ainda é mais inútil que lixo e merda juntos.
    Afastou as vozes esmurrando o pequeno muro de concreto que separava a via do abismo logo abaixo. Só precisaria de um passo, de um salto. De um único segundo de coragem. Era o que necessitava. Socou o concreto como se visse nele a face de Jorge, de Miguel, de Vinicius, todos eles ali, caçoando dele... Viu também Benjamim, seu falecido padrinho... É o nosso segredo, ninguém vai saber, a voz era seca e maliciosa e as mãos eram puro osso, mas vieram em sua direção. Antonio gritou.
    As mãos latejavam de dor quando parou subitamente de gritar. Não percebeu quando parou de golpear o muro. Estava ofegante e havia sangue. Também havia lágrimas, sentia-as escorrendo pelo seu rosto ridículo, transbordando dos seus olhos ridículos. Tirou os óculos e jogou no chão. Deu um soco no próprio rosto, infelizmente não tão forte quanto gostaria.
    Ele diz que eu sou lindo, a voz amigável recordou dentro de si. Ele também era lindo, Toni pensou. O amava muito, e era amado de volta, sabia. Mas sabia também que a voz da razão tinha muito mais a dizer. Sim, diz que você é lindo. E também que você é louco, que deveria ser internado, que não passa de um doente, paranoico e que nunca dará certo com ele. As palavras afogavam em lama todo o sentimento bom que estava lá há tão poucos momentos.
    Naquela hora já teriam percebido que ele não estaria na cama? Não, claro. Era madrugada e mesmo que alguém acordasse, quem sequer iria se importar de checar se estaria bem? Era muito mais provável que seus próprios pais o empurrassem daquela ponte. Não, eles te amam e querem sempre o seu bem, NÃO! Eles não te amam, não vê como eles debocham? Não ouve o que eles dizem quando acham que está dormindo? Eles sabem que você vai morrer. Eles querem que aconteça.
    Antonio se divertiu por um momento imaginando qual a reação quando, pela manhã, encontrassem a cama vazia e um bilhete de despedida sobre o travesseiro. Logo o sorriso desapareceu do seu rosto quando percebeu o que fizera. Me tomarão como um covarde, como um bobo e idiota! As lágrimas já tinham partido, mas as sentiu voltar. Já tinha ido tão longe agora...
    Poderia voltar a andar para casa, esconderia as mãos feridas nos bolsos pela manhã ou inventaria alguma mentira convincente. Rasgaria o bilhete em mil pedaços e ninguém jamais saberia até onde ousou tentar.
    Mas e aí? Sentaria na mesa com as pessoas que o repudiavam, iria para o trabalho onde todos o achavam um incompetente... Trabalho... Que trabalho? Uma outra voz sussurrou. Estaria ficando louco? Estaria finalmente inventando coisas como todos falavam que fazia?
    Não, não estava louco. Faria todos se arrependerem. Naquela manhã, quando encontrassem seu corpo na margem do rio, todos finalmente sentiriam algum remorso... Mas que corpo?
    O rio era rápido e violento, se chegassem a encontrar algum corpo levaria dias e ele estaria irreconhecível, e ainda que encontrassem seu corpo... Todos me chamariam de coitado por dois minutos e seguiriam suas vidas miseráveis.
    Mas sua vida também era miserável, sua família o odiava, não tinha amigos e seu namorado... Não há nenhum namorado, pensou, e por um breve instante sentiu-se... Destruído. Não tinha mais ninguém. Qual era o propósito de se viver assim? Nunca teria filhos, por que diabos tinha de ter nascido daquela forma? Quebrado, defeituoso, estúpido... Que tragédia era a sua vida afinal?
    A única cura para a vida é a morte, a voz lhe disse.
    Calçou os sapatos e subiu novamente no parapeito. Não deixaria seus sapatos para trás, não deixaria nada. Só uma vida inteira, sonhos, planos... Que planos? Ser um incomodo até finalmente morrer de velhice? Estava frio, escuro, e sua mente parecia um nós de gritos, choros e sussurros. As vozes tinham intensificado ultimamente, e nada mais era capaz de silencia-las.
    Tinha de ser agora. Em pouco tempo o sol retornaria, e com ele toda a sua desgraçada rotina. Sabia que enfrentaria todos novamente e sabia que seria derrotado como era todos os dias, como sempre foi. Estranho! Incompetente! Inútil! Não vê mulher? Ele tem um rosto triste. Ele é um adulto e vive chorando pelos cantos, ele vai acabar cortando os pulsos uma tarde dessas. Era agora. Sentia muito decepcionar seu pai, mas não era muito um fã de lâminas. Nem de pontes.
    Respirou fundo. Era capaz de ouvir o próprio coração agora. Tentou mais uma vez imaginar um futuro em que viveria e seria feliz. Teria uma casa em outra cidade. Talvez até outro estado. Uma grande casa, na beira do mar. Ou um apartamento, bem alto, bem longe de tudo.
    Viveria com ele, com o amor da sua vida. Teria filhos, cachorros, antidepressivos no armário e facas guardadas a sete chaves... O que? Não há felicidade para você seu idiota! Sua própria voz suplicava num apelo justo. Não entende? Nunca vai ter felicidade pra você. Faz um favor pra você. Pra ele. MORRE!
    O parapeito parecia querer expulsar seus pés. Ou suas pernas é que tremiam, não sabia dizer agora. Mordeu o lábio inferior até sentir o gosto de sangue. A dor física afastava a psicológica por alguns momentos. Seria o bastante. Thomas ainda me quer, eu sei disso. Ele me ama... Mas não amava. Não depois de tudo, não depois de tanto. Ele nunca terminaria, mas por pena de mim, o Toni maluco, e por medo que eu morra. Eu tenho que me deixar ir. Por ele, por todo mundo. Que falta eu farei no mundo?
    Haveria o outro lado? Encontraria todos os que já se foram com um olhar julgador lhe esperando? Eles não têm direito de me julgar. Eu sei o que eu passei. Eu senti o inferno da vida. Eu nasci no inferno da vida. Mas isso nunca impediu ninguém de lhe julgar. Não deixaria o receio lhe impedir agora. Essa era a mudança que precisava fazer. Era o rumo que precisava tomar.
    Na última decisão da sua vida, Antonio Prata deu um passo a frente. A ponte subiu atrás de si, indo encontrar o céu, enquanto seu corpo ia na direção contrária. Teria sido seis segundos ou seis séculos?
    O coração saltou em urgência. Sentiu em uma fração de segundo todos os beijos de seu amado, os sorrisos de seus colegas, e os ‘’bom dia’’ que recebia todas as manhãs, tão confortantes quanto um abraço... Ouviu suas brigas, suas brigas, SUAS! Era ele o tempo todo, era eu o causador... Discussões vindas do nada e por nada!
    Lembrou de como todos o olharam quando jogou aquela cadeira pela janela do escritório bem na frente do seu chefe... Eles estavam rindo de mim, estavam zombando, NÃO, NÃO ESTAVAM! E tantas discussões, e tantas lágrimas e tanta paranoia...
    Todos estavam contra mim, imaginou, não, não estavam. Todos queriam ajudar. Nem recordava o motivo pelo qual estava ali, naquela ponte fria, sobre aquele rio frio. Seria possível que fosse mesmo um quebrado? Estaria bem mais quebrado em breve, quando sua eterna queda chegasse ao fim.
    Viu sua mãe chorar sobre o seu caixão e se perguntar o que havia feito de errado... Por que mesmo na morte precisava estragar tudo? Quis voltar quando sentiu em si a dor da mulher que há vinte anos tinha lhe dado à luz. Mas não havia volta. Nem mesmo mandou uma mensagem a seu namorado... Eu te amo Thomas, as lágrimas nem teriam tempo de sair desta vez.
    As águas negras subiram tão depressa... E o engoliu de uma única vez quando as sentiu envolver a pele, tão geladas... Tentou gritar, mas o ar escapou todo de uma vez e se debateu, chutando, esperneando, esmurrando... em vão.
    Não enxergava nem ouvia nada. Jamais receberia ajuda agora. Foi arrastado rio abaixo, tentando se agarrar em qualquer coisa, mas as mãos só encontravam água. Por um instante conseguiu ver o que pareciam ser as luzes da cidade, algo turvo a distância. Os malditos óculos, deixei na maldita ponte. O alívio nem teve tempo de surgir em si, pois logo depois tornou a submergir.
    Não queria morrer, só queria ajuda, só queria... conserto, a voz completou, tarde demais. Pensou na casa e nos filhotes que nunca teria, nos beijos do seu homem que agora seriam de outro. Meu Thom, meu amor, te amo, te amo, vamos casar e adotar filhos e... E eles irão visitar meu túmulo um dia, ao lado do novo pai? Vai contar a eles que eu pulei da ponte Thomas? Os filhos que deveriam ter sido meus! E os beijos, e a casa, e o futuro! O meu futuro!
    Seria assim que partiria, desesperado, lutando pela vida? Será que saberiam o quão assustado ele estava? Achariam que ele esteve determinado e corajoso até o fim? Isso não é nenhuma coragem, eu deveria... Deveria... Viver.
    Viver. A palavra ecoou dentro e fora do seu corpo. O próprio rio a gritava, viver! Viver! Eu quero viver!
    Os pensamentos se tornaram borrões e os borrões viraram nada, quando a vida lhe deixou o corpo. Um pescador lhe encontrou pálido e inchado três dias depois, a quinze quilômetros da cidade, na margem do Rio Topázio.
    Os olhos ainda estavam abertos, olhando para o nada, e parte dos lábios e uma orelha haviam sido devorados por algum bicho, mas o rosto ainda era... triste.
  • A Torre e os Enamorados

     
    a torre e os enamorados

     Não me recordo exatamente do meu início... Consigo apenas lembrar de quando já me considerava ser algo. Comecei como um aglomerado de rochas incandescente, sendo forjado pelo fogo que transmuta. Em um estado bruto, rústico e primitivo, ainda encontrava-me em minha nebulosa familiar, meu ponto de origem, e com os adventos das radiações cósmicas, dos ventos solares entre outras intervenções naturais, fui me formando.

        Possuo anéis de alegria ao meu redor, eles deslumbram e me protegem de turistas inoportunos, detesto turistas - até porque não sou a Disney. Tenho oceanos de sentimentos, com zonas abissais tão profundas e indesbraváveis quanto a subjetividade de um ser, rios de vivências que marcam minha derme - com leitos vívidos -, em que na queda de cada um há a força de minhas cachoeiras, onde abriga o início e o fim dos novos ciclos.

        Um dia - por loucura - acabei indo orbitar um corpo celeste desprovido de luz. Por consequência, toda vida que havia em mim foi se esvaindo... Foi uma fase de infortúnios e solidão, nunca imaginei que aprenderia a ser só, mesmo estando acompanhado. Minhas atmosferas já não davam conta de me manter habitável, meus vales foram ficando secos, todo o sentimento que fluía estava se perdendo no espaço, já não via mais promessa de continuidade, pois não podia se quer achar um arco-íris em qualquer canto, independente do quanto procurasse. Com tudo isso fui aumentando a minha órbita, desvencilhando-me naturalmente, para não me destruir. Meus anéis já não tinham brilho, eu não me via, mas sabia que não estava bem. 

        Coabitando a mesma localização e girando a uma distância de dias luz, segui, segui sem a esperança de mudança, em um estilo bem Clariciano. 

        Passei algumas poucas vezes por um certo corpo celeste, até que resolvi ir conhecê-lo. Ele era lindo... Uma estrela diferente de todas as outras que habitam o céu, seus raios era suaves e intensos, suas tempestades eram de doçura e atenção, a radiação transmitia reciprocidade, composto de carinho, que queimava paixão.

        Extasiado por seu encanto, mesmo distante, comecei a orbita-lo. Adentrando uma rota sem volta, lancei-me nessa empreitada. Pedi o respaldo de minhas luas, que não foram muito claras, mas explicitaram que ali era o meu lugar.

        Em uma térmica ascendente, fui mais rápido que um cometa, até que fiquei próximo a ele, parei a minha atenção, não queria perder um só segundo da volúpia de estar na sua companhia. Entre olhos fitados, havia apenas o silencio da imensidão, para que nada interrompesse a linguagem incompreensível a mente que o sentimento do olhar tem. Senti todo o calor do seu afeto, suas palavras fizeram ressurgir a vida em mim, meus campos floriram, meus bosques reavivaram-se, as borboletas voltaram a pairar com os beija-flores e as cachoeiras recuperaram sua força. 

        Ele era uma estrela solitária, ao meu ver, disse-me que eu era a "Lux da sua vida". De início eu ri, pois ele tinha um jeito bobo de falar, mas, mal ele sabia que a luz que ele via em mim era reflexo dele mesmo. Foi um magnetismo inesperado, senti que pertencia a ele e ele a mim, como se meu espaço já estivesse ali, esperando-me. A consumação de todos meus anseio, de meus desejos e aflições. 

        Por mais que eu queira estar sempre próximo dele, a vida ainda não permitiu, minha rota elíptica é ovalada, onde só tenho um contato próximo de tempos em tempos, mas, o encanto é que não perdemos nossa ligação, pois independente da distancia posso sentir o calor do seu afeto. 

        Por ser composto de carinho, em seu núcleo há algumas instabilidades, o que faz com que ele transpareça medo em sua coroa, mas nada que não seja recondicionado e estabilizado com reflexos visíveis de amor.

         Viciado em estar em rotação plena e inebriado por tudo isso, fui convidado a dançar. Ele me escolheu para ser seu par e nos concedemos o direito dessa dança cósmica que haverá de durar até o final da eternidade desse amor.

     

  • Anemoia

    O belo que foi visto
    Apenas por memória turva
    Não acontecimento de fatos
    Saudade do vento vazio
     
    Há um espaço entre os bancos
    Da praça; estou à espera
    Procuro uma memória longa
    Longe, que não ouvi passar
     
    O quente de um abraço
    O leve calor de um beijo
    Um guarda chuva em meio à garoa
    Uma capa colorida, um céu azul chuvoso 
     
    Rodopios em longas avenidas
    As árvores da praça balançam
    Espero pelo abraço, louro vermelho
    Mas este não veio ainda, está por trás das cortinas de veludo
     
    Eu sinto a madeira do palco 
    Debaixo de meus pés; o calor do momento 
    Do navio, o convés 
    Da bailarina, o tule azulado 
     
    Mas sequer pisei ao palco 
    Nem roteiro atuei 
    O abraço não recebi 
    A chuva não vi cair 
     
    Anemoia
    Saudade do que não vivi 
    Como o aveludado de um vinho doce
    Queima a garganta, acelera o coração 
     
    O toque dela em meu corpo 
    Tua cintura em minhas mãos 
    Lembro-me como se fosse ontem 
    Mas não vivi; tenho saudades... 
     
    O vento batendo em meu rosto 
    Nossas mãos unidas, corremos pela estrada 
    Anemoia, música nos fones 
    A chuva, um sorriso, felicidade 
     
    A espera de uma nova lembrança 
    O cair das folhas no outono 
    Alteração na voz do ator, poeta 
    Um "Eu te amo" sussurrado à luz tardia 
     
    Anemoia 
    Anemoia
    ... 
    Anemoia. 

     

  • Aquela que meus olhos veem

    Para o espelho, ela é normal
    Para os outros, ela nem é tão atraente 
    Mas a beleza está nos olhos 
    Nos olhos de quem vê
    E aos meus, ela é a mais bela
    Padrões de beleza não se aplicam a mim
    Não em meus olhos 
    Olhos que só refletem uma pessoa 
    Ela
    Aquela que ocupa as minhas madrugadas
    Mesmo sem conhecê-la 
    Nem mesmo sei seu nome
    A coragem que me falta
    Pretendo arrancar desses versos
    17 linhas só para lhe dizer...
    "Oi"
  • As borboletas nos guiam

    Sinopse:
    O que será que acontece quando uma deusa nórdica se cansa de seus afazeres?Isso mesmo!Férias junto com os mortais. Freya tinha a capacidade de manipular os desejos e a fortuna das pessoas,deusa do amor e também era considerada como a governante do reino da vida após a morte, Folkvang. E agora vivendo como uma mortal terá que enfrentar os desafios como tal. Por quanto tempo Odin suportará esse ato de rebeldia?
    Notas do Autor
    OIIIII MEUS AMORINHOS !!!! TURU POM ? ESSA É MINHA PRIMEIRA FIC AQUI E EU ESPERO QUE VOCÊS GOSTEM . ESTOU BEM ANIMADA MAS ATERRORIZADA POR NÃO SABER SE GOSTARÃO OU NÃO >-<. ESPERO QUE SE DIVIRTAM COM MEU DEVANEIO NÓRDICO KKKK
    BEIJOS E A LUZ DE ODIN SOBRE VOCÊS <3
    ATENCIOSAMENTE,
    MARY SAMPAIO


    Capítulo 1 - Préfacio : Mudança para Asgard

    Eu e meu irmão gêmeo Frey fomos concebidos da união de Skadi ( Deusa do gelo ) e Njord ( Deus Vanir dos Mares). A união dos dois não durou muito pois meu pai não adaptava-se a vida nas montanhas e tão pouco minha mãe a vida nas costas oceânicas, então após a separação dos dois ficamos em Vanaheim com papai. Afim de manter um acordo de paz fizemos uma troca com os deuses aesires Mimir e Honir e deixamos o reino Vanir para morarmos em Asgard. Meu irmão logo casou-se com a gigante Gerda . Eu casei-me também com o deus Odur responsável por guiar a carruagem do dia, que anda pelos céus, mas há muito não retorna para casa. Cansei-me de espera-lo , então concentro-me em administrar meu palácio Sessruminir apenas. Aqui em Folkvang está se tornando monotôno demais . Apesar de ser divertido quando novos guerreiros chegam aqui. Como líder das Valquírias tenho direito de reclamar metade das almas dos bravos guerreiros mortos em batalha . Onde aqui repousarão e aguardarão o Ragnarok.
    Cada dia no palácio me parece igual . As vezes gosto de observar os humanos daqui, apesar de muitas vezes não concordar com as atitudes deles, criaturas extremamente fúteis . Me pego pensando em uma vida humana , em como eu poderia fazer diferente estando lá. Em que tipo de aventuras me envolveria .Ontem maquinei um plano para sair daqui. Obviamente Odin não permitiria que eu abandonasse Folkvang, então começei a fabricar uma poção para dar a Brunhilde (uma das minhas Valquírias ) minha aparência. Seria por apenas uma semana e sei que tudo ficará bem . Amanhã ao nascer da aurora estarei indo ao mundo dos mortais.
  • Azul

    Três da minha noite.
    Permaneço introspectivo no abraço do único luxo material que valorizo em meu santuário: uma poltrona em vívido couro vermelho, fabuloso presente ofertado pela minha mãe, assim que completei dezoito.
    Mantenho a liturgia regada em silêncio etílico, observando meu amante a viajar em sonhos límpidos, enquanto beberico a quinta Budweiser em conta-gotas.
    Reposiciono seu corpo leve sobre meu colo felpudo. Beijo os fios dourados no alto da sua mente despreocupada.
    Numa oração desfigurada, jogo alegrias saciadas no ar.
    Não dá para evitar a presença de duas lágrimas fugidias.
    * * *
    Pelo menos o discurso de abordagem fugiu do trivial.
    O estranho não me pediu dinheiro, tampouco veio com a velha máxima sufocante:
    “Eu poderia estar robâno, matâno, gastâno com tóchico, blá, blá, blá”.
    Ele apenas sentou-se ao meu lado no ponto de ônibus que liga Sul e Norte.
    Constrangido, dizia ao léu que sentia fome. Foi o que imaginei ouvir.
    Só então diminui o som, pedi licença ao Martin Gore, tirei um dos fones e resolvi prestar atenção naquela criatura errante.
    “Tenho fome”, ele repetiu. Seu semblante remetia a um transe forçado.
    Notei traços de sinceridade nas palavras sussurradas. Fui obrigado a confirmar que o sujeito realmente precisava ingerir alguma coisa sólida.
    Macaco velho que sou, resolvi lançar o Grande Teste, retirando minha única nota de cinquenta da carteira. Perplexo no íntimo, eu mesmo não acreditei no meu sagrado ato mecânico, sem demonstrar um pingo de receio em ser assaltado.
    “Aqui está. Preciso de vinte. Use o resto como você quiser”, me exaltei, ausente, entregando a nota ao moribundo.
    “Você tem... deixe-me ver... nove minutos para trazer o meu troco”, exigi, espiando a hora na tela do meu idolatrado iPhone quitado após mil e duzentas prestações.
    Com as mãos encardidas, em formato de concha, Barba Desgrenhada acarinhou o dinheiro com apropriada desconfiança, talvez não acreditando no seu dia de sorte. Trêmulo, enfiou a nota num dos bolsos da blusa vermelha de moletom, saindo apressado para se esbaldar no seu vício.
    Os nove minutos voaram. Meu ônibus chegou. Peguei a condução.
    Acomodei minha frustração na cozinha, como de costume.
    Enfiei os fones até o âmago dos meus ouvidos, tratei de caçar Orbital e tentei esquecer a cagada que eu havia feito.
    Acho que perdi cinquenta lovs.
    * * *
    Oito da matina. Lá estava eu, largado, seguindo minha rotina infame.
    Santa Sexta-feira. Ufa!
    Premiado com meio expediente, eu ensaiava a ideia de assistir algum filme em cartaz, no final da tarde.
    Adele bajulava meu princípio vital, quando fui sacudido por um branquelo trajando um conjunto de tecido bambo não estranho, emanando um cheiro de rua também conhecido.
    “Eu não tenho dinheiro”, rosnei inquieto, ríspido e puto por ter sido incomodado durante minha meditação popínica.
    “Aqui está o seu dinheiro”, bramiu Varapau, num barítono impressionante.
    Demorou alguns segundos para que eu arrumasse os acontecimentos na minha cachola sonolenta.
    Sim, é verdade. Era ele!
    O tal cara para quem eu havia adiantado uma grana há dois dias e que eu jurava de dedinhos cruzados que jamais reaveria meu suado dinheirinho.
    Fiquei beterraba, sem graça, sem ação!
    O airoso Branco, livre daquela barbona assustadora, chacoalhou as notas no ar, ambos em triunfo. Logo a seguir, ele depositou sobre minhas mãos ressabiadas duas folhas de dez e uma de cinco. Eu não sabia como agir. Apanhei as tiras amarrotadas de valor infiel e enfiei tudo no bolso de trás do meu uniforme apertado.
    Ele pediu licença, esparramando seu esqueleto próximo ao meu assombro. Jogou sobre minha panguice uma bem-vinda gargalhada repleta de dentes bem alinhados, recobertos de um branco improvável, onde a perfeição física só não era absoluta por causa da ausência de algumas pérolas mais ao fundo; detalhe que não ofuscava o tesão daquele apoteótico sorriso de linhagem adolescente.
    “Com a quantia que você me liberou, pude tomar um banho decente, fazer a barba e comprar coisas para comer durante uma semana inteira!”, confidenciou-me o rapaz, todo serelepe.
    Um gato sem botas havia devorado minha língua.
    Eu continuava me sentindo um albino pimentão estrábico, desorientado, com imensa vergonha por ter julgado uma pessoa sem ao menos proporcionar a mim-eu-mesmo a oportunidade de conhecê-la o mínimo do mínimo aceitável.
    “Seu ônibus está chegando”, o mendigato alertou, apontando para o coletivo amarelo que se aproximava do terceiro ponto.
    Subi petrificado, onde apenas um “muito obrigado” tosco vagava ao redor dos meus ouvidos toscos parte II, agora plugados no Curt Smith.
    Oh, lágrimas. Oh, medo. Oh, incompreensão!
    Continuei embosteado em remorso durante o médio trajeto.
    Beliscando meu traseiro, remexi as notas no interior do bolso esquerdo, jurando que entregaria ao rapaz o restante do dinheiro numa vindoura oportunidade.
    Mas, espere um momento: como ele sabia qual era a minha linha?
    * * *
    Na minha visão, um domingo nebuloso era um convite para um aprazível passeio a pé pela ilha. Com a ausência do Rei a alfinetar minha careca, que alívio andar pelas ruas sem boné e sem um quilo de protetor solar a abrilhantar meu caótico aeroporto nacional de mosquitos dengosos.
    Depositei minha carência num banco de pedra próximo ao parquinho localizado bem na entrada do Parque da Paz, onde Crianças barulhentas e Responsáveis temerosos digladiavam suas personalidades entre gangorras, escorregadores e balanças multicoloridas carregadas de estampas floridas.
    Gosto de apreciar pais bobocas e capetinhas ingênuos. Diante da algazarra, recordo que em tempo algum tive um pai presente e jamais fui um garoto insuportável.
    A verdade é que eu não gozei do que era rotulada “uma infância ideal”.
    Pulemos tal parte, senão começo a invocar saudades da minha mãe.
    Longe de traumas, a visão de famílias comercial-de-margarina até que me conforta.
    Ah, o meu sonho secreto? Merecer o direito de constituir uma harmoniosa parceria com um companheiro sensível e me tornar o segundo pai maravilhoso para um pitico alheio a fomentar mil alegrias em nossa existência.
    Comprei um picolé de limão de um velhinho muito simpático. Retornei minhas pernadas pela trilha que corta a compacta floresta, caminhando sem um paradeiro definido.
    Quando resolvi mudar a seleção de músicas, deixando Alanis de lado e partindo para Grace Jones, levei um baita choque – de palpável alegria e denso espanto – ao notar Mancha Vermelha cruzar meu castanho olhar incrédulo.
    Bendito moletom judiado!
    Ele foi materializado do Nada, sentou num toco de árvore transformado em banco rústico e abriu um saco de papel amarfanhado, retirando gorduras e uma garrafinha contendo uma bebida carmim, que eu apostei ser um vinho de penúltima qualidade.
    Na minha cabeça-preconceito, mendigos se embriagam para fugir do desprezo dos Certinhos e para amenizar as dores de uma escolha errante, além de abater o frio em seus ossos durante as madrugadas infinitas.
    Aproximei minha ansiedade de mansinho, tentando em vão disfarçar a histeria inconsciente pelo reencontro.
    “Oi”, murmurei, louco de vontade de abraçá-lo pelas costas.
    “Oi. Que bom te ver. Sente-se. Quer uma coxinha?”
    O mesmo sorriso, o mesmo jeito de moleque, aquele par de joias azuis mais lindo do...
    Meu deus, que olhar era aquele?
    Como num efeito-róliude, uma fresta de luz nívea abriu caminho entre nuvens carregadas num degradê chumbo e âmbar, chapando de vez aquele rosto sobrenatural.
    Era como se o povo lá de cima me enviasse um sinal do tipo: “ôôô seu paquiderme, acorda, o sulista vale qualquer investimento!”.
    Eu estava jubiloso, encantado, esperançoso!
    Procurei outro toco para acomodar minha ansiedade.
    Agradeci a educada oferta, mas como não permito que nada de carne invada meu interior (pelo menos no que se refere ao alimento), preferi só apreciar Transparente degustar sua refeição gordurenta.
    “Gastei meus últimos tostões. Veja!”, Azul apontou para o interior do saco pardo, onde encarei meia dúzia de minúsculos salgados variados, de atributos questionáveis.
    “Você acredita que aqui está investido o restante daquele seu dinheiro? Muito, muito, muito obrigado. Você foi um assassino eficaz. Matou minhas fomes!”
    Voltei a travestir o Pimentão Vermelho, transfigurado em vergonhas.
    Havia tantas desculpas para declarar. Eu matutava um jeito delicado de granjear aquela amizade, procurando não transparecer minha ignorância ao lidar com uma situação megainusitada para mim.
    “Olha, vou ser di... direto”, eu gaguejei, tentando medir palavras.
    “Eu achei que você ia pegar meu dinheiro e se foder no veneno. Mas, pelo visto, você não curte droga, não é mesmo? Talvez um vinhozinho...”, disparei meu absurdo julgamento, afundando em gafes e mais gafes, ladeado pelo cretino Preconceito.
    “Restos de uma Fanta... Uva”, ele afirmou com uma tranquilidade insuportável, me oferecendo o conteúdo da garrafa sem rótulo.
    “Eu não ingiro nada de álcool”, Azul destilou sarcasmo, rindo e se divertindo, só para me diminuir mais um pouquinho.
    Se o chão não fosse tão teso, eu juro que ia cavar um buraco e enfiar minha cabeça a onze palmos abaixo dos nossos pés. Meu lastimável comportamento foi além do aceitável. Agi como um bacharel em Idiotice!
    “Está quente, quase sem gás. Quer um pouco? Assim você elimina todas as suspeitas”, chocalhou o pobretão diante do meu décimo deslize.
    Perante aquele azul infinito emoldurado num rosto brutalizado pelo tempo, porém agraciado pela enorme vontade de viver, aceitei o frasco, sorvendo um ligeiro gole do refrigerante aquentado, um verdadeiro purgante divino bem apropriado para a ocasião.
    “Não quer mesmo uma coxinha? Talvez uma salsicha empanada?”, provocou Azul, quase enfiando um salgado oleoso na minha fuça, inflamando meu olfato, se divertindo com minha cara “de fresca” a exalar um nojo autêntico, dramático, hilário.
    “Prazer. Sid”, eu disse, ansioso para não perder o diálogo.
    “Prazer...”, ele respondeu, limpando a mão esquerda no tecido rugoso que cobria pernas tentadoras. Apertou minha contorcida mão direita num equilíbrio perfeito entre virilidade e sensibilidade.
    Fiquei longo tempo a contemplar meu Cavaleiro Errático durante seu banquete. Mesmo faminto, ele demonstrava modos civilizados ao devorar sua refeição.
    Aceitei que ele não era um Selvagem, um drogadito expurgado da sociedade, vagando no limbo da indiferença, no submundo da ignorância.
    “Conte-me sua história, por favor...”, pedi, com ternura.
    “Não há muito para contar”, pigarreou meu Lorde, limpando os lábios rosados com um resto de guardanapo de papel, modificando o semblante de Barriga Cheia para Maior Abandonado.
    “Estou com trinta. Perdi meu pai e minha mãe aos vinte e dois. O casal regressava de uma partida de bingo realizada na casa de amigos, quando foram liquidados por balas perdidas presenteadas por policiais numa injusta perseguição a bandidos que, no final, não eram marginais porra nenhuma, na zona sul daquela merda de Cidade Cinzenta.
    “Viver com meu irmão estava fora de cogitação. Deixei a casa para ele e a vagabunda da mulher dele. Sumi do meu emprego. Picotei meus documentos. Doei minhas Ellus, meus Casios e todos os meus pares de Converse. Também queimei todas as fotos. Liquidei o passado. Escolhi Lovland, a terra dos Solitários. Ganhei as ruas de areia. Passo bom tempo a ler jornais e revistas de ontem, caminhar sem metas e mendigar comida. É a realidade que escolhi pra mim”, metralhou Azul, jogando garganta abaixo o resto da Fanta sabor Cagante.
    Fiquei pasmo diante de tanta sinceridade e praticidade. Não havia mais nada a temer, julgar, questionar. Corria em minhas veias o impulso de tomá-lo em meus braços, implorar o seu amor, desejando fundir e foder meu corpo com o dele ali mesmo, no meio do verde, atrás dos decanos tocos marrons abençoados pelo céu carregado em anis e cinza.
    “E a sua história?”, desafiou Azul, roçando de leve nas minhas coxas, brincando com os dedos sobre meus pelos marrons, acordando-me do transe, despertando com sua púbere atitude um calor imediato a se apossar do meu corpo careta-carente.
    “Também órfão de pai e mãe. Desencarnados com diferença de poucos anos. Câncer. Uma tradição na nossa família. Sou filho único. Ainda moro na casa deixada pelos meus pais. Nunca curti meus estudos. Sempre achei escola um porre, um ambiente muito desestimulante. Preferi ser educado pela Vida. Trabalho como repositor de mercadorias numa das lojinhas do velho Kneip, lá do outro lado da ilha. Estou solteiro já nem sei mais por quanto tempo. Sou gay. Levo uma vida patética, certinha, sem novidades. Sou um conformado. Acho que é só isso...”, relutei, ocultando a vontade de expor mais detalhes soníferos da minha insossa existência.
    “Vamos dar uma volta?”, disse Azul buscando minha mão; seu ato brioso a elevar meu corpo suando em bicas glaciais.
    “Espero que você não sinta vergonha de desfilar ao lado de um mendigo profissional”, desafiou o Príncipe.
    “Foda-se o Mundo!”, repliquei de peito aberto, envolto por um gritinho descolado.
    Conquistei Amizade. É o primeiro passo.
    * * *
    Há lugares belíssimos a explorar no pedaço de mata nativa que sobrara em Lovland, mesmo debaixo de um domingo doido que ainda prometia despencar sobre nossas cabeças. Nem o céu quase sem cor, cantando tempestade, nem raros olhares de reprovação direcionados ao casal excêntrico que desfilava nas frondosas trilhas verdejantes... nada era capaz de amainar o orgulhoso sorriso colorido a poc-poc-quear em nossos semblantes rejuvenescidos.
    Papeávamos sobre futilidades. Discutíamos os mais variados assuntos. Brigávamos por bobagens, onde caras feias eram desmanchadas de imediato no meio de abraços fraternais, deliciosos, restauradores.
    Nem o carregado cheiro ácido que emanava daquele velho moletom colorado dispunha de força suficiente para me afastar das investidas do Magnífico.
    Era perceptível que Azul estava adorando a presença de alguém que o aceitou e encarou a disposição de trocar experiências e somar alegrias outrora perdidas.
    Quando indaguei sobre onde ele morava ou passava as noites, meu novo amigo respondeu que seu grande barato era pesquisar locais abandonados ainda não reivindicados pelos Droganildos.
    Não refleti duas vezes. O homem capaz de eliminar sua identidade social fora convidado a passar aquela noite na minha casa.
    Nada temi. Mantive consciência dos possíveis riscos que eu corria, caso Azul estivesse mentindo.
    Invoquei meu mantra: “Cada coito com a sua lucidez”.
    Joguei a moeda para o alto. Escolhi “Cara”. Quando virei o metal imaginário nas costas da minha mão sonhadora, fui agraciado com a sorte de um semblante a iluminar meu futuro.
    * * *
    Na antiga residência há dois banheiros.
    Enquanto Azul se lavava no andar de baixo, eu me preparava na suíte presidencial.
    Temeroso por ter enfiado um desconhecido dentro de casa, meu banho foi mais ligeiro do que o usual. Após enxugar minha inquietação pela metade, vesti um ancestral agasalho confortável e desci a fim de preparar algo substancioso para o nosso jantar.
    Deixei algumas roupas limpas à disposição de Azul. Que bálsamo ouvir sua voz em falsete a imitar Tina Turner, enquanto arrematava sua íntima purificação.
    * * *
    A visão de um anjo asseado, barbeado, luminescente, trajando minha velha bermuda cáqui e a adorada Hering branca de outras guerras, desnorteou todos os meus sentidos.
    Parei de temperar o molho de tomates. Fiquei embasbacado ao ver Azul secando os cabelos com as pontas dos dedos finos e tonteado ao apreciar aquela beleza bucólica emoldurada pelo batente que separava a Cozinha da Copa.
    Ele delineava o volume e o caimento das madeixas douradas que ardiam em luz própria, manipuladas por mãos rústicas, as unhas de pontas esmigalhadas, todo conjunto sendo movimentado por braços esbranquiçados cobertos por uma densa camada de pelos fulvos; fios que também abrilhantavam pernas afiladas, porém robustas e magicamente torneadas, apoiadas sobre pés largos e sensuais, apesar dos calcanhares dilacerados pelas agruras de um voluntário caminho sem voltas.
    “Santo banho”, ele disse, procurando um lugar para relaxar.
    “Santo deus!”, respondi, não querendo acreditar que um sapo era capaz de virar um príncipe mais do que encantado. E sem o derradeiro beijo!
    “O que temos para comer?”, Azul cantarolou, esfregando as mãos rosáceas nas coxas peludas por cima do tecido de brim, enquanto aprumava sua virilidade sobre um banquinho de madeira.
    “Eeeuuuu!”, respondi de supetão, chumbado com aquela visão-caravaggio.
    “Quero dizer... eu... tô... fazendo macarrão!”
    * * *
    A serenidade do nosso jantar foi abençoada pela Senhora Magia, onde suas asas purpurínicas vertiam uma brisa besuntada em sândalo e afáveis expectativas.
    Ensinei um tímido Azul a apreciar o vinho dispendioso que eu levei um tempão para pagar. Durante o teatro de Baco, eu quis acreditar que fui agraciado com um momento sublime que me permitia ostentar aquela garrafa australiana.
    A noite era – com toda, toda, toda certeza! – uma ocasião acima do extraordinário.
    Ocasião. Amo essa palavra.
    Oh, sou um Bocó Ziemann!
    * * *
    Azul fez questão de me ajudar com a louça após o jantar.
    “Eu lavo. Você seca. E guarda!”, ele ordenou, sempre desfilando seu perolado sorriso incompleto, hipnótico, encantador.
    Que eu estava de quatro por ele? Era mais do que evidente!
    Pouco me afetava se dentro de cinco minutos, num ato mecânico, eu engolisse aquele báculo anônimo ou cavalgasse no seu colo sulista feito uma ungida vaca profana, imaginando que ele gozasse bem rápido e logo em seguida me desse um terrível “valeu... a gente se vê” cortante.
    Havia fragmentos de generoso magnetismo no ar.
    Nossos anjos de guarda até que resolveram dar uma bela forcinha: uma chuva torrencial agasalhou Lovland. Escolhemos o tapete da sala para jogar nossos corpos empanturrados de massa e vinho e assim apreciar, de olhos bem fechados, a Oitava Sinfonia das Gotas Errantes. Anjo dele e anjo meu deram um jeito de foder gostoso num dos esconderijos da centenária morada.
    Eu e Azul meditávamos no tantra enquanto curtíamos o rouco som do Vento, os agudos da Chuva e os tenores do Universo. A trilha sonora ideal para o nosso prazer.
    “Você quer?”, ele ciciou, buscando meu traseiro num aconchego desesperado.
    “Eu preciso”, suspirei, virando meu corpo em chamas para o encaixe convidativo.
    * * *
    “Quando te procurei naquela manhã, uma parte de mim só idealizava encontrar sua compaixão, arrumando uns trocados para que eu pudesse realmente comer algo”, segredou Azul, entre beijos e afagos suados.
    “E quando você fez o teste, dando-me aquela quantia, corri para trocar o dinheiro, pois queria lhe trazer o combinado o mais rápido possível, antes que você pegasse sua condução.”
    Meu Carinhoso tentava explicar a questão: como você sabia qual era o meu ônibus, porém eu não o deixava explanar mais nada, porque meu interesse era focado somente no enroscar das nossas línguas exaltadas.
    “Ao retornar para o ponto, você havia embarcado e não me viu acenar com as notas na mão”, riu Azul, recordando a cena folhetim.
    “Todo esbaforido, eu quase cometi um velhocídio ao perguntar para um vovozinho que linha era aquela que acabara de partir. Ele imaginou que eu fosse assaltá-lo, ao perceber as cédulas amarrotadas bem sufocadas nas laterais da minha mão imunda!”, gargalhou o loiro, sôfrego, destilando certo pesar pela pessoa que ele havia se tornado perante a tal da Sociedade.
    Abracei Rapazola com energia e nossas varas voltaram a se raspar, ganhando tentadora rigidez, numa onda de provocações arrebatadoras.
    “Sou grato ao que você fez por mim. Nunca imaginei que tudo rolasse do jeito que rolou. O dinheiro. A confiança. O teste...”, ele riu.
    “É incrível. Eu estou aqui porque senti desejo por você desde o primeiro segundo após o terceiro olhar não correspondido. Eu não podia desistir. Coberto em dúvidas e temores, eu mantive a consciência de que as chances de você ir pra cama comigo eram mais do que remotas, devido ao meu estad...”, balbuciou Azul, envergonhado pela audaciosa atitude tomada para chegar até minha pessoa.
    Eu não queria mais explicações. Preferia um monólogo na forma de beijos suaves e selvagens mordidas na minha nuca.
    Foi assim que descobri que meu Nobre já havia me sondado no mesmo bat-ponto, no regular bat-horário, na tocante bambee melancolia.
    Azul penou para encontrar um jeito de não ser escorraçado por mim. Ele confessou que ficou radiante quando tivemos a ventura do reencontro no Parque da Paz, certamente por obra e graça dos nossos anjinhos peraltas.
    Sua sorte havia mudado. A minha também!
    * * *
    No segundo ato, fizemos um amor bonançoso ao sabor do vento, da chuva e da Natalie Imbruglia. Selávamos a união de espíritos isentos de pressa, roteiros e obrigações de qualquer espécie. Azul me roubou todos os beijos e me presenteou com as mais voluptuosas lambidas no meu pescoço, rabo, cacete, vãos dos dedos dos pés e das mãos.
    Tudo nessa ordem. Tudo fora da Ordem.
    Inconsciente, insistindo com meus exames medíocres, tentei forçar meu Senhor a alancear-me sem nenhuma proteção artificial. O pedido foi negado de imediato.
    Adorei a responsabilidade e o senso do Correto. Suspendi em definitivo minhas inseguranças sem um pingo de cabimento. Azul havia me dado provas suficientes do seu caráter. Confiança. É o segundo estágio.
    * * *
    Santo Fogo Supremo.
    Meu rabo sibilava de tanta alegria. Havia séculos que uma vara mágica tão inquietante não premiava maravilhas na gruta do meu paraíso.
    Dei, dei, dei feito um tresvariado.
    Meu Azul, garanhão de primeira grandeza, parecia ter guardado toda sua energia ao nosso fantástico encontro premeditado nas estrelas.
    Comi, comi, comi feito um brucutu acéfalo.
    Meu Azul, alquimista sensual, soube metamorfosear a frágil libélula que eu costumava assumir numa segunda personalidade íntima.
    Sua paciente sabedoria em conduzir meu sexo ao Novo expôs a atividade vulcânica que jamais imaginei dominar no centro das minhas coxas.
    Eu não era mais virgem no Ativo.
    Sinfonia das águas, corpos-carpetes riscados sobre o chão de tacos, sexo magistral, fodas divinas, anjos e homens se consumindo a valer.
    Tudo isso bem marinado na mística melodia de Matt Alber, urso sideral.
    O sincronismo da nossa dança contemporânea durante o entrelace dos nossos corpos e espíritos afinados fez com que nos entregássemos à satisfação dos nossos desígnios.
    Precisávamos um do outro.
    Naquela hora, naquele lugar, naquela situação.
    * * *
    Acordamos um tanto descadeirados.
    Era antemanhã. Acho que sonhei que um astro pouco disposto pincelava o firmamento em azul e amarelo através dos seus primeiros tentáculos avermelhados.
    Deixei meu Campeão dormir mais um pouco. Ele merecia o sagrado repouso.
    Tomei um banho e desci para a cozinha, já em trajes de labuta.
    Coloquei água para esquentar, enquanto preparava a mesa para um agradável e substancial café da manhã.
    Santa Cher encantava na estação de rádio local, bramindo seu pop delicioso a chacoalhar (mais?) minhas cadeiras.
    Nada melhor do que abrir o dia acreditando no Amor.
    Azul surgiu como uma visão linear de um quadro de Pollock. No corpo esguio, a inseparável e fedida blusa de moletom acompanhava os trapos antigos.
    Espantando, sem querer aceitar o inevitável, convidei Inquieto a tomar pelo menos um pouco de café. Seguramos a mesma caneca e encaramos nossos destinos. Olhos cansados inseridos em olhares envergonhados.
    “Eu preciso regressar ao meu mundo. A rua. Aquilo que eu escolhi. Não peço que você me compreenda. Mas, por favor, deixe a porta aberta, caso um dia eu decida voltar.”
    Encarei meu Amante no fundo das suas contas cristalinas, procurando encontrar motivos concretos para toda renúncia.
    Numa cerimônia de improviso, sorvemos o negro líquido afogueado, um gole depois do outro, sem dar trela ao Tempo. Mareados, uma vez ele, outra vez eu, beijávamos a caneca de ágata.
    O calor emanado não emitia traços incômodos que poderiam ferir nossos lábios. Um efeito que não se comparava à quentura que invadia nossas almas ferreteadas com mais uma separação.
    Meu olhar castanho, arroxeado, sempre atento, não desviava um milésimo de segundo sequer daquele olhar cerúleo.
    “Mereço o último beijo?”, perguntei, em lábios difusos.
    “Agora não”, Azul retrucou, provocador. Captei seu instinto malandro.
    Cachorro beliscou meus lábios entre seus dentes, descendo sua boca na direção dos meus mamilos rígidos, congelados no inferno pagão. Mordeu em boa demora os faróis sob minha camiseta em frangalhos.
    Azul continuou sua trajetória, molhando meu umbigo, abrindo minha calça, abocanhando meu Cadete preparado para a penúltima batalha.
    Ele me chupou em desespero, preocupado apenas com o meu deleite. Engolindo, lambendo, mordendo, sugando, beijando meu cajado, meu Varão me proporcionava algo que eu não sabia ser possível degustar em tamanho privilégio.
    Morte ao Bocó. Agora eu era o Macho, o Dominador, o Fodão. Que delícia!
    Não deu outra. Esporrei um caudaloso riacho translúcido no febril rosto escarlate do meu Azul ofegante.
    Ele não demonstrou preocupação em limpar-se. Levantou-se da posição submissa, buscando minha boca seca, meus lábios rachados, minha língua demente que precisava sentir sua lança superior mais uma vez.
    Meu sabor misturado com seu gosto, tudo mesclado na delicadeza e na selvageria de um beijo viril, único, inesquecível.
    “Eu preciso ir. Tente entender.”
    “Sim. Eu compreendo. Pelo menos eu acho que consigo aceitar. Pode ir. Você sabe todos os caminhos. Estou confuso. Tenho que me recompor. Preciso ficar sozinho alguns minutos, antes de sair para trabalhar.”
    * * *
    Quando não me encontro comigo mesmo, torno-me radical. Mudo minha rotina em novecentos graus quando perco alguém. Evito a todo custo encontrar fantasmas do meu passado: pessoas que marcaram minha existência de forma negativa ou incompreendida.
    Com relação a Azul não foi diferente.
    Pedi transferência ao Sr. Kneip. Fui mandando para a quarta filial que ficava no sentido oposto ao trajeto que eu fazia todos os dias, nos últimos trocentos anos.
    Bem pra lá da ponte, eu amargava meu vazio repleto de inerências nos arredores da Cidade Rançosa.
    Até meus horários consegui modificar. Nos fins de semana, nada mais de passeios pelo Parque da Paz. Resolvi andar de bicicleta em regiões que Mendigo certamente não teria acesso. Não cruzei mais com Azul e seu moletom acerejado nas beiradas da minha ilha paradisíaca.
    * * *
    Vinte oito de outubro. Dia de levar flores.
    O sábado premiava minha calvície parcial com um verão inclemente. De boné e óculos escuros, fedendo uma nova versão de filtro solar “sem cheiro”, cumpri minhas obrigações familiares, depositando um frugal arranjo de flores brancas sobre o túmulo dos meus pais.
    Quando terminei as orações e contive o choro de saudades da minha mãe, o roteiro imutável consistia em voltar para casa e afogar minhas lamúrias e solidão na companhia certeira de uma oitava garrafa de Budweiser.
    Minha bicicleta parecia rodar com aros de chumbo, onde cada pedalada estropiava em demasia meu corpo sonolento, isento de vidas.
    Abrir o portão de ferro (bem) fodido foi um parto. Encarei o mesmo sacrifício quando tentei destravar a porta de maciça madeira sem leis.
    Não adianta. Sempre que visito meus pais, eu preciso embriagar a alma para suportar as amarras do Vazio.
    A bike repicou lá fora, esquartejada no gramado. Despenquei no sofá, sem arquitetar hora exata para ascender minha ruína, nem querer me atinar para o Nada.
    Chorei. Bebi. Gritei. Bebi. Xinguei. Bebi.
    Apaguei.
    * * *
    Não. Aquilo não era uma alucinação.
    Azul estava em pé, escorado no batente, encarando com formidável doçura o resto patético de mim-eu-mesmo desaprumado no sofá, fedendo a álcool e desonra.
    “Você deixou a porta aberta”, Azul reiterou nossa fé.
    Eu já nem sabia mais qual era a porta que ele se referia.
    “Eu preciso recomeçar”, ele disse, eu disse, nós dissemos.
    Desistimos das palavras. Concordamos com um oportuno abraço.
    A perfeição da nossa nova dança contemporânea durante o entrelace dos nossos corpos e espíritos apaixonados fez com que nos entregássemos à satisfação plena dos nossos desígnios.
    Precisávamos um do outro.
    Naquela hora, naquele lugar, naquela situação.
    De uma vez por todas!
  • Balas de Agosto

