1
Peter rolava de um lado para o outro em sua cama, debaixo de suas cobertas. Embora fosse tarde da noite, não conseguia mais dormir e não queria abrir os olhos, tinha medo. Cobria a cabeça com o cobertor grosso e felpudo, para que não visse o que ocorria naquela imensidão sombria que chamava de quarto.
Não sabia porque tinha acordado, não sabia porque não queria abrir os olhos e não entendia o porquê de seu medo. Sentia uma presença perto de sua cama e uma brisa gelada em seus pés (será que estão descobertos?), não conseguia movimentá-los. O medo em seu coração aumentava, então preferiu não tentar mais se mover, iria apenas aguardar, coberto e tremendo. Com muito esforço conseguiu abrir os olhos, que não passaram de dois riscos em seu rosto, e observar, brevemente, por um pequeno espaço em seu cobertor, aquele sorriso com dentes pontiagudos que o esperava de pé ao seu lado.
Seus músculos enrijeceram, não conseguiu segurar a urina. Espremeu as pálpebras com toda a força e se agarrava à toda proteção que aquele velho cobertor lhe dava. Não conseguia, nem queria, se mover.
Ouviu passos. Pelo som julgou que o movimento era lento, suave e, de certa forma, gracioso. Sua curiosidade apertava. Contudo, não iria ver, não iria espiar e de forma alguma iria retirar a coberta de sua cabeça, onde pensamentos do que poderia acontecer consigo transitavam incessantemente. Sabia dos últimos dois crimes sem explicação que ocorreram na cidades, como dois homens foram brutalmente assassinados em suas casas. Peter era aficionado em notícias tenebrosas e sempre imaginava que seria a próxima vítima (desta vez talvez estivesse certo).
Mesmo embaixo do cobertor, e lembrando que quando foi dormir a temperatura estivera em torno dos 25 graus celsius, aquele quarto era gélido. O frio agredia todo o seu corpo, fazendo-o tremer, o único local quente era na poça amarela que saiu de sua calça, mas não iria trocar de posição. Aguardaria os primeiros raios de Sol sem se mover um milímetro sequer e nada no mundo o faria mudar.
Enfim, seu celular tocou. Era o despertador, a noite havia acabado. Fora tudo um sonho? Não sabia, mas seu colchão estava molhado. Os últimos meses foram recheados de diversas noites assim, sempre via a mesma imagem.
Não sabia se era um pesadelo ou realidade. E aquela imagem de dentes pontiagudos passeando por seu quarto perturbava sua sanidade. Tinha medo de dormir. Tentou dormir um dia na casa de sua mãe e sentiu o mesmo pavor. Se havia algo de errado consigo, lhe perseguindo, preferia não arriscar mais ninguém, iria enfrentar sozinho.
2
Passou as semanas seguintes pesquisando se algo similar ocorrera com alguém. Investigou a fundo e chegou a duas mortes peculiares que ocorreram recentemente e continuavam sem explicação. Um rapaz chamado Wayne Banks, morava em uma pensão e foi descoberto por um colega que achou estranho a porta trancada a tarde toda. Ele mencionou não desconfiar de nada e que havia levantado à noite por duas vezes sem ouvir qualquer ruído estranho. Acabou condenado pelo homicídio, embora as evidências contra ele fossem fracas, alguém precisava pagar por aquele crime assombroso.
O assassinato seguinte foi de um rapaz chamado Trevor Davies descoberto por sua ex namorada Stephanie. Ela ainda tinha a chave de sua casa e, após ligar pelo menos 5 vezes e tocar na casa dele diversas outras vezes, resolveu entrar para pegar algumas roupas que ele deveria ter lhe entregue. Entrou em estado de choque ao ver a cena de seu ex totalmente desfigurado deitado naquele cobertor que parecia vermelho. Tentaram processá-la pelo crime, contudo seu álibi era muito forte e, embora as câmeras do andar de Trevor tivessem apagado por algumas horas na noite do crime, seria impossível ela ter chego até lá sem passar pelas demais câmeras da cidade. Contudo, a pobre garota não escapou de meses de terapia intensiva.