    “Dia dezoito. E ponto final!”, vociferou Wagner, tentando ser categórico.
    Quase impaciente, tamborilando o polegar fofuxo sobre o tampo de vidro da nova mesa da sua sala de reuniões recém-maquiada, ele me encarava, atônito com minha indiferença embutida em devaneios.
    Pra variar, eu lia seus pensamentos:
    Tempo é dinheiro. Tempo é dinheiro. Temp...
    Money, money, money...
    “Wagner, Wag, Wagner. O dia, para mim, não carrega a menor importância”, eu sussurrei, debaixo de um dispendioso sorriso artificial descaradamente sarcástico. Eu sabia que essa reação infantil tirava meu mecenas do sério.
    “Desde que seja em setembro, qualquer dia é o dia!”, tentei encerrar a discussão, bocejando além da conta, tentando segurar o riso apreensivo.
    “Mas, como sou boníssimo, vou abrir um parêntese para você”, continuei, disfarçando minha insegurança, enquanto me divertia amparando com as mãos manicuradas, durante quatro minutos exatos, meu rosto afogueado espremido na grande janela, vendo os carros parecendo legobrinquedinhos ziguezagueando lá do outro lado da vida.
    “Ziemann, Zi, Ziemann. Temos um calendário apertado pela frente. Você sabe o quanto batalhei para conseguir uma data possível na porra desse seu mês tão especial, mas...”, argumentou Wagner, num lamento insosso, como se fosse a última cartada da Imposição.
    Não permiti que ele choramingasse. Wagner sabia o quanto era importante para mim que tudo fosse arranjado em setembro.
    Setembro não era nenhuma sandice ou implicância de minha parte. É necessário que eu continue a acreditar que tudo de bom a mim-eu-mesmo sempre acontece no nono mês.
    Alguns exemplos práticos? Meu primeiro sucesso editorial fora escrito num triste e solitário mês de setembro. Foi num final de setembro que assinei meu primeiro contrato. Também em setembros passados tive a chance de conhecer meus (três) grandes amores ou, vá lá, até mesmo alguns caras que se tornaram fantásticos fogosos amantes... durante raros encontros, devo confessar.
    Setembro é mágico para mim. E isso me basta!
    Aqueles olhinhos da cor do avelã, circundados por grandes manchas cafeinadas, denunciavam muitas noites sem sono naquela cara de coitado-safado. Resolvi baixar as armas. Não insinuei nenhuma exigência adicional. Eu não podia sacrificar o prazer do contato com meus primeiros fãs por causa de uma afetação bobiça de minha parte.
    “Tá certo. Dezoito de agosto. Mas, por tudo que é mais sagrado, marque o início para...”
    “... depois das oito, eu já sei, eu já sei. Fique tranquilo, meu ursinho blaublau de brinquedo”, chilreou Wagner, despejando sobre mim uma deliciosa, demorada e contagiante gargalhada: sua marca registrada quando vencia a batalha.
    Minha cara de espanto denunciava meus suplícios oitentistas. Além disso, se você quer ganhar um sopapo na fuça, basta me chamar de “ursinho”, “ursão” ou apenas “urso”. Eu me acabo no ódio perante rótulos tão imbecis.
    “Não sei se te espanco por causa do ursinho ou por ter me lembrado dessa música tão... tão... bubblegum. Aiii, eu te odeio, senhor Wagner. Agora vou ficar com a porra da melodia medonha me infernizando os pensamentos até altas horas!”, gritei, bem bambeestérica, algo forçado que em nada combinava com minha reclusa personalidade.
    Sou um gay fora do meio, que escreve sobre o meio pelo simples fato de conhecer o meio por inteiro.
    “Ai di mim ai... ai Blau Blau... eli não me queeerrr”, cantarolou em falsete aquele um e sessenta de homem, levantando o elegante corpanzil da sua exuberante cadeira de couro (design italiano, valor os-olhos-da-cara-do-meu-cu), cobrindo em seguida meus ombros e meu peito largo com um abraço paterno, tentando sussurrar no meu ouvido a porra da música que um dia eu idolatrara, intercalando a canção paleolítica com um convite tardio para almoçarmos juntos.
    Meu estômago aceitou a chamada.
    E lá fomos nós três, felizes a cantar. O celebrado escritor homopopista, o empresário-clone do baixinho da Kaiser e, claro, o espírito do Ursinho Blau-Pau a aprimorar minha síncope criativa.
    * * *
    Tá certo. Já enterrei minha cabeça na areia. Eu confesso!
    Eu morria de vontade de transar com o tal cantor da tal música, quando eu era um dezesseis-semi-virgem-ingênuo que acreditava piamente que os anos 1980 eram o máximo. Quantas punhetas, Blau Pau... quantas punhetas!
    * * *
    Eu estava nervoso, alterado, ansioso e amalucado de tesão com o decorrer dos acontecimentos. Três dias para o lançamento do meu segundo livro: “Alianças”.
    Dessa vez, o ponto de partida da nova empreitada se daria em Lovland, meu outrora refúgio, minha casa de ideias, a fonte primal da minha prosaica inspiração.
    Meu livro anterior, “Superlov.i.e.”, fora lançado dois anos atrás em festas badaladas e enfadonhas praticadas nas grandes capitais país afora.
    Tudo dentro do circuito, tudo no mesmo esquema datado.
    Wagner é um bom padrinho. Devo admitir: ele é o meu Salvador.
    Mas agora, já tarimbado e conhecido e um pouco mais respeitado, finalmente gozo a liberdade e a audácia de jogar sobre a mesa do Império as minhas primeiras cartas não mais rasuradas.
    Não posso negar que achei nobre e bonita a atitude do meu “cuidador” em permitir que minha segunda tacada de mestre fosse iniciada na minha terra, sob as bênçãos do meu mar sereno e tendo como madrinhas as areias revigorantes e as gaivotas solenes a prestigiar a derradeira pisadela no penúltimo degrau do meu violáceo sucesso.
    Além disso, Clara e Estela mereciam minha presença na sua simpática livraria. Na verdade, foi onde tudo começou.
    Palavras de Estreia fora o cubículo encantado onde gastei tempo de sobra a viajar pelos lugares mais fantásticos do universo dos machofêmeas peludos.
    Ao mesmo tempo em que eu criava feito um idílico lúdico, ainda encontrava lapsos de liberdade para conviver com homens, mulheres e seres mágicos, iluminados, perversos e amorosos que rechearam minha imaginação em encontros reais e fascinantes.
    Recordo, disparando gargalhadas bem sonoras a espocar em minha mente, que eu espantava a Senhora Solidão para bem longe do meu reino, enquanto me embriagava nas palavras poéticas e me intoxicava nos parágrafos de impacto cortante das histórias de Genet, meu divino mestre do mais belo inferno.
    Lembro-me que jamais havia um tostão furado no bolso da minha única e surrada bermuda preta, quase chumbo, após anos e anos de nada.
    Eu não podia comprar aqueles livros. Em troca, eu adorava limpar, espanar, arrumar, empilhar e ajudar na catalogação de cada título, de cada barra de ouro.
    Clarinha, tão tímida, branquinha, sardenta e magrinha. Quanta saudade. E Estela, a fofa-morena-jambo mais linda e comunicativa que havia na ilha. Recordar aquele sorriso incomparável do casal de mulheres que a todos encantava. Oh, quanta saudade!
    Magra e Gorda, as meninas da livraria da esquina, assim elas eram conhecidas. E aqui não há nada de maledicente ou pejorativo; apenas fora o jeito carinhoso que os nativos tratavam suas joias mais preciosas, sempre com um toque de irreverência.
    Na ilha, é incrível apreciar o casal Tolerância e Respeito que anda de braços dados por todo lado, sorrindo sem parar, cumprindo com louvor a Grande Missão.
    Foi na livraria da Rua Weiss que ganhei uma mesa nos fundos de uma salinha repleta de livros empoeirados. Eles aguardavam, pacientes, a hora de bailar nas prateleiras da modesta sala de leitura, abrilhantando com seus conteúdos mágicos a vida de um ser ignorante em busca da Evolução.
    Foi na clausura desse meu mundo indivisível que tomei emprestado o Vostro da Gorda. Freneticamente possuído, passei a dedicar horas, depois dias, em seguida noites sem fim a dedilhar com fervor fanático sobre o teclado do clássico notebook, despejando na tela quase sem brilho todas as maluquices baseadas na Verdade Colorida que pipocavam na minha mente embotada no vinho barato que servia para espantar o frio da minha insignificância.
    Jamais fui incomodado. Apenas incentivado!
    Insignificância é uma palavra bonita que soa bem aos meus ouvidos. Tenho consciência de que até hoje eu não valho nada. Sou um homem diminuto. Já minha arte, ela carrega seu devido valor. Ela, sim, mesmo sendo descartável, é grandiosa.
    O resto são apenas memórias!
    De repente, Wagner surgiu em minha vida – indicado por um misterioso Não-Sei-Quem – e acreditou em mim-eu-mesmo, de olhos bem fechados.
    Caminhamos juntos, rumo ao sucesso, com almas bem despertas.
    Dias de vitórias.
    Eu cheguei lá!
    * * *
    “Nervoso? Quer uma massagem?”, insinuou Wagner, meu protetor, que tremia mais do que uma bambee-bate-cabelo em noite de caloiras.
    Abismado, da cozinha do meu antigo reinado eu olhava para o outro lado da rua. Apesar do frio bem sem graça e fora dos planos, uma multidão de rapazes, moças, Bambees, Bofies, Traves, Enrustidos e até mesmo um emaranhado grupo de cidadoidões acima de qualquer suspeita sexual (mas não moral) permanecia firme do lado de fora da discreta livraria.
    Depois da chupeta no São Pedro, a chuva havia dado uma trégua. A mídia local preparava as armas rudimentares para o começo de uma guerra de egos plastificados.
    “Humm, tirando o séquito que te faceidolatra... bem... para quem está fora há anos, até que os nativos têm um grande apreço pela sua digníssima penugem”, resmungou Wagner, irônico, procurando em vão alcançar meus ombros rígidos, tentando relaxar minha angústia, meu nervosismo, minha euforia.
    “Que nada. Muitos que estão na fila querem apenas conferir com os próprios olhos até que ponto a Grande Ursa Ziemann conseguiu ser alguém após atravessar pra lá da ponte. Sim, é infame. Eu tenho que rir da minha asneira. Mas pode ter certeza que essa parcela mínima da comunidade não está nem aí pelo que representa meu trabalho. Querem apenas aparecer. Querem curtir a ilusão de achar que são importantes ou insubstituíveis no meu instante único. Dou um exemplo. Olhe lá. Aquele grupinho ali, debaixo do segundo poste, quer conferir se trechos das suas vidas medíocres foram romanceadas pela minha sensibilidade. Metade vai cair das pernas. Olhe, olhe! Até o Prefeito está na fila. Comportado e de boca fechada!”, divaguei com desdém, ao ver o único ser homofóbico que tanto havia me crucificado, marcando ponto cerrado num evento histórico que abalaria as estruturas daquele amado monte de areia perdido no oceano.
    Eu era o capitão que finalmente alçava Lovland ao topo da atenção nacional. Era chegada a hora dos seus vinte e quatro minutos de fama.
    “É verdade. Sabemos que ele está plantado lá fora por dois motivos: Quem é Quem está em peso aqui e, claro, nada mal angariar alguns votos bambeesticos. Afinal, ano que vem haverá eleições, não é mesmo?”, ironizou Wagner, enquanto acalmava minhas mãos antárticas, esfregando-as entre suas mãos macias, que emanavam um calor paternal, quase sensual, exalando lavanda.
    * * *
    Adoro meus fãs.
    Sem uma gota de hipocrisia na minha afirmação, tudo o que escrevo e exponho e revelo é baseado nas vidas cinzentas daqueles se besuntam no sangue das minhas verdades romanescas.
    O momento explosivo de sair do casulo e estar de corpo presente a fim de rabiscar as primeiras páginas dos meus livros, dar centenas de abraços em desconhecidos, posar para milhares de fotos com o rosto e o perispírito colados a corpos de todos os tipos, tamanhos e cores que vibram em uma única sintonia de paixão; de poder finalmente sorrir com vontade e ouvir com atenção os anseios dos meus Iguais. Tudo isso me transporta para bem alto, colocando-me em contato direto com a face esquerda do Criador (nosso melhor ângulo para fotos de publicidade).
    E é por isso que afirmo, emocionado, que tudo valeu a pena.
    Vale muito estar aqui, agora, só eu e você.
    * * *
    Adoro jornalistas.
    Sou querido por todos aqueles que possuem mais de três neurônios ativos na cachola. Amo passar horas sendo sabatinado à exaustão e assim carimbar a exposição daquilo que vivo, crio e carrego de melhor em mim-eu-mesmo, estampando na arte literária e nas palavras certeiras baseadas em fatos concretos o que deve e pode ser consumido por todo aquele que busca se conhecer melhor.
    Eu sou o espelho encantado dos meus leitores. Sou proprietário de múltiplas chaves de todos os armários. Destravo todas as portas e cadeados e deixo a luz entrar. Salvo vidas, afago almas, liberto homens da demência imposta pela era esquecida da Mediocridade.
    Eu sou o Antídoto. O Alicerce. O Porto Seguro.
    As armas mais poderosas podem ser encontradas nas entrelinhas das minhas frases clicherianas. Parágrafos que carregam aquela magia libertadora, trazendo alívio mais do que imediato contra todos os males emanados pela Ignorância.
    São Ziemann. Ziemann são. Longe da demência.
    Chega a ser irônico levar uma existência tão monástica como a que levo; apenas consumir a vida escrevendo, jogando Damas ou disputando TrackMania contra a Senhora Solidão, e dividindo o que me resta de amor com minhas sobrinhas e minha Cambota, a “priscila” do eterno olhar tristonho.
    De repente, como num passe de mágica que sempre termina alguns minutos antes das doze badaladas, cá estou diante de uma multidão que me venera, que tenta me decifrar, que degusta meu cheiro e o calor dos meus fartos pelos agudos durante alguns segundos, em deliciosamente apertados e inevitáveis abraços ursinos.
    Assim me entrego e me revelo a todos. Dessa maneira suplico aos presentes a leve porcentagem de um milésimo de atenção.
    É pena que minha Melissa de cristal permaneça sempre abandonada nos fundos do salão. Não encontro príncipes encantados dispostos a desvendar meu sorriso enigmático no seio da história da minha real existência.
    No final da festa, se eu resolver estalar os dedos, sou agraciado com fogo e pintos e bundas por uma madrugada e nada mais. Pois no pacto firmado com o diabo inventado das minhas fantasias, não me foi permitida qualquer possibilidade de quebrar o encanto do meu sucesso com a experiência de um (novo) amor verdadeiro.
    Sou um homem que não pode mais possuir outro homem por inteiro. Talvez eu não queira. Talvez eu não mereça. Essa é a única questão da minha existência a qual não encontro respostas concretas.
    Só meus machos-personagens têm direito a finais felizes. O escritor deve se contentar em gastar calorias nas virtuais fodarias incessantes, onde o último prêmio é aquela mancha solitária compactada sobre o lençol.
    Eu grito. Sufocado. Leia-me, leia-me!
    Assino uma porrada de “para fulano, com sincero amor e desmedido carinho, Ziemann”. Mais do mesmo, clichê sobre clichê, mas é isso o que você quer. É o que eu lhe ofereço, onde apenas acrescento uma pitada de Coragem e duas gotas de Ousadia.
    E dá-lhe homossexo!
    Assim sou eu. Este é o Ziemann.
    Durante o lampejo, eu sou amado. Posso vislumbrar o incandescente brilho nos seus olhos tímidos. Caço uma aventura ou um amor que eu não mereço ao tocar sua mão e trocar uma energia periférica. Esbanjo minha sensualidade não somente nos enredos das minhas histórias fantásticas ou nos meus homens robustos, sensíveis, fabulosos. Nas entrelinhas, eu imploro por uma probabilidade de ser amado por você, mas você nunca escuta o que estampo escrachado em tramas muito bem costuradas.
    Voltemos à realidade da noite. Passe-me o livro. Abro o sorriso automático, porém honesto, versão 5.2, em gotas de pura porcelana.
    A quem devo assinar?
    “O próximo!”, grita Wagner, eufórico, imaginando o toque suave das digitais notas loveanas sendo visualizadas na tela americana, conferidas com alegria e devoção no final da festa.
    Money, money, money... Abba, Abba, Cadabra!
    * * *
    De repente, meus sentidos são fisgados por um zum-zum-zum fora de esquadros. Vislumbro alguém sendo empurrado na fila, bem na entrada da minha Palavras de Estreia. Sinto um estampido surreal. Balas de agosto? Bang bang bang... na minha ilha?
    Minha mente, agora no piloto automático, recordava horrores do passado. Meus amigos coloridos mortos, onde apenas o vermelho sombrio sugava a alegria dos velhos rapazes alegres. Minhas longas pesquisas para os meus enredos. Entrevistas e depoimentos emocionados, velados, excruciantes, que resultaram em mais um sucesso: meu novo filho, “Alianças”.
    Clóvis, o personagem principal.
    Começo tenebroso. Meio confuso. Final revelador... e feliz.
    Balas de agosto? Bang bang bang... na minha ilha?
    Eu ainda apalpo manchas de Aflitos se destroncando de um lado para o outro bem no centro das minhas retinas embaçadas. Uma dor lancinante no peito. A segunda angústia. Incrédulo, olho para o meu protetor, meu amigo, meu alicerce. Ele procura, em vão, forças para permanecer em pé. Justo Wagner, meu homem-pai-editor e que nessas horas deveria reassumir o cargo de meu anjo em guarda!
    Anjo, anjo. Eu beijo suas asas.
    Estela, minha gorda tão amada, travestida em azul e dourado, como uma autoridade máxima que embola minha imaginação, corre até a porta, alucinada.
    Continua o zum-zum-zum. Eu espanto uma lágrima de espanto.
    Eu ainda acaricio as asas alheias. Elas perdem a sustentação e se rompem num horizonte irreal.
    Ziemann sai de si. Ziemann grita. Ziemann empurra uma caralhada de bambees afoitos. Pelo caminho errante, Ziemann espalha purpurina importada do antigo Club Babylon. Ziemann desgrenha maquiagens e aniquila penteados. Ziemann ganha a rua embaçada, abrindo espaço na noite cálida.
    Estela corre, arfante, atrás do agressor. Suas pegadas no asfalto molhado são seguidas por uma legião de militantes loveanos que não aceitam a covardia daquele ato insano.
    Oh, Darel. Que monstro teria coragem de atirar à queima-roupa numa criança tão indefesa?
    Ziemann – mim-eu-mesmo! – joga o querido boné aos ventos e ajoelha diante do anjo com cara de menino assustado.
    “Ziemann... cadê vo... você... eu vim a... qui só pra te...”, o anjo cantarola, sorriso desfeito, desafinado, o clichê medonho que entoamos nos shows das estrelas que ainda não ganharam nossos palcos de ilusão.
    “Não diga nada, minha criança... não elimine suas forças... eu estou aqui”, um Ziemann desnorteado relincha em contralto, sorrindo patético, tentando desesperadamente focar uma fortaleza diante do inevitável.
    “Eu and... andei oito… vinte e oito quilômetros... vint… só pra te ver... passei a ponte... pé ante pé... centro de Downie... ponte... para... Lovl... livraria”, o anjo balbuciava, alucinado, buscando fatiar um pedaço do ar orvalhado a fim de preencher seus pulmões calcinados.
    “Mi desculpa, Sr. Ziemann. Eu não ten... tenho todo o dinheiro para comprar seu último livro... mas eu queri... ria conhecer o senhor, as alianças... eu queria sab... ber o que acontece com o Clóv... is...”, o anjo perdia suas forças.
    De joelhos, travado no asfalto, eu não sabia mais o que fazer. Minha incrédula mão direita amparava aquele corpo infantil, tentando confortá-lo do desespero de mais uma separação. Minha raivosa mão esquerda, enlameada em sangue por culpa das Balas de Agosto, tentava, em vão, cobrir o dantesco ferimento fumegante e sombrio.
    Eu chorava. Para dentro. Em seco! O mundo ao meu redor observava nosso estado lamentável de completo desamparo. No meu delírio, percebi que Wagner gritava por uma ambulância.
    Ambulância? Em Lovland?
    “Eu tenho... fiz cato... torze anos. Faz um mês que eu tomei coragem em assumir aquilo que escolhi ser. E vim aqui agradecer pessoalmente pelas palavras... suas palavras mágicas que me fize... fizeram acordar para a Felicidade. Eu não saí apenas de um armário. Eu abandonei um buraco fedido e muito escuro. Por causa do seu primei... ro livro... Super... super... super... fui contemplado com a verdadeira Luz. E agora... ai, meu Deus-Cristo-Meu, me falta o ar... e agor... a... eu volto para a outra Luz, igual a Caroline que eu vi no VHS da minha tia... eu volto para a minha mãe Luz... feliz, liberto, linda e assumid...”, sussurrou meu anjinho, confuso, difuso, buscando dentro de si as últimas centelhas de lucidez e energia.
    Ainda havia um último pedido:
    “Não condene meu pai, Senhor Ziemann. Dêxa ele fugir para que possa se encontrar um dia... e se arrepender de todos os seus atos delinquentes. Primeir… foram as surras por eu ser mulherzinha, depois vieram as ameaças... e agor... o senhor está diante do resultado promovid… pela Intolerância.”
    Eu não refletia um juízo perfeito. O tempo havia paralisado toda forma de vida que havia num raio de dezenas de metros à nossa volta. Tonteado diante da Inocência, eu precisava gritar por socorro. Gritar para uma multidão colorida boquiaberta e sem reação diante da realidade tão destacada em luz e sombras. Eu lutava para compreender a razão de tudo aquilo. Aquela criança em seus últimos suspiros, declamando como um homem-feito, se esvaindo em sangue e lágrimas. Também havia um pai assassino, correndo alucinado, perseguido sem piedade pelas praias da minha ilha agora maldita.
    Nossos corpos perdiam calor com uma insana rapidez. Como num transe, senti alguém me amparando, talvez puxando meu ombro esquerdo, tenso e dolorido.
    Vi, num relance da magia, a capa aveludada do meu Alianças pendurada numa mão gorducha, peluda, suada. Entre lágrimas e soluços, agradecendo os caminhos tortuosos e indecifráveis da Providência, puxei com deslocada ferocidade o exemplar daqueles dedos amorenados, trêmulos, cambaleantes.
    Como a exaltar um livro sagrado, abri na penúltima página e li com dificuldade o parágrafo final que carregava o resumo da felicidade.
    Sim, meu menino-anjo, Clóvis supera os traumas de uma vida errante e revive o Amor com Moa, seu antigo companheiro... agora felizes para todo sempre, como tinha que ser.
    Resumindo o impossível, entre gaguejos e falta de todos os ares, eu finalizava a leitura da minha história de amor.
    Aquela criança corajosa levara dolorosos trinta dias para se assumir perante si-ela-mesma e desfrutar da alegria e dor em ser o que se escolhe viver. Agora eu sabia que ela não suportaria nem mais quinze segundos de vida terrena junto de nós.
    “O que fazer para amenizar sua passagem?”, pensei, em prantos agoniados, dilacerado pela inércia de apenas um ato inteligente que pudesse salvar aquela vida.
    A Providência. Esperta e faceira. Lá estava a porra da Providência-Lady-Gaga a iluminar os próximos passos.
    Meu anjo abriu seus olhos cansados e sua boca miúda balbuciou algo que somente eu podia compreender:
    “Sr. Ziemann, muito obrigado! Estou partindo. Acredite. Eu estou feliz, lúcido, muito tranquilo. Mas eu gostaria de subir amparado num último gesto de amor fraterno. Esqueça quem eu sou. Esqueça meu tempo terreno. Apenas deixe-me desfrutar por rápidos segundos da essência do Amor. Não quero partir assim, inviolável”, declamou o garoto com espantosa maturidade, num ritmo cadenciado, entre doce sussurro e lágrimas ácidas.
    Ziemann sai de si. Ziemann grita. Ziemann balança a cabeça. Ziemann encara todos os presentes, sem enxergar absolutamente nada. Ziemann ignora o mundo, apenas para abrir as portas do universo mágico daquela criança ascendendo ao Eterno.
    Eu era o escolhido para celebrar e conduzir a passagem daquela infância para o mundo dos prazeres e angústias dos Homens Plenos.
    Meu anjo fechara os olhos e seus lábios entreabertos, ardendo nas chamas do amor imaculado, aguardavam, esperançosos, a perda da suprema virgindade. Desci com o máximo carinho os meus lábios experientes e meu cavanhaque espesso fez as honras da casa, amornando aqueles lábios infantis desejosos de serem tocados com carinho, humildade e respeito. Minha língua abriu espaço e ganhou a textura de uma carreira de dentes que ainda emanavam o perfume e a doçura do leite materno. Era o começo do beijo no asfalto.
    Demos início a uma luta de espadas em que ambos sairíamos vencedores, triunfantes e orgulhosos. A fusão de nossas línguas, lábios, bocas, lágrimas, calor e inocência selou o batismo de duas almas errantes, onde a pureza de uma criança-homem ganhava o amparo das nuvens de algodão, enquanto a outra alma, aquela do cinquentão-decadente, ousou a magia de virar a última carta que revelava o mais puro sentimento que pode existir entre dois seres, independente dos sexos escolhidos nessa ou em outras existências que certamente ainda serão vividas.
    Meu beijo naquele garoto abriu as portas do seu Paraíso prometido. A coragem do meu ato, isento de pecado, naquela criança inocente selou para sempre dentro do meu peito estraçalhado o anseio pela esperança de um concreto e sensato recomeço.
    Minha saliva abençoada bailava naqueles lábios gélidos, ásperos, sonolentos.
    “Vá em paz, meu filho, meu menino, meu irmão!”, refutou meu último beijo sagrado nas faces de um querubim jamais derrotado.
    * * *
    “Alianças” foi um sucesso editorial previsível e fulminante, vendendo milhares de exemplares em tempo recorde, país afora.
    Do meu apartamento em Timboh, sozinho, inalcançável, após ser obrigado a rever diversas propostas internacionais bem promissoras (Wagner chegaria a qualquer momento para mais uma “reunião” de negócios), dei um tempo à papelada e busquei alívio imediato afogando meu silêncio na terceira garrafa glacial de Budweiser, esquecendo todos os números, cifras e cláusulas impressos em folhas soltas, recicladas, que se espalhavam diante dos meus pés descalços.
    Ereto, nu na varanda, avistei nuvens compactas navegando sem pressa na imensidão de um céu azul profundo, de rara serenidade, quebrando o cinza rugoso e gélido que costuma dominar a paisagem da mateada cidade em dezembro.
    E assim, com o olhar disforme, rodei com equilíbrio e maestria entre o polegar e o indicador dois anéis entrelaçados, sendo um dourado e outro acobreado…
    ... minhas alianças, à espera de um milagre... abençoadas pelo beijo da lágrima mais doce de um anjo alegre e liberto… que adora brincar de esconde-esconde no meio dos infinitos pedaços cândidos de algodão invernal.
    * * *
    Eu ainda acredito no Poder do Amor...
    ... que ousa expor o Seu Nome!
  • Casamento entre pessoas do mesmo sexo

    A questão em pauta é a igualdade. Todo ser humano é assegurado aos direitos de liberdade, vida privada e intimidade. O casamento igualitário, ou seja, entre pessoas do mesmo sexo, não destruirá a instituição do casamento tradicional entre homem e mulher. Todas as pessoas possui a liberdade de escolha, são livres para serem o que elas quiserem, cabe aos outros respeitá-las.
                 A Constituição Federal Brasileira no Art. 226 parágrafo 3º, reconhece a união entre homem e mulher como casamento, que obviamente, exclui a possibilidade de haver a união entre pessoas do mesmo sexo. Porém, na mesma Constituição, no Art. 3º inciso VI promove o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. O Doutor João Baptista Herkenhoff afirma que para que a liberdade seja realmente efetiva, não basta um hipotético direito de escolha. É preciso que haja a possibilidade concreta de realização de escolhas.
                  O matrimônio, que surge originalmente de um pacto de amor conjugal, é uma instituição natural que serve à procriação e à perpetuação da espécie humana. Nas relações homossexuais não há procriação, isso fere o conceito de família constitucional, já que o objetivo principal do casamento é esse. Entretanto, levando em consideração o contingente de pessoas que habita o nosso mundo, que hoje é cerca de 7 bilhões, seria ingênuo achar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo impediria a continuação da espécie humana. O casamento homossexual não é para procriar. As pessoas que mantém essas relações querem dividir amor e não discutir questões de gênero. Assim como os homossexuais não podem procriar, héteros férteis e pessoas com idade avançada também não.
                   Portanto, toda família, independentemente de sua formação, seja ela composta por um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres deve ser reconhecida e protegida. O preconceito ainda perpetua-se nos dias atuais, prevalecendo a imposição cultural e princípios. Os homossexuais são seres humanos, assegurados de direitos e assim como qualquer outro merecem respeito.

    Trabalho Acadêmico do Curso de Direito - Disciplina: Direito e Linguagem - Não é um texto de opinião.
  • Chico

    Outubro de 1994.
    O domingo era para ser mais um dia comum e corriqueiro, isento de novidades. Eu não esperava que o passado fosse novamente incomodado. Sentimentos que eu acreditava sepultados vieram à tona com força redobrada. Estou confuso, mas não devo atropelar o bom andamento do relato. Continuemos.
    Sem mudar minha ferrenha rotina, eu caminhava pela Avenida dos Ferroviários sob um sol de novecentos graus a incinerar o que restava dos meus rudes cabelos negros e miolos acinzentados ainda intactos.
    Com os pelos sedosos derretendo por baixo da bermuda de algodão, eu andava a passos ligeiros e pensava com vagar na vida, no futuro e nas metas que nunca seriam cumpridas.
    Reparei que muitas pessoas compartilhavam o mesmo estado catatônico. Cada zumbi embotado em seus pensamentos tristes, suas preocupações infundadas, seus mundos sufocados pela dona Mediocridade.
    A necessidade que eu tenho de caminhar sem destino é um vício que não quero controlar. Transpirar me renova a tríade: corpo-mente-espírito.
    Meus problemas? Eu resolvo caminhando.
    Minha vida toda é alicerçada sobre meus passos largos ao longe.
    Mas confesso que algo como que me arrastava para fora de casa naquela tarde infernal. Eu precisava desesperadamente pôr os pés nas ruas. Era imprescindível sentir a quentura do asfalto.
    Enfim... Ferroviários! Caminhei, sempre sozinho, de um lado da pista; depois voltei pelo mesmo trajeto, agora do outro lado.
    Você sabe como é. Você já me viu tantas vezes por lá, não é mesmo?
    * * *
    Foi uma grata surpresa encontrar com o Milton, assim, de repente. E lá estava ele, todo sorrisão aberto (que bom ter um namorado dentista!) a pouco mais de cinco metros, vindo em minha direção todo saltitante, dentro do seu modelito-praia que nada tinha a ver com a moda-asfalto.
    Depois dos tradicionais cumprimentos entre parentes bambees – com direito a beijinhos e biquinhos que chocaram meia dúzia de velhotes que cooperneavam pela avenida –, resolvemos caminhar juntos pela estrada afora.
    Papos conservadores e convencionais. Aquelas conversas porrentas sobre nossas famílias, nossas vidas particulares, nossos amores, nossos amigos, nossos trepantes… coisas sem importância.
    Caminhamos e cantamos uma canção do Abba, braços dados, quase irmãos. Paramos para recuperar o fôlego e fugir do calor insuportável, jogando nossa purpurina debaixo das convidativas árvores lá do Sororoca.
    Sim, pode rir. Você vai rir. Um parque público tão antigo, tão delicioso e tão perto da casa materna e, acredite, em todos esses anos de Jundiaí eu jamais havia entrado lá!
    Nunca damos o devido valor ao que de melhor há em nossa cidade.
    Já abastecidos com nossas cervejas e fugindo um pouco do som alto e distorcido que vinha do bar improvisado, sentamos à sombra deliciosa de um quiosque rústico e falamos sobre questões homossexuais, sobre AIDS, sobre amigos perdidos.
    Depois, para espantar esse papo triste, começamos a fofocar sobre tudo e sobre os outros. Algo bem, bem, bem bambee.
    E dá-lhe agulha e lã!
    Nesse momento me dei conta que ele já estava na sua terceira (ou seria a quarta?) cerveja em lata. Mas é engraçado como meu tio Milton não se altera em nada por causa da bebida.
    Já era quase noite quando deixamos o local. Eu me preparava para a despedida trivial quando ele me convidou para conhecer sua casa nova.
    Um tanto contrariado, mas sem coragem de dizer um “não”, lá fui eu, cansado, mas sinceramente contente em estar na companhia do único parente dos lados do meu pai que eu ainda mantinha contato.
    Confesso que foi emocionante rever meus avós paternos. Naquele instante reconheci que não somos nada no transcorrer de uma existência. Após tantas idas e vindas, desavenças, orgulhos bestas, mágoas e uma montanha de coisas negativas, eu estava ali, novamente, na presença deles. Senti meus avós tão frágeis. Eu me vi tão impotente diante da experiência e da humildade deles.
    Aceitei que algum dia eu também estarei velho. Se eu não for levado antes, aos cinquenta e seis. Por culpa minha.
    Intuição. Apenas uma pontada de intuição. Quero aceitar piamente que terei uma velhice solitária, sem parentes, sem um homem para amar. Talvez eu apenas possa gozar da amizade e da fidelidade de um vira-lata qualquer, certamente o último grande amor da minha existência, se assim eu merecer.
    Junto dos meus acanhados avós presentes na imensa sala e ausentes nas passagens mais importantes da minha vida, não dei trela ao passado, ignorei o meu orgulho retardado e fiz um tremendo esforço para amá-los como eles são. Desejei em oração que eles tivessem uma velhice feliz, juntos.
    Milton me convidou para conhecer seu quarto recém-reformado. Ficamos um bom tempo conversando futilidades, tudo regado a mais cerveja e ao som de um The Best of do Abbacate insosso.
    Gimme, gimme, gimme a maaannn after midniiiight...
    Logo depois fomos até a cozinha. Sentamos em volta de uma pequena mesa branca de plástico, coberta por uma toalha também de plástico, cheias de motivos florais. Tudo muito limpo e organizado, algo bem “casa da vovó”.
    O cachorrinho do meu tio – que se chamava Grace Kelly! – destilava suas travessuras, pulando daqui pra lá, de lá pra cá, tentando chamar nossa atenção. Achei a cena divertida e um tanto comovente.
    Eu AMO cachorros.
    E dá-lhe mais papo furado... e também mais cerveja!
    Tudo era perfeito. Um domingo-titio-sobrinho-feliz.
    Com chave de platina, eu fechava um dia bem proveitoso. Afinal, fazia séculos que a gente não conversava assim, só nós dois.
    Lembrei-me que a última vez em que eu e meu tio estivemos juntos foi no casamento da minha irmã, Cristina.
    Não demorou muito para que um assunto entalado trouxesse novo rumo para o nosso bate-papo descontraído. Eu nem sei exatamente como surgiu a razão do choque, mas bastou uma simples frase para paralisar de vez meu coração.
    Meu tio Milton fez um comentário sobre você. Abriu as revelações, entre pigarros e uma boa dose de sarcasmo, afirmando que de vez em quando ele cruzava com você na Avenida dos Ferroviários.
    Comentei, sem graça, que eu também costumava vê-lo com frequência desfilando de bicicleta; muitas vezes acompanhado com um ou outro amigo. Mas eu era sumariamente ignorado, a contragosto.
    Enquanto meus pensamentos divagavam na saudade, Milton soltou a maldita frase: “O Chico ainda ama você... desesperadamente!”.
    Acho que parei de respirar durante setecentos segundos, pois não consegui esboçar nenhuma reação natural. Eu não esperava ouvir aquilo.
    Voltei minha vida ao fatídico setembro de 1989. Minha razão tentava me controlar, enchendo minha mente de respostas lógicas, porém nada confortadoras.
    Meu tio não me aliviou detalhes de nada. Eu, por dentro, entrava em desespero por respostas verdadeiras do que ficou pendente num longínquo: “A gente se vê!”.
    Ah, Chico, o filme do nosso passado inundou meu espírito de doces recordações. Havia detalhes que eu realmente não sabia. Talvez jamais soubéssemos de toda a verdade.
    Meu tio percebeu meu estado emocional beirando o “péssimo” e tentou em vão mudar de assunto.
    Falou, falou e falou outras baboseiras que para mim-eu-mesmo já não sustentavam nenhum sentido. Para piorar a situação, Milton disse, numa segunda frase que ficou solta no ar, que você, hoje, me odiava!
    Sinceramente – nem sei exatamente se aceito ou não esse fato – acho que tenho que concordar com ele.
    * * *
    Agora estou aqui. O domingo já desencarnou e cá estou sonhando no fim da madrugada de um novo dia. Eu não consigo abandonar a cama que acolhe meu corpo amarfanhado.
    Confesso: de um jeito maduro e sereno, ainda te amo, Chico.
    Você foi um homem marcante em minha existência.
    Só quero, um dia, olhar dentro dos seus olhos castanhos e lhe perguntar com meu olhar melado se você realmente me amou com toda a força do...
    Você sabe onde eu quero chegar.
    Sonho em rever aquele brilho no seu olhar. Como aconteceu da primeira vez quando unimos nossas almas num amor que deveria ser perfeito. Foi um acampamento inesquecível.
    Se o Amor ainda existir, o brilho e a intensidade do nosso olhar único confirmarão minhas suspeitas.
    Quando estou nervoso e sem parâmetros, sou repetitivo, eu sei! Acho que eu ainda guardo uma ligeira esperança de voltar a ser amado por você. Apenas ser amado para ser perdoado, nada mais.
    Atualmente corremos em raias diferentes. Não sou capaz de voltar atrás nos meus duzentos metros. Sei que cometi muitos e muitos erros em nosso relacionamento infantil. Certamente eu fui uma criança mais do que mimada e irresponsável em nossa época de convívio.
    Mas uma coisa eu posso lhe assegurar: meus sentimentos por você sempre foram os mais puros, os mais sinceros, os mais honestos. Eu não fui o primeiro homem da sua intimidade, mas confirmo que fui aquele que você mais amou. Sei disso porque simplesmente fomos o Primeiro Amor um do outro!
    Perdoa-me por esse relato de palavras sem um pingo de originalidade, mas é no ridículo do comum que encontramos os absurdos das nossas faltas e tentamos, de um jeito capenga, remendar as imperfeições das nossas relações.
    Tenho muita coisa ainda para escrever. Mas não no instante de hoje. Talvez noutra encarnação.
    Sabe Chico, se um dia você descobrir o conteúdo das minhas ressalvas, eu gostaria de receber o seu perdão. Eu gostaria de tentar sentir seu sorriso mais uma única e última vez.
    Hoje são letras digitadas na tela de um computador jurássico e daqui a alguns instantes minhas frases remelentas estarão gravadas num disquete antiquado.
    Não sei se, algum dia, terei coragem de imprimir e postar uma última carta implorando algo que talvez eu não mereça. Eu sei muito bem onde errei. Mas ainda não sei de onde você encontrou forças para tanto me odiar.
    Vou esperar – com paciência e humildade – o dia em que eu talvez esteja diante do meu primeiro homem, focar bem dentro dos seus olhos, rever aquele brilho único que compartilhávamos e lhe dizer, com a voz suspirando do meu coração:
    “Chico, você não aceita a realidade de como verdadeiramente nos amamos?”
  • Ciano

    O céu de uma madrugada fria
    A brisa gélida de uma noite
    Aos prantos, ele sofria
    Mas tua alma já estava longe...
     
    Como nuvens à espreita
    Num céu nublado, além, além
    Cada gota, uma agulha
    Cada céu, um infinito
     
    Você deve viver
    Receba o sopro da vida
    Assopre, Assopre, Assopre
    Sinta voar, sinta o toque
     
    Nem tudo é pra sempre
    Como Cássia mesmo nos diz
    "O pra sempre sempre acaba"
    As incertezas serão eternas 
     
    Ciano, como teus profundos olhos
    Em meu coração resta apenas ciano
    Me lembro do dia em que você sorriu 
    Entre rimas e entrelinhas, lhe toquei piano
     
    Talvez você rirá um dia
    Banhará minha vida com um suspiro apaixonado
    Se o pra sempre acaba, seremos o fim
    Seremos exceção, seremos ciano
     
    A vida passa
    Como vagões de trem
    Passando pelas colinas
    Em um céu azul, ciano
     
    Em meu coração há o molhado de sua alma
    Há as lágrimas que não cessam
    A emoção
    As cores...
     
    O morno outono
    Como uma lareira recém apagada
    O fundo do mar me causa náuseas
    Mas o quarto está escuro demais.
     
    Você vai me achar um dia?
    Pois as vendas doem minha face
    As lágrimas cortam minhas bochechas
    E todo o ciano se esvai.
     
    Ciano
    Como o céu de seus olhos
    O céu de sua boca
    O frio de seu corpo
    O oceano de seu coração
     
    Ciano
    Como aveludado pó vermelho
    Como bebida quente no fim do dia
    Como o altar dos deuses em prantos
    Como minhas lágrimas que caem, junto de sua alma no corrimão...
     
    Ciano. 
  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 16 – SOBRE MENINOS E HOMENS

    Como eu já estava acostumado, momentos de tranquilidade no colégio Pracinhas eram apenas a calmaria do mar que precedia a tormenta. E assim, entramos no ritmo das provas do segundo bimestre. A rotina alucinada de estudos logo tomou conta de todos nós, de forma que sequer conseguimos comemorar sobre nossa atuação na noite dos cordeiros e lobos.
    O que por um lado foi bom também, já que nos poupou de qualquer revanche que pudesse vir. Se bem que, observando bem, não senti mudança no clima entre mim e os majores. Tirando Santos, que me fuzilava com os olhos de vez em quando, os demais agiam normais. Castro se tornou mais próximo. De vez em quando comentava que ia ter troco, quando cruzava comigo no corredor. Mas eu não sentia raiva ou qualquer sentimento negativo em sua voz. Só aquele desejo reprimido o qual eu já estava familiarizado e parecia presente em praticamente todos os alunos dali.
    Mas reais ou não, sua ameaça teria de esperar. As provas estavam ali
    Todavia, aquela maratona de provas foi mais fácil de vencer do que a anterior. Como prometido, recebi a ajuda de Siqueira nos estudos de matemática, e isso, mais um trabalho extra que consegui negociar com o professor, me colocaram novamente na média. Raspando, mas estava no páreo novamente.
    Estava na cantina com Pedro e Elias, conversando sobre nossos planos para as férias de meio de ano que começariam. Por tradição, eu sempre passava uma semana na casa dos meus avós maternos, enquanto meus pais viajavam, aproveitando esse período que coincidia com seu aniversário de casamento. Normalmente, na segunda semana, fazíamos uma viagem breve em família. Esse ano, meus pais chegaram a cogitar não fazer a viagem, uma vez que pouco estávamos juntos devido ao regime internato dos Pracinhas. Mas eu logo descartei:
    - Nem pensar. Se tem uma coisa que aprendi aqui, é que tradições são importantes. Vocês precisam dessa viagem. E já pensaram na vovó? Como ela ficaria se esse ano eu não fosse? - Usei esse argumento para convencer minha mãe. Não que eu adore ficar na casa de meus avós. Era calmo demais e eu logo me entediava, mas minha vó gostava e meus país mereciam aquele momento para eles.
    Elias iria passar as férias com os tios. E Pedro apresentaria oficialmente o noivo a família. E estava muito nervoso
    - Mas seus país não sabem que você é gay? - Elias questionou. - E o Soares não mora no mesmo bairro, então eles devem conhece-lo.
    - Claro que sabem. E sim, conhecem o Henrique. Mas daí a saberem que namoramos, não. Até porque, nunca tive ninguém sério. Henrique é o primeiro
    - Ah. Que fofo - fiz minha voz mais melosa
    - Tão bonitinho. Nosso menino está crescendo - Elias me acompanhou e o rosto de Pedro queimou.
    - Parem vocês dois - pediu, quase enfiando a cara debaixo da mesa.
    Rimos bastante juntos.
    Naquela sexta, as aulas acabaram mais cedo e arrumamos as malas. Os pais de Elias e Pedro os buscaram cedo e eu fiquei no dormitório lendo enquanto esperava. Foi quando Siqueira entrou.
    - Boa tarde, Mendes. Estou indo
    - Já vai? - E me levantei e apertei sua mão - e quais os planos?
    - Eu e minha mãe vamos fazer uma viagem. Um sitio em Campos do Jordão. Vai ser bom pra ela. Descansar, ar puro.
    - Que maravilha. E sem seu pai, pelo visto - comentei malicioso.
    - Exatamente. Tinha como ficar melhor? - Ele comemorou. - Mas eu tenho que ir logo. Só vim pra me despedir e te dar um recado. O diretor quer te ver.
    - O que houve? - Estranhei
    - Não sei não - e revirou os olhos. Mas ele estava bem sério
    - Você fez alguma coisa? - Questionei e ele se fez de ofendido
    - Eu? Claro que não. Que coisa, Mendes. Bem, vou lá. Boas férias
    E saiu, fugindo de minhas perguntas. Guardei o livro e fui a diretoria. Tenso, cheguei na porta. E quando o diretor mandou eu entrar, o que eu encontrei lá embrulhou ainda mais meu estômago. O que diabos havia acontecido?
    - Pai, mãe, tio? O que fazem aqui? - Perguntei - não sabiam que já tinham chegado. Estava esperando vocês no meu quarto.
    Mas os rostos deles não pareciam irritados. Pelo contrário. Iluminados até. O diretor veio até mim e pôs a mão em meu ombro.
    - Peço desculpas por obrigar você a esperar, Fábio Mendes. Mas depois do que Gabriel me falou, eu tive de conversar com seus responsáveis primeiro
    - E... Por quê? - Perguntei cauteloso e ele riu.
    - Tem aprontado alguma coisa pela qual tema vir aqui, Mendes? - Perguntou, com astúcia.
    - Não... - Minha voz subiu alguns oitavos, sonsa
    Ele riu.
    - Venha cá, jovem. Se aprontou, iremos descobrir, mas não hoje. Hoje, viemos lhe parabenizar. Normalmente, o que estou prestes a fazer viria acompanhado de uma cerimônia, e seria em uma data especial. Mas nunca antes em nossa história, tivemos um soldado com o seu feito, então, passaremos por cima do protocolo, só desta vez - e mexeu em minha blusa, prendendo algo nela - Meus parabéns, oficial Mendes
    E bateu continência pra mim.
    Meu pai e meu tio também, só minha mãe, não familiarizada com os protocolos militares, veio correndo e me abraçou. Atônito, eu enfim olhei para meu peito e ali havia uma medalha.
    - Pela sua atuação magnifica na noite dos cordeiros e dos lobos. Parabéns, oficial Mendes
    Eu creio ter falado uma dúzia de palavras desconexas naquela tarde. Sem saber exatamente como as articular. E fiquei assim até o restaurante em que fomos direto para comemorar. Sentados a mesa, rindo, aos poucos fui voltando a realidade e aceitando aquele fato.
    - Um brinde ao meu menino - minha mãe propôs e todos erguemos os copos
    - Caramba, Fábio. Fico imaginando o que você fez pra virar o jogo - meu tio comentou
    - Apenas me aproveitei do momento de distração de um e roubei a arma. Aí troquei de roupa com o lobo e fui atacando a paisana e libertando outros cordeiros. - Fui bem sucinto.
    - Só isso? - Minha mãe ficou um pouco decepcionada. - Pensei em uma história épica de coragem e superação
    - Teve tudo isso. Mas a tradição manda não contarmos. - E olhei com cumplicidade para meu pai e meu tio - até porque, você não vai querer saber os detalhes do que seu filho teve de fazer
    - Acho que ele tem razão, meu bem - meu pai reforçou, entendendo muito bem o que eu queria dizer.
    - Concordo, irmã - meu tio emendou
    Minha mãe olhou de um para o outro e depois deu de ombros. Desistindo ao ver que era voto vencido.
    - Está bem - e bebeu - mas fico muito orgulhosa de você, filho. Confesso que fiquei preocupada com você. Até falei com seu pai que talvez o devêssemos tirar dali
    - Por quê? Achou que eu não ia dar conta? - Me fiz de ofendido
    - Pelo contrário. Pois sabia que você não ia aceitar perder e ia fazer de tudo. Mas não acreditava que isso fosse o melhor. Você estava muito infeliz no início. E francamente, não sabia se valia a pena provar nada para aqueles garotos
    Eu considerei
    - Mas confesso que ouvindo aquele tal de Siqueira falar de você, me encheu de orgulho. Você conquistou o respeito dele. E mais, hoje, vejo que você está diferente de fato. Seu rosto. Está mais feliz. Acho que você realmente se encontrou ali. Nem parece meu garoto, que entrou cheio de receios ali. Está mais... Maduro. Mais homem - terminou, com um leve toque de emoção
    Eu sorri, tímido. Fiquei emocionado com sua declaração. E pensando bem, acho que era verdade. Sentia que havia crescido muito em meus meses no colégio.
    - Mas também, era óbvio que ele ia sair por cima no final - meu pai completou, tentando passar pelo momento piegas - você dará um bom líder. É esperto, justo. E sabe ser autoritário e cruel quando precisa. Igual sua mãe
    - Eu não sou autoritária - ela se defendeu, acabando o momento de doçura.
    - É sim, maninha - meu tio interveio. - Até responder pelo Almir você responde. Não é cunhado?
    - Eu não faço isso. Amor, diz pra ele que eu não faço isso.
    - Mãe, você está fazendo isso agora - alertei e ela me fuzilou
    - Cala a boca, Fábio
    E rimos bastante. Meu tio então lembrou.
    - Mas também, pudera. Lembro ainda de vocês dois no início. Pareciam gato e rato. O Almir, todo mandão no quartel, chegava em casa e levava dedo na cara da esposa e baixava cabeça. - Vitor ria, lembrando - até hoje não sei o que deu em vocês para se pegarem no meu quarto pra começo de conversa
    - Como assim? - Eu quis saber
    - Ora. Você não sabe como seus pais se conheceram, Fábio? - Ele olhou incrédulo pra mim. Então sorriu maldoso para eles.
    - Vitor, não é hora de contar os podres da família pra ele - meu pai o cortou, rosto corado.
    - Sossega, irmão - minha mãe lhe deu um peteleco
    - Tudo bem. E se virou pra mim - relaxa, vamos ter tempo pra conversar essa semana
    - Oi? - não tinha entendido
    - Verdade - minha mãe se lembrou - filho, essa semana não vai dar pra você ir pra sua avó.
    - Por quê?
    - Acontece que um primo dela faleceu e ela vai viajar para o sepultamento
    - Mas vocês não vão? - Eu quis saber.
    - Nem pensar - minha mãe descartou de cara. - Sua vó é que tem fissura por velório. O primo nem era parente próximo e até onde eu me lembro, ela nem gostava dele. Mas conhece sua vó e falou em enterro, ela vai
    - Minha sogra deve estar ensaiando para o dela - meu pai alfinetou
    - Não começa - minha mãe alertou antes de continuar - mas aí estávamos pensando...
    - Que o Fabio poderia ficar comigo essa semana, enquanto vocês aproveitam o aniversário de casamento de vocês - Vitor cortou, olhando bem pra ela e meu pai.
    - Que queríamos alguém responsável pra ficar com você, mas só temos meu irmão disponível - ela completou por cima, quase lamentando - há menos que você queira ir conosco. Ficamos tão pouco contigo que...
    - Não quero ficar de vela - cortei, de bom humor - se não for incomodar, fico com o tio Vitor
    - Incomodar por que? - Ele perguntou.
    - Sei lá. Tá solteiro agora, curtindo a vida adoidado - brinquei
    - Até parece. Careta como o Vitor é... - meu pai zombou. E meu tio não discordou.
    Minha mãe aproveitou a deixa e emendou.
    - Bem, ainda podemos ir todos no final do ano. Há um tempo que você não visita minha mãe - sugeriu para meu pai, que engasgou.
    - Não amor, o Fábio vai agora. Vai até pro enterro se necessário
    Rimos muito e a conversa rolou solta e agradável. Ia ser legal ficar com meu tio, afinal. Adorava minha avó, mas ela é uma pessoa muito conservadora. Daquelas que até um palavrão é motivo de represália. Talvez no fim do ano, com toda a família junta, fosse melhor ao fim. Mais distração.
    E tinha outra coisa também. Por um lado, eu estava um pouco preocupado com meu tio, pois ele não parecia o mesmo. Senti um ar meio triste nele, quando o vi. O qual resolvi não comentar até por não ter certeza de que não estava imaginando coisas.
    Depois do almoço em família, voltei para a escola para pegar minha mala. Acabou que na animação de minha medalha, saímos sem a levar. Meus pais então foram para casa e meu tio me esperou no carro, na porta do colégio. O Pracinhas estava bem vazio e meu dormitório idem. Cheguei e peguei a mala, quando vejo Albuquerque na cama, lendo um livro.
    - Oi capitão. Ainda aqui? - Ele se surpreendeu.
    - Sim, estou saindo agora na verdade. E você?
    - Meu pai vem me buscar já. É que ele larga tarde. E daqui já vamos direto viajar - informou, levantando e vindo até mim.
    - Show - e sorri. Fiquei calado, esperando ele se achegar. Senti que queria dizer alguma coisa
    - Fabio... Assim. Valeu mesmo por não ter me explanado. Pelo que ocorreu na floresta
    - O que? - Eu de fato não estava entendendo.
    - Você sabe... O que o Santos e o Goulart fizeram comigo
    Eu fiquei preocupado.
    - O que eles fizeram contigo? - fiquei alarmado, só então a ficha caiu - ah... Aquilo na árvore? Sério?
    - Sim - ele pareceu não entender.
    - Ah... Sim.
    - O que foi?
    - Nada... É... Que eu pensei que... Você por acaso não gostou? - Perguntei, tentando não rir.
    - Claro que não... - Gaguejou
    - Tem certeza? - Interroguei, claramente descrente.
    - E que homem gostaria disso?
    Eu ri, então falei com simplicidade
    - Eu já fiz - e curti
    Minha franqueza o calou de imediato. Parecia que o mundo dele havia desabado.
    - Sério?
    - Sim, algum problema? - E o encarei, sereno.
    - Não... Só... Não imaginava
    - E eu jurava que você tinha gostado. Seu pau parecia até duro
    Ele gaguejou e eu comecei a rir.
    - Não ri de mim... - Ficou indignado.
    - Desculpa cara... Só que... ah, fala sério. Que palhaçada. Desculpa a franqueza. Te comeram. E daí? - Soltei logo. Não ia ficar colocando panos quentes em cima daquilo - Se você tivesse sido realmente violentado, ia falar pra você ir na direção e te dava o maior apoio. Mas se você curtiu, qual o problema?
    Ele tentava articular as palavras, mas não conseguiu. Eu pus a mão em seu ombro.
    - Relaxa, cara. Não vou falar nada se você não quiser. Nem vou te zoar. Até porque não tenho o que zoar. Mas olha... desculpa a franqueza e aceita um conselho: vira homem, porra
    Ele levou um susto com meu palavrão.
    - Se gostou. Faz. O cu é teu
    Ele sorriu sem graça, coçando a cabeça.
    - Fabio... Você se considera gay?
    Aquela pergunta me pegou de surpresa. Nunca havia me questionado a respeito disso.
    - Sei lá - falei por fim, dando de ombros - Nunca me apaixonei pra saber. Nem por homem, nem por mulher. Talvez eu encontre o homem da minha vida amanhã, sei lá. Ou posso me apaixonar por uma menina e jamais querer saber de caras de novo.
    Ele escutou atentamente, parecia beber de minhas palavras
    - Eu aproveito. Só isso. Já fiz de tudo. Tenho curiosidade e faço. Simples assim
    Albuquerque ficou me olhando, admirado. Desde a noite dos Cordeiros e dos lobos que ele me olhava assim. Era como se eu tivesse virado uma espécie de herói pra ele. Elias dizia que eu havia ganhado um fã. E aquela idolatria até que era charmosa.
    Albuquerque era um rapaz magro, mas bem definido. Pele morena escura, cabeça raspada, olhos claros, que eram ainda mais realçados pelo contraste com a pele. Enfim, um garoto bonito.
    - Cara... Realmente nunca pensei assim. - Falou por fim.
    - Deveria - sugeri - já temos preocupações demais aqui. As provas, os trotes, pelo menos nisso, relaxa. Deixa fluir. Olha, vou te confessar... Te acho um cara muito boa pinta. Um gatinho, desculpe a expressão
    Vi ele ficar sem graça e respirar fundo, e gostei. Engraçado que eu parecia ser muito mais velho que ele, e devíamos ter apenas um ano de diferença. Minha mãe estava certa afinal e eu havia realmente amadurecido muito em pouco tempo.
    Eu então cheguei mais perto e sussurrei em seu ouvido, como quem conta um segredo.
    - Vou dizer mais... Fiquei de pau duro vendo você levar rola - e olhei de cima a baixo - pensei até se um dia você deixaria eu experimentar
    O coitado ficou sem saber onde enfiar a cara e eu me aproximei.
    - Vem cá - chamei e me encostei ao pé da cama.
    Ele veio, incerto ainda e eu o peguei e o abracei.
    - Me beija - pedi
    - Mas e se alguém aparecer?
    - Foda-se - falei simplesmente - você quer me beijar?
    Ele gaguejou, rosto perto do meu
    - Então beija - incentivei e ele me deu um estalinho.
    - Beija direito, caramba - ordenei, sorrindo - abre a boca
    Ele abriu e eu o beijei como se deve. Suas duas mãos estavam em meu peito, agarrando a camisa. Senti o pau dele endurecer, prensado contra meu corpo.
    - Isso, de novo - o guiei e beijei de novo, descendo minha mão por sua cintura e pegando suas nádegas - assim
    Ele foi beijando, chupando meu lábio de leve. Boquinha macia, gosto de menta. Fui massageando suas nádegas, que estavam rígidas da tensão.
    Então, abri meu zíper e botei meu pau pra fora. Segurei uma de suas mãos e a levei até ele.
    - Segura. - Mandei. - Sente, vai
    Ele foi apertando meu membro, respirando fundo, eufórico.
    Foi quando alguém entrou no quarto e Albuquerque deu um pulo. Fez menção de sair. Mas eu o segurei
    - Não. Fica - mandei
    - Mas...
    - Mas nada
    Foi Valente quem entrou. Ao nos ver, levou um susto.
    - Foi mal, Albuquerque. Não sabia que... Que... - E as palavras morreram, ele inclinou o rosto e forçou a vista, como se não acreditasse direito no que seus olhos apresentavam.
    Valente e seu jeito nerd. Pele branca, cabelos lisos, óculos para leitura. O garoto até que estava criando músculos. Um peito bem definido dava para ser visto, mesmo sob a blusa.
    Sorri pra ele e me voltei pra Albuquerque.
    - Continua
    - Mas...
    - Sem mas. Não para. Não está fazendo nada de errado, porra. E daí se estão vendo? Deixa ver
    E o beijei de novo. Valente riu e foi até sua cama, onde pegou uma carteira que devia ter esquecido. Foi andando, passando por nós de novo e parou na porta. Voltou e ficou. Tímido. Olhando.
    Eu continuei beijando e acariciando a bundinha de Albuquerque, recebendo sua massagem gostosa no pau.
    - Isso. Deixa o Valente olhar. Qual o problema? - Sorri, e ele retribuiu. Embora ainda tivesse receios.
    - Muito bonitinho, você - confessei, admirando seu rosto. E o beijei de novo.
    Valente não saiu. Ficou ali na porta, olhando. Como se estivesse vigiando a saída enquanto nos observava, tal como fez na noite dos cordeiros e dos lobos para evitar o contra-ataque inimigo.
    Não se convidou para participar. Então eu também não o fiz. Já estava ocupado em treinar aquele moleque com conflitos de identidade. Depois eu cuidaria de Valente. Tinha planos em ver aquele nerdizinho de quatro chupando um bom pau um dia. Mas aquilo podia esperar.
    Desnudei a bunda de Albuquerque. Ele ia puxar a calça de volta, mas eu briguei com ele.
    - Deixa - mandei - já mandei você relaxar
    - Foi mal - pediu e voltou a me beijar. Eu enfiei um dedo, mas senti a musculatura de suas nádegas rígidas, impedindo a passagem. Ele ainda tinha muitas dúvidas, mas iria, com o incentivo certo, se libertar delas. Tal como meu pai fez por mim, abrindo meus olhos para o mundo de possibilidades que aquele colégio fornecia. Tirando-me de minha ostra de preconceitos e transformando aquele menino cheio de temores em um homem capaz de viver intensamente cada experiência que lhe era apresentada.
    Era minha vez de fazer isso por outra pessoa. Mas faria de uma maneira um pouco mais prazerosa pra mim.
    - Abre - sussurrei, mandando - deixa eu passar - e fui alisando a linha que dividia as nádegas, com meus dedos. Acariciando de leve. Aos poucos, as nádegas foram relaxando e eu consegui penetrar o dedo médio em seu cuzinho, massageando a entrada e fazendo ele gemer.
    - Isso... - Sussurrei - tá vendo como é gostoso? Fica aí de palhaça, mas tu gosta de ter um macho mexendo nesse teu buraquinho
    Albuquerque apertou meu pau com força, a medida que meu dedo arrepiava todo seu corpo.
    - Delicia - e beijei seu rosto - Assim... Geme... Isso - passei a outra mão em seu peito, por dentro de sua blusa, acariciando o mamilo. - Geme gostosinho, geme
    Arriei a calça dele toda e fui beijando seu rosto. Sorri para Valente que acompanhava tudo muito atento.
    De vez em quando ele olhava a saída, para se certificar de que não seriamos interrompidos. Pegava o pau vez ou outra, visivelmente excitado.
    - Pena que tenho de ir - falei ao ouvido de Albuquerque - Meu tio tá me esperando
    E massageei mais seu cuzinho e continuei falando.
    - Quando voltarmos de férias. Vou querer te comer. Você pode até fingir que não gosta, que vai fazer porque foi obrigado ou sei lá o que. Mas eu vou te comer. Entendido?
    - Aham - ele gemeu, me abraçando, todo arrepiado
    - Vou gozar - avisei - abaixa
    - O quê? - Ele ficou perplexo
    - Abaixa e bebe. Se não vai sujar o quarto - e fui empurrando ele para ficar de joelhos.
    Sem entender bem, foi sendo vencido pela minha força, até que ficou de joelhos. Eu enfiei meu pau em sua boca e gozei. Albuquerque foi bebendo no susto, quase engasgando. Mas engoliu tudo.
    - Isso. Bom garoto. Vai ganhar uma recompensa agora
    Então eu o fiz se levantar e o rodei, mudando de lugar com ele. Abaixei e comecei a mamar. Chupei até ele gozar, engolindo tudo. Mostrando como se faz.
    Limpei bem seu pau e então levantei. Dei um beijinho nos lábios dele e sorri.
    - Boas férias, Albuquerque
    - Pra você também, Capitão - ele ainda estava aturdido, mas claramente leve.
    Peguei minha mala e saí, cumprimentei Valente na saída e fui encontrar meu tio.
    - Caramba, demorou - ele comentou.
    Eu pedi desculpas e disse que tinha esquecido de guardar algumas coisas. Então, saímos para o início de minhas férias de inverno

     