Peter estendeu sua busca para toda a Inglaterra, só que não encontrou nada similar. Procurou casos antigos e encontrou algumas pistas. Quatro assassinatos antigos, três homens e uma mulher, contudo, nenhuma ligação entre eles, além do que parecia um padrão de tortura sádica similar e marcas de congelamento. Os quatro casos eram bem antigos, remetiam à época em que seu pai morrera tentando proteger sua mãe grávida de um assalto em uma noite de verão.
Peter temia por sua vida. Não queria dormir à noite, tomava remédios para se manter acordado e tentava dormir durante o protetor Sol matutino. Conseguiu um trabalho como vigia noturno em uma fábrica que operava 24 horas por dia. Nunca estava sozinho, o que lhe trazia certa tranquilidade. Temia seus dias de folga, as longas madrugadas frias. Sempre frias, não importava onde ele estivesse, aquilo o angustiava. Olhava na internet um calor de 28 graus e, apesar disso, era possível observar sua respiração em seu quarto.
3
O cansaço castigava Peter, trocar o dia pela noite não é tarefa fácil, agradecia por aquela fábrica barulhenta e movimentada, contudo às 4h da manhã, era hora de ir para casa. Pegou o ônibus que o deixo no metrô, de lá poderia cochilar no vagão, a viagem era longa e acreditava que nada lhe aconteceria.
Peter estava errado...
Era tarde da madrugada, contudo o Sol ainda não tinha nascido. O sono apertava mais do que o normal. Encostou a cabeça na parede do vagão, afinal, tinha-o todo para si, e as próximas estações prometiam estar vazias também. Tentava, bravamente, não dormir. Resistiu pela maior parte do caminho. Até fechar, ligeiramente, os olhos, naquilo que pareceu apenas um segundo. Quando acordou, apenas uma estação o separava de seu destino.
Ficou contente por nada ter acontecido. Olhou ao redor, viu o vagão sem ninguém, de portas abertas. Ao longo da estação, também, não viu ninguém. Apenas uma bela moça, de cabelos negros, longos que chegavam à sua bela cintura. Eles eram radiantes e bem tratados, como das moças das propagandas de shampoo. Entretanto, sentada sozinha naquela estação, sua expressão era tristonha.
Peter contemplou aquela cena por alguns instantes, imaginou o que poderia ter acontecido com uma mulher tão bela que a deixasse com semblante tão infeliz. Então, ela o olhou profundamente em seus olhos, era um olhar penetrante e assustador. Peter sentiu como se sua alma estivesse exposta, totalmente à disposição daquela mulher. Assim, sentiu-se frágil e desprotegido, o terror começou em seu peito e bambeou suas pernas. Estava receoso, algo naquela bela mulher e em seu olhar sério o perturbavam.
Ela levantou de seu banco e se deslocou na direção de Peter, vagarosamente. As portas do vagão fecharam, anunciando que todos deveria deixar as portas desimpedidas. Essa voz distraiu Peter que olhou para o auto falante à sua direita. Quando voltou a olhar para sua esquerda, através da janela, viu aquela mulher a menos de um metro de distância (como ela chegou aqui tão rápido?) e ela colocou sua mão no vidro. Era uma mão delicada, embora suas unhas fossem um pouco maiores do que o comum (parecem as unhas daquelas “peruonas”, mas sem as cores vibrantes). Então reparou na falta do dedo anelar e na cicatriz grotesca que ali se encontrava.
Foi quando ela sorriu...
Aquele sorriso medonho de dentes pontiagudos, soltou um risinho fino e estridente, como talheres esfregados, com fúria, em louça nova, mas dentro de sua mente. A mão daquela mulher se moveu, deixando uma marca de arranhado no vidro e se aprofundando no metal que se seguia. Rasgou a parede do vagão como se fosse uma folha de papel.
Peter se levantou da cadeira, afastando-se da parede agora esburacada. Não olhou para trás, manteve seus olhos fixos na mulher, até bater com as costas na barra de ferro que ali se encontrava.
(metrô do inferno, anda logo!)
O metrô começou a se mover e Peter a deixou para trás. Sentou no chão, onde estava, e bateu levemente a cabeça na barra de ferro em que se apoiava, por duas vezes. Abaixou sua cabeça, fechou os olhos e espirou até a última molécula de oxigênio sair de seu pulmão. Quando trouxe o ar de volta, abriu os olhos e viu o ser demoníaco no final do corredor. O sorriso macabro estampado no rosto, todas aquelas feridas hediondas, o vestido não era mais branco e sim marrom indo para o preto de tanta sujeira, também tinha manchas vermelhas sinistras. Quando deu seu primeiro passo em direção à sua próxima vítima, foi possível ver a poeira caindo de seu corpo.
Os olhos de Peter arregalaram de surpresa, seu primeiro ímpeto foi se levantar. As pernas, que tremiam desenfreadamente, não responderam. O desespero se instalou em sua cabeça.
- Por favor, não! Afaste-se! - Suplicou em voz alta.
A criatura não se importava, continuou sua caminhada serena em direção ao homem indefeso à sua frente. Enquanto isso Peter se rastejava tentando se distanciar. Sabia que se não fizesse nada seria apenas mais um caso sem solução, perdido nos jornais e na gaveta de algum policial.
Conseguiu se arrastar até a última porta do vagão, a distância era considerável entre ele e sua perseguidora. Juntou toda a coragem que tinha e controlou as pernas. Levantou-se e com a força que tinha bateu na barra de ferro ao seu lado para arrebentá-la, precisaria dela para se defender. Após quadro golpes poderosos, nada aconteceu.
(tenho certeza que essa maldita está rindo de mim)
Ele desistiu e se encolheu contra a porta. Via aquele demônio se aproximar e sentiu o frio de sua unha pressionando, delicadamente, contra a barriga. Sentiu o filete de sangue escorrer enquanto ela, suavemente, abria um corte superficial em sua pele
(essa vadia gosta de torturar, não vai me matar rápido),
ele não pretendia desistir, contudo, sabia que nada poderia fazer. Foi quando sentiu em suas costas a porta abrindo e rolou para fora daquele vagão infernal. A mulher não veio, ele se arrastou para o mais longe possível e viu ela sumir atrás da parede do vagão.
Fora tudo um sonho? Ele realmente dormira no metrô? O rasgo no metal do vagão, que se deslocava para a próxima estação, e em sua barriga diziam que tudo fora real. Algo precisava ser feito para salvá-lo.
4
Peter tinha ideia do perigo que corria e que não poderia se salvar sozinho. Precisava de ajuda. Conversou com seus amigos que trabalhavam no período noturno da fábrica, perguntou se conheciam alguém que investigasse casos estranhos. Quando cogitava desistir, lhe apresentaram um cartão velho e surrado.
“Sean Corbyn – Detetive Particular”
- Minha sobrinha usou esse cara para investigar a morte do marido, que nunca encontraram o corpo. Ela é bem pobre, então ninguém ligava. A polícia se movimentava sem ligar muito, acho que tinham mais o que fazer do que investigar uma morte de pobre, diziam que provavelmente morreu em uma sarjeta escondida, ou um traficante queimou o corpo. Foram tempos complicados, só que esse cara se importou. Foi a fundo e descobriu que o marido tinha fugido com uma amante, mudou de nome e tudo, foi morar na Bolívia. Hoje ela, pelo menos, recebe uma pensão. Já tem anos que isso aconteceu, talvez esse cartão ajude.
O cartão tinha endereço, um telefone fixo e um e-mail. Nada de celular, o que não era um bom sinal. E pelo estado do cartão, deveria ser de outro século. Mesmo assim, valia a pena tentar.
Peter ligou para o número do cartão diversas vezes, não tinha resposta, nem uma secretária eletrônica. Eventualmente recebeu a resposta de que o número não existia mais. Resolveu compilar toda a sua pesquisa em um e-mail e mandou para o detetive. Marcou com alerta de leitura que nunca recebeu.