  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 18 – REVANCHE

    Voltei das minhas férias um pouco mais pesado do que imaginei. O lance do meu tio me deixou muito para baixo, e nem a viagem com meus pais para Minas Gerais ajudou muito, embora tenha sido prazerosa. Meus pais não faziam ideia da barra que Vitor estava passando e eu tampouco contei. Não era meu direito. Se ele queria manter entre nós, não seria eu quem passaria por cima de sua vontade.
    As aulas voltaram, as rotinas também. Meus amigos falavam animados das viagens. E Pedro nos contou tudo sobre a reunião em família.
    - O pior foi eu chegar pra minha mãe, falar do Henrique e ela rir da minha cara dizendo que já sabia. Até parece que sou tão previsível assim - contou, indignado.
    - Você é -. Elias não teve rodeios em dizer na lata. - Mas diz aí, e sua irmã?
    - Ela tá em outra já. Henrique foi só a paixão de adolescente dela.
    Fiquei numa posição mais passiva naquele assunto. Comentando apenas quando me era perguntado algo. Senti que eles perceberam meu estado, mas não falaram nada. Esperando eu tomar a iniciativa. O que eu não fiz. Não queria. Pelo menos naquele momento.
    E assim foram seguindo os dias.
    Quarta, eu estava no fim da tarde na lavanderia, terminando de tirar minhas roupas lavadas da secadora. Ainda tinha tempo até o toque de recolher, e não estava com pressa. Havia me tornado um jovem muito prendado graças as rotinas do colégio militar e minha mãe estava adorando isso. Até pequenos reparos em costura eu já sabia fazer. E além da habilidade extra, esses afazeres me ajudavam a desanuviar a mente. Manter ocupada.
    Mas nesse momento, entraram dois veteranos, Santos e Castro. Suas roupas já estavam lavadas em cima da máquina, pois seus calouros subordinados as haviam lavados antes e deixado ali para eles pegarem. Ao me ver, me cumprimentaram. Eu me limitei a um aceno breve, estava muito avoado ainda. Continuei meus afazeres. E mesmo concentrado neles, ainda assim consegui perceber que eles cochichavam olhando para mim. Estávamos só nós três ali. E pela hora, dificilmente alguém viria lavar alguma coisa, já que a lavanderia já iria fechar. Como não estava com humor para brincadeiras, decidi pegar minhas roupas lavadas e sair logo dali.
    - Mendes, um minuto, por favor - Castro me chamou e eu parei. Depois de corrigir minha cara de insatisfação, virei para encarar. Os dois já tinham se aproximado bastante.
    - Fala, Castro - respondi.
    - Como assim? Cadê o 'sim, senhor'? - ele riu e eu tentei acompanhar - esqueceu que somos seus superiores?
    - Ele tá se achando. Só porque acabou com o Siqueira na noite dos cordeiros, agora tá assim.
    - Corrigindo. Acabei com todos vocês - rebati com naturalidade. Embora tivesse imaginado que teria sido melhor não o fazer. Parece que eu ainda carregava o gênio impetuoso de minha mãe.
    Castro riu e Santos fechou a cara
    - Tá precisando de outra mijada no meio da fuça pra se lembrar de ter respeito, Mendes? - Santos rugiu.
    - Desculpa - Pedi, mas só fiz isso pois de fato não queria brigar. E dado meu humor, isso talvez ocorresse.
    - Calma, Santos. - Castro o tranquilizou. - Mendes sempre foi marrento assim. E gostamos dele justamente por isso. Não sei qual a novidade pra você. Por isso Siqueira pegou ele de cara. Gosta do desafio. Mas ao fim, com o incentivo certo, ele se dobra - E me deu um tapinha de leve no rosto. - Uma pena ele ter te pego primeiro. Queria que tivesse sido eu. - Ficou em silêncio, analisando meu rosto - Mas... Bem, Siqueira não está aqui, não é mesmo? Então você responde a nós.
    Eu o encarei e ele logo ergueu os braços em sinal de rendição
    - Calma, tigre. Esse seu olhar mata um qualquer dia - e riu - só vim pedir um favor. Na camaradagem. Pode ser?
    Eu esperei
    - Só que meu calouro esqueceu umas peças para lavar
    Eu olhei pra sua pilha de roupas limpas
    - Quais? - Perguntei, bem sério.
    Ele sorriu, tirou a blusa e me tacou. Não a peguei, mas ela caiu apoiada no meu ombro.
    - Essa - e então tirou a calça - Essa aqui também - e por último a cueca. - Mais essa - Não apoiou no meu ombro como as outras. Ergueu para eu pegar - E essa aqui
    Santos riu e Castro aguardou.
    - Vamos lá, Mendes - pediu - Leva na esportiva. Nós aceitamos bem a derrota. Agora é sua vez de provar que sabe jogar também.
    Eu respirei fundo e ergui a mão para pegar, mas ele a largou antes de eu alcançar. A cueca caiu no chão, entre nós.
    - Ops! - E fez cara de sonso - Foi mal.
    Eu me abaixei, com cuidado, bem de olho nele para que não fizesse uma gracinha. Mas acabei me descuidando ao esquecer que Santos também estava ali. Ele me empurrou contra o chão. Eu tive de me apoiar com as mãos para não cair de cara, e antes de me recuperar, ele já tinha voado por trás de mim e pego meus braços. Os prendeu para trás com muita eficiência, erguendo novamente e me mantendo de joelhos.
    - Me solta - mandei, mantendo a calma
    - Calado - Santos falou ao meu ouvido - Relaxa, Mendes. Relaxa.
    Tentei me soltar, mas Santos havia me pego de jeito.
    - Ah Mendes, fala sério - Castro chegou pela frente com o pau já duro - Você achou mesmo que não haveria retaliação pelo que ocorreu naquela noite? Demora, mas no fim todos pagam. Anda lá, colabora vai. Não seja um bebê chorão.
    E aproximou o pau.
    - Vamos lá, só uma mamadinha - Sugeriu, se divertindo - Só uma mamadinha e aí vemos se soltamos você. Afinal, está tarde.
    Chegou o pau bem perto e eu o olhei com ferocidade. Castro pareceu ler meus pensamentos.
    - Olha, sem morder - Alertou - Se fizer, vai me causar um estrago e ainda vai preso - Riu, mas estava cauteloso - Vamos lá, Mendes. Estou doido pra saber como é essa boquinha. Fala aí, já mamou o Siqueira quantas vezes?
    Eu o olhei e respirei fundo. Provavelmente, se fosse em um outro dia, eu teria contornado melhor aquilo, talvez levado mais na esportiva. Mas naquele dia, não estava afim.
    Respirei fundo e tentei argumentar.
    - Beleza, galera. Vocês me pegaram. Mas hoje não é um bom dia. Por favor, deixa eu ir.
    Falei sério, voz firme.
    - Ah não. Agora não vai meter essa não, Mendes. Só está afim quando você está por cima? Não sabe perder? Não e não. Pode abrir a boca. Não vai sair daqui enquanto não mamar - Santos me intimou
    Castro roçou o pau na minha cara, alisando bem a cabeça no meu nariz, meus lábios.
    Engoli em seco aquela situação e resolvi abrir a boca. Deixei ele enfiar por fim. Chupei, conforme pediu, mesmo a contragosto.
    - Caramba, que cara é essa. Santos, tem que ver. Ele encara a gente até mamando. Olha só. Cara de mau, dá até medo - Castro riu, deliciando-se.
    - Show - Santos falou em êxtase. - Imagina comer o cuzinho dele. E ele te olhando assim.
    Castro delirou com a hipótese.
    - Porra, delícia - E pegou meu rosto e tirou o pau de dentro. Balançou ele, desferindo dois golpes com o membro em meu rosto.
    - Satisfeito agora? - Perguntei, tentando manter a calma.
    Castro sorriu e analisou bem meu rosto antes de falar
    - Ainda não - E trouxe o órgão de novo, dessa vez, levantando bem - O saco agora Vai, lambe - ordenou.
    Me controlando para não explodir, lambi, tentei caprichar para ver se eles me soltavam mais cedo. Lambi todo o saco, pus a bolas na boca e chupei. Tudo sob o olhar extasiado de Castro. E sob a respiração forte de Santos. Sentia o volume rígido dele atrás de mim, roçando.
    - Isso, vai. Chupa, Mendes. Chupa. Doido pra ver você subjugado assim - falou ao meu ouvido.
    Parei um pouco para poder respirar e levei outras três porradas com o membro duro de Castro
    - Anda logo, viadinho. Mama vai - Brincou.
    Então voltei a chupar.
    Botei todo o órgão na boca, até quase chegar na garganta. Lambi, beijei. Tentei fazer da melhor forma. Mesmo não gostando, tinha que admitir que quando eu estava por cima, Castro não deu pra trás. Seria injusto eu ser antidesportista àquela altura. Só preferia que tivesse sido outro dia.
    Continuei chupando, sentindo o roçar e as risadas de Santos atrás de mim. Castro me admirava, gostando de meu olhar de desgosto. Não fiz questão de fingir que não estava descontente, não era minha obrigação. Mas se por algum segundo eu achava que isso faria a coisa encerrar mais rapidamente, estava enganado. Pois ele parecia gostar ainda mais, acompanhava tudo com um sorriso satisfeito.
    - Que boca, Mendes. Caramba. Que boca gostosa - Deliciou-se.
    Arfei de impaciência. Mas alguma coisa estranha estava acontecendo. Minha raiva estava sumindo, me deixando. Já não tinha vontade de debater meu corpo como antes.
    Entretanto, mesmo mais dócil, Santos continuava a me prender com força em seus braços. Provavelmente com medo, já que eu tinha a tendência a surpreender.
    Parei de chupar para pegar ar, e Castro puxou meu rosto, esfregando minha cara em suas genitálias. Depois apontou novamente o pau. Não falou nada, só sorriu, com ar petulante e eu o chupei, olhando-o nos olhos durante todo o processo.
    - Isso. Isso. Como eu tava querendo isso. - E foi metendo devagar. O corpo nu de Castro era bonito de se ver. Seu rosto bem feito. Sua pinta de modelo.
    'Não. Não' comecei a me desesperar ao sentir aquela reação. Não era hora daquilo. Não queria acreditar que estava... Estava...
    - Ih... Santos. O Mendes está de pau duro. - Castro se surpreendeu. Eu me amaldiçoei por aquilo.
    - Mentira! - Santos exclamou antes de gargalhar.
    Castro desceu, e arriou a frente da minha calça de moletom. Tentei forçar os braços de novo, e dessa vez quase consegui. Mas Santos reassumiu o controle na última hora.
    - Chora não, Mendes. Tá gostando, né safado? - E riu ao meu ouvido.
    E quando Castro terminou de tirar, lá estava ele, duro como rocha. Cabeça vermelha exposta.
    - Caramba. Agora sim fico satisfeito - Castro sorriu - Agora que vou continuar mesmo. Pois vi que você está gostando.
    Eu o fuzilei com os olhos, mas isso provavelmente só serviu para deixar ainda mais desejoso.
    Me deu mais algumas porradas com o pau na cara e ofereceu.
    - Mama - E sorriu - Bora, Mendes. Não finge que não está gostando.
    De todas as vezes que chupei, aquela era a primeira em que era colocado naquela situação limite. Me sentia envergonhado. Agora não por ter sido subjugado. Mas por estar gostando daquilo. Não queria dar o braço a torcer para eles daquela forma. Sei o quão hipócrita era aquilo. Pois sempre argumentei a respeito da honestidade. Sempre dei lições de moral em colegas quando estes vinham a mim. Mas nunca tinha sido colocado naquela situação. Entendi Albuquerque, entendi até Siqueira. E soube que devia desculpas para ambos. Pois eu não entendia tão bem a situação deles como julguei. Aquele conflito interno, aquela sensação...
    Continuei chupando. Dessa vez com vontade, lambendo todo o pau de Castro. Tentando ignorar seus risos de escárnio. Quando parava de mamar, ele pegava o pau e me batia mais com ele. Era humilhante, mas ao mesmo tempo estimulante.
    Castro desceu novamente e desnudou minha bunda. Aproveitou que ali estava e tirou o pau de Santos pra fora. Para que ele pudesse me roçar melhor.
    Chegou a oferecer ao colega trocar de posição. Mas Santos recusou. Estava gostando de ver e também tinha medo que se me largasse, eu saísse correndo.
    E eu iria mesmo. Não porque não estava gostando, mas porque tinha vergonha disso. Fugiria, pela primeira vez na vida, como um covarde. Não estava contente em admitir isso. Mas era provavelmente o que eu faria.
    Castro pegou meu rosto, me fez o encarar e depois enfiou o pau em minha boca mais uma vez, e começou a penetrar. Como se tivesse me comendo por trás.
    Me engasguei algumas vezes e ele continuou. Santos aproveitava para roçar aquele pau duro contra minha bunda. A posição tornava impossível me penetrar, mas ele continuava, pois gostava de me sentir contrair o glúteo em defesa.
    Foi quando aconteceu o que eu não queria. Mais alguém entrou. Era Pinheiro.
    Estranhou a princípio. Não falou nada. Chegou perto e ficou olhando, braços cruzados.
    'Não. Sai daqui. Droga', pensei em quase desespero, a humilhação já era grande sem ter um amigo para assistir. Mais alguém pra testemunhar minha submissão.
    - Quer tentar, Pinheiro? -. Castro parou e convidou - Aposto que tua rola desce até o fundo da garganta dele.
    Mas Pinheiro não respondeu. Continuou parado, braços cruzados, semblante impossível de traduzir. Estaria me julgando? Não. Com pena? Graças a Deus, não. Não aguentaria a humilhação se despertasse pena dele. Então o que?
    Era um turbilhão de emoções. Aquele pau na minha bunda, a maneira desrespeitosa que Castro me tratava. Pinheiro vendo tudo de forma neutra.
    Naquele momento, fui obrigado a encarar a realidade, e reconhecer que eu, pouco sabia sobre a natureza dos desejos que conduzi com maestria na 'noite dos cordeiros e dos lobos'. Era muito diferente estar daquele lado. Entender como aquilo, mesmo de forma tão incoerente, era capaz de me deixar tão excitado.
    E pra piorar, Castro era de fato um garoto muito bonito. Já quis experimentar ele. Só imaginava que fosse ocorrer de uma forma diferente. 'Droga, Fábio. Para de prestar atenção no corpo dele' ordenei pra mim mesmo.
    E aquele pau. Meu maldito pau que não descia. Toda a minha marra, minha moral. Sentia que a perdia.
    - Isso Mendes. Aproveita vai - Santos falou ao meu ouvido - O grande Mendes, enfim subjugado. Sabia que por trás dessa marra toda estava uma putinha. Só precisava de um pulso firme. Siqueira já foi melhor nisso, mas pelo visto ficou frouxo com o tempo.
    Eu parei de chupar e respirei, tossindo um pouco.
    - Me diz uma coisa Santos - Comecei, voz fria - Você já conseguiu alguma vez que alguém transasse contigo porque quis? Ou sempre teve de segurar a força? - Senti as palavras saírem venenosas. Enfim tinha reassumido o controle de mim mesmo. Mesmo que por um instante. E eu voltei a ser o animal que eu era. E era hora de me defender. Não podia ficar acuado pra sempre. E era hora de usar a melhor estratégia quando se está em desvantagem: jogar os inimigos um contra o outro - O Castro é bonitão. - Continuei - Chupava ele mesmo sem você me segurar... Chupo o Siqueira sempre, e ele não precisa me segurar. Já chupei até o major Pinheiro... Mas você...- Desdenhei.
    Minhas palavras cravaram fundo nele. Como presas de uma cobra. Precisava daquilo. Não iria conseguir suportar tudo sem reagir de alguma maneira. Não seria eu se não o fizesse.
    Não vi seu rosto. Mas a julgar pela cara de Castro, estava irado. Castro segurou o riso, pois estava preocupado com a reação do amigo.
    - Chega, galera - Pinheiro interrompeu. Talvez prevendo algo pior - Santos. O Siqueira quer falar contigo. Assunto do seu interesse. E você, Castro. Melhor se vestir. Fábio tem que voltar para o dormitório.
    - Mas...- Castro tentou, mas bastou um olhar do Pinheiro para ele se encolher. Pinheiro era um homem boa praça, mas sabia intimidar quando queria. Seu tamanho e sua cara de poucos amigos quando estava sério ajudavam bastante.
    Ambos se ergueram, e se vestiram. Saíram.
    Eu pus minhas calças de volta, mas fiquei no chão, quieto, ainda administrando o que sentia.
    Pinheiro sentou ao meu lado e ficou um pouco em silêncio, me dando tempo para recuperar. Então perguntou:
    - Tudo bem aí?
    - Tudo - Respondi. Seco.
    Ele sorriu, condescendente.
    - Sei pelo que está passando - Falou enfim, mas eu não respondi. - passei por isso tem poucos meses. Você e eu estamos acostumados a ficar por cima. Ter tudo sob controle. Mas parece que ficar por baixo, de vez em quando, mesmo em situações esquisitas como essa, não é tão ruim afinal. Não é?
    E sorriu. Eu olhava pro chão. Ainda sem vontade de conversar.
    - É duro admitir, eu sei. Quando o Pascoal me humilhou na praia. Eu me senti assim. Quando ele me cobrou a minha promessa então... Foi demais. Ele foi direto. Sem margem pra discussão. Disse que queria meu cu. - E riu, lembrando -E não aceitava outra coisa. Eu queria negociar, mas ele não aceitou. Ele tinha ganho e queria o que era dele. O que eu havia prometido. 'O que ele quisesse'. Fiz ele trancar a porta e mandei ele não fazer barulho. Pois não queria que ninguém ouvisse.
    Pinheiro se achegou, ficando de joelhos do meu lado.
    - Não precisa ter vergonha - Falou - Eu sei que você gostou. É diferente quando é com a gente, né? Difícil admitir. Eu sei. Eu também gostei. Ter sido posto contra a parede daquela forma. Dar pela primeiro vez. A humilhação de perder de lavada em um esporte que eu me considerava bom e ainda perder a virgindade por uma aposta... cara... Foi pesado. E o pior é que eu estava gostando
    Eu o olhei e sorri, mas de forma fraca
    Pinheiro alisou meu cabelo e me deu um beijo no rosto. Não esperava por aquilo. Acho que nem ele na verdade, pois ficou logo sem graça e decidiu continuar o assunto, ignorando o gesto
    - É Mendes. Até o mais forte de nós cai as vezes. Ainda não consigo me esquecer de Siqueira na 'noite dos cordeiros e dos lobos'. Quando transamos algumas vezes, ele gostava de ser escorraçado, de ser penetrado com força. É o estilo dele. Agora o que vi você fazer... Nunca o vi tão humilhado e ao mesmo tempo com tanto tesão na vida. Ele tentou me explicar no dia seguinte o que foi. E eu entendi. Acho que entendi. Sabia como era. De uma forma diferente, claro. Mas as vezes ser humilhado assim tem um efeito colateral estranho. Difícil de assumir, né?
    - Nem fala. Me sinto um hipócrita - Falei por fim. - Talvez se... sei lá. Fosse outro dia. E... Bem, eu também não sou muito fã do Santos. Acho que isso ajudou também. Se fosse um de vocês... - Tentei arrumar uma desculpa, mas ele me cortou.
    - Se fosse em qualquer dessas situações, você não sentiria o que sentiu. Não seria o mesmo. Eu acho. Cada um sabe onde dói. No meu caso, foi meu orgulho de esportista. Você, a sua petulância... Sei lá
    - Tem razão - Concordei por fim. Mais conformado. Pinheiro então pegou no meu pau, avaliando ele mole.
    - Vou te dizer. Me deu um puta tesão te ver daquele jeito. Igual senti quando vi Siqueira naquele grilhão.
    Eu ri e ele também.
    - Acho que quanto mais forte o cara que submetemos, mais tesão dá - E me beijou.
    Eu aceitei e até correspondi. Não estava preparado ainda, mas ele continuou. Terminou de tirar minha calça e me deitou de barriga pra cima. Pegou minhas pernas e as passou pelo seu quadril.
    Respirei fundo, começava a ficar excitado novamente, então me deixei guiar. Mas ainda não estava 100%. Ele notou e o senti fraquejar.
    - E aí, seu herói de cavalo branco ganha alguma coisa? - E Sorriu malicioso. Testando.
    - Herói o que? Vai se f... - Soltei em meio a risos. Gargalhei, na verdade.
    - Que isso, Mendes. Não é a maneira de uma donzela que acabou de sair de apuros falar - Zombou. E eu ri mais.
    Era bom poder rir.
    - Não está afim mesmo, né? - E fez carinha de cachorro sem dono.
    - Desculpa, amigão. Hoje não.
    - Fazer o que - E deu de ombros.
    - Valeu mesmo, Pinheiro - Falei com sinceridade. Mesmo mais relaxado, senti meu pau amolecer. E o dele também, encostado na minha bunda.
    - Nada, parceiro - E se levantou e me ajudou.
    Nos vestimos
    - Percebi que você tem andado meio triste esses dias. - Avaliou - Caso queira falar, estou aqui.
    Depois me olhou nos olhos.
    - Mas não confunda as coisas. Se não fosse por você estar tão pra baixo, eu com certeza teria me juntado ao Castro e ao Santos. Afinal, lhe fiz uma promessa, lembra? - E sorriu.
    Eu então me lembrei do que ele me disse ao sair da área em obra na 'noite dos cordeiros e dos lobos'.
    - Verdade
    - Mas deixemos pra outra hora - E me deu um soco no braço - Vai pro dormitório, daqui a pouco dá o toque de recolher. Eu vou resolver umas coisas ainda
    Me despedi e, grato, saí com minhas roupas
  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 26 – PINGOS NOS “IS”

    O fim de semana passou arrastando. Muita chuva e eu fiquei mais um sábado e um domingo em casa. Mas dessa vez estava pior, difícil de arrumar qualquer coisa pra me distrair. Minha mãe, sempre muito atenta, me alertou sobre minha ansiedade, algo que eu sequer tinha notado estar sentindo até então.
    Eu andava de um lado para o outro no quarto, como um leão em uma jaula.
    A prova havia ocorrido no sábado e domingo já sairia o gabarito. Mesmo sem o resultado, já dava para se ter uma boa noção de como cada candidato foi.
    Eu fiquei em dúvidas se devia ligar ou não para Siqueira ou Soares. Para saber como foram. Pinheiro não fez a prova. Pelo que Elias havia me contado, ele não queria seguir carreira e estava estudando para o vestibular em Enfermagem. E a prova dele seria apenas na outra semana.
    No fim, por volta de domingo à tarde, não aguentei e resolvi ligar.
    - Alô. Fabio? - mesmo sem o ver, deu pra sentir em sua voz que ele sorria - Não esperava.
    - E aí, como foi a prova?
    - Fui... Fui muito bem.
    Mas havia algo de errado em sua voz naquele momento.
    - Deu tudo certo? Ocorreu alguma coisa?
    - Não... Eu fico muito feliz. Muito mesmo. Tirei 76 de 80 questões. Mais que o suficiente para passar. Se levar a média de aprovações.
    - Então fala isso pra sua voz. Parece que você está em um enterro
    Ele riu.
    - Não. Só estou ainda... Atordoado... Sei lá. Obrigado por ligar.
    - Não tem de que.
    Silêncio
    Eu não sabia mais o que falar e, pelo que parecia, ele tampouco.
    - Acho que vou indo então - completei, meio sem graça - vou almoçar - menti, eu já tinha comido há horas
    - ah sim... Sim... Eu vou ficar com a minha mãe agora
    - Ah legal... Manda um abraço pra ela.
    - Mando sim...
    Então desliguei correndo.
    Aquilo me aliviou um pouco, mas eu ainda estava querendo que chegasse segunda e eu pudesse ir ao colégio.
    Minha ansiedade acabou me fazendo perder o sono. Custei muito a dormir aquela noite e, como resultado, não ouvi o despertador. Minha mãe, já acostumada a eu me levantar sozinho, não me chamou. Só foi dar por falta de mim na hora que eu costumo descer para o café. Então, subiu e se alarmou ao ver que eu ainda dormia. Pior, dormindo mesmo, havia desativado o despertador.
    Foi aquela correria, banho, engoli uma fruta e ela me deu carona. Cheguei no colégio por um triz. Tempo apenas de jogar a mala em cima da minha cama e correr pra primeira aula antes de levar uma advertência.
    Sentei na hora em que o sinal tocou. Acabou que não vi ninguém antes, como eu queria.
    Pedro sentou ao meu lado.
    - Dormiu demais hoje? Estava doido pra falar com você.
    - Nem fala - ri - perdi o sono. Mas diz aí, como está o Soares?
    - É isso que eu queria te contar. - falou baixo e correndo. Dava para ver que ele estava realmente doido pra me contar - Aquilo que você falou pra mim na sexta, acho que você estava certo. Eu o busquei no sábado, após a prova, e fomos para a casa dele. E ele quis saber como foi a semana. Não sei. Parecia até que ele sabia o que eu tinha feito. E obviamente eu contei. Resumi a princípio, mas aí ele ficou perguntando, querendo detalhes. De início, imaginei que ele estivesse ficando irritado, mas não, foi... Caramba. Ele me pegou de um jeito. Esqueceu até que os país dele estavam no andar de baixo. Eu tive de me segurar pra não fazer barulho. E ele fez com tanta força que... Uau...
    Ele parou de falar e eu fiquei olhando pra ele com uma expressão que chamou sua atenção.
    - O que? - seu rosto se contorceu em dúvida.
    - Eu estava perguntando da prova - Expliquei, sorrindo amarelo.
    Pedro ficou vermelho na hora.
    - Ah... Foi ótima. - e riu.
    Eu também.
    - Mas que bom que deu certo. Imaginei que ele gostaria - e tentei me fazer de surpreso - Mas e você? O que achou da farra dos calouros.
    Mesmo após seu desabafo, Pedro ainda era um garoto tímido e respondeu apenas com um sorrisinho acanhado. Que já era toda a resposta que eu precisava e também que eu tive. Já que o professor chegou e já começou a aula.
    No intervalo, procurei o terceiro ano, mas não encontrei. Eles tiveram uma reunião de última hora com a direção e tiraram o intervalo mais tarde. Praguejei, mas a coisa não tinha acabado ali. Pois parecia que o destino estava empenhado a me impedir de falar com Siqueira. No fim da última aula, quando pensei que poderia encontrar com eles, foi a vez do inspetor aparecer na nossa sala, dizendo que teríamos uma tarefa a cumprir naquela tarde. A chuva do fim de semana havia derrubado muitas folhas no pátio e no jardim do colégio e nós, do primeiro ano, iriamos varrer tudo.
    Praguejei de novo. Mas não tinha o que fazer. Então almoçamos e fomos
    No almoço, também não encontrei Siqueira nem ninguém do terceiro. A reunião tinha desconjuntado todo o horário deles e eles estavam terminando a última aula ainda, que se estendeu.
    Realmente, a chuva tinha causado um estrago. Nem parecia que estávamos na primavera, dada a quantidade de folhas espalhadas pelo chão e pelo gramado. Fomos divididos e nos espalhamos em duplas
    Eu e Albuquerque ficamos com a área dos fundos, próximo a mata.
    Ficamos a maior parte do tempo em silêncio. Eu, pelo menos.
    - Capitão? Mendes? Oh diabo, responde. - Albuquerque estava na minha cara, rindo - Caramba, viajou hein.
    - Oi? - parecia que eu tinha acabado de despertar - Desculpa. Falava comigo?
    - Ou contigo ou com algum amigo imaginário - e riu.
    - Desculpe - pedi novamente - O que falava?
    - Nada demais. Estava só lembrando da noite dos Cordeiros e dos lobos
    - Ah sim... Quando eu salvei seu rabo do Santos? - brinquei.
    - Não. Da parte em que saímos do casarão em obras e fomos cercar o veteranos aqui nessa saída. - sorriu - se bem que aquela parte também foi memorável. Foi onde você ganhou seu título de capitão.
    - Acho que só você me chama assim ainda - lembrei.
    - É mesmo? Acho que não. O pessoal só fica com vergonha de falar isso na sua cara.
    - Por quê? - estranhei.
    - Vai entender. Acho que por você andar muito com o pessoal do terceiro ano, as vezes os calouros agem com você como se você fosse um deles. O que você fez com o Araújo no alojamento, sexta, por exemplo. Ninguém mais teria coragem. Mas geral foi na onda.
    Eu pensei a respeito. Não sabia se eu queria que me vissem assim.
    - Mas não se sinta mal por isso - apressou em dizer - Você é um líder querido. - e riu - as pessoas te seguem porque gostam. Não por que tem medo de você mandar pagar algum trote. Eu, por exemplo, tenho você como meu referencial.
    - Sério? - fiquei surpreso e ele concordou, embora tenha ficado um pouco encabulado. Acho que ele soltou àquela última sem querer. No impulso
    - Sim - falou por fim - você leva muito bem essas paradas todas e... Bem, me ajudou muito a me resolver.
    Eu esperei ele continuar.
    - Não sei se você se ligou, mas... Assim... Eu sou gay. Digo, antes de entrar aqui
    - Não diga? - e disse aquilo de forma exagerada de propósito. Até mão no rosto eu fiz. Ele ficou sem graça na hora e eu caí na gargalhada - Desculpa. Desculpa. Não resisti.
    - Mudei de opinião. Você é um desgraçado igual os outros - mas até ele não resistiu e começou a rir.
    Tivemos uma verdadeira crise. Albuquerque teve de se abaixar e sentar nos calcanhares, pressionando a barriga de tanto rir.
    Aos poucos, fui recobrando a compostura. Meus olhos já lacrimejando, barriga doendo.
    - Desculpa. - Pedi novamente. - Continua, por favor. Prometo que não vou mais fazer piada escrota.
    Albuquerque me olhou ainda rindo e então prosseguiu.
    - Você, apesar de ser um idiota - completou, me olhando com malícia - me ajudou muito.
    Albuquerque respirou fundo enquanto começava a pegar as folhas que juntamos e colocar no saco que eu mantinha aberto pra ele.
    - Confesso que quando eu entrei aqui, fiquei apavorado. A ideia de um colégio só de garotos onde há toda essa merda de machão e tal, me apavorou. No primeiro trote então, que mandaram a gente ficar pelado... - e riu - ainda bem, na verdade, que eu estava apavorado. Pois só assim pro pau não subir. Se tivesse acontecido, acho que pedia pra sair no dia seguinte de tanta humilhação.
    - Imagino - me coloquei mais solicito. Como Siqueira já tinha me alertado anteriormente, nem todos vieram de um lar tão liberal quanto o meu. E questões que pra mim eram triviais, pra outras pessoas podia ser um tabu.
    - Sim. Por sorte você chamou praticamente toda a atenção do terceiro ano. Confesso. Te achei muito foda. Encarando eles daquela maneira. E... Bem... Se me permite dizer, você pelado também era uma visão muito interessante.
    Albuquerque realmente estava mais confiante, quase não ficou vermelho ao falar aquilo.
    - Mas então. Depois daquela noite, fui selecionado pelo Santana como subordinado. Conhece ele?
    - Não - admiti - muito mal de nome.
    - Não é de se estranhar. Ele é bem reservado. E não gosta muito dessa liberdade sexual que os outros curtem. Ele vivia dizendo que eu tinha sorte de estar com ele. Que se tivesse com outro, como o Santos, por exemplo, ia ser estuprado toda a noite.
    - Bem provável - confirmei - Ele é do tipo que não pode ter poder nas mãos, que já abusa.
    - Pois é. Mas o chato é que... Ele ia me contando as histórias, ou eu ouvia de outros calouros as coisas que rolavam na surdina aqui e confesso que fiquei me sentindo de fora. Tomando banho com a galera, vendo os majores se exercitando. Tanta oportunidade e eu não conseguia chegar em ninguém. Não leve a mal, mas eu teria gostado se meu superior fosse mais... Abusado. Entende?
    Eu ri, mas assenti
    - E aí chegou a noite dos cordeiros e dos lobos. Fui cercado pelo Santos e pelo Goulart. Foi... Nem sei dizer... O cara é um animal... Mas eu estava tão na seca que... Até aquilo me pareceu algo prazeroso. Embora hoje, eu não queira mais nem olhar pra ele.
    - Compreendo. Desculpa, se fui duro com você no quarto, naquele dia - pedi com sinceridade.
    - Aí que está. Não foi. Você estava certo. Eu de fato curti. Digo que hoje não faria, pois já consigo fazer das minhas sem precisar de um troglodita daqueles me obrigar. Mas naquela noite, eu realmente senti muito prazer. Quando você chegou, cara, fiquei humilhado. Pois você me pegou naquela posição horrorosa. Mas ao mesmo tempo me senti bem. Pois me tratou com tanta naturalidade que eu fiquei realmente grato a você.
    Estávamos acabando já e eu confesso que me senti muito bem com o que ouvia. Ouvir meus feitos pela sua narrativa me encheu de um orgulho e um sentimento de autossatisfação ímpares.
    - E aí você começou a liderar. Virou o jogo, ferrou com os veteranos. Cara, confesso, você ganhou um fã naquela noite.
    Eu ri, mas porque estava ficando sem graça e não de desdém.
    - Sério. Cara, que noite. Me senti muito bem. Transei como muito tempo não fazia. E você guiando tudo, cheio de moral. Atitude. Realmente queria ser mais como você.
    - Cara... Nem sei o que dizer. Obrigado mesmo - estava sem palavras
    - Então tu imagina o que foi pra mim, você chegar e admitir abertamente que deu o cu e gostou. - concluiu - isso abriu minha cabeça. Caramba, se um cara como você consegue assumir algo do tipo e aceitar de boa... O que eu estava fazendo afinal? Me escondendo. Num lugar onde praticamente todo mundo transa.
    Albuquerque estava literalmente rindo à toa, achando graça dos antigos medos que o atormentavam.
    - Fico feliz, amigo. Muito mesmo.
    - Sou muito grato a você, Fábio. - falou com sinceridade.
    Então eu percebi o que Elias tinha me falado. Era de fato uma profunda admiração o que ele sentia por mim. Algo completamente novo e incomum para um garoto de 16 anos receber.
    - Não há de que - e sem saber o que fazer, ergui a mão, como que para apertar.
    Albuquerque olhou para ela e fez uma cara engraçada. A pegou, mas ao invés de apertar, me puxou e me abraçou.
    - Pode ficar tranquilo, capitão. - ele completou. - Pois eu não estou apaixonado por você. Sei que pensou isso - completou depressa quando eu ia responder - Não leva a mal. Você é um tesão. Mas não é o caso - e riu - E também não quero me apaixonar no momento.
    - Está certo. Aproveita.
    Quando terminamos de nos abraçar, percebo uma presença ao nosso lado. Ao olhar, vejo Siqueira, braços cruzados, cara de poucos amigos.
    - Querem um quarto? - perguntou, cheio de ironia.
    Senti Albuquerque diminuir de tamanho quase que instantaneamente. Meu coração deu um solavanco. Acho que nunca o tinha visto com aquela expressão. E fiquei preocupado.
    - Albuquerque, vaza que eu quero falar com o Mendes.
    Siqueira parecia empenhado em mostrar seu pior lado, sem pudores, de forma ainda mais intensa de quando éramos rivais.
    Albuquerque se encolheu e foi se retirando. Na última vez, em meu dormitório, ele já tinha feito algo semelhante e eu fiquei calado. Mas naquela hora não.
    - Que palhaçada é essa Siqueira? Sentindo saudades de ser um babaca? E você não vai ser enxotado assim não - adverti Albuquerque
    Albuquerque arregalou os olhos e ficou parado. Olhava de mim para Siqueira, parecendo um cão que recebe o comando de sentar e fingir de morto ao mesmo tempo.
    - Ah, desculpa então, Mendes - Siqueira veio cheio de ironia - Esqueci que você é capitão agora. Se já não fosse arrogante o bastante. Deixo vocês então. Pensei que quisesse falar comigo depois de tanto tempo, mas beleza...
    - Chega - gritei, cortando - Para de fingir que é esse idiota. Eu te conheço. Sei que não é assim. O que houve?
    Então respirei fundo e me virei para Albuquerque.
    - Albuquerque, por favor, da licença pra gente. Leva só as pás e as vassouras. Deixa que eu levo o saco para a lixeira
    Albuquerque se sentiu aliviado, pegou tudo e saiu correndo.
    - Se ia despachar ele no fim, fez isso só pra se sentir? - e riu com deboche.
    Eu não respondi. Fui andando para dentro da mata.
    - Mendes - ele me chamou, mas eu não me dei ao trabalho de lhe dar atenção - Mendes. Está indo aonde? Merda
    Ao fim, me seguiu. Quando entramos bem fundo, em uma parte pouco iluminada, me virei pra ele.
    - Não quero imaginar que você teve uma recaída. Já me desacostumei ao Siqueira babaca e sinceramente não estou com nenhuma saudade dele - falei bem sério. Acho que minha voz demonstrou até mesmo um pouco de tristeza. Provável, pois no fundo eu estava realmente triste - pode me explicar o que aconteceu?
    - Explicar o que? - e olhou para ao chão, visivelmente constrangido. Acho que minha passividade atingiu ele mais forte que minha agressividade de poucos minutos atrás. - Só não vou com a cara dele. Não sou obrigado a gostar de todo mundo.
    - Mas não precisa destratar os outros.
    - Mendes, olha, desculpa tá. Inferno. Eu só queria falar contigo, te contar como foi minha prova. Um tempão que não nos falamos e você ali perdendo tempo com aquele...
    - E o que que tem?
    - Nada... Só... Ah... Merda. Ele fica em cima de você de um jeito... Parece que está gamado.
    - E qual o problema disso? - minha voz era calma. A medida que ele perdia o tom enérgico, eu também relaxava.
    - Nenhum... Só...
    E mais uma vez, os genes de minha mãe pareceram se impor sobre mim e as palavras saíram de minha boca antes mesmo que eu pudesse pensar a respeito delas.
    - Eu também gosto muito de você - falei de supetão, cortando a frase dele.
    Siqueira parou. Imóvel. Ficou me olhando sem saber o que responder. Senti meu rosto queimar.
    - Eu... Eu... - Gaguejou - Eu não disse que gosto muito de você - tentou reassumir o controle.
    Eu ri.
    - Não precisa. Seu ataque de ciúmes falou por você.
    Caminhei até e lhe dei um soco de leve no rosto.
    - E também estava com saudades de você - completei.
    Siqueira ficou imóvel, segurando o fôlego. Então, me abraçou de uma vez, soltando o ar de repente.
    Não falamos nada. Pelo menos não enquanto não tivéssemos colocado em ordem o turbilhão de emoções que nos acometia. Era bom sentir seu corpo quente de novo. Achei que Siqueira seria capaz de quebrar meus ossos com aquela força, mas estava tão aconchegante que ignorei o risco.
    - Desculpa - falou por fim. - Eu... Não sei o que me deu. Eu só... Fiquei com medo de vocês...
    - Transarmos? - arrisquei com deboche, um pouco de vontade de alfinetar ele também - pois nos transamos uma vez.
    - Não! - descartou de cara. Como se eu tivesse dito algo absurdo - Não me importo com quem você transa... eu só não queria que...
    Paramos de nós abraçar e eu o olhei. Seu lábio tremia. Nunca o vi tão vulnerável na vida. Tão frágil. Nem na noite em que o subjuguei com minhas palmadas em sua cama.
    Percebi que aquilo, para ele, era ainda mais difícil que pra mim. Então o aliviei e falei por nós.
    - Você tem algo meu Gabriel, que ninguém mais têm - falei passando a mão em seu peito - Não sei exatamente o que é. É a primeira vez que me sinto assim. Não sei sequer quando foi que te dei para ser sincero, mas é seu. Essa semana me fez ver isso. Senti muito sua falta, Major.
    Seus olhos se encheram de água e ele, como mecanismo de defesa, tentou rir, desviando o olhar
    - Isso tá ficando piegas, Fábio. - me repreendeu
    Então me olhou de novo, pegou meu rosto e me beijou.
    Foi intenso. Em questão de instantes o fogo inicial se alastrou e nos varreu. Nos agarramos de forma meio desesperada, tateando e apertando como que para comprovar para nós mesmos que aquele momento era real. Nossos lábios se beijavam, chupavam, mordiam. Numa brutalidade que só a testosterona elevada as alturas era capaz de produzir.
    Esquecíamos de respirar a todo instante e tínhamos que parar, só tempo o bastante de recuperar o fôlego e continuar.
    Nos abraçávamos tão forte que parecia que queríamos absorver um ao outro. Nos fundir.
    Então paramos, testa colada uma na outra.
    Respiramos direito, sentindo o alívio em nossos pulmões.
    - Você promete... Que... Isso é só meu.
    Eu sorri. Ri um pouco. Mesmo naquela situação, ele não era capaz de ser direto quando o assunto eram seus sentimentos.
    - Prometo.
    E me beijou de novo. Mais calmo, mais carinhoso.
    - Você voltou - fiquei feliz e constatar. O Siqueira que eu aprendi a gostar, tinha voltado.
    - Desculpa. Desculpa mesmo. - pediu
    - Você deve desculpas ao Albuquerque - lembrei, achando graça.
    - Ah não - começou a protestar, mas antes que ele pudesse continuar a lamuria, eu o peguei pelos punhos, os ergui e o pus de encontro com as costas na árvore. Siqueira tomou um susto, mas logo um sorriso brotou de eu rosto
    O beijei de novo, dessa vez com menos paixão e um pouco mais de luxúria.
    - Não estou pedindo. - sibilei - Você fez merda e vai pedir desculpas
    - Por quê? Vai me bater, Mendes? Por eu ser um mal menino? - atiçou.
    - Se eu te bater toda a vez que fizer merda, minhas palmadas já não terão mais nada de especial - rebati
    Ele riu. Fez menção de me abraçar, mas eu prendi seus punhos e forcei novamente.
    - Mas vou te colocar em seu lugar - concluí.
    Senti seu pau endurecer, contraindo minha pélvis.
    Beijei de novo, mantendo suas mãos ao alto.
    Mordi seu lábio, o chupei.
    Entrelaçamos nossos dedos e eu pressionei todo meu corpo contra o dele. Esfregamos nossos rostos um no outro, nossos peitos, nossas cinturas.
    - Fica com as mãos para o alto - mandei e as soltei.
    Beijei Siqueira novamente, mas dessa vez introduzindo minhas mãos por dentro de sua camisa, acariciando suavemente sua pele com a ponta dos dedos e das unhas.
    Ele arrepiou, gemendo. Levantei sua blusa e fui descendo. Lambendo seu peito, sua barriga. Cheguei apressadamente em sua cintura, desamarrando o cordão de sua calça de moletom.
    O peguei pela cintura e o fiz se virar. Siqueira abraçou a árvore. Eu desci sua calça devagar, desnudando aquela bunda gostosa e carnuda. A admirei um tempo, então, com calma comecei a matar a saudade dela.
    Primeiros, passei meu nariz, sentindo seu cheiro. Então, alisei com as palmas das mãos, arrepiando com o toque. Lambi a pele, apreciando seu sabor. Dei uma mordidinha na carne. Só então abri suas nádegas e introduzi meu rosto entre elas.
    Siqueira se empinou para receber minha língua. Introduzi no orifício, arrancando seus gemidos grossos. Após me saciar, levantei novamente, arriei minha calça e enfiei sem aviso. Siqueira deu um pulo, mais de susto com a brutalidade do que incômodo. O abracei por trás, mordiscando sua nuca.
    Siqueira ria, pois meus dentes lhe causavam cócegas. Entre risos, um gemido mais forte, quando meu pau encravava fundo em seu corpo.
    - Fábio. - ele passou a mão para trás e agarrou minha cabeça. - Mete. Por favor.
    - Vejo que está mais dócil - falei ao seu ouvido. - Sabe que fez merda e agora está manso, major?
    E meti mais forte
    - Ah... Isso - ele se envergava todo. Empinando bem a bunda.
    Meti bastante, com força, com fúria. Estava com saudades daquele corpo, daquela bunda.
    Siqueira abria as pernas, como que tentando permitir que eu entrasse cada vez mais fundo. Passei a mão pelo seu corpo e fui descendo até agarrar seu pau. Ele quase gritou.
    - Ah. - soltou o ar, enquanto seu pau babava.
    - Goza, Gabriel. Pode gozar, meu garoto.
    O pau dele despejava liquido, sujando toda a minha mão. As gotas grossas caiam no chão, irrigando o solo. Siqueira tremia, pernas bambeando. Gemendo alto, livre.
    O abracei e cravei mais, sentindo que eu também ia ejacular. Ele perdeu um pouco o equilíbrio, caindo pra frente e se apoiando na árvore. Eu o segui, agarrado a suas costas, enquanto meu leite era despejado em seu interior.
    Ficamos em silêncio, respirando e nos recompondo. Siqueira apoiava as mãos na árvore, para se equilibrar.
    Então, se virou, apoiou as costas e me beijou de novo. E ficamos assim, carinhosos. Sentindo o tempo passar e não nos importando com isso. Só então, no avançar da hora, ele lembra
    - Quer ajuda para levar o saco?
    Eu aceitei. Era pesado e eu havia dispensado Albuquerque. Juntos, despejamos as folhas reunidas no lixo e nos dirigimos aos nossos dormitórios. Antes de nos despedirmos, ele me olha
    - Queria pedir para você dormir comigo. Mas não seria bom você levar outra advertência.
    - Verdade - me lembrei - Mas eu ia gostar.
    - E se... - e sorriu sem jeito - E se esse fim de semana você passasse comigo? Na minha casa? Longe desse colégio.
    - E seu pai? - Questionei
    - Ele vai trabalhar ao sábado a manhã toda e de noite vai viajar com minha mãe. Nem vai em casa. Vai buscar ela direto na casa de minha tia. Só terei de levar ela lá no fim da tarde. Podemos passar a amanhã com ela. Você a conheceria. - Siqueira falava rápido, nervoso e animado - Vamos ter a casa só para nós depois. E...
    - Eu acho uma excelente ideia - falei, podendo enfim relaxar
    Sorrimos um para o outro e nos despedimos. E fui para meu dormitório me sentindo sem peso.
  • Colégio Pracinhas - Capítulo 1 - O primeiro trote