(Provavelmente foi para o lixo eletrônico)
Tentou enviar um e-mail sem anexos. Seguiu sem resposta. Decidiu escrever uma carta contando sua história. Quando a terminou, achou melhor entregar em mãos naquele endereço que tinha.
Era uma manhã chuvosa. Foi ao endereço, no interfone tocou no 32. Não teve resposta. Esperou... Esperou... E esperou até aquela manhã chuvosa tornar-se um final de tarde nublado e frio. Ninguém aparecera. Foi quando uma pessoa saiu do pequeno prédio e perguntou se Peter iria entrar. Ele assentiu e se dirigiu até terceiro andar, número 32. Não parecia ter nenhum sinal de vida ali. Contudo, não parecia abandonado. Bateu na porta com número 31. Foi atendido por uma moça simpática de idade avançada, retratada por seus cabelos brancos como a neve.
- Boa tarde, posso ajudar?
- Sabe onde está o senhor Sean Corbyn, do número 32?
- O detetive?
- Isso!
- É um sujeito divertido. Ele se mudou, conseguiu um escritório melhor eu acho, mas não disse onde era. Também sei que está de férias fora do país. Deve voltar em uns 20 dias aqui para retirar algumas coisas.
- Você tem algum número que eu possa ligar? – soou mais desesperado do que Peter queria.
- Tem o celular dele, mas não tem sinal, se não me engano ele foi para a América do Sul. Talvez você consiga mandar uma mensagem, ele acessa em algum wifi. Eu tenho anotado em algum lugar, espere um pouco.
Enquanto aquela senhora procurava pelo número de telefone que poderia ser a última esperança de Peter, ele colocou sua carta pelo vão inferior da porta. Torcendo para que não fosse tarde demais.
Quando recebeu o número de telefone, resolveu ir para casa. Era seu dia de folga e Peter lamentava por isso. O cansaço apertava e não queria dormir no metrô de novo. A casa de sua mãe não era longe dali, talvez fosse a melhor opção. Pegou um taxi e foi para lá.
(não vou aguentar mais 20 dias. Amanhã preciso procurar outro detetive)
5
Chegando na casa de sua mãe, ela já se recolhia para dormir.
- Quer que eu faça algo para jantar, querido?
- Não mamãe, pode ir dormir eu me viro na cozinha.
Ela foi para o quarto e ele preparou um jantar solitário, apenas macarrão instantâneo, rápido e fácil. Então, foi para sala assistir filmes. Eram 9 horas da noite, precisava manter-se acordado até às 5h30 da manhã, pelo menos.
Não teve problemas durante o primeiro filme, sentado naquela cadeira desconfortável. No segundo já imaginou que logo iria dormir. No terceiro, encarava seu próprio umbigo ressoando baixinho. Acordou assustado. Conseguia ver sua respiração. Decidiu ir até a cozinha, pegou a maior faca que encontrara.
(se essa vadia vier, estarei preparado. Vamos ver se você sangra.)
Levou seu objeto afiado para o quarto e o colocou embaixo do travesseiro. Achou melhor não trancar a porta. Pegou dois cobertores extras e se cobriu por completo.
(não vou morrer essa noite)
Ele tremia embaixo das cobertas. Não sabia se pelo frio ou pelo medo. Talvez um pouco de ambos.
Sabia algum exercício de respiração. Tentou para se acalmar, respirava profundamente e devagar. Seu coração desacelerou, uma sensação de paz tomou conta de si. Conseguiu fechar os olhos e relaxar.
Sentiu um toque suave e tenro por cima das cobertas. Como um carinho em seu ombro. Com cuidado, alcançou a faca embaixo do travesseiro. A mão que lhe tocava subiu para a sua cabeça
(só tenho uma chance, preciso acertar),
achou que iria retirar sua coberta e, então, aproveitou. Com um movimento rápido encravou a faca naquele ser. Jogou todas as cobertas por cima dela e a derrubou no chão. Em seu momento de fúria, esfaqueou várias vezes aquela mulher que lhe trazia pesadelos todos os dias. E viu o sangue em sua faca.