    Depois de muito esforço, enfim estava naquela assembleia para recepção dos novos alunos do Colégio Militar Pracinhas, um Colégio de elite onde só os filhos de militar de alta patente poderiam ingressar.
    Mesmo com a vantagem familiar, ainda havia uma prova rigorosa e um número de vagas muito limitado, tornando seu ingresso ainda uma vitória a ser comemorada por mim.
    A estrutura do colégio incentivava a disciplina e a hierarquia. Além das aulas convencionais, aprenderíamos serviços domésticos (lavar, passar, costura, cozinhar e limpar) além de direitos civis e militares. Tudo com o foco no preparo para a vida em quartel. Até mesmo sua estrutura hierárquica se assemelhava a um.
    Os alunos eram como oficiais, cuja patente era definida pelo ano de ensino. O terceiro ano era a elite, os majores, responsáveis, em conjunto aos professores, pela disciplina. Tinham autoridade inclusive de dar suspensão. Os do segundo ano não gozavam de muitos privilégios, uma vez que não poderiam mandar nos do primeiro ano já que as ordens já vinham de cima, do terceiro. Mas era um período para se relaxar, e focar nos estudos. Gozavam de uma imunidade. Uma vez que não tinham a responsabilidade do terceiro ano, nem as exigências do primeiro.
    O primeiro ano era a fase de teste de qualquer cadete. Onde seríamos levados aos nossos limites. Meu pai contou que passou por trotes pesados quando estudou lá, e me deu um conselho:
    - Tu vê se aprende a manter essa boca fechada lá, hein Fábio - falou enquanto me ajudava a me arrumar - Sei que você talvez não vá seguir carreira, mas é um colégio muito bom. Nível de ensino excelente. Mas a disciplina lá é fundamental
    - Eu não sou um bom garoto? - Me fingi de ofendido e ele riu.
    - Claro que é, seu idiota - e me deu um leve soco no rosto, carinhoso como sempre fazia - Mas você herdou dois defeitos de sua mãe: Ser esperto demais e ter a língua grande demais.
    - Amor, o café está pronto - ouvi a voz de minha mãe no andar de baixo
    - Estou indo, meu bem - respondeu com a voz doce
    Ao me olhar, viu meu riso e apontou o dedo pra mim
    - Cala a boca - e depois riu também e me abraçou - estou orgulhoso, filho
    - Obrigado, pai - e o abracei com força.
    Acabada a cerimônia, fomos para nosso dormitório. O primeiro ano dormia em um grande alojamento no centro do pátio. Todos os alunos no mesmo. O segundo ano se mudava para o prédio principal, no quarto andar, e ficavam em quartos de dois em dois alunos. Já o terceiro ano reinava no quinto andar, e cada aluno tinha seu dormitório. Chegar ao terceiro ano não era fácil. As médias tinham de ser altas e o colégio tolerava apenas uma única reprovação. Na segunda, já seria expulso. Muitos alunos desistiam logo no primeiro ano, não suportando a pressão.
    Aquela seria nossa primeira noite no dormitório. Conversei com alguns alunos, começando a criar vínculos. Em particular, Pedro. O único rapaz negro do primeiro ano. Forte, cabelo curto, encaracolado. Rapaz de bem, bastante tímido. E também Elias, garoto bem boa praça, bem meu estilo. Cabelo encaracolado como o meu, mas loiro. Olhos verdes. Forte também, rosto de anjo.
    Naquela madrugada, a sirene tocou e eu pulei da cama, colocando-me em posição de sentido. Meus colegas fizeram o mesmo. Logo após, a porta se abriu e as luzes acenderam. Os alunos do terceiro ano chegaram.
    Meu pai já havia me preparado para aquilo. E pelo que pude perceber, os dos demais alunos também.
    - Muito bem, soldados - falou o rapaz a frente. Cara alto, quase minha altura, forte, postura impecável. Traços fortes no rosto, olhos e cabelos castanhos, pele morena.
    - Sou o major Siqueira, do terceiro ano. E minha missão, junto de meus companheiros, é transformar as mocinhas aqui em homens de verdade. Alguma dúvida até aqui?
    - Não, senhor! - Respondemos em uníssono
    - Alguém aqui discorda que vocês são um bando de mocinhas?
    - Não, senhor!
    - E ao fim desse ano, vocês serão homens?
    - Sim, senhor!
    - Excelente. Descansar - ordenou e todos ficamos em posição de descanso - Muito bem. O dia foi longo, senhores, então não vou tomar muito de seu tempo. Primeiramente, congratulações por terem sido admitidos. Só o fato de estarem aqui hoje já mostra que possuem massa cinzenta em suas cabeças. Porém, se acham que isso é o bastante para se tornarem militares de elite, estão enganados. Minha missão e de meus colegas de turma, é transformar vocês em soldados de verdade. E na corporação, disciplina é essencial. E seguir ordens, é vital. Então, senhores. Dez flexões. Agora, na minha contagem
    Ele não precisou repetir. Todos fomos para o chão.
    - Excelente. Agora. 30 polichinelos. Já!
    E todos fomos.
    - Muito bem senhores. Agora, vamos fazer a vistoria. Tirem as roupas. Agora!
    Já estava esperando por isso. Porém, não da forma que eu imaginava. E como resultado, fui o único que permaneci de cueca, enquanto todos estavam nus. Praguejei por dentro. Antes que eu pudesse correr atrás do prejuízo, Siqueira já tinha visto e veio em minha direção.
    - Qual seu nome, soldado?
    - Fabio, senhor. Fabio Mendes
    - Muito bem, Mendes - e pegou no meu pau com força. - Me responda. Tem vergonha do seu pau?
    - Não senhor - consegui manter a voz firme, apesar da dor
    - Então o que está esperando, soldado?
    Eu tirei a roupa. Tentando disfarçar o contragosto.
    - Muito bem, soldado - e falou na minha cara - espero não precisar repetir novamente uma ordem pra você
    - Não, senhor! - Respondi firme.
    - Agora, me paga vinte flexões
    E lá fui eu de novo, mas desta vez, Siqueira pôs o pé nas minhas costas, dificultando minhas subidas. Mesmo assim, cumpri a ordem, mais suado que deveria.
    - Excelente - e se virou para o grupo. Então olhou para Pedro. - Você, soldado. Nome
    - Pedro, senhor. Pedro Araújo
    - Muito bem, Araújo. Isso por acaso é uma posição de descansar? Onde você pensa que está? Em algum clube, soldado?
    - Não, senhor
    - Então pro chão e me paga mais vinte flexões
    Pedro caiu sem hesitar e pagou.
    Quando se ergueu de novo, recolocou-se na posição de descanso.
    - Melhorou a postura, pelo visto. - Assentiu - Agora soldados. Como podem entender. Aqui, nós mandamos. Aqui vocês obedecem. Simples. Todos do terceiro ano serão seus superiores. Mas cada um de vocês estará diretamente subordinado a um aluno. Esse será seu oficial maior, aquele acima de todos, ao qual não poderão desacatar uma ordem. Fui bem claro?
    - Sim, senhor! - Todos
    - Se seu superior mandar vocês correrem, o que vocês fazem?
    - Corremos, senhor
    - Se seu superior mandar limpar suas botas, o que vocês fazem?
    - Limpamos, senhor
    - E se seus superiores ordenarem que vocês lambam suas bolas, o que vocês fazem?
    - Lambemos, senhor
    Nesse momento, minha voz fraquejou, salientando um pouco meu tom de desaprovação. Achei que não fosse ser percebido, mas Siqueira estava de olho em mim, como um abutre, e notou.
    - Não ouvi sua voz, soldado - falou num tom mais baixo, mais ameaçador - O que você faz, Mendes?
    - Lambo, senhor - falei entredentes.
    - Acho que você não entendeu o conceito de ordem aqui, soldado. Se eu dou uma ordem, quero que ela seja obedecida de imediato. Entende isso, soldado? Entende por que uma ordem não pode ser questionada?
    - Não, senhor.
    Ele colou o rosto na minha cara, quase cuspindo enquanto fala.
    - Entende por que mandamos vocês fazerem as coisas?
    - Sinceramente, Não senhor
    - Nem um palpite, soldado?
    - Não, senhor
    - Não imagina por que mando vocês fazerem coisas, como tirar suas roupas, soldado?
    Naquele momento, eu entendi completamente o que meu pai queria dizer com 'língua grande'. Não tive tempo de impedir, quando as palavras saíram pela minha boca
    - Talvez o senhor goste de ver homens pelados, senhor
    Silêncio. Quase um sepulcro. O bastante para eu ouvir meus próprios pensamentos e concluir que tinha feito merda. Parecia interminável enquanto o rosto de Siqueira ficava vermelho e os olhos de meus colegas calouros arregalavam.
    O primeiro som, foi um risinho, mas não foi de um calouro, e sim de um do terceiro.
    - Cala a boca! - Siqueira gritou com o seu grupo e logo as risadas morreram.
    Então, se voltou pra mim, olhar faiscando até seu rosto se contorcer em um sorriso malicioso.
    - Muito bem, soldado. Mas vai lamentar seu momento de comediante - e se voltou ao restante - Senhores. Por hoje, chega. Ao longo da semana, cada um de nós vai selecionar entre vocês, quem serão seus subordinados. Até lá...
    - Major Siqueira - um veterano deu um passo à frente
    - Fale, Soares
    - Já escolhi o meu, senhor - e apontou para Pedro - O soldado Araújo, senhor
    Siqueira olhou de cima a baixo e deu de ombros.
    - Tudo bem. Se você prefere o cotista, fique à vontade - E voltou a falar - Agora, os demais, descansem. Menos você, Mendes. Vista-se e nos acompanhe
    Todos me olharam, mas nada falaram. Eu me vesti e os segui, até o prédio principal. O gramado estava iluminado apenas pelos holofotes. Pouco se via além dos fachos de luz. Os segui em silêncio. Estudando o lugar. Eu estava cercado. Os estudantes se espalhavam em torno de mim, de forma a não permitir uma fuga. Apesar de ser do primeiro ano, eu sempre fui alto e forte para minha idade, o que me dava vantagem contra a maioria dali, mas não contra todos.
    Resolvi então aceitar meu destino e tentar não piorar o que já estava ruim.
    Fomos até o andar do terceiro ano, me levaram ao vestiário masculino, na parte onde ficam as duchas coletivas.
    Me cercaram, dando distância. Coração a mil, mas eu não demonstrei o medo que sentia.
    - Muito bem, Mendes. Tira a roupa - Siqueira ordenou.
    Desta vez eu obedeci de imediato, ficando nu.
    - Que bom, vejo que aprendeu a se despir
    Ele me circulou e foi me dando socos leves do braço, peito, ombro. Nada capaz de machucar ou marcar. Parecia um médico fazendo um check-up.
    - Soldado forte, você. Daria um bom militar. Mas talvez, graças a sua língua grande, não dure até o terceiro ano. - E parou de frente pra mim - De joelhos
    E ajoelhei.
    - Bom - e suspirou, sorrindo - Sabe, Mendes, talvez aja esperança pra você. Quem sabe, se comportando, não possamos superar essa primeira impressão.
    Ele abriu o zíper e eu engoli seco. Mas não ocorreu o que eu esperava. Mesmo surpreso, não reagi ao jato quente que ele me lançou. Fiquei paralisado, vendo a urina bater em meu peito e descendo pelo meu corpo. Minha expressão impassível.
    - Nossa, que alívio. Sabia que devia ter tirado água do joelho antes de irmos pro dormitório dos calouros. Ufa - regozijou. Então, se inclinou de volta para mim para me encarar. Eu sustentei seu olhar. - Você tem um olhar muito abusado, soldado
    Meu pai já me disse muitas vezes que eu tinha os olhos da minha mãe. Sempre imaginei que fosse pela coloração, mas naquele momento entendi melhor. Eram olhos que não aceitavam desaforo.
    - Major Soares. Tenha a honra - convidou o amigo.
    Soares veio, pôs o pau pra fora e mijou na minha perna
    - Que mira horrorosa, Soares - Siqueira chamou sua atenção. - Santos, sua vez
    Veio outro garoto, menor que eu, rosto malicioso. Esse riu e fez bem na minha cara. Tive de fechar os olhos na pressa e quase inalei o líquido.
    - Muito bem - Siqueira o parabenizou e abaixou novamente na minha frente. Me encarou - Está gostando do banho, Mendes?
    - Sim senhor - falei com a voz firme
    - Algo a comentar?
    Por que ele fez aquela pergunta? Malditos sejam os genes da minha mãe.
    - Nada, senhor. Apenas agradecer
    - Pelo que soldado? - Sorriu vitorioso
    - Não tenho mais vergonha do meu pau, senhor. Agora que vi o seu
    Pronto, eu definitivamente havia assinado meu atestado de óbito.
    Ele ia me bater, eu tive certeza. Mas Soares o segurou pelo ombro e o fez se erguer.
    - Calma, Siqueira. Não deixe o recruta lhe esquentar demais a cabeça. Não vá perder a razão
    - Tem razão - e respirou fundo - Mijem nesse merda. Molhem ele todo. - E se voltou pra mim, com um sorriso ferino. - Mas antes, parabéns, soldado. A partir de agora, você é meu subordinado pessoal - e saiu do banheiro.
    Então, dias difíceis estavam por vir. Eu havia ganho a primeira batalha, mas logo após ter declarado uma guerra que duraria um ano, se eu não tomasse atitudes urgentes.
    Escutei um dos garotos rir, vindo para minha frente. Era maior que eu, bastante musculoso, cara de mau encarado.
    - Você tá brincando com fogo, soldado. - E riu - Mas confesso que fui com a tua cara.
    - Obrigado - agradeci e sorri. Olhei para os demais e percebi uma mudança satisfatória no clima após a saída de Siqueira. Ele era o líder, mas não era absoluto. Talvez eu pudesse usar isso no futuro
    - Mas não leve a mal - emendou o major - Eu ainda vou mijar em você - e pôs o pau pra fora. Era enorme. O maior até então - Não porque não gosto de você, mas por que acho hilário
    - Tranquilo - aceitei
    Eu ri. E dessa vez sinceramente. Não tinha problemas com trotes, apenas com gente babaca. Então abaixei a cabeça e o deixei mijar nela, sentindo o líquido quente escorrer pela nuca.
    Os outros, cansados de esperar, foram se colocando em torno de mim. Cada um mijando onde queria. Ombros, peito, costas, cabeça... O fato é que ao fim, eu estava encharcado. Mas incrivelmente bem.
    Como não havia saída, resolvi aceitar e tirar algum proveito daquele banho quente.
    Estava relaxado, como não estava desde que aquele trote havia começado. Talvez seja por causa disso que tive aquela reação estranha. Meu pau simplesmente reagiu. Não ficou duro, mas ganhou muito volume. Excitado. Quando levantei, percebi que muitos dos alunos olharam pra ele. Uma até fez uma careta de admiração e surpresa.
    Éramos homens afinal, e por mais troglodita que fosse, o tamanho da pica ainda era um elemento de poder. E eu, exibi o meu sem pudores.
    Soares me entregou uma toalha.
    - Toma banho e depois volta pro seu alojamento, soldado
    Eu agradeci e fui a um dos chuveiros. Os demais saíram.
    - Valeu, pessoal - os saldei e alguns responderam. Havia caído nas graças do terceiro ano, afinal. E poderia precisar deles contra Siqueira, dependendo da situação.
    Tomei um banho demorado. Deixando a água quente me limpar por completo, enquanto relaxava mais. Ao fim, me sequei e me vesti. O banheiro ficava ao final do corredor dos dormitórios. Passei e estava escuro. Iluminado apenas pela luz acesa nas escadas e a de uma fresta de uma das portas abertas.
    Passando por esta, minha atenção foi chamada pelo som de suspiros, seguidos de um ranger na madeira.
    Eu devia ter seguido, mas minha curiosidade me obrigou a olhar. Me espantei ao ver a cena.
    Não reconheci o rosto, pois este estava virado para a parede. Mas o corpo nu de Pedro, sim. Ele estava de quatro na cama, costas malhadas, pele negra brilhando de suor. Atrás dele, penetrando, o corpo nu de Soares. Pele mais clara, também musculoso. Uma bunda carnuda que se contraia a cada penetrada.
    Eu devia ter ido embora, mas não fui. Inerte diante da cena. Paralisado.
    - Pede mais, vai. Pede - Soares mandou.
    - Mete. Por favor, mete com força - Pedro gemeu, não sabia se de dor ou de prazer. Mas Soares meteu. Com força, Pedro teve de enfiar a cara no travesseiro para não gritar.
    - Toma, veadinho. Toma - Soares tinha a expressão violenta. Diferente do rapaz educado que se apresentou a mim há pouco.
    Ele então urrou, dando uma última fincada no soldado e despejando o sêmen em seu interior.
    Os dois respiravam fortes e começavam a se erguer quando eu saí dali. Não queria ser pego. Desci rapidamente as escadas e cheguei ao pátio. Enquanto caminhava até meu dormitório, tive de ajeitar meu pau dentro do short. Pois este insistia em não abaixar.
    Cheguei e todos dormiam. Deitei sem fazer barulho, mas não adormeci de imediato. Ainda vi quando Pedro chegou e, sem fazer barulho, foi para sua cama. Queria falar com ele, mas não era o melhor horário. Poderíamos acordar alguém. Então tentei relaxar, embora fosse difícil, imaginando o mundo de possibilidades que se abria para mim.
  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 10 – SOLDADO DE CHUMBO

    Olhando superficialmente, pouca coisa mudou após eu abraçar ser um recruta. Continuei cumprindo meus deveres, continuei interagindo com todos no colégio. Siqueira, ou se tornou um homem mais agradável ou eu havia me acostumado a seu jeito mais ferino. Mas novidades me aguardavam.
    Ao longo das semanas, recebemos um aviso estranho. Que a 'noite dos cordeiros e dos lobos está chegando'.
    - O que diabos é isso? - Elias perguntou, vendo o aviso na porta do nosso dormitório, que amanheceu ali naquela sexta.
    - Sei lá - Pedro ficou confuso.
    Perguntamos a todos os calouros e ninguém fazia ideia. Deixamos passar, mas a coisa foi ganhando força. Isso porque sentimos que havia uma aura de mistério no ar. Comentei com um professor e ele sabia o que era, mas se recusou a me contar.
    De tarde, Pedro veio comentar
    - Pessoal, too ficando preocupado. Fui comentar com o Henrique sobre esse lance de cordeiros e lobos e ele disse que não podia me contar. Caramba. Tipo, nós nunca tivemos segredos um para o outro e ele não quis me contar.
    Elias entrou no assunto.
    - Cara, eu também. Fui falar com o Pinheiro e ele disse que a tradição manda não sabermos até a noite. E não me disse nem que noite vai ser isso.
    Eu a princípio não levaria fé, mas também fiquei assim quando naquela tarde eu recebi uma ligação do meu pai e, entre conversa aqui, conversa ali, falei do anúncio que amanheceu em nosso dormitório. O senti desconversar, então insisti. Mas ele foi irredutível.
    - Foi mal, filhão. Isso não posso te contar
    - Mas que diabos é isso então? - Pedro estava nervoso.
    - Eu não sei - desabafei.
    Estávamos nós três no pátio, haviam acabado as aulas e estávamos relaxando, sentados no chão e batendo papo. Mas o assunto não podia ser outro. O que seria afinal a noite dos cordeiros e dos lobos?
    Mas nosso papo foi interrompido pela chegada de Siqueira.
    - Mendes, quando acabar aí, vou precisar de sua ajuda em meu quarto. Estou te esperando, não demora - e saiu, sem mais detalhes. Senti os olhares de meus amigos querendo perguntar algo.
    - Assim, mudando de assunto - Elias começou - eu reparei que você e Siqueira estão mais... Amistosos um com o outro
    - Verdade - Pedro continuou - Estou pra te perguntar desde aquela noite que você voltou do quarto dele. Quando ele pegou sua prova. Você voltou de um jeito estranho. Nem parecia você. Estava avoado. Perdido. Sei lá
    - É cara, fiquei preocupado. Pensei que ele tivesse feito algo contigo - Elias completou.
    - Até fez... - Falei meio evasivo. Engraçado, mas aquele assunto me deixou meio encabulado - a verdade é que estamos melhor sim. Resolvemos dar uma trégua
    - Que bom - Pedro apoiou a mão em meu ombro. - Fico mais calmo por você. Sem querer ofender, mas briguento do jeito que você é, fiquei com medo da coisa acabar mal.
    Eu ri
    - Mas conta aí... - Elias se achegou - o que rolou naquele quarto? E seja o que for... vai rolar de novo? - Perguntou maldoso.
    Senti meu rosto corar. Nunca tive problemas de falar sobre o assunto, mas naquela hora...
    - Não sei. - Apenas respondi a segunda pergunta. - Mas bem, o dever me chama. De noite conversamos mais - e levantei. Em fuga
    Me despedi dos meus amigos e fui. Eles ainda ficaram me zoando, dizendo que eu estava indo pro abate. Mandei o dedo do meio pra eles e segui, deixando-os gargalhando pra trás.
    Chegando, bati na porta e ele mandou eu entrar.
    - Boa tarde, senhor. Vim, conforme pediu - usei minha voz mais solicita.
    Siqueira sorriu e veio em minha direção.
    - Só queria sua ajuda pra me preparar para o evento que vai ter hoje à noite. Ainda não decidi como vou. Fique aqui - e me levou ao centro do quarto - agora fica assim, reto, braços esticados. Assim. Ótimo - E pegou uma blusa e apoiou em meu peito - vou querer que você fique quietinho, sim? Não se mecha por nada
    - Tudo bem - mas olhei desconfiado.
    Ele ficou olhando as peças em mim e então tirou as roupas e vestiu as que me deu. Acompanhei ele ficar de cuecas, aquele corpo malhado a mostra. Terminou de se vestir e olhou no espelho. Era uma combinação de calça social, camisa e terno.
    - Formal demais, não? - Ele questionou
    - Qual a ocasião?
    - O terceiro ano vai participar de um evento na academia do exército. Vão apresentar os cursos de nível superior e vai ter um coquetel. Não especificaram o traje. Pensei em ir com a farda de gala, mas achei exagerado - e acabou tirando a roupa e ficando novamente de cuecas.
    - Entendi. - e olhei de cima a baixo - vai assim. Pra mim, tá bom
    Ele me olhou de rádio de olho e reprendeu
    - Eu te chamei pra me ajudar, Mendes. Não pra fazer piadas
    - Tudo bem, e o que quer que eu faça? - Perguntei, achando graça.
    - No momento, só fica paradinho. Com seu porte, você vai dar um ótimo manequim
    Assenti. Pelo menos eu tinha o que admirar.
    Ele, olhando para o armário e pensando, de costas, me deu uma boa visão de suas costas malhadas e sua bunda volumosa. Mas a coisa ainda melhorou.
    - Ah, não sei - falou sozinho, como se eu não estivesse ali - vou trocar logo essa merda também
    E tirou a cueca. Nossa, que bunda. Grande, musculosa. E Siqueira tinha uma marca de sunga que dava o toque final. Inclinei o rosto e fiz uma cara de aprovação quase que instintivamente, que acabou aparecendo no reflexo do espelho. Quando Siqueira virou para mim, eu me corrigi, tentando parecer o mais normal possível.
    - Tudo bem aí, Mendes? - Perguntou, fingindo muito bem não estar gostando de me torturar.
    - Tudo ótimo, senhor
    - Tudo bem - e voltou a ficar de costas, apoiando o braço em uma porta do armário e pensando. Ficou um bom tempo. Eu relaxei e aproveitei a visão.
    Quando Siqueira pegou outras duas peças de roupa e se voltou para mim, estava de pau duro. Eu segurei a reação, embora a vista tenha me deixado meio que salivando. Era um pau bom. Grande, grosso. Me segurei para não rir, pois minha mente me lembrou da noite do primeiro trote, em que eu fiz piada do dote do major. Ao julgar pela forma como ele exibia aquele membro ereto, deve ter ficado muito ofendido por eu zombar dele.
    Siqueira se aproximou e apoiou as roupas em mim. Pediu para eu segurar. Quando segurei a calça na altura da cintura, ele se aproximou e acabou 'sem querer' esbarrando a cabeça da pica na minha mão e a deixou ali, fingindo estar focado na roupa. O pau roçou nas costas da minha mão. Enquanto ele olhava a combinação que estava comigo. Depois, pegou a calça e ajeitou, imprensando ela contra meu corpo e pressionando a mão contra meu volume.
    Aquele alfaiate estava bem estabanado pelo visto, pois parecia ter dificuldades em ajeitar uma calça em um manequim. Aquele joguinho estava bem engraçado. Engraçado e excitante.
    Então ele deu um passo para trás e descartou.
    - Não tá bom ainda
    E foi quando bateram na porta.
    - Entre - ele mandou, nu em pelo mesmo.
    Pinheiro entrou, falando animado.
    - Cara, não sabe da maior o... Eita! - e se surpreendeu ao encontrar o amigo nu - o que é isso, major?
    - O que foi, Pinheiro? Veio falar o que? - Siqueira perguntou, não dando muita atenção ao amigo.
    - Oi? - Pinheiro tinha até esquecido o que ia falar - ah sim. Sim. Fiquei sabendo que o evento vai ter um coquetel. Open bar! - comemorou. E só então pareceu ter me visto ali. - Ah Boa tarde, soldado Mendes
    - Boa tarde, major - respondi, achando divertida sua surpresa.
    - Estou sabendo - Siqueira falou distraído - Pinheiro, me diga, o que vai vestir afinal? Não queria ser o único a estar de beca, mas também ia odiar estar mal vestido em comparação. Meu pai já me atormenta o bastante sem eu dar motivos
    - É isso que te preocupa? - Pinheiro andou até ele e juntos voltaram ao armário. Pinheiro olhou pra mim com uma cara travessa e deu uma apertada na nádega de Siqueira. Eu segurei o riso.
    Siqueira o repreendeu
    - Foco, major. Por favor
    - Tudo bem - e tirou a mão - Gabriel, não precisa se preocupar. Todos combinamos de ir de esporte fino. Vai assim também. Vai estar escondido na multidão. Ninguém vai social nem de gala militar - e apontou pra uma calça jeans e um blusão branco. Que tal?
    - Pode ser. Já troquei tanto de roupa hoje. Acho que estou dando mais importância pra esse evento do que ele merece - pegou as roupas e me entregou. - Cansei de me trocar. Mendes, vista e eu vejo como fica
    Pinheiro sorriu enquanto eu tirava a roupa. Fiquei de cuecas e fui vestindo a roupa que me deu.
    - Gostei - Pinheiro comentou, me circulando e depois deu um tapa na minha bunda - e olha que a bunda do Mendes não é tão grande quanto a sua
    Siqueira ficou de braços cruzados, me olhando de cima a baixo
    - Pode ser - falou por fim. - Mendes, tire a roupa. Mas com cuidado, pra não amarrotar
    Eu obedeci. Fiquei de cuecas de novo. Pinheiro me olhou e então, completou.
    - Melhor tirar a cueca também comandou.
    Eu sorri e obedeci
    - A cueca não é minha, - Siqueira o corrigiu, mas não mandou eu por de volta. Olhou rapidamente meu pau que naquela altura da brincadeira já estava bem encorpado.
    - Parece que Fábio aceitou brincar enfim - Pinheiro falou satisfeito. Seu soldadinho de chumbo está bastante interessante - e me olhou de cima a baixo como se eu fosse um pedaço de carne. - Será que um dia você vai me deixar brincar com ele?
    - Claro - Siqueira falou, ainda sério - mas hoje tenho coisas ainda pra fazer então... Sem querer ser rude, mas se me der licença - e indicou a porta.
    Pinheiro baixou os ombros, fazendo cara de cachorro que lhe foi tomado o osso
    Olhou então pra mim e alisou meu peito
    - Uma pena. Estava doido pra brincar antes do coquetel. Mas fazer o que? Bom fim de semana, Mendes
    - Bom fim de semana, major - me despedi e ele saiu. Ainda olhou para trás na esperança de ser chamado para brincar, mas teve de se conformar.
    - Até parece que depois de tanta briga pra conseguir, ia deixar ele se divertir com meu soldadinho de chumbo antes de mim - Siqueira veio pra perto de mim.
    - Você tá calado hoje, Mendes. Normalmente não cala a boca - e sorriu. Aquele riso safado que estava segurando durante aquele teatrinho da troca de roupas. Meu pau já estava duro naquele momento. E então estávamos ali, eu e ele, dois homens nus e excitados no quarto,
    - Você pediu para eu ficar quieto - e dei de ombros - só estou tentando ser um soldado obediente
    - Hum... Bom. Muito bom. Então continue mais um pouco, por favor
    Ele agachou, pegou meu pau e começou a chupar. Boca quente, macia. Chupava com calma. Provando, como um sommelier. Depois, com vontade e firmeza. Gemi baixinho, mas não me mexi, deixando ele chupar, lamber, cheirar da forma que queria. Quando se satisfez, ergueu de novo, limpando a saliva da boca.
    - Me diga, Mendes - e olhou nos meus olhos, eu mantive o olhar fixo no armário, evitando o encarar diretamente. Não em sinal de vergonha, mas de respeito - Pinheiro e Soares gostam muito de você. Vocês já fizeram alguma coisa?
    - Chupei o pau do major Pinheiro uma vez. E penetrei o major Soares há algumas noites atrás - informei, sério, preciso. Como quem passa um relatório.
    Ele passou a mão na minha bunda.
    - Senti que seu cu é virgem - e enfiou um dedo entre as nádegas - estou certo?
    - Sim, senhor - Seu rosto estava perto, seu pau duro encostava no meu. Me arrepiei na hora.
    - Olha pra mim, Mendes - mandou e eu o encarei. Seu rosto se encheu de tesão imediatamente - Nossa. Nunca pensei que fosse sentir saudades desse seu olhar marrento. Prometi que ia arrancar ele de você, mas confesso que fico feliz de ter falhado em minha missão. De hoje em diante, quero que volte a me encarar assim. Enquanto estiver me obedecendo, quero ver esse olhar petulante. Esse rosto marrento. Entendido?
    - Sim senhor
    - Mas não era isso que eu ia falar. Você só me deixou desarmado com esses seus olhos - e sorriu - quero te pedir uma coisa. Já que não fui o primeiro nesse colégio que você mamou, nem o primeiro que você penetrou. Peço que me deixe ser o primeiro a te comer
    - Está me pedindo ou mandando? - Perguntei.
    - Não adianta eu mandar por algo assim. Sabemos que esse nosso jogo de major e soldado só é mantido porque você quer. Logo, não posso te obrigar a uma coisa dessas. Então, estou te pedindo. E quero sua palavra de homem. Não dê pra ninguém antes de mim. Quero ser o primeiro. Por favor - e me beijou, massageando novamente a entrada do meu cu e me fazendo arrepiar. Era incrível a reação que aquele simples membro era capaz de realizar em meu corpo. Apenas a ponta do dedo, alisando levemente a entrada, me fazia perder o ar, como se uma corrente elétrica passasse por todo o meu corpo, desestabilizando meus neurônios.
    - Tudo bem, Gabriel. Tem minha palavra
    Ele sorriu, satisfeito.
    - E eu prometo que vou fazer você gostar. - E me beijou de novo
    - Vai querer tentar hoje, senhor? - Perguntei, tentando parecer casual e não ansioso. A verdade é que aqueles dedos em mim estavam despertando demais aquela curiosidade.
    Ele tirou os dedos de minha bunda.
    - Hoje não. Hoje quero experimentar outra coisa. Soares não é o tipo de cara que dá pra qualquer um. Principalmente na frente do noivo, o que eu aposto que aconteceu na tal noite que você citou, ou estou enganado?
    Eu sorri, tentando parecer inocente. Sem sucesso. Ele riu, aquela cara de safado.
    Então, caminhou até a cama e deitou de barriga pra cima. Fez um sinal com a mão para eu me aproximar
    Parei diante de sua cama e ele falou
    - Vem soldado. Quero ver se você é bom como promete.
    Eu então sorri e me coloquei em cima dele. Deitei por cima, deixando meu peso cair. Corpo com corpo, pele com pele. Completamente colados um ao outro. E o beijei. Ele passou as mãos pelas minhas costas e passou uma perna por cima de mim, alisando minha bunda e minha coxa com ela.
    Beijei fundo, passando de sua boca para seu rosto e mordendo seu queixo depois.
    - Meu Deus, soldado. Você merecia uma medalha só por esse beijo
    Eu sorri satisfeito e continuei. Fui descendo pelo seu peito e fui lambendo mamilo por mamilo. Siqueira se contorcia, olhos fechados e se deliciando. Beijei sua barriga, lambendo cada gomo de seu abdômen. Cheguei a sua cintura. Abri suas pernas e lambi sua virilha. Chupei seu saco, bola por bola, e lambi todo o corpo do pênis, até chegar à cabeça. Só então o engoli por completo.
    Siqueira gemia grosso. Olhando pra mim com aquele rosto vermelho de prazer. Peguei sua cintura e o ergui. Jogando suas pernas em direção ao seu peito e o deixando envergado. Ali, com acesso fácil, lambi seu rego. De cima a baixo, passando a língua pelo orifício. Depois voltei e introduzi a língua.
    Siqueira abriu a boca, sofrendo um espasmo.
    A língua entrou fundo, vencendo facilmente suas barreiras. Dava para sentir o prazer dele pela forma como seu ânus se dilatava pra mim.
    - Meu Deus, soldado. Bom trabalho
    Ele gemia, perdido em prazer.
    - Estou apenas começando, major - avisei
    - Eu espero que sim - e sorriu, com os olhos brilhando.
    - Permissão para perguntar uma coisa, senhor?
    - Concedido, Mendes
    - O senhor estaria esperando a noite dos cordeiros e lobos para me estrear?
    Ele riu. Sorrindo maldoso
    - Não, Mendes. A noite dos cordeiros e lobos não será pra isso. Já quero ter te penetrado antes disso
    - Poderia me dizer em que consiste essa noite?
    Ele riu de novo.
    - Nem sob tortura, Mendes. Tradições precisam ser respeitadas.
    - E se eu pedir com jeitinho? - E desci sua cintura e encaixei o pau na entrada, só encostando. Ele se arrepiou. Peguei seu pau e puxei a pele pra baixo, revelando a cabeça rosada, e fiquei brincando de passar a ponta da língua nela, sentindo o gostinho do pé sêmen que ia vertendo devagar. Siqueira estava descontrolado. Os músculos do abdômen trincados a cada espasmo que ele dava, gemendo e se contorcendo a cada alisar da língua.
    Em um momento, ele não resistiu mais.
    Foi então que ele me pegou pela nuca e me puxou para perto dele, rosto com rosto
    - Chega de brincadeira, Mendes. Me dá o que eu quero - voz grossa, autoritário.
    Eu enfiei um pouquinho. Sentindo o cu se dilatar, querendo mais.
    - Pede com jeitinho - e sorri malvado
    - Não. Mete logo essa porra - mandou - chega de pedir com jeitinho. Chega de ‘por favor'. Chega. Eu tenho o que eu quero, Mendes e eu quero essa sua rola dentro de mim, agora
    O descontrole dele era delicioso. O arfar intenso, os músculos trincados.
    Eu queria meter de uma vez, mas ao mesmo tempo aquele orgulho tão intrínseco a mim estava se deliciando com sua ânsia. Desejoso de vontade de ver ele implorar.
    - Anda logo, Mendes. Enfia essa porra. Enfia, porque eu estou mandando. Sou seu major e estou ordenando que você me faça gemer
    Enfiei mais um pouco, mas não tudo, sentindo as paredes de seu ânus prensar o anel em torno do meu membro.
    - Mete, Mendes. Seu major está mandando. Me mostra o quão bom você é - enfiei mais, até o talo e deixei lá
    - Isso. Isso soldado. Agora fode. Fode com força
    - Se é o que quer, major - falei bastante sério e então comecei a judiação. A verdade era que eu já não estava mais conseguindo me segurar também, de tanto tesão.
    Segurei seus ombros para ele não escapar e meti a primeira, encravando fundo. Seus olhos arregalaram. Ele abriu a boca, mas não conseguiu emitir som. Mais uma, mais forte e mais fundo. E outra e outra e outra. O som da colisão de nossos corpos ecoava pelo quarto. Siqueira se segurava debilmente em meu corpo, quando eu comecei a surra.
    Metidas fortes e rápidas, fazendo se tremer todo. Toda minha musculatura estava empenhada em fazer ele sentir na pele e se arrepender de ter brincado com fogo
    - Ah, ah... Isso, vai - trincou os dentes e cerrou os olhos, aguentando firme - Isso Mendes, isso.
    - Vai se arrepender de não ter pedido com jeitinho - ameacei e fui mais forte ainda. Mais rápido. Mas não importava o quanto eu judiasse. Ele parecia gostar mais.
    - Ah, Mendes - e riu - Acha que está metendo em um desses novatos? Não garoto. Mete, vai. Castiga. Aqui é um homem de verdade, não esses garotos. Vai ter de fazer melhor que isso se quiser me fazer implorar pra parar
    Quanto mais ele me atiçava, mais eu ia. Eu poderia desfalecer, mas ia até o fim para fazer ele gemer cada vez mais.
    - Vai. Vai. Isso. Isso, soldado.
    Ele enlaçou minha cintura com suas pernas, apertando meu corpo. Meu pau escapuliu umas duas vezes no processo, tamanha era a pressão que eu empenhava. Eu logo o encaixava de novo e entrava com tudo de uma vez.
    Foi então que eu peguei no seu pau e ele se desesperou. Tentou tirar minha mão.
    - Não, falou. Ainda não... Ahhhh....
    Mas não teve tempo. Foi só tocar no órgão dele, que perdeu o controle. Sorri com maldade e apertei seu pau com força. Ele começou a tremer e o pau soltou o liquido branco enquanto sofria espasmos. Seu gemido saiu choroso, e ele logo foi perdendo as forças. E eu continuei metendo
    - Ai - ouvi ele gemer
    - Quer que eu pare? - Perguntei, olhando em seus olhos - pede com jeitinho.
    Seus olhos faiscaram e ele sorriu em desafio
    - Não. Vou aguentar até você gozar
    - Isso pode demorar - a verdade era que, no ritmo que eu estava, já tinha gozado, mas nada falei. Guardei para mim o segredo. Aproveitei que meu pau ainda estava duro e continuei metendo. Como se nada tivesse acontecido. Não queria demonstrar fraqueza diante dele.
    - Eu aguento - ele garantiu e eu fui. Meti mais com a força que minhas energias permitiam. Seu pau amoleceu, mas se manteve volumoso e ele ainda gemia.
    Aquele era de fato um desafio o qual não pude vencer naquele momento. Era preciso admitir. Eu acabei gozando a segunda vez. E eu tive que me entregar. Fui caindo, deitando meu corpo sobre o dele, suor com suor. Pele com pele.
    Apoiei a cabeça em seu peito e ele me abraçou.
    - Bom soldado, muito bom
    Eu estava exausto e ali fiquei. Abraçados, fomos nos recuperando.
    - Você faz jus à fama, Mendes. Sabia que era prodígio
    - Obrigado, senhor - arfei. Ainda com o coração acelerado.
     

     

  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 11 – CONFIDÊNCIAS

    Era numa quinta-feira, véspera de feriado. Eu ainda não sabia bem o que fazer com o feriado prolongado que chegava. Até então, nenhum plano.
    Foi quando, caminhando pelos corredores do colégio próximo a diretoria, tenho um encontro que me surpreendeu.
    - Tio Vitor. Você aqui?
    Meu tio sorriu e me cumprimentou.
    - Oi Fabio. Pois é. Passei aqui perto e resolvi entrar. Para lembrar os velhos tempos. Cara, esse lugar não mudou nada
    - Pois é, - comentei. - Pensei que fosse pra casa em Búzios hoje. Você e o Lucas normalmente não passam feriados lá?
    Meu tio revirou os olhos, como se lembrasse de algo desagradável.
    - Pois é, dessa vez eu não vou - falou por fim.
    - E vão pra onde? - Perguntei cauteloso, pois sentia que talvez ele não quisesse continuar por aquele assunto.
    - Pois é, Fábio. A verdade é que eu e Lucas não estamos mais juntos
    - Mas... por que? Digo. Vocês formavam um casal tão legal e... Pareciam tão bem... - e fiquei me sentindo culpado - foi por minha causa? - Perguntei com medo.
    - Oi? Não, não, Fabio. Por favor. Não pensa assim. Não teve nada haver. Nós... é que já vínhamos nos estranhando tem um tempo. Sabe... Meio distantes
    Mas não me foi o bastante, não conseguia deixar de pensar que àquela noite tinha algo haver com o término
    - Eu não devia ter...
    - Fabio, para - e pôs a mão no meu ombro - o que ocorreu foi... Foi... Nossa... muito bom. E confidencial, por favor - e riu sem graça - mas... mais que tudo. Foi ótimo. Havia tempos que eu e o Lucas não tínhamos nada tão tórrido. Mas... Mas não podíamos negar que as coisas entre nós não estavam mais se sustentando. Mas... a coisa ocorreu bem. Ele voltou pra São Paulo. Na área dele o mercado é melhor por lá e ele sempre se queixou de perder clientes estando aqui. Foi melhor pra todo mundo - e tentou sorrir, mas sem me convencer.
    - A mamãe já sabe? - Perguntei
    - Não. Ele não teve coragem de contar. Devo fazer isso por ele. O mais breve possível. Eles eram muito amigos
    - Entendo. - Ainda estava triste, mas tentava tirar a culpa da cabeça. Não era minha culpa. Mas ainda assim, me sentia mal. Era sensível que Vitor não estava bem, mesmo tentando aparentar - E você, como está?
    - Bem... Me acostumando de novo a vida de solteiro - e sorriu, meio sem convicção.
    Nesse instante, Pedro chegou.
    Eu o apresentei para meu tio e eles apertaram as mãos. Pedro, como de costume, ficou acanhado como fica diante de qualquer homem bonito. Eu o encorajei a falar.
    - Desculpa atrapalhar. É que eu só queria saber se você tem planos pro feriado. Henrique tirou a carteira enfim e ele quer nos levar para a casa dos pais dele em Verão Vermelho. Assim, é meio em cima da hora. Iriamos hoje, direto do fim da aula
    Parecia um programão. E ajudou a me animar um pouco.
    - Nossa. Seria muito legal. Só tenho de avisar aos meus pais
    - Vai lá, garoto - meu tio encorajou - deixa que eu aviso. Vou sair daqui e passar logo lá. Aproveito e resolvo uma questão
    - Valeu, tio - e o sinal tocou. Devíamos ir pra sala.
    Nos despedimos de Vitor e fomos.
    - Seu tio é um gato - Pedro comentou, quando nos afastamos
    - Está solteiro e não tem problemas em fazer à três - fui logo fazendo propaganda. O que Pedro gargalhou, embora, a julgar pela carinha acanhada, estava considerando.
    Acabei ligando para meus país mesmo assim e eles autorizaram minha viagem.
    A aula correu lenta. Estava excitado. Fazia muito tempo que não fazia uma viagem de fim de semana. Acabando, fomos para o dormitório e nos arrumamos. Lá, descobri que Elias também ia. Aí era festa.
    Henrique me falou pra convidar umas duas pessoas - Pedro explicou, enquanto arrumava a mala. Sunga não seria problema, pois sempre tinha uma na mala para as aulas de educação física. E como sempre lavamos nossas no próprio colégio, teria peças limpas para a próxima semana, só teria de repetir as mesmas.
    Terminamos e fomos para o estacionamento. Vimos quando Soares saiu de dentro de uma minivan.
    Nos cumprimentou e ele informou.
    - Peguei a vã da minha mãe, já que somos seis, fica melhor o espaço.
    Antes que eu pudesse perguntar quem seriam os outros dois, a resposta óbvia surgiu na forma de Siqueira e Pinheiro.
    Nos cumprimentamos.
    - Quanto tempo, major - Elias apertou a mão de Pinheiro. Senti uma malícia em sua voz
    - Relaxa, soldado. Nesse fim de semana, somos só colegas normais. Sem essa de hierarquia - e sorriu de volta
    Óbvio que eu sabia o que tinha rolado. Na verdade, ao longo desse tempo que passou, Elias nos contou que resolveu dar uma chance pro major e sentir como ele era metendo. Coitado. Sofreu. Pinheiro tem um pau enorme, como já pude testemunhar. Mas o meu garoto até que levou jeito ao fim. Disse que o major foi bem compreensivo e soube tratar e na segunda tentativa, a coisa foi mais suave. Aproveitando, eu também contei para meus amigos meu lance com Siqueira. De nosso joguinho. Não contei sobre a maconha, obviamente, mas todo o resto, eles sabem. Não tinha porque esconder uma coisa dessas. Ainda mais deles.
    Então, nos ajeitamos na vã e saímos. Pedro foi no carona ao lado de Soares, Pinheiro e Siqueira na fila da frente e eu e Elias na última fileira.
    - Vai ser interessante, estar com eles sem esse lance de colégio, pra variar - Elias comentou baixinho.
    - Bem, eles ainda são mais velhos que nós, no geral mais fortes e Soares é o dono do carro e da casa. Então eu diria que ainda há uma hierarquia afinal - enumerei, avaliando.
    - Mas ainda assim, vai ser diferente. Aposto - e sorriu com malícia. Elias, há uns dias, estava realmente mais saidinho. Desde a nossa brincadeira no vestiário, pra ser mais exato. O moleque desabrochou mesmo. Até eu me surpreendia as vezes.
    Após uma longa viagem, chegamos na casa, deixamos as coisas e fomos direto para a praia. Estava vazia. A cidade é muito pacata e calma. Tomamos banho de mar, de sol, zoamos, batemos papo. Um fim de semana entre amigos como deve ser
    Havia uma mesa de teqball próxima a orla. Pelo que Soares falou, era nova, pois não estava lá da última vez em que veio. Ele então pegou uma bola do porta malas e resolvemos brincar.
    Teqball é um novo esporte que combina futebol com tênis de mesa. As regras, são como as do tênis, só que sem raquetes. Só usávamos os membros permitidos em uma partida de futebol.
    A brincadeira foi rolando solta. Quem perdia o round, tinha que buscar a bola, seja lá onde ela fosse lançada. E sim, as vezes chutávamos com força só para zombar do amiguinho que teria de correr atrás dela. E as vezes o tiro saia pela culatra. Como quando eu dei um belo chute para cortar a bola de Soares, crente que ia ganhar, mas errei a mesa e acabei tendo eu de correr atrás da bola que eu isolei.
    Dentre os jogadores, Pinheiro foi o destaque. Quase rodou a mesa. O cara era um esportista nato. Mas aí chegou a vez de Elias e ele começou a encarnar.
    - Vamos lá, Pascoal. Vamos ver do que é capaz
    Mas Elias mandou muito bem, um jogo equilibrado. Pinheiro, muito confiante, tentou vencer o adversário com a ajuda do psicológico.
    - Não dá pra você não, garotinho. Eu fico sempre por cima, como você deve saber bem
    Eu tinha entendido a conotação sexual daquela piada e acho que todos ali também. Elias, ao contrário, estava calmo, jogando na defensiva
    - Acredito que dessa vez você vá ficar por baixo, major - falou calmamente, enquanto matava no peito e devolvia.
    - Duvido.
    - E se for assim? - Perguntou.
    - Elias, se você me ganhar, tu pede o que quiser
    Foi nesse momento que Elias se aproveitou de uma bola alta que Pinheiro lançou e fez uma coisa que parecia cena de filme. Num salto preciso, acertou de voleio na bola, que disparou no campo adversário e passou por Pinheiro antes que ele soubesse o que tinha acontecido.
    - Vai lá buscar, então - Elias apontou a bola indo em direção ao mar - o jogo vai ficar sério agora
    Ficamos todos em silêncio, entorpecidos com a cena. A cara de atordoamento de Pinheiro era impagável. Quem quebrou o silêncio foi Siqueira, que apontou para o amigo e gritou:
    - Se fodeu! - Nesse instante, todos despertamos e caímos no riso.
    Pinheiro, ainda sem entender, saiu correndo atrás da bola. Quando a trouxe, a coisa havia mudado completamente de figura. Não havia equilíbrio naquela partida. Elias era um verdadeiro craque. Sabia que jogava bem futebol, mas não fazia ideia de quanto.
    De um em um, ampliou a vantagem. Pinheiro não teve mais margem de jogo. Conseguia no máximo segurar um ou outro chute forte de Elias. Mas ao final, acabava tendo de ir buscar a bola.
    Pinheiro perdeu, e pediu uma melhor de três. Elias aceitou sem questionar, mas não havia muito o que o major pudesse fazer.
    - Bem, cansei de ver esse massacre - Siqueira falou por fim - vou dar uma corrida. Afim de ir comigo, Fábio?
    Realmente não havia mais o que ver, então aceitei o convite. Estranhei quando Siqueira pegou uma canga de pôs debaixo do braço pra correr, mas não questionei. Pedro e Soares ainda estavam se divertindo vendo o jogo, ou melhor, o massacre.
    Corremos bastante, mantendo o ritmo e a frequência. Foi um bom exercício. Não conversamos muito. Só após um tempo, quando perguntei se não era hora de voltarmos, mas ele disse que tinha uma coisa que queria me mostrar.
    Ao final, numa parte totalmente isolada da praia, chegamos a uns montes de areia. Subimos no mais alto e contemplamos o mar. O sol estava perto de se pôr. Uma visão belíssima. Ficamos em silêncio, admirando a natureza.
    Até que Siqueira se virou pra mim e sem falar nada, me deu um beijo. Suave, curto. Apenas tocou os lábios.
    E depois deu outro. E outro. Eu logo fui correspondendo. Ele passou a mão por dentro de minha sunga e apertou minha bunda. Eu segurei sua nuca com uma mão e alisei seu peito com a outra. Siqueira desnudou minhas nádegas, massageando-as. Beijei seu pescoço e fui arriando sua sunga, fazendo o pau duro saltar pra fora.
    Ele me pediu para o acompanhar, descemos o pequeno vão de terra e ele pegou a canga e a jogou no chão, forrando a areia. Me chamou pra deitar, me virou de barriga pra cima e tirou minha sunga, me deixando pelado sob a canga. Tirou a própria sunga também e depois abriu minhas pernas e me pegou pela cintura. Da mesma forma que eu tinha feito com ele no quarto alguns dias. Ele começou a chupar meu ânus, suavemente. Me olhando fundo enquanto eu gemia.
    Depois ele deslizou pra cima de mim, prensou meu corpo contra a canga com seu peso e me olhou nos olhos.
    Abriu minhas pernas com as suas e se encaixou entre elas. Senti seu pênis duro pressionar contra minha bunda.
    Siqueira estava muito carinhoso. Diferente de seu jeito mais bruto. Alisou minha testa, tirando os cabelos da frente e me beijou de novo. E sem mais motivos, começou a falar:
    - Quando eu entrei para o colégio, eu era como você. Fisicamente falando. Era de longe mais forte que meus colegas, mais gostoso. Minha bunda, já chamava atenção - e foi narrando devagar, roçando seu pau contra minha bunda.
    Eu prestei bem atenção em sua história. Curioso do motivo pelo qual a iniciou.
    - Na primeira noite, tivemos o primeiro trote tradicional. Foi bem parecido com o seu. Pagamos flexões, abdominais, tiramos a roupa. Foi aí que o major Galhardo, o major principal, prestou atenção na minha bunda. Ficou fixado. Mandou eu ir para o meio e dar uma volta, para a exibir. Eu fiquei sem graça, mas tentei levar na esportiva. Galhardo era um mulato grande e forte. Um sorriso largo e bonito. Jeito marrento, mas uma boa pessoa. Mas era claro que ele tinha fixado na minha bunda. Ele então, ao fim do trote, levou apenas a mim para uma sessão extra
    Senti a cabecinha encaixar na minha entrada. Gemi, mas não fiz muito barulho. Queria ouvir sua história.
    - Sabe a área em obra, Fabio? Nos fundos, onde você me flagrou com o Sequela? Pois bem. Aquela área está em obra há muitos anos. Isso porque, quando iam derrubar tudo, descobriram que aquele casarão velho foi um antigo local de armazenamento de escravos. O IPHAN entrou no assunto e aquele lugar ia virar um centro cultural em memória da escravidão. Mas no meio de tanta burocracia, acabou não saindo do papel ainda. Então, Galhardo me levou lá.
    Siqueira me beijou, parecendo ficar mais excitado a medida que suas lembranças o levavam de volta para aquele lugar.
    - Eles tem um grilhão antigo de madeira lá. Daqueles que prendem o prisioneiro na cabeça e nos pulsos. Igual o que vemos acoplado às guilhotinas. Pois então, eles me prenderam lá. Fecharam o grilhão, trancando minha cabeça e meus braços. Arriaram minha calça e começaram a me dar palmadas na bunda. Eles se divertiram com isso. E eu também, embora não admitisse. Porque comigo a coisa era um pouco diferente
    Senti seu pau entrar um pouco e soltei o ar. Siqueira mordeu meu queixo, apertando meu corpo mais forte junto ao dele. Era gostoso sentir seu peso e seu calor. Me ajudavam a relaxar diante do desafio de ser penetrado pela primeira vez.
    - Desculpe - e riu - Estou contando a história de forma errada. Fabio, desculpa, mas me permita voltar mais no tempo, na minha infância. Pode ser? Pra você entender bem o que ocorreu aquela noite, naquela área abandonada. Sabe, você conheceu meu pai. Um homem implacável, bastante rígido e educador. Eu fui um moleque travesso, sabia? Aprontei muito na infância e adolescência E apanhei muito por isso. Meu pai tinha uma palmatória, que dava na minha bunda sempre que eu aprontava.
    - Ele me levava para seu escritório, mandava eu arriar a calça e me batia. Ardia muito. Mas era a forma que ele sabia educar. Na verdade era uma tradição de família, pois seu irmão também era assim. Meu tio morava no mesmo bairro que nós. E também gostava de me bater. Mas ele era mais tradicional. Ele normalmente sentava, me colocava em seu colo, com a bunda pro alto, e me batia com a mão nua sempre que eu fazia merda.
    Siqueira chegou junto do meu ouvido e sussurrou.
    - E dele eu gostava. Eu cresci, passei a respeitar mais meu pai e evitar sua surra. Mas meu tio não. Eu continuava desafiando meu tio. Ele não entendia porque eu era tão levado com ele. 'não é possível' ele dizia, 'você deve gostar de apanhar, só pode' esbravejava. Numa noite, quando eu tinha quatorze anos, sujei todo o chão, derrubando um copo de suco. E ele veio me bater. Sentou no sofá e não precisou mandar. Eu já estava deitado em seu colo, de bruços, com a bunda a mostra. Ele me bateu. 'você tem que tomar vergonha nessa cara' falou transtornado. E enfiou um dedo na minha bunda. Acredito que nem ele sabe o que o levou a fazer àquilo. Mas o resultado foi instantâneo. Eu me senti arrepiar e ele percebeu. Não falou nada. Mas enfiou de novo. Dessa vez, mais devagar.
    O pau de Siqueira ia entrando, enquanto eu me deliciava com sua história. Entre uma pausa e outra, ele me beijava, me lambia o rosto.
    - Meu tio nunca conversou comigo sobre aquilo. Jamais teve coragem. Eu, tampouco. Mas me dedar... Ah sim, dedou muito. Eu cresci através de suas palmadas e suas dedadas. Era nosso segredinho. Nosso segredinho vergonhoso. O do meu tio, ficou encoberto até sua morte, numa parada cardíaca ano passado. Mas a minha, a minha não. Foi naquela mesma época, as vésperas de entrar para os Pracinhas, que meu pai me ensinou a dirigir. Aprendi rápido e me senti o máximo com isso, mas hoje não gosto mais tanto. Na época, eu quis exibir minha habilidade para uns amigos. Numa tarde, enquanto meu pai estava no trabalho, peguei a chave do carro escondido e fomos para a garagem. Peguei o carro dele e dirigi. Mas fiz besteira
    O pau entrou todo e eu estremeci. Siqueira o deixou lá dentro um tempo
    - Bati na primeira pilastra e o arranhei. Meu pai ficou uma fera quando descobriu, me levou para seu escritório, e como não achou a palmatória, mandou eu arriar a calça e me deitar em seu colo, como fazia meu tio. E me bateu muito. Mas o resultado não foi o que ele esperava. Ele sentiu quando meu pau endureceu. Me pôs em pé e ficou enojado quando o viu duro e meio úmido. Meu pai nunca mais me tocou depois daquele dia. E até hoje nossa relação é essa que você pôde ver no centenário dos Pracinhas.
    - Eu sinto muito - falei, comovido com sua história. Siqueira sorriu e começou a meter, devagar, cuidadoso. Eu gemi, me agarrando a ele
    - Não sinta. Ele é um idiota e você sabe disso. Mas voltando ao meu trote. Você pode ter imaginado o que aconteceu comigo quando os caras começaram a me bater na bunda, não é mesmo? Foi inevitável. Fiquei excitado. Galhardo viu meu pau duro e me zoou. Começou a me dedar. Eu, calado fiquei. Não por medo deles, mas por medo de mim. Galhardo ameaçou me comer se eu continuasse de pau duro. E cumpriu a promessa. Arriou a calça, encaixou atrás de mim e começou a penetrar. Ele não foi cuidadoso como eu estou sendo com você agora. Não. Ele meteu bem. Doeu, mas também foi muito bom
    Siqueira aumentava o ritmo, me fazendo balançar, arrastando na canga. Eu o abraçava e gemia, recebendo seus beijos.
    - Ele foi o primeiro homem que gozou dentro de mim. Mas não foi o único. Sequer foi o único àquela noite. Os outros também vieram. Um a um, como cães. Vinham, metiam, gozavam e saiam. Eu recebi todos. Chegou uma hora que meu corpo não suportou mais tanto gozo. O líquido começou a escorrer pelas minhas pernas. E era só alguém enfiar o pau, que parte do liquido era expelida pra fora. E eu gemi. Ah sim, Mendes. Gemi muito. Não podia mais controlar. Eram 16 o número de alunos no terceiro ano naquela noite. Aguentei todos. É certo que lá pelos últimos, já não tinha mais forças nem para gemer. Só fiquei lá, sendo usado por aqueles garotos. Quando terminaram, me tiraram do cárcere, me ajudaram a me vestir e me levaram de volta, como se nada demais tivesse acontecido. Embora tenham sim ficado preocupados, pois acreditaram terem ido longe demais. Bobos. O que eu queria era que tivessem ido além ainda. Embora eu nunca tenha admitido isso pra eles.
    Ele então segurou meu rosto, me olhando fundo nos olhos, as metidas estavam fortes. Sentia seu pau tocar fundo em mim, arrepiando até os cabelos da nuca. Tentava me segurar firme com as pernas em seu corpo, mas era em vão e meus pés ficaram balançando no ar, ao ritmo de suas estocadas.
    - Você me perguntou uma vez, Mendes, o que eu tive de fazer em meus tempos de calouro. Pois te digo. Fiz muita coisa. Galhardo foi meu superior imediato e toda a semana eu era chamado ao seu quarto para limpar
    Ele meteu mais e mais forte, me fazendo gemer auto. Sorte estarmos tão isolados. Não me segurei e dei vozes ao meu prazer, só sendo calado pela boca de Siqueira, que ora e outra me beijava e me tomava o resto de fôlego que me restava.
    - Ele me comprou um avental, o safado. E mandava eu usar ele. Apenas ele. Ficava nu, só de avental, limpando o seu quarto. Na maior parte do tempo, ele apenas queria me ver vestido assim. Outras vezes não. E era sempre quando eu menos esperava. Ele chegava, ficava por cima de mim, e metia. Forte. Forte como eu estou metendo agora. Forte até gozar ahhhh - e fincou fundo a pica em mim, sua voz foi ficando chorosa a medida que despejava o liquido dentro de meu corpo.
    - E quando... Ah... - estava sem folego, mas queria continuar a história - e quando eu me comportava bem... Ele me dava o que eu queria. Me botava de quatro na cama e me dava umas chineladas na bunda... Às vezes, me deitava em seu colo, como meu tio, e me batia ali... E eu gostava. Não me sentia humilhado. Eu queria aquilo. De fato. Verdade seja dita, eu nunca me sujeitei a superior nenhum, Mendes. Eu queria tudo aquilo. Sempre quis. É minha natureza
    E foi tirando a pica, me deixando aquele vazio que me enchia de alivio, mas também de uma gostosa saudade.
    Siqueira então caiu em cima de mim, apoiando a cabeça em meu peito. Eu o abracei. A brisa do mar, seu som, tudo estava perfeito. Estava em paz.
    - Quando você me desafiou na primeira noite, eu fiquei irritado. Fiquei mesmo. Mas pensando bem, acho que eu estava era ansioso. Cada vez que você me olhava, eu sentia aquele mesmo tremor que senti quando fui subjugado por Galhardo. Quando você me comeu, com tanta força, com tanta fúria. Eu fui aos céus. A tempos que não me sentia assim, Mendes. Muito mesmo e... Droga - parou de falar
    - O que foi?
    Ele começou a rir
    - Estou sem graça. Eu... Eu nunca contei essa história pra ninguém. Nunca. Morro de vergonha. Mas estou eu aqui, falando tudo pra você. E... Meu Deus
    E enfiou o rosto no meu peito, tentando se esconder de vergonha. Rindo como um garotinho. Eu o acariciei.
    - Fica calmo, major. Seu segredo está seguro
    Ele relaxou um pouco
    - Obrigado, soldado
    Relaxamos mais um pouco e depois nos arrumamos para voltar aos outros. Siqueira tinha cumprido sua promessa afinal. Minha primeira vez havia sido inesquecível em muitos aspectos. Só esperava um dia poder dar a ele o que ele me deu naquele fim de tarde.

     

  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 13 – ENTRE AMIGOS

    Acordei, e a primeira coisa que senti foi um dedo acariciar delicadamente a região entre minhas nádegas. Me virei, fazendo ele sair, e fiquei de barriga pra cima.
    - Você está parecendo um cachorro no cio - acusei, encarando ainda com sono. Siqueira já estava acordado, bem disposto e deitado ao meu lado, com a cabeça apoiada em seu braço, relaxado e parecendo admirar meu sono.
    - Você me julga muito mal, Fábio - e pegou em meu pau - você quem parece não saber a hora de dormir - e riu, aquele sorriso safado que aprendi a gostar.
    Me espreguicei na cama, ainda sem coragem de me levantar. Mesmo acordando cedo todas as manhãs para o início da rotina do Pracinhas, ainda gostava de me aproveitar dos feriados e fins de semana para dormir um pouco mais.
    - Cansado? - Ele perguntou.
    - Estou. Mas você vai me deixar dormir? - E o olhei com desconfiança.
    - Claro, Fábio. Quem seria eu pra atrapalhar? Relaxa vai, finge que eu não estou aqui - e passou a mão pelo meu corpo, descendo por entre as minhas pernas e massageando a entrada do meu ânus.
    Aquele maldito toque que parecia ligar algum dispositivo dentro de mim.
    - Assim fica difícil - informei, enquanto perdia o ar dos pulmões e me contorcia em seu toque.
    - Calma. Relaxa. - sussurrou - eu não estou aqui, lembra?
    Eu fechei os olhos, ignorando sua imagem. Mas ainda sentido a presença de seu calor. O dedo fazia maravilhas. Alisando com carinho a área ontem tão judiada pelo mesmo autor.
    Gemi baixinho, mordendo o lábio e me retorcendo na cama. Senti sua boca chegar em meu peito, alisando suavemente com a ponta da língua o mamilo. Deixei minhas mãos soltas e meu corpo aberto. Apenas desfrutando e fingindo, conforme sugerido, que ele não estava lá.
    Mas nosso momento foi interrompido pelo bater na porta. Siqueira puxou o lençol e nos cobriu a tempo de Soares entrar
    - Estão fazendo o que ainda na cama? Não fizeram barulho o bastante ontem à noite? Vamos, já comprei o café
    E saiu. Meu rosto corou. Engraçado, pois normalmente não tinha esses pudores. Mas me imaginar gemendo alto de noite, enquanto meus amigos podiam ouvir tudo, de repente, me encheu de constrangimento.
    Siqueira sorriu, conformado e me olhou.
    - É Mendes. Você me acha um tirano. Você agora vai conhecer Henrique em Verão Vermelho. Prepare-se - e se levantou.
    Era óbvio que Henrique adorava aquele lugar e por isso mesmo ele se mostrava um verdadeiro ditador quando ali estava. Isso por que o tempo era curto e ele queria aproveitar ao máximo. Tinha paixão e queria nos mostrar tudo o que tinha de bom. E provavelmente não aceitaria que saíssemos de lá sem amar Verão Vermelho também. Aquele dia foi de correria. Soares nos levou a vários lugares, praias ao redor, mercado local, ele mostrou seu restaurante favorito, sua sorveteria favorita, sua lagoa favorita. Tudo. De noite, fomos a praia próxima de casa lanchar em seu quiosque favorito. Estávamos relaxados como há muito tempo não nos permitíamos. Apesar do regime fechado de Soares, o dia foi gostoso.
    E ali, em paz, nos permitimos apreciar as coisas belas da vida. E mais uma vez me peguei admirando o quão bonito era Pedro e seu noivo, ali abraçados, olhando as estrelas. E não era só eles. Era tudo. A paisagem. Elias e Pinheiro ao longe, brincando de dar estrelinhas na areia. Dava para sentir a áurea especial daquele lugar e porque Soares gostava tanto dali.
    Estava ali, bebendo meu refrigerante e aproveitando a brisa. Siqueira sentou do meu lado com sua cerveja e comentou, olhando para Soares e Pedro.
    - Aqueles dois ali. Se me contasse há uns dois anos atrás, jamais imaginaria. Lembro quando Henrique veio pela primeira vez contar que estava apaixonado. - E deu um gole
    Eu escutei.
    - Ele estava nervoso. Pois não conseguia acreditar que estava gostando de outro homem - e riu, saudoso - e o pior, eu também não quis acreditar. Estranho sabe, pois já havíamos transado, já havíamos transado com outros caras. Mas... Mas daí a ter sentimentos, parecia absurdo
    - Demorei muito a aceitar. E acho até que fui idiota com ele algumas vezes por conta disso. Porra, meu amigo veio abrir o coração e eu fazendo piada como se ele estivesse só gamando. Como se fosse uma coisa boba.
    Eu pus a mão em seu ombro.
    - Relaxa. Todos nós fomos preconceituosos, vez ou outra. Eu mesmo te achava um babaca semanas atrás. - Comentei, alfinetando.
    - É mesmo. Então te conto uma novidade, garotinho. Ainda sou o mesmo babaca. Só que agora estou te comendo - zombou.
    - Talvez eu tenha mudado de opinião muito depressa - e rimos juntos.
    - A verdade é que o Pracinhas oferece pra gente um ambiente neutro - comentei enfim - ali, podemos viver basicamente qualquer tipo de experiência sob outras desculpas. Não por que queremos, mas porque temos de fazer
    - Verdade - ele riu - tipo 'vou chupar o pau desse cara, só por que estão me obrigando' ou 'vou enrabar esse garoto, mas por que estou afim de zoar com a cara dele'
    Ri com ele.
    Ele então me olhou de cima a baixo e pensou
    - Engraçado que você parece bem resolvido com isso. Sempre pareceu, na verdade. Digo, no começo achava que você não curtia essas coisas, mas pelo que parece, você só não curtia estar submisso a mim
    - Basicamente era assim - concordei. - Mas revi alguns conceitos. Meu pai me fez ver que eu estava perdendo muito sendo tão intransigente
    - Difícil imaginar um pai assim - confessou.
    - Eu também acho difícil imaginar um como o seu
    Olhamos um para o outro sem falar nada por um tempo. Até que ele virou o rosto, visivelmente encabulado.
    - Isso está ficando muito piegas, Mendes - alertou, bebendo um gole da cerveja e dando um meio sorriso.
    - Ou você quem não consegue falar de sentimentos sem ficar vermelho, major? - rebati
    E ele estava mesmo vermelho, nem me olhar nos olhos conseguiu mais.
    - Não consigo ser tão aberto quanto você
    - Não é culpa sua. Nem minha na verdade. Eu culpo meus pais e o seu pai - e ri.
    - O que vocês dois estão cochichando aí? - levei um susto ao ouvir a voz do Soares. Ele e Pedro estavam agora virados para nós.
    - Nada demais - comentei, me recompondo - apenas estávamos comentando como vocês formam um casal bonito
    Soares ficou surpreso e um pouco vermelho também. Acho que era a primeira vez que o via assim, sem graça com alguma coisa. Era diferente ver cada um deles ali, ao natural, sem as amarras da hierarquia do colégio.
    - Acho que fico mais 'fofo' aqui sim - ele concordou por fim, com um meio sorriso. - Aqui, na verdade, foi onde eu e Pedro começamos a nos envolver
    Pedro sorriu daquele jeito encabulado.
    - Verdade. - Lembrei - Nunca perguntei como vocês começaram a namorar
    - Quer contar, amor? - Soares sugeriu e Pedro se encolheu.
    - Ah, qual é, Pedro. Estou te pedindo - encorajei.
    - Conta, conta, conta - fizemos um coro. Até Pinheiro e Elias entraram e eles nem sabiam do que estava sendo falado.
    - Assim... - Começou, rindo daquele jeito dele - na verdade eu e o Henrique já éramos conhecidos de bairro. Eu estudava no mesmo colégio do irmão mais novo dele. Não éramos bem amigos, mais colegas
    Soares escutava, olhando o noivo com carinho
    - Minha irmã mais velha era apaixonada pelo Henrique. E insistiu que eu deveria ser amigo do irmão dele, pois assim eu poderia ir pra casa dele, conhecer ele e talvez aproximar os dois.
    Pedro riu, sem jeito. Mas respirou fundo e continuou.
    - Eu já tinha uma queda pelo Henrique naquele período também. Só não falei. Eu ia pra casa dele, estudar com o irmão. Antes de ele vir para o Pracinhas, ele malhava muito numa academia improvisada nos fundos da casa. Ficava só de short. E eu admirava
    Soares sorriu, e vi seu peito estufar de orgulho e vaidade. Gostando de ouvir dele aquelas coisas.
    - Acabei ficando amigo do irmão dele mesmo, sabe? E acho que o Henrique percebeu que eu gostava dele.
    - Amor, desculpa, mas não tinha como não perceber - brincou, alisando sua cabeça - você dava muito na pinta
    Todos rimos.
    Pedro tampou o rosto e o noivo continuou por ele.
    - Assim, na época eu nem sonhava em ficar com outro cara. Mas aí, entrei para o Pracinhas. Participei dos trotes, comecei a ver que dá pra sentir prazer com outros caras e... Bem... Comecei a olhar esse neguinho aqui com outros olhos. Até o momento, sem sentimentos, só putaria mesmo. Sem ofensas, amor
    - Tudo bem - Pedro riu - eu sei que era só um pedaço de carne pra você. Bem... Acontece que Soares era malvado comigo. Ficava me atiçando, sem ir além. - E olhou de rabo de olho pro noivo - uma vez, ele me chamou pra ver ele mijar, acredita?
    - E você? - Eu perguntei.
    - Eu... ora... eu fui... - Sua voz ficou baixinha. - Ele ficou falando comigo balançando aquele... Pau. E eu ficava lá, babando igual um idiota
    - Eh, eu fiz isso mesmo - Soares ria travesso, olhar perdido, vasculhando o passado com um pouco de saudade - lembra quando eu disse que tinha me assado, e fiz você passar pomada na minha virilha? - Ele riu
    - Você era um idiota naquela época - Pedro atacou, indignado, mas sorrindo. Demonstrando que já havia passado por cima daquela fase.
    - Ainda sou. A diferença é que agora sou seu idiota - e mostrou a aliança no dedo.
    Pinheiro comprou mais uma rodada de bebidas e continuamos a nos entreter com a história.
    Pedro bebeu um gole e continuou.
    - Mas minha irmã, coitada. Tentava - Pedro mudou o foco - ela ia sempre me buscar lá na casa dele. Ligava com pretexto de saber de mim, mas na tentativa que ele atendesse e ela pudesse falar com ele um pouco
    - Flavinha era legal, sabe. Mas nunca senti atração. - Soares assumiu
    - E quando foi que você parou de torturar nosso amigo e foi pros finalmente? - Elias questionou.
    Soares, nesse instante, deu um gole na cerveja e olhou travesso para Pedro.
    - Olha. Verdade verdadeira, não fui bem eu quem deu o primeiro passo não. Né amor?
    Pedro olhava para o além, rindo como criança.
    - Vamos lá, conta pros seus amiguinhos o safadinho que você é - atiçou - conta o que você fez comigo aqui mesmo, em Verão Vermelho.
    - Pedro? Duvido - pus minha mão no fogo.
    - A verdade... - Pedro começou olhando os próprios pés - é que eu... Bem...
    Mas eu interrompi, tacando areia nele.
    - Seu safado, promíscuo! E eu aqui te defendendo - fingi indignação.
    Ele riu e logo começamos uma rápida guerrinha de areia. Que não durou muito, pois todos queriam ouvir o desenrolar da história.
    - Vamos lá. Onde estava? Ah sim... Passamos uma temporada aqui. Eu, Henrique, seu irmão mais novo e mais uma prima deles - ele parou de rir e continuou - e aí, nós dormimos no quarto em que o Elias e o Pinheiro ficaram. Nós quatro. Então... A cama ficou com a prima e nós três ficamos no chão. Eu dormi no meio... E de noite, bem... Eu posso ter esbarrado sem querer nele
    - Safadinho - Elias julgou, balançando a cabeça negativamente e de forma sonsa.
    - Eh, Pascoal. Acordei no meio da madrugada com uma mãozinha massageando meu pau - contou cheio de malícia - eu fingi que dormia. Fiquei curioso, sabe? Ver onde ele chegaria
    Tadinho do Pedro, estava querendo cavar um buraco e se esconder. Mas minha pena não era tanta a ponto de querer parar a história, que estava muito engraçada.
    - Foi só uma pegadinha - tentou se defender
    - Foi... - Soares lembrou, saudoso - foi gostosa. Quando puxou meu short com a ponta dos dedos e pegou por dentro então...
    - É, mas você estava fingindo que estava dormindo - Pedro o acusou
    - Opa, opa, opa. Não vem querer desconversar não. Eu sou a vítima aqui - Soares rebateu.
    Ri bastante com aqueles dois.
    - Agora continua, Pedro - convoquei - já era. Já sabemos o depravado que você é
    - Naquela altura, fiquei com vergonha e me virei - falou por fim. Soares o encarou, esperando ele concluir. - Está bem - desistiu - E rocei um pouquinho - admitiu
    - Roçou sim - Soares sorriu - e eu deixei. Já estava de pica durona. Aí pensei 'por que não?' Foi minha hora de passar a mão nessa bundinha, por dentro da bermuda dele. Aproveitei que ele não se mexia, e arriei o short dele. Não podíamos fazer barulho. Então pus meu pau pra fora e peguei a mão do Pedro e pus no meu pau, deixe ali, pra ele sentir.
    - Depois foi a hora de brincar pra valer - Soares olhou com cumplicidade pro noivo - dei aquela encaixadinha. E comecei a meter nele pela primeira vez
    - Mas como? - Elias ficou espantado - todo mundo no quarto?
    - Fomos silenciosos - Pedro se defendeu.
    - Eh. Ninguém reparou. Uma rapidinha gostosa. Caladinhos, na surdina. No dia seguinte fizemos um sexo mais qualitativo. Pra lá - e apontou - tem umas dunas de areia naquela direção. Gabriel e Gustavo sabem onde é. Área reservadíssima, lugar lindo. Levei Pedro pra lá no dia seguinte e fizemos direito. Como manda o figurino
    Nesse momento, ao reconhecer a direção apontada, olhei furtivamente para Siqueira, que bebia sua cerveja olhando para cima com cara de paisagem.
    - Foi assim. De lá, começamos a sair mais. Sem compromisso. Quando vi, Estávamos juntos - Soares concluiu.
    - Adorei a história - comentei
    - O quiosque está fechando - Elias alertou por fim.
    - Está tarde, vamos pra casa? - Siqueira sugeriu - minhas pernas estão doendo de tanto que esse tarado nos fez andar hoje - e apontou para Soares, que riu satisfeito.
    - Não fala isso, que você gosta do meu tour, Gabriel. Mas vamos sim. Vamos voltar logo pro Rio amanhã de noite, para evitar trânsito. Então foi bom ter aproveitado esse tempo curtinho. Amanhã fazemos mais uns programas
    Ao ouvir sobre a iminência de ir, não pude deixar de sentir uma saudade antecipada do lugar. Mas era melhor assim. Se deixássemos para ir domingo, provavelmente pegaríamos muito trânsito
    - Vão indo então - Pinheiro mandou. - Vamos ficar aqui mais um pouco - e ele e Elias ficaram pra trás.
    - Vão fazer o que? - Pedro perguntou
    - Acho que gostaram da ideia das dunas - brinquei e logo depois os vi pegar areia no chão - corre! - E disparamos, fugindo da chuva de areia que nos era atirada.
    Chegamos rindo em casa, como os adolescentes que éramos. Era engraçado como sentia falta disso. De falar besteira, de agir de forma infantil. O Pracinhas nos exigia uma postura precoce, que amadurecêssemos rápido, sempre falando de responsabilidades, dever e tudo o mais. Aprendizados valiosos, sem dúvidas. Mas era bom ser um garoto de novo. Apenas para variar.
    Tomamos banho aos poucos e fomos deitar. Estava cansado. Chegando em nosso quarto, somente naquele momento percebi que nosso quarto tinha apenas uma cama de solteiro, a qual eu e Siqueira nos esprememos na noite anterior para dormir. E que além disso, havia um colchonete atrás do armário que poderia ter sido utilizado para remediar tal situação. Mas ao fim, não o sugeri e Siqueira tão pouco.
    Deitei e Siqueira se achegou ao meu lado. Me olhou desconfiado e perguntou.
    - Por que está me olhando assim, Mendes?
    - Nada. Só vendo se terei treinamento hoje
    Ele bocejou.
    - Hoje não, soldado. Mas não se preocupe, quando voltarmos ao colégio, tenho uma rotina de treinos prontinha pra fazer - e deitou de lado, virado pra mim, e fechou os olhos.
    - E eu posso perguntar hoje para o que estou treinando? - Tentei
    Ele apenas sorriu e de olhos fechados mesmo, ergueu o dedo em negativa.
    - Ok - me conformei. Então resolvi fazer uma última pergunta, só pra alfinetar - então voltamos à estaca inicial. Em que fazemos o que fazemos por ser nosso dever?
    Siqueira sorriu de novo.
    - Mendes, Mendes. Não se engane, meu garoto. Adoro comer sua bundinha. E ainda vou fazer muito disso, não precisa ficar ansioso. Só que eu gosto de mandar também. Não chame de desculpa, chame de... Apimentar o que já temos
    Pensei a respeito e concordei. Me virei então, de costas pra ele, não para o ignorar, mas porque preferia àquela posição. Mas fui surpreendido pela sua próxima ação. Siqueira passou o braço por cima de mim e me puxou para perto de si. Seu abraço era quente, confortável. Não estava preparado e por isso levei um susto. Mas gostei. Relaxei e dormi.