(se você sangra, quer dizer que eu posso te matar).
Não sentiu mais movimentos debaixo do cobertor. Ele havia ganho. Sobrevivera àquela noite e provavelmente a todas as próximas. Já se via morrendo de velhice em seu sono. Aquela imagem lhe trouxe conforto. Então sentou em sua cama. A faca ainda em sua mão e não pode evitar um sorriso discreto.
6
Ainda sentado, olhou para a janela, a condensação era estranha para aquela noite quente, e viu a mensagem que gelou seu espírito.
“Tente de novo...”
A fraqueza dominou seu corpo, contudo, apertava com todas as suas forças aquela faca. Olhou para sua porta e, mesmo na escuridão, identificou aquele sorriso maligno.
(O que eu fiz? O que você me fez fazer?)
Acendeu o abajur perto de sua cama e viu o corpo escondido por dois cobertores. Olhou para a aparição na porta, imóvel, como se dissesse “vai em frente, veja a merda que fez”. Ele puxou a coberta ensanguentada e, por baixo, viu sua mãe mutilada, banhada em sangue, completamente imóvel.
Foi quando a mulher deu seu primeiro passo. Na claridade do abajur sua imagem era mais aterrorizante. Peter sabia que não poderia se entregar ao medo
(isso acaba hoje),
e agiu. Arremessou o abajur em direção à mulher. Não teve certeza de ter acertado. Pegou o celular e acendeu a lanterna. Nenhum sinal dela. Com cuidado foi até o interruptor e acendeu a luz. Sua mãe jazia morta em seu chão, mas nada poderia fazer agora.
(onde ela foi parar)
Seguiu para fora do quarto, pelo corredor, e acendeu outra luz. Queria tudo aceso. Talvez ela não seja tão poderosa longe da escuridão. Prosseguiu com cautela, cômodo por cômodo, deixando todas as luzes acessas, enquanto sua faca deixava uma trilha de sangue no chão. Faltava apenas a cozinha e o quarto da falecida mãe. Começou pela cozinha. Não havia nada lá, sentiu-se mais seguro. Pensou em como a mãe era contra armas em casa, talvez se arrependesse hoje.
Decidiu ir ao quarto de sua mãe, deixou-o iluminado. Toda a casa parecia segura. Agora precisaria explicar para a polícia como matara sua própria mãe achando que era um demônio. Talvez na prisão estivesse mais seguro, talvez devesse se declarar culpado.
Voltou para seu quarto, ajoelhou perto de sua mãe e chorou. Quase largou a faca, quando ouviu o som sinistro de sua porta rangendo lentamente e o click da maçaneta relaxando naquele buraco dentro do batente. Olhou para lá e viu a mulher novamente. Ela nunca tirava aquele sorriso apavorante do rosto. Movimentava-se sempre devagar, de uma maneira apavorante.
(Não vou mais ter medo. É isso que você quer, não? Uma vítima medrosa. Não terá mais isso de mim)
Ele avançou em um ímpeto que nunca imaginou ter, faca bem firme em sua mão, e investiu contra o demônio. Sua arma a poucos centímetros de distância, milímetros, então, encostou naquela carne fétida, apenas para se desintegrar na sua frente.
- O que é você?
-...
Não havia resposta. Nunca houve resposta. Aquele ser não emitiu um único ruído. Foi quando esticou seu braço frágil e apontou sua unha para Peter. Ele recuou até ficar acuado contra a parede. Sentiu aquela unha podre abrindo sua barriga do umbigo até o peito. Olhou para baixo e pode ver seu intestino caindo no chão, seguido de outras coisas. Quando olhou no rosto da mulher ela não mais sorria. Seu toque gelado agora envolvia seu pescoço. Era, de certa forma, suave. Ela sabia que ele morreria em breve, precisava aproveitar seus últimos momentos. Aproveitou observando a vida se esvair, aos poucos, dos olhos de Peter.
Então sorriu.