     

  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 15 – A NOITE DOS CORDEIROS E DOS LOBOS (PARTE II)

    Era a primeira vez que entrava naquele lugar. Velho, mal iluminado, abandonado. Dava para sentir a aura histórica onde, séculos atrás, centenas de escravos eram mantidos ali. E era incrível como algo cuja realidade tão vil e desumana pode, com a dosagem de ficção correta, se tornar uma experiência excitante. Pelo menos, para algumas pessoas. E lá estava. O grilhão que me foi contado. Da maneira como Siqueira descreveu.
    Desarmado e bem seguro pelos braços por Valente e Albuquerque, Siqueira foi trazido ao centro do salão.
    - Você me pegou, Mendes - falou, marrento - agora para com a palhaçada e me mata logo. Quero ver se vocês três vão dar conta de todos os lobos
    - Para um prisioneiro, você tem uma língua bem grande, general - comentei, me divertindo - Mas não. Você não vai morrer agora. O senhor é um prisioneiro muito valioso para ser desperdiçado assim e... - pensei - embora, isso não quer dizer que não possamos nos divertir com o senhor enquanto isso, não é mesmo? - e sorri maldoso.
    Siqueira arregalou os olhos.
    - Rapazes, arranquem as roupas dele. E não precisam ser gentis. Não vamos precisar delas
    Levados pelo calor da atuação, os dois pegaram a camisa de Siqueira e a rasgaram aos puxões. O som do tecido rompendo foi delicioso. Depois, o jogaram no chão e lhe tomaram as calças, e por último, puxaram a cueca. Siqueira tentou impedir, agarrando o último, o que só serviu para compor o harmonioso som quando o aquela peça também foi rasgada.
    Nu, o general se levantou, respiração pesada, um pouco suado pelo breve exercício.
    - Prendam ele - e indiquei o grilhão. Ele foi levado, posto nu de joelhos e seu pescoço foi preso em conjunto com seus punhos. Prendi o fecho, trancando com um pedaço de madeira.
    Valente e Albuquerque trocavam olhares sedentos. Dava para sentir o tesão neles. A animação, ansiosos para meus próximos comandos. Como crianças que acabaram de ganhar um brinquedo novo, mas ainda aguardavam a autorização para abrir a embalagem.
    Cheguei perto do general e alisei aquela bunda carnuda.
    - Quando seus homens iam trazer o camarada Valente para cá, o que o senhor tinha em mente, General? - E apertei a carne musculosa - ia torturar meu subordinado? Assim? - e desci a mão com velocidade, batendo forte em uma nádega e fazendo ele gritar de susto.
    Eu então peguei sua cueca reduzida a trapos e enfiei na boca.
    - Foi mal, general. Mas você vai acabar estragando a brincadeira se conseguir alertar outros lobos
    Então, cheguei bem perto de seu ouvido e sussurrei:
    - Isso lhe traz lembranças, Siqueira? Espero que sim
    Senti ele respirar mais forte, reagindo a minha voz
    Voltei para trás dele e alisei a área atingida. Dei mais um tapa, fazendo seu corpo tremer. E massageei depois, até ele relaxar novamente. Repeti a sequência de golpes e carícias umas cinco vezes, ouvindo ele gemer, abafado pelo trapo na boca. Me abaixei, colocando meu corpo entre meu prisioneiro e meus homens, e passei a mão em seu pau. Estava duro. Gostei do que senti. Mas não queria que meus homens vissem isso. Afinal, queria fingir para eles que o prazer de Siqueira não era minha preocupação. Seria nosso segredinho. Meu e dele.
    Levantei e me voltei para eles.
    - Albuquerque, quer fazer as honras?
    Convidei e meu colega chegou animado. Bateu forte. Mais forte que eu. Até fiz uma careta com o som.
    - Ui - senti em mim aquele tapa.
    Albuquerque levou a mão a cabeça, sorrindo meio arrependido.
    - Acho que exagerei - penalizou-se
    Eu dei uma olhadinha pra baixo e vi que o pau dele continuava bem duro. Dei a volta e vi seu rosto, vermelho, olhando pra mim com aquela fome que eu conhecia muito bem.
    - Fique calmo, nosso general é um homem forte. Não serão uns tapinhas que o irão abater.
    - Mas e se ele quiser se vingar de mim amanhã? - Perguntou, preocupado.
    - Mais um motivo para fazer valer a pena hoje - argumentei, ouvindo Siqueira gritar algo que não entendi, abafado pela mordaça. Eu o ignorei. - Ele já vai lhe castigar de qualquer forma. Então, aproveite
    Albuquerque, ainda receoso, mas muito ansioso, bateu mais. Mais comedido, mas ainda assim forte. Fiquei admirando o rosto de Siqueira se contorcer a cada tapa, a bunda contrair, cada vez mais vermelha. O pau não baixava nem por um decreto.
    Depois de Albuquerque, Valente se fez naquela bunda musculosa. Eu já estava me preparando pra voltar quando ouço o som de passos lá fora.
    Corremos e nos posicionamos na entrada, escondidos. Siqueira tentou gritar para avisar, em vão. A mordaça e a pouca luminosidade do lugar nos seria favorável para manter a arapuca.
    - Opa, vejo que não fomos os primeiros - era a voz de Pinheiro. - Caraca, olha lá. Peladão no grilhão. Quem será?
    - Fortão assim, deve ser o Mendes - outro veterano falou, era Castro. Um cara bonito do terceiro ano, com o qual tinha pouco contato, mas me chamava muita atenção já tinha um tempo. Cara e corpo de modelo. Gostei ao ver que havia chegado aqui - maravilha. Doido pra enrabar aquele moleque marrento
    Eles entraram. Três alunos, trazendo mais três calouros. Entraram e foram logo rendidos, cada um dos meus homens para cada um deles.
    Foram desarmados e levados para o canto. Atordoados demais para entender o que estava acontecendo.
    - É Castro - comentei - ainda não vai ser hoje
    Castro me olhava com os olhos arregalados. De joelhos ao lado dos colegas. Um eu não lembrava o nome, já Pinheiro, conhecia bem demais. Dos três, apenas Pinheiro parecia estar gostando. Olhava impressionado ao redor.
    - O que aconteceu aqui? - Perguntou, sem acreditar
    Elias chegou e me deu um tapa do ombro. Ele era um dos prisioneiro que chegaram com a turma de Pinheiro.
    - Cara, tu sempre surpreende, não é mesmo? - me parabenizou.
    - Que nada. Só levo jeito pra essa brincadeira. E aí, teve uma noite difícil, né companheiro? Que tal dar uns tapas na bunda do Siqueira ali? Ajuda a relaxar
    - É o Siqueira? - Os alunos do terceiro ano perguntaram, incrédulos
    - Caraca - Elias ficou chocado e foi lá averiguar. Não resistiu e deu também uns bons tapas na bunda do major.
    - Quem manda ser malvado com os recrutas, Siqueira? Ninguém quer pegar leve com você. - Brinquei.
    Foi quando chegaram Soares com mais um veterano, trazendo mais um prisioneiro. Logo foram rendidos. Era fácil demais, pois nenhum deles esperava essa reviravolta. Caiam como ratos na armadilha. Mas não era por isso que íamos relaxar.
    Aproveitei que o nosso número havia aumentando e distribui minhas forças. Eu deixava sempre dois olhando a saída, para não sermos pegos desprevenidos, e dois com a arma em riste cuidando dos demais prisioneiros, para desmotivar qualquer motim. Tinha de tomar cuidado a partir dali, pois não queria que tudo ruísse como um castelo de cartas.
    Os calouros iam revezando nas palmadas no general. Eu, naquele momento, estava contente apenas em ouvir os estalos das mãos na bunda e os subsequentes ganidos de meu superior direto.
    Fui até Siqueira novamente, bunda bem vermelha, mas sem hematomas. O pessoal soube dosar bem as palmadas. Afinal, a regra era não machucar. Peguei na bunda de Siqueira e fui introduzindo o dedo. Buraco quentinho, piscando. Levei o dedo ao rosto e cheirei.
    - Limpinho, sorte nossa - comentei e meus colegas riram. Até Pinheiro gargalhou, mas logo se calou. A verdade é que dava para ver que os alunos do terceiro ano estavam gostando de ver Siqueira naquele estado. Era como uma pequena vingança pessoal pra cada um deles também. Já que Siqueira era do tipo linha dura, até mesmo com seus iguais.
    Passei mais uma vez a mão no pau dele e gostei do que encontrei. Não estava só duro, estava babando. Salivei. E com essa boca sedenta, devorei aquele ânus na frente de todos. Chupando-o todo e arrancando os gemidos chorosos de meu prisioneiro, enquanto minha língua vasculhava o interior do seu corpo. A plateia olhava atenta. Enchi aquele cu de saliva, cuspindo bastante em seu interior.
    - Talvez você já tenha sofrido demais, general - e parei e olhei para os demais prisioneiros. Uma ideia me ocorreu - talvez não
    Caminhei até eles e mandei se levantarem.
    - Tirem as roupas - mandei, e eles obedeceram. Mas mantiveram as cuecas.
    - Pelo que parece, não sou apenas eu quem não sei como me despir, não é mesmo? Tirem tudo - completei.
    E tiraram. Pinheiro tinha aquele sorriso safado. E Castro me olhava com fogo. Era o mesmo fogo que Siqueira tinha em mim no começo de nossa relação. Algo que eu julgava na época como sendo raiva, mas não. Era desejo.
    Olhei para Pinheiro, de longe o maior pau dali. Erguido, ereto, orgulhoso
    - Vejo que tinha armas escondidas ainda, major - avaliei e todos riram - venha. Essa vai me ser útil
    O levei até Siqueira.
    - Quero que o foda sem piedade - mandei. Ele salivou e foi indo sem questionar, mas então eu o segurei pela nuca - e faça direito. - completei - Caso contrário, tomará o lugar dele
    Os olhos dele brilharam e ele sorriu ainda mais.
    - Sim, senhor - falou por fim e se voltou para o amigo.
    - Foi mal, general. Mas é o senhor ou eu - e meteu sem dó. Siqueira deu um ganido, abafado pela mordaça. Pinheiro meteu e meteu, aquele corpo musculoso empenhado em fazer Siqueira gemer. Eu fiquei na frente deles, vendo a carinha de Siqueira enquanto era deflorado. Pinheiro olhou pra mim, cúmplice, sorrindo. Ele também devia conhecer aquele lado hard de Siqueira, já que eram tão amigos. Ele podia não saber da história que eu sabia, mas com certeza tinha conhecimento que Siqueira, quando fodido, gostava de ser fodido com força.
    Pinheiro gozou logo, levado pela pressão. Chamei outro. Castro chegou e olhou pra mim, ainda com incerteza
    - Fique à vontade para pensar em mim enquanto fode. Isso não muda o fato de que vocês estão em minhas mãos - falei simplesmente. Ele sorriu e começou a meter também.
    Albuquerque chegou ao meu lado, humilde e perguntou.
    - Capitão, assim... E nós? Vamos só olhar?
    Olhei seus olhos claros e sorri. Era bonitinho ele estar tão leal a mim. Mas sua pergunta me deixava em uma situação delicada. Minha estratégia consistia em tornar aquilo uma experiência boa para todos os envolvidos. Vítimas ou algozes. Afinal, não podia esquecer que aquela noite era apenas uma revanche temporária no embate de forças em nosso colégio. Amanhã, voltaríamos todos as nossas posições. E qualquer sentimento de vingança que surgisse ali poderia complicar a vida dos calouros nos próximos dias e meses. Em especial, a minha.
    Por outro lado, que espécie de comandante eu seria se não aceitasse assumir certos riscos? E tinha de admitir, a vontade de levar aquilo até onde eu pudesse me era muito tentadora. Então olhei para os prisioneiros e fiz cara de pena
    - Senhores, eu sinto muito. A princípio, somente seu general seria violado. Mas vocês compreendem que meus homens lutaram muito e merecem os espólios.
    Eles ficaram tensos, então me voltei aos meus homens.
    - Mas não baixemos nossas guardas. Podem aproveitar, no máximo, dois de cada vez. Se organizem. Quero dois homens sempre tomando conta da entrada e pelo menos um com as armas a postos contra os prisioneiros e prontos para reagir caso necessário.
    - Sim, senhor! - Um uníssono.
    Então peguei Albuquerque pelo braço e falei ao seu ouvido.
    - Escute bem soldado, pois essa sua missão é de vital importância. Quero que foda direito. Quero que dê o seu melhor, que o cara que você escolher goste de ser fodido. Não é hora de vingança. Pelo contrário, é hora de conquistar eles. Quero que vocês façam eles sentirem prazer em serem calouros novamente. Passe adiante.
    E sorri pra ele, e falei em tom normal, para todos ouvirem.
    - Vai lá, garoto. Dê seu melhor
    Albuquerque sorriu em cumplicidade e acenou positivamente com a cabeça.
    - Sim, senhor - e foi escolher o seu.
    Castro, coitado, mal terminou de gozar e já foi levado por Albuquerque, que parecia um cachorro no cio.
    Meu soldado o levou para a parede e o mandou apoiar as mãos e empinar bem a bunda para receber o seu castigo.
    Castro ficou tenso, mas Albuquerque seguiu direitinho meus comandos. Chegou perto, beijou sua nuca e falou:
    - Relaxa, major. Nós aqui só maltratamos o general. Vocês serão tratados com dignidade
    E abriu sua calça e a arriou, voltando e alisando a mão por suas pernas de baixo para cima, até acariciar a bundinha bonita e empinada de Castro. Mesmo de longe, deu para ver que o Major se arrepiou todo. Fechou os olhos e segurou o suspiro, enquanto Albuquerque descia e lambia carinhosamente sua bunda. Depois foi beijando com carinho as nádegas. Castro tentava manter a compostura, olhando fixamente para a parede e fingindo não gostar. Então, abrindo bem a bunda de seu prisioneiro, começou a lamber o orifício de forma eficiente. Os veteranos acompanhavam a cena, excitados.
    'Isso, garoto' parabenizei em pensamento. Fiquei tomando conta da saída. Por sorte, nenhum outro veterano apareceu para nos atrapalhar.
    Albuquerque subiu novamente, pegou o major Castro pela nuca e lambeu sua orelha, enquanto encaixava delicadamente e começava a penetração.
    - Muito bem, soldado - parabenizei. - Mostre a nosso convidado que aqui, tratamos bem nossos prisioneiros.
    Foi a vez de Elias se juntar.
    Olhou para Pinheiro, sorrindo travesso.
    - É major, dessa vez vai ser na frente de todo mundo - avisou.
    Pinheiro, porém, apenas riu. Estava relaxado, levando tudo na farra. Marrento e cheio de atitude, chegou, botou a mão na parede e empinou aquela bunda gostosa. Gemeu muito na pica o Elias, sem pudores.
    Castro também, embora se contivesse, dava para ouvir seus gemidos mais tímidos.
    Só quem não gemia mais era Siqueira. Botei Valente em meu lugar de guarda na porta e fui lá. Tirei o trapo da sua boca para averiguar. Dava para ver que estava exausto. Apenas respirava mais forte, enquanto era comido por outro de seus antigos companheiros. Como um animal abatido, me olhou, cansado. Mas seus olhos tinham um brilho diferente de tudo o que eu já vira antes. E ao contrário do resto do seu corpo, emanavam uma vida, um fogo. Sorri satisfeito. Meu intenso havia sido alcançado. Abaixei e passei a mão em seu pau, que naquele momento pingava no chão. O veterano saiu dele e voltou para o grupo. Então, falei baixinho para Siqueira, sorrindo em cumplicidade.
    - Vai pedir com jeitinho para eu parar? - perguntei baixinho e ele sorriu.
    - Nem fodendo, Mendes - sussurrou
    - Essa é a ideia, general - e levantei e dei mais um tapa na bunda dele - próximo! - chamei e veio Soares.
    - Cara, vou ter de trazer o Pedro aqui um dia - comentou só pra eu ouvir
    - É provável que ele adore - concordei e continuei organizando. Vendo a orquestra libertina tocar seus maiores sucessos naquele lugar. O cheiro, os sons, as imagens. Todas remetiam ao prazer e eu fiquei satisfeito apenas em contemplar a arte e saber que eu era o artista quem assinava.
    Todos os lobos coitaram seu macho alpha e foram, um a um, coitados pelos cordeiros. A revolução estava feita. Podíamos ainda, numa reviravolta, perder aquela guerra, mas entraríamos para a História.
    Meus cordeiros também se satisfizeram com Siqueira. Que já não lutava, nem gritava mais.
    Aos poucos, os ânimos foram contidos e a coisa foi amornando.
    Ao fim, coloquei os do terceiro ano em fila, de joelhos e nus. Siqueira continuou agrilhoado. Parei com minha tropa diante deles, antes de discursar:
    - Senhores, foi uma honra lutar contra vocês. Vocês foram adversários dignos, do começo ao fim. Mas a noite ainda é longa e temos muito trabalho a fazer.
    E, juntos, disparamos contra seus peitos.
    Eles riram, cansados, mas conformados.
    - Podem usar nossas roupas para voltarem. Vamos precisar das dos senhores - informei.
    Eles foram pegando a calça que melhor os servia e foram saindo, se despedindo educadamente. Ao fim, parece que todos se divertiram e estavam levanto bem na esportiva a derrota que sofreram. Fiquei mais tranquilo.
    Pinheiro, mais ousado, pegou a calça, mas não a vestiu de imediato. Andou pelado em minha direção e sorriu, rosto com rosto.
    - Bom trabalho, Mendes. Mas isso vai ter volta - ameaçou e eu fiquei excitado com seu tom.
    - Estou ansioso por isso - respondi com sinceridade. Pinheiro me beijou, cheio de desejo, então se virou para Elias e apontou.
    - Já você. Só te lembro que amanhã volta a ser meu subordinado.
    Elias riu e respondeu cheio de atitude.
    - Amanhã conversamos, major. Pode ser que ao fim o senhor prefira ficar por baixo
    Pinheiro saiu, pelado mesmo, com a calça na mão.
    Me voltei para meus homens.
    - Senhores. Essa é sem dúvidas uma vitória histórica. E eu não poderia estar mais orgulhoso. Porém, ainda não estou satisfeito. Quero mais. Quero tudo. Agora, escutem todos. Não vamos apenas vencer essa batalha. Vamos vencer toda a guerra. Vamos sair agora por essa porta, e vamos salvar todos os cordeiros que pudermos. Vamos matar, cada lobo que ainda se atreva a caçar por essas matas. E eu juro por Deus, que se amanhã de manhã eu ouvir um único uivo de um lobo vivo. Vocês, senhores, se verão comigo. Fui suficientemente claro?
    - Sim, senhor! - Gritaram juntos
    - Então, vão! - Comandei e eles rapidamente se organizaram e saíram. Pegaram as roupas dos antigos prisioneiro e saíram à paisana, para espalhar o caos. Para concluir a revolução.
    Antes de ir com eles, caminhei até Siqueira, caído em seu cárcere, apenas respirando. Sentei diante dele. Eu também estava exausto. Meu pescoço e meus ombros doíam e só então eu tive a noção de quão tenso estava durante todo o processo. De quão empenhado em fazer tudo correr perfeito. Pra mim, para todos. Mas, sem dúvidas, para ele. Peguei seu rosto, fazendo-o me encarar.
    - Então, esse era seu plano, afinal. Pra isso todo aquele treinamento? Pra poder me colocar aí e me enrabar junto de seus amigos? Vejo que tem muitos ali que sonham em me comer. Vão ter de fazer melhor que isso - e ri - mas tenho que agradecer sua preocupação comigo, major. Em ter o cuidado de garantir que eu estivesse preparado para tamanho desafio. Deixou minha bunda experiente, flexível, imaginando quantos paus ela teria de aguentar. Obrigado. Mas o senhor cometeu um grave erro
    Eu o olhei nos olhos e ele sustentou.
    - Mais uma vez, o senhor me subestimou. E esqueceu o que eu sou. Eu já lhe disse, major. Sou como um animal. Se sou encurralado, eu ataco. E você me desafiou naquela mata hoje. Me olhou nos olhos e me intimidou. Mas acho que a culpa foi minha também. Tenho estado tão dócil com o senhor nos últimos dias, tão obediente, que acabei fazendo você esquecer com quem estava lidando
    Eu sorri, e então um pensamento me acometeu.
    - Ah menos... Que o senhor já imaginasse que eu faria isso. Talvez tenha me usado para reviver sua fantasia. Então eu fui um peão o tempo todo em seu grande plano
    Siqueira começou a rir, cansado.
    - Sabe, Mendes. - Começou, devagar - eu gosto de estar por cima, não nego. Seria ótimo para minha dignidade se eu tivesse realmente planejado tudo isso. Mas não é verdade. Eu não queria estar aqui. Queria que você estivesse. Queria ver você gemendo na rola de todos os oficiais do terceiro ano. Mas o tiro saiu pela culatra e eu perdi. Meus parabéns, Mendes. Você me ganhou. De novo
    Satisfeito, eu levantei e destranquei. O ajudei a se erguer e o levei ao centro do salão.
    - Fico feliz que esteja levando bem, major. Pois nós dois sabemos que a história não será gentil com o senhor - e o pus de joelhos e parei diante dele. - o senhor foi o primeiro, e talvez será o único general dos lobos que perdeu uma luta contra os cordeiros - e apontei a arma pra ele. - Últimas palavras?
    Ele ergueu o rosto e sorriu. Exausto, mas satisfeito.
    - Obrigado, Mendes
    Eu então disparei.
    ...
    O dia raiou belíssimo na manhã seguinte. O azul fazia seu espetáculo no céu, enquanto o vermelho na terra. Os alunos do terceiro ano, rendidos no chão. Todos ali, o que me deixou muito satisfeito. Alguns cordeiros também, mas eles estavam tão felizes quanto os sobreviventes. Ao final, nos unimos e demos o nosso grito de guerra. O uivo dos lobos iniciou àquele evento, mas o berro dos cordeiros o encerrou.
     

     

  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 17 – CONVERSA ÍNTIMA

    Passar o início de minhas férias de meio de ano com Vitor, do ponto de vista do entretenimento, era infinitamente melhor. Fomos ao cinema, comemos besteira, assistimos filmes e séries, fomos a praia. Vitor antecipou uma semana de suas férias só para ficar comigo e eu me senti um garoto mimado e feliz.
    E como prometido, ainda me contou sobre a história de meus pais.
    - Fábio, você sabe que sua mãe é uma mulher brava. Mas creio que não tem ideia de quanto
    E me mostrou um jornal antigo, que ele tinha guardado. Nele, a reportagem de uma manifestação de mulheres em plena Universidade Federal Fluminense. Ele me deixou admirar a imagem, sem falar nada e eu, de cara, não entendi bem. Até que enfoquei a mulher à frente do grupo. Estava gritando e apontando o dedo na cara de um oficial. Meu queixo caiu.
    Apontei, sem conseguir articular as palavras. Meu tio apenas concordou, rindo de minha surpresa.
    - E tem mais - completou apontando para o militar. - Está de costas, por isso você não o reconheceu. Mas esse, Fabinho, é seu papai
    - Puta que pa... - o palavrão me escapou - caramba... Quando você falou de dedo na cara, não pensei que fosse literal
    - Nesse tempo, eles nem sonhavam em namorar. Se eu não me engano, esse protesto foi porque o reitor da universidade tinha sido acusado de assediar uma aluna. O caso foi arquivado pois não havia provas. Mas sua mãe tomou a causa como sua. E ela e suas amigas, que já gostavam de uma arruaça, foram lá e botaram o lugar abaixo
    - Mamãe sempre falou de militância e tal. Mas não pensei que ela de fato fosse uma - me recostei no sofá, ainda rindo sem acreditar.
    - Sua mãe era terrível. Perdi as contas de quantos sutiãs nossa mãe tinha que comprar pois ela vivia tacando fogo nos dela - e riu
    - Gente, a vovó devia ficar pra morrer. - Pensei
    - E como. Sua vó, ultraconservadora. E sua mãe, uma rebelde. Elas brigavam muito. Mas mesmo assim, ela ainda é a favorita. Acredita? Justo a ovelha negra
    Meu tio ria, nostálgico. Era bom ver ele sorrindo assim.
    - Mas a grande sorte da sua mãe, era que ela começou a militar nos anos noventa. Logo, a repressão era mais branda. Havíamos saído da ditadura e ela teve muito mais liberdade de atuação. Mas mesmo com essa liberdade, ela conseguiu pisar no calo de um grandão na polícia. Deu um tapa na cara do delegado. Tá bom, ele mereceu, chamou ela de 'cadela'. Mas caramba, era um delegado. Nosso pai poderia processar o cara e acabar com ele, já que na época era grande oficial. Mas quem disse que ela se segurou? Lembro como se fosse hoje: a cara de bolacha do delegado Oliveira balançando com a pancada que levou da sua mãe. Se eu fechar os olhos, posso ver tudo em câmera lenta. Sorte dela que depois disso a confusão estava feita, os manifestantes começaram a se embolar e eu e o seu pai conseguimos tirar ela de lá a força. Tivemos de esconder minha irmã. Tranquei ela em meu apartamento e deixei o Almir de guarda. Ele protestou, não suportava ela. Mas fez isso por mim. Depois, fui atrás do prejuízo e enfim consegui resolver as coisas. Meu pai entrou no jogo e ameaçou acabar com a raça do delegado se ele não tirasse a acusação. Deu tudo certo. Enfim, era noite daquele dia e eu voltei pra casa, esperando contar a boa nova e rezando pra minha casa estar inteira
    Ele parou e pôs a mão na cabeça, rindo com a lembrança.
    - E eu chego em casa, e ela estava toda revirada. Pensei o pior, que tinham achado eles, levado ela antes de eu chegar. Ou que Almir e ela tinham finalmente saído no tapa. Só tragédia passou pela minha cabeça. Nunca imaginei que o real motivo fosse outro. Quando cheguei no quarto, estavam se atracando, pelados, na minha cama. E o que eles faziam não era amorzinho não. Não, Fabinho. Era sexo pesado mesmo. Putaria. Tipo Xvideos
    Eu ria, ouvindo a história sem conseguir imaginar.
    - E eles nem aí pra mim. Nem me viram lá. Continuaram, amarradões. Eu não sabia onde enfiar minha cara. Bati na porta e pigarreei. Só então me notaram ali
    - O que será que aconteceu pra eles se entenderem assim?
    - Ninguém sabe, Fábio. Acho que nem eles. Até tentei minhas teorias. Suspeito que os dois brigaram tanto que acabaram atingindo as cabeças com força, ou talvez foram vítimas de possessão demoníaca. A verdade é que eu sei lá. Algo estranho aconteceu naquele dia. E o que ocorreu, dura até hoje. Eu guardo essa reportagem, pois acho que essa foto é o grande registro do início do amor deles
    - É uma bela foto - concordei.
    - Não é? - E riu. Gostei de ver meu tio tão feliz.
    Mas alguma coisa ainda me incomodava. Eu não sabia explicar, surgia apenas em alguns momentos, quando eu o pegava pensativo, geralmente quando estava sozinho. Sentia uma tristeza vindo dele. Tentei falar sobre isso, mas ele sempre fugia. Propondo algum programa para fazermos juntos. E logo ele se recuperava. De repente, recuperava o ânimo, a alegria. Só então percebi que talvez ele precisasse mais daqueles momentos comigo do que eu imaginava.
    Então me calei e esperei que ele viesse se abrir, quando estivesse pronto.
    Era uma noite de quinta, estávamos sentados na sala. Fazia frio. Sentávamos cada um em um canto do sofá de três lugares, pernas entrelaçadas no assento do meio, cobertos por uma manta. Comíamos pipoca e assistíamos 'Spartacus', uma série passada na Roma antiga, contava a história de um escravo gladiador. É uma série recheada de cenas tórridas e aos poucos ela começou a me excitar.
    Os pés quentes de meu tio, debaixo daquelas cobertas, começavam a me chamar atenção.
    Engraçado como, naquela semana, não fizemos nada do ponto de vista da carne. Éramos tio e sobrinho, como mandava o protocolo e sequer tive vontade de tentar nada com ele. Estava em paz. Porém, naquela noite, debaixo daquelas cobertas quentes, aquele desejo travesso começou a aflorar novamente. E eu resolvi dar uma chance a ele. Por que não, afinal?
    'Sem querer', meu pé esbarrou em seu pau uma vez. Ele apenas se ajeitou, ainda atento a série. Não percebeu a maldade em meu ato. Então, me mexi novamente e 'por acidente' encostei de novo.
    Ele me olhou de rabo de olho, mas nada fez. De novo, toquei seu órgão, fazendo pressão dessa fez. Já tinha ganhado volume, estava bem quente na região.
    Seus pés, também se moveram, enfiando entre minhas pernas. Eu abri passagem e senti seu dedo pressionar a região entre o saco e o rego. Aquilo me acendeu como uma vela.
    Não olhávamos um para o outro. Fingindo interesse na série enquanto nossos pés faziam a festa por debaixo dos panos.
    Alisei meu pé por sua perna, chegando e massageando o volume que agora estava bem duro. Depois, me recostei mais, deitando um pouco e puxando uma de suas pernas. Abracei seu pé quente. Com o outro, ele continuava seu trabalho em meu rego. Resolvi então tirar a calça e a cueca, as joguei no chão e lhe dei acesso total. O pé quente de meu tio alisou meu pau, meu saco, se meteu entre minhas pernas tentando acesso por entre minhas nádegas. Me abri mais e ele tocou a entrada do meu rego. Seu outro pé, acariciava meu rosto. Eu o beijava, lambia, até mordia de leve. Passei meus pés por dentro de sua blusa, alisando seu abdômen. Vitor já não olhava a televisão, nem eu. Nos encarávamos enquanto nos divertimos com os corpos um do outro. Ele apoiou a sola do pé em meu pau e apertou, me fazendo gemer.
    Mas da mesma forma que começou, a coisa teve um fim abrupto. Não entendi nada. Ele de repente tirou os dois pés de mim e se sentou no sofá, envergonhado. Eu não entendi, me sentei também, usando a manta para cobrir a parte nua de meu corpo.
    Não falei nada, apenas pus a mão em seu ombro, incentivando, e esperei.
    - Desculpa, Fábio... É que... Só...
    - Sente falta dele? - Deduzi. Não precisava ser um gênio para ver.
    - Demais - senti sua voz fraca, mas ele não chorou.
    - Tio... Desculpa perguntar isso de novo... Mas isso está me consumindo. Eu tive alguma culpa?
    Ele me olhou sem entender, depois sorriu de forma triste, porém compreensiva.
    - Não Fabio. Por favor, não pense assim - e alisou meu rosto - se tem algum culpado, é o idiota do seu tio aqui
    - O que aconteceu? - Eu quis saber, mas com cuidado para não ser demasiadamente invasivo.
    - Eu e o Lucas estávamos há muito tempo empurrando com a barriga. Ainda éramos amigos, sabe, éramos companheiros, mas o sexo... Sei lá. Não tinha mais aquele fogo
    Eu esperei ele respirar e continuar.
    - Ele chegou a sugerir pra tentarmos algo, sabe? Apimentar de uma forma... E eu... Eu fui um idiota e não quis
    - Tio, você não é obrigado a fazer nada que não queira. Ele devia entender isso. - Tentei consolar.
    - Esse é o problema, garoto. Eu queria. Hoje percebo como eu queria, mas... Mas... Sei lá. Tinha ciúmes, insegurança. Não sei. Fiquei pensando que... Que íamos acabar nos perdendo se tentássemos
    Ele parou e eu lembrei de algo que talvez pudesse ajudar.
    - No meu colégio, tenho dois amigos que são noivos... - Comecei, devagar vendo que ele não queria falar naquele momento- acho eles um casal muito foda, sabe? São muito bem resolvidos. E eles fazem esse tipo de coisa. Um deles me disse uma vez, que carne é carne. Desejos, apenas. Mas o que eles tinham era algo a mais. Que não importava com quantos um ou o outro dormiam, eles eram eles
    Meu tio pensou. E sorriu, fraco. Saudoso
    - Lucas também pensava assim. Na noite em que nós... Você sabe. Foi... Porra... Desculpe o palavrão, mas foi... - E riu - não tenho palavras. Foi muito bom. Muito mesmo. Quando Lucas me pegou por trás então e me penetrou, com você ainda dentro... Nossa. Não lembro qual foi a última vez que transamos com tanta qualidade.
    Ele parou, levando as mãos à cabeça, apoiando enquanto pensava.
    - Ele imaginou que... Depois daquela. Eu enfim ia me soltar mais. Ia me abrir mais. Mas não foi assim
    - E só por isso ele foi? - Minha pergunta foi mais invasiva, eu sabia. Mas precisava fazer, pois sentia que algo ali não estava se encaixando.
    Ele continuou parado. Apenas olhando o nada.
    - Desculpa tio. Acho que você... Não quer falar sobre isso
    - Não. Não quero - falou baixinho, pesaroso.
    - O que você quer então? Em que posso ajudar - falei, me aproximando e pegando em seus ombros. Ele virou e me beijou. Intenso, sedento
    - Só quero... - Respirava forte, me agarrando como se eu pudesse fugir a qualquer momento - não pensar nisso agora... Só quero... Parar de sentir isso... Quero só sentir prazer
    E foi me beijando. Mais e mais intensamente. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu não sabia o que fazer durante o sexo. Não tinha controle nem do meu corpo.
    Meu tio estava visivelmente transtornado. Me pegava, me beijava, me abraçava com intensidade, apertando minha carne, lambendo minha pele. Numa ânsia como se estivesse desesperado em calar alguma voz dentro de si
    Ele arrancou minha blusa e me beijou, deixando-me pelado. Foi beijando meu peito, minha barriga. Descendo até então chegar ao meu pau. O abocanhou sem pensar duas vezes. Chupando com intensidade, com pressa.
    Gemi alto, vendo ele ir lambendo meu saco e abrir minhas pernas para chupar meu rego. Sua língua entrava com pressa. Com intensidade. Me deixei ser usado, permitindo ao meu tio fazer o que quisesse com meu corpo
    Ele me provava como um faminto prova uma boa refeição. Não demorou muito pra ele trepar em cima de mim e arriar o short que usava. De forma desajeitada, abrir minhas pernas, apoiando-as em seu corpo. E metendo com pressa
    Gemi mais alto. Doeu um pouco, mas também foi muito prazeroso. Jamais vi alguém comer com tanta fome. Ele me olhava, mas eu sentia que seus olhos não me viam, concentrado em alguma coisa que lhe atormentava a cabeça.
    O pau dele queimava dentro de mim, tamanha a fúria das estocadas.
    Fiquei ali, inerte, recebendo suas penetradas com prazer, ainda meio aturdido do que havia transformado meu tio naquele animal.
    Ele se inclinou e me beijou. Um beijo bom, intenso.
    Pegou minhas pernas de novo, posicionando melhor, e meteu mais fundo. Eu estava todo envergado àquela altura, posição desconfortável, mas o pau dele conseguia entrar mais assim, me fazendo arrepiar.
    Gememos um para o outro, rosto colado no rosto. Apesar da noite fria, nossos corpos exalavam muito calor e suávamos. As gotas de seu suor caiam em meu rosto. Ele gozou, dentro de mim. Por um instante, pensei que fosse parar, mas me enganei. Sem tirar de dentro, me pegou nos braços e me levou até seu quarto. Como uma boneca, fui atirado em sua cama e virado de bruços. Subiu movente em cima de mim, começando novamente a meter com intensidade e jogando seu corpo conta o meu. Colidindo sua pélvis contra minhas nádegas. Os estalos das colisões ecoavam pelo quarto. Eu me agarrava ao colchão e enfiava a cara no travesseiro. Gemendo em um gozo que dava agonia.
    Quando ele gozou pela segunda vez, encravou fundo e soltou o ar dos pulmões, como se os estivesse retendo por horas.
    Ele respirava fundo, pau ainda cravado, corpo suando em bicas. Eu também me recuperava. Nunca havia sido penetrado daquela forma. Estava aturdido. Me senti como um objeto, fodido a bel prazer, estando ali apenas para servir. Não posso dizer que foi uma experiência ruim, só não estava familiarizada com ela ainda e precisei de um tempo para absorver.
    Senti seu pau escorregar pra fora a medida que amolecia, só então girei na cama, ficando de frente pra ele. Alisei seu rosto.
    - Está bem, agora? - Perguntei, mas não tive resposta, ele me beijou, me apertando com força entre seu corpo e o colchão.
    Depois, deitou ao meu lado e me abraçou por trás, ficando quieto. Eu, de costas, não me atrevi a virar. Fiquei esperando. Não sabia se ele havia dormido, mas eu não seria capaz.
    Depois de um longo silêncio, o escuto falar. Não parecia falar comigo diretamente. Talvez achasse que eu estava dormindo.
    - Eu fui um idiota - sussurrou - eu... Não devia ter feito aquilo
    Não respondi, continuando quieto, esperando ele desabafar, mesmo que com ninguém.
    - Ele me pediu pra fazermos juntos. Foi tudo o que ele pediu e eu... E eu não respeitei
    Nesse momento, eu me virei, ficando cara a cara com ele. Nunca vi Vitor chorar antes, então não sabia o que fazer
    - O que aconteceu? - Eu perguntei.
    - Nós temos um vizinho aqui embaixo... Que sempre... Sempre se interessou por mim - engasgou.
    - Lucas tinha ciúmes?
    - Não... Ele confiava em mim... Mas ele sugeriu uma vez de fazer a três. Ele queria ter aquela experiência comigo e pensou que o nosso vizinho seria uma boa pessoa para tentar
    Fiquei quieto, aguardando.
    - Mas eu fui tão hipócrita... Eu descartei logo... Mas a verdade é que eu gostava do assédio dele... É um homem bonito, você já deve ter esbarrado com ele nos corredores. E sempre que ele soltava uma piada, se insinuava... Eu me sentia bem.
    Vitor enxugou as lágrimas e continuou, olhando para o teto, pois não parecia com coragem de me olhar nos olhos
    - Teve uma vez, poucos dias depois de termos feito contigo... Eu... Eu peguei o elevador, voltando do trabalho. Nosso vizinho subiu comigo e... E se insinuou
    Eu sabia onde aquilo daria e fiquei com o peito apertado. Pois sentia seu arrependimento.
    - Ele... Ele pôs a mão em mim... E eu deixei... Eu devia ter mandado ele parar. Mas gostei e... E deixei. Não fizemos nada, eu juro, mas eu deixei ele passar a mão em mim, por dentro da minha calça, e isso por si só foi trair o Lucas. Ele me beijou e eu correspondi.
    Eu queria consolar, mas não sabia como. Pois também o considerava culpado
    - O elevador abriu na hora e ele estava lá. Ele viu tudo. Não falou nada. Entrei em casa, quis conversar, quis explicar... Mas não tinha como. Ele não queria conversar e eu não tinha justificativa, há não ser que não tinha acontecido nada a mais... Dias depois nos falamos e ele foi direto ao ponto. Falou que não confiava mais em mim. Que estava magoado, que queria desfrutar de algo legal comigo, mas eu tinha preferido fazer sozinho. Eu disse que nada aconteceu, mas... Mas não adiantava. Ele deduziu que nada aconteceu apenas porque ele chegou a tempo e nos viu. E eu confesso que acredito que ele possa ter razão. Eu... Eu não sei... Não sei o que eu faria, se Lucas não tivesse chegado... Se ele não estivesse em casa... O toque era tão gostoso. Tão bom. Eu podia estar vivendo aquilo com ele desde sempre. Desde que ele me sugeriu a primeira vez. Estaríamos juntos, estaríamos sendo fieis um ao outro. Mas... Mas...
    Ele não conseguiu mais falar e eu o abracei.
    Deixei ele soltar tudo. Quando se acalmou, tentei falar.
    - Liga pra ele - falei - conta o que você está me contando. Você fez merda. Desculpa, mas fez. Mas está arrependido. Tio, tenta ligar pra ele. Tenta pedir perdão
    - Ele não vai querer falar comigo - desabafou.
    - Ele não quer falar agora. Mas... Pode ser, daqui a pouco. Quando a raiva passar. Tenta pelo menos
    - Desculpa, Fabio. Eu quem deveria estar sendo o adulto aqui
    - Já me acostumei - e sorri, brincalhão e ficando feliz em ver que consegui arrancar um sorrisinho, por mais choroso que fosse, da sua cara. - Você me dá muito trabalho, tio. Vejo que ainda tenho de te ensinar umas coisinhas
    Ele gargalhou e me deu um soco leve no rosto, como meu pai fazia.
    - Você me trata com respeito, moleque.
    E rimos juntos, abraçados. Ele enfim dormiu, em paz. O primeiro passo havia sido dado. Ele estava arrependido. Havia desabafado e assumido o erro. Agora o resto, teria de ser com ele. Esperava, sinceramente, que a coisa se resolvesse. Todos nós cometemos erros. Se eu pude dar uma chance para Siqueira, acho que Lucas poderia dar para meu tio. Mas era ele quem tinha de decidir.
  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 19 – ESTRUTURAS E DESEJOS

    O tempo há de curar as coisas que não podem ser remediadas. Essa frase feita me serviu muito bem, e resume meu estado de espírito conforme os dias foram passando. Acabei conversando com Pedro e com Elias a respeito dos meus tios. Eles foram bastante solidários. Pedro, como eu imaginei, ficou mais sentido. Afinal, aquele era um risco ao qual ele e Soares se colocavam todo o dia, ao viverem suas fantasias.
    Mas a ele e ao noivo, havia algo que faltava em meu tio na época: a consciência dos próprios desejos.
    Passamos muito tempo juntos naqueles dias. Além de nossa amizade, os professores do Pracinhas pareciam ter combinado de que todos pediriam trabalhos em grupo para suas turmas. Acabamos montando o mesmo trio em todos. Então, ficávamos juntos todo o momento. Na biblioteca, no pátio, no refeitório ou no dormitório. Se não discutindo o trabalho, conversando besteira. As vezes as duas coisas se misturavam.
    Tivemos trotes nesses períodos, obviamente. Mas nenhum digno de nota, do ponto de vista de pôr em cheque nossos desejos. Foi em uma discussão sobre trabalhos, que acabei falando com eles a teoria que debati com Siqueira em Verão Vermelho.
    Pedro, mais experiente no assunto, foi logo ao ponto.
    - Ao longo dos meus ficantes, peguei vários caras que usavam diversas alegações para não se definirem como gays. 'não gosto de viado, só de comer viado', 'só como, não dou', 'sinto tesão só se o cara tiver jeito de macho' e blá, blá, blá - e fez cara de impaciência. - Eu nem discutia isso. Até porque, não queria nada sério com nenhum deles. Estava só com tesão, então não me importava com os problemas psicológicos deles.
    - Pera aí, você está dizendo que, na sua opinião, somos um bando de viados enrustidos? - Perguntei, erguendo a sobrancelha.
    - Eu não disse isso - e fez cara de inocente.
    Eu olhei para Elias e ele pra mim, pensamos e concluímos que a resposta era 'sim'. Então demos de ombros e continuamos o assunto.
    - Mas eu devo concordar que uma 'desculpinha', ajuda muito algumas horas. - Elias ponderou - digo. Não dá pra negar que somos de forma geral educados a sermos héteros. Por mais liberais que nossos pais possam ser, a ideia é centrada na vida hétero. Família tradicional, filhos e tudo mais. E quebrar isso, de repente, é difícil
    - Nem fala - Pedro comentou - Henrique mesmo, pra dizer que me amava a primeira vez, foi quase um parto. Ele simplesmente não conseguia. Tinha um bloqueio.
    Eu completei.
    - Mesmo aqui no Pracinhas, onde praticamente vivemos em uma Sodoma, ainda assim temos essa... Sei lá... 'estrutura' que nos impede de irmos além da putaria - falei.
    - Acho que é mais complexo que isso, Fábio - Pedro se mostrava mais eloquente - essa 'estrutura', como você chamou bem, é em parte repressora, mas em parte libertadora. Ela impõe limites, mas também é o fio condutor que nos permite explorar outras coisas. Por exemplo - e pegou um papel e desenhou um círculo. - Pois dentro dela...- E apontou para o centro - você tem liberdade de atuação, mas desde que não ultrapasse essas linhas - e demonstrou a circunferência. Depois foi desenhando setas que iam da borda ao centro, em diversos tamanhos e formatos - essas são os trotes, a repressão, a hierarquia, a violação. Essas são partes fundamentais da estrutura. Que auxiliam em sua regulação. Empurram você para o centro e o impedem de sair do círculo e de chegar no campo dos sentimentos. - E indicou o lado de fora do círculo.
    - Entendi. Elas são os pretextos para que todas nossas experiências sejam nada mais do que brincadeira ou obrigação - Elias concluiu.
    - Isso. Encare a linha como sendo algo como um Tabu. E as setas como os ritos ou preceitos que nos impedem de passar pelo tabu
    Eu pensei um pouco mais e então apontei para a região das setas e trouxe outra questão.
    - Acrescento que essa zona turbulenta é mais complexa ainda. Aqui, nessas setas, nesses agentes das estruturas, chamemos assim, existe ainda a possibilidade de se criar algo novo. Talvez um sentimento, um prazer distinto. Onde as próprias regras da estrutura são capazes de gerar uma forma totalmente nova de prazer. - Sugeri.
    - Faz sentido - Elias falou - assim, por experiência própria, lembro quando o Pinheiro jogava verde pra me comer pela primeira vez. Ele queria forçar a barra, usando a falsa autoridade que todos do terceiro ano têm. E devo admitir que... sei lá... mais do que uma desculpa, a própria autoridade dele era atraente. - Ele corou um pouco, mas continuou - e tem mais. O Siqueira na noite dos cordeiros e dos lobos. Caramba, o cara se sujeitou, foi escorraçado. Mas eu achei que ele gostou. E tem você - apontou pro Pedro - sendo oferecido pelo seu noivo como quem oferece uma bala
    - Ei! - Pedro interrompeu - não exagera
    Ri, então ponderei.
    - Você tem que admitir que, olhando de longe, o que vocês têm é esquisito - refleti. - mas não deixa de ter razão. Entre ser usado como objeto, você e ele criaram uma forma de prazer completamente nova
    Pedro pensou bem e deu de ombros.
    Paramos e absorvemos a conversa. Percebendo o quão profundo havíamos chegado em nossos devaneios. Então, Elias quebrou o silêncio.
    - Pessoal. Como uma discussão sobre 'A Poética' de Aristóteles para nosso trabalho acabou nisso?
    Olhamos para nossas anotações estragadas pelo círculo dos prazeres de Pedro e rimos.
    - Eu acho que nós deveríamos mudar o tema do nosso trabalho - Elias sugeriu - ficou muito melhor essa discussão
    - Acho que os professores não iam gostar muito. Ainda mais se começássemos a contar os exemplos aqui do colégio - Pedro gargalhou e nós o seguimos.
    Mas naquela noite, eu teria o que podemos chamar de um estudo de caso, que poderia ou não confirmar nossa teoria. No meio da madrugada, eu acordo com vontade de ir ao banheiro. Nosso banheiro fica na área externa ao dormitório. Então pus um tênis e um casaco, pois a noite estava fria. Sai, me aliviei, porém, quando ia retornar, percebo ao longe um movimento de pessoas, poucas, entre a mata e o prédio principal. Pela distância, não pude reconhecer quem eram, embora tivesse algum palpite.
    Olhei do dormitório para o movimento, sendo induzido pela curiosidade a ir para lá e confirmar o que eu já deduzia ser. Como sempre, minha curiosidade venceu e eu passei por cima do receio de ser pego fora do toque de recolher e segui furtivamente até a área em construção. Peguei um caminho mais longo para não correr o risco de esbarrar com algum veterano. Ao me aproximar, um déjà vu.
    Os sons: primeiro de respirações mais afobadas, porém contidas, como quem não quer fazer muito barulho. Depois as colisões de corpos, ecoando como palmas. Enfim, a voz conhecida de Sequela, falando suas obscenidades.
    - Toma, milico. Toma. Isso. Isso. Olha pra mim não. Pra frente, isso. Pra frente. Deixa eu continuar pensando que tu é uma mina. Abre mais... Isso... Assim... Delícia. Deixa eu meter bem fundo, vai
    Não precisei olhar por detrás da árvore em que eu estava para confirmar o que acontecia, porém, olhei assim mesmo.
    E ver Santos de calças arriadas, apoiado na árvore e sendo fodido tal como o vi fazer com Albuquerque, me encheu daquela prazerosa, porém vergonhosa, satisfação pessoal de vingança.
    Entretanto, bastou mais um tempo olhando a maneira fria e desdenhosa com que Sequela o usava, para eu começar a me compadecer, talvez pela primeira vez, com meu antigo algoz.
    Mas esses sentimentos conflitosos não puderam ser bem trabalhados. Pois logo meu coração é tomado num salto, levado pelo susto, quando uma voz soa ao meu ouvido.
    - Espiando o que, Mendes?
    Somente por obra dos Deuses que eu não gritei.
    Me virei e vi Siqueira. Braços cruzados, rindo baixinho.
    - Caralho, Siqueira - sussurrei. Coração já na boca - quer me matar?
    Ele riu mais, contido para não fazer muito barulho.
    - Não sabia que você curtia esses lances de voyeur - brincou.
    - Não é isso. É só...- A verdade é que não tinha muita desculpa. - Vai fazer alguma coisa? - Tentei desconversar, apontando para Sequela e Santos.
    - Sim. Esperar acabarem e falar com o Sequela
    - Vai deixar isso acontecer? - Questionei - não sei se você entende o que está havendo. Não é uma... Trepada comum. Ele está basicamente se prostituindo
    - Já conversei com Santos a respeito disso tem alguns dias - informou simplesmente.
    - E...? - O fiz prosseguir
    Siqueira me olhou, sorriu e falou.
    - Aguarde e observe.
    Eu ia argumentar, mas me calei e obedeci.
    Logo, o som do gozo de Sequela pôde ser ouvido.
    - Caralho... Delicia milico. Nada como um cuzinho quente nessa noite fria. Tomara que seu pai continue brigado contigo
    Eu e Siqueira olhamos, ocultos, ele entregar um baseado pra Santos e este sair sem dizer nada, de cabeça baixa.
    Eu olhei pra Siqueira e ele fez sinal para eu prestar atenção em Santos. Observei e o vi sair da área da mata. Estava difícil distinguir o que ele fazia naquela distância, mas tive a nítida impressão de o ver jogar algo no lixo quando passou por ele.
    - O que ele jogou fora? - Perguntei.
    - O baseado - informou. E sorriu quando eu demonstrei não acreditar - se quiser, podemos olhar o lixo quando saímos e você verá
    - Mas ele não usa?
    - Usou no começo, mas isso deu muita enxaqueca nele. Então parou. Desde então, ele vem me dado os que ele 'compra'. Como eu também parei, ele agora joga fora.
    - Mas se ele parou, porque...- E me calei ao perceber como minha pergunta era idiota - cara, cada hora uma loucura diferente nesse lugar.
    - Não seja tão precipitado em julgar, Mendes - ele advertiu - nem todos viemos de um lar tão libertário como o seu
    Eu então pensei a respeito e concordei. Resolvo perguntar outra coisa.
    - Você parou de usar?
    - Aham. Já não preciso mais. Graças a Deus minha mãe teve melhoras. As coisas em casa melhoraram muito com a presença dela. Então não preciso mais. Mas chega de enrolar. Preciso encerrar por hoje. Pode vir comigo se quiser
    E saiu das sombras, indo até Sequela.
    Eu, sem saber o que fazer, o segui.
    - Grande, Siqueira. E aí, bateu saudade? Posso dar uma por conta da casa pra você lembrar dos bons tempos - Sequela o saudou
    - Obrigado, mas não - Siqueira respondeu relaxado - vim apenas fechar o portão por hoje, e informar que a partir da próxima semana, o major Pinheiro ficará encarregado da chave
    Sequela o olhou com desconfiança.
    - Aconteceu alguma coisa?
    - Não. Só que, como não vou mais usar, não tem porque eu sair do meu alojamento de madrugada pra isso. Deixarei com ele
    - E esse aí? - Sequela apontou pra mim - novo cliente?
    Siqueira sorriu e olhou pra mim interrogativo. Eu apenas fiz que não com a cabeça.
    - Eh, acho que não - respondeu por mim. - Vamos lá, Sequela, hora de sair - e o conduziu para fora.
    Quando foi embora, eu perguntei.
    - Pinheiro está passando por alguma barra?
    - Pinheiro? Não. Esse aí usa desde sempre. De onde acha que vem todo aquele jeito 'zen' dele? Vamos, Mendes - e foi me guiando.
    Caminhei com ele até sair da floresta. Então, outra dúvida surgiu.
    - A direção sabe desse acordo? Difícil imaginar que esse tempo todo se manteve oculto
    - Com certeza sabem, mas se perguntarem, vão negar até o último suspiro. O Pracinhas possui muitas tradições, Mendes. Algumas bem ocultas
    Eu sabia disso. Tudo, afinal, tinha seu lado B. Caminhamos até o pátio, porém, no meio do caminho, entre meu dormitório e o prédio principal, parei.
    Siqueira virou e me encarou, sem entender. Na verdade, nem eu estava entendendo bem. Mas eu tinha... Não, eu queria tentar uma coisa.
    - Não quero ir pro meu dormitório. Precisamos conversar. No seu quarto teremos mais privacidade - falei por fim.
    - Tá muito tarde, Mendes. O que você quiser, pode esperar
    - Não foi um pedido - e girei os calcanhares e me dirigi ao prédio principal. Chegando na escadaria, olhei pra trás e Siqueira continuava parado, sem entender. Então, finalmente saiu da inércia e me seguiu
    Subimos e entramos em seu quarto.
    - O que está acontecendo contigo, Mendes?
    Não respondi. Até porque nem eu sabia bem. Só queria muito comprovar uma coisa que recentemente havia saltado em minha cabeça.
    - Tira a roupa - mandei.
    - O quê? - Ele riu e eu cheguei bem perto e o encarei.
    - Não preciso lembrar, major, quem manda em quem aqui. Quem pode ferrar a vida do outro aqui. Tira a roupa. Agora - fui seco e direto e Siqueira se calou. Engoliu seco. Pela primeira vez o vi entorpecido, como se não soubesse o que sentir. Seus olhos estavam confusos, sem saber até que ponto aquilo poderia ser uma sórdida brincadeira, ou outra coisa.
    Eu também estava confuso. Talvez estivesse indo longe demais. Mas queria aquilo. Tinha a necessidade de comprovar o que se passava pela minha cabeça, de entender bem a fundo o desejo de Siqueira. E para isso, eu precisava agir da maneira que estava agindo. Indiferente, frio, intransigente.
    Siqueira foi tirando a roupa, me olhando com cautela. Tirou a blusa, os tênis e as meias, a calça. Parou e me encarou, pela primeira vez o senti temeroso. Não precisei falar e ele percebeu que tinha que tirar a cueca também. Ficou nu. Percebi que ele usava uma corrente fina de ouro no pescoço. Nunca a tinha visto antes.
    - O que é isso?
    - Mi... Minha mãe me deu nessas férias
    Eu estava conseguindo. Sua voz tremia. Não me lembrava da última ou única vez em que Siqueira gaguejara. Estava completamente desarmado.
    - Melhor tirar isso também - queria que minha voz soasse como uma ordem, mas saiu mais como um conselho amigável. Não pude ser autoritário como quis diante de seu sentimento por sua mãe.
    Mas ele obedeceu sem questionário, tirou e colocou em cima de sua pilha de roupas. Dessa vez, diferente de todas, ele não as deixou arrumadas e dobradas, mas de qualquer jeito, demonstrando o quão desorientado estava.
    Eu então caminhei até sua cama, sentei, e bati em minha perna, convidando-o a vir.
    Siqueira ficou estarrecido, imobilizado diante de mim.
    - Mendes...- Falou baixinho e eu bati de novo na perna. Implacável.
    - Vem logo - mandei.
    Siqueira deu alguns passos débeis até a cama, corpo nu, pau inchado. Ajoelhou na cama e foi deitando, devagar, receoso, como um gato escaldado.
    - Fabio, por f...
    Dei-lhe um tapa na bunda. Ele se calou e segurou o grito, estremecendo todo com o susto.
    - Não quero ouvir sua voz, há menos que eu mande - sibilei.
    Ele então se calou e terminou de deitar.
    Quieto, dócil. Alisei sua bunda, sentindo a aspereza da pele, efeito que um único tapa causou. Seus pelos estavam todos arrepiados, seus músculos rígidos. Só então eu pude perceber com clareza a profundidade do prazer que Siqueira tinha naqueles momentos.
    Um, dois, três tapas. Ele reagiu a todos. Trincando os músculos, gemendo baixo, calando a voz em sua boca. Silencioso, como aquela que aprendeu desde cedo que, se chorar, é pior.
    Quatro, cinco, seis.
    Os estalos ecoavam pelo quarto. O bunda era rígida, pouco balançava. Os músculos das costas estavam bem definidos. Braços rígidos, e encolhidos, enquanto se agarrava aos lençóis e apoiava o peso do corpo nos cotovelos. Ele respirava forte, mas se segurava para não fazer barulho. Apenas um som, próximo do choro contido, era perceptível.
    Sete, oito, nove, dez, onze.
    Alisei a área avermelhada atingida. E bastou um simples toque na linha entre as nádegas para fazer elas se abrirem como uma flor. Introduzindo os dedos, senti a região quente e pulsante de seu ânus.
    Introduzi totalmente, vendo ele se contrair. A boca se abriu, mas a voz morreu no caminho para fora. Fui massageando a região, alisando meu dedo por seu interior macio. Senti seu glúteos fechar, apertando minha mão em seu interior. Continuei a massagear, enquanto ele gemia baixinho. Passei a mão na sua nuca e estava úmida, sua pele se enchia com gotículas de suor.
    Retirei meu dedo e iniciei uma nova sessão.
    Doze, treze, quatorze, quinze...
    Fui lhe dando palmadas e observando todo seu corpo. Diferente da noite dos cordeiros e lobos, onde precisei dividir minha atenção, ali pude me concentrar e observar cada detalhe de Siqueira. Sua pele brilhando de suor, a forma como os músculos de seus braços se contraíram, a maneira como sua bunda firme pouco oscilava a cada tapa, as pontas dos dedos dos pés que se retorciam, como se estivessem em agonia.
    Passei a mão por seus cabelos molhados, suas costas musculosas, alisei seu peitoral bem feito, seus mamilos rígidos.
    Tudo ao som gostoso dos estalos das palmadas e seus gemidos contidos. O pau duro de Siqueira começou a melecar minha calça.
    E continuei batendo. Palmadas leves, mas precisas.
    Só então pude entender enfim a verdadeira raiz de seu prazer. Seu momento auge não foi a curra que sofreu dos garotos do terceiro ano, em seu primeiro trote no Pracinhas. Mas sim esses momentos íntimos, em que apenas ele e o tio partilhavam. Em que ele se colocava a disposição dos tapas que recebia, e aos quais não podia fazer barulho, para não alardear outros membros da família a respeito daqueles momentos vergonhosos.
    Deslizei meu corpo e saí de baixo de Siqueira. Me levantei. Fui tirando a roupa, enquanto ele me olhava, de bruços ainda, bunda vermelha da surra.
    Siqueira tremia. Estava vulnerável como nunca. Do seu pau duro, abaixo do corpo, era visível apenas a cabeça rosada que despontava para o lado.
    Nu, eu voltei pra cama, abri suas pernas e me posicionei entre eles. Abri suas nádegas e admirei o orifício.
    Com cuidado, encaixei meu pau, que foi abraçado como um amigo muito querido por seu ânus. Enfiei um pouco e tirei. Apenas para ver sua reação. E sorri ao vislumbrar o buraquinho piscando.
    Me deitei por cima de seu corpo molhado e sussurrei.
    - Pede com jeitinho que eu te fodo
    Ele estremeceu.
    - N... Não - gaguejou
    Enfiei mais um pouco, mas tirei, sentindo ele ganir cada vez que eu saia de dentro dele
    - Pede - mandei, mas ele não respondeu. Estava inerte, paralisado. Não conseguia sequer virar o rosto e me encarar.
    - Tudo bem - falei por fim e beijei sua nuca - boa noite, Siqueira - e fiz menção de sair.
    Nesse instante, ele levou seu braço pra trás e me agarrou, mantendo meu corpo colado ao dele
    - Não. Por favor
    - O que disse? - Sorri em vitória.
    - P... Por favor - sua voz quase não era auditiva.
    Ele não disse mais nada, nem eu ia exigir qualquer outra palavra. Meti, tudo de uma vez. O major sofreu um espasmo e eu joguei meu peso por cima dele. Peguei suas mãos e entrelacei seus dedos aos meus.
    - Calma, Gabriel - sussurrei ao seu ouvido - não fica com medo. Vou te tratar com carinho a partir de agora - falei
    Comecei a meter. Calmo, com carinho, como prometi. Sentindo meu órgão entrar e sair devagarinho de seu corpo.
    Siqueira puxou meus braços e me fez o abraçar. E ali, colados um ao outro, continuei a penetrar.
    - Isso. Isso - falei baixinho - devagar. Vou cuidar bem de você
    Siqueira gemia baixinho. Aos poucos seus músculos iam se soltando e ele parecia relaxar. Sua respiração foi voltando ao normal e sua musculatura foi perdendo a tensão.
    Meti mais. Com calma, enquanto beijava seu rosto, sua nuca.
    O pau de Siqueira já despejava liquido na cama e seu rosto tinha um olhar perdido nas paredes. Gozei logo em seguida, deixando meu pau amolecer naturalmente em seu interior.
    - Desculpe, major - pedi - espero não ter ido longe demais. E espero sinceramente que tenha gostado. Desde a nossa tarde nas dunas, que queria te dar algo especial. Pensei que tivesse o feito na noite dos cordeiros e dos lobos. Mas não pensei ter sido o suficiente.
    Mas ele não respondeu, ficou ali deitado, ainda extasiado da experiência. Eu de fato o havia quebrado. Enfim tinha vencido sua resistência de pedra.
    - Vou indo agora, para você descansar, sim?
    Mas quando fui levantar, ele prendeu minhas mãos.
    - Fica, por favor - pediu, me olhando nos olhos pela primeira vez desde que tudo começou - dorme aqui comigo, Fábio
    Não tive coragem de deixá-lo assim. Sorri, beijei seu rosto e deitei por trás dele, abraçando. Fui acariciando sua cabeça até ele relaxar e adormecer.
  • COLÉGIO PRACINHAS - CAPÍTULO 2 – OS CONSELHOS DO MAJOR MENDES

    Ao fim daquela primeira semana, tivemos uma cerimônia, com direito a hastear a Bandeira e canto do hino nacional. Eu vestia meu uniforme de gala, e estava junto dos demais alunos participando da solenidade. Ao fim, o diretor fez um discurso e nos dispensou. Poderíamos ir para casa.
    Eu voltava com Pedro e Elias, conversando animadamente da primeira semana. Por sorte, Siqueira e os demais alunos do terceiro ano nos haviam deixado em paz. Pedro não comentou nada do que aconteceu no quarto do Soares na primeira noite. E eu tão pouco perguntei. Não queria assumir que o havia espiado.
    Tudo corria bem, quando no caminho, sou abordado por Siqueira.
    - Que bom que o encontrei, meu subordinado. Me siga
    Eu respirei fundo e me despedi dos meus colegas, acompanhando ele. Fomos até o alojamento do terceiro ano, já vazio. Os alunos no geral já desceram com suas malas, para da cerimônia só precisarem trocar de roupa no vestiário coletivo do térreo e dali seguirem para suas casas. Mas Siqueira não. Parei na porta e esperei.
    Ele tirou os coturnos e me entregou.
    - Aqui está. Estão imundos de andar na terra. Não posso levar assim pra casa. Limpe e engraxe. Depois pode ir se arrumar
    - Permissão para trocar de roupas antes, senhor - pedi, sério.
    - Negado. Não precisa. Eu permito que tire seu uniforme de gala. Mas rápido, pois tenho de partir em breve.
    Eu então entrei no quarto, tirei a roupa com cuidado, ficando apenas de cuecas. Dobrei meu uniforme para não amarrotar e o deixei em cima da cama. Siqueira acompanhou tudo. Não fez objeção com minha cueca. Sentei em uma cadeira e comecei a limpar.
    Satisfeito com meu silêncio, ele foi se trocando. Também tirou a roupa com calma, e guardando bem dobrada na mala. Ficou só de cuecas também. Siqueira tinha um corpo muito bem feito. Musculoso e muito bem definido, cintura fina, pernas e glúteos fartos. Ficou de cueca um tempo, me olhando trabalhar. Hora ou outra ajeitando o volume da cueca. Percebi que ele estava um pouco excitado. Achei que estava querendo se exibir pra mim. Talvez uma forma de afirmar que o pau dele competia com o meu e desfazendo a piada da primeira noite
    Cansado de se exibir, ele se vestiu com um jeans e uma camiseta. Eu já terminava de engraxar àquela altura.
    Ele pegou os coturnos e avaliou.
    - Muito bem. - E pôs a mão no meu ombro. - Você tem potencial, Fábio. Só precisa aprender a ser mais dócil. Todos aqui passamos por isso que você está passando e ninguém precisou ser tão petulante. Você sabe para o que nós treinamos ao fim, Mendes?
    - Não, senhor - falei calmo, olhando para ele
    - Para a guerra. E na guerra, Mendes, temos de ser leais. Temos de obedecer, sem questionar. Pois numa guerra, cada segundo conta, cada decisão tem de ser tomada de imediato. Por isso não temos tempo para insubordinação.
    - Posso fazer uma pergunta, senhor? - Pedi, em tom firme, porém educado
    - Claro, soldado
    - Que tipo de coisas o senhor teve de fazer, em sua época de recruta?
    Ele sorriu, e parou na minha frente.
    - Vou te contar quando for a hora, soldado. - E acariciou meus cabelos - mas o mais importante é se perguntar: o que você está disposto a fazer? Começamos com o pé errado. Acho que seria bom você se redimir
    Ele abriu novamente o zíper.
    Senti a raiva brotando, mas fui segurando a onda.
    Ele riu, não chegou a tirar o pau, apenas se deliciando com a tensão no ar.
    - Levante - mandou e eu obedeci. Ele me trouxe para o meio do quarto. Me circulou.
    - Quando entrei, era como você. Maior e mais forte que meus colegas. Chamei muita atenção. - Senti sua mão entrar em minha cueca e apertar uma nádega. Um arrepio me acometeu e eu cerrei os punhos.
    Ele continuou a circular. Parou em minha frente. Ficou um tempo analisando meu rosto antes de continuar.
    - Eu juro por Deus, Mendes - falou baixinho, me encarando. Centímetros do meu rosto - que vou arrancar esse olhar marrento da sua cara
    Eu já ia abrir a boca, mas por sorte, alguém bateu na porta e a abriu em seguida. Era Soares.
    - Caramba, cara. O que você está fazendo? Meu pai já chegou. Vai pegar carona mais não?
    - Vou sim, só um minuto - Siqueira ficou claramente aborrecido.
    - Um momento, nada. Está achando que tem chofer? Bora logo
    Siqueira suspirou e então sorriu, cansado.
    - Tudo bem, mas antes... Mendes, favor, vire de costas
    Eu não entendi, mas obedeci
    - Estive analisando e queria sua opinião, pois estou pensando em trocar de subordinado - falou, só então senti suas mãos arriando minha cueca. - A bunda do seu subordinado é mais suculenta que está? - E riu, maldoso.
    Pelo reflexo do espelho do quarto, consegui ver que Soares não havia gostado da brincadeira, mas tratou logo de disfarçar.
    - Prefiro a do meu, obrigado. Agora vamos logo, ou vai ficar por aí - e saiu.
    - Tudo bem, tudo bem. Que cara chato, não é Mendes? E cá entre nós, é obvio que sua bunda é mais bonita que a do Araújo.
    Ele então mandou eu me vestir e me retirar. Ele ia terminar de arrumar algumas coisas para sair.
    Enquanto me arrumava, percebi algo fora de contexto. O cheiro era fraco, mas perceptível ainda. Era jasmim, parecia. Incenso. Minha mãe gostava muito então eu conhecia o aroma. Só então vi na cômoda um porta Incenso com dois palitos usados que devia ter sido aceso na noite interior. Mas o cheiro ainda estava no quarto. Estranhei, pois Siqueira não parecia ser uma pessoa do tipo exotérica.
    - Anda logo, soldado. Saia do meu quarto - Siqueira me despertou do meu pensamento.
    Então eu saí e desci com Soares, que esperava do lado de fora. Não me dei ao trabalho de falar com ele. Estava de muito mal humor. Mas ele não parecia partilhar de meu desejo de descer as escadas em silêncio.
    - De nada, afinal, por tirar você de lá a tempo. - Brincou, mas eu não respondi - Siqueira tem que maneirar naquele incenso dele. - comentou por alto, insistindo em puxar assunto - Deve ser pra esconder o cheiro... Do peido dele
    Vendo que suas tentativas de ser engraçado não estavam tendo resultados, suspirou e falou em tom sério
    - Olha, o Siqueira as vezes é um pouco babaca. Mas você conhece apenas um lado dele - falou, sorrindo amistoso.
    - Ele não é o único nesse colégio - respondi mais para mim mesmo. Mas acabei falando em voz alta. Não me importei com isso. Não ia me justificar para alguém que é igual a Siqueira ao fim.
    Ele não falou mais nada e eu segui para meu dormitório.
    ***
    Em casa, naquele almoço de comemoração da minha primeira semana, estava pensativo. Tentei deixar os problemas do colégio longe dali, mas não consegui. Meus pais perceberam algo errado e me questionaram. Achei melhor abrir o jogo.
    - Teve algum problema no trote dos calouros? - Meu pai quis saber.
    - Problema não. Só... Tem um babaca lá que cismou com a minha cara
    Acabei contando tudo. Com exceção da parte de Pedro e Soares. Minha mãe ficou revoltada.
    - Mas o que é isso? Não é possível que ali formem um bando de trogloditas. Vai falar com o diretor, filho?
    - Não vai adiantar assim. Até então, é só uma brincadeira. Todo mundo passa por isso - meu pai relativizou. E ganhou um olhar fulminante de minha mãe como recompensa.
    - Meu filho não é todo mundo - respondeu, ríspida.
    Eu tive de intervir
    - Não mãe, de fato é só brincadeira. Na verdade eu não me importei com isso. Só estou mesmo preocupado com esse tal Siqueira. Acho que ele vai me arrumar problemas a frente
    - Aquele garoto parece o típico valentão - ela falou.
    - Sim - respondi - já lidei com muitos do tipo dele. Nunca foram problemas. Mas nunca enfrentei um nessas condições
    Minha mãe então segurou minha mão e falou olhando nos meus olhos
    - Fábio, você é um rapaz forte e tenho muito orgulho disso. Só quero que saiba que, por mais forte que seja, as vezes você pode precisar de ajuda. E saiba que tem seus pais aqui que lhe apoiam. Então, por favor, se a coisa fugir do controle, se você ver que esse garoto ou outro foi longe demais, por favor, nos conte como você está fazendo agora. Juro que queimo toda aquela escola se for necessário.
    Eu e meu pai rimos, mas sabia que ela falava sério. Fiquei me perguntando se eu parecia perigoso assim quando estava de mau humor. Se fosse, eu deveria ser realmente um garoto assustador
    - Obrigado mãe - e suspirei - mas vamos falar de coisa boa agora. Tenho novidades legais do colégio também
    E logo o tom da conversa mudou e eu enfim consegui tirar Siqueira e o Pracinhas da cabeça e curtir um bom almoço.
    Meu pai não falou mais nada do assunto, mas conhecendo ele e sabendo que jamais entraria em um conflito direto com minha mãe, imaginei que estivesse se guardando para uma conversa a sós comigo.
    E de noite, ele veio ao meu quarto, quando eu já estava deitado para dormir.
    - Boa noite, filho - e beijou minha testa. - Fabio, antes de dormir, poderíamos conversar?
    - Claro - sentei na cama e ele me acompanhou.
    - Olha, não quis falar essas coisas na sala, para não acabar gerando uma briga. Mas se me permitir, gostaria apenas de lhe dar dois conselhos
    - Tudo bem.
    - O primeiro. E para isso eu digo que te dou razão. Existem pessoas que não nasceram para liderar. Que se corrompem com o poder. E do pouco que ouvi você falar desse Siqueira. Creio ser um desses. Então tome cuidado. Acho sim, como sua mãe, que você não deve baixar a cabeça pra um cara desses. Só te aconselho uma coisa: faça com estratégia.
    Eu esperei ele continuar.
    - Você já lidou com valentões e eu e sua mãe nunca precisamos nos meter. Mas ali as condições são diferentes. Não se engane, esse Siqueira é mais forte que você. Está na vantagem. Então, se for enfrentar, tenha um plano. Não faça um confronto direto. Você só tem a perder
    - É um ótimo conselho - admiti.
    - O outro conselho que tenho é: bem - e riu sem graça - Como vou falar isso. Eh... para não levar tudo a ferro e fogo. A vida militar tem dessas coisas. São... Na verdade é um estilo de vida completamente diferente de tudo aqui fora. E eu gostaria sim que você pudesse ter uma experiência completa e não encarasse tudo como um desafio
    - Está falando a respeito do trote... Ou da suspeita que eu tenho de que Siqueira quer abusar de mim? Sabe o que m e incomoda, pai? - Desabafei. - É essa hipocrisia. Tipo, não tenho problema nenhum com gay. O tio Vitor é gay. Casado e tudo mais. Ele teve coragem de se assumir. Mesmo no exército, conseguiu permissão de se casar com farda com um cara. Acho ele um cara foda por isso. Agora aqueles garotos. Não. Eles posam de machões, mas dava para ver que curtem outro cara. Caramba, faltaram só babar ao me verem pelado
    - É mais complexo que isso, filho - meu pai falou calmamente, pensando em como articular as palavras
    Eu então parei de falar, esperando ele concluir
    - Então - e riu, ainda sem graça - sabia que... Os antigos espartanos, tinham um costume distinto com relação aos seus pares na guerra? Os homens a sua volta, seus colegas de guerra, eram mais do que apenas soldados. Eles eram uma família. Eram... Íntimos. E isso tem uma razão
    Eu continuei e silêncio. Dava para ver que meu pai estava acanhado em falar aquilo, então eu não quis atrapalhar e deixei ele dar as voltas necessárias antes de chegar ao cerne da questão
    - Eles acreditavam que, um homem em guerra, que estivesse nela pensando na família, na esposa, e nos filhos, não seria capaz de se entregar totalmente para a batalha. Mas, se sua família estivesse lutando ao seu lado, morrendo ao seu lado, aí esse homem lutaria com todas as forças, pois ali estaria defendendo as pessoas que ama. Os soldados, casualmente, acabavam desenvolvendo um afeto entre seus companheiros. Não digo uma relação homossexual, pois é mais complexo que isso. Mas sim, eles amavam os homens ao seu lado. E assim, lutavam melhor. Eu acho que... Ao longo de gerações, essa essência ainda é muito comum entre os militares. Mesmo que não seja dito. Em meus tempos de cadete, testemunhei muitas relações entre cadetes, entre esses e seus superiores. Às vezes, de forma mais bruta, mas apenas porque estamos falando de homens que foram treinados a serem brutos. Que precisam ser brutos. Entende?
    - Acho que sim - falei - você está dizendo que... Eu deveria experimentar outro cara lá dentro?
    - Não simplifique - ele riu - estou dizendo que, se você quiser fazer qualquer coisa, que faça. Não vai ser uma aventura no quartel que lhe tornará menos homem.
    Eu pensei bem no que ele me disse, então uma curiosidade me bateu.
    - Pai, você teve estes tipos de experiência em seu tempo?
    Meu pai sorriu, meio encabulado. Depois respirou fundo e falou.
    - Eh. Tive. No meu primeiro ano tive muitos trotes. O seu, foi pinto. Quando você for obrigado a correr pelado em meio a uma chuvarada, aí conversamos
    Rimos juntos.
    - Os caras lá tem uma fissura por botar os calouros sem roupa, eu sei. Na verdade essa é uma estratégia de interrogatório já antiga. A maioria das pessoas fica constrangida de estar nua e isso normalmente as torna mais dóceis aos comandos
    Eu dei de ombros.
    - Não tenho problema algum com isso - e ele me deu outro soco carinhoso no rosto
    - Isso porque você é um sem vergonha - e depois me afagou os cabelos - eu mesmo tive de ficar pelado muitas vezes. E não adianta, os caras reparam. Você acaba notando o pau do colega, compara, e mesmo que seja difícil pra nós homens admitir: admiramos também. Eu, ao contrário de você, era magricelo quando entrei no meu primeiro ano. Imagino que um rapaz forte como você deva chamar muita atenção
    Eu não respondi, me fazendo de humilde.
    - Nos trotes acabávamos fazendo algumas coisas. Beijei um cara uma vez, peguei num pau. Mas nada de muito além disso. O quartel não iria tolerar um estupro. Pelo menos não no meu tempo. Mas a experiência que eu tive mesmo foi em meu segundo ano, quando dividia quarto com um amigo de longa data, o tenente Feliciano. Tenente era o nosso cargo quando passávamos pro segundo ano do ensino médio
    - Ainda é - complementei.
    - Então. Eu e o Feliciano já éramos amigos antes do quartel. Entramos juntos, no mesmo ano. Passamos pelos trotes juntos. Mas ali naquela vida enclausurado, sem as perseguições do terceiro ano, você acaba tendo todo seu tempo apenas para os afazeres da escola. Aí, acaba sobrando um tempinho para outras experimentações. Como eu falei, eu entrei bem magro, mas dados os constantes exercícios aos quais éramos submetidos, acabei ganhando corpo. E Feliciano também. E reparávamos. De vez em quando comentávamos, elogiávamos. Até aí normal. Quando percebíamos que estávamos olhando demais um para o outro, nos recolhíamos, meio encabulados. Mas com o tempo essa bobeira foi mudando.
    - Vocês chegaram a... Sabe, transar? - Perguntei, agora interessado.
    - Sim... Mas antes tivemos alguns dias de preliminares. A coisa começou numa noite, em que ficamos até tarde correndo no pátio, para nos prepararmos para um prova de atletismo. Ficamos de cueca no quarto, conversando. Entre o papo, uma olhada ali, outra lá. Foi quando eu brinquei com a bunda dele. Disse que dava mais caldo que a de muita mulher. Ele de brincadeira virou e empinou pra mim. Na farra, lembro que arriei o short dele fingi que ia comer. Coisa de adolescente idiota. Ele levou na farra também e começamos a brigar de brincadeira.
    Meu pai parecia voltar àqueles tempos, com seu olhar perdido pelo quarto
    - Não deu pra resistir. Cada toque, cada roçar de pele, sabe. Ia despertando coisas. Eu e ele já não estávamos nem mais levando a luta na brincadeira. Aquilo era mais um pretexto para poder roçar os corpos um no outro. Difícil não ter ficado de pau duro. Uma hora, lembro que o Feliciano caiu em cima de mim, e começou a roçar como se tivesse metendo. Eu deixei, nossos volumes colidindo, dando aquele tesão. Foi bom. Lembro que criei coragem e arriei a cueca dele e ele deixou. Ele fez o mesmo, ficamos pelados ali, deitados no chão, rocando um no outro. Eu olhava pra ele tentando decifrar suas reações, e ele fazia o mesmo. Ficamos com medo de ir além e o outro dar pra trás. Mas uma hora não resistimos e nos beijamos. Daí, foi um pegar no pau do outro e começar a masturbar. Foi uma loucura. Um frenesi. Nos masturbamos com tanta força, encarando um ao outro, que logo gozamos. Aí tivemos de limpar correndo o chão.
    - E depois? - Eu quis saber.
    - Naquele dia nada. Mas nos seguintes, quase toda a noite nós trancávamos a porta e tirávamos as roupas. Ficávamos na cama ou pelo chão, tocando um no outro. Descobrindo o corpo um do outro. Uma vez sentamos no chão, de frente, pernas entrelaçadas, envolvendo o corpo um do outro e brincamos com nossos membros, enquanto nos beijávamos. Naquele dia, eu enfiei o dedo no cu dele pela primeira vez. Feliciano ficou acesso. Naquele noite foi a primeira em que eu o penetrei. Peguei suas pernas e o fiz deitar de barriga pra cima, pernas pro ar. Nossa, meti muito nele naquele dia. E mais vezes depois. Eu tentei ser penetrado também, mas não consegui. Acovardei, confesso. Cara, doeu muito. Não sei como esse povo consegue
    Gargalhamos muito os dois.
    - Eu não imaginava - assumi, surpreso.
    - Mas é. Seu pai também já aprontou das dele - e sorriu carinhoso
    - Engraçado que esse cara tem o sobrenome da mamãe - comentei, meio que por alto.
    - É mesmo - respondeu em um tom de voz meio evasivo. Então tive um estalo
    - Pai, o tio Vitor fez a academia Pracinhas com o senhor, certo?
    - Hum... - Ele só me olhou, esperando eu somar dois mais dois.
    - Puta que...! - exclamei e ele riu - Sério? Mas... A mamãe sabe?
    - Claro. Foi ele quem nos apresentou.
    - Meu Deus
    - Não se faça de tão surpreso. E só pra sua informação, sua mãe também aprontou das dela na faculdade. Quando puder, peça pra ela te contar sobre uma amiga dela. A Camila. Gente, fico excitado só de lembrar da história dela.
    Eu ria sem acreditar. Incrível como eu não conhecia meus pais tão bem como imaginei.
    - Mas o que eu quero dizer, filho. É que eu e seu tio nunca havíamos nos interessado por isso antes. Nem eu nem ele. Mas rolou lá. Eu saí e ele se encontrou. Não me arrependo da experiência que tive. Nem me envergonho. E digo, gozei muito naquela época. Não too dizendo pra você transar com todo o quartel. Digo de forma geral, pra você não se prender achando que tudo é um desafio ou uma violação.
    Eu pensei bastante e então concordei.
    - Têm razão
    Nesse momento, ele puxou minha cabeça e colou sua testa com a minha
    - E reforçando o que sua mãe disse mais cedo: tenho muito orgulho do rapaz forte que você se tornou. Que não abaixa a cabeça para o que acredita ser errado. Mas saiba, se um dia encontrar um oponente com o qual não consiga lidar sozinho, você tem seus pais aqui por você.
    Eu sorri e agradeci.
    - Obrigado, pai
    Então ele me beijou a testa e levantou
    - Bons sonhos, campeão
    - Bons sonhos, Mendes - falei pra ele e ambos rimos.
    Eu virei pro lado e fechei os olhos, me sentindo bem. Protegido. Aa palavras deles haviam me dado força e uma sensação de segurança. Com eles, consegui dormi

     

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